Nesta terça-feira (8/3), Dia Internacional da Mulher, as jornalistas da revista IstoÉ divulgaram uma carta de repúdio às ofensas sofridas por Débora Bergamasco, diretora da sucursal de Brasília e autora da matéria “A Delação de Delcídio”, publicada na última quinta (3/3).
Elogio, ressalto, e considero um gesto raro a solidariedade de uma redação, quando um companheiro/ companheira é injustamente demitido ou vítima de difamação. Que o jornalismo é uma profissão desprotegida, pessimamente remunerada, e a liberdade de imprensa continua sendo propriedade do patrão, e não um direito do empregado.
Denuncia a redação da IstoÉ: “Débora Bergamasco tem visto, nos últimos dias, seu esforço jornalístico colocado em xeque em meio a insinuações de ordem moral, sem nenhum fato, testemunho ou dado concreto que fragilize seu trabalho jornalístico. Quantas vezes nós, mulheres, temos de suportar comentários que aproximam nosso desempenho profissional à nossa vida afetiva ou sexual? Por que o trabalho de uma mulher, e da colega Bergamasco em especial, não pode ser julgado pelo próprio mérito, pela reportagem que escreveu? Fofocas, insinuações, difamações e brincadeiras ofensivas ocorrem a todo momento. E não podemos ser coniventes”.
Estranhamente, a carta de solidariedade não faz nenhuma referência à acusação: “O mais novo escândalo sexual de Brasília envolve a diretora da IstoÉ em Brasília, Débora Bergamasco, que abandonou o marido, o jornalista Marcelo Moraes, diretor do Estadão, também em Brasília, para ir viver com José Eduardo Cardozo, então ministro da Justiça.
Débora, antes de ser da IstoÉ, passou uma temporada chefiando a assessoria de imprensa do Ministério da Justiça, ironicamente indicada pelo marido, que foi obrigado a tirá-la do Estadão por conta de sua ação errática como repórter.
Na IstoÉ, Débora foi autora de uma entrevista com Cardozo, de quem já era namorada, chamada ‘A resposta de Cardozo’, feita para isentá-lo das responsabilidades em relação à atuação da PF.
Hoje, Débora Bergamasco publica com exclusividade a delação premiada de Delcídio Amaral, que provavelmente ela já tinha em mãos, graças a sua ligação com Cardozo.
É uma matéria que, apesar de não ter uma única prova que não sejam as falas de, levanta denúncias graves contra Lula e Dilma, e a autora é atual mulher do atual Advogado Geral da União”.
Um jornalista sério não divulga informações obtidas sobre tortura, delação de prisioneiros, ou de pessoas que exigem o anonimato, sem checar todos os envolvidos. E nunca esquecer que toda fonte é interesseira.
Delcídio do Amaral jamais confirmou o conteúdo do “furo” de Bergamasco, que motivou a prisão de Lula, e que a presidente Dilma considerou um prejulgamento.
Portal imprensa publica a seguinte reportagem de Vanessa Gonçalves: Segundo o texto da carta, “a jornalista vem sofrendo ataques constantes e difamatórios a respeito da credibilidade de seu trabalho, apoiados em invenções a respeito de sua vida pessoal”. Segundo elas, “há um machismo travestido de discussão ética nesses atentados que questionam o furo de reportagem”.
À IMPRENSA, Débora diz estar impressionada que em 2016 as pessoas, inclusive da imprensa, ainda acreditem que uma mulher só pode se estabelecer na carreira dependendo da indicação de um homem.
“Trabalho desde os 14 anos, tenho quase vinte anos de carreira e comecei por baixo, sempre trabalhando muito, colocando o trabalho como prioridade na minha vida. É a primeira vez que me vi diante de um machismo desta magnitude”, desabafa.
Para a jornalista, choca ver que as pessoas que a atacam na internet, especialmente nas redes sociais, não contestam a reportagem sobre a delação do senador Delcídio do Amaral, mas questionam sua vida pessoal.
“Não vi contestações sobre a matéria, nenhuma vírgula. Mas tenho certeza, de que se fosse um homem no meu lugar, independentemente da vida privada, duvido que iriam levantar qualquer calúnia e difamação como fizeram comigo. Estão desmoralizando minha pessoa para contestar o que eu escrevi”, diz Débora.
A jornalista diz que apesar da enxurrada de calúnias, só quer voltar a trabalhar com tranquilidade. “Só quero que me deixem trabalhar. Eu me sacrifico muito pelo trabalho. Ninguém chega ao posto de diretora de sucursal de uma revista como a IstoÉ se não for por mérito próprio”.
Decidida, ela garante que não vai deixar se abalar pelas injúrias e espera que outras mulheres vítimas de machismo sigam seu exemplo de enfrentar a situação. “Essas acusações são mentiras e acho absurdo que esteja se especulando, ate na própria imprensa, sobre quem teria sido minha fonte. Tenho legalmente o sigilo da fonte e vou protegê-la até o fim. Fiz um esforço de reportagem, porque é isso que o veículo que me contratou espera de mim. Acima de tudo, sou uma repórter”.
Débora se diz emocionada com a solidariedade das colegas que criaram a carta de repúdio e de tantas outras pessoas que a procuraram para dar apoio, mas afirma que, embora tenha se sentido muito triste e diminuída por conta dos ataques, pretende acionar judicialmente as pessoas que a ofenderam.”Essas coisas que falaram são tão baixas e desqualificadas que realmente eu e meus advogados vamos tomar as medidas legais. Calúnia e difamação são crimes”, conclui.
Leia na íntegra a carta de repúdios da equipe feminina da IstoÉ:
Nós, jornalistas da revista IstoÉ, repudiamos as ofensas contra a diretora da sucursal de Brasília, Débora Bergamasco, autora da matéria “A Delação de Delcídio”, publicada na edição desta semana. A jornalista vem sofrendo ataques constantes e difamatórios a respeito da credibilidade de seu trabalho, apoiados em invenções a respeito de sua vida pessoal.
Há um machismo travestido de discussão ética nesses atentados que questionam o furo de reportagem da nossa colega (http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,vazamento-e-a mae,10000019737).
Débora Bergamasco tem visto, nos últimos dias, seu esforço jornalístico colocado em xeque em meio a insinuações de ordem moral, sem nenhum fato, testemunho ou dado concreto que fragilize seu trabalho jornalístico. Quantas vezes nós, mulheres, temos de suportar comentários que aproximam nosso desempenho profissional à nossa vida afetiva ou sexual? Por que o trabalho de uma mulher, e da colega Bergamasco em especial, não pode ser julgado pelo próprio mérito, pela reportagem que escreveu? Fofocas, insinuações, difamações e brincadeiras ofensivas ocorrem a todo momento. E não podemos ser coniventes.
Deixamos claro, aqui, nosso apoio a Débora Bergamasco e repudiamos qualquer tipo de insinuação machista, grosseira e vergonhosa em relação a ela e ao seu trabalho.
Ana Weiss, Ana Carolina Gandara, Ana Carolina Nunes, Beatriz Marques, Camila Brandalise, Carol Argamim Gouvêa, Célia Almeida, Christiane Pinho, Cinthia Behr, Cintia Oliveira, Elaine Ortiz, Fabíola Perez, Gabriela Araújo, Geovana Pagel, Gisele Vitória, Iara Spina, Kareen Sayuri, Letícia Liñeira, Ludmilla Amaral, Mariana Queiroz Barboza, Marili Hirota, Natália Flach, Paula Bezerra, Renata Valério.