
Para vencer como jornalista quem nasceu vesgo leva vantagem. Ou quem aprende a olhar de lado. Fazer que não vê, e propagar, sem maiores perguntas, o que o chefe manda.
Se for bonitinha facilita. Para o emprego de apresentadora de tv, contatos publicitários ou ficar com algum ricaço de papel passado.
Mas todo cuidado com a beleza! Jornalista virar princesa como aconteceu na Espanha, ou casar com um John Kennedy assinala que Cinderela não tem futuro em terra de índio.
Aqui as desventuras da menina que ajoelhou aos pés de um coronel da briosa mineira, outra exilada na Espanha grávida do candidato e futuro presidente, uma terceira assassinada pelo chefe-de-redação em uma cavalariça. Existem várias histórias sangrentas.
Ser bonitinho facilita. Vi jornalista macho, aprovado no exame da goma, ganhar colunas e cargos públicos.
Toda história pessimista tem uma razão de ser. Recente pesquisa do Poynter Institute sobre as condições de trabalho nas redações chegou a conclusão de que os mais jovens, as mulheres, os pertencentes às minorias, os de origem pobre são condenados a abandonar a profissão de jornalista. As razões desta tendência, além das discriminações, as intermináveis jornadas, a pressão e a precariedade de trabalho. Ora, ora, no Brasil tudo se torna pior, porque não temos comitês de redação, nenhuma lei de proteção e os salários são indignos.
Se é para mentir sobre os outros, aprenda a contar pabulagem. Strabonem appellat paetum pater [Quando o filho é vesgo, o pai diz que ele olha de lado. Horácio, Satirae]
DA VANTAGEM DE SER VESGO
Esta entrevista expõe, de maneira implícita, verdades que precisam ser discutidas:
ISTOÉ: – Você não é vesgo. E repórter, você é?
Rodrigo Scarpa:– Estudei rádio e TV na Faculdade Metodista.
ISTOÉ:– Você queria ser famoso?
Scarpa: – Não. Eu queria fazer um trabalho bacana na televisão. Quis ser locutor de rádio, mas descobri que eles ganham pouco e desisti. Comecei como estagiário na Jovem Pan. Colava adesivos nas ruas, buscava lanche para o Luciano Huck e ganhava R$ 150. Odiava fazer aquilo
ISTOÉ: – E como nasceu o Repórter Vesgo?
Scarpa: – O Pânico precisava de um repórter sério, que usasse até terno. Mas eu não queria ser um repórter quadradão. Na minha estréia, lambi o rosto da entrevistada. Aos poucos, implantei o repórter louco. Como os artistas só iam no Gugu e no Faustão, me mandaram cobrir as festas de famosos. Eu estava nervoso com a estréia e o Emílio Surita (âncora do programa) disse: “De tão nervoso está vesgo.” Daí pegou.
As respostas de Scarpa escancaram uma realidade que as faculdades escondem: o estágio gratuito e outras obscuridades.
QUANDO A POESIA É NECESSÁRIA
Pior que jornalista é ser poeta. Hoje, “Quando a poesia é dia em Natal”, Woden Madruga escreve:
”As folhas dos cadernos culturais desta brava aldeia de Poti estão prenhas de matérias sobre o Dia da Poesia. Uma exuberância de comemorações com o selo da criatividade burocrática fertilíssima na louvação dessas efemérides. Natal tem muitos poetas e pouca poesia. Os poetas de crachá. Essa fama vem de longe. De um tempo em que corria a quadrinha famosa que dizia que aqui, no burgo à beira do rio plantado, em cada rua havia um jornal e em cada esquina cantava um poeta. E o clichê ficou. Temos até sociedade de poetas mortos ou quase. Em Natal tem tantos poetas quantas padarias temos. Só perdem para o número de farmácias e drogarias, numa verdadeira relação custo-benefício. É possível que a Unesco já tenha se preocupado com essa estatística.”
No Recife, numa rara tarde chuvosa, alguém ficou na esquina do bar Savoy onde Carlos Pena Filho escreveu seu mais famoso verso, e contou, na passagem dos transeuntes, cinco mil poetas.
O diabo é quando o cara tenta as duas coisas: a poesia e o jornalismo.
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A princesa espanhola deste escrito de 12/03/2005, no Aqui e Agora, virou rainha, Letícia da Espanha, em 19 de junho de 2014, e o marido, Filipe João Paulo Afonso de Todos os Santos de Bourbon e Grécia (em espanhol: Felipe Juan Pablo Alfonso de Todos los Santos de Borbón y Grecia) governa com o nome de Felipe VI, que não prenuncia coisas boas para o Brasil, que foi colônia da Espanha com os reis Felipes II e III.