A blasfêmia do Porsche de Jesus.com

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O carro de luxo de Cunha me fez pensar nos milhares de evangélicos que sacrificam parte de seus recursos para alimentar uma igreja

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por JUAN ARIAS/ El País/ Espanha

Como qualificar, desde um ponto de vista de sensibilidade religiosa, a união do nome de Jesus a um Porsche de luxo proporcionada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), membro da Igreja Evangélica? E a situação é ainda pior se existe a suspeita de que a frota de carros, cotados em mais de um milhão de reais, que Cunha possui poderia ser um fruto maldito da corrupção política. Para muitos cristãos deve ter parecido blasfêmia, um vocábulo que, em sua acepção original, significa um “insulto a Deus” e, em seu sentido mais amplo, representa uma irreverência em relação a algo considerado sagrado.

Cunha é, segundo sua biografia, cristão evangélico, de uma igreja que considera Jesus como o filho de Deus. E esse filho de Deus, segundo os textos sagrados, que os evangélicos conhecem e sobre os quais meditam todos os dias, “não tinha onde repousar a cabeça”, era mais um pobre entre os pobres, amigo e defensor de todos os desamparados.

Talvez o político e evangélico Cunha não seja o maior responsável por esse circo de corrupção que suja a vida pública do Brasil e deixa atônitos, com seus números milionários, os trabalhadores honrados que suam para ganhar um salário que quase não é suficiente para cobrir suas necessidades. Cunha pertence, no entanto, a uma igreja, que se inspira nos princípios cristãos, mas que não esconde suas pretensões de conquista do poder político no Brasil, chegando a sonhar com um presidente da República evangélico que se baseie mais na Bíblia do que na Constituição.

Isso faz com que os supostos escândalos de corrupção de Cunha, que poderiam ter circulado através de firmas que levam o nome sagrado de Jesus.com, adquiram um simbolismo negativo que não deixa de chocar e escandalizar duplamente.

Lendo a notícia sobre o Porsche Cayenne registrado em nome da empresa Jesus.com, propriedade da família Cunha, não pude deixar de me perguntar o que pensam essas centenas de milhares de evangélicos sinceros, que, fiéis a seus princípios religiosos, sacrificam, cada mês, de boa fé, uma parte de seus pequenos recursos para alimentar uma Igreja cujos membros mais responsáveis se revelam milionários e, o que é pior, acusados de enriquecimento ilícito.

O fato me trouxe à memória a história de um trabalhador que perfurava poços com uma ferramenta rudimentar e grandes esforços físicos. Levava ao trabalho um pedaço de pão com salsicha para não perder tempo tendo que voltar a casa. Ouvi quando ele comentou, enquanto secava as gotas de suor que escorriam por seu rosto, que aquele mês estava em apuros porque não sabia se ia a poder pagar sua parcela à Igreja evangélica à qual pertencia.

Temia a reprovação do pastor e até o castigo do bom Deus. São dois mundos, que se cruzam e que usam o nome de Jesus, para a esperança e a fé verdadeira, e também para blasfemá-lo. “Raça de víboras”, assim o manso e pobre Jesus dos Evangelhos caracterizava aqueles que, segundo sua própria expressão, “jogavam sobre os ombros dos outros pesos que eles não podiam suportar”.

Dois mil anos depois, aquelas palavras continuam a nos interrogar, enquanto seguem vivos os novos Pilatos que lavam suas mãos ostentando inocência e que ainda se perguntam: “O que é a verdade?”.

Uma questão para a qual os brasileiros honrados, que amam e sofrem seu país, gostariam de poder ter uma resposta nesses momentos difíceis, nos quais as palavras perdem seu valor, ou são degradadas como a de Jesus, com o rótulo blasfemo desse Porsche Cayenne S de luxo.

Até onde e até quando se manterá contida a ira dos mansos que contemplam, incrédulos, cada manhã, a novela de novas supostas e comprovadas desmoralizações por parte daqueles que deveriam servir de guias e exemplos da vida pública?

Jesus, não o do Porsche de Eduardo Cunha, mas o dos Evangelhos, afirmou que a verdade está sempre nas mãos dos puros de coração e dos semeadores da paz. O ódio tem sempre um sabor diabólico.

Nani

DÍZIMO Pro pastor vira-lata comprar Porsche, BMW

Eduardo CUnha põe até Jesus na putaria

religiosos

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por Gilmar Crestani


Silas Malafaia, Marco Feliciano, Eduardo CUnha envolvem Jesus em putaria. Não é só lavagem de dinheiro, é cusparada na cara do crente. O sujeito passa a semana dando duro no batente para no fim de semana dar. Deve-se a estas credenciais o apoio dado pelos golpistas Aécio Neves, FHC, Geraldo Alckmin, Antônio Imbassahy, Carlos Sampaio, Agripino Maia, Beto Richa, Fernando Francischini & Paulinho da Força Sindical.

Não entendo como Jesus, sendo Deus, não manda uma porrada na cara de quem usa seu santo nome em vão?! E não me venha com livre arbítrio ou o inferno para ladrão. Isso é coisa de picareta. Que deus é este que permite os piores facínoras usarem seu nome em prejuízo da boa fé de tanta gente?! Este tipo de deus não me não faz falta. Mesmo que Eduardo CUnha vá pra o quinto dos infernos, de que isto serve para a vida de milhares de pessoas que ele transformou num inferno na terra?

Eu li a Bíblia. De cabo a rabo. E descobri que muita gente boa da bíblia deu o rabo para comer. Está lá no livro de Ruth. Ela ia para os campos de centeio buscar semen-te… Até Jesus ia passear com Madalena nos jardins de Bethânia…

E aí estes pastores querem falar em família?! Só se for famílias do tipo Provenzano, Marcheze, Corleone, Bonanno, Colombo, Genovese, Gambiono, Lucchese…

O Jesus.com de Cunha roda num Porsche Cayenne
Mariano
Mariano

Carro de luxo do presidente da Câmara, que é evangélico, foi registrado em uma de suas empresas, chamada Jesus.com, que faz propagandas e programas de rádio; o Porsche Cayenne S, de 2013, avaliado em R$ 429 mil, é apenas um dos carros da frota de luxo do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tem ainda um Ford Edge V6, um Ford Fusion, também registrados na Jesus.com, além de uma BMW e outros carros vinculados a outra empresa e ao nome de sua esposa, a jornalista Cláudia Cruz; somente contabilizando o valor dos carros, o patrimônio de Cunha soma R$ 940 mil; PGR estima em R$ 61 milhões o patrimônio não declarado do presidente da Câmara

Luscar
Luscar

247 – Além de esconder patrimônio na Suíça e também nos Estados Unidos, como aponta a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem uma frota de carros de luxo cujo valor total soma R$ 940 mil.

Um de seus carros, um Porsche Cayenne S, de 2013, avaliado em R$ 429 mil, foi registrado em uma de suas empresas, chamada Jesus.com. O deputado é evangélico e a empresa tem como função fazer propagandas e programas de rádio

Compõem o resto da frota ainda um Ford Edge V6, um Ford Fusion, também registrados na Jesus.com, além de uma BMW e outros carros vinculados a outra empresa e ao nome de sua esposa, a jornalista Cláudia Cruz.

A Procuradoria Geral da República estima que Cunha tem um patrimônio não declarado de R$ 60,8 milhões.

Mariano
Mariano

Em nome de Jesus, Cunha abriu contas no paraíso

Os pastores eletrônicos e políticos patrocinados pela igrejas pentecostais criadas na ditadura militar sempre agiram como mercadores do templo, que conforme o Novo Testamento foram expulsos, a chicotadas, por Jesus.

Jesus expulsando os vendilhões. Vitral na Igreja de Saint-Aignan de Chartres, em Chartres, na França
Jesus expulsando os vendilhões. Vitral na Igreja de Saint-Aignan de Chartres, em Chartres, na França

Jesus expulsando os vendilhões ou Jesus expulsando os cambistas, episódio conhecido também como limpeza do Templo, é um dos eventos do ministério de Jesus narrado nos quatro evangelhos canônicos do Novo Testamento.

Neste episódio, Jesus e seus discípulos viajam a Jerusalém para a Pessach (a Páscoa judaica) e lá ele expulsa os cambistas do Templo de Jerusalém (o Templo de Herodes ou “Segundo Templo”), acusando-os de tornar o local sagrado numa cova de ladrões através de suas atividades comerciais. No Evangelho de João, Jesus se refere ao Templo como “casa de meu Pai”, clamando para si assim o título de Filho de Deus.

Este é o único relato de Jesus utilizando-se de força física nos evangelhos.

Jesus expulsando os vendilhões. 1626. Por Rembrandt
Jesus expulsando os vendilhões. 1626. Por Rembrandt

O relato se inicia afirmando que Jesus visitou o Templo de Jerusalém, o Templo de Herodes, cujo pátio é descrito como repleto de animais e mesas dos cambistas, que trocavam o dinheiro padrão grego e romano por dinheiro hebraico e de Tiro. A cidade estaria lotada com judeus que tinham vindo para a páscoa, algo em torno de 300 000 ou 400 000 peregrinos.

Fazendo um chicote com algumas cordas, «…expulsou a todos do templo, as ovelhas bem como os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai uma casa de negócio.» (João 2:15-16).

No relato de Mateus:

“ «… expulsou todos os que ali vendiam e compravam, derribou as mesas dos cambistas, e as cadeiras dos que vendiam as pombas; e disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a fazeis covil de salteadores.» (Mateus 21:12-13) ”

Em João, esta é a primeira de três vezes que Jesus vai a Jerusalém para a Pessach e o evangelista afirma que, durante esse período, ocorreram diversos sinais (não especificados) milagrosos realizados por Jesus, que fizeram as pessoas acreditarem em seu nome, mas o próprio Jesus não confiava neles, porque conhecia a todos (João 2:24).

Em Marcos 12:40 e em Lucas 20:47, Jesus novamente acusa as autoridades do Templo de ladrões e, desta vez, afirma que as viúvas pobres, como vítimas, são a prova. Os vendedores de pombas estavam vendendo os animais que seriam sacrificados pelos pobres que não podiam comprar sacrifícios mais caros e, especificamente, pelas mulheres. De acordo com Marcos 11:16, Jesus proibiu as pessoas de realizarem qualquer tipo de comércio no Templo – uma sanção que certamente arruinaria os sacerdotes.

Mateus afirma que os líderes do Templo questionaram Jesus se ele estava ciente que as crianças gritavam Hosana ao Filho de David, e Jesus respondeu «Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor?». (Mateus 21:16), aceitando a aclamação e citando Salmos. In Wikipédia.

Evangélico, Cunha tem carros de luxo em nome de Jesus.com

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Segundo a PGR, um dos carros registrados como propriedade dessa empresa está um Porsche Cayenne 2013 avaliado em R$ R$ 430 mil

por Abnor Godin

Mariano
Mariano

A Procuradoria-Geral da República acusa o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de ter colocado carros de luxo em nome da empresa Jesus.com Serviços de Promoções, Propagandas e Atividades de Rádio.

Ele é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de ter omitido a propriedade de pelo menos sete carros de luxo, cujo valor é estimado em torno de R$ 1 milhão. A frota foi colocada em nome de duas empresas das quais é sócio – a outra é a C3 Produções Artísticas.

Segundo a PGR, em nome da empresa “Jesus.com” estão registrados um Ford Edge V6 2013, um Porsche Cayenne 2013 e um Ford Fusion 2013. Somente o Porsche é avaliado hoje em R$ 430 mil, segundo os investigadores.

“Eduardo Cunha se utilizaria de diversos veículos, incluindo um Porsche Cayenne, um Touareg, um Corola, um Edge, uma Tucson, uma Pajero Sport”, afirma o procurador-geral em exercício, Eugênio Aragão.

Na declaração de bens à Justiça em 2014, Cunha informou que tinha apenas um Toyota Corolla, ano 2007. Em nota nesta sexta-feira, ele voltou a negar as acusações de ter se beneficiado do propinoduto da Petrobras e de ter contas na Suíça.

Omissão patrimonial

Investigações da PGR apontam que, ao todo, Eduardo Cunha omitiu pelo menos US$ 15 milhões (cerca de R$ 60 milhões em valores atuais) de suas declarações de bens prestadas à Justiça Eleitoral. Ainda assim, o deputado teve uma evolução patrimonial de 240% entre os anos de 2002 e 2014, segundo informações da PGR

Petropropina

A PGR informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o presidente da Câmara dos Deputados recebeu propina de contratos da Petrobras até 11 de setembro de 2014. Os fatos constam do pedido de aditamento por meio do qual a PGR pediu, em agosto, a abertura de ação penal contra Cunha pelo suposto recebimento de U$S 5 milhões em contrato de navios-sonda para a Petrobras.

“Porsche de Cunha está registrado na empresa Jesus.com”!

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por José Simão

carro propriedade Jesus

Cunha terceirizou Jesus! “Eduardo Cunha tem 288 domínios na internet, entre eles googlejesus, facebookjesus, yahoojesus, shoppingjesus, compradecrente e crentecompra”

.cunha mesme dez por cento propina dízimo

Papa: “O Filho de Deus veio a este mundo como desabrigado”

time. papa time estados unidos

Por Scott Malone

WASHINGTON (Reuters) – O papa Francisco almoçou com 200 pessoas que estão desabrigadas ou vivendo na pobreza em Washington nesta quinta-feira, e lhes disse que não há justificativa social ou moral para a falta de moradia.

Depois de fazer um discurso no Congresso dos Estados Unidos no qual exortou os legisladores a fazerem mais para ajudar as pessoas mais vulneráveis da sociedade, Francisco visitou uma instituição de caridade católica que oferece alimento, assistência médica e ajuda para arrumar emprego.

“Não conseguimos encontrar justificativa social ou moral, absolutamente nenhuma justificativa, para a falta de moradia”, afirmou o pontífice aos funcionários, doadores e frequentadores da instituição na capital do país mais rico do mundo.

Francisco fez da defesa dos pobres o cerne de seu papado, inspirado no tempo que passou nas favelas e nos sopões de rua quando ainda era um religioso atuando na Argentina antes de ser eleito em 2013 como o primeiro papa latino-americano.

Também na condição de primeiro papa a discursar na legislatura dos EUA, ele disse aos parlamentares para “terem em mente todas aquelas pessoas ao nosso redor que estão presas em um ciclo de pobreza. Elas também precisam que lhes deem esperança”.

Algumas das pessoas que o líder católico encontrou na instituição disseram esperar que suas palavras levem o Congresso e outras autoridades eleitas a fazerem mais pelas necessidades dos pobres.

“Você nunca os ouve falar sobre a falta de moradia ou sobre como anda o mercado de trabalho. Você ouve que o mercado de trabalho está ruim, mas não os ouve dizer ‘O que podemos fazer para ajudar?’”, afirmou Angela Ford, de 45 anos, que perdeu o emprego que tinha na indústria automobilística anos atrás e mora em um local providenciado pela igreja.

“Com todas essas mensagens políticas negativas, é ótimo ter alguém positivo aqui”.

O papa abençoou a refeição de peito de frango desossado e salada de macarrão para o grupo antes de se misturar à multidão, trocando apertos de mão e parando para tirar fotos enquanto admiradores gritavam “Papa! Papa!” em espanhol. Ele relembrou a história bíblica do nascimento de Jesus, que começa relatando como seus pais não conseguiam encontrar um lugar para ficar em Belém.

“O Filho de Deus veio a este mundo como desabrigado”, disse Francisco. “O Filho de Deus soube o que é começar a vida sem um teto”.

ESPANHA
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ESTADOS UNIDOS
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Papa Francisco se encontra com sem-teto nos Estados Unidos: “O Filho de Deus entrou neste mundo como uma pessoa que não tem casa. O Filho de Deus sabe o que é começar a vida sem um teto”

 

 

“Na oração, não há pessoas de primeira classe ou segunda; há fraternidade”

 

 

Jans tot Sint Geertgen, 1490
Jans tot Sint Geertgen, 1490

por Alessandra Borges

Nesta quinta-feira, 24, após ser o primeiro Papa a discursar no Congresso dos Estados Unidos, Francisco, seguiu para o Centro Caritativo da Paróquia de São Patrício, em Washington, onde se encontrou com os sem-teto e os abençoou.

Em suas primeiras palavras, o Santo Padre, agradeceu pelo acolhimento e os esforços para que este encontro pudesse ser realizado. O Pontífice disse que ao olhar para aquelas pessoas ele viu o rosto de São José, santo, que serviu para ele de apoio e fonte de inspiração.

 

“Na vida de São José, houve situações difíceis de enfrentar. Uma delas aconteceu quando Maria estava prestes a dar à luz Jesus. A Bíblia é muito clara: não havia lugar para eles na hospedaria. Imagino José, com sua esposa prestes a ter o filho, sem um teto, sem casa, sem alojamento”, refletiu Francisco.

Segundo as palavras do Sumo Pontífice, Jesus entrou no mundo com uma pessoa que não tem casa e, deste modo Francisco propôs aos presentes uma reflexão sobre os questionamentos de José naquele momento que não tinha uma casa para oferecer ao Filho de Deus.

“São perguntas que muitos de vós podem pôr-se cada dia. As perguntas de José perduram até hoje, acompanhando todos aqueles que, ao longo da história, viveram e estão sem uma casa. Foi a fé que permitiu a José encontrar a luz naquele momento que parecia uma escuridão completa; foi a fé que o sustentou nas dificuldades da sua vida. Pela fé, José soube seguir em frente, quando tudo parecia sem saída”, disse Francisco.

O Pontífice destacou que não podemos encontrar justificativas morais e sociais para aceitar a carência de habitação. Afirmou também que Deus olha por cada pessoa e não a abandona.

“É a fé que nos diz que Deus está connosco, que Deus está no meio de nós e a sua presença incita-nos à caridade; aquela caridade que nasce do apelo de um Deus que não cessa de bater à nossa porta, à porta de todos para nos convidar ao amor, à compaixão, a darmo-nos uns aos outros”, afirmou o Santo Padre.

A oração é capaz de unir os povos, principalmente a Deus, por isso reforçou que quando rezamos nos aproximamos uns dos outros.

“Na oração, não há pessoas de primeira classe ou segunda; há fraternidade. É na oração que o nosso coração encontra a força para não se tornar insensível, frio perante as situações de injustiça”, frisou.

Ao final do seu discurso, Papa Francisco, pediu a todos que rezassem a oração do “Pai Nosso” – cada qual em sua língua materna – como um gesto de fraternidade e proximidade.

 

Discurso do Papa Francisco no encontro com sem-tetos

 

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Queridos amigos!
A primeira palavra que quero dizer-vos é «obrigado». Obrigado por me acolherem e pelo esforço feito para que este encontro se pudesse realizar.

Aqui recordo uma pessoa que amo e que foi muito importante na minha vida. Serviu-me de apoio e fonte de inspiração. É uma pessoa a quem recorro quando estou com algum problema. Vós fazeis-me lembrar São José. Os vossos rostos falam-me do dele.

Na vida de São José, houve situações difíceis de enfrentar. Uma delas aconteceu quando Maria estava prestes a dar à luz a Jesus.

Diz a Bíblia: «Quando eles se encontravam [em Belém], completaram-se os dias de [Maria] dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 6-7).

A Bíblia é muito clara: não havia lugar para eles na hospedaria.

Imagino José, com a sua esposa prestes a ter o filho, sem um tecto, sem casa, sem alojamento.

O Filho de Deus entrou neste mundo como uma pessoa que não tem casa. O Filho de Deus sabe o que é começar a vida sem um teto.

Imaginemos as perguntas que José se punha naquele momento: Como é possível? O Filho de Deus não tem um teto para viver? Por que estamos sem casa? Por que estamos sem um teto? São perguntas que muitos de vós podem pôr-se cada dia. Como José, questionais-vos: Por que estamos sem um teto, sem uma casa? Mas tais perguntas, será bom que no-las ponhamos também todos nós: Por que estão sem casa estes nossos irmãos? Não têm um teto, porquê?

As perguntas de José perduram até hoje, acompanhando todos aqueles que, ao longo da história, viveram e estão sem uma casa.

José era um homem que se punha perguntas, mas sobretudo era um homem de fé. Foi a fé que permitiu a José encontrar a luz naquele momento que parecia uma escuridão completa; foi a fé que o sustentou nas dificuldades da sua vida. Pela fé, José soube seguir em frente, quando tudo parecia sem saída.

Perante situações injustas, dolorosas, a fé oferece-nos a luz que dissipa a escuridão. Como sucedeu com José, a fé abre-nos à presença silenciosa de Deus em cada vida, em cada pessoa, em cada situação. Ele está presente em cada um de vós, em cada um de nós.

Não encontramos qualquer tipo de justificação social, moral ou doutro género para aceitar a carência de habitação. São situações injustas, mas sabemos que Deus está a sofrê-las juntamente connosco, está a vivê-las ao nosso lado. Não nos deixa sozinhos.

Sabemos que Jesus não quis apenas ser solidário com cada pessoa, não quis apenas que ninguém sentisse ou vivesse a falta da sua companhia, da sua ajuda, do seu amor; mas Ele próprio Se identificou com todos aqueles que sofrem, que choram, que padecem qualquer tipo de injustiça. Ele no-lo diz claramente: «Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me» (Mt 25, 35).

É a fé que nos diz que Deus está convosco, que Deus está no meio de nós e a sua presença incita-nos à caridade; aquela caridade que nasce do apelo de um Deus que não cessa de bater à nossa porta, à porta de todos para nos convidar ao amor, à compaixão, a darmo-nos uns aos outros.

Jesus continua a bater às nossas portas, à nossa vida. Não o faz magicamente, nem o faz com truques, com vistosos placares ou fogos-de-artifício. Jesus continua a bater à nossa porta no rosto do irmão, no rosto do vizinho, no rosto de quem vive junto de nós.

Queridos amigos, uma das formas mais eficazes de ajuda, temo-la na oração. A oração une-nos, irmana-nos, abre-nos o coração e lembra-nos uma verdade maravilhosa que às vezes esquecemos. Na oração, todos aprendemos a dizer Pai, papá, pelo que nela nos encontramos como irmãos. Na oração, não há ricos e pobres; há filhos e irmãos. Na oração, não há pessoas de primeira classe ou segunda; há fraternidade.

É na oração que o nosso coração encontra a força para não se tornar insensível, frio perante as situações de injustiça. Na oração, Deus continua a chamar-nos e incitar-nos à caridade.

Como nos faz bem rezar juntos! Como nos faz bem encontrarmo-nos naquele espaço onde nos olhamos como irmãos e nos reconhecemos necessitados do apoio uns dos outros. Hoje quero unir-me a vós, preciso do vosso apoio, da vossa proximidade. Quero convidar-vos a rezar juntos uns pelos outros, uns com os outros. Assim, poderemos prestar este apoio que nos ajuda a viver a alegria de saber que Jesus está sempre no meio de nós. Aceitais?
Pai nosso…

Antes de vos deixar, gostaria de dar-vos a bênção de Deus:
O Senhor vos abençoe e proteja;
O Senhor vos olhe com benevolência e mostre a sua bondade;
O Senhor vos olhe com amor e conceda a sua paz (cf. Nm 6, 24-26).
E não vos esqueçais de rezar por mim.

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Encurtemos as distâncias entre o salário mínimo e o salário dos desembargadores, dos coronéis da PM, dos senadores, entre um favelado e um banqueiro, entre os palácios e favelas

justiça social Amorim

Essa distância o papa Francisco vem mostrando nos sermões.

No Brasil as desigualdades são cruéis. Pastores, com seus palacetes e aviões de luxo, pregam o fanatismo religioso. É difícil neste mundo cruel ser cristão, pregar o amor, que apenas existem – ensinou Jesus – dois mandamentos que é um só: amar a Deus e amar o próximo.

Não existe justiça social nos despejos judiciários. Não existe amor em uma sociedade que convive com o trabalho escravo, o tráfico de pessoas e 500 mil prostitutas infantis.

Os governantes apenas trabalham pelos empresários financiadores de campanhas eleitorais. Nada se faz que preste para o povo. O Rio de Janeiro possui 1 mil e 100 favelas. São Paulo, 2 mil 627 favelas.

Jesus-prega-ao-povo

Aproximar-se das pessoas marginalizadas, encurtar as distâncias até chegar a tocá-las sem ter medo de se sujar: eis a «proximidade cristã» que nos mostrou concretamente Jesus libertando o leproso da impureza da doença e também da exclusão social. A cada cristão, à Igreja inteira, o Papa pediu que tenha uma atitude de «proximidade»; fê-lo durante a missa na manhã de sexta-feira, 26 de Junho, na capela da Casa de Santa Marta. A próxima celebração está prevista para terça-feira 1 de Setembro.

«Quando Jesus desceu do monte, grandes multidões o seguiam»: Francisco iniciou a homilia repetindo precisamente as primeiras palavras do Evangelho de Mateus (8, 1-4) proposto pela liturgia. E toda aquela multidão, explicou, «tinha ouvido as suas catequeses: ficaram maravilhados porque falava “com autoridade”, não como os doutores da lei» que eles estavam habituados a ouvir. «Ficaram maravilhados», especifica o Evangelho.

Portanto, precisamente «estas pessoas» começaram a seguir Jesus sem se cansar de o ouvir. A ponto que, recordou o Papa, elas «permaneceram o dia inteiro e, por fim, os apóstolos» deram-se conta de que tinham certamente fome. Mas « para eles ouvir Jesus era motivo de alegria». E assim «quando Jesus terminou de falar, desceu do monte e as pessoas seguiam-no» reunindo-se «em volta dele». Aquela gente, recordou, «ia pelas estradas, pelos caminhos, com Jesus».

Contudo, «havia também outras pessoas que não o seguiam: observavam-no de longe, com curiosidade», perguntando-se: «Mas quem é ele?». Aliás, explicou Francisco, «não tinham ouvido as catequeses que tanto surpreendiam». E assim havia «pessoas que olhavam da calçada» e «outras que não podiam aproximar-se: era-lhes proibido pela lei, porque eram «impuros». Precisamente entre elas estava o leproso do qual fala Mateus no Evangelho.

«Este leproso – realçou o Papa – sentia no coração o desejo de se aproximar de Jesus: tomou coragem e aproximou-se». Mas «era um marginalizado», e portanto «não podia fazê-lo». Porém, «tinha fé naquele homem, tomou coragem e aproximou-se», dirigindo-lhe «simplesmente o seu pedido: “Senhor, se quiseres, podes purificar-me”». Disse assim «porque era “impuro”». Com efeito, «a lepra era uma condenação definitiva». E «curar um leproso era tão difícil quanto ressuscitar um morto: por esta razão eram marginalizados, estavam todos ali, não podiam misturar-se com as pessoas».

Porém havia, prosseguiu Francisco, «também os automarginalizados, os doutores da lei que olhavam sempre com aquele desejo de pôr Jesus à prova para o fazer cair e depois condenar». Ao contrário, o leproso sabia que era «impuro, doente, e aproximou-se». E «o que fez Jesus?», questionou-se o Papa. Não ficou parado, sem o tocar, mas aproximou-se ainda mais e estendeu-lhe a mão curando-o.

«Proximidade», explicou o Pontífice, é uma «palavra tão importante: não se pode construir comunidades a sem proximidade; não se pode fazer a paz sem a proximidade; não se pode fazer o bem sem se aproximar». Na realidade, Jesus poderia ter-lhe dito: «Que tu sejas curado!». Ao contrário, aproximou-se dele e tocou-o. «Mais ainda: no momento em que Jesus tocou o impuro, tornou-se impuro». E «este é o mistério de Jesus: assumir as nossas sujidades, as nossas impuridades».

É uma realidade, prosseguiu o Papa, que são Paulo explica bem quando escreve: «Sendo igual a Deus, não considerou esta divindade um bem irrenunciável; aniquilou-se a si mesmo». E, em seguida, Paulo vai além afirmando que «se fez pecado»: Jesus tornou-se ele mesmo pecado, Jesus excluiu-se, assumiu a impureza para se aproximar do homem. Por conseguinte, «não considerou um bem irrenunciável ser igual a Deus», mas «aniquilou-se, aproximou-se, fez-se pecado e impuro».

«Muitas vezes penso – confidenciou Francisco – que é, não quero dizer impossível, mas muito difícil fazer o bem sem sujar as mãos». E «Jesus sujou-se» com a sua «proximidade». Mas depois, narra Mateus, foi inclusive além, dizendo ao homem libertado da doença: «Vai ter com os sacerdotes e faz aquilo que se deve fazer quando um leproso é curado».

Em síntese, «aquele que estava excluído da vida social, Jesus inclui-o: inclui-o na Igreja, inclui-o na sociedade». Recomenda-lhe: «Vai para que todas as coisas sejam como devem ser». Portanto, «Jesus nunca marginaliza, nunca!». Aliás, Jesus «marginalizou-se a si mesmo para incluir os marginalizados, para nos incluir a nós, pecadores, marginalizados, na sua vida». E «isto é bom», comentou o Pontífice.

Quantas pessoas seguiram Jesus naquele momento e seguem Jesus na história porque ficaram maravilhadas com o seu modo de falar», realçou Francisco. E «quantas pessoas observam de longe e não compreendem, não estão interessadas; quantas pessoas observam de longe mas com um coração maldoso, a fim de pôr Jesus à prova, para o criticar e condenar». E, ainda, «quantas pessoas observam de longe porque não têm a coragem que teve» aquele leproso, «mas desejariam muito aproximar-se». E «naquele caso Jesus estendeu a mão primeiro; não como neste caso, mas no seu ser estendeu-nos a mão a todos, tornando-se um de nós, como nós: pecador como nós mas sem pecado; mas pecador, sujo com os nossos pecados». E «esta é a proximidade cristã».

«Palavra bonita, a da proximidade, para cada um de nós», prosseguiu o Papa. Sugerindo que nos questionemos: «Mas sei aproximar-me? Eu tenho a força, a coragem de tocar os marginalizados?». E «também para a Igreja, as paróquias, as comunidades, os consagrados, os bispos, os sacerdotes, todos», é bom responder a esta pergunta: «Tenho a coragem de me aproximar ou me distancio sempre? Tenho a coragem de encurtar as distâncias, como fez Jesus?».

E «agora no altar», sublinhou Francisco, Jesus «aproximar-se-á de nós: encurtará as distâncias». Portanto, «peçamos-lhe esta graça: Senhor, que eu não tenha medo de me aproximar dos necessitados, dos que se vêem ou daqueles que têm as chagas escondidas». Esta, concluiu, é «a graça de me aproximar».

Saad Murtadha
Saad Murtadha

Dinheiro só é mais-valia quando serve o «bem-comum», defende Francisco

dinheiro cabeça corrupção

O Papa apontou o “apego” ao dinheiro e aos bens-materiais como a base de uma sociedade onde cada vez mais pessoas vivem sem “horizonte”.

Francisco referiu que viver em função da acumulação de “riquezas” é uma porta aberta a “todo o tipo de corrupção, em todos os lugares”, seja no plano “pessoal, dos negócios, da política e da educação”.

“Porquê? Porque aqueles que estão apegados ao próprio poder, às próprias riquezas, acreditam viver no paraíso. No fim deverão deixar tudo”, frisou o Papa argentino.

Na sua homilia, publicada pelo serviço informativo da Santa Sé, Francisco defendeu que os meios financeiros só são verdadeiramente mais-valias quando colocados ao serviço do “bem-comum”.

Quando geridos “sem generosidade”, eles acabam por “tiram-lhes o melhor que têm, ou seja, a esperança”, complementou.

Gato Nero
Gato Nero

Cidade do Vaticano (RV) – É preciso fazer de modo que se você possui riquezas, essas sirvam ao “bem comum”. Uma abundância de bens vivida egoisticamente tira a “esperança” e é a origem “de todos os tipos de corrupção”, grande ou pequena. Foi o que afirmou o Papa Francisco na homilia da missa desta manhã de segunda-feira na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano.

O camelo e o buraco da agulha, ou seja, como o “entusiasmo” por Cristo possa se transformar em poucos instantes em “tristeza e fechamento em si mesmo”. A cena que o Papa Francisco comenta na homilia é uma das mais famosas do Evangelho. O jovem rico encontra Jesus, pede para segui-lo, lhe assegura viver plenamente os mandamentos, mas, depois, muda completamente de humor e atitude quando o Mestre lhe fala do último passo a ser dado, a “única coisa” que falta: vender os bens dar-lhes aos pobres e depois segui-lo. De repente, “a alegria e a esperança” no jovem rico desaparecem, porque ele, àquela sua riqueza, não quer renunciar:

“O apego às riquezas é o início de todos os tipos de corrupção, em todos os lugares: corrupção pessoal, corrupção nos negócios, também a pequena corrupção comercial, daqueles que tiram 50 gramas do peso correto, a corrupção política, a corrupção na educação … Por que ? Porque aqueles que vivem apegados ao próprio poder, às próprias riquezas, acreditam viver no paraíso. Estão fechados, não têm horizonte, não têm esperança. No fim deverão deixar tudo”.

“Há um mistério na posse das riquezas”, observa Francisco. “As riquezas têm a capacidade de seduzir, de nos levar a uma sedução e nos fazer acreditar que estamos em um paraíso terrestre”. Em vez disso, afirma o Papa, este paraíso terrestre é um lugar sem “horizonte”, semelhante ao bairro que Francisco recorda ter visto na década de setenta, habitado por pessoas ricas que haviam fechado os confins para se defenderem dos ladrões:

“Viver sem horizonte é uma vida estéril, viver sem esperança é uma vida triste. O apego às riquezas nos dá tristeza e nos torna estéreis. Digo ‘apego’, não digo ‘administrar bem as riquezas’, pois as riquezas são para o bem comum, para todos. Se o Senhor dá a riqueza a uma pessoa é para que ela possa usá-la para o bem de todos, não para si mesmo, não para que se feche em seu coração tornando-se corrupta e triste.”

“As riquezas sem generosidade”, ressalta o Papa Francisco, “nos fazem crer que somos poderosos, como Deus. No final, elas nos tiram o melhor, ou seja, a esperança”. Jesus indica no Evangelho qual é a maneira justa para viver uma abundância de bens:

“A primeira Bem-aventurança: Bem-aventurados os pobres em espírito, ou seja, despojar-se do apego e fazer com que as riquezas que o Senhor lhe deu sejam para o bem comum. É a única maneira. Abrir a mão, abrir o coração e abrir o horizonte. Se você tem a mão fechada, tem o coração fechado como aquele homem que fazia banquetes e usava roupas luxuosas, você não tem horizontes, não vê os outros que precisam e vai terminar como aquele homem: distante de Deus.”

cobiça ganância dinheiro

«O estilo» com o qual Deus nos quer salvar

“Mas quem vos compreende? Sois como os jovens na praça: tocámos músicas e não dançastes; entoámos cânticos de lamento e não chorastes. Mas nada vos satisfaz?”

Cruz

Missa em Santa Marta. Quantos se dizem cristãos mas não aceitam «o estilo» com o qual Deus nos quer salvar? Papa Francisco definiu-os «cristãos sim, mas…», incapazes de compreender que a salvação passa pela cruz. E Jesus na cruz – explicou o Pontífice na homilia da missa celebrada em Santa Marta na terça-feira 24 de Março – é precisamente o «núcleo da mensagem da liturgia de hoje».

No trecho evangélico de João (8, 21-30), Jesus diz: «Quando elevardes o Filho do homem…» e, prenunciando a sua morte na cruz, recorda a serpente de bronze que Moisés elevou «para curar os israelitas no deserto», sobre a qual se lê na primeira leitura tirada do livro dos Números (21, 4-9). O povo de Deus escravo no Egipto – explicou o Papa – foi libertado: «Eles viram verdadeiramente milagres. E quando sentiram medo, no momento da perseguição do faraó, quando estavam diante do Mar Vermelho, viram o milagre» que Deus realizou para eles. O «caminho da libertação» portanto começou na alegria. Os israelitas «estavam contentes» porque «tinham sido libertados da escravidão», contentes porque «traziam consigo a promessa de uma terra muito boa, só para eles» e porque «nenhum deles tinha morrido» na primeira parte da viagem. Também as mulheres estavam contentes porque tinham consigo «as joias das egípcias».

Mas a um certo ponto, continuou o Pontífice, no momento em que «se prolongava o caminho», o povo já não suportou a viagem e «cansou-se». Por isso começou a falar «contra Deus e contra Moisés: por que nos fizestes sair do Egipto para nos fazer morrer neste deserto?». Começou a «falar mal de Deus e de Moisés», dizendo: «Aqui não há pão nem água e estamos enjoados desta comida tão leve, o maná». Isto é, os israelitas «sentiam-se enjoados da ajuda de Deus, de um dom de Deus. E assim a alegria do início da libertação torna-se tristeza, murmuração».

Provavelmente preferiam «um mago que com uma varinha mágica» os libertasse e não um Deus que os fazia caminhar e que «de certo modo» os fazia «ganhar a salvação» ou «pelo menos merecê-la em parte».

Na Escritura vê-se «um povo descontente» e, frisou Francisco, «a maledicência é uma saída deste descontentamento». Na sua insatisfação «desabafam, mas não se dão conta de que com este comportamento envenenam a alma». Portanto, eis a chegada das serpentes, porque «assim, como o veneno das serpentes, neste momento, o povo estava com a alma envenenada».

Também Jesus fala sobre a mesma atitude, deste «modo de estar descontente, insatisfeito». Referindo-se a excertos do Evangelho de Mateus (11, 17) e de Lucas (7, 32), o Pontífice evidenciou: «Jesus, quando fala desta atitude diz: “Mas quem vos compreende? Sois como os jovens na praça: tocámos músicas e não dançastes; entoámos cânticos de lamento e não chorastes. Mas nada vos satisfaz?”». Isto é, o problema «não era a salvação, a libertação», porque «todos queriam isto»; mas era «o estilo de Deus: não apreciavam o som de Deus para dançar; nem os lamentos de Deus para chorar». Então «o que queriam?». Queriam, explicou o Papa, agir «segundo o seu pensamento, escolher o próprio caminho de salvação». Mas aquela estrada «não levava para lugar algum».

Uma atitude que encontramos ainda hoje. Também «entre os cristãos», perguntou-se Francisco, quantos estão «envenenados» por este descontentamento? Ouvimos dizer: «Sim, é verdade, Deus é bom, mas cristãos sim, contudo…». São aqueles, explicou, «que não completam a abertura do coração à salvação de Deus» e «exigem condições»; os que dizem: «Sim, sim, sim, quero ser salvo, mas por este caminho». É deste modo que o «coração fica envenenado». O coração dos «cristãos tíbios» que sempre têm algo do qual se lamentar. «”Senhor, mas por que me fizeste isto?” – “Mas salvou-te, abriu-te a porta, perdoou-te muitos pecados” – “Sim, é verdade, mas…”». Assim o israelita no deserto: «Gostaria de água, pão, que é o que aprecio, não este alimento leve. Estou enjoado». E também nós «muitas vezes dizemos que estamos enjoados do estilo divino».

Francisco frisou: «Não aceitar o dom de Deus com o seu estilo é o pecado; é veneno; isto envenena-nos a alma, tira-nos a alegria, não nos deixa caminhar».

E «como resolve isto o Senhor? Com o mesmo veneno, com o mesmo pecado»: isto é «ele próprio assume sobre si o veneno, o pecado e foi elevado». Deste modo sara «esta tibieza da alma, este ser cristão pela metade», este ser «cristão sim, mas…». A cura, explicou o Papa, só acontece se «olharmos para a cruz», olhando para Deus que assume os nossos pecados: «o meu pecado está ali». Mas «quantos cristãos morrem no deserto da própria tristeza, da murmuração, do não querer o estilo de Deus». Esta é a reflexão para cada cristão: enquanto Deus «nos salva e mostra como nos salva», eu «não sou capaz de tolerar um pouco uma estrada de que não gosto». É «este o egoísmo que Jesus repreende à sua geração», que dizia de João Baptista: «Mas, era um endemoninhado». Quando veio o Filho do homem definiram-no um «glutão» e um «bêbado». «Quem vos compreende?», disse o Papa, acrescentando: «Também eu, com os meus caprichos espirituais diante da salvação que me oferece Deus, quem me entende?»

Eis então o convite aos fiéis: «Olhemos para a serpente, o veneno no corpo de Cristo, o veneno de todos os pecados do mundo e peçamos a graça de aceitar os momentos difíceis; de aceitar o estilo divino de salvação; de aceitar também este alimento tão leve do qual se lamentavam os judeus»: a graça de «aceitar os caminhos pelos quais o Senhor me conduz». Francisco concluiu desejando que a Semana santa «nos ajude a sair desta tentação de sermos “cristãos sim, mas…”.

Água para todos, defende o Papa

«A água é o elemento mais essencial para a vida, e da nossa capacidade de a preservar e partilhar depende o futuro da humanidade», afirmou o Papa Francisco no Angelus de domingo 22 de Março, dia mundial da água, promovido pelas Nações Unidas. O Pontífice encorajou «a comunidade internacional a vigiar a fim de que as águas do planeta sejam adequadamente protegidas e ninguém seja excluído ou discriminado no uso deste bem, que é um bem comum por excelência». E citou a propósito as palavras que são Francisco de Assis dedicou à água no Cântico do irmão Sol. Sucessivamente, Francisco anunciou a distribuição aos fiéis presentes na praça de São Pedro de cinquenta mil cópias de uma edição de bolso do Evangelho, renovando a iniciativa promovida também por ocasião da quaresma do ano passado.

 

“Queremos ver Jesus”

 

Neste V Domingo da Quaresma, o Santo Padre referiu o Evangelho de S. João que nos propõe o pedido de alguns gregos ao Apóstolo Filipe que queriam ver Jesus.

Presente na cidade santa de Jerusalém para as festividades da Páscoa, Jesus foi acolhido festivamente pelos simples e humildes. Estão também presentes na cidade os sumo sacerdotes e os chefes do povo que querem eliminar Jesus porque consideram-no perigoso e herético – afirmou o Santo Padre. Aqueles gregos tinham curiosidade de ver Jesus.

“Queremos ver Jesus; estas palavras, como tantas outras nos Evangelhos, vão para além do episódio particular e exprimem qualquer coisa de universal; revelam um desejo que atravessa as épocas e as culturas, um desejo presente no coração de tantas pessoas que sentiram falar de Cristo, mas não o encontraram.”

O Papa Francisco apontou a resposta profética de Jesus ao pedido de encontro que lhe é feito: “Chegou a hora de o Filho do Homem ser glorificado”.

É a hora da Cruz – frisou o Papa que recordou ainda a seguinte frase da profecia de Jesus que nos fala do “grão de trigo” que caído na terra morre e dá muito fruto.

A morte de Jesus, efetivamente, é uma fonte inesgotável de vida nova – afirmou o Santo Padre que exortou os cristãos a oferecerem três coisas àqueles que querem ver Jesus nos dias de hoje: o evangelho, o crucifixo e o testemunho da fé:

“O Evangelho, o crucifixo e o testemunho da nossa fé, pobre mas sincera. O Evangelho: ali podemos encontrar Jesus, escutá-Lo, conhecê-Lo.           O crucifixo: sinal do amor de Jesus que se deu a si próprio por nós.             E depois uma fé que se traduz em gestos simples de caridade fraterna. Mas principalmente na coerência da vida.”

Depois da recitação do Angelus, o Papa Francisco referiu a comemoração neste domingo do Dia Mundial da Água, e encorajou a comunidade internacional a estar vigilante na preservação deste bem comum, tendo recordado, em particular, o Cântico do Irmão Sol de S. Francisco de Assis.

 

Irmão Sol, Irmã Lua (Fratello sole, sorella luna), do diretor Franco Zeffirelli. O filme de 1972 conta a trajetória
Irmão Sol, Irmã Lua (Fratello sole, sorella luna), filme do diretor Franco Zeffirelli, 1972, cena em que São Francisco recebe Santa Clara como itmã
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. São Francisco de Assis e Santa Clara Autor Josefa de Óbidos Data1647 Técnicaóleo sobre cobre Dimensões	25,5 cm × 34,5 cm Localização	Colecção Particular São Francisco de Assis e Santa Clara' é um óleo sobre cobre da autoria de pintora Josefa de Óbidos. Pintado em 1647 e mede 25,5 cm de altura e 34,5 cm de largura.1
São Francisco de Assis e Santa Clara é um óleo sobre cobre da autoria de pintora Josefa de Óbidos. Pintado em 1647, e mede 25,5 cm de altura e 34,5 cm de largura.

 

Cântico do Irmão Sol

 

Altíssimo, onipotente, bom Senhor
Teus são o louvor, a glória, a honra
E toda a benção.
Só a ti, Altíssimo, são devidos;
E homem algum é digno
De te mencionar
Louvado sejas, meu Senhor
Com todas as tuas criaturas,
Especialmente o senhor irmão Sol,
Que clareia o dia
E com sua luz nos alumia.
E ele é belo e radiante
Com grande esplendor:
De ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formaste as claras
E preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Vento,
Pelo ar, ou nublado
Ou sereno, e todo o tempo,
Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor
Pela irmã Água,
Que é muito útil e humilde
E preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Fogo
Pelo qual iluminas a noite,
E ele é belo e jucundo
E vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam por teu amor,
E suportam enfermidades e tribulações.
Bem-aventurados os que as sustentam em paz,
Que por Ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.
Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
Conformes à tua santíssima vontade,
Porque a morte segunda não lhes fará mal!
Louvai e bendizei ao meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande humildade.

 

 

 

 

Papa Francisco: Jesus não tinha diploma

Não dar espetáculo

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O estilo de Deus é a «simplicidade»: inútil procurá-lo no «espetáculo mundano». Também na nossa vida ele age sempre «na humildade, no silêncio, nas coisas pequenas». Foi a reflexão quaresmal que o Papa Francisco propôs na homilia da missa celebrada em Santa Marta, na segunda-feira, 9 de Março.

Como de costume, o Pontífice inspirou-se na liturgia da palavra na qual, frisou, «há uma palavra comum» às duas leituras: «a ira e o desprezo». No Evangelho de Lucas (4, 24-30) narra-se o episódio no qual «Jesus volta a Nazaré, vai à Sinagoga e começa a falar». Num primeiro momento «todos o ouviam com amor, felizes», e admiravam-se com as palavras de Jesus: «estavam contentes». Mas Jesus prossegue no seu discurso «e reprova a falta de fé do seu povo; recorda como esta falta é também histórica», referindo-se ao tempo de Elias (quando – recordou o Papa – «havia muitas viúvas», mas Deus enviou o profeta «a uma viúva de uma cidade pagã») e à purificação de Naaman o Sírio, narrada na primeira leitura tirada do segundo livro dos Reis (5, 1-15).

Começa então a dinâmica entre expectativas do povo e resposta de Deus que esteve no centro da homilia do Pontífice. De facto, explicou Francisco, enquanto as pessoas «ouviam com prazer o que Jesus dizia», alguém «não gostou do que dizia» e «talvez algum bisbilhoteiro se tenha levantado e dito: Mas ele de que nos fala? Onde estudou para nos dizer essas coisas? Que nos mostre o diploma! Em qual universidade estudou? É o filho do carpinteiro e conhecemo-lo bem!».

Explodem então «a fúria» e «a violência»: lê-se no Evangelho que «o expulsaram da cidade e o levaram ao pináculo do monte» para o empurrar. Mas, perguntou o Pontífice, como podem «admiração e enlevo» ter-se transformado em «ira, fúria, violência?». Foi o que aconteceu também ao general sírio do qual fala o segundo livro dos Reis: «Tinha fé este homem, sabia que o Senhor o teria curado. Mas quando o profeta diz: “Vai, molha-te”, indigna-se». Tinha outras expectativas, explicou o Papa, e de facto pensava em Eliseu: «Estando em pé, invocará o nome do Senhor seu Deus, passará a sua mão sobre a parte doente e tirará a lepra… Mas nós temos rios mais bonitos do que o Jordão». E assim foi embora. Contudo, depois «os amigos fizeram-no raciocinar» e voltou atrás, eis que se realizou o milagre.

Duas experiências distantes no tempo mas muito semelhantes: «O que queriam aquelas pessoas, os da Sinagoga e o sírio?» perguntou o Pontífice. Por um lado, «Jesus reprovou os da sinagoga por falta de fé», e o Evangelho evidencia que «Jesus lá, na sua cidade, não realizou milagres, por falta de fé». Por outro, Naaman «tinha fé, mas uma fé especial». Nos dois casos, frisou Francisco, todos procuravam a mesma coisa: «Desejavam o espetáculo». Mas «o estilo do bom Deus não é dar espetáculo: Deus age na humildade, no silêncio, nas coisas pequenas». Não foi por acaso que ao sírio «a notícia da possível cura lhe foi dada por uma escrava, que trabalhava como doméstica de sua esposa, por uma jovem humilde». O Papa comentou a propósito: «Assim age o Senhor: na humildade. E se virmos todas a histórias da salvação, veremos que o Senhor age sempre assim, sempre, com as coisas simples».

Para compreender melhor este conceito o Pontífice referiu-se a diversos episódios das Escrituras. Por exemplo, observou, «na narração da criação não se diz que o Senhor usou uma varinha mágica», não disse: «Façamos o homem» e o homem foi criado. Ao contrário, Deus «modelou-o com o barro, simplesmente». E assim, «quando quis libertar o seu povo, libertou-o pela fé e confiança de um homem, Moisés». Do mesmo modo, «quando quis derrubar a poderosa cidade de Jericó, fê-lo através de uma prostituta». E «também para a conversão dos samaritanos, usou a acção de outra pecadora».

Na realidade o Senhor surpreende sempre o homem. Quando «enviou David a lutar contra Golias, parecia uma loucura: o pequeno David diante do gigante, que tinha uma espada e muitas outras armas, e David só a fisga e as pedras». O mesmo aconteceu «quando disse aos Magos que o rei tinha nascido, o grande rei». O que encontraram? «Um menino, uma manjedoura». Portanto, afirmou o bispo de Roma, «as coisas simples, a humildade de Deus, é o estilo divino, nunca o espetáculo».

De resto, explicou, o «espetáculo» foi «uma das três tentações de Jesus no deserto». Com efeito, Satanás disse-lhe: «Vem comigo, vamos ao terraço do templo; lanças-te de lá e todos verão o milagre e acreditarão em ti». Ao contrário, o Senhor revela-se «na simplicidade, na humildade».

Então, concluiu Francisco, «far-nos-á bem nesta quaresma pensar no modo como o Senhor nos ajudou na nossa vida, como nos fez ir em frente, e descobriremos que o fez sempre com coisas simples». Até poderia parecer que tudo aconteceu «como se fosse uma casualidade». Porque «o Senhor faz coisas simples. Fala-te silenciosamente ao coração». Por conseguinte, será útil recordar neste período «as muitas vezes» em que na nossa vida «o Senhor nos visitou com a sua graça» e compreendemos que a humildade e a simplicidade são o seu «estilo». Isto é válido, explicou o Papa, não só na vida diária mas também «na celebração litúrgica, nos sacramentos», nos quais «é bom que se manifeste a humildade de Deus e não o espetáculo mundano». Missa em Santa Marta, 9 de Março de 2015