O sequestro de crianças por papa-figo e para rituais de magia negra sempre fez parte do legendário brasileiro. Os boatos servem para encobrir o tráfico infantil para a prostituição e transplantes de órgãos, que a polícia não procura as meninas e meninos desaparecidos. Nem investiga as mortes por balas perdidas e por causa desconhecida conforme incompetentes atestados de óbitos.
Três Rios em Pânico, no Rio de Janeiro
Em 12 de abril, o jornal online Três Rios publicou reportagem assinada por Luana Lazarini:
Desde o início da semana, o retrato falado de uma suposta sequestradora de crianças em Três Rios circula pelas redes sociais. A mensagem, que diz que a mulher retira os menores dos braços das mães à força, tem preocupado pais e a população em geral. Com o temor que aflige os trirrienses, cartazes chegaram a ser fixados em muros de algumas escolas do município e muitas mães não deixam os filhos andarem sozinhos pelas ruas.
Em nota enviada ao Entre-Rios Jornal, a 108ª Delegacia de Polícia informa que os boatos sobre a ação da suposta sequestradora na cidade são inverídicos e que “a foto da mulher foi retirada de uma antiga notícia de jornal que não tem qualquer relação com o município de Três Rios”. A reportagem em questão foi publicada em 2012, quando a mulher tentou roubar um bebê do colo da mãe e esfaqueou a vítima na Zona Norte do Rio de Janeiro. Transcrevi trechos. Os dois retratados foram publicados no
Pontal Notícias do Paraná no dia 13 de abril último:
Sequestradora está agindo no litoral do Paraná
A mulher do retrato falado acima é uma criminosa que tentou sequestrar uma criança em uma creche em Pontal do Paraná. Segundo informações, essa moça sequestra crianças para praticar magia negra, e está sendo procurada pela polícia por ser acusada de sequestrar mais de 30 crianças. A polícia pede cautela e atenção aos pais e sociedade, e qualquer informação da meliante deve ser passada pela Polícia no 190, pois ajuda no paradeiro da sequestradora. Não é preciso se identificar.
Pedido de alerta em Guarujá, São Paulo
Em 25 de abril último, o Página Guarujá Alerta publicou no Facebook:
Linchamento após boatos de rapto de crianças
Fabiane Maria de Jesus morreu na manhã desta segunda-feira (5), dois dias após ter sido espancada por dezenas de moradores de Guarujá, no litoral de São Paulo. Segundo a família, ela foi agredida a partir de um boato gerado por uma página em uma rede social que afirmava que a dona de casa sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra.
Informa a revista Veja: Moradores do bairro Morrinhos, no Guarujá, são os principais suspeitos de linchar até a morte a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos. A principal linha de investigação da Polícia Civil é que Fabiane foi confundida com um retrato falado espalhado nas redes sociais, atribuído a uma suposta sequestradora de crianças que praticava rituais de magia negra. Amarrada e espancada nas ruas do bairro, ela acabou sendo vítima de mais uma inaceitável ação de “justiceiros” no Brasil.
A Polícia Civil ainda não sabe quantas pessoas participaram do linchamento, mas já tem imagens da agressão coletiva, feitas com telefones celulares e divulgadas na internet. Investigadores fazem buscas e procuram testemunhas em Morrinhos, bairro com mais de 20.000 habitantes, na periferia do Guarujá.
“Tudo indica que os autores são da comunidade mesmo. As imagens são fracionadas, mas permitem a identificação de pessoas que tenham relacionamento com os suspeitos. Ainda não sabemos quantas pessoas efetivamente participaram das agressões”, disse o delegado Luiz Ricardo Lara, do 1º Distrito Policial de Guarujá.
O bairro Morrinhos é dividido em quatro glebas. Fabiane morava com familiares em Morrinhos 1 e sofreu o espancamento em Morrinhos 4, distante de sua casa. Segundo as investigações, ela saiu de casa sozinha para caminhar, mas a polícia ainda não sabe como ela chegou ao local do espancamento.
Familiares de Fabiane já prestaram depoimento à polícia. O marido dela relatou que a mulher fazia acompanhamento psiquiátrico. Eles não relataram perseguições anteriores a Fabiane.
A família e os investigadores suspeitam que a dona de casa tenha sido confundida com uma mulher que teve dois retratos falados divulgados na internet. As imagens são acompanhadas por textos alertando pais e mães para não deixarem seus filhos nas ruas, porque poderiam ser alvo de sequestro para rituais de magia negra.
A polícia, entretanto, é categórica ao afirmar que não tem nenhum registro de acontecimentos desse tipo no Guarujá. “Os fatos veiculados pelas redes sociais são inverídicos. Pelo menos até agora, não há registro aqui na cidade de Guarujá, em qualquer dependência policial, de fato caracterizado como sequestro de criança. Nenhum boletim de ocorrência”, disse o delegado. Boatos similares, espalhados com as mesmas imagens, já haviam sido desmentidos em cidades no Rio de Janeiro.
Guaruja volta a linchar
Um casal de jovens, morador da região do ABC Paulista, na Grande São Paulo, foi pintado por banhistas e moradores da comunidade da Prainha Branca, em Guarujá, no litoral do Estado, após terem pichado uma grande pedra que fica na entrada da praia.