Os shoppings foram construídos para manter os negros do lado de fora. Nada de rolezinho

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* Existe o apartheid negro no Brasil

* Os shoppings, novos templos do capitalismo branco

* A Polícia Militar, com um efetivo de praças negros, exerce o papel de feitor que, na escravidão legalizada do Brasil Colônia e do Brasil Império, era um serviço sujo realizado por negros também escravos

* Os muros do prefeito Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, cercam os negros em guetos

* Não temos mais os negros fugidos e perseguidos pelo Exército, mas as polícias estaduais conquistam favelas em nome de uma paz das prisões sob vara, da tortura e da morte. São milhares de negros desaparecidos, sendo recente o caso Amarildo

 

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Os novos “vândalos” do Brasil

O rolezinho, a novidade deste Natal, mostra que, quando a juventude pobre e negra das periferias de São Paulo ocupa os shoppings anunciando que quer fazer parte da festa do consumo, a resposta é a de sempre: criminalização. Mas o que estes jovens estão, de fato, “roubando” da classe média brasileira?

por Eliane Brum/ El País, Espanha

O Natal de 2013 ficará marcado como aquele em que o Brasil tratou garotos pobres, a maioria deles negros, como bandidos, por terem ousado se divertir nos shoppings onde a classe média faz as compras de fim de ano. Pelas redes sociais, centenas, às vezes milhares de jovens, combinavam o que chamam de “rolezinho”, em shopping próximos de suas comunidades, para “zoar, dar uns beijos, rolar umas paqueras” ou “tumultuar, pegar geral, se divertir, sem roubos”. No sábado, 14, dezenas entraram no Shopping Internacional de Guarulhos, cantando refrões de funk da ostentação. Não roubaram, não destruíram, não portavam drogas, mas, mesmo assim, 23 deles foram levados até a delegacia, sem que nada justificasse a detenção. Neste domingo, 22, no Shopping Interlagos, garotos foram revistados na chegada por um forte esquema policial: segundo a imprensa, uma base móvel e quatro camburões para a revista, outras quatro unidades da Polícia Militar, uma do GOE (Grupo de Operações Especiais) e cinco carros de segurança particular para montar guarda. Vários jovens foram “convidados” a se retirar do prédio, por exibirem uma aparência de funkeiros, como dois irmãos que empurravam o pai, amputado, numa cadeira de rodas. De novo, nenhum furto foi registrado. No sábado, 21, a polícia, chamada pela administração do Shopping Campo Limpo, não constatou nenhum “tumulto”, mas viaturas da Força Tática e motos da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) permaneceram no estacionamento para inibir o rolezinho e policiais entraram no shopping com armas de balas de borracha e bombas de gás.

Se não há crime, por que a juventude pobre e negra das periferias da Grande São Paulo está sendo criminalizada?

Primeiro, por causa do passo para dentro. Os shoppings foram construídos para mantê-los do lado de fora e, de repente, eles ousaram superar a margem e entrar. E reivindicando algo transgressor para jovens negros e pobres, no imaginário nacional: divertir-se fora dos limites do gueto. E desejar objetos de consumo. Não geladeiras e TVs de tela plana, símbolos da chamada classe C ou “nova classe média”, parcela da população que ascendeu com a ampliação de renda no governo Lula, mas marcas de luxo, as grandes grifes internacionais, aqueles que se pretendem exclusivas para uma elite, em geral branca.

Antes, em 7 de dezembro, cerca de 6 mil jovens haviam ocupado o estacionamento do Shopping Metrô Itaquera, e também foram reprimidos. Vários rolezinhos foram marcados pelas redes sociais em diferentes shoppings da região metropolitana de São Paulo até o final de janeiro, mas, com medo da repressão, muitos têm sido cancelados. Seus organizadores, jovens que trabalham em serviços como o de office-boy e ajudante geral, temem perder o emprego ao serem detidos pela polícia por estarem onde supostamente não deveriam estar – numa lei não escrita, mas sempre cumprida no Brasil. Seguranças dos shoppings foram orientados a monitorar qualquer jovem “suspeito” que esteja diante de uma vitrine, mesmo que sozinho, desejando óculos da Oakley ou tênis Mizuno, dois dos ícones dos funkeiros da ostentação. Às vésperas do Natal, o Brasil mostra a face deformada do seu racismo. E precisa encará-la, porque racismo, sim, é crime.

“Eita porra, que cheiro de maconha” foi o refrão cantado pelos jovens ao entrarem no Shopping Internacional de Guarulhos. O funk é de MC Daleste, que afirma no nome artístico a região onde nasceu e se criou, a zona leste, a mais pobre de São Paulo, aquela que todo o verão naufraga com as chuvas, por obras que os sucessivos governos sempre adiam, esmagando sonhos, soterrando casas, matando adultos e crianças. Daleste morreu assassinado em julho com um tiro no peito durante um show em Campinas – e assassinato é a primeira causa de morte dos jovens negros e pobres no Brasil, como os que ocuparam o Shopping Internacional de Guarulhos.

A polícia reprimiu, os lojistas fecharam as lojas, a clientela correu. Uma das frequentadores do shopping disse a frase-símbolo à repórter Laura Capriglione, na Folha de S. Paulo: “Tem de proibir este tipo de maloqueiro de entrar num lugar como este”. Nos dias que se seguiram, em diferentes sites de imprensa, leitores assim definiram os “rolezeiros” (veja entrevista abaixo): “maloqueiros”, “bandidos”, “prostitutas” e “negros”. Negros emerge aqui como palavra de ofensa.

 “As novelas já vendiam uma vida de luxo há muito tempo, só que nelas os ricos eram os que pertenciam ao mundo de riqueza. Nos videoclipes de funk ostentação, são os pobres que aparecem neste mundo.”

O funk da ostentação, surgido na Baixada Santista e Região Metropolitana de São Paulo nos últimos anos, evoca o consumo, o luxo, o dinheiro e o prazer que tudo isso dá. Em seus clipes, os MCs aparecem com correntes e anéis de ouro, vestidos com roupas de grife, em carros caros, cercado por mulheres com muita bunda e pouca roupa. (Para conhecer o funk da ostentação, assista ao documentárioaqui). Diferentemente do núcleo duro do hip hop paulista dos ano 80 e 90, que negava o sistema, e também do movimento de literatura periférica e marginal que, no início dos anos 2000, defendia que, se é para consumir, que se compre as marcas produzidas pela periferia, para a periferia, o funk da ostentação coloca os jovens, ainda que para a maioria só pelo imaginário, em cenários até então reservados para a juventude branca das classes média e alta. Esta, talvez, seja a sua transgressão. Em seus clipes, os MCs têm vida de rico, com todos os signos dos ricos. Graças ao sucesso de seu funk nas comunidades, muitos MCs enriqueceram de fato e tiveram acesso ao mundo que celebravam.

Esta exaltação do luxo e do consumo, interpretada como adesão ao sistema, tornou o funk da ostentação desconfortável para uma parcela dos intelectuais brasileiros e mesmo para parte das lideranças culturais das periferias de São Paulo. Agora, os rolezinhos – e a repressão que se seguiu a eles – deram a esta vertente do funk uma marca de insurgência, celebrada nos últimos dias por vozes da esquerda. Ao ocupar os shoppings, a juventude pobre e negra das periferias não estava apenas se apropriando dos valores simbólicos, como já fazia pelas letras do funk da ostentação, mas também dos espaços físicos, o que marca uma diferença. E, para alguns setores da sociedade, adiciona um conteúdo perigoso àquele que já foi chamado de “funk do bem”.

A resposta violenta da administração dos shoppings, das autoridades públicas, da clientela e de parte da mídia demonstra que esses atores decodificaram a entrada da juventude das periferias nos shoppings como uma violência. Mas a violência era justamente o fato de não estarem lá para roubar, o único lugar em que se acostumaram a enxergar jovens negros e pobres. Então, como encaixá-los, em que lugar colocá-los? Preferiram concluir que havia a intenção de furtar e destruir, o que era mais fácil de aceitar do que admitir que apenas queriam se divertir nos mesmos lugares da classe média, desejando os mesmo objetos de consumo que ela. Levaram uma parte dos rolezeiros para a delegacia. Ainda que tivessem de soltá-los logo depois, porque nada de fato havia para mantê-los ali, o ato já estigmatizou-os e assinalará suas vidas, como historicamente se fez com os negros e pobres no Brasil.

Jefferson Luís, 20 anos, organizador do rolezinho do Shopping Internacional de Guarulhos, foi detido, é alvo de inquérito policial, sua mãe chorou e ele acabou cancelando outro rolezinho já marcado por medo de ser ainda mais massacrado. Ajudante geral de uma empresa, economizou um mês de salário para comprar a corrente dourada que ostenta no pescoço. Jefferson disse ao jornal O Globo: “Não seria um protesto, seria uma resposta à opressão. Não dá para ficar em casa trancado”.

Por esta subversão, ele não será perdoado. Os jovens negros e pobres das periferias de São Paulo, em vez de se contentarem em trabalhar na construção civil e em serviços subalternos das empresas de segunda a sexta, e ficar trancados em casas sem saneamento no fim de semana, querem também se divertir. Zoar, como dizem. A classe média até aceita que queiram pão, que queiram geladeira, sente-se mais incomodada quando lotam os aeroportos, mas se divertir – e nos shoppings? Mais uma frase de Jefferson Luiz: “Se eu tivesse um quarto só pra mim hoje já seria uma ostentação”. Ele divide um cômodo na periferia de Guarulhos com oito pessoas.

Neste Natal, os funkeiros da ostentação parecem ter virado os novos “vândalos”, como são chamados todos os manifestantes que, nos protestos, não se comportam dentro da etiqueta estabelecida pelas autoridades instituídas e por parte da mídia. Nas primeiras notícias da imprensa, o rolezinho do Shopping Internacional de Guarulhos foi tachado de “arrastão”. Mas não havia arrastão nenhum. O antropólogo Alexandre Barbosa Pereira faz uma provocação precisa: “Se fosse um grupo numeroso de jovens brancos de classe média, como aconteceu várias vezes, seria interpretado como um flash mob?”. Leia mais 

Com a dupla Debi e Lóide no governo, o Rio de Janeiro vive uma fase deprimente

por Carlos Newton / Tribuna da Imprensa

Debi e loide

O povo teve muita esperança nos dois. Quando Sergio Cabral Filho surgiu na política, na aba do pai, que era vereador, e do sogro, Gastão Neves, diretor da Paranapanema e sobrinho de Tancredo Neves, parecia que se tratava de um jovem ético e idealista.

O pai, que sempre se declarou comunista e até hoje frequenta a roda dos velhos camaradas, descaminhou e deu um jeito de ser nomeado para o Tribunal de Contas do Município. O filho, na primeira oportunidade que teve, candidatou-se a prefeito pelo PSDB, mesmo sem chances, e começou a fazer fortuna com as famosas “sobras de campanha”. Depois, eleito presidente da Assembléia, aliou-se ao deputado Jorge Picciani e tornou um dos maiores corruptos da política brasileira.

Seu padrinho no PSDB era o ex-governador Marcello Alencar, que chegou a denunciar o enriquecimento ilícito do afilhado, mas não pode ir em frente, porque Cabralzinho ameaçou com um dossiê sobre Marco Aurelio Alencar, filho de Marcello, que então recolheu os flaps, como se diz na linguagem aeronáutica.

NO PAPEL DE LÓIDE

Como na série de comédias de Hollywood, Cabralzinho é o Debi e seu pupilo Eduardo Paes faz o papel de Lóide, com grande maestria. Criado na Barra da Tijuca, o prefeito não conhece a cidade, especialmente o Centro. Altamente irresponsável e delirante, é capaz de derrubar o mais importante viaduto do Rio, sob o argumento de que enfeia a cidade, e consequentemente criar um dos maiores engarrafamentos do mundo.

Na primeira chuva forte, seus planos foram literalmente por água abaixo, desculpem o inevitável jogo de palavras. E ainda bem que não chegou a concretizar seu outro projeto genial e mirabolante – a transformação da Avenida Rio Branco em rua de pedestres. Se o fizesse, seria caso de internação compulsória no Hospital Pinel.

Agora, a honorabilidade de Eduardo Paes também despencou, com a revelação das contas no Panamá, abertas em nome do pai, da mão e da irmã, no valor total de R$ 20 milhões. Ou seja, além de idiota e debilóide, o rapaz é também corrupto, vejam quanto talento.

E a culpa é nossa, que colocamos essas raposas para tomar conta dos galinheiros. Os dois deveriam estar atrás das grades, juntos com Luiz Fernando Pezão, que contratava as obras com a Delta de Fernando Cavendish, e com Sergio Cortes, o secretário de Saúde, que faz papel de Médico e de Monstro. Além, é claro, do empresário Arthur Cesar, o rei das concorrências fraudadas e grande peça do “esquema”.

Ah, que saudades do meu Rio de Janeiro…

Treino para as olimpíadas
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Chuva deixa ruas alagadas no Centro. A Via Binário ficou alagada na altura da Cidade do Samba - Márcia Foletto: Agência O Globo
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Queda de um muro na estação de trens da Piedade, na zona norte do Rio de Janeiro provocou atrasos nesta quarta-feira (11) - Fábio Gonçalves: Agência O Dia
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AGORA VOCÊ ENTENDE A MANIA DE HELICÓPTERO DE SÉRGIO CABRAL

A revolta dos negros da rainha

Protestos começaram há dois dias em Tottenham

Violência em Londres espelha relação tensa entre a polícia e a comunidade negra

Actos de vandalismo puro e duro, sintoma da crise e do desemprego jovem, reflexo de tensões sociais ou grito de protesto contra uma polícia racista? Dois dias depois do início dos motins que começaram em Tottenham, Nordeste de Londres, começa a tentar explicar-se o que aconteceu.

as relações tensas da polícia com a comunidade negra britânica são apontadas como uma das principais explicações para aquilo que alguns lêem como o protesto de membros de uma comunidade que são parados oito vezes mais do que os de outras pelas autoridades no chamado “stop and search” – um regulamento que na prática permite fazer discriminação racial em buscas policiais.

Analistas ouvidos pelo PÚBLICO fazem a analogia com outros motins dos anos 1980 em Londres, provocados também pela morte de um membro da comunidade negra pela polícia. Os motins em Tottenham começaram com um protesto pacífico organizado por família e amigos de Mark Duggan, um homem de 29 anos morto pela polícia na quinta-feira. As circunstâncias em que ocorreram os disparos estão a ser investigadas e a ser alvo de polémica. Nas ruas de Tottenham muitos gritavam palavrões contra a polícia. Leia mais. Reportagem de Joana Gorjão Henriques.

Acontece o mesmo no Brasil. No murado Rio de Janeiro. Nas favelas de todas as grandes cidades.

A polícia prende e arrebenta. A justiça é também PPV. Para com os pobres.

Esses motins na Europa são censuradas pela imprensa branca brasileira. E o Brasil tem pra lá de três milhões de exilados pelos quatro quantos do mundo. São os novos escravos.

Foi rico tem toda a proteção no Brasil. Até os foragidos e criminosos estrangeiros são tratados como príncipes. O caso Christhine Epaud em Natal, “Paraíso do Crime”internacional, é exemplar.