Meu Recife querido
Coitadinho
Tão maltratado
Tão agredido
Tão sujinho e desfigurado.
Cadê a rua Nova?
Cadê a Guararapes da minha infância?
Onde está a rua da Imperatriz?
Como incentivar a Cultura numa cidade tão violentada?
Eu te reencontro um pouco, meu Recife, no coração de Lisboa.
Pelo menos isso.
Lisboa, 19 de dezembro, 2014
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Imagem Fotografia de Rafaela Lima
Leia Angelo Castelo Branco, jornalista, professor da Universidade Católica de Pernambuco, secretário de Imprensa de Pernambuco, um nome exemplar do Jornalismo brasileiro
O sucesso começou na noite de autógrafos do lançamento do livro, dia 28 de março último.
Reportagem da Tv Pernambuco anunciou: Dicionário Amoroso do Recife, “um livro que não foi escrito com a cabeça, mas com o coração”.
Por que tão esperado o Dicionário Amoroso? “Por que um livro sob encomenda para um amante do Recife”.
Sobre o livro, o maestro SPOK falou:
“Em muitos capítulos, eu me senti como se estivesse vendo o Recife. Ou então falando do Recife para os recifenses, e também para qualquer pessoa de fora, em São Paulo, no Rio, ou de fora do Brasil.
Eu li o que Urariano Mota escreveu para Nelson Ferreira como uma aula de mestre sobre um dos gênios do carnaval pernambucano. Em várias páginas do dicionário, tem hora que dá vontade de chorar, tem hora que dá vontade de rir, quando ele fala das histórias e pessoas do Recife.
Como na história engraçada de uma entrevista com Ariano Suassuna. Como na parte de Antonio Maria, no diálogo com um guia turístico no Recife Antigo. Como no Sotaque do Recife também. E na história dos velhinhos no ônibus, em Gente do Recife.”
De A até Z, o livro é um passeio pelas Igrejas, pela primeira Sinagoga das Américas, pelos terreiros, pelos mercados públicos, pelo elogio emocionante dos heróis do povo da cidade. Um dicionário da humanidade do Recife.
O AUTOR
Urariano Mota
A FILA
OS AUTÓGRAFOS
NOVOS LEITORES
Estudantes de Letras da UFPE
PRESENÇAS
Leonardo Filho assina as ilustrações do Dicionário AmorosoEntrevistado pela Rádio FolhaMaestro Spok escreveu a orelha do livroCom a esposa Francêsca
O Brasil é o país do assédio judicial e extrajudicial. Que existe para criar uma legenda de medo. Para censurar. Para calar os que denunciam os corruptos.
Angustiado e desesperançado, hoje pela manhã, li esta desopressão de Noelia Brito, admirada pelos pernambucanos que amam a Liberdade, a Fraternidade, a Igualdade, a Justiça, a Democracia:
“De saída para mais uma audiência de um dos infindáveis inquéritos que a camarilha de Eduardo da Repressão forjou contra mim. Como sempre faço, ante de sair abri minha Bíblia de Jerusalem e eis que o Espírito Santo, que sempre me guia, enviou-me o seguinte Salmo de Davi:
Iahweh, quem pode hospedar-se em tua tenda?
Quem pode habitar em teu monte sagrado?
Quem anda com integridade
e pratica a justiça:
fala a verdade no coração
e não deixa a língua correr;
em nada lesa seu irmão
nem insulta seu próximo;
despreza o ímpio com o olhar,
mas honra os que temem a Iahweh;
jura com dano próprio
sem se retratar;
não empresta dinheiro com usura,
nem aceita suborno contra o inocente.
Quem age deste modo jamais vacilará!
Salmo 15 (14), O Hóspede de Iahweh”
Procuradora, Noelia Brito defende os interesses das populações do Recife.
Noelia Brito lembra Mércia Albuquerque, “advogada eterna”. Para Urariano Mota, que no Dicionário Amoroso do Recife recorda: “Agora que ela não mais habita no Edifício Ouro, agora que seu corpo se acha definitivamente ausente, agora que superamos a ditadura, nesta altura em que ficou fácil ser democrata, ah, o factual, o seu currículo de advogada de perseguidos políticos, de presos torturados, tudo isso tende a se fundir em versões e esquecimento. Não sabemos se é sempre assim quando a gente se ausenta, mas de Mércia fica uma impressão íntima, uma forma de orquídea violeta que não sabemos de onde nem por que nos vem”.
Jornalista online , Noelia Brito denuncia os corruptos e defende a Verdade, e jornalismo se faz com coragem e sonho. Ser idealista tem um preço.
Noelia Brito dignifica a Justiça.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça, disse Jesus no Sermão da Montanha.
Noelia Brito: Olhaí, pessoal Depois que meu artigo para o Blog de Jamildo Melo, desmascarando Eduardo, foi republicado em vários outros Blogs, inclusive o do jornalista Luis Nassif, os perfis de notícias chapa branca de Dudu colocaram uma tarja de proibido na minha foto…Eu gostei, sinal que estou no caminho certo!
“Quem é do Recife, quem já viveu no Recife ou quem passou um tempo no Recife, sempre dirá: eu tenho um caso pessoal com esta cidade”.
O Dicionário Amoroso do Recife é obra de toda uma vida na cidade, “um lugar possuidor de visco e modo de ser” que acompanhou e acompanha Urariano Mota sempre.
No Dicionário, os significados vêm “na nuvem da memória e do sentimento. A memória a falar daquilo que a marcou. Falando para todos os humanos a humanidade do Recife”.
Amanhã, sexta-feira, às 19 horas, na Livraria Cultura, no Paço da Alfândega, no Recife Antigo, o romancista Urariano Mota estará autografando o Dicionário Amoroso do Recife.
O Dicionário é fruto de um escritor que ama a cidade acima de tudo. Não foi à toa que o grande maestro Spok, o cara e a cara do frevo renascido, se referiu ao livro como se visse o Recife falando para os recifenses e para qualquer pessoa de fora, no Rio, em São Paulo, ou além das fronteiras do Brasil. Como um novo Pernambuco falando para o mundo.
De A até Z, o livro é um passeio pelas Igrejas, pela primeira Sinagoga das Américas, pelos terreiros, pelos mercados públicos, pelo elogio emocionante dos heróis do povo da cidade.
Um dicionário da humanidade pernambucana. Da gente do Recife, “da encantadora gente do Recife, que às vezes sufoca a gente de emoção e ternura, de um carinho que rasga o solo como uma flor no asfalto duro”.
De Eutanasinha, a criança flagrada na inocência da fantasia de princesa do carnaval. De Clarice Lispector a ver o frevo na rua. Da descoberta de uma qualidade rara em Dom Hélder Câmara. E muitas homenagens, recuperação de pessoas ilustres e queridas do Recife, desta vez salvas para sempre como exemplos e modelos de pessoas da cidade.
Quem? Não perguntem quem, perguntem como são e vivem essas pessoas. Do ser que são virá a sua fama.
Humor, poesia, drama, como de resto é feita uma cidade grande cujo crescimento se dá na memória e no afeto.
E mais: o novo centro do Recife.
E qual o gênero da cidade? Recife é macho ou fêmea?
Revelações como a passagem de Gagárin no Recife, a origem do nome Zumbi para um bairro. E as mulheres do Marrocos, o teatro de sexo do sonho dos meninos. O Mercado da Boa Vista. As redações do Recife, lembrando nomes que os jovens fotógrafos e jornalistas nem sabe que existiram. Eis o trecho de um verbete:
“No registro cotidiano do Recife, muito espanta hoje o seu sentido de flagra, mais rápido que o de um fotógrafo de esporte no momento do gol. No precioso arquivo de Olegária, aparecem ladrões meninos ou adultos no instante do furto. Como se fosse de repente, naquele momento tão suave e sub-reptício que ninguém vê, Wilson mostrava em preto e branco os dedos escorregando em uma bolsa de mulher, no centro do Recife. O seu flagrante não media conveniências. Flechava, ou melhor, flashava meninos miseráveis, sem banheiro no mocambo, defecando à luz do dia em um canal da cidade.
Olegária nos contou que tamanha era a intimidade do pai com famosos, que ele chegou a fotografar misses de Pernambuco nuas. Para nossa infelicidade não restaram as provas, porque Wilson, honestíssimo, devolvia os negativos às donas. (O que eram os costumes secretos e a gentileza do fotógrafo.) Ele trabalhou no Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco e Folha da Manhã.“
Este é um Dicionário para o Recife “que está mais em seu povo que em todos os monumentos, pontes, rios e edifícios. Aquela cidade que vista de cima, no avião que chega, acende um calor, uma alegria e uma felicidade sem palavras, somente fogo íntimo”.
“Estamos de volta, Recife”, e quem volta suspira em silêncio, pouco importando se esteve fora um mês, um ano ou dois dias.
Nesta sexta-feira, às 19 horas, na Livraria Cultura, no Paço da Alfândega, no Recife Antigo, o romancista Urariano Mota estará autografando o Dicionário Amoroso do Recife.
Um dia histórico este 28 de Março de 2014. Poucos livros marcam um povo. Faz história. Acontecerá com o Dicionário Amoroso de Urariano. Porque será sempre citado. Como fonte da história dos costumes, das coisas, das armas, dos barões assinalados e do povo pernambucano, nordestino, brasileiro, e de forasteiros recifenses por adoção.
O título devia ser enciclopédia – o conhecimento geral do Recife -, mas Urariano preferiu dicionário.
Por ser verbetes em ordem alfabética, obviamente começa com a letra A: Abelardo, Alberto, Artur, Ascenso, Ariano e outros. Sei que tem vários Antonios, inclusive o santo com sua Igreja, na Pracinha do Diário.
Se perguntar para Urariano o nome do livro, dirá que é um abecedário. Ou um Guia Prático da Cidade do Recife, nome de um poema de Carlos Pena Filho.
Um leitor de Urariano vai chamar de romance. Um romance de amor ao Recife. Com uma multidão de personagens.
Urariano Mota
Confidenciou Urariano: “Este livro é fruto de toda minha vida na cidade, um lugar possuidor de visco e modo de ser que acompanhou e acompanha o autor sempre. Pelo menos duas vezes tentei viver em outras terras, mas em vez de me adaptar a elas, procurei nas outras alguma característica que fosse do Recife. É um fenômeno conhecido em todas as paixões que se rompem antes que se resolvam. Quem perde, procura em outras pessoas características semelhantes àquela pessoa anterior: um rosto, um nome, um riso, um igual defeito, um perfume que lembre o bem perdido. Como bem musicou Capiba nos versos de Carlos Pena Filho:
‘Você tem,
Quase tudo dela,
O mesmo perfume,
A mesma cor,
A mesma rosa amarela,
Só não tem o meu amor (…)’
Assim uma vez em São Paulo, no apartamento de Gildo Marçal, na sala de onde se via a garoa noturna de São Paulo, uma jovem me arrancou da tristeza ao declamar Ascenso Ferreira:
‘Babá-do-Arroz-Doce, Sá-Biu-dos-Cuscuz,
o home dos caranguejo e dos siri!
Folha verde – Deliciosa meninice das gentes de minha terra,
que eu tanto amei e senti…’
Eu pedia para que ela repetisse, como se fosse música de radiola de ficha: ‘babá-do-arroz-doce, sá-biu-dos cuscuz’, porque essa voz dialetal vinha da infância no Recife. E por isso a jovem em São Paulo me deixava sorrindo feito menino.
Mesmo em viagens para ficar apenas dois dias em outra cidade, eu sempre quis ir a restaurantes que servissem comida nordestina. Não era peitica, como falamos os recifenses, era um cordão ligado ao útero do Recife. Havia sempre em todas as ruas de outros lugares uma falta, ora do cheiro de mar, ora do Capibaribe, ora do suco de graviola, de cajá, de feijão com charque e jerimum, das coisas mais caras que fazem uma identidade. Se estou em João Pessoa, cidade bonita e acolhedora, na praia de Tambaú descubro com exclamações o restaurante Gambrinus, mesmo nome do bar que existia na Marquês de Olinda, em nossa juventude. O Recife traz para mim a situação daquela música de Herivelto Martins, Pensando em ti: ‘eu amanheço, eu anoiteço, pensando em ti’, cidade. Nos livros que tento ler em cada frase o Recife está. Santa cidade, não deixa nem espaço para eu pensar em Deus. Aliás, se existe, Ele é o Recife…
O leitor já vê que o campo dos significados deste dicionário não foi consideravelmente apurado quanto à exatidão e clareza. Como pode o coração ser exato? Os significados neste livro vêm na nuvem da memória e do sentimento. Ou numa tentativa de ser mais preciso: a memória fala daquilo que a marcou. É sentimemória ou memória sentimentada. A clareza será percebida pela empatia que a expressão escrita despertar. Falo para humanos a humanidade do Recife. A clareza, se felicidade eu tiver, virá daí. A exatidão, se ocorrer, virá da verdade que o dicionarista ousou imprimir nos verbetes, ou nas definições da alma da cidade que fala à semelhança de verbetes.
Os autores de dicionários falam sempre que, em relação à primeira edição, centenas de milhares de alterações foram introduzidas em todos os elementos componentes (com o perdão da rima, mas dicionarista raro sabe escrever) da edição anterior. Mas neste caso, em que a primeira edição se faz agora, as alterações se registram nas mudanças da cidade. Como no deslocamento do que antes era ‘o centro do Recife’, ou no sentido das translações do carnaval do Recife, que cresceu pela incorporação do carnaval de Olinda. Ou então no sonho do que foi e teria sido o Teatro Marrocos, lugar de perdição pelo que dele imaginavam os jovens que não tinham 18 anos ou dinheiro para vê-lo. Os olhos que recuperam o passado não se deleitam nele, porque seguem para a transformação da cidade além do espaço físico, porque atingem os gostos e costumes do Recife.
É claro, como bem acertam os grandes lexicógrafos, ‘não há como ser definitivo e muito menos exaustivo no mister da lexicografia’. Alertando para o mister aí, que não é o paroxítono Mister senhor, mas oxítono como clister, e com o sentido de senhor ofício ou trabalho, anotamos que o dicionário de uma cidade jamais será definitivo ou exaustivo. Será de exaustão apenas para quem o faz. Isso porque a cidade é mais resistente a uma conformação de A até Z, que o léxico autoriza. Na cidade, mais rápido que na língua, tudo é mudança. Por isso, ‘no que tange à datação do primeiro registro das palavras em português, pudemos antedatar, por vezes de séculos…’, não, este dicionarista aqui não é de séculos, apesar de, pelas barbas brancas, haver quem o chame de Papai Noel”.
Dicionário Amoroso do Recife, no verbete Miró, um poeta marginal:
“Todos nós aprendemos, ou fomos como bons estúpidos para isso educados, que o poema realiza a poesia nas suas linhas. Ou, se quiserem, o poema não precisa da pessoa do poeta — a certeza única e exclusiva do seu valor está no que escreve. Certo? Senhoras e senhores: — Errado. Quem não viu Miró declamar os seus poemas não sabe o quanto esse conceito erra(…)
O poeta gira em torno da assistência. A sua arma, a sua graça e cômico é a verdade. Aquelas coisas mínimas, constrangedoras, que nem às paredes confessamos, ele, como um novo louco, arrebenta de si. Mais do que escrever por vezes transcreve. Com uma sensibilidade que observa o inobservável.
‘Já perceberam como tem pontas de
cigarro em pontos de ônibus?
Tem uma tese de um amigo que diz:
Que as empresas de ônibus são
responsáveis por 5% dos cânceres de
pulmão.
Curioso perguntei, como assim?
É que os ônibus demoram’”.