O medo irracional de Cunha

Até os veneráveis ministros do Supremo não parecem ter pressa em tirá-lo de cena e dizem que vão “estudar” como impedir que possa transformar-se dentro de alguns dias na segunda autoridade da República

 

Cunha é o político mais temido e até invejado por seu poder. Quando mais atacado, mais forte se sente

por JUAN ARIAS
El País/ Espanha

Se alguém de fora quisesse analisar o fenômeno Eduardo Cunha, não poderia deixar de se perguntar: “Por que todos têm medo dele?”.

É um medo irracional ou real? Esse medo poderia ainda se agravar se for verdade que, na iminência de poder ser preso, o presidente da Câmara dos Deputados brasileira tenha já preparada uma delação premiada (acordo para confessar em troca de vantagens judiciais) cujos documentos conserva lacrados em um cofre, talvez fora do país, e que fariam tremer meia República. Serão seus segredos a força de seu poder?

E se tudo fosse um blefe?

“O medo da sombra (imaginário) é maior que o medo do escuro (real). O homem joga com as aparências, bandido, manipulador, imagina o que os outros imaginam que sabe”, diz Augusto Messias, catedrático da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e membro da Academia Nacional de Medicina do Brasil.

Condenado e até depreciado por 90% da sociedade por ter acumulado tanto peso de corrupção e cinismo sobre suas costas, Cunha é, na verdade, o político mais temido e até invejado por seu poder. Parece que acaba ganhando sempre. Quando mais atacado, mais forte se sente.

Do Sansão bíblico se dizia que sua força residia em sua cabeleira. Onde reside a de Cunha?

A sociedade que não conhece o emaranhado de leis jurídicas e regulamentos não entende por que com todas as incriminações contra ele pode continuar presidindo a Câmara dos Deputados e ser a terceira autoridade da República.

Depois de cada investida contra ele, cada vez que parece enredado em uma nova disputa acaba ressurgindo como uma ave fênix. E volta a desafiar todos.

Dizem que quanto mais atacado, mais cresce. E ainda não renunciou a um sonho: ser, ainda que somente por um dia, presidente da República.

Se o Supremo não se apressar em despojá-lo da presidência da Câmara até poderá conseguir. Nesse dia, se chegar, o Brasil deveria estar de luto.

O que a sociedade vê é que até a oposição fecha os olhos para não o enfrentar. Que a Câmara segue firme a seu lado, como se viu no aplauso que recebeu quando votou a favor da destituição da presidenta Dilma Rousseff. E agora fará parte do possível novo Governo do que hoje é vice-presidente, Michel Temer.

Todos iriam querê-lo a seu lado, se não fosse corrupto. Até Dilma Rousseff tentou, em vão.

Alguns o quereriam mesmo sabendo o que é. Existe entre os políticos um mórbido fascínio inconfessável por essa força, para alguns diabólica, do personagem.

Até os veneráveis ministros do Supremo não parecem ter pressa em tirá-lo de cena e dizem que vão “estudar” como impedir que possa transformar-se dentro de alguns dias na segunda autoridade da República.

Uma das chaves do caso Cunha, talvez a mais importante, foi revelada neste jornal pelo agudo analista da alma humana Xico Sá há mais de um ano, quando o qualificou como “o pior tipo de homem de todos os tempos”.

Em seu texto, Xico, a quem acredito me une uma certa cumplicidade em nossa formação juvenil, antecipou o que poderia ser a verdadeira força oculta de Cunha: “Vive desse medo que alimenta a cada segundo”.

Um medo perigoso. Ao que parece, disse há algum tempo que “morreria matando”, E está começando a matar a presidenta da República. E ele continua vivo.

E assim, Cunha, em vez de morrer com os filisteus depois de ter quebrado as colunas do templo, poderia acabar até se salvando deixando morrer abandonados pelo caminho os seus inimigos, que podem ser muitos.

A luta, até a da Justiça, com Cunha não parece fácil.

Tem razão, Xico, o monstro “vive do medo que alimenta”.

Medo que parece contagiar a todos, dada a reverência com a qual é tratado até pela mais alta corte de Justiça.

Temer também terá medo de Cunha?

A ver.

Temer: “as tarefas difíceis eu entrego à fé de Cunha”

247 – Um vídeo publicado nesta quinta-feira (28) pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ), em seu Facebook, aponta a estreita relação entre o vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (RJ), ambos do PMDB e citados na Operação Lava Jato.

“Eu tenho do Eduardo Cunha um auxílio extraordinário na Câmara Federal. Se você quiser dar uma tarefa das mais complicadas para o deputado Eduardo Cunha, ele simplifica porque trabalha muito”, disse.

Segundo Temer, quado Cunha se manifesta “está presente a sua fé”. “E a fé é que mobiliza as pessoas. Então as tarefas difíceis eu entrego à fé do Eduardo Cunha”.
Assista ao vídeo aqui 

É isso aí: no governo golpista Cunha será ministro sem pasta, presidente da Câmara dos Deputados, primeiro ministro e vice-presidente da República. Será o faz tudo. E todo o Brasil sabe de quanto Cunha é capaz. Tem um longa ficha corrida. Mais suja que poleiro de tucano.

 

 

 

Cunha, conspirador e gângster, protegido da justiça

A situação do Brasil é muita séria. Vamos deixar de lado as cusparadas. As fofocas de atores. Os verbos no condicional. Temos que denunciar o golpe. Desmascarar os julgadores de Dilma. Nomear os corruptos, notadamente no judiciário passivo, parcial, partidário e cúmplice, pela inércia, da conspiração golpista.

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Cunha envia ao STF queixa-crime contra deputados que o xingaram em votação. “Conspirador” e “gângster” foram alguns dos adjetivos contra presidente da Câmara.

Que o STF aja. Que sejam ouvidas pelas autoridades (in)competentes todos os deputados denunciados por Eduardo Cunha.

A justiça é uma ameba. Unicamente age quando cutucada. Que a justiça inerte se mecha. Deixe de ficar sentada nos processos que provam que Cunha é ladrão, sonegador, traficante de moedas para paraísos fiscais, mentiroso, golpista, comedor de propinas, um pequeno César que usa o cargo de presidente da Câmara para ameaçar testemunhas.

Um bandido, corrompido e corruptor, capaz de mandar matar, conforme denúncias de deputados.

Por muito menos, o juiz Sergio Morro prendeu muita gente, inclusive um senador. Conspirou a prisão e o sequestro do presidente Lula.

Que os ministros se levantem. Desengavetem os variados processos que provam que Cunha é capaz de todos os crimes, e merece, pelos desfeitos, perder o mandato de deputado, devolver o dinheiro pilhado, e ser preso.

Um capo não pode ser presidente da Câmara dos Deputados, e vice-presidente do Brasil. E brincar de primeiro-ministro.

Golpe no Brasil segue modelo da CIA no Paraguai

POVO NAS RUAS CONTRA GOLPE. CONTRA A ENTREGA DE TODO O PODER PARA A BANDA PODRE DO PMDB. CONTRA A DITADURA PARLAMENTAR DO PRIMEIRO-MINISTRO EDUARDO CUNHA E O SEMIPARLAMENTARISMO DE MICHEL TEMER O TRAIDOR

 

Ministro Luiz Edson Fachin, que relata o processo de impeachment no Supremo Tribunal Federal, tomou duas decisões contra o Palácio do Planalto nesta quarta-feira 16.

Primeiro, validou a escolha, por voto secreto, da comissão que poderá julgar o processo; além disso, dispensou a necessidade de defesa prévia da presidente Dilma Rousseff antes da aceitação do impeachment pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Fachin também sustentou que, se a Câmara admitir a denúncia, o Senado necessariamente deve iniciar o processo. E destacou que “o julgamento não é meramente político, não é moção de desconfiança de regime parlamentarista”.

O ministro faz que não sabe: Eduardo Cunha governa o Brasil como primeiro-ministro. Michel Temer promete um governo semiparlamentarista.

O golpe contra Dilma é, realmente, um processo político, da pior política, que promete todo poder para a banda podre do PMDB.

É preciso saber se o povo vai aceitar essa ditadura parlamentar. Que transforma o Brasil num Paraguai.

Pobre Brasil que se desconhece o amanhã.

Gilmar Mendes, um ministro comprometido com o semiparlamentarismo de Michel e Cunha primeiro-ministro

Michel dá palestra a convite de um ministro da suprema justiça e diz que governaria com o empresariado

 

Convidado especial de Gilmar Mendes para ministrar uma palestra, Michel Temer falou para uma platéia de empresários e deputados do baixo clero de Eduardo Cunha, e deu o tom de como seria o seu governo caso Dilma Rousseff sofra o golpe.

Nem é preciso lembrar que Gilmar foi nomeado ministro da justiça suprema pelo então presidente Fernando Henrique, que governou 6 anos e ll meses para o empresariado estrangeiro, a quem entregou as riquezas minerais do Brasil e a mais rica estatal, a Vale, por apenas 2 bilhões e 200 milhões. Para recuperar os danos provocados pela Vale, apenas no Rio Doce, são precisos, inicialmente, mais de 20 bilhões. Na época em que foi entregue aos piratas, a Vale valia mais de 3 trilhões de dólares.

Fernando Henrique é o presidente mais corrupto da História do Brasil. No seu desgoverno, o vice Marco Maciel assumiu a presidência do Brasil por 1 ano e 1 mês, tempo que FHC passou viajando, para receber títulos de doutor honoris causa, e luxuoso descanso em Paris, onde comprou um apartamento.

A ideologia pregada por Michel de governo sem povo, sem nacionalismo, sem patriotismo, apoiado pela banda podre do PMDB, pelos bilionários do PSDB, pelos que pregam o retorno da ditadura, os Bolsonaro e pastores eletrônicos é o semiparlamentarismo. Cunha pois tal idéia em prática ao exercer simultânea e ditatorialmente os cargos de presidente da Câmara dos Deputados e de primeiro-ministro.

Michel presidente, Cunha acumulará os cargos de presidente da Câmara e vice-presidente do Brasil. Um poder que Michel tenta minimizar, chamando de semiparlamentarismo. Semi tem como sinônimos “meio”, “metade”. Fica explícita a divisão do poder com Eduardo Cunha.

“Me atrevo a dizer que a ideia é um semiparlamentarismo. O Congresso passaria a atuar efetivamente junto ao governo e não teríamos os problemas que vivemos hoje –’ah, não tem verba, tirou verba não sei de onde’. Seria facilmente explicável ao povo a falta de recurso”, defendeu Michel Temer.

Por trás dessa aparente transparência, a entrega de todo poder ao PMDB. Partido que ficaria com os cargos de presidente e vice do Brasil, presidente da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Michel denominou de “democracia da eficiência” a política liberal que defende, exposta no documento do PMDB, encomendado por Eduardo Cunha, e chamado “A Ponte para o Futuro”.

 

 

Um deputado com tropa de choque, pitbulls e ‘paus-mandados’

Por meio de ajuda para obter doações, Cunha montou grupo que o apoia no Legislativo

Aroeira
Aroeira

por Afonso Benites/ El País

O poder do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ficou abalado depois das denúncias da Procuradoria, mas sua rede de aliados na Câmara dos Deputados é extensa. O peemedebista tem a sua tropa de choque, os pitbulls e os ‘paus-mandados’, segundo os congressistas que convivem com ele. ‘Pau mandado’ é como o delator Alberto Yousef se referiu, em depoimento à Justiça, aos parlamentares que seguem as orientações do polêmico deputado.

A linha de frente de defesa de Cunha está principalmente entre os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras. É um grupo de parlamentares que atuam para desmentir delatores que incriminam os políticos na operação Lava Jato. Entre eles, estariam o presidente da comissão, o deputado Hugo Motta (PMDB-PB) e André Moura (PSC-SE). Os dois são os únicos que tiveram até agora acesso à investigação feita pela consultoria Kroll, contratada pela CPI por 1 milhão de reais, sobre 12 réus do esquema de desvio de recursos da Petrobras.

No grupo dos pitbulls estão alguns parlamentares espalhados por diversas comissões que agem para garantir os interesses de Cunha, como a celeridade no processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT). Um deles é o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA). Nesta semana, por exemplo, ele discutiu duramente com a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) durante uma reunião da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional. A razão, foi ela não ter acatado um pedido feito por ele sobre o julgamento das contas de Rousseff. A análise dessas finanças pelo Tribunal de Contas da União pode resultar no pedido de destituição.

Já entre os chamados ‘paus-mandados’, estão os que agiram conforme a vontade do parlamentar até mesmo para obter o pagamento de propinas, diz o Ministério Público Federal e delatores da operação Lava Jato. Dois deles são a ex-deputada Solange Almeida e o deputado federal Celso Pansera. Almeida teria feito um requerimento a fim de pressionar o lobista da empresa Samsung Heavy Industries, Julio Camargo, a voltar a pagar propina para Cunha, conforme a denúncia da procuradoria. Ela nega.

Pansera ganhou esse incômodo apelido porque, na CPI da Petrobras, solicitou a quebra de sigilo de familiares do doleiro Alberto Yousseff, um dos principais delatores da operação. Ele admite ser aliado de Cunha, mas diz que age de acordo com sua consciência.

Em alguns momentos, Cunha também se apoia em movimentos que pedem a saída de Rousseff do cargo. Entre eles estão a Força Sindical, do deputado Paulo Pereira da Silva (SD), com quem se reuniu nesta sexta-feira, e militantes do Movimento Brasil Livre, que promovem protestos pelo país contra Rousseff, mas poupam Cunha.

Ascensão, apogeu…
Thiago Lucas
Thiago Lucas

Deputado federal desde 2003, o economista e radialista Cunha reforçou seu papel de protagonista na Câmara dez anos depois, quando se tornou líder do PMDB. Sua ascensão foi rápida e muito bem articulada. Seu apogeu foi em fevereiro deste ano quando obteve 267 dos 513 votos dos deputados e derrotou Arlindo Chinaglia (PT-SP) pela presidência da Casa.

O apoio à Cunha foi obtido de uma maneira pouco comum entre parlamentares. Conforme aliados e adversários dele, nas últimas duas eleições aproveitou o trânsito que tinha com empresas privadas e pediu doações para campanhas eleitorais para mais de uma centena de deputados de diversos partidos e Estados.

No início da década de 1990, Cunha se notabilizou por ser presidente da companhia telefônica do Rio, a Telerj, em um período em que as empresas de telefonia ainda eram públicas. Foi indicado ao cargo pelo tesoureiro de Fernando Collor, Paulo César Farias (o PC Farias). Seu convite veio em decorrência de ter participado da vitoriosa campanha presidencial de Collor no Rio de Janeiro em 1989. Cunha deixou o cargo na Telerj em 1993, pouco depois que Collor foi destituído do poder.

Filiado ao PPB (hoje PP), ele assumiu o cargo de subsecretário da Habitação e depois de presidente da Companhia de Habitação do Rio, durante o Governo Anthony Garotinho. Deixou a função, conforme reportagem do jornal O Globo, depois de uma série de denúncias de irregularidades na contratação de uma construtora. Eleito suplente de deputado estadual, assumiu a função entre 2001 e 2002, quando se tornou deputado federal já pelo PMDB.

Na Câmara, chegou a ter seus momentos de primeiro-ministro brasileiro já que era ele quem definia os rumos de quase tudo o que tramitava no Legislativo. Isso ocorria até mesmo quando era considerado um membro da base aliada. Foi uma das poucas vezes que o Executivo ficou sem o controle do Congresso desde a redemocratização do país.

Quando passou para a oposição, depois de ver as denúncias contra ele na operação Lava Jato ganharem corpo, sua situação piorou. Fez uma manobra que poderia resultar em julgamento mais rápido do impeachment presidencial logo no retorno dos trabalhos legislativos, mas, na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) mudou o rumo e lhe impôs uma de suas primeiras derrotas, ao determinar que todas as contas presidenciais deveriam ser analisadas em sessões conjuntas do Congresso Nacional.

O capital político dele também se reduziu quando seu correligionário, o senador alagoano Renan Calheiros, fez um acordo com o Governo e apresentou uma série de medidas para “ajudar o Brasil a sair da crise”, conforme declarou. A tal da Agenda Brasil causou desconforto entre os peemedebistas da Câmara, que não foram ouvidos na elaboração da proposta e atiçou o a inveja de Cunha, que a classificou como um jogo de espumas.

Nesta sexta-feira, mandou um recado aos que pensam que ela já está politicamente morto. “Não há a menor possibilidade de eu não continuar à frente da Câmara durante o mandato para o qual fui eleito”. Diz ele que a palavra renúncia, não faz parte de se vocabulário. Para se manter no cargo, o deputado tem articulado com a oposição à Dilma Rousseff para tentar emplacar o processo de impeachment contra ela no Congresso. Ao mesmo tempo, intensificou o contato com seus aliados, lembrando que quem os ajudou a estarem lá não pode ser abandonado assim, de uma hora para a outra.

Cunha é conhecido pela estratégia de se defender atacando. Logo que seu nome surgiu na primeira lista de Janot (ao lado de outros 48 políticos), reclamou por que nela não estariam outros políticos petistas, como o senador Delcídio do Amaral. Quando as acusações contra ele ficaram mais robustas, disse que tinha sido escolhido para ser o vilão da vez (uma espécie de boi de piranha). No dia em que foi oficialmente denunciado criticou o Governo Rousseff, dizendo que a presidenta fez um “acordão” com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para prejudicá-lo e proteger quem fosse de interesse do Palácio do Planalto.

Ferido, e sob o risco de perder poder, há a expectativa de que deputado jogue novas bombas em meio à guerra política que ele estabeleceu com o Executivo. Nos próximos dias ficará claro qual será o alcance de seu arsenal.

Clayton
Clayton

A queda de Cunha era questão de tempo. Em ambiente democrático, não há espaço para os superpoderosos

NASSIF: CHEGA AO FIM A 'VERGONHOSA ERA CUNHA'
NASSIF: CHEGA AO FIM A ‘VERGONHOSA ERA CUNHA’

“A queda de Cunha era questão de tempo. Figuras como ele são eficientes para agir nas sombras, não na linha de frente. Ainda mais com a megalomania que sempre o acompanhou, acima de qualquer limite de prudência”, diz o jornalista Luis Nassif; “Com o fim de Cunha, o PMDB volta às mãos de figuras moderadas e responsáveis, como o vice presidente Michel Temer, e de figuras polêmicas mas cautelosas, como Renan Calheiros”

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por Luis Nassif

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O fim da saga de Eduardo Cunha coloca um ponto final em um dos mais constrangedores episódios políticos da história da República, desde a redemocratização.

O vácuo político produzido pelos erros da presidente Dilma Rousseff promoveram uma abertura inédita da porteira e abriram espaço para oportunistas da pior espécie.

A crise colocou Cunha no papel de touro conduzindo o estouro da boiada. E, atrás dele, a malta do congresso, o universo dos pequenos políticos sem expressão, o chamado baixo clero, cuja atuação, em outros tempos, era moderada por lideranças de maior fôlego.

A cada eleição, os grandes políticos – à esquerda e à direita – foram se afastando do Congresso, permitindo que políticos de grande habilidade e nenhum escrúpulo – como Cunha – assumissem a liderança, bancados por contribuições milionárias de campanha garantidas pelo negocismo amplo que se implantou no Congresso.

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A queda de Cunha era questão de tempo. Figuras como ele são eficientes para agir nas sombras, não na linha de frente. Ainda mais com a megalomania que sempre o acompanhou, acima de qualquer limite de prudência.

Em ambiente democrático, não há espaço para os superpoderosos. Tanto assim, que um dos truques históricos da mídia, quando quer marcar um inimigo, é superestimar seus poderes. O sujeito entra na marca de tiro, torna-se alvo não só de jornais como de outros poderes.

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No início adulado pela mídia, Cunha não precisou de nenhum empurrão para expor sua falta de limites. As demonstrações inúteis e abusivas de músculos incumbiram-se de quebrar a blindagem e transformá-lo em uma ameaça às instituições, ainda mais liderando um exército de parlamentares que parecia emergia das profundezas do preconceito.

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Com o fim de Cunha, o PMDB volta às mãos de figuras moderadas e responsáveis, como o vice presidente Michel Temer, e de figuras polêmicas mas cautelosas, como Renan Calheiros, até que seja colhido pela Lava Jato. Pacifica-se, assim, uma das frentes que impedia a volta à normalidade política.

No plano Jurídico, com a parte mais relevante da Lava Jato sendo assumida pelo STF (Supremo Tribunal Federal), e com os conflitos internos na Polícia Federal, haverá menos espaço para o show midiático.

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Na outra ponta, caiu a ficha do PSDB quanto à irresponsabilidade política de Aécio e a loucura que seria o impeachment da presidente. Não interessa nem a José Serra nem a Geraldo Alckmin, em suas pretensões presidenciais, nem a quem tem um mínimo de vislumbre do caos que se instalaria no país, caso o golpe fosse bem sucedido.

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Para retomar a normalidade, falta Dilma começar a governar.

Nos últimos dias, a Fazenda passou a desovar projetos mais consistentes, de simplificação tributária. Há boas iniciativas na Agricultura e no MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Ainda há o risco de um Banco Central descontrolado, praticando uma taxa de juros que poderá criar uma dinâmica insustentável na dívida pública. E Dilma, que ainda não pegou a batuta de maestrina para articular um plano de ação integrado do segundo governo.

Rafael
Rafael

“As ações de Eduardo Cunha encobrem grave redução da democracia”

Grupo de 18 parlamentares do Psol, PSB, PPS, PT, PDT e Pros divulgou no início desta tarde uma lista intitulada “Agenda Negativa” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ); documento elenca 15 pontos tidos como arbitrários, autoritários e que corresponderam a “desserviços à nação”; protesto antecipa o pronunciamento de Cunha na TV, que será feito nesta sexta-feira 18

Deputados dizem não a Eduardo Cunha

Hylda Cavalcanti, da RBA – De acordo com essa “agenda negativa”, apesar de o presidente dar como certo, no seu balanço de seis meses de gestão, que fez avanços em sua administração, o que se viu, segundo esses deputados, foram métodos e posições políticas “individualistas, autoritárias e conservadoras”.

“Cunha sustenta-se sobre uma base de deputados e líderes que corroboram seus métodos e posições políticas. Cresce, porém, a resistência dentro e fora do Parlamento”, acentuaram os parlamentares, entre eles o líder do Psol, Chico Alencar (RJ), Glauber Braga (PSB-RJ) e Luiza Erundina (PSB-SP).

Em relação à parte de matérias legislativas, a primeira atitude citada foi o engavetamento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Planos de Saúde. A CPI foi protocolada na casa logo nos primeiros dias do ano legislativo, e os deputados que assinam o documento destacam que isso aconteceu porque entre os financiadores de campanha de Cunha estão várias empresas do setor. Como se não bastasse, também foi redigida por ele uma emenda à Medida Provisória 627, que anistiou tais operadoras em aproximadamente R$ 2 bilhões.

“Por estes poucos exemplos dá para se ver que as ações do atual presidente encobrem grave redução da democracia. Continuaremos fiéis aos propósitos dos que nos colocaram aqui como representantes de cidadãos que lutam por um parlamento democrático e transparente, e por um país mais justo e igualitário”, afirmou Chico Alencar.

Pautas conservadoras

Samuca
Samuca

O grupo acusa Cunha de ter instalado comissões especiais a partir de uma pauta conservadora para atender a pedidos de bancadas “temáticas” que o apoiaram na eleição para a presidência da Câmara, caso da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que trata da demarcação de terras indígenas (está em tramitação e repassa para o Congresso a decisão sobre demarcar ou não estas terras). A matéria foi tida como um dos principais objetos de pressão por parte da bancada ruralista nos últimos meses.

Também estão incluídas nestas pautas conservadoras, as PECs da revisão do Estatuto do Desarmamento, a do chamado Estatuto da Família – em tramitação, que rejeita como agrupamento familiar casais que não sejam formados por homem e mulher, deixando de fora os homossexuais – e a PEC 171, da redução da maioridade penal.

Para o deputado Glauber Braga, o presidente é “um ditador que não tem limite quando o assunto é poder”. Erundina disse que a gestão de Cunha “é marcada pelo domínio de influências conservadoras não apenas no plenário, mas também nas comissões técnicas”. “Os espaços onde conseguíamos interferir não existem mais. Precisamos, a partir do diálogo com a sociedade e os movimentos sociais, resistir a tudo isso”, ressaltou.

Votações ‘açodadas’

Son Cunha
Son 

Outra crítica feita pelo grupo a Cunha foi a aceleração de projetos de lei votados sem que houvesse tempo para melhor discussão em plenário e com a sociedade, como o PL 4.330, da terceirização.

O texto também aborda as medidas provisórias 664 e 665, encaminhadas pelo Executivo ao Congresso e que fazem parte do ajuste fiscal do governo. Os deputados que endossam a nota enfatizam que as duas matérias “restringiram direitos trabalhistas e previdenciários e foram apoiadas por Eduardo Cunha”. As medidas mudaram regras para concessão de benefícios como auxílio-doença, seguro-defeso, abono salarial, seguro-desemprego e pensão por morte.

Em relação à reforma política, os deputados ressaltam as estratégias adotadas pelo presidente da Câmara, no sentido de ele ter “trabalhado nos bastidores para que o relatório da comissão especial que abordou a PEC não fosse votado e impôs a ida ao plenário de um outro relatório”. Neste quesito, é destacado o fato de a Câmara ter aprovado a inclusão do financiamento empresarial para partidos e campanhas na Constituição um dia depois da mesma matéria ter sido rejeitada no plenário, em flagrante quebra de regimento.

Um procedimento que, lembram os deputados, foi repetido durante a votação da PEC 171. Outros itens citados foram o projeto de lei da minirreforma eleitoral, votado antes mesmo da votação em segundo turno da parte constitucional da reforma política.

‘Sob suspeita’

Aroeira
Aroeira

No tocante à postura pessoal de Cunha, o documento afirma que “a Câmara nunca esteve tão sob suspeita” e critica o fato de terem se avolumado as denúncias envolvendo Cunha referentes a supostas pressões sobre empresas e iniciativas nebulosas, como no caso da CPI da Petrobras – que o incluiu na lista encaminhada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, entre os políticos a serem investigados. Também pedidos de sindicância da corregedoria da casa contra os 23 parlamentares que estão sendo investigados pela Lava Jato estão, conforme o texto, há 126 dias sem nem sequer terem sido despachados pela presidência da casa.

Os deputados lembraram a iniciativa de aprovar a construção de um novo anexo na Câmara, que terá parte da área transformada numa espécie de shopping center para atendimento aos parlamentares, além do fechamento das galerias para militantes e todas as pessoas interessadas em acompanhar as votações em plenário, “inclusive com o uso da força, por meio da ação da polícia legislativa”. Citaram ainda as mudanças promovidas nas áreas de Comunicação Social e na área administrativa como um todo, “por meio de manobras regimentais que criaram um ambiente de teor e insatisfação entre os servidores”.

O deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) também reclamou da postura do colega de partido em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. “Estamos trabalhando de forma precipitada e desordenada, atropelando discussões. O açodamento, a pressa e a desorganização passaram a marcar o dia a dia da Câmara. Não é correto trabalhar de forma medíocre e confusa, como foi feito neste semestre”, declarou ele, que não assina o documento.

Nas redes sociais, vários manifestantes estão se organizando com “panelaços” para protestar contra o pronunciamento do presidente da Câmara, em cadeia nacional de rádio e TV, na noite desta sexta-feira.

Mariano
Mariano

Cunha, comedor de toco, não pode presidir a Câmara nem zoar de ditador e primeiro-ministro

As manchetes dos jornais de hoje indicam que acabou o parlamentarismo de Eduardo Cunha e suas aventuras de pequeno ditador na Câmara dos Deputados.
BRA_CB Cunha propina

BRA_OG Cunha propina

Pará
Pará

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Chega ao fim a presidência de Eduardo Cunha

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por Renato Rovai

A delação de Júlio Camargo, da Toyo Setal, de que Eduardo Cunha teria sido responsável pela cobrança de 10 milhões de dólares de propinas referentes a dois contratos de US$ 1,2 bilhão de navios-sonda, assinados pela Petrobras entre 2006 e 2007, é a tampa do caixão político do presidente da Câmara Federal que já vinha perdendo força no Congresso, apesar de todo seu comportamento de dono da Casa. Quem tiver dúvidas do que estou dizendo deve procurar o que Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) andou dizendo dele.

Cunha vem escapando de escândalos aqui e acolá há algum tempo. E vem conseguindo ampliar seu raio de atuação agindo como lobista de vários setores. Na disputa do Marco Civil da Internet, por exemplo, operou fortemente para derrotar a nova legislação a favor das teles. Certamente apenas por ideologia…

A força de Cunha no Congresso tem muito a ver com isso. Ele não é um líder natural, que conquista seguidores pela ideias que representa. Ele é aquele que sabe se movimentar nos bastidores e influir a partir de operações um tanto heterodoxas.

Diversos deputados falam à boca pequena que Cunha ganhou as eleições para a presidência na Câmara ainda na campanha eleitoral. E que sua força teria relação com o financiamento da campanha de vários dos eleitos.

Se é verdade ou não, as investigações que serão abertas a partir do depoimento de Júlio Camargo poderão mostrar.

Mas em política, as coisas são mais complicadas do que parecem. E hoje Cunha acabou.

E por que ele acabou?

Porque mesmo os deputados que podem ter sido agraciados com seus favores agora já devem estar apagando todas as chamadas e torpedos que receberam dele nos últimos meses. Sabem que neste momento se relacionar com o presidente da Câmara passa a ser uma ameaça.

Aos poucos, alguns começarão a não só a se afastar dele como vão lhe sugerir que é hora de baixar as armas e sair do foco. Ou seja, tentar fazer uma presidência menos barulhenta ou mesmo se afastar dela enquanto as investigações acontecem. E para que com a sua presença de investigado não atrapalhe a ação de todos os seus colegas.

Certamente Cunha vai ter a generosidade de parte da mídia na cobertura do seu caso. Principalmente da Globo, cujas relações que mantém não vem de hoje.

Antes de ser parlamentar, Cunha foi convidado por Paulo César Farias (lembram?) para presidir a Telerj na gestão de Fernando Collor, o senador da Lamborghini de 2,5 milhões de reais.

Na época, ele encaminhou a privatização da empresa e envolveu-se em um escândalo de superfaturamento. Ele assinou um aditivo de US$ 92 milhões da Telerj com a fornecedora de equipamentos telefônicos NEC Brasil que era controlada pela família Marinho (vejam que coincidência).

Mas mesmo com a benevolência quase certa da Globo, Cunha não vai dar conta do que vai acontecer com ele a partir de agora.

Manifestações contra o deputado passarão a ser uma constante depois disso. Principalmente porque ele tem se mostrado uma ameaça aos direitos da infância, dos LGBTs e de tudo que guarda relação com direitos humanos e ampliação de conquistas progressistas.

Ou seja, esses grupos terão ainda mais um motivo para combatê-lo.

Como previsto por este blogueiro, Cunha não estava indo com tanta sede ao pote à toa. Ele queria mostrar força para tentar escapar das denúncias que sabia apareceriam na Operação Lava Jato. E que poderiam levá-lo a ter o fim de Severino Cavalcanti.

Cunha jogou seu jogo duro e ainda vai tentar outras caneladas, como aprovar o processo de impeachment de Dilma. Mas a partir de hoje ele é mais do que um pato manco. É um congressista carimbado por uma acusação gravíssima de corrupção, porque dez milhões não são dez tostões.

Jarbas Cunha
Jarbas Cunha

E ai, meus caros, com essa ameaça lhe infernizando a vida, Cunha não terá alternativa. Vai ter de trabalhar para se defender. E ficará sem condições de liderar o que quer que seja. E terá de voltar para a tumba da sua inexpressividade. De onde nunca deveria ter saído. Ou seja, o caixão político de Cunha está sendo lacrado antes do seu primeiro pronunciamento à Nação. Transcrito do Portal Metrópole