Artes e ofício do melhor jornalismo

Firuz Kutal
Firuz Kutal

Para vencer como jornalista quem nasceu vesgo leva vantagem. Ou quem aprende a olhar de lado. Fazer que não vê, e propagar, sem maiores perguntas, o que o chefe manda.

Se for bonitinha facilita. Para o emprego de apresentadora de tv, contatos publicitários ou ficar com algum ricaço de papel passado.

Mas todo cuidado com a beleza! Jornalista virar princesa como aconteceu na Espanha, ou casar com um John Kennedy assinala que Cinderela não tem futuro em terra de índio.

Aqui as desventuras da menina que ajoelhou aos pés de um coronel da briosa mineira, outra exilada na Espanha grávida do candidato e futuro presidente, uma terceira assassinada pelo chefe-de-redação em uma cavalariça. Existem várias histórias sangrentas.

Ser bonitinho facilita. Vi jornalista macho, aprovado no exame da goma, ganhar colunas e cargos públicos.

Toda história pessimista tem uma razão de ser. Recente pesquisa do Poynter Institute sobre as condições de trabalho nas redações chegou a conclusão de que os mais jovens, as mulheres, os pertencentes às minorias, os de origem pobre são condenados a abandonar a profissão de jornalista. As razões desta tendência, além das discriminações, as intermináveis jornadas, a pressão e a precariedade de trabalho. Ora, ora, no Brasil tudo se torna pior, porque não temos comitês de redação, nenhuma lei de proteção e os salários são indignos.

Se é para mentir sobre os outros, aprenda a contar pabulagem. Strabonem appellat paetum pater [Quando o filho é vesgo, o pai diz que ele olha de lado. Horácio, Satirae]

 

DA VANTAGEM DE SER VESGO

Esta entrevista expõe, de maneira implícita, verdades que precisam ser discutidas:

ISTOÉ: – Você não é vesgo. E repórter, você é?
Rodrigo Scarpa:– Estudei rádio e TV na Faculdade Metodista.

ISTOÉ:– Você queria ser famoso?
Scarpa: – Não. Eu queria fazer um trabalho bacana na televisão. Quis ser locutor de rádio, mas descobri que eles ganham pouco e desisti. Comecei como estagiário na Jovem Pan. Colava adesivos nas ruas, buscava lanche para o Luciano Huck e ganhava R$ 150. Odiava fazer aquilo

ISTOÉ: – E como nasceu o Repórter Vesgo?
Scarpa: – O Pânico precisava de um repórter sério, que usasse até terno. Mas eu não queria ser um repórter quadradão. Na minha estréia, lambi o rosto da entrevistada. Aos poucos, implantei o repórter louco. Como os artistas só iam no Gugu e no Faustão, me mandaram cobrir as festas de famosos. Eu estava nervoso com a estréia e o Emílio Surita (âncora do programa) disse: “De tão nervoso está vesgo.” Daí pegou.

As respostas de Scarpa escancaram uma realidade que as faculdades escondem: o estágio gratuito e outras obscuridades.

 

QUANDO A POESIA É NECESSÁRIA

Pior que jornalista é ser poeta. Hoje, “Quando a poesia é dia em Natal”, Woden Madruga escreve:

”As folhas dos cadernos culturais desta brava aldeia de Poti estão prenhas de matérias sobre o Dia da Poesia. Uma exuberância de comemorações com o selo da criatividade burocrática fertilíssima na louvação dessas efemérides. Natal tem muitos poetas e pouca poesia. Os poetas de crachá. Essa fama vem de longe. De um tempo em que corria a quadrinha famosa que dizia que aqui, no burgo à beira do rio plantado, em cada rua havia um jornal e em cada esquina cantava um poeta. E o clichê ficou. Temos até sociedade de poetas mortos ou quase. Em Natal tem tantos poetas quantas padarias temos. Só perdem para o número de farmácias e drogarias, numa verdadeira relação custo-benefício. É possível que a Unesco já tenha se preocupado com essa estatística.”

No Recife, numa rara tarde chuvosa, alguém ficou na esquina do bar Savoy onde Carlos Pena Filho escreveu seu mais famoso verso, e contou, na passagem dos transeuntes, cinco mil poetas.

O diabo é quando o cara tenta as duas coisas: a poesia e o jornalismo.

A princesa espanhola deste escrito de 12/03/2005, no Aqui e Agora, virou rainha, Letícia da Espanha, em 19 de junho de 2014, e o marido, Filipe João Paulo Afonso de Todos os Santos de Bourbon e Grécia (em espanhol: Felipe Juan Pablo Alfonso de Todos los Santos de Borbón y Grecia) governa com o nome de Felipe VI, que não prenuncia coisas boas para o Brasil, que foi colônia da Espanha com os reis Felipes II e III.

Por que o dia 25 de dezembro é festejado na Europa e nas Américas?

Sinônimos de natal: aniversário, natalício, nascimento, berço, natividade.

Pelos principais jornais da França, o Dia de Natal foi criado para lembrar, festejar

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Normal ou cesárea? Isto é verdadeiro: “Mulher surtada come placenta, agride médico e corre nua em hospital de Natal”?

Texto de Marcelo Lima, Jornal de Hoje

A foto publicada pelo O Jornal de Hoje
A foto publicada pelo O Jornal de Hoje

Um dos mais reconhecidos obstetras e ginecologistas de Natal, Iaperi Araújo, decidiu não mais realizar partos depois de um episódio inesperado na sua história como profissional: uma parturiente o agrediu verbalmente, correu nua no meio do hospital e depois se trancou para comer a sua própria placenta dentro de uma sala sob a guarda da família.

De acordo com o médico, o fato teria acontecido na quarta-feira passada (2). Segundo ela, a mulher chegou ao hospital já com 30 horas de trabalho em casa de parto por volta das 20h30. O tempo de espera em casa pode ter ocorrido em função da tentativa de um parto domiciliar planejado – nova tendência surgida dentro do escopo de humanização do parto.

Segundo Araújo, a parturiente não havia feito o pré-natal e estava muito agitada a ponto de xingá-lo. A família também o agrediu verbalmente. Na hora de realizar o parto, a grávida exigiu que o marido fizesse o parto, mas o médico afirmou que não deixou, até porque o homem não tinha habilitação profissional para tanto.

Porém, o pai ainda teve a possibilidade de cortar o cordão umbilical quando o bebê finalmente veio ao mundo por volta das 23h30. Segundo o obstetra, a mulher teria gritado reivindicando os direitos sobre a placenta. “Coloquei dentro de um saco e a entreguei”, escreveu em uma postagem na rede social.

A mãe da parturiente a persuadiu para que a mulher deixasse que outra médica a examinasse. A paciente consentiu. Mas logo em seguida, segundo o médico, ela entrou em “surto” no momento em que a neonatologista levou a criança para o berçário. Conforme Iaperi, a mulher foi em busca da cria, bateu no vidro do berçário até que o pai da criança arrombou a porta para tirar a criança do ambiente.

“Ela correu sangrando nua no meio do hospital com a placenta numa mãe e a criança na outra”, relatou o médico a nossa equipe de reportagem na manhã desta terça-feira (8). Ainda segundo ele, ela estava nua neste momento. Depois disso, a família inteira se trancou numa sala do terceiro andar do hospital. Só saíram de lá para pedir uma tesoura para cortar a placenta e pedir um pouco de coentro para temperar o “alimento”.

O médico afirmou nunca ter visto algo do tipo na sua história como obstetra. Além do fato inusitado, Araújo ficou transtornado com a forma como foi tratado pelos familiares e pela paciente. “Ela tem o direito até de morrer se quiser, mas dentro do hospital ela tem que respeitar o profissional”, declarou.

O episódio contribui definitivamente para que o médico decidisse encerrar sua carreira obstétrica. “Foi tão chato para mim que não vou mais fazer obstetrícia, só ginecologia”, sentenciou. Iaperi Araújo irá entregar um relatório à direção do hospital na próxima sexta-feira (11). Ele espera que as câmeras de segurança do estabelecimento corroborem com o seu testemunhou sobre o caso. Iaperi Araújo não especificou o quadro de saúde da criança e o que houve na sequência. “Para mim, esse caso morreu”, disse.

Tentamos entrar em contato com a direção do Hospital Papi, mas não foi possível. No entanto, O Jornal de Hoje apurou que a diretoria clínica e gerente médica irão se reunir com Iaperi Araújo na próxima sexta-feira para iniciar a apuração dos fatos. Não houve notícia no hospital se aconteceu algum prejuízo material ou para outros pacientes durante a noite da quarta-feira passada.

Iaperi Araujo
Iaperi Araujo

Placentofagia

O ato de guardar a placenta para comer depois do parto tem crescido nos Estados Unidos. Em geral, tem ocorrido entre mulheres de classe média, brancas, casadas e com formação universitária. Os estudos científicos sobre os benefícios do consumo dessa membrana que revestem os fetos na barriga das mães não são muito vastos. A maioria dessas mulheres se baseia numa pesquisa divulgada pela revista científica “Ecology of Food and Nutrition”. Nos EUA, há até empresas especializadas em acondicionar placentas. Os estudos apontam para a presença de ferro, ocitocina e outros hormônios que ajudariam inclusive a reduzir o sangramento pós-parto.

(Continua. Conheça a versão da parturiente)

Desembargador humilha garçom, abusa de poder em Natal, e acaba “linchado” nas redes sociais

por Ricardo Sousa
 
Desembargador Dilermando Mota
Desembargador Dilermando Mota
 
Bom dia, caro Luis Nassif. Sou leitor assíduo do seu blog e venho utilizar esse espaço para relatar um fato ocorrido em Natal (RN) no último domingo (29), que retrata com muita clareza o nível de afastamento que os juízes e desembargadores têm da realidade social e da boa convivência com a cidadania. Vamos ao fato. 
 
Domingo pela manhã, na ensolarada Natal, várias pessoas tomam café na padaria Mercatto, um dos mais bonitos e  aconchegantes espaços para uma boa refeicão matinal na minha cidade. Pessoas das mais variadas atividades se encontram no local. Nesse domingo, especialmente, a casa astava lotada, pois estamos em final de ano e vivemos uma época de reencontro e confraternização familiar. 
 
Em uma das mesas encontra-se o desembargador Dilermano Mota, futuro presidente do TRE (Tribunal regional Eleitoral), juntamente com sua família e amigos. O filho do magistrado pede água, e o mesmo, gelo. O garçom, que procurava atender da melhor forma as várias mesas ocupadas, tenta cumprir sua missão. No entanto, a autoridade reclama que queria a água em copo de vidro e que ele não tinha trazido o gelo. O funcionário se afasta para refazer, ou melhor contornar o problema, e é seguido pelo desembargador, que, aos gritos, humilha o rapaz, exige que o mesmo olhe em seus olhos, afirma que é uma autoridade e que pode prendê-lo. E, na frente de todos, dá um show de autoritarismo, falta de educação, falta de respeito ao próximo e outros requisitos que são indispensáveis a um cidadão e  fundamentais a um membro da Justiça. 
 
Um cidadão que se encontrava à mesa vizinha se revolta com o fato, e imediatamente, intervém e protesta aos gritos, afirmando que não aceitaria esse tipo de humilhação a que estava sendo submetido o garçom. Nesse momento várias pessoas já filmavam o ocorrido e a situação ficava cada vez mais séria.
 
O magistrado disse que iria prender o cliente, e chamou a polícia. Em pouco tempo, caro Nassif, quatro viaturas, isso mesmo quatro viaturas, vieram cumprir a missão. O desembargador, aos gritos, exigia ao oficial que prendesse o cidadão. No entanto, os clientes se rebelaram e, em coro, disseram que quem deveria ser preso era o senhor juiz, ao ponto de uma senhora abraçar o cidadão e afirmar ao policial: “se for prendê-lo, vai me prender também”.

A cena de autoritarismo ocorrria agora do lado de fora, onde o desembagador afirmava ao tenente que tinha sido desacatado ao mesmo tempo que o chamava de “cagão” por não cumprir sua ordem. Acuado, mas protegido por uma rede de cidadania, o cliente ficou dentro do estabelecimento e, com a ajuda de alguém, saiu do local.

 
Aí, começou o outro lado da história. As deploráveis cenas se alastraram nas redes sociais, a sociedade se soliridarizou com o senhor Alexandre Azevedo. Empresário de 44 anos, que só depois do ocorrido veio saber quem era a pessoa que tinha enfrentado. Recebeu apoio e emitiu uma nota, em que relata o fato.

O desembargador sentiu o golpe da velocidade da informação e tentou se explicar, minimizando o ocorrido com o funcionário e atribuindo o ocorrido a forte reação e destempero do cliente. A padaria emitiu um comunicado vaselinado, em que disse tudo para ficar em cima do muro e não se comprometer.

 
A comunidade natalense em peso apoia o garçom da Mercatto, que foi colocado de folga para descansar enquanto a poeira baixa.
 
Mais um triste episódio protagonizado pelos imperadores da Justiça, que se acham mais importantes do que todos. No entanto, a sociedade a cada dia se revolta com essas atitudes, e reage mostrando que já não suporta esses atos.
 
Um grande abraço e feliz ano novo.
 
 

A vida um sonho

por Talis Andrade

Beatriz Brasil, como Diana do Pastoril, fotografada por Herbert Loureiro, in revista Gaciliano
Beatriz Brasil, como Diana do Pastoril, fotografada por Herbert Loureiro, in revista Gaciliano

3

A vida um sonho

um tempo encantado

o feitiço da namorada

no vestido encarnado

de mestra do pastoril

a cantar a vinda

do Menino Jesus

que veio ao mundo

para nos salvar

 

 

O cuidado dos pais

que iam à missa

todos os domingos

as roupas engomadas

as consciências leves

dos pecados lavados

no confessionário

As brincantes do pastoril, Galeria Roberto Medeiros
As brincantes do pastoril, Galeria Roberto Medeiros

Trecho do poema Esquife Encarnado, que deu nome ao livro publicado em 1957, pela editora A Tribuna, Recife

O que desejamos no e do Natal?

por dom Jacinto Bergmann

 

Li há algum tempo atrás uma estatística interessante que a famosa revista Stern da Alemanha fez na época do Natal, perguntando aos alemães o que eles gostariam no e do Natal. Os quatro primeiros desejos expressos foram: 89% responderam: “Eu gostaria de estar junto com a família”; 54% responderam: “Eu me alegro com o encontro com os amigos, parentes e conhecidos”; 37% responderam: “O importante para mim é a celebração do nascimento de Jesus Cristo e a participação no culto”; e 21% responderam: “Para mim o mais importante são os presentes de Natal”.

Chama a atenção que as duas primeiras respostas atendem uma necessidade bem humana: conviver com outras pessoas, sejam familiares, amigos e conhecidos. No mundo europeu, onde o progresso e o desenvolvimento deram passos gigantescos, o lado humano continua sendo a grande necessidade de realização. Nós somos mais humanos quanto mais convivemos com os outros. No dia-a-dia da vida, correndo atrás apenas do mero progresso e desenvolvimento material, acabamos nos desumanizando.

Apenas a resposta em terceiro lugar na hierarquia dos desejos dos alemães, que, afinal, é o grande motivo do Natal: “a celebração do nascimento de Jesus Cristo e a participação do culto”, revela, como paulatinamente vai desaparecendo o cerne do Natal. Por isso, cada vez mais é necessário acentuar: Natal acima de tudo é Jesus Cristo. Se desaparecer este cerne, inclusive a grande necessidade humana da convivência vai águas abaixo. Conviver com o outro na paz, na justiça, na solidariedade, no perdão, na promoção só é possível quando tivermos consciência que cada outro é um Jesus Cristo encarnado.

A quarta resposta sobre os “presentes”, como sendo o mais importante, mostra o quanto estamos nos materializando cada vez mais. Os presentes sempre são expressão de algo humano. Jamais podem tornar-se “o mais importante”. E onde fica o presente maior que é Jesus Cristo? A troca de presentes na época de Natal, enquanto expressão deste presente maior, somente isso tem algum sentido. Sem o mesmo, tornamo-nos cada vez mais materializados e conseqüentemente vazios. Apesar de tantos presentes, a humanidade anda vazia! O que preenche a pessoa humana é o grande presente Jesus Cristo, enviado por Deus-Pai e encarnado na nossa história na gruta de Belém, do qual todos os outros presentes são mera expressão.

Enquanto fazia esta análise das quatro respostas dos alemães, vinha-me sempre em mente a forte curiosidade de saber como nós brasileiros nos posicionamos diante do Natal. Somos considerandos o país mais católico do mundo. Mas será que somos verdadeiramente cristãos? Os cristãos, como o próprio nome diz, colocam Jesus Cristo acima de tudo. Logo, Natal deveria ser em primeiro lugar a celebração do nascimento de Jesus Cristo e essa acontecendo nas celebrações eucarísticas natalinas nas comunidades cristãs. Afinal, Jesus nasce como? Especialmente em cada Eucaristia celebrada e participada. O resto é extensão disso.

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Papa Francisco: “Na nossa historia pessoal, também se alternam momentos luminosos e escuros, luzes e sombras”

Para Francisco, os marginalizados são os primeiros a compreender a mensagem de Jesus

 

papa com menino Jesus

Quem foram os primeiros a receber a notícia do nascimento de Jesus? Os pastores, porque “estavam entre os últimos, os marginalizados”. São esses, os mais capazes de acolher e compreender a mensagem do Salvador, acredita o Papa Francisco que, na noite de terça-feira, lembrou precisamente os marginalizados.

Francisco celebrou pela primeira vez, enquanto chefe da Igreja Católica, e diante de milhares de fiéis, a chamada Missa do Galo, a celebração que para os católicos marca o Natal, ou seja, o nascimento de Jesus. A eucaristia teve a participação de 30 cardeais, 40 bispos, 250 sacerdotes e 14 diáconos. A celebração decorreu na noite de terça-feira, na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Como tem sido marca do seu pontificado, Francisco lembrou “os últimos e os excluídos” e vincou que foram estes os primeiros que entenderam o alcance para a Humanidade do nascimento de Jesus, considerado o filho de Deus pelos cristãos. “Os pastores foram os primeiros que receberam o anúncio do nascimento de Jesus. Foram os primeiros porque estavam entre os últimos, os marginalizados”, disse o Papa numa homilia que foi breve, citada pela AFP.

Durante a sua comunicação, o Papa instou os católicos a abrirem os seus corações e a combaterem o espírito das trevas. “Se o nosso coração está fechado, se estamos dominados pelo orgulho, pela mentira, narcisismo, então as trevas cairão sobre nós”, afirmou o papa Francisco durante a cerimónia que foi transmitida por televisão, em directo, para 65 países.

As leituras desta celebração evocam as trevas e como Jesus é a passagem para a luz; e Francisco recordou isso mesmo ao reafirmar que: “Jesus veio libertar-nos das trevas e dar-nos a luz”.

O Papa reflectiu sobre “as luzes e trevas” que afectam o mundo. Lembrou que também na vida de cada um se “alternam os momentos luminosos e os obscuros, luzes e sombras”, e que os fiéis não devem temer o mundo marcado por “luzes e sombras”.

“Se amamos Deus e os irmãos, caminhamos na luz, mas se o nosso coração se fecha, se prevalecem o orgulho, a mentira, a busca do interesse próprio, então as trevas rodeiam-nos, por dentro e por fora”, alertou.

Aos milhares de peregrinos e turistas que marcaram presença em São Pedro, o chefe da Igreja Católica pediu para que não temam, porque o “nosso Pai tem paciência connosco, ama-nos, é a luz que dissipa as trevas”.

Após a eucaristia, Francisco colocou a imagem do Menino Jesus no presépio montado dentro da basílica, e um grupo de dez crianças, representando os cinco continentes, depositou flores em homenagem à encarnação de Deus. (Público, Portugal)

Papa beija

Na Missa da Noite de Natal o Papa Francisco proferiu a seguinte homilia:

1. «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9, 1).

 

Esta profecia de Isaías não cessa de nos comover, especialmente quando a ouvimos na liturgia da Noite de Natal. E não se trata apenas dum facto emotivo, sentimental; comove-nos, porque exprime a realidade profunda daquilo que somos: somos povo em caminho, e ao nosso redor – mas também dentro de nós – há trevas e luz. E nesta noite, enquanto o espírito das trevas envolve o mundo, renova-se o acontecimento que sempre nos maravilha e surpreende: o povo em caminho vê uma grande luz. Uma luz que nos faz reflectir sobre este mistério: o mistério do andar e do ver. Andar. Este verbo faz-nos pensar no curso da história, naquele longo caminho que é a história da salvação, com início em Abraão, nosso pai na fé, que um dia o Senhor chamou convidando-o a partir, a sair do seu país para a terra que Ele lhe havia de indicar. Desde então, a nossa identidade de crentes é a de pessoas peregrinas para a terra prometida. Esta história é sempre acompanhada pelo Senhor! Ele é sempre fiel ao seu pacto e às suas promessas. «Deus é luz, e n’Ele não há nenhuma espécie de trevas» (1 Jo 1, 5). Diversamente, do lado do povo, alternam-se momentos de luz e de escuridão, fidelidade e infidelidade, obediência e rebelião; momentos de povo peregrino e de povo errante.

 
E, na nossa historia pessoal, também se alternam momentos luminosos e escuros, luzes e sombras. Se amamos a Deus e aos irmãos, andamos na luz; mas, se o nosso coração se fecha, se prevalece em nós o orgulho, a mentira, a busca do próprio interesse, então calam as trevas dentro de nós e ao nosso redor. «Aquele que tem ódio ao seu irmão – escreve o apóstolo João – está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos» (1 Jo 2, 11). 2. Nesta noite, como um facho de luz claríssima, ressoa o anúncio do Apóstolo: «Manifestou-se a graça de Deus, que traz a salvação para todos os homens» (Tt 2, 11).

 
A graça que se manifestou no mundo é Jesus, nascido da Virgem Maria, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Entrou na nossa história, partilhou o nosso caminho. Veio para nos libertar das trevas e nos dar a luz. N’Ele manifestou-se a graça, a misericórdia, a ternura do Pai: Jesus é o Amor feito carne. Não se trata apenas dum mestre de sabedoria, nem dum ideal para o qual tendemos e do qual sabemos estar inexoravelmente distantes, mas é o sentido da vida e da história que pôs a sua tenda no meio de nós. 3. Os pastores foram os primeiros a ver esta «tenda», a receber o anúncio do nascimento de Jesus. Foram os primeiros, porque estavam entre os últimos, os marginalizados. E foram os primeiros porque velavam durante a noite, guardando o seu rebanho. Com eles, detemo-nos diante do Menino, detemo-nos em silêncio. Com eles, agradecemos ao Pai do Céu por nos ter dado Jesus e, com eles, deixamos subir do fundo do coração o nosso louvor pela sua fidelidade: Nós Vos bendizemos, Senhor Deus Altíssimo, que Vos humilhastes por nós. Sois imenso, e fizestes-Vos pequenino; sois rico, e fizestes-Vos pobre; sois omnipotente, e fizestes-Vos frágil.

 
Nesta Noite, partilhamos a alegria do Evangelho: Deus ama-nos; e ama-nos tanto que nos deu o seu Filho como nosso irmão, como luz nas nossas trevas. O Senhor repete-nos: «Não temais» (Lc 2, 10). E vo-lo repito também eu: Não temais! O nosso Pai é paciente, ama-nos, dá-nos Jesus para nos guiar no caminho para a terra prometida. Ele é a luz que ilumina as trevas. Ele é a nossa paz. Amen.

 

Basílica de S. Pedro, 24 de Dezembro de 2013

 

 

A CIDADE [Noite de Natal]

por Talis Andrade

Patricio Beteo
Patricio Betteo

A face da cidade

tornou-se tão desconhecida

quanto os habitantes

Quem se lembra que

por aqui passava um beco

por aqui passava um rio

onde hoje passam carros

.

No sepulcral frio asfalto

não nasce nenhuma flor

Nas casas as crianças

enfeitam a árvore-de-natal

com estrelas de isopor

As luzes que apagam [Decoração natalina]

 

por Priscila Krause*

No Império Romano, os mandatários dos tempos entre o antes e o depois de Cristo conquistavam o apoio popular por meio da distribuição de cereais à base de trigo e da frequente realização de eventos com o objetivo de distrair a população. Era o tempo da construção de grandes arenas, promoção de suntuosos espetáculos, da famosa política do panem et circenses (pão e circo). Com os cofres públicos abarrotados e o desejo da conquista fácil e rápida em busca da aprovação aos seus atos, os governos, a qualquer sinal de crise, lançavam mão de artifícios assim. Estava mantida a ordem “e la nave va”…

Corta: Recife, 2013. A Prefeitura, por meio da Fundação de Cultura Cidade do Recife, contrata a decoração natalina da cidade (elementos decorativos e iluminação) pela bagatela de R$ 5,8 milhões, a mais cara da nossa história. No período de um mês, a municipalidade gastará, diariamente, algo em torno de R$ 187 mil para maquiar, à Noel, restritos recantos da capital pernambucana. O valor inclui até uma árvore de vinte metros de altura, às margens do Capibaribe (aquele pobre “Cão sem plumas” do poeta João Cabral) por absurdos R$ 793 mil. O ornamento conta com lâmpadas importadas, gravuras de passarinhos e leques. Muita luz e cor. Mas por que não correr atrás de patrocínios da iniciativa privada, como ocorre no Rio de Janeiro?

Ainda o Recife. Enquanto montava-se a luxuosa árvore e outros apetrechos natalinos cidade afora, votávamos na Câmara do Recife o projeto da Lei Orçamentária Anual 2014. Por decisão do Executivo e nada mais, quaisquer emendas que alterassem os rumos da peça sugerida pelo prefeito cairia fora. Foi assim com sugestão minha que transferia R$ 8 milhões da realização de shows e eventos por parte da Fundação de Cultura para a restauração do Teatro do Parque, joia arquitetônica e cultural da nossa cidade prestes a completar seu centenário, em 2015.

Na peça orçamentária aprovada, dos quase R$ 79 milhões previstos para a Fundação de Cultura no ano que vem, R$ 52 milhões serão gastos com eventos (shows e decorações) para o Carnaval, São João e Natal, enquanto a política em torno da restauração, preservação e aquisição de bens culturais para equipamentos sob a responsabilidade da Fundação (entre elas o Teatro do Parque) ficou com restritos R$ 6 milhões. Numa das justificativas para o veto, chegou-se registrar que os recursos para a restauração do Parque poderiam ser fruto de um convênio federal. Se fosse tão simples e fácil captar de Brasília, o Parque não estaria abandonado desde 2010.

Parque 1

O governo inverte as prioridades. Trata o supérfluo como política de estado e o inverso, o prioritário, como necessidade de terceira ordem. Entre o tempo do “pão e circo” e a atualidade dos panetones, shows e decorações milionárias, há diferenças: redes sociais, participação, democracia, opinião pública vigilante. Ainda assim, no abrir das cortinas de 2014, tudo estará como antes. O Teatro do Parque de portas fechadas e os impostos pagos por cada um de nós mais uma vez rarefeitos no lúdico das luzes do Natal que se foi.

P.S.: Governo acaba de rejeitar emenda de minha autoria que diminui recursos para shows e eventos (e decorações natalinas...) de R$ 52 milhões para R$ 44 mi, em 2014, em prol da restauração do Teatro do Parque. Joia arquitetônica e cultural da cidade teria sua restauração garantida no próximo ano com R$ 8 milhões de recursos municipais. Em 2015, Teatro completa 100 anos. Fica o registro da tentativa
P.S.: Governo acaba de rejeitar emenda de minha autoria que diminui recursos para shows e eventos (e decorações natalinas…) de R$ 52 milhões para R$ 44 mi, em 2014, em prol da restauração do Teatro do Parque. Joia arquitetônica e cultural da cidade teria sua restauração garantida no próximo ano com R$ 8 milhões de recursos municipais. Em 2015, Teatro completa 100 anos. Fica o registro da tentativa

Árvore-de-Natal 1

A árvore de Natal do Cais da Alfândega, montada pela Prefeitura do Recife, custará R$ 793 mil aos cofres públicos, valor 34% superior ao contratado no ano passado. Através de processo licitatório (três empresas participaram do certame), a Fundação de Cultura Cidade do Recife contratou a mesma empresa responsável pela montagem em 2012, a Edson Lira Iluminação Ltda.. Em 2012, o objeto de decoração natalina foi contratado através de dispensa de licitação ao custo de R$ 590 mil. Na oportunidade, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) instaurou auditoria especial para averiguar a regularidade da contratação. Na época, o preço da decoração foi fortemente criticado nas redes sociais.

Mais cara, a árvore deste ano será montada em base metálica com 20 metros de altura – no ano passado, o objetivo alcançou 25 metros. Em 2010, a árvore (montada pelo consórcio Lixiki/Blachere, também contratado sem licitação) foi a mais alta: 36 metros. Posicionado sobre base composta por pallets de madeira, o objeto decorativo deste ano será iluminada por strobos e decorada por dezenas de pássaros e flores nas cores azul, amarelo e vermelho, conforme projeto contratado pela PCR à empresa “Mão Livre”, que por R$ 225 mil elaborou o conceito de decoração e iluminação para o ciclo natalino PCR/2013.

Árvore-de-Natal-PCR-2

*Priscila Krause é jornalista e vereadora do Recife pelo Democratas

AINDA A DECORAÇÃO NATALINA
.
 Escreve Edson Lima: Depois do Parque das Esculturas, cuja inspiração fálica culminou até em invasão de redação de jornal por um certo prefeito, Brennand ataca de novo, agora na decoração de Natal do Recife. A cidade está “enfalecida”…
paisagem fálica
PROTESTO EM OLINDA

Decoração natalina com papel higiênico em Olinda