
Marina reúne os economistas mais retrógrados do Brasil, da direita e da extra-direita e os liberais (liberal, classificou o grande deputado Djalma Aranha Marinho, “é um direitista envergonhado”).
A equipe econômica de Marina tem a aprovação da velha imprensa conservadora do Brasil e do Império, e o apoio da troika que arruinou as economias da Grécia, da Espanha, da Irlanda, de Portugal e outros países da Europa.
Escreve Umberto Martins: O jornal britânico Financial Times voltou a criticar a presidenta Dilma Rousseff em editorial publicado nesta quinta, 2, no qual intima a chefe do Estado brasileiro a mudar os rumos da política econômica, levando em conta a reação e os desejos do mercado, que segundo os oráculos de plantão demanda ajuste fiscal e rigor total na aplicação do tripé neoliberal (juros altos, câmbio flutuante e superávit fiscal primário).
Bordão reacionário

O bordão que o jornal alardeia contra Dilma não é novo e vem sendo repetido pelos candidatos das forças conservadoras e neoliberais à exaustão. A receita desta gente, repudiada por Dilma, é a mesma que está sendo aplicada na Europa sob a batuta do Fundo Monetário Internacional. Significa estagnação da economia, desemprego em massa, redução de salários, corte de direitos e desmantelamento do chamado Estado de Bem Estar Social. É o que a direita, encarnando os desejos da oligarquia financeira, quer impor a qualquer preço por aqui.
A visão do mundo de Giannetti

Escreve Paulo Nogueira: Almocei com um amigo jornalista um dia desses e ele colocou na conversa, por uma fração de minuto, Eduardo Giannetti, o principal economista de Marina.
“Lembra que ele não declarava o voto e você ficava bravo com isso?”
Meu amigo se referia aos dias em que nós dois dirigíamos a Exame, coisa de uns quinze anos atrás.
Tinha esquecido.
Mas logo lembrei: Giannetti, como se fosse jornalista da Folha, nos dissera, numa entrevista, que não podia declarar seu voto.
Para mim, ali estava uma mistura de pretensão – como se o voto dele fosse influenciar multidões – e medo de se comprometer.
Naqueles dias, Giannetti era um típico economista ortodoxo, mais um entre tantos filhos de Thatcher.
Não havia nada de substancial nele que o distinguesse de outros da mesma linhagem, como André Lara Resende e Armínio Fraga.
As promessas de Marina

Giannetti condicionou os compromissos de Marina em áreas como saúde e educação ao “equilíbrio fiscal”.
Quer dizer: se houver dinheiro, os compromissos serão honrados. Se não houver, serão engavetados. Os eleitores? Esqueçamos.
Esse tipo de compromisso é o melhor que qualquer ser humano pode assumir. Você promete o que quiser. E só entrega se puder.
Marina fala na “nova política”. Giannetti parece nos trazer o “novo orçamento”.
Marina conhece mesmo Giannetti além das superficialidades?
Se não, cometeu um erro extraordinário na escolha.
Se sim, a mudança principal que ela representa é o lado que ela agora defende.

O retrocesso proposto por Marina

Leia mais Paulo Nogueira. O editor deste blogue acrescentou o material ilustrativo. Pelo programa de governo de Marina, que teve em Gianetti um dos principais redatores, uma das principais propostas da candidata é reduzir a meta da inflação para 4% em 2016 e 3% em 2019. Um dos prováveis efeitos colaterais dessa redução é o desaquecimento da economia e consequentes demissões. Quando questionado sobre o assunto, Giannetti traz uma clara resposta sobre possíveis demissões. Convém repetir as palavras do economista: “O custo de não fazer [reduzir a meta da inflação] é maior que o de fazer” . E aí, como não cabe dizer que o desemprego é galopante ou crescente (adjetivos usados antes dos governos de Lula e Dilma), ele afirma que a geração de empregos despencou – sem mencionar que o Brasil se encontra em cenário de pleno emprego, o que explica a desaceleração na criação de novas vagas.
Segundo ele, não há relação negativa entre estabilidade e desemprego. É verdade: prova disso é que Lula e Dilma mantêm a estabilidade econômica e a geração de emprego mesmo enfrentando graves crises econômicas mundiais, desencadeadas nos Estados Unidos (crise no mercado de crédito imobiliário que quebrou o tradicional banco Lehman Brothers), Grécia e Espanha.

Enquanto Dilma e Lula garantem a manutenção dos direitos trabalhistas, o aumento real da renda e a geração de emprego, Giannetti parece acreditar que esses não são os principais valores a serem preservados: “o custo de não fazer é maior que o de fazer”. A receita, então, para reduzir a meta da inflação, seria, segundo o economista, reajustar tarifas públicas, reduzir gastos públicos, rever isenções tributárias e~restabelecer ~ o tripé macroeconômico (de câmbio flutuante, meta de inflação e disciplina fiscal).
Reajustar tarifas públicas implica em onerar o cidadão, com mais gastos para o povo. Reduzir gastos públicos é reduzir gastos em políticas sociais (em outras palavras, é fazer o país voltar ao passado). Giannetti propõe explicitamente a revisão isenções tributárias, e parece não reconhecer que a desoneração da folha de pagamento das indústrias é uma das responsáveis por garantir a manutenção do emprego, beneficiando as indústrias, os empregados e os consumidores.
O governo também desonerou de PIS e Cofins a cesta básica (e olha que tentou expandir o benefício incluindo o ICMS e ISS, mas estados e municípios não abriram mão das receitas). Além disso, o governo reduziu (até chegou a zerar nos momentos mais críticos da economia mundial) o IPI sobre produtos como automóveis, linha branca e móveis.
Quanto a “restabelecer o tripé macroeconômico”, não se restabelece o que está em vigência. No Brasil de 2014, a inflação está dentro da meta, a disciplina fiscal está mantida (vide a aprovação das contas públicas pelo TCU e a Lei de Responsabilidade Fiscal) e persiste a política do câmbio flutuante. Como se vê, o tripé econômico de Giannetti da Fonseca é o mesmo que Dilma e Lula adotaram. A diferença está em como o governo petista e de seus aliados realizam esse trabalho: com emprego e conquistas sociais.
Giannetti também defende a autonomia do Banco Central, assim como Neca Setúbal, coordenadora do programa de governo do PSB (e membro de uma das famílias controladoras do Itaú). O Banco Central cuida da política monetária do país – decide sobre taxa de juros, crédito e moeda -, e sua autonomia significa menos controle social, uma vez que o quadro diretor do BC não estaria sob as decisões do executivo, eleito pelo voto. Esse quadro pode levar a aumento dos juros, diminuição da renda e várias outras consequências, a depender da dinâmica do mercado, com interferência governamental muito reduzida. Seguimos observando.
O Banco Central, na ditadura militar, tinha autonomia e independência. Coisa do presidente Castelo Branco, que cassou a estabilidade no emprego de todos os trabalhadores.


