O movimento Ocupe Estelita e a “sociedade dos muros”

A sociedade busca romper a cortina de silêncio sobre o modelo político em que ganham as empresas e o cidadão paga a fatura

Meime do Movimento Ocupe Estelita. Página Facebook
Meime do Movimento Ocupe Estelita. Página Facebook

por Maria Eduarda Mota Rocha/ El País/ Espanha

“Prédio, só prédio sobre palafita, o Recife inteiro é um grande Cais José Estelita”. Este é um dos gritos de guerra dos manifestantes do Movimento Ocupe Estelita (MOE) que, desde maio de 2014, ganhou as ruas da cidade para reivindicar uma destinação pública para o terreno às margens do Rio Capibaribe. Naquele momento, com a tentativa de demolição dos antigos armazéns de açúcar, em plena madrugada, iniciava-se uma ocupação que só foi interrompida pela violenta expulsão dos manifestantes pela Polícia Militar, sob o comando do governo do PSB.

A ocupação durou cerca de um mês, mas seu significado na memória política da cidade é profundo. Antes dela, a máfia público-privada que governa Pernambuco e Recife não encontrava uma oposição de fato. Planava em céu de brigadeiro, respaldada em uma visão tacanha de “desenvolvimento” combinada a uma antiga tradição coronelesca. Contra ambas, a ocupação do terreno do Cais José Estelita lembrava que algo como uma sociedade civil ainda poderia subsistir por aqui. Não nos enganemos: desde, pelo menos, a década de 1970, a cidade abriga uma forte tradição de movimentos sociais urbanos, de luta pela moradia e pelo reconhecimento de direitos em face ao Estado. Mas a herança mais perversa do último ciclo político no Brasil parece ter sido justamente uma certa blindagem dos poderes públicos em relação às pressões populares, diante da fusão entre esses poderes e os interesses mais privatistas, o que Raquel Rolnik chamou ironicamente de “democracia direta do capital”. O conjunto assim formado vence eleições mediante investimento pesado em propaganda política e cooptação de lideranças reduzidas a cabos eleitorais. Neste esquema, o dinheiro não encontra muita resistência para ser convertido em votos, o que parecia tornar dispensável o apoio dos movimentos sociais. Nas últimas eleições presidenciais, por exemplo, muitos deles só entraram no jogo de última hora, quando a polarização entre o PT e o PSDB clamou por algum “voto de minerva”.

No Recife, o cenário era o mesmo até a eclosão do MOE em maio de 2014. Diferentemente de outros movimentos sociais, o Ocupe Estelita mobiliza uma gama muito variada de competências, inclusive as da comunicação, sob as suas várias formas. Em âmbito global, os movimentos de tipo Ocupe, como os de Nova York, Madri ou Turquia, apontam todos para uma crise aguda da “democracia representativa”. Eles tentam arrombar a porta de instituições que foram se blindando à participação popular, ao longo do tempo, como os poderes judiciário, legislativo e executivo. Muito da força e do significado do Ocupe Estelita e de outros movimentos similares que tem eclodido pelo Brasil afora vem de sua capacidade de romper a cortina de silêncio construída em torno desse modelo político em que ganham os eleitos e os grandes empresários da construção civil, das empresas de ônibus e da coleta de lixo às custas de todos os demais cidadãos chamados a pagar a fatura sob a forma de cidades cada vez mais degradadas.

O fascínio pelos signos de modernidade que tanto marcou a cultura brasileira e que fez de viadutos e hidrelétricas verdadeiros atestados de ingresso no mundo ocidental explica por que governantes e empreiteiros acreditam que seus prédios com muito vidro e aço escovado podem nos demover de um desejo por uma outra cidade, leia-se, por uma outra forma de viver. A ideologia do progresso que está por trás desta crença já havia se desgastado na crise dos anos de 1980, quando a modernização conservadora do período da Ditadura começou a mostrar seus frutos para valer, dentre eles, a crise urbana que agora sentimos ainda mais fortemente. A reedição daquela ideologia no contexto do forte crescimento econômico dos últimos anos conteve a insatisfação, por um tempo. Mas, no reflexo dos vidros espelhados dos prédios “modernos” que se multiplicam pelo Brasil, o que vemos é uma cidade dividida entre o medo e o ódio, na qual todos os que não podem andar de helicóptero tem que desperdiçar todo dia um tempo precioso de suas vidas.

A “cidade dos muros” em que vivemos é expressão direta de um modelo de sociedade sustentada pelo arranjo político já descrito. As tantas lutas que cabem no Cais José Estelita convergem para a reivindicação do direito de ocupar a cidade de modo permanente, transformando seus espaços vazios em lugares plenos de significado, justamente porque compartilhados. Em uma sociedade tão pouco civilizada como a nossa, esse é um exercício fundamental para a construção simultânea da igualdade e do direito às diferenças. O desafio que se coloca para essas novas formas de mobilização social é a articulação com os outros descontentes, a partir da compreensão de que a luta pelo direito à cidade pode colocar todos no mesmo lado, o dos que buscam se fazer ouvir contra a força esmagadora do capital econômico e de seus serviçais. O grau em que tal articulação se fará terá um peso importante na definição dos contornos do novo ciclo político que parece se iniciar no Brasil. Do lado do sistema partidário, quem primeiro responder à crise do modelo político brasileiro deverá largar na frente.


Maria Eduarda Mota Rocha é pesquisadora e professora da Universidade Federal de Pernambuco.

A BATALHA EM IMAGENS
Parte dos armazéns que foram demolidos pelo consórcio em 21 de maio de 2014
Parte dos armazéns que foram demolidos pelo consórcio em 21 de maio de 2014. Foto Marcelo Soares
Parte dos armazéns que foram demolidos pelo consórcio em 21 de maio de 2014. Foto Chico Ludemir
Parte dos armazéns que foram demolidos pelo consórcio em 21 de maio de 2014. Foto Chico Ludemir
No dia 1º de junho, um evento cultural reuniu cerca de 10.000 pessoas no cais. Foto Marcelo Soares
No dia 1º de junho, um evento cultural reuniu cerca de 10.000 pessoas no cais. Foto Marcelo Soares
Apresentação de Karina Buhr no Som da Rural no Ocupe Estelita, no dia 1º de junho. Foto Marcelo Soares
Apresentação de Karina Buhr no Som da Rural no Ocupe Estelita, no dia 1º de junho. Foto Marcelo Soares
Policiais disparam spray pimenta contra ativistas sentados no chão durante a reintegração de posse do terreno, no dia 17 de junho. Foto Eric Gomes
Policiais disparam spray pimenta contra ativistas sentados no chão durante a reintegração de posse do terreno, no dia 17 de junho. Foto Eric Gomes
Após a reintegração de posse, os ativistas montaram um novo acampamento em frente ao terreno do Cais José Estelita, debaixo da alça de acesso ao viaduto Capitão Temudo. Foto Eric Gomes
Após a reintegração de posse, os ativistas montaram um novo acampamento em frente ao terreno do Cais José Estelita, debaixo da alça de acesso ao viaduto Capitão Temudo. Foto Eric Gomes
Vanessa Azevedo e Gabriela Pereira, estudantes de 25 anos, ensinam às crianças das comunidades vizinhas como fabricar 'filtros dos sonos'. A comunidade resolveu organizar atividades e aulas para tentar que os meninos deixem de cheirar cola. Foto Eric Gomes
Vanessa Azevedo e Gabriela Pereira, estudantes de 25 anos, ensinam às crianças das comunidades vizinhas como fabricar ‘filtros dos sonos’. A comunidade resolveu organizar atividades e aulas para tentar que os meninos deixem de cheirar cola. Foto Eric Gomes
As comunidades de Vila Sur I e Vila Sur II se levantam a poucos metros do novo empreendimento e já reúnem 1.200 famílias, segundo a prefeitura. Foto Eric Gomes
As comunidades de Vila Sur I e Vila Sur II se levantam a poucos metros do novo empreendimento e já reúnem 1.200 famílias, segundo a prefeitura.
Foto Eric Gomes
Vista panorâmica da região onde se pretende levantar o projeto Novo Recife. À direita, as torres Gêmeas, os primeiros arranha-céus a serem construidos no bairro histórico de São José. Foto Eric Gomes
Vista panorâmica da região onde se pretende levantar o projeto Novo Recife. À direita, as torres Gêmeas, os primeiros arranha-céus a serem construidos no bairro histórico de São José. Foto Eric Gomes

Hoje, o Grito dos Excluídos busca liberdade e direitos

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“Ocupar ruas e praças por liberdade e direitos” é o lema da 20ª edição do Grito dos Excluídos, que acontece em todo o Brasil, neste domingo, 7 de setembro, dia em que se celebra a Independência do Brasil. O conjunto de manifestações populares, que há duas décadas trata da temática “Vida em primeiro lugar”, prioriza neste ano a linguagem criativa e simbólica em suas ações, como música, teatro, poesia, redações, exposições e feiras. A Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) participa das mobilizações por meio das Pastorais Sociais, com apoio da Cáritas Brasileira e da Pastoral da Juventude.

A edição de 2014 organiza o máximo de ações na defesa da vida humana, na luta pelo acesso e qualidade dos serviços públicos básicos e na construção de espaços e ações de denúncia de injustiças. Os grupos também marcham contra as privatizações de bens naturais e serviços e denunciam a criminalização dos movimentos e lutas populares.

Vários eixos foram articulados para trabalhar questões como participação popular, comunicação, impactos de megaprojetos e megaeventos, extermínio da juventude negra, meio ambiente e os povos indígenas e tradicionais.

“O grito tem uma função como se fosse um pequeno grande professor que contribui para levar informação e formação ao povo brasileiro, que é daquilo que o povo precisa para se manifestar”, afirma o coordenador nacional do evento, Ari Alberti.

Desde 1995, quando aconteceu a primeira edição do evento, houve grande repercussão internacional e reconhecimento na Assembleia Geral da CNBB, ocasião em que os bispos refletiram sobre o tema e o abordaram no Documento 56, “Projeto Rumo ao Novo Milênio”.

Outro fato é o contraste da manifestação civil com o desfile militar. “A Semana da Pátria deixou de ser uma semana de plateia, que assiste a desfiles, para ser uma semana de mobilização, de atividades, de lutas e de botar nas ruas suas necessidades e seus direitos que não estão sendo respeitados”, aponta Alberti.

Saiba mais sobre a organização e locais onde acontecem as ações do Grito dos Excluídos no site www.gritodosexcluidos.org.

 

 

1997 justiça

Pensamentos de Maria Clara Bubna

Maria Bubna

 

De volta ao Rio. Mais três quilos no mínimo (meio quilo só de bochechas), potes de doce de leite e mel e um saco cheio de ervas frescas na mochila, alma lavada, coração calmo e vontade zero de ficar nessa selva de pedra, fumaça e caos.

Lá em Goianá, no interiorzinho de Minas, eu vi como o ser humano é lindo até nos gestos mais simples. Produções independentes, a comunidade se unindo pra produzir e se proteger, frutas colhidas do pé (do tamanho que aqui no Rio a gente só consegue se pagar o olho da cara!), calma reinando em cada organismo, simpatia gratuita (ou essa simpatia seria um traço natural do ser humano tranquilo e pacífico?)… Paisagens de tirar o fôlego e contato humano de renovar as esperanças.

Copa do Mundo, discussões que não levam a lugar nenhum, doses cavalares de violência e machismo, perseguições insanas, contas hackeadas, esgotamento emocional: tudo isso perde tamanho e valor quando a gente dá de cara com a gratidão e a bondade que o mundo pode oferecer. É só a gente se abrir, respirar fundo, parar de dar valor ao obsoleto e cair nos nossos sonhos e vontades.
O meu sonho é conhecer o máximo de pessoas que eu puder e me sentir parte de cada uma delas assim como muitas já são e outras irão ser parte de mim. Minha vontade é pertencer a todos os lugares do mundo.

A cidade é uma abstração cruel, assim como todas as relações doentias que acabamos nos envolvendo nesse ambiente de pressão e dor. Por isso que eu decidi me zerar e me jogar no mundo. Pé na estrada muito em breve porque só se vive de verdade quando se está em movimento.

***

Quão complicado e sintomático é ver homens falando que ao desabafar e narrar sua parte dos fatos você está se colocando no papel da “falsa vítima que perdeu os argumentos”? Direito à voz é vitimismo? Se impor contra uma cultura de opressão (claramente explicitada com ameaças e xingamentos misóginos) é “perder os argumentos”?

A cegueira social que as pessoas, principalmente os homens dentro da sociedade machista, insistem em ter é tão simbólica… Ela representa aquela postura de manutenção dos privilégios, onde é mais fácil fingir que vivemos em uma sociedade igualitária e agredir pessoas que não aceitam silenciamento e essa “falsa realidade” que tentam nos empurrar.

Perder argumentos, pra mim, é atacar covardemente. É negar sua posição de privilégio e destilar ódio. É menosprezar a dor alheia. É fazer tudo do isso ao invés de realizar o simples ato de raciocinar.

 

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Pleno 2014 e eu não acredito que ainda precisamos repetir isso, mas lá vai: feminismo não existe pra agradar homem, nem de direita nem de esquerda.

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Fazer “piada” com classe oprimida não tem a menor graça e representa uma falta de noção da realidade majestosa. É muito fácil rir da luta ou da dor alheia quando se está sentado em um troninho de privilégios. Escarnecer das minorias é mole quando não se tem medo de ser violado ou agredido por simplesmente ser quem você é. Por favor, humor “politicamente incorreto” é a arma dos desfavorecidos intelectualmente (ou dos perversos).

Achar que todas as classes oprimidas/minoritárias estão em pé de igualdade com a “maioria” porque simplesmente existe um artigo na Constituição que declara isso é de uma ingenuidade (pra não dizer maldade) insana. Lutas que buscam o empoderamento, a liberdade e aí então a igualdade entre todxs são mais do que necessárias quando você analisa o contexto social que estamos inseridos. A Constituição vale quando é colocada em prática.

Os prefeitos dos shoppings roubam inclusive a vida das cidades

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A onda destruidora dos shoppings. O que faz viva uma cidade é o povo nas ruas.

Afirmou Gustavo Krause, quando prefeito do Recife: “Se a cidade é uma das mais extraordinárias construções da natureza humana, se nela tudo acontece em função do exercício político da cidadania, tudo se passa na rua – extensão da casa, e no bairro – extensão da família”.

Escreve hoje Sergio Kiernan: En Nueva York, por ejemplo, la estricta y total prohibición de los shopping centers en los cinco “boroughs” neoyorquinos, que ni siquiera el multimillonario intendente saliente logró levantar. La idea es que el perfil urbano de la ciudad es alimentado y caracterizado por un zócalo de comercios minoristas, por galerías comerciales y por tiendas de departamentos que se especializan más que nada en ropa y maquillaje. Nueva York es la ciudad más caminable de Estados Unidos, por lejos, no sólo porque tiene un buen sistema de subtes sino porque hay mucho que ver y hacer, porque sus calles son foros públicos.

El macrismo (Buenos Aires) tiene en mente un modelo de ciudad tipo country: privado, de auto, con derecho de admisión, lucrativo y con tarjeta de crédito. A esta gente le falta calle y por eso no sabe para qué sirve la calle, con lo que firma alegremente toda autorización para un shopping. De paso, alguna constructora amiga hace un buen negocio y todos reciben facilidades, como no pagar por el cambio de infraestructura necesaria, otra cosa que podrían copiar de Nueva York, meca del capitalismo donde para abrir un estadio, por ejemplo, hay que pagar por el asfaltado reforzado, las cloacas ampliadas y los semáforos extra para manejar el influjo puntual de público.

Los shoppings, en comparación, son criaturas potencialmente dañinas.

 

 

História e paisagens do Recife roubadas pela “modernidade” espelhada e a cegueira do poder público

por Josué Nogueira

 

Rio Mar ocupa a cena onde existia mangue e divide a paisagem com igrejas do bairro de São José
Rio Mar ocupa a cena onde existia mangue e divide a paisagem com igrejas do bairro de São José

 

A preservação da história de um centro urbano passa pela manutenção de edificações, paisagens e peculiaridades que documentam o passado e dão fisionomia à localidade.

Infelizmente, a cara do Recife, cidade nascida sobre ilhas, braços de rios e canais cortados por pontes, tem desaparecido aos poucos.

Áreas que reuniam cenários naturais e construções antigas de valor arquitetônico inquestionável vem sumindo gradativamente.

 

Torres com Brasília Teimosa e Pina ao fundo
Torres com Brasília Teimosa e Pina ao fundo

Impossível reconhecer o Cabanga olhado a partir de São José e do Recife Antigo, por exemplo.

O shopping Rio Mar e empresarias substituíram um trecho grande do estuário que compõe a Bacia do Pina – um dos últimos indícios de que vivemos sobre o mangue.

Do mesmo modo, é estranho olhar para o centro a partir das pontes que ligam Cabanga e Pina.

O casario secular e igrejas históricas são engolidos pelas “torres gêmeas” levantadas no cais vizinho à antiga ponte giratória.

O cenário vai ficar ainda mais estranho com o tal do projeto do Novo Recife entre o Cais José Estelita e a Av Sul.

Nada contra a ocupação de zonas esquecidas que devem e merecem ser revitalizadas, abrigando gente, comércio e “povoando” a cidade.

Foto de Ricardo Fernandes
Foto de Ricardo Fernandes

Mas, tudo contra a especulação imobiliária que toma mangues, viola paisagens e faz brotar espigões de concreto onde a história da cidade é contada (por que não limitar o número de pisos?).

A falta de limites na altura dos edifícios, associada à cultura do exclusivismo (prédios e condomínios fechados em si, erguidos como se estivessem em territórios independentes da urbe), rouba a feição e a alma da cidade.

As fotos do post atestam um pouco do escrito aqui. As duas primeiras, postadas na página de uma amigo, me estimulara a escrever este post.

O tema pode não estar na ordem do dia, mas segue carente de debate e de atitude (e comprometimento com a história) por parte do poder público.

É triste ver a cidade perder DNA diariamente e ser convertida em mais uma entre tantas, com prédios espelhados – tidos como atestado de luxo e “desenvolvimento” – e desconectados com a realidade circundante.


Dos comentários ao oportuno texto de Josué Nogueira, destaco dois anônimos (Recife é a cidade do medo, das patrulhas, do pensamento único, assim fica justificado o anonimato.

1 – Pois é… nos roubam a paisagem em nome de uma “mudernidadhy” pra lá de atrasada. Difícil escutar – todo o tempo – de gente que se diz esclarecida, e que já viajou mundo afora: “mas vai crescer como?”. E que não consegue captar bons exemplos de cidade, e que tem a mente no caixote que só enxerga o mundo na caixa fechada de espelhos a 100 metros de altura.

E é bom investigar os EIV’s (estudos de impactos de vizinhança) e os EIA’s (estudos de impactos ambientais) desses empreendimentos

2 – Engraçado, o blogueiro mora onde?
Deve morar em Boa Viagem ou em outro bairro nobre da cidade. Recife tem que se desenvolver e ficar uma cidade bonita. É muito fácil para esses intelectuais, com suas roupas de grifes, quererem que a cidade fique feia, enquanto eles moram na parte bonita.


[O comentarista n. 2 não diz em que lugar e que tipo de moradia deve residir o despejado pela justiça dos ricos e pelo braço armado da polícia que prende e arrebenta. Que todo arranha céu que aparece ocupa espaços antes habitados pelos pobres, pelos sem teto, pelos sem nada.

Quem são esse altos moradores que ocupam as novas altas torres?

Nada se faz que preste para o povo. Não há espaço para a vida e a morte das populações. Recife não tem um passeio público. Os hortos, parques e praças estão abandonados. Não se constrói mercado público. Centros de lazer, de cultura, de esportes. Nem cemitérios. O recifense não tem onde viver, nem onde morrer]

Recife tem passeata sexta 11 de abril pelos direitos urbanos

A concentração é às 12 horas na Praça do Diário de Pernambuco, no Centro

 

Thales Costa
Thales Costa

por João Vale

A recente decisão da Prefeitura do Recife de apoiar a demolição do edifício Caiçara (alô alô, Secretário João Braga!) e a construção das torres no Cais José Estelita + a cessão da fábrica Tacaruna para a empresa FIAT e o desprezo do Governo do Estado às demandas sociais das famílias removidas pelas obras da Copa do Mundo motivam esse ato de repúdio ao poder público municipal e estadual.

A paisagem, as frentes d’água, os equipamentos culturais, a história, a memória urbana são do povo e não podem ser destruídos ou privatizados. Clique

 

VISITA AO PREFEITO E AO NOVO GOVERNADOR

Batuques e barulhos são bem vindos!
Podem trazer tinta, cartaz e fita crepe!
A cidade vai parar! (: (: (:

Precisamos de voluntários para a equipe de mídia! Contatos em outros estados são bem vindos!

Venha a pé, venha de bicicleta!

 

Comenta Edinéa Alcântara:

A REGRA DE OURO DAS APROVAÇÕES DOS EMPREENDIMENTOS DE IMPACTO NO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO URBANO (CDU):

 

(a) é empreendimento do setor privado? APROVADO
(b) é para a preservação da memória urbana do Recife? REJEITADO
O processo para transformação do edifício Caiçara em Imóvel Especial de Preservação (IEP) foi o primeiro processo que não foi aprovado no CDU. Todos os demais processos, que se referem à construção de empreendimentos de impacto, sempre são aprovados. Na maioria das vezes com estudos de impacto ambiental muito duvidosos, do ponto de vista técnico, a exemplo do templo da Mário Melo, o próprio Projeto Novo Recife, as torres da Rua da Auroa, o Sport Club do Recife.
Par ao projeto do templo da Av. Mário Melo fizeram uma pesquisa do fluxo de veículos nas férias. O excelente relatório do CREA, que não era contra o empreendimento, mostrou isso, mas o templo foi aprovado. O que o representante do CREA queria era que o impacto de fato fosse previsto com base em índices e previsões realistas. Não subestimadas para minimizar o impacto que um templo com capacidade para mais de 25.000 pessoas traria no cruzamento da Av. Mário Melo com Cruz Cabugá. Mas “a maioria” dos conselheiros, representados novamente pelos órgãos da prefeitura e do setor privado, votaram contra o relatório.
O memorial de impacto do Projeto Novo Recife considera uma taxa de crescimento de veículos (na p. 66) de 2,5% ao ano, para 10 anos. Dados do IPEA (2011.p. 6) (http://www.cnt.org.br/…/PDFs…/comunicado_ipea220911.pdf), apontam que a taxa de crescimento da frota de automóveis nos últimos anos foi de 7% ao ano. Eles também nem mencionam os empreendimentos de impacto que foram e estão sendo construídos no Pina que impacta diretamente no fluxo de veículos no Cais Estelita.
NO CDU, não adianta nenhum desses relatórios. A regra é: os projetos defendidos pelo setor privado, não importa o impacto que causem são aprovados.
A preservação de uma edificação que conta a história de uma época é rejeitada.
O que você acha disso? Esse Conselho representa você? A mim não! Mas cabe a ele representar os interesses da sociedade.
Prefeito, o que aconteceu 6a feira é inaceitável! Nós, agora, estamos esperando que a justiça atenda o clamor da sociedade para preservação da nossa memória urbana.

Clique para acessar o comunicado_ipea220911.pdf

CNT.ORG.BR

 

 

Lançamento do Dicionário Amoroso do Recife

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“Quem é do Recife, quem já viveu no Recife ou quem passou um tempo no Recife, sempre dirá: eu tenho um caso pessoal com esta cidade”.

O Dicionário Amoroso do Recife é obra de toda uma vida na cidade, “um lugar possuidor de visco e modo de ser” que acompanhou e acompanha Urariano Mota sempre.

No Dicionário, os significados vêm “na nuvem da memória e do sentimento. A memória a falar daquilo que a marcou. Falando para todos os humanos a humanidade do Recife”.

Dicionário Amoroso do Recife

Amanhã, sexta-feira, às 19 horas, na Livraria Cultura, no Paço da Alfândega, no Recife Antigo, o romancista Urariano Mota estará autografando o Dicionário Amoroso do Recife.
O Dicionário é fruto de um escritor que ama a cidade acima de tudo. Não foi à toa que o grande maestro Spok, o cara e a cara do frevo renascido, se referiu ao livro como se visse o Recife falando para os recifenses e para qualquer pessoa de fora, no Rio, em São Paulo, ou além das fronteiras do Brasil. Como um novo Pernambuco falando para o mundo.
De A até Z, o livro é um passeio pelas Igrejas, pela primeira Sinagoga das Américas, pelos terreiros, pelos mercados públicos, pelo elogio emocionante dos heróis do povo da cidade.
Um dicionário da humanidade pernambucana. Da gente do Recife, “da encantadora gente do Recife, que às vezes sufoca a gente de emoção e ternura, de um carinho que rasga o solo como uma flor no asfalto duro”.
De Eutanasinha, a criança flagrada na inocência da fantasia de princesa do carnaval. De Clarice Lispector a ver o frevo na rua. Da descoberta de uma qualidade rara em Dom Hélder Câmara. E muitas homenagens, recuperação de pessoas ilustres e queridas do Recife, desta vez salvas para sempre como exemplos e modelos de pessoas da cidade.
Quem? Não perguntem quem, perguntem como são e vivem essas pessoas. Do ser que são virá a sua fama.
Humor, poesia, drama, como de resto é feita uma cidade grande cujo crescimento se dá na memória e no afeto.
E mais: o novo centro do Recife.
E qual o gênero da cidade? Recife é macho ou fêmea?
Revelações como a passagem de Gagárin no Recife, a origem do nome Zumbi para um bairro. E as mulheres do Marrocos, o teatro de sexo do sonho dos meninos. O Mercado da Boa Vista. As redações do Recife, lembrando nomes que os jovens fotógrafos e jornalistas nem sabe que existiram.  Eis o trecho de um verbete:

“No registro cotidiano do Recife, muito espanta hoje o seu sentido de flagra, mais rápido que o de um fotógrafo de esporte no momento do gol. No precioso arquivo de Olegária, aparecem ladrões meninos ou adultos no instante do furto. Como se fosse de repente, naquele momento tão suave e sub-reptício que ninguém vê, Wilson mostrava em preto e branco os dedos escorregando em uma bolsa de mulher, no centro do Recife. O seu flagrante não media conveniências. Flechava, ou melhor, flashava meninos miseráveis, sem banheiro no mocambo, defecando à luz do dia em um canal da cidade.

Olegária nos contou que tamanha era a intimidade do pai com famosos, que ele chegou a fotografar misses de Pernambuco nuas. Para nossa infelicidade não restaram as provas, porque Wilson, honestíssimo, devolvia os negativos às donas. (O que eram os costumes secretos e a gentileza do fotógrafo.) Ele trabalhou no Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco e Folha da Manhã.“

Este é um Dicionário para o Recife “que está mais em seu povo que em todos os monumentos, pontes, rios e edifícios. Aquela cidade que vista de cima, no avião que chega, acende um calor, uma alegria e uma felicidade sem palavras, somente fogo íntimo”.
“Estamos de volta, Recife”, e quem volta suspira em silêncio, pouco importando se esteve fora um mês, um ano ou dois dias.

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VOCÊ TEM UM ENCONTRO MARCADO COM URARIANO MOTA

Urariano Mota

Democracia participativa en la ciudad

por Fernando Caballero Baruque

 

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¿Qué piensan los políticos municipales sobre la participación ciudadana? Para algunos participar significa exclusivamente votar cada 4 años un programa electoral que nadie lee y guardar silencio hasta las siguientes elecciones. Para otros de ninguna manera.

En los programas electorales municipales, donde no hay injerencias ni de la Troika ni de Berlín, el equipo de gobierno -y el presupuesto disponible- deciden las prioridades. Los programas son cerrados pero… ¿Deben ser también un contrato con los ciudadanos que los votan?

¿Qué pasa por la mente de un alcalde cuando tiene que administrar en plena crisis la principal partida -la urbanística- de un limitadísimo presupuesto municipal? Por ejemplo podría pensar en ir dejando resueltos problemas puntuales locales, sin endeudarse, en espera de mejores tiempos en los que acometer obras de transformación si de verdad se precisaran. Pero desengañémonos. Lo que – con honrosas excepciones – termina haciendo es dejar su impronta en la historia de la ciudad lanzándose a grandes obras, tan costosas como innecesarias y generalmente al margen de los vecinos cuando no en su contra… salvo que éstos sean “los comerciantes de la zona”, colectivo-pretexto siempre listo para ser invocado en estos casos.

Está en curso la revisión del planeamiento urbanístico de Madrid. Técnicamente se conoce como “Plan General de Ordenación Urbana”. El “Plan General” es como “la Constitución” de la ciudad. De él emana todo lo relacionado con el urbanismo y la vivienda.

Para imaginarse lo que significa vean este simple dato: más de la mitad de los expedientes municipales de Madrid tiene que ver con Urbanismo y Vivienda. Entre el 20 y el 25% con Economía y Hacienda y el 25-30% restante con todo lo demás. Es decir, la documentación oficial que produce un Ayuntamiento en materia de urbanismo y vivienda casi dobla a la relacionada con el tráfico, transporte, limpieza, seguridad, artes, deportes y dependencia, ¡juntos! Piensen por tanto en cómo todos estos ámbitos de la vida ciudadana se ven condicionados por las políticas urbanística y de vivienda.

Como cualquier otro documento legal, tiene como Preámbulo una Memoria justificativa que expone tanto los criterios estratégicos en que se fundamenta, como los procedimientos jurídicos y técnicos para llevarlos a cabo.

Dicha Memoria ha sido impecablemente elaborada por el equipo técnico del área, que gestionó de forma modélica la aportación de organizaciones profesionales y diferentes sectores de la sociedad civil. Es todo un catálogo de buenas prácticas y maravillosas intenciones. En él el Ayuntamiento, a lo largo de su mandato, se compromete a cosas como éstas:

– Desarrollar planes de regeneración integrada de áreas vulnerables, atendiendo a los intereses de grupos sociales desfavorecidos (mayores, niños, mujeres, discapacitados, jóvenes, inmigrantes).

– Construir modelos de participación ciudadana para tomar decisiones colectivas especialmente en el diseño de los espacios públicos de su entorno cercano.

– Potenciar la igualdad entre mujeres y hombres para conseguir una ciudad socialmente cohesionada, implicándolos activamente en la planificación urbanística a fin de optimizar su tiempo y conciliar la vida personal, familiar y profesional.

– Realizar actuaciones de acupuntura urbana: es decir intervenciones estratégicas públicas o privadas que irradien sucesivas actuaciones contiguas, suya suma conseguirá progresivamente la regeneración social y urbana del barrio.

– Configurar un sistema integral de equipamientos básicos (colegios, hospitales, centros de día, centros culturales, polideportivos…), procurando maximizar la rentabilidad social de los existentes, fomentando su rehabilitación y haciendo más atractiva su presencia.

– Implantar sistemas de información geográfica mediante indicadores que diagnostiquen permanentemente las condiciones de habitabilidad.

– Producir energías limpias y renovables tanto cerca de las viviendas como a escala urbana y transformar la red eléctrica convencional en inteligente.

– Convertir la ciudad en una smart-city (ciudad inteligente).

Si la alcaldesa, que en un patinazo verbal condenó los “atentados” de Gamonal, lo leyera, pensaría que se trata del comunicado de una banda técnico-subversiva. Pero no se preocupen, lo rubricará. ¿Quién puede estar en contra? Muy al contrario lo presentará con orgullo, pronunciando siempre que pueda las palabras “sostenibilidad”, “participación ciudadana”, “smart-city” y el resto del repertorio.

El problema por tanto es cómo se interpretan los textos, ¿Qué se entiende por “potenciar”, “optimizar”, “impulsar” o “transformar”? Evidentemente tanto los técnicos redactores, como los representantes sociales que intervinieron o cualquiera de nosotros mismos, entendemos perfectamente “qué” quieren decir esos hermosos párrafos. Pero ¿qué querrán entender los políticos? y sobre todo ¿qué decidirán hacer?

Política de proximidad

Para quien sólo se “potencia”, “optimiza”, “impulsa” y sobre todo se “transforma” a base de grandes obras, va a tener razón la alcaldesa, pues Gamonal es todo un atentado a sus esquemas conceptuales, a su forma de concebir el progreso urbano y -si hacer política es administrar presupuestos- a su modelo de hacer política.

Al ciudadano normal le resulta inalcanzable la “alta política”, la que practica el Ministerio de Economía ante el BCE o el de Industria ante la Casa Rosada. Aunque no termine de entender qué hacían Wert en Londres, Valcárcel en Kiev o Rajoy en el despacho oval, no duda que debieron tratar temas importantísimos. Sin embargo sí duda de la utilidad de construir un parking subterráneo, de pago y con plazas en propiedad a 20.000 Euros cuando ahora tiene el mismo servicio gratis y sin obras. De que se presupuesten ocho millones de Euros para “potenciar”, “impulsar” y transformar” un barrio y cero para lo único que habían pedido: una guardería.

Los ciudadanos burgaleses salieron a la calle porque les estaban avasallando delante de su casa con algo que tienen perfectamente identificado y para lo que sí saben -y quieren- opinar. Entienden y visualizan con exactitud los costos económicos y funcionales de peatonalizar una calle o de abrir una gran avenida.

El desarrollo de las ciudades y la “recuperación inmobiliaria” española -y no sólo española- tendrá mucho más que ver con esos juiciosos párrafos del preámbulo que con nuevos desarrollos urbanísticos. Váyanse ustedes acostumbrando a términos como “Regeneración integrada de áreas vulnerables”, “Regeneración de barrios” y “Ciudad inteligente”. Lean lo que dicen Jordi Borja sobre la “Apropiación ciudadana del espacio público” y Jaime Lerner sobre la “Acupuntura urbana”, conceptos expresamente recogidos el texto. Indaguen acerca de los “Sistemas integrales de equipamientos básicos” y su consecuencia directa: Los “edificios polivalentes”.

Luego piensen en su ciudad, seguramente sobredimensionada en costosísimos espacios deportivos, los más caros de todos y… arruinada. Piensen por ejemplo en Madrid, dueña de la trilogía “Palacio de los Deportes”+”Vista Alegre”+“Madrid-Arena”. Dueña a su vez, tanto de un anfiteatro válido para corridas de toros, conciertos de Los Beatles o finales de Copa Davis contra Estados Unidos, como de una insostenible e infrautilizada “Caja Mágica”. Recuerden el “Allianz-Arena” de Munich, que cambia de color según juegue cada uno de los dos equipos de la ciudad o la selección nacional y luego calculen el costo de tener “La Peineta” más el nuevo “Santiago Bernabéu”.

Ese mismo derroche se produce silenciosamente en plazas, espacios interbloques y todo tipo de ámbitos intermedios entre edificaciones, especialmente de la periferia urbana. La “apropiación ciudadana del espacio público” pasa por diagnosticar las necesidades del entorno, estudiar del uso idóneo del espacio libre y recuperar las plantas bajas para utilización dotacional y comercial, (considerando para ello la movilidad, el arbolado, la escorrentía, reciclaje del agua, recogida de basuras, etc.) Apunten otro término: “Urbanismo de proximidad”, que viene a significar “Incrementar el bienestar de muchos ciudadanos a muy bajo costo” y lleva aparejado otro concepto ahora de moda: “Democracia participativa”. ¿Se imaginan que los usuarios no intervengan en la transformación de su espacio vital común? ¿Que tengan que limitarse a votar cada cuatro años? Participar significa controlar, desde los residuos a las cuentas y balances, desde el cumplimiento de horarios del transporte público al cumplimiento de los programas electorales.

Pero desgraciadamente los tiros van por otro lado. El urbanismo de prximidad taombién es aplicable a los espacios emblemáticos con simbología nacional. En estos días la reforma de la Puerta del Sol está dejando en evidencia tanto al Ayuntamiento como al Gobierno regional. El Colegio de Arquitectos ha convocado un concurso -no vinculante- en el que ha ganado una propuesta minimalista que recupera su configuración original. Pero ambas administraciones no van por esa línea. Para ellas “habilitar” espacio para uso público y “optimizar” económicamente la plaza, significa “privatizarla” a base de terrazas. Tras la remodelación, el espacio icónico de las concentraciones de la izquierda -equivalente a la Plaza de Colón para la derecha- fragmentado mediante terrazas, parterres, bancos, toldos, árboles y escalones, perderá la capacidad física de albergar otro 15-M. Políticamente habrá quedado reducido a “la nada”, otra palabra de moda.

Corresponderá a futuros ayuntamientos de izquierda recomponer la situación. No cabe esperar que el Partido Popular, que no practica la democracia interna dentro de su partido, proponga potenciar la democracia participativa para el conjunto de los ciudadanos. Y UPyD está a otra cosa. Pero se equivocará esa izquierda si afronta la regeneración urbana exclusivamente desde su óptica. Necesitará buscar consensos con la derecha. En democracia las transformaciones urbanas duraderas y eficaces de las ciudades occidentales se hicieron siempre, repito siempre, mediante acuerdos.

 

puerta

NÃO É TUA PÁTRIA

por Talis Andrade

indignados trabalhador mercadoria

Tua Pátria não é tua Pátria
se não tens um pedaço de chão

Se na imensidão dos latifúndios
não tens espaço
para plantar uma árvore

Se nas florestas e matas
todos os frutos são proibidos

Se na selva de pedra das cidades
não tens nenhum abrigo

Tua Pátria não é tua Pátria
não é tua Pátria
se não tens sete palmo de terra
para teu sono eterno

‘Rolezinhos’ denunciam a sociedade desumana, injusta e segregada

por Leonardo Boff

Cau
Cau

O fenômeno dos “rolezinhos” que ocuparam shopping centers no Rio e em São Paulo suscitou as mais disparatadas interpretações. Eu, por minha parte, interpreto da seguinte forma tal irrupção. Em primeiro lugar, são jovens pobres, das grandes periferias, sem espaços de lazer e de cultura, penalizados por serviços públicos ausentes ou muito ruins, como saúde, escola, infraestrutura sanitária, transporte, lazer e segurança.

Veem televisão, cujas propagandas os seduzem para um consumo que nunca vão poder realizar. E sabem manejar computadores e entrar nas redes sociais para articular encontros. Seria ridículo exigir deles que teoricamente tematizem sua insatisfação, mas sentem na pele o quanto nossa sociedade é malvada porque exclui, despreza e mantém os filhos e filhas da pobreza na invisibilidade forçada.

O que se esconde por trás de sua irrupção? O fato de não serem incluídos no contrato social. Estar incluído nesse contrato significa ter garantidos os serviços básicos: saúde, educação, moradia, transporte, cultura, lazer e segurança. Quase nada disso funciona nas periferias. O que eles estão dizendo com suas penetrações nos “bunkers” do consumo?

Eles estão, com seu comportamento, rompendo as barreiras do apartheid social. É uma denúncia de um país altamente injusto (eticamente), dos mais desiguais do mundo (socialmente), organizado sobre um grave pecado social, pois contradiz o projeto de Deus (teologicamente). Nossa sociedade é conservadora e nossas elites, altamente insensíveis à paixão de seus semelhantes, por isso, cínicas.

DESIGUALDADE

Em segundo lugar, eles denunciam nossa maior chaga: a desigualdade social, cujo verdadeiro nome é injustiça histórica e social. Releva constatar que, com as políticas sociais do governo do PT, a desigualdade diminuiu, pois, segundo o Ipea, os 10% mais pobres tiveram, entre 2001 e 2011, um crescimento de renda acumulado de 91,2%, enquanto a parte mais rica cresceu 16,6%.

Mas essa diferença não atingiu a raiz do problema, pois o que supera a desigualdade é uma infraestrutura social de saúde, escola, transporte, cultura e lazer que funcione e seja acessível a todos. O “Atlas da Exclusão Social”, de Márcio Pochmann (Cortez, 2004), nos mostra que há cerca de 60 milhões de famílias no Brasil, das quais 5.000 detêm 45% da riqueza nacional. Os “rolezinhos” denunciam essa contradição. Eles entram no “paraíso das mercadorias” vistas virtualmente na TV para vê-las realmente e senti-las nas mãos.

Eis o sacrilégio insuportável para os donos dos shoppings. Estes não sabem dialogar, chamam logo a polícia para bater e fecham as portas a esses jovens. Os marginalizados do mundo inteiro estão saindo da margem e indo rumo ao centro para suscitar a má consciência dos “consumidores felizes” e lhes dizer: essa ordem é ordem na desordem.

Por fim, os “rolezinhos” não querem apenas consumir. Eles têm fome, sim, mas fome de reconhecimento, de acolhida na sociedade, de lazer, de cultura e de mostrar o que sabem: cantar, dançar, criar poemas críticos, celebrar a convivência humana. E querem trabalhar para ganhar a vida. Tudo isso lhes é negado porque, por serem pobres, negros, mestiços, sem olhos azuis e cabelos loiros, são desprezados e mantidos longe, na margem.

Essa espécie de sociedade pode ser chamada ainda de humana e civilizada? Ou é uma forma travestida de barbárie? Esta última lhe convém mais. Os “rolezinhos” mexeram numa pedra que começou a rolar. Só vai parar se houver mudanças.

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