—
O primeiro Brasil deste título é o país do manifestródomo no qual a câmara de deputados do Congresso brasileiro se transformou, através das declarações sobre as razões e motivos de se votar a favor, ou contra, o impeachment da Presidenta da República Federativa do Brasil, Dilma Rousseff.
O segundo Brazil deste título é o que dá nome à obra de Terry Gilliam no seu filme de 1985. Uma sociedade, ou talvez um país, onde predomina um distópico, e absurdo, quotidiano em que há um Ministério da Informação com o monopólio do arranjo dos canos (sim, das canalizações) e onde o lema “a suspeita gera confiança” molda o dia-a-dia.
Porquê referir os dois “brasis”? Porque o sucedido na Câmara dos Representante e sua mediatização televisiva aproxima, a passos largos, a sociedade distópica do Brazil de Gilliam da actual sociedade do Brasil de Dilma, Temer e Cunha – para falar apenas de três dos personagens centrais do actual processo político.
O Brasil que já foi o país do futuro, que já foi aspirante a membro permanente do conselho de segurança da ONU e a potência mundial do hemisfério Sul, encaminha-se, por opção dos seus próprios representantes eleitos, para uma caricatura daquilo que pretendia ser.
Sim, é verdade que a corrupção de natureza endêmica existe em todas as sociedades e que o Brasil não é diferente e, também, que o crescimento económico dos últimos anos a potenciou.
Também é verdade que o Brasil, como todas as democracias, tem problemas de financiamento ilegal dos partidos. Mas também é verdade que toda a gente no Brasil, ou pelo menos os políticos brasileiros de todos os partidos, sabem que o problema não é do PT ou do PSDB – os dois últimos partidos que elegeram presidentes.
O problema reside “na situação” que infiltra esses partidos quando estão no poder ou quando partidos do centrão permanecem tempo demais em alianças com diferentes governos – como o PMDB que esteve também nas últimas décadas em vários governos, incluindo os de Lula e Dilma.
Mas o Brasil também é o país de governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Lula e do combate à pobreza, da criação de programas de sucesso no combate à inflação com FHC, criação de novas classes médias por ambos, da presença na arena global diplomática (na ONU e na denúncia do excesso de vigilância electrónica global), da liderança tecnológica, da liderança na denúncia das alterações climáticas, da promoção da cultura para todos e da organização de Jogos Olímpicos.
No entanto, desde que a democracia se sedimentou no Brasil, com as eleições directas após 1989, o Brasil teve cinco Presidentes – Collor de Melo, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e Dilma Rousseff.
De entre esses cinco, teve um Presidente destituído por impeachment, Collor de Melo, uma Presidenta em processo de impeachment e um ex-Presidente, Lula da Silva, empurrado para o meio do actual processo contra Dilma Rousseff.
Em cinco Presidentes, num período de duas décadas e meia, poderemos ter, a breve trecho, três presidentes envolvidos em processos de impeachment, algo que nos mostra, não uma excepção, mas a assunção de uma “anormal” normalidade política.
A questão que fica, ainda, por responder é saber se o Brasil pode aspirar a ser outra coisa que não um Brazil se tornar os impeachments a sua normalidade política. Daí que, talvez, a única alternativa a se tornar num Brazil distópico seja mesmo ter “eleições já” tal como noutro momento histórico foi preciso no Brasil dizer “directas já”.
—
Professor Catedrático do ISCTE-IUL e investigador do College d’Études Mondiales na FMSHGustavo Cardoso
“Ninguém, em sã consciência, pode prever como sairemos da caótica situação a que nos levaram esses anos de experiência petista. Muitos souberam desde logo que seu líder não era mais do que um aventureiro irresponsável, despreparado, desprovido de caráter e de condições morais e intelectuais”. General Gilberto Rodrigues Pimentel, presidente do Clube Militar
“É típico de nosso povo esperar que alguém, o governo, os poderosos, resolvam os problemas a preço módico, poupando ao povo o esforço de fazê-lo”. General Clovis Purper Bandeira, editor de Opinião do Clube Militar
O Século XX foi marcado por ditaduras militares na Europa – Hitler, Mussolini, Stalin, Franco, Salazar – paridas da Primeira Grande Guerra e que conceberam a Segunda Grande Guerra Mundial. Guerras que colonizaram o Oriente Médio, a África, e promoveram guerras civis e golpes na América Latina, patrocinados pelo imperialismo.
Uma política que martirizou o povo pisoteado pelos Quatro Cavaleiros do Apocalipse. E nada mais demoníaco do que um Pinochet, uma Operação Con-dor.
Transcrevo do Cinema Uol, Literatortura e Pragmatismo político: Das sessões de tortura aos fantasmas da ditadura, o cinema brasileiro invariavelmente volta aos anos do regime militar para desvendar personagens, fatos e consequências do golpe que destituiu o governo democrático do país e estabeleceu um regime de exceção que durou longos 21 anos.
Estreantes e veteranos, muitos cineastas brasileiros encontraram naqueles anos histórias que investigam aspectos diferentes do tema, do impacto na vida do homem comum aos grandes acontecimentos do período.
Embora a produção de filmes sobre o assunto tenha crescido mais recentemente, é possível encontrar obras realizadas durante o próprio regime militar, muitas vezes sob a condição de alegoria.
“Terra em Transe”, de Glauber Rocha, é um dos mais famosos, retratando as disputas políticas num país fictício. Mais corajoso do que Glauber foi seu conterrâneo baiano Olney São Paulo, que registrou protestos de rua e levou para a tela em forma de parábola, o que lhe custou primeiro a liberdade e depois a vida.
Os onze filmes que compõem esta lista, se não são os melhores, fazem um diagnóstico de como o cinema retratou a ditadura brasileira.
1. MANHÃ CINZENTA (1968), Olney São Paulo – Em plena vigência do AI-5, o cineasta-militante Olney São Paulo dirigiu este filme, que se passa numa fictícia ditadura latino-americana, onde um casal que participa de uma passeata é preso, torturado e interrogado por um robô, antecipando o que aconteceria com o próprio diretor. A ditadura tirou o filme de circulação, mas uma cópia sobreviveu para mostrar a coragem de Olney São Paulo, que morreu depois de várias sessões de tortura, em 1978.
2. PRA FRENTE, BRASIL (1982), Roberto Farias – Um homem comum volta para casa, mas é confundido com um “subversivo” e submetido a sessões de tortura para confessar seus supostos crimes. Este é um dos primeiros filmes a tratar abertamente da ditadura militar brasileira, sem recorrer a subterfúgios ou aliterações. Reginaldo Faria escreveu o argumento e o irmão, Roberto, assinou o roteiro e a direção do filme, repleto de astros globais, o que ajudou a projetar o trabalho.
3. NUNCA FOMOS TÃO FELIZES (1984), Murilo Salles – Rodado no último ano do regime militar, a estreia de Murilo Salles na direção mostra o reencontro entre pai e filho, depois de oito anos. Um passou anos na prisão; o outro vivia num colégio interno. Os anos de ausência e confinamento vão ser colocados à prova num apartamento vazio, onde o filho vai tentar descobrir qual a verdadeira identidade de seu pai. Um dos melhores papéis da carreira de Claudio Marzo.
4. CABRA MARCADO PARA MORRER (1984), Eduardo Coutinho – A história deste filme equivale, de certa forma, à história da própria ditadura militar brasileira. Eduardo Coutinho rodava um documentário sobre a morte de um líder camponês em 1964, quando teve que interromper as filmagens por causa do golpe. Retomou os trabalhos 20 anos depois, pouco antes de cair o regime, mesclando o que já havia registrado com a vida dos personagens duas décadas depois. Obra-prima do documentário mundial.
5. O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? (1997), Bruno Barreto – Embora ficcionalize passagens e personagens, a adaptação de Bruno Barreto para o livro de Fernando Gabeira, que narra o sequestro do embaixador americano no Brasil por grupos de esquerda, tem seus méritos. É uma das primeiras produções de grande porte sobre a época da ditadura, tem um elenco de renome que chamou atenção para o episódio e ganhou destaque internacional, sendo inclusive indicado ao Oscar.
6. AÇÃO ENTRE AMIGOS (1998), Beto Brant – Beto Brant transforma o reencontro de quatro ex-guerrilheiros, 25 anos após o fim do regime militar, numa reflexão sobre a herança que o golpe de 1964 deixou para os brasileiros. Os quatro amigos, torturados durante a ditadura, descobrem que seu carrasco, o homem que matou a namorada de um deles, ainda está vivo –e decidem partir para um acerto de contas. O lendário pagador de promessas Leonardo Villar faz o torturador.
7. CABRA CEGA (2005), Toni Venturi – Em seu melhor longa de ficção, Toni Venturi faz um retrato dos militantes que viviam confinados à espera do dia em que voltariam à luta armada. Leonardo Medeiros vive um guerrilheiro ferido, que se esconde no apartamento de um amigo, e que tem na personagem de Débora Duboc seu único elo com o mundo externo. Isolado, começa a enxergar inimigos por todos os lados. Belas interpretações da dupla de protagonistas.
8. O ANO EM QUE MEUS PAIS SAIRAM DE FÉRIAS (2006), Cao Hamburger – Cao Hamburger, conhecido por seus trabalhos destinados ao público infantil, usa o olhar de uma criança como fio condutor para este delicado drama sobre os efeitos da ditadura dentro das famílias. Estamos no ano do tricampeonato mundial e o protagonista, um menino de doze anos apaixonado por futebol, é deixado pelos pais, militantes de esquerda, na casa do avô. Enquanto espera a volta deles, o garoto começa a perceber o mundo a sua volta.
9. HOJE (2011), Tata Amaral – Os fantasmas da ditadura protagonizam este filme claustrofóbico de Tata Amaral. Denise Fraga interpreta uma mulher que acaba de comprar um apartamento com o dinheiro de uma indenização judicial. Cíclico, o filme revela aos poucos quem é a protagonista, por que ela recebeu o dinheiro e de onde veio a misteriosa figura que se esconde entre os cômodos daquele apartamento. Denise Fraga surpreende num papel dramático.
10. TATUAGEM (2013), Hilton Lacerda – A estreia do roteirista Hilton Lacerda na direção é um libelo à liberdade e um manifesto anárquico contra a censura. Protagonizado por um grupo teatral do Recife, o filme contrapõe militares e artistas em plena ditadura militar, mas transforma os últimos nos verdadeiros soldados. Os soldados da mudança. Irandhir Santos, grande, interpreta o líder da trupe. Ele cai de amores pelo recruta vivido pelo estreante Jesuíta Barbosa, que fica encantado pelo modo de vida do grupo.
11. BATISMO DE SANGUE (2007) – Apesar do incômodo didatismo do roteiro, o longa é eficiente em contar a história dos frades dominicanos que abriram as portas de seu convento para abrigar o grupo da Aliança Libertadora Nacional (ALN), liderado por Carlos Marighella. Gerando desconfiança, os frades logo passaram a ser alvo da polícia, sofrendo torturas físicas e psicológicas que marcaram a política militar. Bastante cru, o trabalho traz boas atuações do elenco principal e faz um retrato impiedoso do sofrimento gerado pela ditadura.
Chile, Sábado, 5 de Outubro de 1974 – Nos subúrbios de Santiago, a grávida Carmen Castillo é ferida e seu companheiro Miguel Enriquez, secretário Geral do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária), é morto em combate. Assim começa a jornada pelas memórias dos vencidos na batalha contra a ditadura de Pinochet. Carmen e Miguel viveram 10 meses de felicidade com as filhas Camila e Javiera , na Rua Santa Fé, 725.
Depois da morte de Miguel, Carmen perdeu o bebê, foi exilada e encontrou refúgio com amigos, em Paris. Neste seu documentário, feito após a volta da democracia (1990), os companheiros que desapareceram, e os que sobreviveram, são retratados, numa costura perfeita entre a vida de ontem e de hoje no Chile. Destaca-se o ambiente de fraternidade entre todos, o sentimento de pertencer e querer realizar algo pelo país.
Um filme muito humano e lindo, que convida à reflexão. Abusos de poder e injustiça devem ser combatidos.
“Elas, alunas. Eles, professores. Ambos, partes de uma relação que, em alguns casos, confunde as barreiras do profissional e do pessoal. O G1 deixou de lado as histórias de amor entre alunos e professores que terminaram com um final feliz para mostrar um lado obscuro dessa relação: o de alunas que se sentiram assediadas por seus professores”, escreve Naiara Arpini. Leia aqui
A História ensina, pelos casos mais célebres, as paixões dos alunos pelos professores. Do jovem Alcebíades por Sócrates. De Heloísa (17 anos) por Abelardo (36 anos).
Eu tinha dez anos quando me apaixonei por minha professora do admissão.
Repressão, censura, porões. Resistência, greves, guerrilhas, movimentos culturais. A ascensão e declínio do regime, em obras importantes do cinema brasileiro. Filmes com a versão sem cortes para você assistir agora. De graça. É só clicar. Para democraticamente assistir. Sem censura. São 43 filmes completos. E sete ”trailers” Clique aqui: 51 filmes para conhecer a fundo a ditadura. O terror de 21 anos de escuridão. Eis alguns cartazes
As comoventes imagens da menina que procura seus livros e cadernos na sua casa, destruída por um foguete em Gaza, lembram cenas do romance e filme de outra menina na Alemanha nazista.
O que era uma ficção se transforma em uma brutal e desumana realidade nas guerras do deserto. Principalmente na guerra das estrelas na Palestina. Precisamente da guerra da Estrela de Davi contra a Lua árabe. É um novo holocausto: agora dos palestinos, os antigos filisteus.
The Book Thief – A menina que roubava livros (título no Brasil) ou A rapariga que roubava livros (título em Portugal)) é um drama do escritor australiano Markus Zusak, publicado em 2005 pela editora Picador. No Brasil e em Portugal, foi lançado pela Intrínseca e a Presença, respectivamente.
O livro é sobre uma garota que encontra a Morte três vezes durante 1939–43 na Alemanha nazista.
The Book Thief tem como narradora a Morte, cuja função é recolher a alma de todos aqueles que morrem sem intervalos. Durante a sua passagem pela Alemanha, na Segunda Guerra Mundial, ela encontra a protagonista, Liesel Meminger, numa estação de comboio enquanto o seu irmão mais novo é enterrado próximo ao local.
A menina, ao perceber que o coveiro presente deixou um livro, O manual do coveiro, cair na neve, rouba-o e é levada, então, até a cidade fictícia Molching, onde a sua mãe pretende entregá-la a uma família para que a adotem.
Na Rua Himmel, reside o casal de classe trabalhista formado por Hans e Rosa Hubermann. Lá, ela convive com os novos responsáveis e vai à escola.
Como ajudante de sua mãe, começa uma amizade com a mulher do prefeito Ilsa Hermann, embora ela só perceba o tamanho dessa amizade no fim da história.
Ao longo dos quatro anos que viveu com os Hubermann, roubou diversos livros e aprendeu lições com eles.
No filme, a jovem Liesel Meminger (Sophie Nélisse) sobrevive fora de Munique através dos livros que ela rouba.
Ajudada por seu pai adotivo (Geoffrey Rush), ela aprende a ler e partilhar livros com seus amigos, incluindo um homem judeu (Ben Schnetzer) que vive na clandestinidade em sua casa.
Enquanto não está lendo ou estudando, ela realiza algumas tarefas para a mãe (Emily Watson) e brinca com a amigo Rudy (Nico Liersch).
A história revela quando terrível um regime que impõe o pensamento único, destrói a cultura de um povo, queima livros, cria uma lista de autores proibidos, estabelece o controle judicial-policial, e prende e arrebenta.
A história é uma mensagem de esperança. A fraternidade, a amizade, o amor ao próximo vence a Morte e a xenofobia, e todo tipo de preconceito, notadamente o racial.
Você entenderá porque os judeus são chamados de o Povo do Livro.
Cena de “Persépolis”, animação autobiográfica dirigida por Marjane Satrapi
A tirania política, cultural, de comportamento, que produz filmes banidos pela censura, faz do Irã um exemplo de resistência na sétima arte. Os cineastas estão dispostos a não acatar a repressão e mergulham na vida social dos seus compatriotas, especialmente as mulheres e os jovens, foco deste ensaio sobre cinco filmes: “Persépolis” (2007), animação autobiográfica da iraniana emigrada para a Europa, Marjane Satrapi; “Half Moon” (2006), ou “Meia Lua”, de Bahman Ghobadi; “A Separação” (2011), de Asghar Farhadi; “Off Side”, de Jafar Panahi, sobre a exclusão da mulher no futebol; e “Ninguém Sabe Sobre os Gatos Persas” (2009), de Bahman Ghobadi, sobre a meninada musical de Teerã. Leia mais. Por Nei Duclós
Não existem tesouros
promessas de velo de ouro
maior encantamento você
nua navegando nuvens
toda prateada pelos raios da lua
a dourada cabeça coroada
por uma constelação de estrelas
Teu corpo cavalo da deusa
a revolutear pelos campos azuis de papoulas
Teu corpo a girar a girar na dança
estonteante do amor
os cabelos soltos
os olhos de vertigem
de prostituta absorvida
prostituta virgem
prostituta sagrada
possuída pela deusa
Jesus jamais tocou neste tema: o amor grego.
No Velho e no Novo Testamento não existe nenhuma referência ao amor entre mulheres.
São Paulo faz uma referência ao sexo anal. Sodomia.
No Velho Testamento se combate o amor entre os homens. Em defesa da supremacia racial: O famoso “Crescei e Multiplicai-vos”.
Que temem os franceses? O crescimento da população mestiça. O aumento da população de emigrantes. É um movimento xenófobo e racista.
Uma Palma de Ouro que é um ménage à trois
por Vasco Câmara
O júri da 66.ª edição quis premiar os três cúmplices de La Vie d”Adèle: o realizador Abdellatif Kechiche e as duas actrizes
Cinco anos depois de A Turma, de Laurent Cantet, nova Palma de Ouro para um filme francês, e de novo em caminhos de juventude e de literatura, mas desta vez acrescentando-se algo de novo à experiência, como um patamar que foi ultrapassado: a intimidade sexual, como não a tínhamos experimentado assim – se calhar já, mas a memória suspendeu os juízos e deu à sessão das 19h do dia 23 a emoção dos momentos históricos. Cúmplices a introduzirem a imprensa mundial no Festival de Cannes nesse vórtice, Abdellatif Kechiche, realizador de La Vie d”Adèle, Chapitres 1 et 2, Léa Seydoux e Adèle Exarchopoulos, intérpretes de duas raparigas que se amam, foram ontem designados como os três artistas dignos do prémio máximo do palmarés deste 66.ª edição.
Subiram os três ao palco, cada um com a sua Palma, decisão com o seu toque de originalidade mas que faz justiça à experiência de rodagem nos filmes de Kechiche: a entrada numa família de afectos. Palmas para o presidente do júri Steven Spielberg. Que será responsável pela coroação do franco-tunisino, que na imprensa francesa já começara a ser chamado, como se se reparasse uma injustiça, o maior cineasta francês da actualidade – já recebera Césares e prémios em Veneza, com A Esquiva (2002) ou O Segredo de um Cuscuz (2007), mas a Palma é outra coisa. Kechiche dedicou o prémio à belle jeunesse de França e da Tunísia, onde se faz a revolução.
Era o prémio que todos esperavam, faltava saber como o júri se iria desenvencilhar – até porque a opção de entregar o prémio máximo a La Vie d”Adèle, Chapitres 1 et 2 e distinguir as actrizes com o prémio de interpretação é um cúmulo não permitido pelos regulamentos do festival. O júri saiu-se bem, e não foi apenas artimanha, é a verdade de La Vie d”Adèle, uma pessoal adaptação de Kechiche da novela gráfica Le Bleu est une couleur chaude de Julie Maroh, que conta a educação sentimental e sexual de uma rapariga, Adèle (Adèle Exarchopoulos), a partir do coup de foudre por uma Emma (Léa Seydoux) de cabelos azuis (estreia-se em França em Outubro e está comprado para Portugal pela Leopardo Filmes).
Assim Spielberg & Cia. abriram caminho para a premiação de Bérénice Bejo como Melhor Actriz por Le Passé, do iraniano Asghar Farhadi (Uma Separação), alvo de uma recepção bastante mitigada em Cannes. Mas o prémio confirma os recentes triunfos de Bejo, a vencedora do César de melhor actriz por O Artista que muitas vezes alude que sempre “soube perder” e por isso agora lhe sabe bem ganhar – para este papel de uma mulher entre o marido iraniano de quem se vai divorciar e o homem com quem iniciou nova relação, tinha sido escolhida, inicialmente, a estrela Marion Cotillard.
Se exceptuarmos a ausência do palmarés do snob e amoroso Only Lovers Left Alive, de Jim Jarmusch – muito melhor filme do que o dos Coen ou de Alexander Payne -, é verdade que o júri fez o que tinha a fazer com os títulos que, melhor ou pior, marcaram esta edição. Pode-se ver no Prémio do Júri – Tel Père, Tel Fils, do japonês Hirokazu Kore-Eda – ou na distinção a um dos tesouros do cinema americano dos anos 1970, Bruce Dern, de 75 anos (prémio de interpretação por Nebraska, de Alexander Payne: história de um homem que acredita que ganhou um milhão e obriga o filho a levá-lo do Montana ao Nebrasca para cobrar o prémio), um percurso para a reconciliação com a figura do pai, tema, trauma ou perda em algum do melhor Spielberg. Antes de chegar Kechiche, o filme dos Coen, Inside Llewyn Davis, era o favorito para a Palma. Saiu-se com o Grande Prémio. Ambientado nas dark ages da cena folk de Greenwich Village no final dos anos 1950, antes dos ícones, é menos um retrato de um mundo do que o retrato da obsessão de uma personagem – Inside Llewyn Davis tal como na cabeça de Barton Fink, o filme que deu a Palma em 1991 a Joel e Ethan. Não poderão ser secundarizadas as distinções ao mexicano Amat Escalante, por Heli (melhor realizador, a distinção que teve Carlos Reygadas em 2012 por Post Tenebras Lux: de novo a violência que sangra a sociedade mexicana) e ao chinês Jia Zhangke, pelo argumento de A Touch of Sin, corajosa e gráfica explicitação da China de hoje. Zhangke diz que o cinema lhe permite acreditar na liberdade. (Público, Portugal)
Meryl Streep conseguiu do nada, de um final de vida medíocre e doentio, com uma consagrada interpretação, por ser, inclusive, maior do que a personagem, humanizar a “dama de ferro”.
Nenhum feito engrandece a vida de Margaret Thatcher. O Reino Unido voltou ao isolamento dos tempos de Henrique VIII. E a Europa do euro atravessa sua pior crise pós Segunda Grande Guerra.
Se existe beleza ou um grande feito para lembrar da vida de Margaret Thatcher faz parte da magia do cinema.
“Para mim, foi uma figura de admiração pela sua força pessoal e determinação. Chegar, legitimamente, às fileiras do sistema político britânico, que era classista e com fobia ao género (feminino), na época e na forma como o fez, foi uma grande conquista”, afirmou a actriz, citada pela agência EFE.
Meryl Streep ganhou, em 2012, a sua terceira estatueta dourada ao protagonizar “A Dama de Ferro”, uma retrospectiva da vida e carreira política de Thatcher.
A atriz americana considerou ainda a ex-primeira-ministra britânica “pioneira” na política, conseguindo “manter as suas convicções vinculadas a fervorosos ideais – errados como podemos percebê-los agora – mas sem corrupção”, considerando Meryl Streep que isso evidencia “algum tipo de grandeza”.
A atriz destacou ainda o fato de Thatcher ter oferecido às jovens de todo o mundo um motivo para redefinir “os seus sonhos de ser princesas” e dar-lhes uma fantasia diferente: “A opção real de liderar uma nação.”
A ex-primeira-ministra britânica, que esteve no poder entre 1979 e 1990, morreu ontem na sequência de um acidente vascular cerebral, informou o porta-voz da antiga líder conservadora.
A ex-primeira-ministra britânica sofria de Alzheimer e estava muito debilitada fisicamente. Na última década, as suas aparições públicas foram raras.
Margaret Thatcher não falava em público desde 2002, por aconselhamento dos seus médicos, após ter sido vítima de vários acidentes vasculares cerebrais.