média três kilos já tem
a menina grande
sem circulares
tem perfil na foto
uma sobra feita
na barriga dura
um fêmur de 7 e meio
que dispensa medições
a menina grande
dentro dos padrões
água ainda tem bastante
placenta quase madura
acenando pronto instante
rica de graça e candura
uma cabeça pendida
pela gravidade conduzida
e um corpo que se espreme
no corredor da barriga
e a menina apronta
coração presente
corajosamente
a sua saída
a sua chegada
e a menina aprontada
já não se adianta
mas já se encontra
de pronto encontrada
leite
leite é coisa tão boa que nem sendo um leite assim de caixa fica ruim, nem sem lactose, nem em pó…
leite tem o gosto do primeiro gozo, primeiro contato, gosto de mãe.
mãe é coisa tão boa que mesmo sem lactose, sem leite e sem peito.
Hoje meu estado de espírito está sonolento.
Diferente da corrida na chuva.
Devo recolher-me a atividades mais serenas.
Concentração sem reflexão.
Análise sem reflexão.
Porque reflexão é suicídio romântico.
Duas lágrimas
Só derrubei duas lágrimas. As outras, me inundam por dentro.
Octógono da solidão (Sessão de blues)
I
Tudo perfeito.
B.B. King no som
Chuva em plena hora mágica
Gaita desafinada
– e nenhuma lágrima.
II
John Lee Hooker começou.
E os pensamentos não brotam como deveriam.
Eles todos me deixaram só
Então sou só eu e minhas pernas e braços imóveis.
Eu e minha respiração e meus pés gelados.
Sem voz e sem dúvidas
Mas, sem dúvida, está tocando blues.
III
O telefone tocou quando eu estava deitada.
Escutei, não dormia, mas não queria levantar.
Quando ele parou, levantei e era uma amiga.
Meus amigos devem estar por aí, contando piadas.
Liguei, ninguém atendeu. As the years go…
Com minhas linhas de cerol Fiz uma cerca que cercam alguns pulsos de até criar De até vingar Ou até estilar Ainda eram minhas quando perdi Ainda eram linhas quando quebrei Eram suas quando me enrolei A face das contas que deixei O verde das plantas que pintei Não te falei que as marcas da carne Juntei Pra trocar por duas moedas E colocar nos olhos que calei
—
Aguento as minhas horas corridas Pra que sejam sentidas como um peso colhido Lá estão elas Descem o rio Cruzam, e descruzam Elas nunca mais voltam
—
Não engulo É gula da boca O céu é perto É teto do esperto Avise lá na casa das rochas brancas que o aluguel aumentou!
—
Sabe quando não, e nem? Sim Quando o chão rala o ventre E o ventríloquo Quando os terminais de prazer doem E as cachoeiras de sangue matam mil…
Se solte
volta e meia
dê meia volta
dê cambalhotas
plante bananeiras
mexa o corpo
remexe as cadeiras
suba pelas paredes
Seja dois
um lado feminino
um lado masculino
Com sua parceira
dois são quatro
não existe tempo
nem espaço
o que está em cima
está em baixo –
a cabeça √ê
os pés
O acesso à água é direito humano fundamental, pois se trata de um patrimônio da humanidade e constitui o princípio da vida em nosso planeta. Transformar água em mercadoria é deixar na mão dos grandes capitalistas estrangeiros a decisão de dar ou não acesso à água tratada às pessoas. O governo deve garantir o abastecimento deste recurso.
As grandes empresas estaduais de saneamento foram criadas pelos governos, pois o investimento para construí-las era muito grande e o retorno lento. Por isso, nenhum capitalista participaria deste negócio. Mas assim que essas empresas estão funcionando os capitalistas iniciam o lobby para extrair lucro delas e passam a pressionar o governo, exigindo sua privatização. Foi o que ocorreu com a Sabesp. A empresa foi parcialmente privatizada [Governo Geraldo Alckmin]. Teve seu capital aberto, com 47% das ações indo parar nas mãos de acionistas privados, negociadas na Bolsa de Nova Iorque. O estado de São Paulo tem 50% de suas ações e continua administrando a empresa. A abertura do capital fez com que a companhia se transformasse. O princípio de funcionamento não é oferecer um bom serviço à população, mas gerar lucros aos acionistas privados.
O resultado da onda de privatizações das companhias públicas de saneamento é que hoje, segundo a própria Agência Nacional de Águas, 55% dos municípios brasileiros poderão ter déficit no abastecimento em 2015. Nada menos que 84 % precisam de investimento para adequar seus sistemas de abastecimento e 16% precisam de novos mananciais. Seriam necessários R$ 22,1 bilhões em investimento para reverter essa situação.
No meio de uma crise de água causada pela má qualidade do serviço da Sabesp, que não ampliou a captação de água exigida pelo contrato e ainda tem quase 40% da água vazando pelos canos devido à falta de investimento nas redes. A Agência Nacional de Água (ANA) prorrogou o prazo de vigência de concessão do Sistema Cantareira para até 31 de outubro de 2015. Esse era o momento, se os governos realmente se importassem com a falta de água, de cassar a concessão, já que a empresa não cumpriu suas obrigações, reestatizar a Sabesp e fazer os investimentos necessários para que a empresa trabalhe para dar acesso à água potável para a maioria da população e não lucros para meia dúzia de empresários.
O homem burro, que ilustrou a capa do livro de Stanislaw Ponte Preta
A “Folha de S.Paulo” esclareceu ontem o caso, numa reportagem de Samy Adghirni, de Caracas. O governo venezuelano não estava cooptando jovens brasileiros, como suspeitava o Ministério Público Federal em Goiás. Resumindo:
No dia 17 de novembro, um procurador federal em Goiás, cujo nome completo se encontra na reportagem, mandou que se investigassem “ações ou omissões ilícitas da União, relativamente às condutas praticadas pelo governo venezuelano, ao levar, desde 2011, crianças e adolescentes brasileiros à Venezuela, com o fim de transmitir conhecimentos relativos à ‘revolução bolivariana’”.
Tomo emprestado de Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa, um parágrafo que mais bem resume o caso:
“O nobre procurador não se deu conta de que o comunicado do Ministério das Comunas da Venezuela – equivalente ao nosso Ministério das Cidades –, publicado em 2011, se referia a um bairro chamado Brasil, da cidade de Cumaná, no estado venezuelano de Sucre. Provavelmente foi contaminado pelo palavrório segundo o qual o Brasil vai aderir ao ‘bolivarianismo’, suspeitou de uma rede de tráfico humano comandada pelo governo da Venezuela e se cobriu de ridículo.”
Todos já ouviram falar do Febeapá – o Festival de Besteira que Assola o País, com o qual o jornalista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, iluminou com seu texto bem-humorado a tragédia vivida pelo país pós-golpe militar de 1964. Ele morreu de ataque cardíaco, no dia 29 de setembro de 1968, apena 45 dias antes do Ato Institucional nº 5 que assombrou o país por muitos anos e quase acabou com o bom-humor dos brasileiros.
Entre os “ódios inconfessos” do criador de personagens inesquecíveis, como Tia Zulmira, Rosamundo e Primo Altamirando, Stanislaw Ponte Preta selecionou os seguintes: puxa-saco, militar metido a machão, burro metido a sabido e, principalmente, racista.
Como se vê, não seria difícil concordar com ele, naquele tempo e agora.
Relendo sua biografia AQUI e, sobretudo o texto escrito pelo poeta mineiro Paulo Mendes Campos logo após a morte do amigo, encontrei uma frase que conhecia dos tempos em que eu era adolescente em Lagoa da Prata: “Se peito de moça fosse buzina, ninguém dormia nos arredores daquela praça”. Eu a ouvia, durante sermões dominicais, referindo-se à praça em que se localizava nossa igreja matriz, dos lábios do monsenhor Alfredo, um velho holandês que jamais a atribuiu ao humorista carioca, mas que, desse modo, fazia sorrir discretamente o seu sofrido rebanho. E corar mocinhas recatadas com suas inescapáveis buzinas.
Tempos e costumes mudaram muito desde então. Há ainda militar metido a machão, como aquele notório deputado federal inimigo do comunismo, do bolivarianismo e do governo Dilma, há muito burro metido a sabido, há racistas e o diabo a quatro. Livramo-nos do AI-5, mas o Febeapá continua aí, 46 anos após a morte de Stanislaw Ponte Preta.
Vão-se os milicos, aprochegam-se os procuradores federais…
Atenáguras na Súplica pelos Cristãos
a Marco Aurélio e Cômodo
indagava respeitosamente
– Não suportamos
sequer a vista de uma execução capital
segundo a justiça
como irão nos acusar
de assassinato e antropofagia
Pedro Eremita o pregador
da Primeira Cruzada
considerava preciosa iguaria
a carne de crianças
mouras e judias
A crença em um boato depende
de que seja factível
Neste mundo
sempre se praticou o canibalismo
os cadáveres comidos
crus assados e cozidos
—
Poema: do livro inédito Judeu Errante
Ilustração: Pedro o Eremita mostra o caminho de Jerusalém aos cruzados (Iluminura francesa de c.1270). Clique na foto para ampliar
Desde os tempos
da conquista de Pompeu
acreditavam os romanos
os judeus comiam carne humana
Os cristãos queimaram na fogueira
israelitas denunciados
por comemorar a Páscoa
com a crucificação de meninos
e servir em uma ceia de sabá
a carne dos sacrificados
— Ilustração: Pacto com o Diabo: oferenda de uma criança — Francesco Mario Guazzo, Compedium Malleficarum, 1608. IN ZWOJE-SCROLLS