Recife não tem áreas de lazer para o povo.
Governar o Recife é construir os caminhos do shopping, estreitando calçadas e comendo as beiradas das praças. É erguer espigões, roubando o verde dos manguezais.
Recife não tem um passeio público.
Os grileiros, os coronéis do asfalto e a especulação imobiliária acizentam o Recife, com uma arquitetura feia, pesadona, que arranha o céu, e a beleza de uma cidade chamada de Veneza Brasileira.
Quem vai usufruir desse projeto bonito?
Informa a prefeitura do Recife: “As ruínas de um antigo cais, localizado na Avenida Martins de Barros (Santo Antônio), vai se transformar em uma nova área de lazer e contemplação do Rio Capibaribe. A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife deu início, nesta segunda-feira (06), as obras para a implantação do equipamento público chamado Estação Eco-turística Cais do Imperador. O espaço, que também foi utilizado como uma subestação de ônibus elétricos, é considerado histórico e receberá esse nome por ter sido construído em 1859, para o desembarque do Imperador Dom Pedro II e sua família, em visita à cidade.
Orçado em R$ 632 mil, o projeto prevê a recuperação total do espaço e a construção de novos elementos. O Cais do Imperador será formado por uma área aberta para contemplação, um ponto comercial, um posto de informação turística e um econúcleo. No ambiente externo, será realizado um tratamento paisagístico, com grama e árvores nativas, somando 142m2 de área verde. Também haverá um local para pequenas exposições e apresentações culturais. Tudo contará com uma iluminação especial que usará lâmpadas do tipo Led – mais eficientes e econômicas”.
Tudo bonitinho. É mais um espaço público cedido para os grandes negociantes da noite. Informa o Diário de Pernambuco: “O antigo píer será reformado e transformado em um espaço de convivência, com praça, anfiteatro, centros de informação e um ponto gastronômico com telhado verde.
A previsão de duração da obra, iniciada na sexta-feira, é de seis meses. Em um primeiro momento, o cais será um espaço de convivência com 598 m2, sendo 135 m2 para o anfiteatro (palco de apresentações rodeado por uma escadaria que servirá como arquibancada), 62 m2 de praça e 98 m2 do ponto gastronômico. ‘O empresário responsável pelo estabelecimento também terá que arcar os custos de iluminação e manutenção do cais’, pontuou o arquiteto responsável pelo projeto, Romero Pereira.
Posteriormente, o equipamento deve receber um píer para que barcos atraquem no local. O público poderá desembarcar também por via fluvial. Não há previsão para essa etapa ser realizada. Hoje, é possível chegar ao local principalmente usando transporte coletivo. Uma parada de ônibus fica a poucos metros do cais. ‘Essa área estava em desuso, sendo usada como estacionamento. Esperamos que, ao transformá-la num ponto histórico, ela possa trazer um novo olhar para os bairros de São José e Santo Antônio’, destacou o arquiteto.
O investimento vem de recursos de compensação ambiental pagos pelo Colégio Boa Viagem após uma reforma realizada em Área de Preservação Permanente (APP). Desde 2013, empresas que contróem nessas áreas podem fazer a compensação em dinheiro, através de um cálculo feito pela prefeitura levando em consideração o número de árvores desmatadas.

O imóvel em tons de verde que existe atualmente no local será demolido até a sexta-feira. Após a demolição, a prefeitura vai realizar uma seleção pública para escolher a empresa responsável pela gestão do café ou bar e manutenção do espaço. Os dois banheiros localizados nas extremidades do cais serão transformados em dois centros de informações: um ecológico e outro de informações turísticas. Apenas esses pontos serão mantidos pelo poder público”.
É mais um espaço de lazer para quem tem dinheiro.