UJS rechaça comportamento da mídia brasileira no caso Charlie Hebdo

A UJS emitiu uma nota, na tarde desta quinta-feira (8) em solidariedade ao jornal francês Charlie Hebdo e em rechaço à imprensa brasileira que tenta, a todo custo, distorcer o fato e usar uma tragédia em benefícios próprios, ao manipular informações de modo a direcionar a opinião pública contra a democratização dos meios de comunicação no Brasil.

Crítica ao sistema bancário, em  2011, com a mensagem %22A Europa é governada pela banca%22 como título e Hitler a exclamar %22Que idiota, eu devia era trabalhar no BNP%22 (o BNP é um banco francês com sede em Paris, um dos maiores da Europa)
Crítica ao sistema bancário, em 2011, com a mensagem “A Europa é governada pela banca”, como título, e Hitler a exclamar “Que idiota, eu devia era trabalhar no BNP” (o BNP é um banco francês com sede em Paris, um dos maiores da Europa)
Quando se soube do escândalo sexual de François Hollande, que teria uma amante há vários anos, o jornal resolveu mostrar os genitais do líder do país
Quando se soube do escândalo sexual de François Hollande, que teria uma amante há vários anos, o jornal resolveu mostrar os genitais do líder do país

 

Je suis Charlie 

 

A União da Juventude Socialista manifesta publicamente o seu rechaço ao ataque a sede e ao assassinato dos membros do jornal francês Charlie Hebdo. Consideramos este um ataque a pluralidade de opiniões que o periódico representa de maneira altiva desde os anos 70.

Tais ataques servem somente para reforçar os sentimentos de intolerância quanto às diferenças políticas e ideológicas presentes na nossa sociedade em especial a ultra direita francesa e européia.

Ao mesmo tempo condenamos também, a utilização da tragédia por parte dos setores conservadores e de direita para reforçar seu discurso anti-semita, xenófobo e anti-imigrante. É importante frisar que este é um ataque, sobretudo à esquerda francesa e européia que tinha no Charlie Hebdo um instrumento de debate e luta junto à sociedade contrapondo visões conservadoras sempre em defesa da democracia.

Da mesma forma a mídia brasileira responde a esse ato ao seu velho estilo: a manipulação! Aqui os grandes meios de comunicação, controlados por oito famílias, se apresentam como paladinos da liberdade e caracterizam os atos como um ataque a uma etérea e vaga liberdade de imprensa.

Diante disso buscam associar movimentos que lutam, aqui, por uma imprensa livre e democrática, tal qual o Charlie Hebdo na França, a ações extremistas contrárias à liberdade de imprensa. Porém, a fachada democrática construída pelo PIG esconde o medo de movimentos e ações democratizadoras nos meios de comunicação brasileiros.

A União da juventude Socialista defende uma sociedade plenamente democrática, socialmente justa, desenvolvida e soberana. Por isso, defendemos o fim do monopólio midiático e a possibilidade de que as vozes do povo brasileiro manifestem-se em igualdade de condições.

Realizamos o ato na Editora Abril [às vésperas das eleições presidenciais, contra a capa da revista Veja] para revelar o caráter golpista desse e dos grandes veículos de comunicação deste país. Realizamos o ato na Editora Abril para revelar o seu compromisso histórico com os regimes autoritários que impuseram as mais cruéis formas de opressão ao povo brasileiro.

Que o exemplo de luta dos companheiros do Charlie Hebdo inspire a juventude, os movimentos sociais, as forças democráticas, todos os cidadãos honestos do Brasil e do mundo a lutar pela democracia e pela paz.

Por nossos mortos nenhum minuto de silêncio, toda uma vida de combate!

Je Suis Charlie! [Eu sou Charlie, em francês]

 

jornalaismo baroes midia

Hoje, o Grito dos Excluídos busca liberdade e direitos

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“Ocupar ruas e praças por liberdade e direitos” é o lema da 20ª edição do Grito dos Excluídos, que acontece em todo o Brasil, neste domingo, 7 de setembro, dia em que se celebra a Independência do Brasil. O conjunto de manifestações populares, que há duas décadas trata da temática “Vida em primeiro lugar”, prioriza neste ano a linguagem criativa e simbólica em suas ações, como música, teatro, poesia, redações, exposições e feiras. A Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) participa das mobilizações por meio das Pastorais Sociais, com apoio da Cáritas Brasileira e da Pastoral da Juventude.

A edição de 2014 organiza o máximo de ações na defesa da vida humana, na luta pelo acesso e qualidade dos serviços públicos básicos e na construção de espaços e ações de denúncia de injustiças. Os grupos também marcham contra as privatizações de bens naturais e serviços e denunciam a criminalização dos movimentos e lutas populares.

Vários eixos foram articulados para trabalhar questões como participação popular, comunicação, impactos de megaprojetos e megaeventos, extermínio da juventude negra, meio ambiente e os povos indígenas e tradicionais.

“O grito tem uma função como se fosse um pequeno grande professor que contribui para levar informação e formação ao povo brasileiro, que é daquilo que o povo precisa para se manifestar”, afirma o coordenador nacional do evento, Ari Alberti.

Desde 1995, quando aconteceu a primeira edição do evento, houve grande repercussão internacional e reconhecimento na Assembleia Geral da CNBB, ocasião em que os bispos refletiram sobre o tema e o abordaram no Documento 56, “Projeto Rumo ao Novo Milênio”.

Outro fato é o contraste da manifestação civil com o desfile militar. “A Semana da Pátria deixou de ser uma semana de plateia, que assiste a desfiles, para ser uma semana de mobilização, de atividades, de lutas e de botar nas ruas suas necessidades e seus direitos que não estão sendo respeitados”, aponta Alberti.

Saiba mais sobre a organização e locais onde acontecem as ações do Grito dos Excluídos no site www.gritodosexcluidos.org.

 

 

1997 justiça

Camila Valadão: Casagrande e Hartung são parceiros. Doze anos de mando

Camila debate 1

NO primeiro debate na TV, Camila Valadão questionou Casagrande sobre a participação popular e apontou para a falta de diálogo entre o governo, nos últimos 12 anos, e a população. “Todos nós sabemos que a marca do seu mandato e a do ex-governador Hartung é a intransigência e ausência de diálogo com o povo”.

Camila ressaltou a predominância dos dois candidatos. “Evidentemente, vimos aí uma polarização entre Hartung e Casagrande. Polarização essa que não tem como interesse a defesa dos direitos da população capixaba e, sim, de seus interesses privados. Os dois compõem o mesmo bloco que governa o Espírito Santo há 12 anos”, reafirmou.

Disse Camila: “Cabe destacar que no Espírito Santo prevalece a lógica que considera as políticas públicas de juventude como um elenco de programas isolados, de caráter pontual e de curta duração!

É preciso garantir direitos e políticas públicas de juventude!”.

motivos para votar em Camila

 

O jornalista José Rabelo escreveu um excelente texto, imparcial e verdadeiro, no Século Diário:

Crítica de Camila Valadão iguala as gestões de Casagrande e Hartung
Com discurso de oposição na ponta da língua, candidata do PSOL tentou mostrar ao eleitor que rivais defendem o mesmo projeto

 

Camila 2

 

por José Rabelo

 

Camila Valadão foi a surpresa positiva no debate promovido pela Rede Gazeta na manhã desta segunda-feira (28) — o primeiro entre os candidatos ao governo do Estado. A representante do PSOL assumiu com propriedade o posto de candidata de oposição, papel que o concorrente do PT, Roberto Carlos, preferiu renunciar.

A candidata do PSOL foi firme e coerente no seu discurso. Todas as perguntas que fez foram endereçadas aos candidatos Renato Casagrande (PSB) e Paulo Hartung (PMDB). Mesmo quando a pergunta era feita a um dos candidatos, ela procurava incluir o outro no enredo. A intenção era mostrar ao eleitor que os dois defendem o projeto das elites, ou seja, são iguais na essência.

Sem deixar se intimidar pela presença do último e atual ocupante do Palácio Anchieta, Camila Valadão equilibrou bem o discurso do PSOL, que não ficou com aquele tom de radicalismo que costuma assustar o eleitor mais conservador. Nas poucas oportunidades que teve, ela tentou mostrar que o partido tem o melhor projeto para o Espírito Santo.

As formulações da candidata deixaram claro que o Estado tem o mesmo projeto desde 2003, só mudou o operador com a entrada de Casagrande. Camila não aliviou nas críticas. Numa das questões que fez a Hartung sobre mobilidade urbana, ela acusou Hartung de ter feito uma gestão marcada pelo autoritarismo e pela falta de diálogo com os movimentos sociais. Camila testemunha que em 2005 sofreu a truculência da polícia nos protestos pela melhoria dos transportes públicos. “Sofri com a repressão do governo Hartung nos protestos. Até agora nada foi feito. Qual a proposta para o transporte?”

Hartung, que nada fez para melhorar os problemas de mobilidade da Grande Vitória, ignorou a pergunta da candidata e respondeu o que bem entendeu. “Com muito diálogo e parceria, o que faz parte da minha vida desde o movimento estudantil, quero construir uma cidade para o pedestre”, divagou.

Ela também cutucou Casagrande sobre os protestos de rua, tentando evidenciar as semelhanças entre os dois governos. “Quero falar sobre participação popular. No governo Hartung vimos repressão aos movimentos sociais e aos protestos. O mesmo ocorreu no governo Casagrande. Qual a sua proposta para esse tema?”.

Casagrande tentou fugir da pecha de governo que não dialoga com os movimentos sociais. Disse que estava ampliando os canais de comunicação com a sociedade. Ele acrescentou que seu governo constituiu conselhos que nunca foram criadas, se referindo ao governo anterior. Não disse, porém, que só os constituiu depois de muita pressão na sociedade civil organizada. “Não governo de forma autoritária. O cidadão não quer mais um governante dono da verdade e é nesse conceito que eu trabalho”, disse Casagrande, mais uma vez, se comparando ao antecessor.

A resposta, porém, parece não ter convencido a candidata do PSOL, que cravou: “Para o PSOL, a radicalização da democracia é imprescindível. Não adianta só investir na mídia corporativa. O governo precisa acatar o que a sociedade sugere”, destacou.

Nas considerações finais, Camila Valadão reforçou ao eleitor a mensagem de que os dois candidatos que polarizam a disputa defendem o mesmo projeto. “No Espírito Santo há alternativa. Ninguém precisa votar no velho. São 12 anos de dois candidatos governando o Estado. É o PSOL que não tem rabo preso”, enfatizou

 

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Papa Francisco: Quando o homem perde a humanidade, “e torna-se um instrumento do sistema, do sistema social, econômico, do sistema onde os desequilíbrios dominam”

homem flor poesia

O Papa alertou para os riscos da “cultura do descartável” quando “o homem perde a sua humanidade” aos membros do seminário internacional que refletiram sobre “uma economia mais inclusiva”, este sábado, no Vaticano.

“Está a acontecer com o homem o que acontece com o vinho quando se torna aguardente, passa por um alambique organizativo. Já não é vinho, é outra coisa mais útil talvez, mais qualificada. O homem passa por este alambique e acaba por perder a humanidade e torna-se um instrumento do sistema, do sistema social, econômico, do sistema onde os desequilíbrios dominam”, disse Francisco aos participantes.

O Papa destacou também que “é importante refletir sem medo e com inteligência”.

Este encontro internacional de dois dias foi organizado pelo Conselho Pontifício Justiça e Paz em colaboração com a Secretaria de Estado do Vaticano e teve como objetivo refletir sobre “uma economia sempre mais inclusiva”, frase do Papa presente na exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’.

Francisco alertou para a necessidade do homem estar novamente no centro da sociedade, dos pensamentos, da reflexão e deu vários exemplos de exclusão social como o baixo índice de natalidade na Europa, os idosos abandonados e a geração “nem-nem”, jovens que nem estudam nem trabalham.

«Creio que este momento seja o tempo mais acentuado de reducionismo antropológico», afirmou, e depois se perguntou: «Quando o homem perde a sua humanidade, o que nos espera?». A resposta está na evocação de outro tema apreciado pelo magistério do Papa Bergoglio: «De fato, verifica-se – disse – uma política, uma sociologia, uma atitude “do descartável”: descarta-se o que não serve porque o homem não está no centro. E quando ele não se encontra no centro, significa que no centro há outra coisa e que o homem está ao serviço dela»

Eis então o mérito dos congressistas, que se reuniram para estudar as novas modalidades para «salvar o homem, no sentido de que volte ao centro: no centro da sociedade, dos pensamentos, da reflexão. Levar o homem, outra vez, para o centro».

Papa Francisco: Quando o Filho de Deus Se fez homem, escolheu um caminho de pobreza, de despojamento. É o mistério que contemplamos no presépio, vendo o Filho de Deus numa manjedoura; e mais tarde na cruz, onde o despojamento chega ao seu ápice

Procuremos compreender o que significa «pobres em espírito». Quando o Filho de Deus Se fez homem, escolheu um caminho de pobreza, de despojamento. Como diz São Paulo, na Carta aos Filipenses: «Tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo e tornando-Se semelhante aos homens» (2, 5-7). Jesus é Deus que Se despoja da sua glória. Vemos aqui a escolha da pobreza feita por Deus: sendo rico, fez-Se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). É o mistério que contemplamos no presépio, vendo o Filho de Deus numa manjedoura; e mais tarde na cruz, onde o despojamento chega ao seu ápice.

O adjectivo grego ptochós (pobre) não tem um significado apenas material, mas quer dizer «mendigo». Há que o ligar com o conceito hebraico de anawim (os «pobres de Iahweh»), que evoca humildade, consciência dos próprios limites, da própria condição existencial de pobreza. Os anawim confiam no Senhor, sabem que dependem d’Ele.

Como justamente soube ver Santa Teresa do Menino Jesus, Cristo na sua Encarnação apresenta-Se como um mendigo, um necessitado em busca de amor. O Catecismo da Igreja Católica fala do homem como dum «mendigo de Deus»

 

 

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
PARA A XXIX JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

(Domingo de Ramos, 13 de Abril de 2014)

 

«Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3)

 

Queridos jovens,

Permanece gravado na minha memória o encontro extraordinário que vivemos no Rio de Janeiro, na XXVIII Jornada Mundial da Juventude: uma grande festa da fé e da fraternidade. A boa gente brasileira acolheu-nos de braços escancarados, como a estátua de Cristo Redentor que domina, do alto do Corcovado, o magnífico cenário da praia de Copacabana. Nas margens do mar, Jesus fez ouvir de novo a sua chamada para que cada um de nós se torne seu discípulo missionário, O descubra como o tesouro mais precioso da própria vida e partilhe esta riqueza com os outros, próximos e distantes, até às extremas periferias geográficas e existenciais do nosso tempo.

A próxima etapa da peregrinação intercontinental dos jovens será em Cracóvia, em 2016. Para cadenciar o nosso caminho, gostaria nos próximos três anos de reflectir, juntamente convosco, sobre as Bem-aventuranças que lemos no Evangelho de São Mateus (5, 1-12). Começaremos este ano meditando sobre a primeira: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3); para 2015, proponho: «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5, 8); e finalmente, em 2016, o tema será: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7).

1. A força revolucionária das Bem-aventuranças

É-nos sempre muito útil ler e meditar as Bem-aventuranças! Jesus proclamou-as no seu primeiro grande sermão, feito na margem do lago da Galileia. Havia uma multidão imensa e Ele, para ensinar os seus discípulos, subiu a um monte; por isso é chamado o «sermão da montanha». Na Bíblia, o monte é visto como lugar onde Deus Se revela; pregando sobre o monte, Jesus apresenta-Se como mestre divino, como novo Moisés. E que prega Ele? Jesus prega o caminho da vida; aquele caminho que Ele mesmo percorre, ou melhor, que é Ele mesmo, e propõe-no como caminho da verdadeira felicidade. Em toda a sua vida, desde o nascimento na gruta de Belém até à morte na cruz e à ressurreição, Jesus encarnou as Bem-aventuranças. Todas as promessas do Reino de Deus se cumpriram n’Ele.

Ao proclamar as Bem-aventuranças, Jesus convida-nos a segui-Lo, a percorrer com Ele o caminho do amor, o único que conduz à vida eterna. Não é uma estrada fácil, mas o Senhor assegura-nos a sua graça e nunca nos deixa sozinhos. Na nossa vida, há pobreza, aflições, humilhações, luta pela justiça, esforço da conversão quotidiana, combates para viver a vocação à santidade, perseguições e muitos outros desafios. Mas, se abrirmos a porta a Jesus, se deixarmos que Ele esteja dentro da nossa história, se partilharmos com Ele as alegrias e os sofrimentos, experimentaremos uma paz e uma alegria que só Deus, amor infinito, pode dar.

As Bem-aventuranças de Jesus são portadoras duma novidade revolucionária, dum modelo de felicidade oposto àquele que habitualmente é transmitido pelos mass media, pelo pensamento dominante. Para a mentalidade do mundo, é um escândalo que Deus tenha vindo para Se fazer um de nós, que tenha morrido numa cruz. Na lógica deste mundo, aqueles que Jesus proclama felizes são considerados «perdedores», fracos. Ao invés, exalta-se o sucesso a todo o custo, o bem-estar, a arrogância do poder, a afirmação própria em detrimento dos outros.

Queridos jovens, Jesus interpela-nos para que respondamos à sua proposta de vida, para que decidamos qual estrada queremos seguir a fim de chegar à verdadeira alegria. Trata-se dum grande desafio de fé. Jesus não teve medo de perguntar aos seus discípulos se verdadeiramente queriam segui-Lo ou preferiam ir por outros caminhos (cf. Jo 6, 67). E Simão, denominado Pedro, teve a coragem de responder: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna» (Jo 6, 68). Se souberdes, vós também, dizer «sim» a Jesus, a vossa vida jovem encher-se-á de significado, e assim será fecunda.

2. A coragem da felicidade

O termo grego usado no Evangelho é makarioi, «bem-aventurados». E «bem-aventurados» quer dizer felizes. Mas dizei-me: vós aspirais deveras à felicidade? Num tempo em que se é atraído por tantas aparências de felicidade, corre-se o risco de contentar-se com pouco, com uma ideia «pequena» da vida. Vós, pelo contrário, aspirai a coisas grandes! Ampliai os vossos corações! Como dizia o Beato Pierjorge Frassati, «viver sem uma fé, sem um património a defender, sem sustentar numa luta contínua a verdade, não é viver, mas ir vivendo. Não devemos jamais ir vivendo, mas viver» (Carta a I. Bonini, 27 de Fevereiro de 1925). Em 20 de Maio de 1990, no dia da sua beatificação, João Paulo II chamou-lhe «homem das Bem-aventuranças» (Homilia na Santa Missa: AAS 82 [1990], 1518).

Se verdadeiramente fizerdes emergir as aspirações mais profundas do vosso coração, dar-vos-eis conta de que, em vós, há um desejo inextinguível de felicidade, e isto permitir-vos-á desmascarar e rejeitar as numerosas ofertas «a baixo preço» que encontrais ao vosso redor. Quando procuramos o sucesso, o prazer, a riqueza de modo egoísta e idolatrando-os, podemos experimentar também momentos de inebriamento, uma falsa sensação de satisfação; mas, no fim de contas, tornamo-nos escravos, nunca estamos satisfeitos, sentimo-nos impelidos a buscar sempre mais. É muito triste ver uma juventude «saciada», mas fraca.

Escrevendo aos jovens, São João dizia: «Vós sois fortes, a palavra de Deus permanece em vós e vós vencestes o Maligno» (1 Jo 2, 14). Os jovens que escolhem Cristo são fortes, nutrem-se da sua Palavra e não se «empanturram» com outras coisas. Tende a coragem de ir contra a corrente. Tende a coragem da verdadeira felicidade! Dizei não à cultura do provisório, da superficialidade e do descartável, que não vos considera capazes de assumir responsabilidades e enfrentar os grandes desafios da vida.

3. Felizes os pobres em espírito…

A primeira Bem-aventurança, tema da próxima Jornada Mundial da Juventude, declara felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. Num tempo em que muitas pessoas penam por causa da crise económica, pode parecer inoportuno acostar pobreza e felicidade. Em que sentido podemos conceber a pobreza como uma bênção?

Em primeiro lugar, procuremos compreender o que significa «pobres em espírito». Quando o Filho de Deus Se fez homem, escolheu um caminho de pobreza, de despojamento. Como diz São Paulo, na Carta aos Filipenses: «Tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo e tornando-Se semelhante aos homens» (2, 5-7). Jesus é Deus que Se despoja da sua glória. Vemos aqui a escolha da pobreza feita por Deus: sendo rico, fez-Se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). É o mistério que contemplamos no presépio, vendo o Filho de Deus numa manjedoura; e mais tarde na cruz, onde o despojamento chega ao seu ápice.

O adjectivo grego ptochós (pobre) não tem um significado apenas material, mas quer dizer «mendigo». Há que o ligar com o conceito hebraico de anawim (os «pobres de Iahweh»), que evoca humildade, consciência dos próprios limites, da própria condição existencial de pobreza. Os anawim confiam no Senhor, sabem que dependem d’Ele.

Como justamente soube ver Santa Teresa do Menino Jesus, Cristo na sua Encarnação apresenta-Se como um mendigo, um necessitado em busca de amor. O Catecismo da Igreja Católica fala do homem como dum «mendigo de Deus» (n. 2559) e diz-nos que a oração é o encontro da sede de Deus com a nossa (n. 2560).

São Francisco de Assis compreendeu muito bem o segredo da Bem-aventurança dos pobres em espírito. De facto, quando Jesus lhe falou na pessoa do leproso e no Crucifixo, ele reconheceu a grandeza de Deus e a própria condição de humildade. Na sua oração, o Poverello passava horas e horas a perguntar ao Senhor: «Quem és Tu? Quem sou eu?» Despojou-se duma vida abastada e leviana, para desposar a «Senhora Pobreza», a fim de imitar Jesus e seguir o Evangelho à letra. Francisco viveu a imitação de Cristo pobre e o amor pelos pobres de modo indivisível, como as duas faces duma mesma moeda.

Posto isto, poder-me-íeis perguntar: Mas, em concreto, como é possível fazer com que esta pobreza em espírito se transforme em estilo de vida, incida concretamente na nossa existência? Respondo-vos em três pontos.

Antes de mais nada, procurai ser livres em relação às coisas. O Senhor chama-nos a um estilo de vida evangélico caracterizado pela sobriedade, chama-nos a não ceder à cultura do consumo. Trata-se de buscar a essencialidade, aprender a despojarmo-nos de tantas coisas supérfluas e inúteis que nos sufocam. Desprendamo-nos da ambição de possuir, do dinheiro idolatrado e depois esbanjado. No primeiro lugar, coloquemos Jesus. Ele pode libertar-nos das idolatrias que nos tornam escravos. Confiai em Deus, queridos jovens! Ele conhece-nos, ama-nos e nunca se esquece de nós. Como provê aos lírios do campo (cf. Mt 6, 28), também não deixará que nos falte nada! Mesmo para superar a crise económica, é preciso estar prontos a mudar o estilo de vida, a evitar tantos desperdícios. Como é necessária a coragem da felicidade, também é precisa a coragem da sobriedade.

Em segundo lugar, para viver esta Bem-aventurança todos necessitamos de conversão em relação aos pobres. Devemos cuidar deles, ser sensíveis às suas carências espirituais e materiais. A vós, jovens, confio de modo particular a tarefa de colocar a solidariedade no centro da cultura humana. Perante antigas e novas formas de pobreza – o desemprego, a emigração, muitas dependências dos mais variados tipos –, temos o dever de permanecer vigilantes e conscientes, vencendo a tentação da indiferença. Pensemos também naqueles que não se sentem amados, não olham com esperança o futuro, renunciam a comprometer-se na vida porque se sentem desanimados, desiludidos, temerosos. Devemos aprender a estar com os pobres. Não nos limitemos a pronunciar belas palavras sobre os pobres! Mas encontremo-los, fixemo-los olhos nos olhos, ouçamo-los. Para nós, os pobres são uma oportunidade concreta de encontrar o próprio Cristo, de tocar a sua carne sofredora.

Mas – e chegamos ao terceiro ponto – os pobres não são pessoas a quem podemos apenas dar qualquer coisa. Eles têm tanto para nos oferecer, para nos ensinar. Muito temos nós a aprender da sabedoria dos pobres! Pensai que um Santo do século XVIII, Bento José Labre – dormia pelas ruas de Roma e vivia das esmolas da gente –, tornara-se conselheiro espiritual de muitas pessoas, incluindo nobres e prelados. De certo modo, os pobres são uma espécie de mestres para nós. Ensinam-nos que uma pessoa não vale por aquilo que possui, pelo montante que tem na conta bancária. Um pobre, uma pessoa sem bens materiais, conserva sempre a sua dignidade. Os pobres podem ensinar-nos muito também sobre a humildade e a confiança em Deus. Na parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc 18, 9-14), Jesus propõe este último como modelo, porque é humilde e se reconhece pecador. E a própria viúva, que lança duas moedinhas no tesouro do templo, é exemplo da generosidade de quem, mesmo tendo pouco ou nada, dá tudo (Lc 21, 1-4).

4. … porque deles é o Reino do Céu

Tema central no Evangelho de Jesus é o Reino de Deus. Jesus é o Reino de Deus em pessoa, é o Emanuel, Deus connosco. E é no coração do homem que se estabelece e cresce o Reino, o domínio de Deus. O Reino é, simultaneamente, dom e promessa. Já nos foi dado em Jesus, mas deve ainda realizar-se em plenitude. Por isso rezamos ao Pai cada dia: «Venha a nós o vosso Reino».

Há uma ligação profunda entre pobreza e evangelização, entre o tema da última Jornada Mundial da Juventude – «Ide e fazei discípulos entre todas as nações» (Mt 28, 19) – e o tema deste ano: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3). O Senhor quer uma Igreja pobre, que evangelize os pobres. Jesus, quando enviou os Doze em missão, disse-lhes: «Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado; pois o trabalhador merece o seu sustento» (Mt 10, 9-10). A pobreza evangélica é condição fundamental para que o Reino de Deus se estenda. As alegrias mais belas e espontâneas que vi ao longo da minha vida eram de pessoas pobres que tinham pouco a que se agarrar. A evangelização, no nosso tempo, só será possível por contágio de alegria.

Como vimos, a Bem-aventurança dos pobres em espírito orienta a nossa relação com Deus, com os bens materiais e com os pobres. À vista do exemplo e das palavras de Jesus, damo-nos conta da grande necessidade que temos de conversão, de fazer com que a lógica do ser mais prevaleça sobre a lógica do ter mais. Os Santos são quem mais nos pode ajudar a compreender o significado profundo das Bem-aventuranças. Neste sentido, a canonização de João Paulo II , no segundo domingo de Páscoa, é um acontecimento que enche o nosso coração de alegria. Ele será o grande patrono das Jornadas Mundiais da Juventude, de que foi o iniciador e impulsionador. E, na comunhão dos Santos, continuará a ser, para todos vós, um pai e um amigo.

No próximo mês de Abril, tem lugar também o trigésimo aniversário da entrega aos jovens da Cruz do Jubileu da Redenção. Foi precisamente a partir daquele acto simbólico de João Paulo II que principiou a grande peregrinação juvenil que, desde então, continua a atravessar os cinco continentes. Muitos recordam as palavras com que, no domingo de Páscoa do ano 1984, o Papa acompanhou o seu gesto: «Caríssimos jovens, no termo do Ano Santo, confio-vos o próprio sinal deste Ano Jubilar: a Cruz de Cristo! Levai-a ao mundo como sinal do amor do Senhor Jesus pela humanidade, e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção».

Queridos jovens, o Magnificat, o cântico de Maria, pobre em espírito, é também o canto de quem vive as Bem-aventuranças. A alegria do Evangelho brota dum coração pobre, que sabe exultar e maravilhar-se com as obras de Deus, como o coração da Virgem, que todas as gerações chamam «bem-aventurada» (cf. Lc 1, 48). Que Ela, a mãe dos pobres e a estrela da nova evangelização, nos ajude a viver o Evangelho, a encarnar as Bem-aventuranças na nossa vida, a ter a coragem da felicidade.

Vaticano, 21 de Janeiro – Memória de Santa Inês, virgem e mártir – de 2014.

 

FRANCISCO

 

Violência, Manifestação Popular e a Caça aos Negros no Rio de Janeiro

por Negra Panther

No confronto brabo que correu na Central do Brasil, na Manifestação por melhores transportes públicos, em que um cinegrafista da Band ficou ferido de morte por causa de uma bomba lancada pela polícia, o primeiro e mais alvejado alvo da polícia foi esse rapaz manifestante.

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Várias pessoas estão feridas e presas.

(“O cinegrafista da Bandeirantes, Santiago Andrade, foi atingido por um artefato e ficou gravemente ferido, com afundamento no crânio. Uma mulher ferida foi levada pelo Corpo de Bombeiros. Relatos, em redes sociais, indicavam o desespero e, de acordo com um jovem que estava presente, policiais chegavam a “bater” até em mães com crianças no colo. Até as 20h, o clima ainda estava tenso.

Relatos dão conta de agressão por parte até dos funcionários da SuperVia, após arremesso de bombas de efeito moral dentro da estação. No final desta noite, bombeiros ainda tentavam apagar focos de incêndio perto da Central do Brasil. Duas pessoas teriam sido detidas.” ) – JB

Retrato fiel do extermínio de jovens negros pelo Braço Armado do Estado do Rio de Janeiro!

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Aí, galera! Estamos falando de que mesmo, haeimm!

DE GENOCÍDIO DA JUVENTUDE NEGRA NO BRASIL!

Vejam um belo e claro exemplo do BOPE/Rio de Janeiro

“Bope/facebook: resposta à morte da SD Alda e do SD Rocha,ambos mortos no último final de semana, está sendo dada!”

Todos mortos ali (montagem de fotos acima) são jovens negros, os chamados “bandidinhos pé-rapados”, para grande parte da sociedade do Rio de Janeiro. Só não vê quem não quer.

O PENDÃO DA PÁTRIA AMADA

filho seu

Na Pátria Amada, varonil
tremulou o pendão do meu Brasil.
Muitos tiros de fuzil
Tombaram muitos filhos seus.

Pátria Amada, ó meu Brasil.
Um fuzil, um filho seu
No horizonte varonil
Cor de sangue é o seu pendão!

Cor de sangue, cor de sangue
Tremula o seu pendão!

Transcrito da página de

Pernambuco. Jovens de classe média se articulam para apoiar rolezinhos

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Leonardo Bulhões, 24 anos, filho de funcionários públicos e estudante de música da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), frequenta centros de compra quando precisa. No fim de semana 25 e 26, porém, sairá de casa com os amigos para um “rolezinho”. Os encontros organizados via rede social no Sudeste por jovens de classe baixa sob o pretexto do direito ao lazer chegará ao Recife trocando os bonés, bermudas e cabelos pintados pelas vestes da classe média ativista que protagonizou os protestos do ano passado.

Três páginas no Facebook anunciam “rolezinhos” na capital pernambucana. O maior dos eventos está marcado para acontecer no RioMar, no próximo dia 25, às 16h, e já reúne mais de 890 confirmações. A maioria delas é de pessoas como Leonardo Bulhões. “Vivemos em um país que tenta esconder o racismo. Os rolezinhos na grande parte do país são diferentes dos de São Paulo. Estamos fazendo o ato em solidariedade aos que sofreram repressão policial”, comentou o estudante, que pretende ir também ao encontro marcado para acontecer no dia 26, no Shopping Recife, em Boa Viagem, às 16h. No Tacaruna, em Olinda, haverá um rolezinho contra a homofobia, no dia 24, uma sexta-feira, às 17h.

O professor de sociologia da UFPE Ricardo Santiago explica que a participação de um extrato social diferente nos rolezinhos modifica o caráter do encontro. “Ele não é político por princípio, exceto pelo fato de ser uma afirmação de ocupação de espaço. Ao ganhar proporção em função da violência policial, ganha tom político, reivindicatório, contrário à ideia de discriminação”, comentou ele, acrescentando que é possível ainda encontrar similaridade com os protestos realizados no segundo semestre de 2013. “A ação da polícia detonou um processo que extrapolou o próprio movimento. Quando se reprime, gera solidariedade.”

Os universitários Leonardo Bulhões e Janaína Oliveira irão aos encontros por aqui. Foto: Edvaldo Rodrigues
Os universitários Leonardo Bulhões e Janaína Oliveira irão aos encontros por aqui. Foto: Edvaldo Rodrigues

O advogado Pedro Josephi, conhecido por participar ativamente dos movimentos no ano passado, também confirmou presença. “Não queremos nos colocar como jovem de classe baixa, mas problematizar a desigualdade social, a falta de espaços públicos, o direito à cidade”, contou. A universitária Janaína Oliveira, 23, que estuda ciências sociais na UFPE, também já confirmou presença. “Quero combater o racismo e a higienização social”, diz

O jornalista João Paulo Guma, 29, que também vai ao encontro, acredita em bipolarização do passeio. “Há os que estão enxergando o rolezinho como uma ação política e há os verdadeiros “rolezeiros”, que vão se aglomerar, se divertir, entoar seus mantras de periferia”, defende. O sociólogo da Universidade Católica de Pernambuco Nadilson Silva não acredita em segregação. “O preconceito de classe em sido diluído entre os jovens, com o maior acesso à educação e a mistura de culturas”, pontua.

Erick Miller, 19 anos, estudante secundarista e criador dos rolezinho locais

“Tem um grupo que quer politizar o evento”

O que te motivou a realizar rolezinhos nos shoppings do Recife?
Os ocorridos em São Paulo foram o motivo para pensar em realizar esses eventos aqui. Acho uma ótima iniciativa pra marcar encontros com pessoas desconhecidas, fazer novas amizades, curtir e se divertir.

Como você vê a participação de grupos de classe média e a politização do encontro?
O evento está meio dividido entre pessoas que querem apenas curtir e outras que querem politizar o evento. Eu não vejo nenhum problema. Mas preferiria que ficasse apenas como uma curtição.

Você costuma frequentar o shopping com os seus amigos?
Sim, sempre que posso vou, mas não para consumir. Geralmente só vou com os amigos ao cinema. Geralmente vou ao Shopping Guararapes, porque moro em Jaboatão. Às vezes vou ao Shopping Recife. Recentemente passei a ir ao RioMar.

O que o rolezinho terá de diferente de quando você vai com os amigos?
Esse evento vai ser totalmente diferente porque tem mais pessoas. Vai ser algo novo, pelo menos para mim. Eu acho a ideia muito legal de encontrar pessoas desconhecidas, nos conhecermos e nos divertirmos. Essa é a ideia do rolezinho. (Transcrito do Diário de Pernambuco)

Mulher e juventude no cinema do Irão

Cena de “Persépolis”, animação autobiográfica dirigida por Marjane Satrapi
Cena de “Persépolis”, animação autobiográfica dirigida por Marjane Satrapi

 

A tirania política, cultural, de comportamento, que produz filmes ba­ni­dos pela censura, faz do Irã um exemplo de resistência na sétima arte. Os cineastas estão dispostos a não acatar a repressão e mergulham na vida social dos seus compatriotas, especialmente as mulheres e os jovens, foco deste ensaio sobre cinco filmes: “Persé­po­lis” (2007), animação auto­bio­gráfica da iraniana emigrada para a Europa, Marjane Sa­trapi; “Half Moon” (2006), ou “Meia Lua”, de Bahman Ghobadi; “A Separação” (2011), de Asghar Far­hadi; “Off Side”, de Jafar Pa­nahi, sobre a exclusão da mulher no futebol; e “Ninguém Sabe Sobre os Gatos Persas” (2009), de Bahman Gho­ba­di, sobre a meninada musical de Teerã. Leia mais. Por Nei Duclós 

 

“Interessa-me a saúde mental porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês”

DOENÇAS MENTAIS

por Pedro Afonso, médico psiquiatra

 

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Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.

Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família.

Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.

E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

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Transcrito do Facebook, via Margarida Canto/ Isabel Castanho

Papa convida jovens a “mudar o mundo” e ir para a rua

 

ESPANHA
ESPANHA

“O vosso jovem coração quer construir um mundo melhor. Sigo as notícias do mundo e vejo tantos jovens que saem à rua para exprimir o seu desejo de uma civilização mais justa e fraterna”, testemunhou Francisco, acrescentando que os jovens devem combater a “apatia e oferecer uma resposta cristã às inquietudes sociais e políticas que surgem nas diferentes partes do mundo”. “Peço-vos que sejam os construtores do futuro.” Clique aqui para ver foto panorâmica de três milhões de jovens em Copacabana .

O papa Francisco celebrou hoje a missa de encerramento das Jornadas Mundiais da Juventude perante uma enorme multidão na praia de Copacabana, sublinhando que “o Evangelho é por todos e para todos”.

O papa apelou aos jovens católicos que revelem “sem medo” a sua fé além-fronteiras e assegurou que o “Evangelho é para todos” e não unicamente para os crentes.

Falando diante de uma multidão de três milhões de pessoas reunidas na mítica praia de Copacabana, o papa Francisco insistiu: “Não há fronteiras, nem limites. Jesus abraça-nos a todos, não somente aos que são mais próximos, receptivos e crentes”.

Durante a missa, os peregrinos desfraldaram uma enorme bandeira com a imagem do papa Francisco, que, apesar dos seus 76 anos, se tem mostrado bastante enérgico e caloroso com os fiéis nesta digressão por terras brasileiras.

Entre as pessoas que assistiram à missa em Copacabana estavam os presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, Argentina, Cristina Kirchner, e da Bolívia, Evo Morales.

“O Evangelho é por todos e para todos. Há que levar Cristo a todo o lado, mesmo a quem esteja mais distante e indiferente. O Senhor está à procura de todos, Ele quer que todos sintam o calor da sua misericórdia”, afirmou o papa Francisco, que tem feito da misericórdia a palavra mote do seu pontificado.

TRÊS MILHÕES DE JOVENS. Dilma em Copacabana, acompanhada pelos presidentes da Argentina, Cristina Krischner, e da Bolívia, Evo Morales
TRÊS MILHÕES DE JOVENS. Dilma em Copacabana, acompanhada pelos presidentes da Argentina, Cristina Krischner, e da Bolívia, Evo Morales
Fiéis nas areias de Copacabana
Fiéis nas areias de Copacabana

Homilia de Francisco:
Venerados e amados Irmãos no episcopado e no sacerdócio,
Queridos jovens!
«Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Com estas palavras, Jesus se dirige a cada um de vocês, dizendo: «Foi bom participar nesta Jornada Mundial da Juventude, vivenciar a fé junto com jovens vindos dos quatro cantos da terra, mas agora você deve ir e transmitir esta experiência aos demais». Jesus lhe chama a ser um discípulo em missão! Hoje, à luz da Palavra de Deus que acabamos de ouvir, o que nos diz o Senhor? Três palavras: Ide, sem medo, para servir.
1. Ide. Durante estes dias, aqui no Rio, vocês puderam fazer a bela experiência de encontrar Jesus e de encontrá-lo juntos, sentindo a alegria da fé. Mas a experiência deste encontro não pode ficar trancafiada na vida de vocês ou no pequeno grupo da paróquia, do movimento, da comunidade de vocês. Seria como cortar o oxigênio a uma chama que arde. A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história (cf. Rm 10,9).
Mas, atenção! Jesus não disse: se vocês quiserem, se tiverem tempo, mas: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a você. É uma ordem sim; mas não nasce da vontade de domínio ou de poder, nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nós e nos deu não somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Jesus não nos trata como escravos, mas como homens livres, amigos, como irmãos; e não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de amor.
Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor.
De forma especial, queria que este mandato de Cristo -“Ide” – ressoasse em vocês, jovens da Igreja na América Latina, comprometidos com a Missão Continental promovida pelos Bispos. O Brasil, a América Latina, o mundo precisa de Cristo! Paulo exclama: «Ai de mim se eu não pregar o evangelho!» (1Co 9,16). Este Continente recebeu o anúncio do Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu muito fruto. Agora este anúncio é confiado também a vocês, para que ressoe com uma força renovada. A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido!
2. Sem medo. Alguém poderia pensar: «Eu não tenho nenhuma preparação especial, como é que posso ir e anunciar o Evangelho»? Querido amigo, esse seu temor não é muito diferente do sentimento que teve Jeremias, um jovem como vocês, quando foi chamado por Deus para ser profeta. Acabamos de escutar as suas palavras: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo». Deus responde a vocês com as mesmas palavras dirigidas a Jeremias: «Não tenhas medo… pois estou contigo para defender-te» (Jr 1,8). Deus está conosco!
«Não tenham medo!» Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: «Eu estou com vocês todos os dias» (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós!
Jesus não nos deixa sozinhos, nunca lhes deixa sozinhos! Sempre acompanha a vocês!
Além disso, Jesus não disse: «Vai», mas «Ide»: somos enviados em grupo. Queridos jovens, sintam a companhia de toda a Igreja e também a comunhão dos Santos nesta missão.
Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos. Jesus não chamou os Apóstolos para viver isolados, chamou-lhes para que formassem um grupo, uma comunidade. Queria dar uma palavra também a vocês, queridos sacerdotes, que concelebram comigo esta Eucaristia: vocês vieram acompanhando os seus jovens, e é uma coisa bela partilhar esta experiência de fé! Mas esta é uma etapa do caminho. Continuem acompanhando os jovens com generosidade e alegria, ajudem-lhes a se comprometer ativamente na Igreja; que eles nunca se sintam sozinhos!
3. A última palavra: para servir. No início do salmo proclamado, escutamos estas palavras: «Cantai ao Senhor Deus um canto novo» (Sl 95, 1). Qual é este canto novo? Não são palavras, nem uma melodia, mas é o canto da nossa vida, é deixar que a nossa vida se identifique com a vida de Jesus, é ter os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas ações. E a vida de Jesus é uma vida para os demais. É uma vida de serviço. São Paulo, na leitura que ouvimos há pouco, dizia: «Eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível» (1 Cor 9, 19). Para anunciar Jesus, Paulo fez-se «escravo de todos». Evangelizar significa testemunhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus.
Ide, sem medo, para servir. Seguindo estas três palavras, vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe alegria. Queridos jovens, regressando às suas casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho. Na primeira leitura, quando Deus envia o profeta Jeremias, lhe dá o poder de «extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir e plantar» (Jr 1,10). E assim é também para vocês. Levar o Evangelho é levar a força de Deus, para extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo. Jesus Cristo conta com vocês! A Igreja conta com vocês!
O Papa conta com vocês! Que Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, lhes acompanhe sempre com a sua ternura: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Amém.