Ali Kamel é manipulador e faz jornalismo de hipóteses

tv manipulação pensamento globo

Neste blog existem várias reportagens, artigos, entrevistas denunciando o jornalismo das empresas Globo como manipulador, parcial, tendencioso, mentiroso e vendido. Vide links. Um jornalismo baseado em hipóteses.

E quem dirige esse jornalismo safado, vendido (vide relatório do honrado deputado Djalma Aranha Marinho, hoje nome do plenário da Comissão de Constituição e Justiça), principalmente o da TV Globo?

Os manipuladores são os jornalistas que exercem os cargos da máxima confiança dos proprietários. Um diretor de jornalismo aprova a pauta de reportagens, seleciona os textos, as imagens e os áudios. Tudo conforme os interesses dos patrões.

Um jornalismo livre apenas é possível quando o Conselho de Redação, exclusivamente eleito por empregados sem cargos de chefia, decide a linha editorial.

A criação dos Conselhos deveria constar da Lei dos Meios, que o Brasil não possui, para evitar o monopólio, que cria o atual jornalismo manipulador do pensamento único, da censura dos empresários, do nefasto e profético Big Brother (O grande irmão Marinho, empregador de Ali Kamel) previsto por Georger Orwell.

Denunciada a existência do Partido da Imprensa Golpista (PIG)
Denunciada a existência do Partido da Imprensa Golpista (PIG)

 

globo tv pig golpista

pensamento único censura justiça

Com o monopólio dos meios, a liberdade de imprensa constitui uma propriedade das empresas, e não um direito do jornalista.

O jornalismo é feito de hipóteses. Em geral, um enunciado (ou conjunto de enunciados) que possa ser colocado à prova, atestado e controlado só indiretamente, isto é, através das suas consequências. A característica da hipótese é, portanto, que ela não inclua nenhuma garantia de verdade nem a possibilidade de uma verificação direta.

A manipulação começa pela escolha do jornalista (o patrão sabe que tipo de texto escrito se pode esperar de um editor que ele empregou). A preferência das fontes de informação (agências nacionais e estrangeiras, autoridades, pessoas de prestígio etc), sem esquecer que Carlinhos Cachoeira era ouvido e cheirado pela Veja e Globo. O abuso dos releases. A definição do espaço na imprensa, no jornalismo on line; e do tempo na tv e rádio.  E a mensagem vai da mentira a uma meia-verdade. De um balão de ensaio à propaganda (repetição) dos teasers.

tv globo

Kamel versus Nassif: a diferença de tratamento que a Justiça dá a casos semelhantes

 

por Paulo Nogueira

Falta de objetividade e de coerência nas decisões da Justiça
Falta de objetividade e de coerência nas decisões da Justiça

Da Justiça se espera ao menos uma coisa: que seja coerente nas decisões.

É a única forma que os cidadãos têm de medir eventuais consequências jurídicas de suas ações.

Estou falando isso a propósito da decisão da Justiça do Rio de condenar Luís Nassif a pagar 50 mil reais de indenização para Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo.

A juíza Larissa Pinheiro Schueler baseou sua decisão no fato de Nassif haver afirmado que Ali Kamel é “manipulador” e faz “jornalismo de hipóteses”. Isso, segundo ela, extrapolaria o “direito à informação”.

Aplique esta mesma lógica não apenas para Nassif, mas para a mídia em geral. Não faz muito tempo, no âmbito da mesma Globo de Kamel, os nordestinos foram chamados de “bovinos” por Diogo Mainardi.

Se “manipulador” custa 50 mil reais, qual seria a indenização para “bovinos”? Ou, já que falamos de Mainardi, de “anta”, como ele tratava rotineiramente Lula em seus dias de colunista da Veja?

A Justiça deveria, em tese, ser igual para todos, mas é mais igual para alguns do que para outros.

monopólio tv censura

Há uma decisão jurídica recente que demonstra isso com brutal precisão.

O jornalista Augusto Nunes, o Brad Pitt de Taquaritinga, foi processado por Collor. Quer dizer: Collor fez o que Kamel fez.

Com uma diferença: perto do que Nunes disse dele, Nassif arremessou flores na direção de Kamel.

Começa no título: “O farsante escorraçado da Presidência acha que o bandido vai prender o xerife”.

Um trecho: “… o agora senador Fernando Collor, destaque do PTB na bancada do cangaço, quer confiscar a lógica, expropriar os fatos, transformar a CPMI do Cachoeira em órgão de repressão à imprensa independente e, no fim do filme, tornar-se também o primeiro bandido a prender o xerife.”

O site Consultor Jurídico noticiou o caso assim:

“Na sentença, a juíza Andrea Ferraz Musa, da 2ª Vara Cível do Foro de Pinheiros, disse que, em um estado democrático, o jornalista tem o direito de exercer a crítica, ainda que de forma contundente.

(…) “Embora carregada e passional, não entendo que houve excesso nas expressões usadas pelo jornalista réu, considerando o contexto da matéria crítica jornalística. Assim, embora contenha certa carga demeritória, não transborda os limites constitucionais do direito de informação e crítica”, disse a juíza.

(…) No pedido de indenização, Collor alegou que foi absolvido de todas as acusações de corrupção pelo Supremo Tribunal Federal e que há anos vem sendo perseguido pela Abril.

A juíza, entretanto, considerou irrelevante a decisão do STF. “As ações políticas do homem público estão sempre passíveis de análise por parte da população e da imprensa. O julgamento do STF não proíbe a imprensa ou a população de ter sua opinião pessoal sobre assunto de relevância histórica nacional”, justificou.”

Um momento. Ou melhor: dois momentos. “Irrelevante” a decisão do STF? Então você é absolvido de acusações na mais alta corte do país e mesmo assim isso não vale nada? Podem continuar a chamar você de bandido sem nenhuma consequência?

A juíza aplicou uma espetacular bofetada moral no STF em sua sentença. Como para Augusto Nunes, também para ela não houve nenhuma consequência.

Se um juiz trata assim uma decisão da Suprema Corte, qual o grau de respeito que os cidadãos comuns devem ter pela Justiça?

O segundo momento é por conta da expressão “certa carga demeritória”. Raras vezes vi uma expressão tão ridícula para insultos e assassinato de imagem.

Regular a mídia é, também, estabelecer parâmetros objetivos para críticas e acusações feitas por jornalistas.

Não é possível que “manipulador” custe 50 mil reais e “bandido”, “chefe de bando”, “farsante” e “destaque da bancada do cangaço” zero.

Quando você tem sentenças tão opostas, é porque reinam o caos e a subjetividade.

A única coisa que une o desfecho dos dois casos é que jornalistas de grandes empresas de mídia se deram muito bem.

Isso é bom para eles e as empresas nas quais trabalham.

Para a sociedade, é uma lástima.

Enio
Enio
O debate da lei dos meios na Argentina
O debate da lei dos meios na Argentina

Romântica e amorosa prisão, na Bahia, do porteiro que acendeu a bomba que matou o cinegrafista Santiago. Teve beijinhos e abraços da namorada que viajou no mesmo avião com a polícia, advogado e TV Globo

Versão da Revista Veja: [O porteiro] Caio Silva de Souza, o suspeito de acender e disparar o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade, da Rede Bandeirantes, durante protesto no Rio de Janeiro, foi preso em Feira de Santana, na Bahia.

Caio Silva de Souza foi localizado em uma pousada perto da rodoviária da cidade, que fica a 116 quilômetros da capital Salvador.

A prisão foi feita por volta das 3 horas (2 horas na Bahia) pelo delegado Maurício Luciano, responsável pelo caso. Ele estava acompanhado pelo advogado Jonas Tadeu Nunes. Em entrevista à GloboNews, o delegado afirmou que o suspeito estava sozinho no quarto da pousada no momento da prisão, assustado e nervoso. “Com ajuda do advogado (Jonas Tadeu), ele se entregou. Não houve resistência”.

Além do delegado, a operação para prender o rapaz teve a participação de outros quatro policiais civis do Rio. A namorada dele também estava presente. Confira 

A Globo filmou a prisão e escondeu a namorada do porteiro
A Globo filmou a prisão e escondeu a namorada do porteiro

Versão do JC Net: O recepcionista da pousada Hergleidson de Jesus Moreira disse que Souza se hospedou por volta das 16h de terça-feira (11) com o nome de Vinícius Marcos de Castro. Ele não soube informar se o suspeito apresentou algum documento porque não estava trabalhando no momento do check-in.

Por volta das 22h, o recepcionista conta que um homem ligou para a pousada dizendo ser irmão de Souza. Ele disse para o recepcionista que chegaria mais tarde para se hospedar e pediu para falar com o suspeito.

Segundo Moreira, por volta das 3h (horário de Brasília) chegaram na pousada policiais civis, acompanhados do advogado e da namorada do suspeito. Após a mulher e o advogado conversarem com o manifestante, ele deixou o quarto acompanhado por dois policiais civis.

O REENCONTRO DOS NAMORADOS

[O advogado] Jonas Tadeu disse: “Ele não foi preso, eu entrei no quarto com a namorada dele, conversamos e ele se apresentou à autoridade”. É importante salientar que Caio Silva de Souza não conhecia o advogado. Quem entrou primeiro no quarto: o advogado ou a namorada? Um idílico e saudoso e desesperado encontro que a imprensa censurou.

O monopólio da Globo (televisões, rádios e jornais impressos e online) esconde a namorada de Caio. Informa o G1: A prisão foi efetuada pelo delegado que investiga o caso, Maurício Luciano de Almeida e Silva. Ele estava acompanhado do advogado de Caio, Jonas Tadeu, que também defende outro rapaz envolvido no caso, Fábio Raposo, que está preso no Rio. Leia  

O advogado Jonas Tadeu defender os dois presos é uma situação bastante esquisita. Que um incrimina o outro. O Jonas é mais um advogado do diabo, para um dos presos. Presos que não conhecia. O que é mais estranho ainda (vale o trocadilho).

Esta exclusividade da Globo gerou uma briga com a Band, a mesma exclusividade que a Globo tinha garantida com as denúncias do “jornalista” e bicheiro Carlinhos Cachoeira. Uma briga que deixa no ar a pergunta: que avião foi usado na viagem para prender Caio na Bahia? O da Globo? O da polícia? Ou um avião de carreira? Melhor perguntado: a polícia deu carona aos jornalistas, ou a Globo patrocinou a viagem da polícia, mais advogado e namorada do preso?

BRIGA DE COMADRES

Escreve Daniel Castro/ Net:

A exclusividade da Globo no registro da prisão de Caio Silva de Souza, 25, suspeito de ter atirado o artefato explosivo que causou a morte do cinegrafista Santiago Andrade, na quinta-feira passada no Rio de Janeiro, gerou revolta nos bastidores da Band.

Os jornalistas da emissora não se conformam o fato de a Globo ter tido acesso com exclusividade a uma operação policial que prendeu um dos envolvidos na morte de um profissional da própria Band.

Protegidos pelo anonimato, eles acusam o Polícia Civil do Rio de Janeiro de privilegiar a Globo, como já ocorreu anteriormente em operações da Polícia Federal, como a que prendeu, em setembro de 2005, o ex-prefeito Paulo Maluf e seu filho, Flavio Maluf. Na época, o repórter Cesar Tralli se fantasiou de agente policial.

A Globo nega ter sido favorecida pela polícia. Em nota, diz que sua “equipe seguiu os investigadores, a partir de informações apuradas pela reportagem, profissionalmente”. A Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro não comentou até a conclusão deste texto.

A prisão de Souza foi acompanhada pela repórter Bette Lucchese, um cinegrafista e um técnico. Eles seguiram os policiais desde o Rio de Janeiro. Viajaram no mesmo avião que os policiais até Salvador e acompanharam os agentes de carro até Feira de Santana. Retornaram no mesmo avião e registraram toda a ação.

A versão da Globo de que seus jornalistas seguiram os investigadores não convence os profissionais da Band. “Se os jornalistas da Globo foram juntos com a polícia é porque foram convidados ou autorizados”, diz, revoltado, um repórter.

Quem conhece os bastidores das operações policiais sabe que repórteres não seguem investigadores. É a polícia que avisa quando realiza uma prisão ou operação especial. Do contrário, a polícia poderia impedir os jornalistas de segui-los, e até prendê-los, sob a acusação de tentativa de obstrução da Justiça.

A polícia também poderia impedir os repórteres sob o argumento de risco à vida.

A Globo enviou a seguinte nota:

“A equipe da TV Globo viajou em avião de carreira, pagando suas despesas, como é norma da emissora. Em terra, chegou até Feira de Santana, em táxi pago pela equipe. Não é verdade que a equipe foi convidada pela Secretaria de Seguranca. A equipe seguiu os investigadores, a partir de informações apuradas pela reportagem, profissionalmente. O jornalismo da Globo não obteve qualquer favorecimento. Desde o início da cobertura, a TV Globo vem dando informações em primeira mão sobre o caso, adotando os princípios de trabalhar com isenção, precisão e agilidade, observados pelo jornalismo da emissora.”

 “HÁ QUALQUER COISA NO AR, ALÉM DOS AVIÕES DE CARREIRA”

A frase é do Barão de Itararé. Esta exclusividade da TV Globo visa divulgar uma única versão do caso do assassinato do jornalista Santiago Dantas. A versão da Globo é a versão da polícia, e vice-versa.

Agora a história do avião não foi bem contada. E todo mundo sabe das ligações da Globo com o governador Sérgio Cabral.

A peça mais importante para prender Caio foi a namorada, que também não conhecia o advogado Jonas Tadeu.

Sei que rolou beijos e abraços no reencontro dos dois namorados. Nada mais natural.

A Globo das novelas picantes, do primeiro beijo gay, do primeiro beijo lésbico, das cenas de sexo no BBBrasil e novelas, esconde a presença da namorada de Caio.

Veja a entrevista. A jornalista Beth Lucchesi, da Globo, diz que estava no mesmo avião com a polícia e Caio. Clique aqui

Beth não cita a namorada. Como foi a viagem de volta dos namorados?

Por que a imprensa ajuda a matar

por Raphael Tsavkko Garcia

Estudante Douglas Rodrigues, 17 anos
Estudante Douglas Rodrigues, 17 anos

Em apenas quatro dias, três assassinatos foram cometidos pela Polícia Militar de São Paulo. No dia 26/10, o cabeleireiro Severino de Oliveira Filho, de 49 anos, foi morto durante uma perseguição de policiais a um suposto assaltante. Ele apenas passava por perto quando foi baleado no ombro e morreu depois da polícia se recusar a prestar socorro imediato.

No dia seguinte, em 27/10, na Vila Medeiros, zona norte de São Paulo, Douglas Rodrigues, de 17 anos, foi baleado no peito por um PM, Luciano Pinheiro, que afirmou ter sido acidental o disparo – a porta da viatura teria disparado a arma, assim noticiou a mídia, garantindo ainda amplo espaço para sua defesa. As últimas palavras de Douglas foram “Por que o senhor atirou em mim?” Não há, ainda, uma resposta aceitável.

Na segunda (29/10), no Parque Novo Mundo, também na Zona Norte, o jovem Jean, de 16 anos, foi assassinado pela Polícia Militar, que o acusou de, desarmado, tentar assaltar um policial. Segundo testemunhas, ele teria levado dois tiros no abdômen e um na cabeça.

Todas as notícias acima têm algo em comum, e não apenas o fato de se encaixarem no que as comunidades da periferia chamam de “genocídio da população negra”, mas a cobertura enviesada da mídia, a desconfiança da inocência da vítima e a crítica tímida, senão inexistente, do uso da força policial nas “quebradas”. Continua

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Nota do redator do blogue. A imprensa tornou-se porta-voz da polícia que prende, arrebenta e mata.

PM que matou estudante na Zona Norte de SP é solto

USOU O MESMO TIPO DE ARMA DA CHACINA DA FAMÍLIA PESSEGHINI

O soldado Luciano Pinheiro Bispo, de 31 anos, estava detido desde o dia 27 de outubro no Presídio Romão Gomes da Polícia Militar, por ter atirado no estudante Douglas Martins Rodrigues, de 17 anos, que morreu. A defesa alega que o disparo foi acidental.

Informou o advogado Fernando Capano que 98 mil armas da corporação em São Paulo foram recolhidas entre abril a setembro deste ano para recall porque poderiam disparar sozinhas.

“O disparo foi acidental. O que ocorreu foi um acidente e meu cliente lamenta o ocorrido”, falou o defensor do soldado.

Segundo o advogado, o recall nas pistolas .40 usadas pela PM foi solicitado pela própria corporação. Documento da Polícia Militar pedia um “plano de revisão do armamento institucional de calibre .40 pistola Taurus – série 640 a 24/7” usada para “correção, concerto e prevenção”. Os policiais militares admitiam ocorrências de “disparos acidentais (…) envolvendo as armas”. Naquela ocasião, se requereu estudo “criterioso” sobre os casos. O prazo de entrega das armas iria até 27 de setembro.

Apesar de a arma de Bispo não ser desse mesmo lote que passou pela revisão da Taurus, seu advogado sustenta que, diante de tantas queixas é possível que a pistola de seu cliente também tenha falhado.

Questionada, a assessoria de imprensa da PM confirmou a “inspeção” nas armas. Por meio de nota, a PM afirmou que, “no caso em questão, ao qual responde o Sd PM Luciano Pinheiro Bispo, a arma dele foi submetida à inspeção preventiva citada, contudo, independentemente da manutenção da fabricante, ela também será submetida à perícia pela Polícia Técnico Científica, sendo certo que, se houve falha mecânica no equipamento, este fato será pontuado pelo Instituto de Criminalística.”

Estas informações são do G1. Com arma idêntica o menino Marcelo, 13 anos, doente do pulmão e flágil, matou o pai sargento, a mãe cabo, a avö e a tia avó. A arma não folhou. Foram cinco balas e cinco cadáveres, incluindo o de Marcelo Pesseghini.

Comprar armas defeituosas que incompetência! Os testes deviam ter sido realizados antes, e não depois, tendo o povo como alvo.

Ativismo põe em xeque narrativas oficiais

por Mauro Malin

 Rainer Ehrt
Rainer Ehrt

A cobertura jornalística da revolta de junho testou cérebros e músculos da mídia convencional e de novas modalidades criadas pelo advento da telemática, como o testemunho de participantes que usaram telefonia móvel para relatar na internet, com imagens, áudio e texto, o desenrolar de passeatas e outros atos públicos.

Aldo Quiroga, da TV Cultura e da PUC-SP, fez ver que a mídia alternativa já existiu antes no Brasil e defendeu uma militância a favor do jornalismo. Milton Bellintani, do projeto Repórter do Futuro, disse que os jornalistas têm compromisso com o interesse público e a democracia. Bellintani relembrou que as redações já foram locais de debates como o que ali se realizava, característica anulada por uma lógica empresarial concorrencial.

Proteger repórteres

Antes do início da conversa propriamente dita, Sérgio Gomes, o Serjão, disse que o debate foi organizado com o objetivo de promover uma troca serena de ideias, sem caráter de espetaculosidade. O diretor executivo da Abraji, Guilherme Alpendre, relatou que a associação havia contabilizado 53 agressões policiais a jornalistas desde o início dos protestos até a última semana de junho, em várias capitais (leia aqui).

O bate-papo foi mediado pelo coordenador de Comunicação da Conectas, João Paulo Charleaux, que cobriu as manifestações em São Paulo para o jornal La Tercera, de Santiago do Chile. Charleaux disse que a ideia de promover o encontro surgiu “a partir do número assombroso de inscritos para o 12O curso Jornalismo em Situações de Conflito e Outras Situações de Violência (mais de 700 até meados de julho). Achamos que seria uma pena que só 25 pessoas pudessem discutir o assunto”.

O debate entre quem participou da cobertura “é uma chance de saber como esses jornalistas estão vendo uma situação desafiadora nos aspectos ético, logístico, técnico, em todos os aspectos”, avaliou o jornalista, que há bastante tempo participa de debates semelhantes, inclusive tentativas da ONU de fazer resoluções a respeito de proteção de jornalistas.

Instinto de sobrevivência

“Sei como isso é complicado e muitas vezes inviável. O Conselho de Segurança, em sua próxima reunião, vai abordar o tema de uma resolução de proteção de jornalistas, no âmbito jurídico, diplomático. E venho acompanhando o debate do Insi (International News Safety Institute) e da Abraji sobre como capacitar os repórteres para sofrer menos nessas situações, devido a ações cometidas pela polícia e às vezes o comportamento deliberado do Estado de atacar a imprensa. Assim como de pessoas que estão na manifestação e também atacam os jornalistas. A proteção de um fotógrafo, de um cinegrafista, de um cidadão que registra imagens com seu celular tem sido baseada no seu próprio instinto de sobrevivência, sua capacidade de se preservar para continuar registrando as situações”, disse Charleaux.

A verdade da rua

Você não pode dizer uma coisa nos jornais e as redes dizerem outra. Isso teve um papel tremendo até do ponto de vista de controle da ação policial. Quando terminou a manifestação e os policiais, na batalha da Consolação, foram perseguindo as pessoas nas ruas de São Paulo, qualquer reunião de duas ou três pessoas eles atiravam bombas de gás e bala de borracha indiscriminadamente, quando isso acontece, e não acontece em becos, acontece com todos os celulares virados para essas cenas, pessoas filmando da janela de casa o que estava acontecendo, isso para a polícia foi muito forte.

O comportamento deles nos dias seguintes se baseou muito nisso, eles não podiam fazer o que quisessem, estavam submetidos a esse tipo de controle, isso é muito bom, apesar de termos tido casos de jornalistas que foram agredidos, sofreram algum tipo de violência. O controle é maior e isso é possível porque vivemos numa democracia.

Aqui estão pessoas que fizeram, do ponto de vista jornalístico, alguns dos trabalhos mais interessantes dessa cobertura. Se o Piero tivesse querido fazer uma matéria sobre uma pessoa sendo presa por carregar vinagre, não conseguiria fazer o que ele fez sobre ele mesmo, com frieza, continuar filmando numa situação de estresse, sendo preso, e o vídeo que ele faz. Tem uma cena sensacional, uma hora em que o coronel pega o telefone e diz: Filma aqui. É um resumo muito bem acabado do que foi a polícia naquele dia, do absurdo da situação. Na última cena [Piero] pergunta ao comandante da operação se é proibido ter vinagre, e ele diz que não, ele admite o absurdo da situação. (Veja aqui o vídeo.)

A matança ignorada

E realmente estava todo mundo perdido, cada um pensando uma coisa, ninguém sabia o que estava acontecendo. Agora as coisas estão acalmando e vão surgindo análises um pouco mais sensatas e estamos começando a entender levemente o que está acontecendo. Ainda vai levar tempo para conseguirmos entender realmente.

Sobre a violência da polícia, eu não esperava nada diferente do que está acontecendo. Acho que a polícia foi violenta, mas menos violenta do que ela é todo dia na periferia. A polícia está matando geral na periferia. Você escuta relatos absurdos de gente morrendo, tem acusações gravíssimas de grupos de extermínio formados por policiais, segundo essas acusações, que colocam touca ninja e matam gente na periferia aleatoriamente. O que aconteceu na quinta-feira (13/6) foi significativo, mas muito menos do que a gente vê todo dia, e a gente grita muito menos por conta dessa violência que acontece na periferia. A polícia não matou ninguém na quinta-feira, mas está matando todo dia na periferia.

PM do regime militar

Basicamente, a polícia que o regime militar montou é a que está aí. Em São Paulo, quando houve eleição direta para governador e ganhou o Franco Montoro [1982], houve uma preocupação com o fato de que o quartel-general estava cheio de oficiais fascistas. Tiveram a “genial” ideia de dizer: Vamos espalhar esses caras. O que fizeram? Espalharam o fascismo. Cada coronel desses foi defender suas ideias, e seu processo de formação, no quartel para onde foi mandado. São informações que um cara da PM me deu. Era meu vizinho de mesa numa função que tive [no governo do estado de São Paulo]. Era indignado com a polícia, embora fosse da polícia.

(Transcrevi trechos). Leia mais

Abraji completa dez anos com associado preso

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A Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – completa no próximo dia 10 de dezembro, dez anos de fundação.

“A Abraji lidera o Fórum de Direito de Acesso, coalizão de 25 entidades da sociedade civil, e trabalhou desde sua fundação pela elaboração e aprovação do texto. Também segue lutando pelo direito de acesso a informação – agora que a lei está em vigor, o trabalho é cobrar seu funcionamento célere e capacitar jornalistas a utilizá-la”.
Que comece esse trabalho em Pernambuco, investigando a polícia do governador Eduardo Campos.

Para os próximos dez anos, a atual diretoria da entidade vê como prioridade seguir defendendo o jornalismo de qualidade, a liberdade de expressão, do direito de acesso e da segurança profissional. “Um novo desafio é ajudar o jornalismo de qualidade a encontrar espaços neste ambiente de mudanças abruptas e de futuro incerto, além de buscar a estabilidade financeira”.

Não há festa quando existe o luto de um jornalista preso. Não há jornalismo investigativo sem liberdade de expressão do povo em geral, dos jornalistas e dos meios de comunicação.

A prisão de um jornalista, no exercício da profissão, comprova a inexistência da Liberdade, o império do arbítrio, da censura, do terrorismo estatal/policial e assédio judicial.

A prisão de Ricardo Antunes envergonha os festejos da Abraji. Macula.
O silêncio da Abraji é covardia ou cumplicidade.

Diz Ricardo que é sócio da Abraji.

Compete a Abraji ouvir Ricardo que se encontra preso, incomunicável, desde 5 de outubro último, em uma secreta prisão do Recife, vítima – conforme rumores – de stalking, assédio moral, tortura psicológica, tortura física. Onde há segredo, há atoarda, há balela, há boato. Jornalismo se faz com a Verdade. Jornalismo não se faz com meia-verdade, press release da polícia (fonte única e interesseira), barriga, caixa preta e medo.

Compete a Abraji punir, expulsar (conselho de ética) ou defender Ricardo. Não tem outra.

Charge

Bicheiro Cachoeira solto. Jornalista Ricardo Antunes preso

14-N jornalismo

Depois de amanhã completam dois meses de Ricardo Antunes preso, incomunicável, num calabouço secreto, de segurança máxima, do governador Eduardo Campos.

A Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região determinou, hoje, a liberdade do bicheiro Cachoeira. A defesa de Cachoeira alegou que houve excesso de prazo para a conclusão da investigação, e o argumento havia sido aceito pelo relator, desembargador Tourinho Neto.

No mérito, Tourinho Neto manteve o voto pela liberdade e foi acompanhado pelo desembargador Cândido Ribeiro. A desembargadora Mônica Sifuentes foi contra a concessão do habeas corpus.

Há cerca de 10 dias, Cachoeira foi solto.

Cachoeira anda colecionando habeas corpus.

cachoeira detido

 

Ricardo Antunes foi trancafiado no dia 5 de outubro último, antevéspera das eleições.

Até hoje se desconhece o nome do advogado de Ricardo Antunes. Contra Ricardo a estapafúrdia publicação, ad infinitum, de um press release suspeito e contraditório  da polícia, informando da extorsão ou chantagem ou negociação de uma notícia de um milhão de dólares.

Ensina Angelina Nunes: Jornalismo investigativo é todo trabalho de jornalista que não se limita ao release, ao declaratório. O que o repórter deve fazer é cruzar dados, fuçar orçamento, ler editais, destrinchar leis, ouvir mais personagens, buscar as informações escondidas nas estatísticas. Uma boa matéria dá trabalho, requer tempo, algum dinheiro e capacitação.

José Roberto de Toledo: É mais fácil definir jornalismo investigativo pelo que ele não é: não é entrevista quebra-queixo, resumo de release, declaração de autoridade, curadoria de noticiário alheio. Investigar é procurar informações inéditas e socialmente relevantes, contextualizá-las no tempo e no conjunto de outras informações e contar uma boa história. Não precisa ser apenas sobre corrupção, não precisa mandar ninguém para a cadeia nem derrubar ministro. 

A prisão de um jornalista deve ser investigada. Pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), e pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), da qual Ricardo Antunes é sócio.

O caso Ricardo precisa ser analisado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco (Sinjope).

Que os órgãos de classe tranquilizem a profissão. Notifiquem que Pernambuco não está em temporada de caça.

Ricardo Antunes era o único jornalista que escrevia notícias do desagrado do governador Eduardo Campos.

O blogue de Ricardo, Leitura Crítica, foi fechado pela polícia. Veja a lista de dez bons livros escritos no cárcere. Clique aqui.

Existe ou não existe liberdade de expressão no Brasil?

Que crime praticou Ricardo para ser preso?

Nenhum jornalista, em Pernambuco, possui a fortuna de uma notícia de um milhão de dólares.

ditadura pesquisa indignados

Joaquim Barbosa chamou, bem chamado, os jornalistas de canalhas. Ricardo Antunes está nesse time?

No mesmo dia em que a imprensa internacional destacou a origem humilde de Joaquim Barbosa, o novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) se desentendeu com jornalistas brasileiros e, de acordo com texto de Ricardo Noblat, de O Globo, o vazamento de um comentário feito em off a alguns repórteres fez com que o ministro chamasse todos de “canalha”.

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Para Noblat, o ministro costuma ser antipático com jornalistas e quase sempre pede para que as informações sejam em “off”. Nessa quinta-feira, 22, ele usou o recurso para responder o questionamento do jornalista Luiz Fara Monteiro, da TV Record, negro como Joaquim, que perguntou ao presidente do STF se ele estava “mais tranquilo, mais sereno”.

Como resposta, Barbosa chamou o repórter da Record de “brother” e disse que, diferentemente, dos demais jornalistas, ele não deveria formular perguntas com bases em estereótipos. O ministro não disse se vai ficar “sereno” à frente da mais alta corte do País, mas ressaltou que é para a imprensa parar de relacionar seus feitos com a cor de sua pele.

“Nesses dez anos, o ministro Joaquim botou para quebrar aí, quebrou as cadeiras? Gente, vamos parar de estereótipo. Logo você, meu brother! Ou você se acha parecido com a nossa Ana Flor [repórter da agência Reuters que é loira]? A cor da minha pele é igual à sua”, disse o ministro.

Ainda se dirigindo a Monteiro, Barbosa reforçou que falar da sua cor de pele é algo negativo e desnecessário. “Não siga a linha de estereótipos porque isso é muito ruim. Eles [os demais jornalistas] foram educados e comandados para levar adiante esses estereótipos. Mas você, meu amigo?”.

Segundo Noblat, ao saber que o diálogo tinha sido publicado em veículos jornalísticos, inclusive com o áudio disponível, Barbosa desabafou durante uma conversa com amigos e chamou os jornalistas de “canalhas”. Oficialmente, o ministro não se pronunciou sobre a suposta crítica aos profissionais da imprensa. In Comunique-se.

Certamente, o ministro não generalizou. Tanto, que não me sinto atingido.

Jornalistas canalhas reproduziram, em 5 (dia do prende e arrebenta) e 6 de outubro último, o press release policial da prisão de Ricardo Antunes. Release não é notícia jornalística. E sim uma mera e interesseira fonte.

Depois imperou o silêncio da polícia, da imprensa, da justiça.

O jornalista Ricardo Antunes continua preso, incomunicável, em um presídio de segurança máxima, e seu blogue fechado. A última notícia que publicou foi uma hora antes do aprisionamento. Isso chamo de censura. Mordaça. Encabrestamento. Amarrado está Ricardo em uma cela sombria, no pior e maior presídio do mundo, o Aníbal Bruno. Corre o boato de tortura. Que a imprensa precisa investigar. Pode acontecer com qualquer outro jornalista.

Denuncia a polícia que Ricardo é extorsionário. Cobrou, para ser pago pelo bacharel Antônio Lavareda, em trinta (30) suaves prestações, um milhão de dólares para não publicar uma desconhecida reportagem investigativa. É uma história estranha. Misteriosa. Não dá para acreditar neste preço, e nem na armadilha de pagar uma extorsão em trinta (30) meses. Que revela essa reportagem? Os jornalistas perderam a curiosidade?

Nenhum bandido negociaria com esse prazo de quase três anos. Tanto, diz o release, que Ricardo foi preso ao receber a primeira prestação. Pelo noticiário, pego com uma gigantesca mala cheia de notas marcadas. Algemado ora na rua ora no escritório de Lavareda.

Qualquer bandido tem advogado, assessor de imprensa (canalha) e familiares que são entrevistados. Por que negam o direito de defesa para Ricardo?

A questão não é Ricardo ser ou não ser criminoso. O que incomoda, envergonha, macula, enxovalha, intimida e aterroriza é a crença cega em um release.

O “maloqueirismo” na mídia brasileira

por Lula Miranda

Esses jornalistas vivem enclausurados em seus próprios umbigos e crenças de classe. Tal qual vampiros* não saem à luz do dia – têm seus motivos [* sentido figurado: aquele que explora os pobres em benefício próprio]. Não se encontra um “maloqueiro” nas ruas e shoppings de sua cidade, por exemplo. Eles rastejam nas antessalas e corredores do poder. Não pegam ônibus, trem ou metrô; desconhecem, portanto, as agruras por que passam os cidadãos comuns. Seus patrões, zelosos, tal qual o bom carcereiro da fábula que embala os inocentes, vez em quando lhes coloca um prato de comida e uma cuia com água fresca, na porta de seus catres sombrios, para que estes se alimentem e matem a sua sede. Sede de água, vale o registro, mesmo sob o risco do pleonasmo – pois a sede de servir ao patrão, esta é insaciável.

São regiamente remunerados e recebem, a título de bônus, pequenos mimos e mordomias – para que, também eles, sintam-se parte integrante do que se convencionou chamar de “classe dominante” ou, numa linguagem mais vulgar, de “bem nascidos”. Viajam de 1ª classe; acomodam-lhes em bons hotéis estrelados; bebem vinho caro e bom champanhe; comem em bons restaurantes [de alta gastronomia] etc. A eles, em verdade, bem como aos seus leitores, são destinadas as migalhas, os restos dos banquetes em que se fartam os hipócritas.

Tal qual condenados, subjugados pelo seu próprio servilismo e vacuidade, eles sequer percebem, mas a cada movimento que fazem em seu claustro de misérias escuta-se ao fundo o rangido do lento arrastar dos grilhões e correntes invisíveis, que lhes servem de amarras. Grilhões e correntes invisíveis aos olhos dos justos e dos incautos, mas que não engana o rigoroso juiz que todos carregamos n’alma e que lhes assombram e comprometem o sono.

O “maloqueirismo” ou “jornobanditismo” é um neologismo, um conceito relativamente novo, nem tão recente decerto, mas que ainda não foi devidamente estudado, dicionarizado ou catalogado. Já foi traduzido, inapropriadamente, algumas vezes, por variados nomes e qualificativos, tais como “parcialismo”, servilismo ou sabujice, vilania, pena de aluguel, “escreventes da infâmia”, jornalismo fiteiro etc. Mas não é nada disso; é muito mais além, ou aquém.

É obra do jornalismo maloqueiro, por exemplo, a politização do descalabro, as denúncias seletivas, que só afetam determinado partido político; as manchetes tão grandiloquentes quanto vazias; a “espetacularização” da notícia; a utilização de arapongas e detetives mafiosos em seus métodos investigativos; o desrespeito às pessoas, a sujeição do outro ao linchamento moral e à desonra; a expropriação da identidade do indivíduo, o culto ao patrimônio, dentre outras mazelas e vergonhas.

Devemos, portanto, em nome da liberdade e do pluralismo da imprensa, condenar e denunciar esse tipo deletério de jornalismo. Transcrevi trechos

Quem controla a notícia?

por Carlos Castilho

Não é segredo que a imprensa usou esse recurso de manipular contextos com frequência preocupante, criando uma situação em que ambos os lados têm culpa em cartório. Se as tentativas de influenciar a publicação constituem uma interferência indevida no livre fluxo de informações, por outro lado a manipulação de contextos é igualmente condenável,  porque priva o leitor de uma percepção mais objetiva da questão abordada.

Também é publico e notório que políticos, governantes, empresários e personalidades tentam influenciar a imprensa antes mesmo do contato direto com repórteres e editores. Os comunicados de imprensa (press releases) são uma forma aceita de tentar condicionar a informação dada ao jornalista.

Nos casos mais grosseiros, o profissional consegue identificar os interesses embutidos no comunicado, mas a sofisticação crescente nas técnicas de relações públicas torna cada vez mais difícil distinguir a informação do marketing. Caso o jornalista resolva não ser um “inocente útil” no marketing alheio, ele acabará gastando um bom tempo para separar o joio do trigo e provavelmente será ultrapassado pela concorrência, ficando exposto à censura de seus superiores.

(Transcrevi trechos)