Uma seleção latino-americana de cantos de trabalho para entoar, celebrando, mais que o Dia do Trabalho, o do Trabalhador

O grupo baiano 'As ganhadeiras de Itapuã'
O grupo baiano ‘As ganhadeiras de Itapuã’
Trilha sonora de quem (e para quem) põe a mão na massa

Quem canta, seus males espanta, e se o trabalho está pesado, cantar se faz ainda mais necessário – faz a lida fluir. Os cantos de trabalho são uma manifestação cultural tão antiga quanto o mesmo ato de trabalhar.

Na América Latina, eles sempre acompanharam o trabalhador, da colheita do arroz e do milho à construção de casas e à abertura de estradas, emprestando ritmo e encanto sobretudo às atividades coletivas, como se fossem feitiços hipnóticos. Um efeito próximo da magia.

Do norte do México ao sul da Argentina, os cantos de trabalho nascem no ambiente rural e aí permanecem por muito tempo. Mas as transformações do progresso levam o trabalho dos campos às fábricas e as pessoas da terra ao concreto, sem que a música deixe de acompanhá-los.

Escute aqui. Leia Camila Moraes

Que outros prefeitos sigam o exemplo: SP ganha primeiro prédio de moradia popular para abrigar artistas com mais de 60 anos

Palacete dos Artistas faz parte do projeto da Prefeitura de ocupação do Centro de São Paulo (Foto Olivia Florência/ G1)
Palacete dos Artistas faz parte do projeto da Prefeitura de ocupação do Centro de São Paulo (Foto Olivia Florência/ G1)

Que sejam contemplados todos os artistas. Incluídos os poetas, os escritores, os escultores, os arquitetos, os jornalistas

 

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, inaugurou o edifício Palacete dos Artistas, destinado a moradia popular de artistas com mais de 60 anos e renda familiar de um a três salários mínimos.

Os 50 artistas beneficiados terão que pagar de 10% a 12% da renda mensal deles pelo apartamento. O contrato será renovado a cada quatro anos.

O imóvel permanecerá como propriedade pública. “Uma locação social a um preço bastante módico para permitir que o prédio seja sempre destinado a artistas que dependam de locação”, explicou Haddad.

Os 50 apartamentos são destinados a entidades como Sindicato dos Artistas, Movimento de Moradia dos Artistas e Técnicos, Cooperativa Paulista de Teatro, Associação Cultural de Condomínio dos Artistas e Técnicos, Ordem dos Músicos, Balé Stagium, GARMIC (Grupo de Articulação para Moradia do Idoso da Capital) e Associação Nova Conquista.

A idéia do prefeito Haddad é louvável e exemplar, e outros prefeitos e, inclusive, governadores deviam realizar o mesmo feito, que para isso existem secretarias de Cultura e Habitação em todos os Estados e Municípios.

POETAS MORREM DE FOME NO BRASIL DA DEGRADAÇÃO CULTURAL

O estigma da pobreza dos artistas é universal. Basta lembrar que, na Europa, morreram na miséria os pintores Van Gogh e Modigliani. No Brasil, colonizado Brasil, o índice de leitura é a cara da TV Globo. O índice de leitura dos brasileiros é de quatro livros por ano. Não há como viver de literatura.

Raros os escritores que conseguem viver no Brasil, exclusivamente, da venda de livros. A 14ª edição do reality show Big Brother Brasil, exibida de 14 de janeiro a 1 de abril de 2014, ofereceu um prêmio de R$ 1,5 milhão para o participante vencedor. Um poeta jamais conseguirá tanto dinheiro em toda sua vida de poesia.

Mas a pobreza não é exclusividade de nenhuma arte. E um programa de moradia precisa beneficiar todas as artes. Todas.

In Wikipédia: A numeração das artes refere-se ao hábito de estabelecer números para designar determinadas manifestações artísticas.

1ª Arte – Música (som);
2ª Arte – Dança/Coreografia (movimento);
3ª Arte – Pintura (cor);
4ª Arte – Escultura/Arquitectura (volume);
5ª Arte – Teatro (representação);
6ª Arte – Literatura (palavra);
7ª Arte – Cinema (integra os elementos das artes anteriores)

MORADIA PARA  OS CANTORES DE RÁDIO E TELEVISÃO

Vender 500 mil discos pode render algumas capas de revistas e assédio dos fãs, mas vale lembrar que glamour nem sempre paga contas – nem mesmo o aluguel. Após fazer sucesso entre as décadas de 70 e 80, o cantor Raimundo José volta a sorrir. O motivo não é a música, mas a inauguração do Palacete dos Artistas, um prédio no centro de São Paulo (SP) que foi reformado para ser a casa de 50 artistas com mais de 60 anos, – entre eles, Raimundo.

Localizado na Avenida São João, a poucos metros do cruzamento com a Avenida Ipiranga, o prédio, construído em 1910, era o antigo Hotel Cineasta e estava há anos abandonado. Após um investimento, por parte da Prefeitura, de R$ 8,2 milhões – sendo R$ 4,2 milhões gastos apenas com a desapropriação do edifício – e dois anos de reforma, os apartamentos de 40 metros quadrados estão prontos para serem habitados. Os moradores são músicos, cantores, atores e diretores de teatro com mais de 60 anos, renda de até três salários mínimos e que estejam ligados a entidades como o Sindicato dos Artistas e o Movimento de Moradia dos Artistas e Técnicos.

A Prefeitura possui outros três prédios no centro da cidade, um deles já em reforma, e outros 31 edifícios que estão em processo de desapropriação. “Este é o reencontro da cidade com seu centro histórico”, afirmou o prefeito Fernando Haddad durante a inauguração do Palacete dos Artistas.

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O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, na inauguração do edifício Palacete dos Artistas, em 12 de dezembro de 2014. Fotos Fabio Arantes
O prefeito de São Paulo Fernando Haddad na inauguração do edifício Palacete dos Artistas, em 12 de dezembro de 2014. Fotos Fabio Arantes

Livro relata envolvimento de FHC com a CIA

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Está esgotado nas duas maiores livrarias do Rio o livro da escritora Frances Stonor Saunders Quem pagou a conta? A CIA na Guerra Fria da cultura, no qual o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é acusado, frontalmente, de receber dinheiro da agência norte-americana de espionagem, para ajudar os EUA a “venderem melhor sua cultura aos povos nativos da América do Sul”.

O exemplar, cujo preço varia de R$ 72 a R$ 75,00, leva entre 35 e 60 dias para chegar ao leitor, mesmo assim, de acordo com a disponibilidade no estoque. O interesse sobre a obra da escritora e ex-editora de Artes da revista britânica The New Statesman, no Brasil, pode ser avaliado ao longo dos cinco anos de seu lançamento.

Quem pagou a conta?, segundo os editores, recebeu “uma ampla cobertura pela mídia quando foi lançado no exterior”, em 1999. Na obra, Frances Stonor Saunders narra em detalhes como e por que a CIA, durante a Guerra Fria, financiou artistas, publicações e intelectuais de centro e centro-esquerda, num esforço para mantê-los distantes da ideologia comunista. Cheia de personagens instigantes e memoráveis, entre eles o ex-presidente brasileiro, “esta é uma das maiores histórias de corrupção intelectual e artística pelo poder”.

“Não é segredo para ninguém que, com o término da Segunda Guerra Mundial, a CIA passou a financiar artistas e intelectuais de direita; o que poucos sabem é que ela também cortejou personalidades de centro e de esquerda, num esforço para afastar a intelligentsia do comunismo e aproximá-la do American way of life.

No livro, Saunders detalha como e por que a CIA promoveu congressos culturais, exposições e concertos, bem como as razões que a levaram a publicar e traduzir nos Estados Unidos autores alinhados com o governo norte-americano e a patrocinar a arte abstrata, como tentativa de reduzir o espaço para qualquer arte com conteúdo social.

Além disso, por todo o mundo, subsidiou jornais críticos do marxismo, do comunismo e de políticas revolucionárias. Com esta política, foi capaz de angariar o apoio de alguns dos maiores expoentes do mundo ocidental, a ponto de muitos passarem a fazer parte de sua folha de pagamentos”.

As publicações Partisan Review, Kenyon Review, New Leader e Encounter foram algumas das publicações que receberam apoio direto ou indireto dos cofres da CIA.

Entre os intelectuais patrocinados ou promovidos pela CIA, além de FHC, estavam Irving Kristol, Melvin Lasky, Isaiah Berlin, Stephen Spender, Sidney Hook, Daniel Bell, Dwight MacDonald, Robert Lowell e Mary McCarthy, entre outros.

Na Europa, havia um interesse especial na Esquerda Democrática e em ex-esquerdistas, como Ignacio Silone, Arthur Koestler, Raymond Aron, Michael Josselson e George Orwell.

O jornalista Sebastião Nery, em 1999, quando o diário conservador carioca Tribuna da Imprensa ainda circulava em sua versão impressa, comentou em sua coluna que não seria possível resumir a obra em tão pouco espaço: “São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas”, afirmou.

Fonte: Jornal Correio do Brasil

Leminski amanhã no Recife Antigo

Um Catatau de Performances começa neste sábado 17, às 17 horas, na Torre Malakoff, no Recife Antigo, a partir da exposição Múltiplo Leminski, e de sua obra poética e musical, com a participação de Pedro Silveira, Leminar, Patrícia Casavelha, Ronaldo Pereira e El Maria.

Leminski
Leminski

In Wikipédia: Paulo Leminski é dono de uma extensa e relevante obra. Desde muito cedo, Leminski inventou um jeito próprio de escrever poesia, preferindo poemas breves, muitas vezes fazendo haicais, trocadilhos, ou brincando com ditados franceses.

Na década de 1970, teve poemas e textos publicados em diversas revistas. Em 1975, lançou o seu ousado Catatau, que denominou “prosa experimental”, em edição particular. Além de poeta e prosista, Leminski era também tradutor (traduziu para o castelhano e o inglês alguns trechos de sua obra Catatau, a qual foi traduzida na íntegra para o castelhano).

Na poesia de Paulo Leminski, por exemplo, a influência da MPB é tão clara que o poeta paranaense só poderia mesmo tê-la reconhecido escrevendo belas letras de música, como Verdura.

 

Músico e letrista, Leminski fez parcerias com Caetano Veloso, o grupo A Cor do Som e o a banda de punk rock Beijo AA Força4 entre 1970 e 1989. Teve influência da poesia de Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, convivência com Régis Bonvicino, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Moraes Moreira, Itamar Assumpção, José Miguel Wisnik, Arnaldo Antunes, Wally Salomão, Antônio Cícero, Antonio Risério, Julio Plaza, Reinaldo Jardim, Regina Silveira, Helena Kolody, Turiba, Ivo Rodrigues2 .

A música estava ligada às obras de Paulo Leminski, uma de suas paixões, proporcionando uma discografia rica e variada.

Entre 1984 e 1986, em Curitiba, foi tradutor de Petrônio, Alfred Jarry, James Joyce, John Fante, John Lennon, Samuel Beckett e Yukio Mishima, pois falava 6 línguas estrangeiras (inglês, francês, latim, grego, japonês, espanhol). Publicou o livro infanto-juvenil ‘’Guerra dentro da gente’’, em 1986 em São Paulo.

Entre 1987 e 1989 foi colunista do Jornal de Vanguarda que era apresentado por Doris Giesse na Rede Bandeirantes;

Paulo Leminski foi um estudioso da língua e cultura japonesas e publicou em 1983 uma biografia de Bashô. Sua obra literária tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos dos últimos 20 anos.

 

Programa grátis 

17 de maio – 17:00
“Bicho Alfabeto” – Pedro Silveira e Lenimar
“Lê-me: Leminski” – Patrícia Casavelha
“Meiaspalavrasinteiras” – Ronaldo Pereira e El Maria, convidado especial José Everson

 

 

24 de maio – 17:00

“Curto-circuito” – Afonso Oliveira
“Onde Vou?” – Simone Santos
“Cesta Cheia de Sexta” – Laysa Fernanda
“Que Tudo Passe e Passe Muito Bem” – Mitafá e El Maria

El Maria
El Maria

 

QUE TUDO PASSE

passe a noite
passe a peste
passe o verão
passe o inverno
passe a guerra
e passe a paz

passe o que nasce
passe o que nem
passe o que faz
passe o que faz-se

que tudo passe
e passe muito bem

(Paulo Leminski)

Performances do Laboratório de Aprofundamento Cênico da EMAJP e do Coletivo Loucura Roubada

Coordenação de Fred Nascimento

 

Lançamento do Dicionário Amoroso do Recife

amanhã urariano

“Quem é do Recife, quem já viveu no Recife ou quem passou um tempo no Recife, sempre dirá: eu tenho um caso pessoal com esta cidade”.

O Dicionário Amoroso do Recife é obra de toda uma vida na cidade, “um lugar possuidor de visco e modo de ser” que acompanhou e acompanha Urariano Mota sempre.

No Dicionário, os significados vêm “na nuvem da memória e do sentimento. A memória a falar daquilo que a marcou. Falando para todos os humanos a humanidade do Recife”.

Dicionário Amoroso do Recife

Amanhã, sexta-feira, às 19 horas, na Livraria Cultura, no Paço da Alfândega, no Recife Antigo, o romancista Urariano Mota estará autografando o Dicionário Amoroso do Recife.
O Dicionário é fruto de um escritor que ama a cidade acima de tudo. Não foi à toa que o grande maestro Spok, o cara e a cara do frevo renascido, se referiu ao livro como se visse o Recife falando para os recifenses e para qualquer pessoa de fora, no Rio, em São Paulo, ou além das fronteiras do Brasil. Como um novo Pernambuco falando para o mundo.
De A até Z, o livro é um passeio pelas Igrejas, pela primeira Sinagoga das Américas, pelos terreiros, pelos mercados públicos, pelo elogio emocionante dos heróis do povo da cidade.
Um dicionário da humanidade pernambucana. Da gente do Recife, “da encantadora gente do Recife, que às vezes sufoca a gente de emoção e ternura, de um carinho que rasga o solo como uma flor no asfalto duro”.
De Eutanasinha, a criança flagrada na inocência da fantasia de princesa do carnaval. De Clarice Lispector a ver o frevo na rua. Da descoberta de uma qualidade rara em Dom Hélder Câmara. E muitas homenagens, recuperação de pessoas ilustres e queridas do Recife, desta vez salvas para sempre como exemplos e modelos de pessoas da cidade.
Quem? Não perguntem quem, perguntem como são e vivem essas pessoas. Do ser que são virá a sua fama.
Humor, poesia, drama, como de resto é feita uma cidade grande cujo crescimento se dá na memória e no afeto.
E mais: o novo centro do Recife.
E qual o gênero da cidade? Recife é macho ou fêmea?
Revelações como a passagem de Gagárin no Recife, a origem do nome Zumbi para um bairro. E as mulheres do Marrocos, o teatro de sexo do sonho dos meninos. O Mercado da Boa Vista. As redações do Recife, lembrando nomes que os jovens fotógrafos e jornalistas nem sabe que existiram.  Eis o trecho de um verbete:

“No registro cotidiano do Recife, muito espanta hoje o seu sentido de flagra, mais rápido que o de um fotógrafo de esporte no momento do gol. No precioso arquivo de Olegária, aparecem ladrões meninos ou adultos no instante do furto. Como se fosse de repente, naquele momento tão suave e sub-reptício que ninguém vê, Wilson mostrava em preto e branco os dedos escorregando em uma bolsa de mulher, no centro do Recife. O seu flagrante não media conveniências. Flechava, ou melhor, flashava meninos miseráveis, sem banheiro no mocambo, defecando à luz do dia em um canal da cidade.

Olegária nos contou que tamanha era a intimidade do pai com famosos, que ele chegou a fotografar misses de Pernambuco nuas. Para nossa infelicidade não restaram as provas, porque Wilson, honestíssimo, devolvia os negativos às donas. (O que eram os costumes secretos e a gentileza do fotógrafo.) Ele trabalhou no Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco e Folha da Manhã.“

Este é um Dicionário para o Recife “que está mais em seu povo que em todos os monumentos, pontes, rios e edifícios. Aquela cidade que vista de cima, no avião que chega, acende um calor, uma alegria e uma felicidade sem palavras, somente fogo íntimo”.
“Estamos de volta, Recife”, e quem volta suspira em silêncio, pouco importando se esteve fora um mês, um ano ou dois dias.

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amanhã urariano

VOCÊ TEM UM ENCONTRO MARCADO COM URARIANO MOTA

Urariano Mota

O maior acontecimento literário de Pernambuco

Dicionário Amoroso do Recife

 

Nesta sexta-feira, às 19 horas, na Livraria Cultura, no Paço da Alfândega, no Recife Antigo, o romancista Urariano Mota estará autografando o Dicionário Amoroso do Recife.

Um dia histórico este 28 de Março de 2014.  Poucos livros marcam um povo. Faz história. Acontecerá com o Dicionário Amoroso de Urariano. Porque será sempre citado. Como fonte da história dos costumes, das coisas, das armas, dos barões assinalados e do povo pernambucano, nordestino, brasileiro, e de forasteiros recifenses por adoção.

O título devia ser enciclopédia – o conhecimento geral do Recife -, mas Urariano preferiu dicionário.

Por ser verbetes em ordem alfabética, obviamente começa com a letra A: Abelardo, Alberto, Artur, Ascenso, Ariano e outros. Sei que tem vários Antonios, inclusive o santo com sua Igreja, na Pracinha do Diário.

Se perguntar para Urariano o nome do livro, dirá que é um abecedário. Ou um Guia Prático da Cidade do Recife, nome de um poema de Carlos Pena Filho.

Um leitor de Urariano vai chamar de romance. Um romance de amor ao Recife. Com uma multidão de personagens.

 

Urariano Mota
Urariano Mota

 

Confidenciou Urariano: “Este livro é fruto de toda minha vida na cidade, um lugar possuidor de visco e modo de ser que acompanhou e acompanha o autor sempre. Pelo menos duas vezes tentei viver em outras terras, mas em vez de me adaptar a elas, procurei nas outras alguma característica que fosse do Recife. É um fenômeno conhecido em todas as paixões que se rompem antes que se resolvam. Quem perde, procura em outras pessoas características semelhantes àquela pessoa anterior: um rosto, um nome, um riso, um igual defeito, um perfume que lembre o bem perdido. Como bem musicou Capiba nos versos de Carlos Pena Filho:

‘Você tem,
Quase tudo dela,
O mesmo perfume,
A mesma cor,
A mesma rosa amarela,
Só não tem o meu amor (…)’

Assim uma vez em São Paulo, no apartamento de Gildo Marçal, na sala de onde se via a garoa noturna de São Paulo, uma jovem me arrancou da tristeza ao declamar Ascenso Ferreira:

‘Babá-do-Arroz-Doce, Sá-Biu-dos-Cuscuz,
o home dos caranguejo e dos siri!
Folha verde – Deliciosa meninice das gentes de minha terra,
que eu tanto amei e senti…’

Eu pedia para que ela repetisse, como se fosse música de radiola de ficha: ‘babá-do-arroz-doce, sá-biu-dos cuscuz’, porque essa voz dialetal vinha da infância no Recife. E por isso a jovem em São Paulo me deixava sorrindo feito menino.

Mesmo em viagens para ficar apenas dois dias em outra cidade, eu sempre quis ir a restaurantes que servissem comida nordestina. Não era peitica, como falamos os recifenses, era um cordão ligado ao útero do Recife. Havia sempre em todas as ruas de outros lugares uma falta, ora do cheiro de mar, ora do Capibaribe, ora do suco de graviola, de cajá, de feijão com charque e jerimum, das coisas mais caras que fazem uma identidade. Se estou em João Pessoa, cidade bonita e acolhedora, na praia de Tambaú descubro com exclamações o restaurante Gambrinus, mesmo nome do bar que existia na Marquês de Olinda, em nossa juventude. O Recife traz para mim a situação daquela música de Herivelto Martins, Pensando em ti: ‘eu amanheço, eu anoiteço, pensando em ti’, cidade. Nos livros que tento ler em cada frase o Recife está. Santa cidade, não deixa nem espaço para eu pensar em Deus. Aliás, se existe, Ele é o Recife…

O leitor já vê que o campo dos significados deste dicionário não foi consideravelmente apurado quanto à exatidão e clareza. Como pode o coração ser exato? Os significados neste livro vêm na nuvem da memória e do sentimento. Ou numa tentativa de ser mais preciso: a memória fala daquilo que a marcou. É sentimemória ou memória sentimentada. A clareza será percebida pela empatia que a expressão escrita despertar. Falo para humanos a humanidade do Recife. A clareza, se felicidade eu tiver, virá daí. A exatidão, se ocorrer, virá da verdade que o dicionarista ousou imprimir nos verbetes, ou nas definições da alma da cidade que fala à semelhança de verbetes.

Os autores de dicionários falam sempre que, em relação à primeira edição, centenas de milhares de alterações foram introduzidas em todos os elementos componentes (com o perdão da rima, mas dicionarista raro sabe escrever) da edição anterior. Mas neste caso, em que a primeira edição se faz agora, as alterações se registram nas mudanças da cidade. Como no deslocamento do que antes era ‘o centro do Recife’, ou no sentido das translações do carnaval do Recife, que cresceu pela incorporação do carnaval de Olinda. Ou então no sonho do que foi e teria sido o Teatro Marrocos, lugar de perdição pelo que dele imaginavam os jovens que não tinham 18 anos ou dinheiro para vê-lo. Os olhos que recuperam o passado não se deleitam nele, porque seguem para a transformação da cidade além do espaço físico, porque atingem os gostos e costumes do Recife.

É claro, como bem acertam os grandes lexicógrafos, ‘não há como ser definitivo e muito menos exaustivo no mister da lexicografia’. Alertando para o mister aí, que não é o paroxítono Mister senhor, mas oxítono como clister, e com o sentido de senhor ofício ou trabalho, anotamos que o dicionário de uma cidade jamais será definitivo ou exaustivo. Será de exaustão apenas para quem o faz. Isso porque a cidade é mais resistente a uma conformação de A até Z, que o léxico autoriza. Na cidade, mais rápido que na língua, tudo é mudança. Por isso, ‘no que tange à datação do primeiro registro das palavras em português, pudemos antedatar, por vezes de séculos…’, não, este dicionarista aqui não é de séculos, apesar de, pelas barbas brancas, haver quem o chame de Papai Noel”.

 

 

 

Não esqueça. Nesta sexta-feira você tem um encontro marcado com Urariano Mota

Livro urarianoDicionário Amoroso do Recife, no verbete Miró, um poeta marginal:

“Todos nós aprendemos, ou fomos como bons estúpidos para isso educados, que o poema realiza a poesia nas suas linhas. Ou, se quiserem, o poema não precisa da pessoa do poeta — a certeza única e exclusiva do seu valor está no que escreve. Certo? Senhoras e senhores: — Errado. Quem não viu Miró declamar os seus poemas não sabe o quanto esse conceito erra(…)

O poeta gira em torno da assistência. A sua arma, a sua graça e cômico é a verdade. Aquelas coisas mínimas, constrangedoras, que nem às paredes confessamos, ele, como um novo louco, arrebenta de si. Mais do que escrever por vezes transcreve. Com uma sensibilidade que observa o inobservável.

‘Já perceberam como tem pontas de
cigarro em pontos de ônibus?
Tem uma tese de um amigo que diz:
Que as empresas de ônibus são
responsáveis por 5% dos cânceres de
pulmão.
Curioso perguntei, como assim?
É que os ônibus demoram’”.

NEWTON NAVARRO: O HORIZONTE EM TELAS

por Sírlia Sousa de Lima

Newton Navarro
Newton Navarro

Tudo o que eu admiro
Encanta-me e eu narro
Vou falar desse artista
Que foi Newton Navarro
Imortalizado na Ponte
Que não foi feita de barro

Poeta bem Nascido
Em Natal, no Grande Ponto
Na Avenida Rio Branco
Pra você agora eu conto
Foi um artista completo
Eu não te desaponto

Desde que era criança
Já se podia notar
Os irmãos com velocípedes
E ele o chão a riscar
As impressões de sua arte
Que iria desabrochar

Elpídio Soares Bilro
Foi seu incentivador
Além de ser seu pai
Também era escultor
Seja em ferro ou madeira
Ele era criador

Sua mãe pela arte
Também tinha admiração
Professora primária
Era a sua profissão
A arte é companheira
De quem faz educação

A arte de Navarro
Poucos sabem de onde vinha
Desde a sua infância
Visitava a Redinha
Onde passava as férias
Brincava de manhãzinha

Newton ficava quieto
Sempre a observar
O belo da natureza
Que ele iria pintar
Achou tudo perfeito
E quis logo registrar

Porém Newton Navarro
Pintava fazendo cortes
Seus traços bem marcantes
Suas cores eram fortes
Eram quadros muito belos
Da natureza recortes

Newton era um artista
Com grande capacidade
Trilhou muitos caminhos
Da arte com liberdade
E por meio da pintura
Representou a realidade

Como todo artista
Newton tinha seu diferencial
Via no ser nordestino
Algo fenomenal
Era um ser vitorioso
Um lutador sem igual

Nas telas de Navarro
Tinha algo marcante
Pintava sempre o Sol
Amarelo, forte, brilhante
A brilhar na pele do povo
Com seu calor escaldante

O sol representava a vida
Do nordestino radiante
Que não foge do trabalho
Que não acha entediante
E em busca do sustento
Por isso é um ser marcante

Pintava os lugarejos
Da cidade de onde vinha
Pintava os gatos na rua
Casa, prédio, igrejinha
Tudo foi captado
Em seu traço e linha

Navarro em outros lugares
Não achou inspiração
Somente a cidade Natal
Inspirou seu coração
Olhando as jangadas no mar
Ouvindo do vento, a canção
Os quadros de Navarro
Causam-nos encantamento
Sobressaltam nosso olhar
Com tanto desprendimento
De fazer representar
Vida, arte, movimento.

navarro2trbalhor

Sem perceber com Pedrinho
Navarro fez um elo
Amava o Rio Potengi
Um visual muito belo
De um quadro da Natureza
Estabeleceram paralelo

Ele era apaixonado
Por sua cidade Natal
Pintava ruas e becos
Pescador, mulher, animal,
Ele era muito simples
Não queria ser o tal

A cultura popular
Em suas telas retratou
Desde as danças populares
O futebol também pintou
Sua obra é vasta
E é belo o que criou

Quando a arte surge
Dentro de nós é assim
Navarro usava aquarelas
Tinta guache, nanquim
A memória visual
Despertava-se enfim

O Talento de Navarro
Ninguém pode apagar
Se retirarem as cores
Muita arte vai restar
Não vai ter diferença
O grafismo vai durar

 

Newton Navarro, Bilro

Newton Navarro, Bilro (14)

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O artista plástico potiguar Francinaldo Moura

Por Antonio Nelson

Ele vira a mãe sempre trabalhar com pinturas de pano! Ela pintava verduras, frutas… No pano de prato e em fraudas de crianças. Aos 15 anos teve o primeiro contato para confeccionar a arte. Seus principais ícones são Van Gogh,Tarsila do Amaral e Portinari. Mas tem um prazer especial na pintura de Pablo Picasso. De Currais Novos, Rio Grande do Norte (RN), Francinaldo Moura afirma que seu trabalho é a junção de vários estilos dos artistas citados. “A arte para mim é um complemento da vida, que faz o homem representar aquilo o que ele não pode falar das maiorias das vezes com palavras. A arte é um signo”, declara.  Francinaldo conversou comigo por celular e expõe suas obras com exclusividade no site do Luis Nassif. Confira abaixo!

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Viva Antonio Nelson! Bom descobrir e apresentar novos artistas. Uma pintura bem brasileira. Bem nordestina. Ou melhor, bem potiguar.

No início, todo artista “sofre” influências. Sinto a presença de Newton Navarro, meu amigo de redação e boêmia, mestre na arte de panô. Mas o verdadeiro artista encontra seu estilo próprio. E universal. É o caso de Francinaldo.

 

Mulher e juventude no cinema do Irão

Cena de “Persépolis”, animação autobiográfica dirigida por Marjane Satrapi
Cena de “Persépolis”, animação autobiográfica dirigida por Marjane Satrapi

 

A tirania política, cultural, de comportamento, que produz filmes ba­ni­dos pela censura, faz do Irã um exemplo de resistência na sétima arte. Os cineastas estão dispostos a não acatar a repressão e mergulham na vida social dos seus compatriotas, especialmente as mulheres e os jovens, foco deste ensaio sobre cinco filmes: “Persé­po­lis” (2007), animação auto­bio­gráfica da iraniana emigrada para a Europa, Marjane Sa­trapi; “Half Moon” (2006), ou “Meia Lua”, de Bahman Ghobadi; “A Separação” (2011), de Asghar Far­hadi; “Off Side”, de Jafar Pa­nahi, sobre a exclusão da mulher no futebol; e “Ninguém Sabe Sobre os Gatos Persas” (2009), de Bahman Gho­ba­di, sobre a meninada musical de Teerã. Leia mais. Por Nei Duclós