Intolerável o domínio das finanças sobre os povos

Francisco denuncia o escândalo da especulação sobre os preços alimentares 

  Spiros Derveniotis
Spiros Derveniotis

Não se pode continuar a tolerar que os mercados financeiros governem o destino dos povos, em vez de os servir. E um dos efeitos mais nefastos é o escândalo da especulação sobre os preços alimentares, que se repercute gravemente no acesso à alimentação por parte dos pobres, denunciou o Papa durante o encontro com os participantes num congresso organizado pelo Pontifício Conselho «Justiça e Paz», recebidos na manhã de 16 de junho na sala Clementina.

«É urgente – frisou o Papa – que os Governos do mundo inteiro se comprometam a desenvolver uma ordem internacional capaz de promover o mercado do investimento a alto impacto social, de modo a impedir a economia da exclusão e do descartável».

Cristian Topan
Cristian Topan

‘Investir para os pobres’

O Papa Francisco recebeu em audiência ao fim da manhã desta segunda-feira os participantes no Congresso “Investing for the Poor” (‘Investir para os pobres’), como contribuição na busca de vias atuais e praticáveis para uma maior equidade social.

Nas palavras que lhes dirigiu, o Papa elogia antes de tudo esta iniciativa de investimento responsável e de solidariedade com os pobres e excluídos, que estuda formas inovadoras de investimento que possam trazer benefícios às comunidades locais e ao meio ambiente, para além de um lucro justo.

De fato, o ‘Impact Investor’ configura-se como um investidor consciente da existência de graves situações de iniquidade, profundas desigualdades sociais e dolorosas condições de desvantagem enfrentadas por inteiras populações. Refere-se sobretudo a institutos financeiros que utilizam os recursos para promover o desenvolvimento económico e social das populações pobres, com fundos de investimento destinados a satisfazer necessidades básicas relacionadas com a agricultura, acesso à água, possibilidade de dispor de alojamentos dignos e a preços acessíveis, bem como serviços básicos de saúde e educação.

Além disso, estes investimentos pretendem produzir um impacto social positivo para as populações locais, tais como a criação de postos de trabalho, o acesso à energia, a educação e o crescimento da produtividade agrícola e os retornos financeiros para os investidores são mais baixos em relação a outras tipologias de investimentos. Observou o Papa:

A lógica que impulsiona estas formas inovadoras de intervenção é aquela que “reconhece a ligação original entre lucro e solidariedade, a existência de uma circularidade fecunda entre ganho e dom … A tarefa dos cristãos é redescobrir, viver e anunciar a todos esta preciosa e originária unidade entre lucro e solidariedade. Quanto o mundo contemporâneo precisa de redescobrir esta bela verdade!”

indignados fome

A economia da exclusão e do descarte

O Santo Padre considerou “importante que a ética reencontre o seu espaço na finança e que os mercados se coloquem ao serviço dos interesses dos povos e do bem comum da humanidade.

Não podemos tolerar por mais tempo que sejam os mercados financeiros a governar o destino dos povos, em vez de servir as necessidades destes, ou que alguns poucos prosperem recorrendo à especulação financeira, enquanto que muitos sofrem gravemente as consequências.

A inovação tecnológica  aumentou a velocidade das transacções financeiras, mas esse aumento só encontra sentido na medida em que se demonstra capaz de melhorar a capacidade de servir o bem comum.

Em particular a especulação sobre os preços alimentares é um escândalo que tem graves consequências para o acesso dos mais pobres à alimentação. É urgente que os Governos de todo o mundo se empenhem em desenvolver um quadro internacional susceptível de promover o mercado do investimento com elevado impacto social, de modo a contrastar a economia da exclusão e do descarte”.

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Papa Francisco: Quando o Filho de Deus Se fez homem, escolheu um caminho de pobreza, de despojamento. É o mistério que contemplamos no presépio, vendo o Filho de Deus numa manjedoura; e mais tarde na cruz, onde o despojamento chega ao seu ápice

Procuremos compreender o que significa «pobres em espírito». Quando o Filho de Deus Se fez homem, escolheu um caminho de pobreza, de despojamento. Como diz São Paulo, na Carta aos Filipenses: «Tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo e tornando-Se semelhante aos homens» (2, 5-7). Jesus é Deus que Se despoja da sua glória. Vemos aqui a escolha da pobreza feita por Deus: sendo rico, fez-Se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). É o mistério que contemplamos no presépio, vendo o Filho de Deus numa manjedoura; e mais tarde na cruz, onde o despojamento chega ao seu ápice.

O adjectivo grego ptochós (pobre) não tem um significado apenas material, mas quer dizer «mendigo». Há que o ligar com o conceito hebraico de anawim (os «pobres de Iahweh»), que evoca humildade, consciência dos próprios limites, da própria condição existencial de pobreza. Os anawim confiam no Senhor, sabem que dependem d’Ele.

Como justamente soube ver Santa Teresa do Menino Jesus, Cristo na sua Encarnação apresenta-Se como um mendigo, um necessitado em busca de amor. O Catecismo da Igreja Católica fala do homem como dum «mendigo de Deus»

 

 

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
PARA A XXIX JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

(Domingo de Ramos, 13 de Abril de 2014)

 

«Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3)

 

Queridos jovens,

Permanece gravado na minha memória o encontro extraordinário que vivemos no Rio de Janeiro, na XXVIII Jornada Mundial da Juventude: uma grande festa da fé e da fraternidade. A boa gente brasileira acolheu-nos de braços escancarados, como a estátua de Cristo Redentor que domina, do alto do Corcovado, o magnífico cenário da praia de Copacabana. Nas margens do mar, Jesus fez ouvir de novo a sua chamada para que cada um de nós se torne seu discípulo missionário, O descubra como o tesouro mais precioso da própria vida e partilhe esta riqueza com os outros, próximos e distantes, até às extremas periferias geográficas e existenciais do nosso tempo.

A próxima etapa da peregrinação intercontinental dos jovens será em Cracóvia, em 2016. Para cadenciar o nosso caminho, gostaria nos próximos três anos de reflectir, juntamente convosco, sobre as Bem-aventuranças que lemos no Evangelho de São Mateus (5, 1-12). Começaremos este ano meditando sobre a primeira: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3); para 2015, proponho: «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5, 8); e finalmente, em 2016, o tema será: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7).

1. A força revolucionária das Bem-aventuranças

É-nos sempre muito útil ler e meditar as Bem-aventuranças! Jesus proclamou-as no seu primeiro grande sermão, feito na margem do lago da Galileia. Havia uma multidão imensa e Ele, para ensinar os seus discípulos, subiu a um monte; por isso é chamado o «sermão da montanha». Na Bíblia, o monte é visto como lugar onde Deus Se revela; pregando sobre o monte, Jesus apresenta-Se como mestre divino, como novo Moisés. E que prega Ele? Jesus prega o caminho da vida; aquele caminho que Ele mesmo percorre, ou melhor, que é Ele mesmo, e propõe-no como caminho da verdadeira felicidade. Em toda a sua vida, desde o nascimento na gruta de Belém até à morte na cruz e à ressurreição, Jesus encarnou as Bem-aventuranças. Todas as promessas do Reino de Deus se cumpriram n’Ele.

Ao proclamar as Bem-aventuranças, Jesus convida-nos a segui-Lo, a percorrer com Ele o caminho do amor, o único que conduz à vida eterna. Não é uma estrada fácil, mas o Senhor assegura-nos a sua graça e nunca nos deixa sozinhos. Na nossa vida, há pobreza, aflições, humilhações, luta pela justiça, esforço da conversão quotidiana, combates para viver a vocação à santidade, perseguições e muitos outros desafios. Mas, se abrirmos a porta a Jesus, se deixarmos que Ele esteja dentro da nossa história, se partilharmos com Ele as alegrias e os sofrimentos, experimentaremos uma paz e uma alegria que só Deus, amor infinito, pode dar.

As Bem-aventuranças de Jesus são portadoras duma novidade revolucionária, dum modelo de felicidade oposto àquele que habitualmente é transmitido pelos mass media, pelo pensamento dominante. Para a mentalidade do mundo, é um escândalo que Deus tenha vindo para Se fazer um de nós, que tenha morrido numa cruz. Na lógica deste mundo, aqueles que Jesus proclama felizes são considerados «perdedores», fracos. Ao invés, exalta-se o sucesso a todo o custo, o bem-estar, a arrogância do poder, a afirmação própria em detrimento dos outros.

Queridos jovens, Jesus interpela-nos para que respondamos à sua proposta de vida, para que decidamos qual estrada queremos seguir a fim de chegar à verdadeira alegria. Trata-se dum grande desafio de fé. Jesus não teve medo de perguntar aos seus discípulos se verdadeiramente queriam segui-Lo ou preferiam ir por outros caminhos (cf. Jo 6, 67). E Simão, denominado Pedro, teve a coragem de responder: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna» (Jo 6, 68). Se souberdes, vós também, dizer «sim» a Jesus, a vossa vida jovem encher-se-á de significado, e assim será fecunda.

2. A coragem da felicidade

O termo grego usado no Evangelho é makarioi, «bem-aventurados». E «bem-aventurados» quer dizer felizes. Mas dizei-me: vós aspirais deveras à felicidade? Num tempo em que se é atraído por tantas aparências de felicidade, corre-se o risco de contentar-se com pouco, com uma ideia «pequena» da vida. Vós, pelo contrário, aspirai a coisas grandes! Ampliai os vossos corações! Como dizia o Beato Pierjorge Frassati, «viver sem uma fé, sem um património a defender, sem sustentar numa luta contínua a verdade, não é viver, mas ir vivendo. Não devemos jamais ir vivendo, mas viver» (Carta a I. Bonini, 27 de Fevereiro de 1925). Em 20 de Maio de 1990, no dia da sua beatificação, João Paulo II chamou-lhe «homem das Bem-aventuranças» (Homilia na Santa Missa: AAS 82 [1990], 1518).

Se verdadeiramente fizerdes emergir as aspirações mais profundas do vosso coração, dar-vos-eis conta de que, em vós, há um desejo inextinguível de felicidade, e isto permitir-vos-á desmascarar e rejeitar as numerosas ofertas «a baixo preço» que encontrais ao vosso redor. Quando procuramos o sucesso, o prazer, a riqueza de modo egoísta e idolatrando-os, podemos experimentar também momentos de inebriamento, uma falsa sensação de satisfação; mas, no fim de contas, tornamo-nos escravos, nunca estamos satisfeitos, sentimo-nos impelidos a buscar sempre mais. É muito triste ver uma juventude «saciada», mas fraca.

Escrevendo aos jovens, São João dizia: «Vós sois fortes, a palavra de Deus permanece em vós e vós vencestes o Maligno» (1 Jo 2, 14). Os jovens que escolhem Cristo são fortes, nutrem-se da sua Palavra e não se «empanturram» com outras coisas. Tende a coragem de ir contra a corrente. Tende a coragem da verdadeira felicidade! Dizei não à cultura do provisório, da superficialidade e do descartável, que não vos considera capazes de assumir responsabilidades e enfrentar os grandes desafios da vida.

3. Felizes os pobres em espírito…

A primeira Bem-aventurança, tema da próxima Jornada Mundial da Juventude, declara felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. Num tempo em que muitas pessoas penam por causa da crise económica, pode parecer inoportuno acostar pobreza e felicidade. Em que sentido podemos conceber a pobreza como uma bênção?

Em primeiro lugar, procuremos compreender o que significa «pobres em espírito». Quando o Filho de Deus Se fez homem, escolheu um caminho de pobreza, de despojamento. Como diz São Paulo, na Carta aos Filipenses: «Tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo e tornando-Se semelhante aos homens» (2, 5-7). Jesus é Deus que Se despoja da sua glória. Vemos aqui a escolha da pobreza feita por Deus: sendo rico, fez-Se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). É o mistério que contemplamos no presépio, vendo o Filho de Deus numa manjedoura; e mais tarde na cruz, onde o despojamento chega ao seu ápice.

O adjectivo grego ptochós (pobre) não tem um significado apenas material, mas quer dizer «mendigo». Há que o ligar com o conceito hebraico de anawim (os «pobres de Iahweh»), que evoca humildade, consciência dos próprios limites, da própria condição existencial de pobreza. Os anawim confiam no Senhor, sabem que dependem d’Ele.

Como justamente soube ver Santa Teresa do Menino Jesus, Cristo na sua Encarnação apresenta-Se como um mendigo, um necessitado em busca de amor. O Catecismo da Igreja Católica fala do homem como dum «mendigo de Deus» (n. 2559) e diz-nos que a oração é o encontro da sede de Deus com a nossa (n. 2560).

São Francisco de Assis compreendeu muito bem o segredo da Bem-aventurança dos pobres em espírito. De facto, quando Jesus lhe falou na pessoa do leproso e no Crucifixo, ele reconheceu a grandeza de Deus e a própria condição de humildade. Na sua oração, o Poverello passava horas e horas a perguntar ao Senhor: «Quem és Tu? Quem sou eu?» Despojou-se duma vida abastada e leviana, para desposar a «Senhora Pobreza», a fim de imitar Jesus e seguir o Evangelho à letra. Francisco viveu a imitação de Cristo pobre e o amor pelos pobres de modo indivisível, como as duas faces duma mesma moeda.

Posto isto, poder-me-íeis perguntar: Mas, em concreto, como é possível fazer com que esta pobreza em espírito se transforme em estilo de vida, incida concretamente na nossa existência? Respondo-vos em três pontos.

Antes de mais nada, procurai ser livres em relação às coisas. O Senhor chama-nos a um estilo de vida evangélico caracterizado pela sobriedade, chama-nos a não ceder à cultura do consumo. Trata-se de buscar a essencialidade, aprender a despojarmo-nos de tantas coisas supérfluas e inúteis que nos sufocam. Desprendamo-nos da ambição de possuir, do dinheiro idolatrado e depois esbanjado. No primeiro lugar, coloquemos Jesus. Ele pode libertar-nos das idolatrias que nos tornam escravos. Confiai em Deus, queridos jovens! Ele conhece-nos, ama-nos e nunca se esquece de nós. Como provê aos lírios do campo (cf. Mt 6, 28), também não deixará que nos falte nada! Mesmo para superar a crise económica, é preciso estar prontos a mudar o estilo de vida, a evitar tantos desperdícios. Como é necessária a coragem da felicidade, também é precisa a coragem da sobriedade.

Em segundo lugar, para viver esta Bem-aventurança todos necessitamos de conversão em relação aos pobres. Devemos cuidar deles, ser sensíveis às suas carências espirituais e materiais. A vós, jovens, confio de modo particular a tarefa de colocar a solidariedade no centro da cultura humana. Perante antigas e novas formas de pobreza – o desemprego, a emigração, muitas dependências dos mais variados tipos –, temos o dever de permanecer vigilantes e conscientes, vencendo a tentação da indiferença. Pensemos também naqueles que não se sentem amados, não olham com esperança o futuro, renunciam a comprometer-se na vida porque se sentem desanimados, desiludidos, temerosos. Devemos aprender a estar com os pobres. Não nos limitemos a pronunciar belas palavras sobre os pobres! Mas encontremo-los, fixemo-los olhos nos olhos, ouçamo-los. Para nós, os pobres são uma oportunidade concreta de encontrar o próprio Cristo, de tocar a sua carne sofredora.

Mas – e chegamos ao terceiro ponto – os pobres não são pessoas a quem podemos apenas dar qualquer coisa. Eles têm tanto para nos oferecer, para nos ensinar. Muito temos nós a aprender da sabedoria dos pobres! Pensai que um Santo do século XVIII, Bento José Labre – dormia pelas ruas de Roma e vivia das esmolas da gente –, tornara-se conselheiro espiritual de muitas pessoas, incluindo nobres e prelados. De certo modo, os pobres são uma espécie de mestres para nós. Ensinam-nos que uma pessoa não vale por aquilo que possui, pelo montante que tem na conta bancária. Um pobre, uma pessoa sem bens materiais, conserva sempre a sua dignidade. Os pobres podem ensinar-nos muito também sobre a humildade e a confiança em Deus. Na parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc 18, 9-14), Jesus propõe este último como modelo, porque é humilde e se reconhece pecador. E a própria viúva, que lança duas moedinhas no tesouro do templo, é exemplo da generosidade de quem, mesmo tendo pouco ou nada, dá tudo (Lc 21, 1-4).

4. … porque deles é o Reino do Céu

Tema central no Evangelho de Jesus é o Reino de Deus. Jesus é o Reino de Deus em pessoa, é o Emanuel, Deus connosco. E é no coração do homem que se estabelece e cresce o Reino, o domínio de Deus. O Reino é, simultaneamente, dom e promessa. Já nos foi dado em Jesus, mas deve ainda realizar-se em plenitude. Por isso rezamos ao Pai cada dia: «Venha a nós o vosso Reino».

Há uma ligação profunda entre pobreza e evangelização, entre o tema da última Jornada Mundial da Juventude – «Ide e fazei discípulos entre todas as nações» (Mt 28, 19) – e o tema deste ano: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3). O Senhor quer uma Igreja pobre, que evangelize os pobres. Jesus, quando enviou os Doze em missão, disse-lhes: «Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado; pois o trabalhador merece o seu sustento» (Mt 10, 9-10). A pobreza evangélica é condição fundamental para que o Reino de Deus se estenda. As alegrias mais belas e espontâneas que vi ao longo da minha vida eram de pessoas pobres que tinham pouco a que se agarrar. A evangelização, no nosso tempo, só será possível por contágio de alegria.

Como vimos, a Bem-aventurança dos pobres em espírito orienta a nossa relação com Deus, com os bens materiais e com os pobres. À vista do exemplo e das palavras de Jesus, damo-nos conta da grande necessidade que temos de conversão, de fazer com que a lógica do ser mais prevaleça sobre a lógica do ter mais. Os Santos são quem mais nos pode ajudar a compreender o significado profundo das Bem-aventuranças. Neste sentido, a canonização de João Paulo II , no segundo domingo de Páscoa, é um acontecimento que enche o nosso coração de alegria. Ele será o grande patrono das Jornadas Mundiais da Juventude, de que foi o iniciador e impulsionador. E, na comunhão dos Santos, continuará a ser, para todos vós, um pai e um amigo.

No próximo mês de Abril, tem lugar também o trigésimo aniversário da entrega aos jovens da Cruz do Jubileu da Redenção. Foi precisamente a partir daquele acto simbólico de João Paulo II que principiou a grande peregrinação juvenil que, desde então, continua a atravessar os cinco continentes. Muitos recordam as palavras com que, no domingo de Páscoa do ano 1984, o Papa acompanhou o seu gesto: «Caríssimos jovens, no termo do Ano Santo, confio-vos o próprio sinal deste Ano Jubilar: a Cruz de Cristo! Levai-a ao mundo como sinal do amor do Senhor Jesus pela humanidade, e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção».

Queridos jovens, o Magnificat, o cântico de Maria, pobre em espírito, é também o canto de quem vive as Bem-aventuranças. A alegria do Evangelho brota dum coração pobre, que sabe exultar e maravilhar-se com as obras de Deus, como o coração da Virgem, que todas as gerações chamam «bem-aventurada» (cf. Lc 1, 48). Que Ela, a mãe dos pobres e a estrela da nova evangelização, nos ajude a viver o Evangelho, a encarnar as Bem-aventuranças na nossa vida, a ter a coragem da felicidade.

Vaticano, 21 de Janeiro – Memória de Santa Inês, virgem e mártir – de 2014.

 

FRANCISCO

 

Além do capitalismo

O cardeal Reinhard Marx sobre a Evangelii gaudium

«A Evangelii gaudium é uma declaração de governo espiritual, um documento cheio de dinamismo positivo e de encorajamento a testemunhar o Evangelho.

Até os mass media leigos acolheram o texto com grande atenção, fazendo referência de modo especial aos aspectos ético-sociais. O debate mundial sobre estas afirmações do Santo padre continua a ser intenso».

Afirma Reinhard Marx num artigo que analisa o impacto da exortação apostólica do Papa Francisco. O apelo a pensar além do capitalismo – acrescenta Marx – não é uma luta contra a economia de mercado ou uma renúncia a qualquer razão econômica, mas precisamente face à crise real do capitalismo, uma intervenção importante e necessária do Papa, um convite a reorganizar as prioridades e a ver o mundo como compromisso de construção, que deve ser assumido livremente e com responsabilidade.

O futuro não é o capitalismo, mas uma comunidade mundial, que deixe cada vez mais espaço ao modelo de uma liberdade responsável e que não aceite que povos, grupos, e indivíduos sejam excluídos e marginalizados. É realmente uma coisa muito errada e fora do mundo?

Nayer
Nayer

Brasil desembolsa com juros quase o que gasta com Educação e Saúde

 

por Pedro do Coutto
No balanço publicado no Diário Oficial, edição de 30 de agosto, sobre a execução orçamentária nos primeiros oito meses do ano e previsão feita para todo exercício de 2013, a Secretaria do Tesouro Nacional revela que as despesas com o pagamento de juros pela rolagem da dívida interna vão atingir, em dezembro, o total de 187 bilhões de reais. Paralelamente, os gastos com Educação e Saúde vão alcançar o montante de 195,3    bilhões: 98,7 bilhões para a saúde, 96,6 para a Educação. O balanço está assinado pelo subsecretário do Tesouro, Gilvan da Silva Dantas.
As despesas com o pagamento de juros (atualmente na escala de 9% a/a) revelam que a dívida interna, portanto, está ultrapassando a casa dos 2 trilhões de reais. É só fazer as contas. O endividamento, que não inclui os compromissos externos, está crescendo acentuadamente. Há cerca de dois anos atingia 1 trilhão e 500 bilhões. O crescimento da dívida está avançando mais do que as despesas com Saúde e Educação, setores essenciais à existência humana e ao desempenho social do próprio país. Isso de um lado. De outro, mostra que o montante da dívida está se aproximando do total do orçamento federal, fixado em 2,2 trilhões de reais para este ano. Não confundir com o Produto Interno Bruto, projetado, como O Globo revelou na edição de 22 de setembro, reportagem de Luciana Carneiro, em 2,2 trilhões de dólares, portanto algo em torno de 4,6 trilhões de reais.
O desembolso com o pagamento dos juros (em nível superior ao da inflação apurada pelo IBGE) aproxima-se também dos gastos com o funcionalismo civil e militar da União, orçados em 206 bilhões, incluindo aposentados, reformados e pensionistas. Os encargos com o pagamento de juros destinam-se aos Bancos, especialmente Itaú, Bradesco e Banco do Brasil, contribuindo assim para uma maior concentração de renda no país, uma vez que, na realidade, os Bancos não são devedores da taxa Selic de 9%, são credores. Ilusão pensar o contrário. Utilizando inclusive, por fontes de divulgação do governo. Uma contradição.
É por essas e outras, como demonstrou Luciana Carneiro naquela edição de O Globo, que se consolida o processo de concentração de renda em nosso país. Basta considerar, como foi publicado que, apesar de ser a sétima economia do mundo em matéria de PIB, ocupamos o 51º lugar no que se refere à renda per capita; PIB dividido pelo número de habitantes. A renda per capita brasileira, por ano, é de 11,3 mil dólares. Abaixo da per capita da Argentina que é de 11,5 mil dólares.
ATRASO SOCIAL
E nosso atraso social, decorrente da concentração de renda, está fortemente refletido na colocação em matéria de qualidade de vida: estamos no 85º lugar. Nosso Índice de Desenvolvimento Humano é muito abaixo, nos encontramos bem aquém da média mundial. Em compensação, para pior, somos o 11º país em matéria de pagamento de impostos. Nossa carga tributária alcança 36% dos rendimentos do trabalho humano.
O fato é que, mantida a atual política de juros, não só a taxa Selic, mas as taxas cobradas pelos Bancos e Cartões de Crédito, a renda vai se concentrar cada vez mais. Basta lembrar que, nos créditos pessoais a rede bancária cobra 2,5% ao mês para uma inflação anual de 6%. E que os cartões de crédito, no refinanciamento de débitos, cobram de 7 a 8%, ao mês. A população vai se endividando cada vez mais e, cada vez menos, pode sair do sistema que, aparentemente, lhe oferece  vantagens. Mas, na verdade, a aprisiona. A propaganda é sempre sedutora. Na hora de pagar é que são elas, como se diz por aí.
 (Transcrito da Tribuna da Imprensa)
banqueiro suicídio crise banco

Degredado centro das capitais repleto de prédios vazios, e o povo sem teto e sem vida

Pobreza na Europa não tem a mesma fome, nem a mesma roupa, nem o mesmo teto que no Brasil. O pobre da Espanha é a classe média de Lula. Veja a diferença nas invasões de prédios vazios

SEM TETO NA ESPANHA

 

 

Trinta famílias ocupam prédio vazio em Sevilha. Veja galeria de fotos.

SEM TETO NO BRASIL

BAHIA. Sebástian Liste retratou o cotidiano de 60 famílias que vivem em uma fábrica de chocolates abandonada, em Salvador. A fábrica é conhecida como “Galpão da Araújo Barreto”, e abriga as famílias – que moravam nas ruas – há sete anos.

CENTRO DO RIO DE JANEIRO. Na ex-Cidade Maravilhosa, uma centena de sem teto, entre homens, mulheres – algumas grávidas – e crianças, ocupou um prédio do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), abandonado há 20 anos, e a mundiça foi desalojada pela polícia do governador Sérgio Cabral.
SÃO PAULO. Dois mil sem teto fazem mutirão para limpar quatro prédios abandonados no centro de Sampa. Um dos edifícios pertence ao INSS. Mas logo apareceu a polícia de Alckmin. Que a justiça brasileira continua rápida na assinatura de despejos. A mesma velocidade dos habeas corpus assinados nas coxas para os Daniel Dantas.