Seleção de 5 Poemas de Leo Lobos (no original em espanhol)

“Soy sirio. ¿Qué te asombra, extranjero, si el
mundo es la patria en que vivimos todos, paridos por el caos?”

Meleagro de Gádara, 100 antes de Cristo.

Jazz on the park

Leemos el diario en el Jazz on the Park ( Jazz on the Park es el hotel donde nos hemos mudado), me siento encerrado.
Nos han invitado al concierto de Peter Salett, y es sin duda una buena idea para salir de aquí al paso del estado en el que nos encontramos. Un taxi móvil nos lleva al Club que está prácticamente copado, entramos sin dificultad con la ayuda de los ángeles custodios en medio de luces fotográficas cegadoras, tomamos bebidas blancas, escuchamos con atención mientras hermosas mujeres rubias son
mecidas por la música.

New York, Estados Unidos, 1999.

Tres mujeres, un piano, un gato y una tormenta

A Alexandra Keim

Es difícil ser un pájaro
y volar contra la tormenta sobre la cicatriz de la Tierra que deja el camino de asfalto
mejor es como un gato estar
siempre atento a las brasas
cerca de la chimenea
y escuchar
siempre atento escuchar
a tres lenguas diferentes hablar
un idioma a la vez fascinante
a la vez misterioso y conocido
oír e ir en su música
en sus luces y propias
y universales sombras
fotografiar
por tan solo un segundo
fotografiar con la mirada sus perfiles
de ser posible
flotar
dentro
de la sala
como
un pájaro
en
la
tormenta

Marnay-sur-Seine, Francia, 2002.

Silencioso dentro de la noche

“Ser como o rio que deflui
silencioso dentro da noite”

Manuel Bandeira

Fluir, leve andar
descalzo inflar lentamente los pulmones
pesar cada paso sentir
cada instante entrar
silencioso dentro
de la noche
como sí ella
fueras

Marnay-sur-Seine, Francia, 2002.

Una secreta forma

“las palabras como el río en la arena
se entierran en la arena”

Roberto Matta

el automóvil esta poseído por la fuerza
de los animales que le habitan
como un carruaje tirado por caballos
sobre piedras húmedas de un pasado verano
Río de Janeiro aparece de repente como
la secreta forma que el Atlántico
deja entrever desde sus colinas de azúcar:
ballenas a la distancia algo
comunican a nuestra humanidad sorda
y cegadas por el sol preparan su próximo vuelo
caen ellas entonces una vez más como
lo han hecho desde hace siglos
caen ellas en las profundidades entonces
caen ellas y crecen en su liquido amniótico.

São Paulo, Brasil, 2004.

Perdidos en La Habana

Se puede ver a lo largo de Cuba verdes
o rojos o amarillos descascarándose con el
agua y el sol, verdaderos paisajes de estos
tiempos de guerra

Después de tres botellas de ron
ella lloraba en el lobby
del Hotel Capri, mientras le leía poemas que no eran míos,

Hablaba de las playas a las que llegó
en motocicleta, cuando aún el sol brillaba
los cubanos son niños que lo miran todo decía

Otro él, aparece desde el centro del salón y necesito
más de un segundo para
reconocerle
me acerco y me cuenta de mujeres, palacios de salsa,
de bailes mágicos
no hay, pienso
no existe una isla
sin orillas…
No quiero habanos
no tengo dólares
mejor será
desaparecer antes que la noche

El Vedado, La Habana, Cuba, 1995.

 

Presidente Reagan e juiz Moro contra as empresas multinacionais brasileiras. O caso Odebrecht

por Nagib Jorge Neto

Diante dos rumos da Lava Jato e da Acarajé, cabe refletir sobre os rumos dessa investigação e a quem, ou a que grupos, visam beneficiar o juiz Moro, da República do Paraná, e os agentes da Polícia Federal que fazem ilações e insinuações com base em documentos que o Ministério Público julga dignos de crédito. A mídia eletrônica, liderada pelos coleguinhas da televisão, influenciam os demais escribas de revistas, jornais e emissoras de rádio, que aceitam as verdades como absolutas. Enfim, vale evocar Millor Fernandes:

“A imprensa brasileira sempre foi canalha. Eu acredito que se a imprensa brasileira fosse um pouco melhor poderia ter uma influência realmente maravilhosa sobre o País. Acho que uma das grandes culpadas das condições do País, mais do que as forças que o dominam politicamente, é nossa imprensa. Repito, apesar de toda a evolução, nossa imprensa é lamentavelmente ruim. E não quero falar da televisão, que já nasceu pusilânime”.

É o caso de constatar, nesta fase do tiroteio midiático, o texto de Maurício Dias, publicado na Carta Capital, de julho de 2015.

Reagan pode, Lula não

Recomenda-se recordar a história seguinte, a envolver a Odebrecht e protagonizada por um presidente americano capaz de agir a favor dos interesses do seu país

por Mauricio Dias — publicado 25/07/2015
inShare8
Antonio Cruz/ ABR

O fundador Norberto perdeu esta parada

No longínquo ano de 1979, ainda sob o regime militar, um jovem jornalista do hoje extinto Jornal do Brasil impresso foi escalado para acompanhar profissionalmente um seminário sobre desenvolvimento no Hotel Glória, Rio de Janeiro. Lá encontrou Norberto Odebrecht, o patriarca da construtora que leva seu nome. O repórter José Carlos de Assis aproximou-se dele e comentou: “Então, o senhor perdeu a concorrência para construir a hidrelétrica no Chile”.

Aquele homem, sabidamente avesso a entrevistas, ao responder parece que desfez um nó agarrado na garganta: “Com o presidente Ronald Reagan era impossível competir”.

Recentemente, décadas mais tarde, diante da suspeita do Ministério Público Federal de que o ex-presidente Lula teria feito advocacia administrativa, o lobby, em favor da Odebrecht, promovendo projetos da empreiteira no exterior, Assis, o jovem repórter de 36 anos atrás, notabilizado ao longo da carreira por grandes investigações jornalísticas, foi atrás do restante dessa história.

Ele relata agora: “Aquela era a primeira concorrência internacional disputada pela Odebrecht. O governo da ditadura, sob o comando de João Figueiredo, jogou pesado em favor da empresa. O então ditador fez desembarcar no Chile um grupo de oficiais oferecendo assistência de equipamentos brasileiros antissublevação. Comandava esse pelotão o general Danilo Venturini, chefe da Casa Militar do governo.

Tendo em vista a simpatia entre as duas ditaduras, a empreiteira brasileira contava com a vitória. Na verdade, na data da concorrência, ela foi declarada vencedora. Seus executivos dormiram naquela noite embalados pela vitória.

Ao despertar do sono tranquilo a realidade impôs a eles um pesadelo. Tudo havia sido revertido. Na calada da noite, o presidente norte-americano Ronald Reagan, que acabara de ser eleito, mas não tomara posse, telefonou para o general Augusto Pinochet, comandante do regime militar chileno.

Reagan falou ao feroz ditador chileno a respeito da política de direitos humanos adotada pelo presidente Jimmy Carter. Garantiu que com ele seria diferente. No decorrer da conversa, Reagan tocou em outro ponto importante. Havia uma empresa, a Atkinson, na disputa da concorrência para a construção da hidrelétrica. Seria muito interessante para o início do seu mandato se os americanos ganhassem.

Reagan levou a taça. Assim acabou com a política de direitos humanos adotada pelo antecessor dele na Casa Branca. Conforme havia prometido, cumpriu.

O episódio desnuda a iniciativa do Ministério Público Federal contra o ex-presidente Lula. Uma construtora com obra no exterior abre o mercado local para equipamentos brasileiros, promove a contratação de técnicos e engenheiros especializados. Gera divisas e favorece, enfim, o aumento de relações econômicas e culturais.

Há uma diferença entre a advocacia administrativa e a advocacia soberana, para a qual Assis chama a atenção. Isso foi desconhecido por ignorância ou por má-fé?

P.S. do redator deste blogue:

Reagan estava certo. Figueiredo estava certo. Quem é o errado? 

Por que todos presidentes eleitos pelo voto direto, ditadores, monarcas, primeiro-ministros promovem viagens internacionais acompanhados de delegações de empresários? 

Inclusive as embaixadas existem para defender os negócios dos seus respectivos países.

As principais empresas multinacionais estão sediadas no Brasil a pedido dos seus mandatários, e com todo tipo de ajuda dos governos da União, estaduais e municipais, que oferecem diferentes atrativos: empréstimos de bancos estatais, terrenos, prédios, mão de obra barata e terceirizada, isenções fiscais etc. O Brasil é o país das montadoras e oficinas estrangeiras. 

Fernando Henrique vendeu mais de 70 por cento das estatais, e facilitou a desnacionalização das empresas brasileiras, em nome da chamada globalização, do entreguismo, dos leilões quermesses e concessões.  É este Brasil do atraso que Moro defende.

 

 

 

 

 

 

MORO O JUIZ DO VERBO CONDICIONAL E DO QUIÇÁ

MORO, O JUIZ DO VERBO NO CONDICIONAL. O JUIZ DO QUIÇÁ, QUIÇÁ, QUIÇÁ: SE ME PERGUNTAM SE UM PETISTA ALGUM CRIME ESCONDE, LOGO ME RESPONDO: TALVEZ, TALVEZ, TALVEZ. DEVE SER PRESO, SIM, PORQUE É POSSÍVEL, PODERIA, PORVENTURA TER RECEBIDO PROPINA ATÉ QUE PROVE SUA INOCÊNCIA.  

A semanticista Fátima Oliveira, in Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho (pp. 256-257), defende que o condicional funciona mais frequentemente como um modo do que como um tempo, em especial nas situações em que o ponto de referência temporal não é o passado. Nos exemplos vi e vii, pode constar-se que é a dimensão modal da probabilidade, da hipótese, que é expressa pelo condicional. Na qualidade de modo, o condicional exprime o irreal, um desejo, ou a atenuação de uma afirmação.

Jornal GGN – Em sua coluna na Folha de S. Paulo, o jornalista Janio de Freitas questiona a 23a fase da Operação Lava Jato e as acusações de que o marqueteiro João Santana recebeu propinas da Odebrecht, já que ele não teria relação com a intermediação de contratos da Petrobras. Janio também afirma que o juiz Sergio Moro e os procuradores da força tarefa não levantaram indícios de que o dinheiro da construtora no exterior teria sido proveniente da Petrobras. “A falta até de mínima sustentação das exposições de Sergio Moro, no próprio decreto de prisão de Santana e Mônica, como nas falas dos procuradores e policiais é nada menos do que escandalosa”, diz o colunista. Leia mais abaixo:

 

Efeitos secundários

por Janio de Freitas

Um mistério, mas nem tanto. O juiz Sergio Moro expôs por escrito, os procuradores falaram à vontade, representantes da Polícia Federal falaram também, mas ninguém disse o essencial para dar sentido a essa operação 23 da Lava Jato: por que, afinal de contas, o marqueteiro João Santana “recebeu propina” US$ 3 milhões da Odebrecht, se nada tem a ver com intermediação de contratos da Petrobras, nem se sabe de outras atividades suas que expliquem comissões da empreiteira?

Também não há, nas tantas palavras daquelas vozes da Lava Jato, nenhum indício, consistente ou não, de que o dinheiro da Odebrecht no exterior seja proveniente da Petrobras, como “desconfiam”. Nem que tenha qualquer relação com campanha no Brasil.

A falta até de mínima sustentação das exposições de Sergio Moro, no próprio decreto de prisão de Santana e Mônica, como nas falas dos procuradores e policiais é nada menos do que escandalosa. Ou deveria sê-lo.

O jornalista Fernando Molica levantou, para sua coluna no carioca “O Dia”, o uso de determinadas palavras no decreto de prisão do casal. Sergio Moro diz ser algo “possível” 19 vezes. “Já ‘possivelmente’ foi escrita em 3 ocasiões, ‘provável’ em 5. Moro utilizou alguns verbos no futuro do pretérito: ‘seria’ aparece 14 vezes; ‘tentar/tentariam’ merecem 16 aparições”.

Ou seja, o piso do decreto de Moro é o texto das vaguidões, das inexistências e dos pretendidos ilusionismos.

Anterior por poucos dias, o outro caso gritante na última semana fez Hélio Schwartsman considerar cabível a hipótese de que, suscitada em momento de ataque mais agudo a Lula, a história de Fernando Henrique com Mirian Dutraemergisse como um chamariz das atenções. Em tal limite, e sem ameaçar suas veracidades, a hipótese é admissível. E, por força, desdobra-se em outra.

Ainda que Sergio Moro, os procuradores e a PF dispusessem de elementos convincentes para a prisão de Santana e Mônica, seria preciso fazê-la com a urgência aplicada? Nenhum fato a justificou. O risco de fuga era zero, já estando ambos no exterior. Mas o problemático assunto das remessas e contas externas de Fernando Henrique foi sufocado com mais facilidade. Não que se pudesse esperar um tal assunto levado a sério: a Procuradoria Geral da República, os procuradores e a Polícia Federal não foram capazes de emitir, dirigida à população como devido, sequer uma palavra a respeito. Mas sempre poderia ocorrer algum desdobramento a exigir mais para sufocá-lo.

Além disso, a oportunidade foi perfeita para o fato consumado de ampliar o alcance de Sergio Moro e da Lava Jato, apesar da duvidosa legalidade do novo alcance. O âmbito legal das ações de Moro e da Lava Jato não inclui eleição, campanhas, Santana, e atividades das empreiteiras fora do sistema Petrobras. Extendê-lo já foi tentado, mas o Supremo Tribunal Federal barrou-o. Mas é por aqui que se pode entender o serviço prestado por tanto “possível” e “possivelmente” e “seria”: misturam o marqueteiro com dinheiro da Petrobras. E com as campanhas de Lula e de Dilma, que assim são postas na jurisdição das ações da Lava Jato e de seu poderoso juiz.

Sergio Moro, os procuradores e policiais federais falaram muito sem dizer o essencial. Mas já se entende parte dele.

FANTASMAS

Não tenho apreço por João Santana. Sua demissão da campanha eleitoral na República Dominicana me parece positiva para os dominicanos. Com isso, porém, a funcionária fantasma de José Serra pode voltar, também, a Brasília. Para ganhar outra vez, que tristeza, só como fantasma do Senado. Um efeito secundário da ação de Sergio Moro.

O QUE ESTÁ POR TRÁS DA DEMISSÃO DO DIRETOR DA VEJA

Eurípides vivia, pelas páginas da revista, anunciando a queda de Dilma. Mas quem caiu foi ele

 

 
por Paulo Nogueira

Muito pouco, muito tarde.

A remoção do diretor da Veja Eurípides Alcântara chegou com anos de atraso, e a rigor não significa quase nada exceto o desespero da Editora Abril.

É como um time de futebol que troca o técnico diante da ameaça do rebaixamento.

O novo diretor, André Petry, embora com uma longa passagem pela Veja no passado, é menos comprometido com o jornalismo criminoso adotado pela revista na Era PT.

Para mudar alguma coisa verdadeiramente você teria que mudar os donos da Abril, os Civitas.

E mesmo assim seria virtualmente impossível reconquistar a credibilidade destruída semana após semana. Recuperar a credibilidade jornalística é como recuperar a virgindade.

Há aspectos financeiros e comerciais no movimento. A Veja de 2016 não tem mais nenhuma condição de pagar o salário de um diretor como Eurípides, promovido nos dias de fausto da Abril.

Também deve ser considerada a esperança de voltar a receber dinheiro do governo mediante publicidade. Depois da capa indecente pró-Aécio no fim de semana da eleição, o Planalto, com fabuloso atraso, parou de anunciar na Veja e na Abril.

Nenhuma empresa jornalística brasileira sobrevive sem o governo, tanto mais na Era Digital. É uma dependência visceral, coisa de bebê com mãe.

Recentemente, um representante da Abril foi a Brasília pedir – suplicar – pelo retorno das verbas suprimidas. A missão foi um fracasso, naturalmente. Como dar dinheiro a uma revista e a uma empresa tão empenhadas num golpe a qualquer preço?

É presumível que a Abril retorne em breve a Brasília para mais uma vez mendigar recursos públicos, mas agora com um “fato novo”, um gesto de boa vontade.

Para que haja alguma chance, por absurdo que seja dar nova oportunidade a uma empresa com uma folha de crimes de tal monta, a Veja teria que ser reinventada imediatamente.

Aí começam os problemas.

O que você faz com os leitores de hoje, que se habituaram a um jornalismo primitivo, manipulador, sob medida para analfabetos políticos ávidos por bater panelas, ir para a Paulista embalados em camisas da seleção e pedir coisas como a volta do regime militar?

O que você faz com símbolos editoriais de tudo isso, como Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes?

Há um toque de comédia em tudo isso. Eurípides vivia, pelas páginas da revista, anunciando a queda de Dilma.

Mas quem caiu foi ele.

Foi, de longe, o pior diretor da Veja. Se ele poderia atribuir a Roberto Civita a linha abjeta da revista, depois da morte do patrão essa desculpa deixou de existir.

Fora um editor inepto e mal-intencionado Eurípides será lembrado como o pai do boimate, a mistura de boi e tomate que a Veja publicou nos anos 1980 ao tomar como verdade uma piada de Primeiro de Abril de uma revista científica americana.

Foi ele que editou essa aberração.

O historiador e colunista britânico Paul Johnson disse que não há nada mais morto que um editor aposentado.

Há sim: um ex-editor canalha.

FHC entregou 100.000 dólares à Brasif para que fosse remetendo valores dessa soma à amante jornalista

Revelações da jornalista Mirian Dutra, de 55 anos, ex-amante do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sacudiram a já convulsionada vida política do Brasil. A jornalista, que atualmente vive em Madri, afirmou que uma empresa, a Brasif S.A. Exportação e Importação, que operava na época, entre outras coisas, as lojas de duty free de vários aeroportos, lhe enviava todos os meses, de 2002 a 2006, cerca de 3.000 dólares mensais em virtude de um contrato falso que, na realidade, era um pagamento encoberto de uma pensão que o ex-presidente dava a Dutra para ajudar na manutenção do filho de ambos, Tomás. O menino nasceu em 1991, fruto de uma relação que o político e a jornalista haviam mantido desde 1985. Em uma entrevista concedida ao jornal Folha de S.Paulo, a jornalista disse que Fernando Henrique Cardoso lhe pediu inclusive que abortasse, mas ela preferiu seguir em frente com a gravidez. “Fui para Portugal e a rede Globo me contratou, mas eu não ganhava o suficiente para manter meus filhos (…) anos depois, quando vivia em Barcelona, me senti exilada porque quis voltar ao Brasil e não me deixaram”.

A autora da entrevista lhe perguntou, então, quem não a deixou, e Dutra responde: “[O então senador] Antônio Carlos Magalhães e seu filho Luis Eduardo Magalhães (aliados políticos de Henrique Cardoso na época) estavam envolvidos na reeleição [do ex-presidente]”. Assim, a história do pagamento começou por meio de uma empresa intermediária para complementar o salário da jornalista na rede Globo.

Segundo explica Dutra, Cardoso, que governou o país de 1995 a 2002, entregou 100.000 dólares à Brasif para que fosse remetendo valores dessa soma à jornalista, à base de 3.000 dólares ao mês. O contrato, reproduzido em parte pela Folha de S.Paulo, especifica que Dutra realizava o “serviço de acompanhamento e análise do mercado de vendas a varejo a viajantes”. A ex-jornalista comenta que “jamais pisou em uma loja” em sua vida para trabalhar. A Brasif confirmou em nota que contratou a jornalista Mirian Dutra e que o ex-presidente não teve qualquer interferência nessa contratação, além de não ter feito depósitos em nenhuma empresa do grupo. Transcrevi trechos de artigo de Antonio Jiménez Barca, in El País, Espanha

A Operação Lava Jato beneficia quem? Juiz Moro a serviço da justiça dos Estados Unidos e dos acionistas estrangeiros

Tenho denunciado que o juiz Moro apelou para o FBI espionar no Lava Jato. Considero um ato de traição. Até hoje não se sabe quantas ações da Petrobras estão em poder de estadunidenses.

Quando Fernando Henrique assumiu a presidência da República, a Petrobras tinha 30 por cento de suas ações vendidas.

Fernando Henrique criou a ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis que entregou ao genro, e vendeu na bolsa de Nova Iorque mais 30 por cento de ações.

Assim, no começo do governo de FHC a maioria das ações da Petrobrás não era mais do governo brasileiro.

Quantas ações mais foram vendidas, seja por Fernando Henrique, Lula e Dilma. Esse entreguismo não interessa a Moro nem aos barões da imprensa. Se Lula e Dilma tivessem vendido, Moro investigaria.

Disse o presidente Evo Morales, da Bolívia, que o Brasil possuía uns 22 por cento das ações.

Além dos bilionários lucros anuais da empresa, esses quase 80 por cento de acionistas desconhecidos, ganham de bônus a sociedade de todo o petróleo e gás que se descobre no Brasil e fora, onde a Petrobras possui concessões de explorações e refinarias.

 

Em nome de uma causa, a Justiça, não se pode vender a Pátria, que está acima da Justiça

Escreve o jornalista André Araújo: A espantosa notícia de que delatores brasileiros da operação Lava Jato vão aos EUA, ajudar a processar a PETROBRAS, com apoio da Justiça brasileira. É impressionante como esse fato não desperta nenhuma indignação na mídia nacional, passa em branco. É a completa perda da noção de PÁTRIA.

A Justiça de um País NÃO PODE ajudar a Justiça de outro País a processar uma empresa do próprio Estado de que faz parte. Nesse momento o Brasil é adversário dos EUA, a relação nesse caso é de litígio entre dois Estados soberanos, não importa as razões do processo, estão em jogo interesses nacionas definidos, os EUA querem extrair da Petrobras e portanto do Brasil o máximo de dinheiro e a Pertrobras e seu acionista controlador, o Estado brasileiro, querem não pagar nada ou pagar o mínimo possivel. Quanto mais forte estiver a acusação pior para o Brasil.

E não venham com essa historia de “acordo de cooperação judiciária”. Acordos desse tipo se destinam a combater o crime organizado, o tráfico de drogas e armas, o terrorismo, NAÕ SE PRESTAM A UM ESTADO PROCESSAR O OUTRO, como um Estado (e a Justiça brasileira faz parte de um Estado) pode ajudar outro Estado a PROCESSA-LO? O Procurador brasileiro quando viaja aos EUA tem sua passagem paga pelo Estado brasileiro, vai lá ajudar a processar o Estado que lhe paga a Passagem? Não faz nenhum sentido. Po incrível que pareça, ninguém na mídia achou isso estranho.

Em nome de uma causa, a Justiça, não se pode vender a Pátria, que está acima da Justiça. A Petrobras é parte do Estado brasileiro, processá-la é processar o Brasil, a conta desses processos vai doer em nossos bolsos e não será pequena.

O Departamento de Justiça pensa em um minimo de US$1,6 bilhão de multa, a SEC em um valor um pouco menor, os acionistas minoritarios, que agora terão a colaboração da ex-gerente da Petrobras Venina Venosa como testemunha

contra a Petrobras, pensam em um mínimo de US$2,5 bilhões para as seis ações coletivas, todas a cargo de advogados abutres especializados e que vão aparelhar suas ações com os processos criminais no Brasil e nos EUA. (Transcrevi trechos)

Mirian Dutra ilumina a engrenagem rapinosa

por Paulo Henrique Amorim

Leblon: o PiG foge desse garimpo porque é parte indissociável da lama

Mirian Dutra abre o quarto de despejo dos anos 90
A cumplicidade entre o dinheiro, a soberba e a mídia contém uma atualidade demolidora. A mídia foge desse garimpo porque é parte indissociável da lama.

Por que só agora que o PT está a um degrau do cadafalso?

A suspeição que o jornalismo tucano consegue balbuciar em meio às alvejantes declarações de Mirian Dutra sobre a parceria público privada para silenciá-la no governo FHC, carrega um efeito bumerangue demolidor.

Pode ser respondida com uma arguição.

‘Quem publicaria antes, a história que furou um cerco de 23 anos de obsequiosa cumplicidade da mídia brasileira com esses acontecimentos, para somente agora vir a público num relato demolidoramente crível? (‘Só eu tenho condições de levar este país’, dizia o príncipe à jovem plebeia, há um mês da conquista).

Mirian Dutra abriu o quartinho de despejo dos anos 90. E mostra o que tem lá dentro.

Sua fala carrega a credibilidade de quem –convencida ou conivente– fez parte do acervo.

O que avulta nessa visitação retrospectiva são os bastidores de um projeto de poder e de interesses que se blindaram para mudar a lógica do desenvolvimento brasileiro.

‘Coveiros do ciclo Vargas’ não era assim que se jactavam aos mercados? Terceirizar o timão brasileiro ao mercado internacional requeria um método para vencer a travessia politicamente espinhosa.

O método, baseado num pacto granítico entre a mídia, os interesses afluentes e o vale tudo ético, é o que guarda o quartinho escuro escancarado agora.

Mirian, num dado momento, tornou-se um cisco no olho guloso do visionário do neo- renascimento bancado pelo capital financeiro global, e que se via como o Micheangelo Buonarroti da Capela Cistina brasileira.

Foi preciso expurga-la. O que se fez com a mesma determinação ética e a coesão grupal dos interesses que se fundiram na travessia preconizada para o país.

Surpreende que a mídia isenta tenha fugido dessa personagem por 23 longos anos, dispensando-lhe uma mordaça de silencio e dissimulação conivente?

Que veículo ou editor da chamada grande mídia teria bancado antes, e com o destaque merecido, a nova e demolidora entrevista concedida pela ex de Fernando Henrique Cardoso, neste final de semana, a um veículo alternativo?

Será necessário lembrar que na anterior, feita pela Folha de São Paulo, perguntas e nominações essenciais envolvendo a mídia foram evitadas?

E que depois disso o veículo dos Frias –cumprida a formalidade das aparências— suprimiu o assunto da primeira página mostrando estranha inapetência investigativa diante de pautas que gritam?

Quais?

Por exemplo, a história do jornalista lobista, já falecido, Fernando Lemos. Personagem expressivamente próximo de FHC, cunhado de Mirian Dutra, foi ele que mediou a participação da Brasif na operação para tirar Mirian do país e assim salvaguardar o tucano de constrangimentos na reeleição.

Lemos fez dinheiro no governo FHC com serviços de consultoria. Muito dinheiro. Participou do círculo estrito do poder que decidia inclusive as campanhas políticas de FH. Sua viúva, Margrit Schmidt, segundo a própria irmã contou ao Diário do Centro do Mundo, possui ‘apartamentos, um terreno em Trancoso que vale ‘um milhão’ e conta no Canadá’.

Mas ainda recebe recursos públicos como funcionária lotada no gabinete de José Serra, onde nunca comparece. Resquícios da ‘modernização’ das capitanias hereditárias pelo avanço neoliberal.

Eterno aspirante à presidência da República, Serra se declara velho amigo e parceiro de ideias da funcionária-fantasma, que brada contra a corrupção e a ‘corja’ do PT’ no facebook. Serra também é amigo muito próximo do pecuarista Jonas Barcellos, que bancou Mirian e ganhou rios de dinheiro com o monopólio dos freeshops no governo do PSDB.

Guarda esse tipo de álbum de recordações o quartinho de despejo dos anos 90 agora entreaberto, mas que a mídia quer lacrar e implodir.

A indiferença ética, o tráfico de influência e a lubrificação do dinheiro público a serviço do interesse particular condensados no episódio Mirian Dutra, não formam, como se vê, um ponto fora da curva no modo tucano de governar as relações entre Estado e mercado; entre capitalismo e democracia, enfim, com papel subalterno ao segundo elemento da equação.

Se pouco disso transparece ainda no debate político, deve-se ao protagonista ubíquo dessa trama.

A mídia figura como o grande Rasputin a coordenar os personagens desse ambiente farsesco em que as aparências não apenas são avalizadas, mas diretamente modeladas, conduzidas mesmo pelo poder midiático até a asfixiante rendição à narrativa pronta nas redações.

Ou Mirian Dutra não foi ‘induzida’ a dizer à Veja a frase para a qual Veja já tinha espaço, lugar e título, antes que a personagem soubesse que sua boca iria emiti-la?

Esse o paradigma da isenção que ordenava e ainda rege o sistema do monopólio emissor consolidado sob as asas do ciclo do PSDB na presidência do Brasil.

O maior conglomerado de comunicação do país e a principal revista semanal do mercado brasileiro –as Organizações Globo e a semanal Veja– não apenas informaram um script conveniente à reeleição de FH.

Elas ajudaram ativamente a produzi-lo –a exemplo do que fez a Folha nos anos 70, quando cedeu carros à repressão.

O tour de force para despachar Mirian é só um exemplo em ponto pequeno do empenho que movimentou grandes massas de interesses para o ciclo privatizante que viria então.

Nenhuma delação extraída pelo método da chantagem coercitiva, tão bem manuseado pela República do Paraná, carrega a delicadeza convincente desse desabafo –ao que tudo indica apenas iniciado—de uma mulher que talvez não tenha mais nada a perder.

Recém demitida pela Globo, Mirian provavelmente perdeu também a mesada que recebia de FHC e viu a relação com o filho ser trincada pela intempestiva intervenção do tucano que –em troca de um DNA polêmico– supriu Tomás com mesada própria, comprou-lhe um apartamento, pagou-lhe os estudos em caras universidades norte-americanas.

A mãe do filho que FHC lhe dizia que não poderia ter em seu nome decidiu agora reagir com o que tem de mais letal: a memória.

Mirian Dutra apenas começou a falar. Parece que tem muito a dizer: ‘Serra eu conheço bem…’, cutucou de relance na última entrevista.

Desde o início desse episódio Carta Maior tem insistido em que as relações entre um homem e uma mulher formam um assunto privado.

Mas a participação da mídia, de concessionárias públicas, bancos estatais e paraísos fiscais no caso fazem dele um tema público.

Foi a cobiça e a ganância econômica que politizaram o encontro entre o sociólogo cinquentão e a jornalista jovem; não o inverso.

A descrição impressionantemente crível, repita-se, do método tucano que Mirian Dutra relata em detalhes dá materialidade a tudo o que o PSDB ora denuncia e atribui aos adversários, sobretudo ao PT.

É um revés de dimensões esfarelantes.

As revelações em conta gotas trazem um olhar de dentro do fastígio das elites no poder nos anos 90.

Um olhar de alguém que circulou nas vísceras do condomínio cristalizado na farra da privatização, quando se desferiu um dos mais virulentos ataques à luta pelo direito a um desenvolvimento justo e soberano.

Conhece-se o custo contábil do desmanche patrimonial que fragilizou a capacidade articuladora do Estado e definhou a governabilidade democrática, subordinada desde então à supremacia dos capitais desregulados.

Abre-se a possibilidade agora de se iluminar o interior da engrenagem rapinosa.

Não para produzir uma arqueologia do revide.

Não para se nivelar ao vale tudo dos que buscam aniquilar as forças e lideranças empenhadas na reversão do desmonte para construir uma democracia social no coração da América Latina.

O que está em jogo não é o passado; é a urgência de se devolver esperança ao futuro.

O passo seguinte do desenvolvimento brasileiro enfrenta uma encruzilhada histórica. Um ciclo de crescimento se esgotou; outro precisa ser repactuado em novas bases.

Muitos dos personagens e interesses econômicos que atuaram no episódio Mirian Dutra – FHC, Organizações Globo, Veja, Jorge Bornhausen, José Serra etc— compõem a linha de frente da ofensiva conservadora atual, determinada a retomar o poder, custe o que custar, para concluir o serviço dos anos 90.

O mapeamento dessas peças do xadrez ganha luminosidade desconcertante nas revelações de Mirian Dutra.

Elas permitem recompor a seta do tempo que une a lógica e a ética dos anos 90 ao projeto intrínseco ao golpismo em 2016 .

Detalhar essa cruzada é uma das tarefas jornalísticas mais importantes do momento.

A ela se debruça Carta Maior na matéria ‘Lei para Todos’, desta edição.

Estão radiografados ali elos explícitos e dissimulados.

É impressionante como os elementos se interligam e convergem, muitas vezes para um mesmo espaço: os paraísos fiscais: FHC, Brasif, negócios e propriedades dos Marinhos, BNDES, lobistas, empresas de fachada, mansões, helicópteros e personagens referenciais da extrema direita brasileira, como Jorge Bornhausen.

O colunismo da indignação seletiva não fará esse garimpo do qual é a parte mais comprometida cascalho.

O ressentimento autoexplicativo de Eliane Cantanhede (‘ que sempre soube dessa história’, fuzilou Mirian Dutra) mostra como o jornalismo ‘isento’ sentiu o golpe de uma peça lateral do acervo, que mobilizou a parte graúda do tabuleiro para ser deslocada há 23 anos, e agora volta ao jogo revirando a mesa.

Ao falar é como se Miriam gritasse: ‘O Rei está nu’.

Não só ele, porém; toda a corte ao seu redor e, sobretudo, o seu projeto de volta ao poder.

Daí o alvoroço dos mensageiros do trono.