A última denúncia de propina paga a Eduardo Cunha motivou ele abrir processo de cassação de Dilma

Uma anotação apreendida pela Procuradoria-Geral da República (PGR), encontrada pela Polícia Federal na casa de Diogo Ferreira, chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral, mostra que o banco BTG Pactual pagou uma quantia de R$ 45 milhões ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

O documento em que foi encontrada a anotação foi usado pela PGR para prender o banqueiro André Esteves.

Mas não serve para prender Cunha.

Na anotação, o seguinte texto: “Em troca de uma emenda à Medida Provisória número 608, o BTG Pactual, proprietário da massa falida do banco Bamerindus, o qual estava interessado em utilizar os créditos fiscais da tal massa, pagou ao deputado Eduardo Cunha a quantia de R$ 45 milhões”.

Aprovada em 2013, a Medida Provisória número 608 permite a extinção de dívidas de bancos ou sua conversão em ações quando julgar ser preciso preservar o “regular funcionamento do sistema financeiro” pelo Banco Central, segundo critérios estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional.

 

 

 

Partido que votou na doação de empresas para as campanhas eleitorais queria continuar faturando bilhões do caixa 2

Empresa que doa dinheiro a político tinha retorno de 750%

congresso votou fanciamento

Cada R$ 1 investido em candidato gera R$ 8,50 para empresa se ele for eleito, indica estudo

Os legisladores viram lobistas, e os prefeitos e governadores superfaturam obras e serviços

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Os políticos corruptos e partidos podres votaram na Câmara dos Deputados e no Senado Federal pelo financiamento das campanhas eleitorais. Os mesmos bandos votaram pela tercerização do emprego e contra a CPMF, o imposto que pega sonegadores e outros ladrões.

R7– Após as manifestações de junho, o debate em torno da reforma política dominou o noticiário do País e o financiamento das campanhas políticas se tornou um dos principais temas da discussão. Um estudo feito no Brasil pelo Instituto Kellogg, dos Estados Unidos, indica que as empresas que doam dinheiro para campanhas eleitorais têm um retorno de até 750% em cima do valor que investiram no candidato.

Idealizador da Lei da Ficha Limpa, que impede a participação de candidatos condenados criminalmente em tribunais colegiados, o juiz eleitoral Márlon Jacinto Reis é um dos criadores do movimento de combate à corrupção. Reis, que também é diretor do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), afirma que o negócio é lucrativo para empresas que investem em políticos.

— Há uma pesquisa do Instituto Kelloggs no Brasil que mostra que a cada R$ 1 investido nas campanhas [políticas] há um retorno em contratos públicos da ordem de R$ 8,50. É o melhor negócio que conheço até agora. É melhor do que vender água.

Nesta semana, o MCCE se encontrou com a presidente Dilma Rousseff em Brasília para expor os pontos da “Campanha Eleições Limpas”. O projeto prevê o fim do financiamento de campanhas eleitorais por empresas privadas, limite para doação de pessoa física para partidos e eleição para o Legislativo em dois turnos, com a escolha dos partidos no primeiro e dos candidatos propriamente ditos no segundo.

O brasileiro, quando vai às urnas, não escolhe o candidato por ideologia ou pelas propostas de governo que oferece ao eleitor, explica Reis. O processo eleitoral atualmente está focado basicamente em dinheiro, segundo o juiz de direito.

— O começo da coisa [campanha eleitoral] hoje tem a ver com um binômio: dinheiro, que movimenta as eleições; e a maneira como as campanhas são conduzidas, com que as candidaturas são apresentadas. No primeiro ponto, nós identificamos como imprescindível proibir doações empresariais porque o dinheiro usado para comprar votos e para praticar as distorções do processo tem uma origem e precisamos nos preocupar com essa origem. Temos eleições caríssimas, mais caras que a maior parte das democracias.

As eleições de 2010, que escolheram o presidente da República, custaram R$ 4,9 bilhões em financiamentos, de acordo com Reis. As principais doadoras para campanhas são corporações ligadas à construção civil, mineração e bancos. Em comum, todas fornecem produtos e serviços para governos federal, estaduais e municipais, ressalta o juiz eleitoral.

— [Para chegar a esse cálculo], pega-se apenas o financiamento declarado e mesmo assim é um absurdo. Apenas dez empresas, nas últimas cinco eleições, doaram R$ 1 bilhão. Temos uma presença maciça das empreiteras, seguidas pelos bancos no processo de doação. Depois temos outros grupos ligados, de mineração por exemplo. Estão sempre ligados a setores que contratam diretamente com o poder público. São grupos que estão interessados em interferir na Comissão Mista de Orçamento para definir para onde vai o dinheiro.

Após tantas críticas ao financiamento de campanha por empresas particulares, a principal proposta apresentada para controlar o repasse de dinheiro é vetar a doação de dinheiro por empresas e liberar apenas para pessoas físicas. Para o MCCE, o teto seria o valor de um salário mínimo, ou seja, R$ 678 por pessoa.

O financiamento de campanha seria um dos pontos tratados no plebiscito, sugerido pela presidente Dilma Rousseff, mas a proposta de consulta popular não decolou no Congresso Nacional. A ideia é que a nova regra já valesse nas eleições de 2014.

Conforme as regras atuais, qualquer pessoa ou empresa pode dar dinheiro para partidos ou candidatos realizarem suas propagandas eleitorais. Bancos, empreiteiras e empresas de mineração estão entre as organizações que mais investem em políticos.

Para que as mudanças propostas pelo MCCE valessem já nas eleições de 2014, seria necessário que os parlamentares apreciassem e votassem o Projeto de Lei Ordinário até o próximo dia 5 de outubro — exatamente um ano antes das eleições. Cerca de 130 deputados já manifestaram apoio à causa. No entanto, o próprio MCCE admite ser difícil que o texto seja analisado ainda neste ano.

Veja a lista dos deputados que votaram pelo financiamento empresarial das campanhas aqui

senado veta

SILVIO COSTA: CUNHA RECEBEU US$ 5 MILHÕES EM PROPINA. TEM QUE SE EXPLICAR AO POVO

Sílvio Costa Eduardo Cunha

Por Gisele Federicce, 247 – Em uma nova saraivada de críticas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado federal Silvio Costa (PSC-PE) afirmou, em entrevista ao 247, que o peemedebista deve explicações ao povo brasileiro a respeito da denúncia de que recebeu US$ 5 milhões em propina, de acordo com Júlio Camargo, delator na Operação Lava Jato.

“Sugiro até a ele que mude o pronunciamento em cadeia nacional, para que aproveite e explique essa delação”, disse Silvio Costa, na noite desta quinta-feira 16. O deputado discordou da declaração de Cunha, feita a jornalistas durante balanço do semestre legislativo, de que o Congresso voltaria “mais duro” contra o governo Dilma após o recesso. “Quem vai voltar mais raivoso é ele. Eu não vejo esse clima aqui no Congresso”, disse.

cunha protesto

Silvio Costa se mostrou irritado com a informação de que Cunha consulta juristas sobre um pedido de impeachment contra a presidente, feito à Câmara pelo Movimento Brasil Livre. “Eu não acredito que Eduardo Cunha tenha tido a petulância de pedir uma avaliação jurídica para isso. Ele sabe que não existem motivos jurídicos para um impeachment”, afirmou. Para o deputado, o gesto demonstra “irresponsabilidade” de Cunha. “Ele está trabalhando contra o País”, protestou.

Confira abaixo a entrevista:

O senhor é um duro crítico da gestão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Como vê essa denúncia contra ele, de que recebeu US$ 5 milhões em propina?

De qualquer forma você tem que entender que no artigo 5º da Constituição, inciso 52, existe um princípio da presunção de inocência. Por outro lado, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal são instituições profundamente respeitadas no Brasil. Então essas instituições evidentemente estão investigando e, é claro, o deputado Eduardo Cunha vai ter que dar as explicações que o povo brasileiro vai querer ouvir. Sugiro até a ele que mude o pronunciamento amanhã à noite, em cadeia nacional, que aproveite e explique essa delação, é uma oportunidade para ele se explicar.

A denúncia tira as condições de ele se manter no cargo?

Ele já não tinha condição de estar no cargo desde o início, por isso não votei nele, votei no [Arlindo] Chinaglia (PT-SP).

Durante o balanço do semestre legislativo nesta quinta, o Cunha disse acreditar que o Congresso deverá voltar “mais duro” após o recesso, no sentido de estar mais crítico ao governo. O senhor concorda?

Olha, Eduardo Cunha não pode falar em nome do Congresso. Acho que cada dia ele está falando menos, inclusive em nome do partido dele, que está dividido em relação a ele. Quem fala em nome do Congresso é Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele representa a Câmara, mas não pode transformar um desejo pessoal numa performance do Congresso, da Câmara. Eu não vejo isso não, pelo contrário, ele tem que se preocupar, como presidente da Casa, em dar explicação aos seus pares e ao povo.

cunha shopping câmara congresso

Mas então o senhor discorda que o Congresso deve voltar mais raivoso?

Quem vai voltar mais raivoso é ele, eu não estou vendo esse ambiente aqui no Congresso. Pelo contrário, a economia dá sinais de que o segundo semestre vai ser melhor. Todo mundo sabe que a presidente Dilma é uma pessoa digna, correta. Está viajando para a Rússia, para os Estados Unidos, buscando investidores. A oposição termina o semestre de forma muito pequena, menor. De um lado o [governador de São Paulo, Geraldo] Alckmin se movimenta para ser candidato, de outro, Aécio [Neves] com raiva. O PSDB está realmente sem discurso, só faz brigar o tempo todo. E as críticas que eles fazem ao governo Dilma são inconsistentes.

O presidente da Câmara também disse a jornalistas que consultou juristas sobre um pedido de impeachment feito pelo Movimento Brasil Livre à Câmara…

Ele disse isso? Eu não acredito que Eduardo Cunha tenha tido a petulância de pedir uma avaliação jurídica pra isso. Ele sabe que não existem motivos jurídicos para um impeachment. Sabe que na Constituição da República, o impeachment só pode valer se o presidente cometeu um equívoco no mandato atual. Mesmo que no TCU – aliás, nunca vi fazer um barulho desses em um julgamento de contas – reprove as contas do governo, a última palavra é do Congresso. E mesmo que o Congresso reprove – e é claro que não vai reprovar – isso não seria motivo para impeachment. Segundo o TSE, as contas da presidente Dilma já foram julgadas e aprovadas, se não ela não teria sido diplomada. Então isso é irresponsabilidade dele, se ele admitiu isso, isso é irresponsabilidade, trabalhar contra o País. Porque um presidente de uma Câmara a dizer uma frase dessa, ele prejudica o País na comunidade internacional.

Ele também declarou que o PMDB “não aguenta mais” a aliança com o PT.

Cunha vem com mágoa do PT desde que o PT lançou candidato à Presidência da Câmara. Desde aquele momento, ele vem acirrando com o PT. Eu não sou do PT, mas acho que ele está sendo muito injusto com o PT. Quando terminou a eleição, o PT desarmou o palanque, ele é que está com o palanque armado até hoje. Ele queria ser candidato único.

E em relação ao governo Dilma, ele se utiliza da oposição e a oposição se utiliza dele. Essa sinergia que está havendo… por exemplo, ele foi para a Rússia e levou vários deputados da oposição. Evidentemente que eles não foram conversar apenas sobre a Câmara Federal. É claro que essa viagem tem um simbolismo político. Ele diz à oposição o seguinte: ‘me dê segurança, fiquem comigo que eu vou peitar a Dilma. Ele utiliza a oposição para peitar o governo. Por outro lado, se utiliza do governo prometendo aos aliados dele que vai liberar emendas, que vai ajudar na nomeação de cargos, para manter a tropa dele. E aí é que eu acho que o governo tem que mudar a relação com Eduardo Cunha. O governo não pode ficar acuado, tem que ir para o enfrentamento. Até porque o PMDB está no governo, é sócio do governo. Na hora que Cunha está criando dificuldade na Câmara, também está criando para [o vice-presidente e articulador político] Michel Temer (PMDB). O [deputado] Jarbas [Vasconcelos, PMDB-PE], por exemplo, fez duras crítica a ele. E nem aliado de Dilma Jarbas é.

Eduardo Cunha exterminador futuro

Cunha, comedor de toco, não pode presidir a Câmara nem zoar de ditador e primeiro-ministro

As manchetes dos jornais de hoje indicam que acabou o parlamentarismo de Eduardo Cunha e suas aventuras de pequeno ditador na Câmara dos Deputados.
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Pará

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Chega ao fim a presidência de Eduardo Cunha

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por Renato Rovai

A delação de Júlio Camargo, da Toyo Setal, de que Eduardo Cunha teria sido responsável pela cobrança de 10 milhões de dólares de propinas referentes a dois contratos de US$ 1,2 bilhão de navios-sonda, assinados pela Petrobras entre 2006 e 2007, é a tampa do caixão político do presidente da Câmara Federal que já vinha perdendo força no Congresso, apesar de todo seu comportamento de dono da Casa. Quem tiver dúvidas do que estou dizendo deve procurar o que Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) andou dizendo dele.

Cunha vem escapando de escândalos aqui e acolá há algum tempo. E vem conseguindo ampliar seu raio de atuação agindo como lobista de vários setores. Na disputa do Marco Civil da Internet, por exemplo, operou fortemente para derrotar a nova legislação a favor das teles. Certamente apenas por ideologia…

A força de Cunha no Congresso tem muito a ver com isso. Ele não é um líder natural, que conquista seguidores pela ideias que representa. Ele é aquele que sabe se movimentar nos bastidores e influir a partir de operações um tanto heterodoxas.

Diversos deputados falam à boca pequena que Cunha ganhou as eleições para a presidência na Câmara ainda na campanha eleitoral. E que sua força teria relação com o financiamento da campanha de vários dos eleitos.

Se é verdade ou não, as investigações que serão abertas a partir do depoimento de Júlio Camargo poderão mostrar.

Mas em política, as coisas são mais complicadas do que parecem. E hoje Cunha acabou.

E por que ele acabou?

Porque mesmo os deputados que podem ter sido agraciados com seus favores agora já devem estar apagando todas as chamadas e torpedos que receberam dele nos últimos meses. Sabem que neste momento se relacionar com o presidente da Câmara passa a ser uma ameaça.

Aos poucos, alguns começarão a não só a se afastar dele como vão lhe sugerir que é hora de baixar as armas e sair do foco. Ou seja, tentar fazer uma presidência menos barulhenta ou mesmo se afastar dela enquanto as investigações acontecem. E para que com a sua presença de investigado não atrapalhe a ação de todos os seus colegas.

Certamente Cunha vai ter a generosidade de parte da mídia na cobertura do seu caso. Principalmente da Globo, cujas relações que mantém não vem de hoje.

Antes de ser parlamentar, Cunha foi convidado por Paulo César Farias (lembram?) para presidir a Telerj na gestão de Fernando Collor, o senador da Lamborghini de 2,5 milhões de reais.

Na época, ele encaminhou a privatização da empresa e envolveu-se em um escândalo de superfaturamento. Ele assinou um aditivo de US$ 92 milhões da Telerj com a fornecedora de equipamentos telefônicos NEC Brasil que era controlada pela família Marinho (vejam que coincidência).

Mas mesmo com a benevolência quase certa da Globo, Cunha não vai dar conta do que vai acontecer com ele a partir de agora.

Manifestações contra o deputado passarão a ser uma constante depois disso. Principalmente porque ele tem se mostrado uma ameaça aos direitos da infância, dos LGBTs e de tudo que guarda relação com direitos humanos e ampliação de conquistas progressistas.

Ou seja, esses grupos terão ainda mais um motivo para combatê-lo.

Como previsto por este blogueiro, Cunha não estava indo com tanta sede ao pote à toa. Ele queria mostrar força para tentar escapar das denúncias que sabia apareceriam na Operação Lava Jato. E que poderiam levá-lo a ter o fim de Severino Cavalcanti.

Cunha jogou seu jogo duro e ainda vai tentar outras caneladas, como aprovar o processo de impeachment de Dilma. Mas a partir de hoje ele é mais do que um pato manco. É um congressista carimbado por uma acusação gravíssima de corrupção, porque dez milhões não são dez tostões.

Jarbas Cunha
Jarbas Cunha

E ai, meus caros, com essa ameaça lhe infernizando a vida, Cunha não terá alternativa. Vai ter de trabalhar para se defender. E ficará sem condições de liderar o que quer que seja. E terá de voltar para a tumba da sua inexpressividade. De onde nunca deveria ter saído. Ou seja, o caixão político de Cunha está sendo lacrado antes do seu primeiro pronunciamento à Nação. Transcrito do Portal Metrópole

PETROBRAS. Nunca se roubou tão pouco

 

por Ricardo Semler (*)

 

corrupção indignados
Não sendo petista, e sim tucano, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país

Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito.

Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso. Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a bandalheira da cúpula.

Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris sabia-se dos “cochons des dix pour cent”, os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas.

Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão — cem vezes mais do que o caso Petrobras — pelos empresários?

Virou moda fugir disso tudo para Miami, mas é justamente a turma de Miami que compra lá com dinheiro sonegado daqui. Que fingimento é esse?

Vejo as pessoas vociferarem contra os nordestinos que garantiram a vitória da presidente Dilma Rousseff. Garantir renda para quem sempre foi preterido no desenvolvimento deveria ser motivo de princípio e de orgulho para um bom brasileiro. Tanto faz o partido.

Não sendo petista, e sim tucano, com ficha orgulhosamente assinada por Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país.

É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo.

Votei pelo fim de um longo ciclo do PT, porque Dilma e o partido dela enfiaram os pés pelas mãos em termos de postura, aceite do sistema corrupto e políticas econômicas.

Mas Dilma agora lidera a todos nós, e preside o país num momento de muito orgulho e esperança. Deixemos de ser hipócritas e reconheçamos que estamos a andar à frente, e velozmente, neste quesito.

A coisa não para na Petrobras. Há dezenas de outras estatais com esqueletos parecidos no armário. É raro ganhar uma concessão ou construir uma estrada sem os tentáculos sórdidos das empresas bandidas.

O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras.

É lógico que a defesa desses executivos presos vão entrar novamente com habeas corpus, vários deles serão soltos, mas o susto e o passo à frente está dado. Daqui não se volta atrás como país.

A turma global que monitora a corrupção estima que 0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1%, e estimam ter sido na casa de 5% há poucas décadas. O roubo está caindo, mas como a represa da Cantareira, em São Paulo, está a desnudar o volume barrento.

Boa parte sempre foi gasta com os partidos que se alugam por dinheiro vivo, e votos que são comprados no Congresso há décadas. E são os grandes partidos que os brasileiros reconduzem desde sempre.

Cada um de nós tem um dedão na lama. Afinal, quem de nós não aceitou um pagamento sem recibo para médico, deu uma cervejinha para um guarda ou passou escritura de casa por um valor menor?

Deixemos de cinismo. O antídoto contra esse veneno sistêmico é homeopático. Deixemos instalar o processo de cura, que é do país, e não de um partido.

O lodo desse veneno pode ser diluído, sim, com muita determinação e serenidade, e sem arroubos de vergonha ou repugnância cínicas. Não sejamos o volume morto, não permitamos que o barro triunfe novamente. Ninguém precisa ser alertado, cada de nós sabe o que precisa fazer em vez de resmungar.

 

(*) RICARDO SEMLER, 55, empresário, é sócio da Semco Partners. Foi professor visitante da Harvard Law School e professor de MBA no MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA)

Artigo publicado na Folha de S. Paulo

 

 

 

Operação Concutare vai dar com os burros n’água

Jornal de ontem. ÁGUAS PASSADAS
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A Polícia Federal, na Operação Concutare, prendeu 18 pessoas envolvidas em um esquema de venda de licenças ambientais no Rio Grande do Sul.

Apenas no primeiro dia, a Polícia Federal apreendeu R$ 468 mil, US$ 44 mil (mais de R$ 88 mil) e € 5.280 (quase R$ 14 mil). Imagens divulgadas pela PF mostram o momento que os agentes encontram dinheiro dentro de um cofre na casa de um dos suspeitos. Segundo o delegado Daniel Madrugada, cerca de R$ 350 mil estavam no carro de um único suspeito.

Essas licenças são para abrir poços para as fábricas de água, minerar a céu aberto, aterrar terrenos de marinha, e outras agressões ao meio ambiente, pelas construtoras etc.

Isso acontece adoidado dentro e fora do Rio Grande do Sul. Esses inquéritos dão em nada. A Operação Cuncutare vai ter o mesmo fim da Operação do Porto Seguro, pelas ligações que tem com as concessionárias  de água, hoje, na maioria, nas mãos estrangeiras.

Na Cuncutare foi preso e solto o empresário Celso Rehbein, sócio da indústria de bebidas Celina Ltda, de Santa Cruz do Sul. É peixe pequeno.

Um meio de ganhar dinheiro fácil em um ambiente corrupto: As famosas licenças para roubar

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LISTA DO PRESOS

— Luiz Fernando Záchia, secretário municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre

— Berfran Rosado, consultor ambiental e ex-secretário estadual do Meio Ambiente 

— Giancarlo Tusi Pinto, trabalha no Instituto Biosenso de Sustentabilidade Ambiental, que tem como sócio Berfran Rosado

— Alberto Antônio Muller, servidor do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)

— Ricardo Sarres Pessoa, servidor da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam)

— Lúcio Gonçalves da Silva Junior, consultor ambiental

— Carlos Fernando Niedersberg, secretário estadual do Meio Ambiente

— Élvio Alberto dos Santos, assessor na Câmara de Porto Alegre

— Mattos’Alem Roxo, servidor da Fepam

Empresários

— Vanderlei Antônio Padova, dono da Padova e Chedid Ltda, especializada em consultoria na área de geologia

— Bruno José Muller, engenheiro de minas e irmão de Alberto Antônio Muller, sócio das empresas Erthal e Muller Consultoria Ambiental e Mineral Ltda e da Geodinâmica, Engenharia, Geologia e Meio Ambiente Ltda

— Marcos Aurélio Chedid, sócio de Vanderlei Antônio Padova na Padova & Chedid Ltda, especializada em consultoria na área de geologia

— Gilberto Pollnow, proprietário da empresa Pollnow & Cia Ltda

— Disraeli Donato Costa Beber, empresário 

— Paulo Régis Mônego, sócio da Mineração Mônego Ltda

— Nei Renato Isoppo, empresário

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O “maloqueirismo” na mídia brasileira

por Lula Miranda

Esses jornalistas vivem enclausurados em seus próprios umbigos e crenças de classe. Tal qual vampiros* não saem à luz do dia – têm seus motivos [* sentido figurado: aquele que explora os pobres em benefício próprio]. Não se encontra um “maloqueiro” nas ruas e shoppings de sua cidade, por exemplo. Eles rastejam nas antessalas e corredores do poder. Não pegam ônibus, trem ou metrô; desconhecem, portanto, as agruras por que passam os cidadãos comuns. Seus patrões, zelosos, tal qual o bom carcereiro da fábula que embala os inocentes, vez em quando lhes coloca um prato de comida e uma cuia com água fresca, na porta de seus catres sombrios, para que estes se alimentem e matem a sua sede. Sede de água, vale o registro, mesmo sob o risco do pleonasmo – pois a sede de servir ao patrão, esta é insaciável.

São regiamente remunerados e recebem, a título de bônus, pequenos mimos e mordomias – para que, também eles, sintam-se parte integrante do que se convencionou chamar de “classe dominante” ou, numa linguagem mais vulgar, de “bem nascidos”. Viajam de 1ª classe; acomodam-lhes em bons hotéis estrelados; bebem vinho caro e bom champanhe; comem em bons restaurantes [de alta gastronomia] etc. A eles, em verdade, bem como aos seus leitores, são destinadas as migalhas, os restos dos banquetes em que se fartam os hipócritas.

Tal qual condenados, subjugados pelo seu próprio servilismo e vacuidade, eles sequer percebem, mas a cada movimento que fazem em seu claustro de misérias escuta-se ao fundo o rangido do lento arrastar dos grilhões e correntes invisíveis, que lhes servem de amarras. Grilhões e correntes invisíveis aos olhos dos justos e dos incautos, mas que não engana o rigoroso juiz que todos carregamos n’alma e que lhes assombram e comprometem o sono.

O “maloqueirismo” ou “jornobanditismo” é um neologismo, um conceito relativamente novo, nem tão recente decerto, mas que ainda não foi devidamente estudado, dicionarizado ou catalogado. Já foi traduzido, inapropriadamente, algumas vezes, por variados nomes e qualificativos, tais como “parcialismo”, servilismo ou sabujice, vilania, pena de aluguel, “escreventes da infâmia”, jornalismo fiteiro etc. Mas não é nada disso; é muito mais além, ou aquém.

É obra do jornalismo maloqueiro, por exemplo, a politização do descalabro, as denúncias seletivas, que só afetam determinado partido político; as manchetes tão grandiloquentes quanto vazias; a “espetacularização” da notícia; a utilização de arapongas e detetives mafiosos em seus métodos investigativos; o desrespeito às pessoas, a sujeição do outro ao linchamento moral e à desonra; a expropriação da identidade do indivíduo, o culto ao patrimônio, dentre outras mazelas e vergonhas.

Devemos, portanto, em nome da liberdade e do pluralismo da imprensa, condenar e denunciar esse tipo deletério de jornalismo. Transcrevi trechos

COMPARAÇÕE$

por Carlos Chagas

 

COMPARAÇÕES

Horrores foram praticados durante o regime militar, da  tortura institucionalizada à censura  dos meios de comunicação e à mudança nas regras do jogo político toda vez que o regime estava prestes a ser derrotado, mesmo pelas regras impostas por ele mesmo. Claro que no reverso da medalha foi promovida ampla modernização de nossas estruturas materiais. Fica para o historiador do futuro emitir a sentença para aqueles tempos bicudos.

Uma evidência, porém, salta aos olhos. Quando Castelo Branco morreu num desastre de avião, verificaram os  herdeiros que seu patrimônio limitava-se a um apartamento em Ipanema  e umas poucas ações de empresas públicas e privadas. Costa e Silva, acometido por um derrame cerebral, recebeu de favor o privilégio de permanecer até o desenlace  no palácio das Laranjeiras, deixando para a viúva a pensão de marechal e um apartamento em construção, em Copacabana. Garrastazu Médici dispunha, como herança de família, de uma fazenda de gado em Bagé, mas quando adoeceu,  precisou ser tratado no Hospital da Aeronáutica, no Galeão.   Ernesto Geisel, antes de assumir a presidência da República, comprou o Sítio dos Cinamonos, em Teresópolis, que a filha  vendeu para poder  manter-se no apartamento de três quartos e sala, no Rio. João Figueiredo, depois de deixar o poder, não aguentou as despesas do Sítio  do Dragão, em Petrópolis,vendendo primeiro os cavalos e depois a propriedade.  Sua viúva, recentemente falecida, deixou um apartamento em São Conrado que os filhos agora colocaram à venda, ao que parece em estado lamentável de conservação.

Não é nada, não é nada, mas os cinco generais-presidentes cometeram erros sem conta, mas não se meteram em negócios, não enriqueceram nem  receberam benesses de empreiteiras beneficiadas durante seus governos. Sequer criaram institutos  destinados a preservar seus documentos ou agenciar contratos para  consultorias e  palestras  regiamente remuneradas. Bem diferente dos tempos atuais, não é?