Que a passeata do retorno da ditadura lembre as torturas e mortes dos presos políticos

Ares
Ares

Vai ter marcha soldado amanhã, porque existe democracia no Brasil, depois de 21 anos de ditadura militar.

Marcha soldado,
cabeça de papel.
Quem não marchar direito,
vai preso pro quartel.

No Brasil do golpe de 64 era assim: quem não pensasse direito ia preso por quartel. Pensar direito era não ter direito de expressão, não pensar diferente, ter cabeça de camarão.

Devemos fazer passeatas sim, no dia 31 de março, pela paz, pelo civismo, pelo brasilidade, pelo patriotismo, pelo nacionalismo, pela fraternidade, pela igualdade, pela liberdade, pela democracia.

E gritar bem alto:
Tortura nunca mais!
Ditadura nunca mais!

O “Essencial”no Diário do Centro do Mundo:

Coronel admite ter sumido com corpo de Rubens Paiva e descreve as torturas em outros presos políticos

Em depoimento à Comissão Estadual da Verdade, o coronel reformado Paulo Malhães, de 76 anos, um dos mais atuantes agentes do Centro de Informações do Exército (CIE) na ditadura, confirmou ter desenterrado e sumido com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, morto sob torturas em janeiro de 1971, e explicou como a repressão fazia para apagar os vestígios de suas vítimas.

Para evitar o risco de identificação, as arcadas dentárias e os dedos das mãos eram retirados. Em seguida, o corpo era embalado em saco impermeável e jogado no rio, com pedras de peso calculado para evitar que descesse ao fundo ou flutuasse. Além disso, o ventre da vítima era cortado para impedir que o corpo inchasse e emergisse. À Comissão da Verdade, contou que o destino do ex-deputado foi o mesmo rio da Região Serrana onde foram jogados outros desaparecidos políticos:

“Rubens Paiva, calculo, morreu por erro. Os caras exageravam naquilo que faziam, sem necessidade. Ficavam satisfeitos e sorridentes ao tirar sangue e dar porrada. Isso aconteceu com Rubens Paiva. Deram tanta porrada nele que, quando foram ver, já estava morto. Ai ficou o abacaxi, o que fazer? Se faz o que com o morto? Se enterra e se conta este negócio do sequestro”, disse.

Manifesto dos generais, Geraldo Vandré e perdão para os crimes da ditadura militar

Geraldo Vandré

Em 1968, em plena ditadura militar, que começou em Primeiro de Abril de 1964, ao defender Pra não dizer que não falei de flores no Festival de Música Popular Brasileira, Geraldo Vandré criou um dos hinos da resistência ao regime militar que ficou conhecido pela primeira palavra: “Caminhando”. Além de estar em uma nova situação envolvendo ele e Chico Buarque. Sabiá, de Tom jobim e Chico Buarque, foi declarada vencedora, mas o público se revoltou, pois queria Pra não dizer que não falei das flores, que acabou ficando em segundo lugar. Enquanto Cynara e Cybele ao lado de Tom Jobim e Chico Buarque apresentavam a música campeã, vaias se ouviam durante a apresentação. Este se tornou um dos momentos mais emblemático da história dos festivais. Festivais não mais realizados, que São Paulo se tornou a capital do jazz, e o Rio de Janeiro, do rock.

Censura – AI 5
Ainda em 1968, com o AI-5, Vandré viveu um tempo escondido. Foi sequestrado várias vezes pelos militares brasileiros, e torturado. Fugiu para o exílio no Chile, na presidência de Allende. Quando começou a ditadura de Pinochet (1973), terminou novamente preso e torturado. A tortura transformou Vandré em um trapo humano. Do Chile, conseguiu fugir para a Europa onde vagou por vários países. Conheci Vandré no Recife ainda jovem. Maurílio Ferreira Lima, deputado federal exilado, foi visitá-lo em um convento na França. Tinha começado uma vida monástica, mas terminou expulso, quando tentou matar um frade com um facão. Ele contou para Maurílio que estava compondo uma missa.

Desde os tempos de tortura, Vandré viveu perseguido pela direita e anulado pela esquerda. Dizem que “cantou” na tortura. Que passou a espionar os brasileiros no Chile em troca de drogas fornecidas pelos militares do Cone Sul. Apresentam várias lendas do antes e depois que voltou ao Brasil com a anistia – o perdão de todos os crimes cometidos pelos militares nos anos de chumbo. Desprezado, Vandré passou a viver rápidos momentos de lucidez e uma loucura mansa, solitária.

Causa estranheza que seja lembrado em um manifesto de generais para os brasileiros que hoje estão nas ruas, depois de mais de meio século de bela adormecida. Saíram do entorpecimento apenas três vezes: em 1968, contra a ditadura; em 1984, com as diretas já; em 1992, no impeachment de Collor.

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Para não dizer que não falei das flores

(trechos)

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Fonte: Wikipédia/ Google

A hora da verdade para os sequestradores coronel Ustra e seu parceiro delegado Dirceu Gravina, o JC

O Ministério Público Federal de São Paulo (MPF) apresentou nesta quarta-feira (24) à Justiça uma denúncia contra o coronel reformado Carlos Alberto Ustra  e contra o delegado de Polícia Civil Dirceu Gravina


Aluísio Palhano Pedreira Ferreira
Aluísio Palhano Pedreira Ferreira

Eles são acusados pelo sequestro do bancário Aluízio Palhano Pedreira Ferreira, em maio de 1971. Na época do sequestro, Ustra comandava o DOI-Codi, instituição subordinada ao Exército brasileiro durante a ditadura militar. Já Dirceu Gravina continua na ativa como delegado até hoje.

Caso sejam condenados, ambos podem pegar de dois a oito anos de prisão. A alegação do MPF se baseia em duas decisões de extradição nas quais o Supremo Tribunal Federal (STF) avaliou que o crime de desaparecimento forçado é continuado. Ou seja, está vigente até que não se apareça o corpo ou uma prova de assassinato.

Aluízio foi preso em 1971 após voltar clandestinamente ao Brasil. Segundo a testemunha Inês Etienne Romeu, também presa naquela época, ele foi detido pelo grupo do delegado Sergio Paranhos Fleury. De São Paulo, Palhano foi levado à chamada “Casa de Petrópolis”, no Rio de Janeiro, e trazido de volta ao DOI-Codi. Segundo o procurador Sérgio Sulama, isso evidencia que ele estava sob responsabilidade de Ustra e de Gravina. Leia aqui 

Já se prevenindo contra eventuais empecilhos no Judiciário, o Ministério Público elencou uma série de argumentos pela validade da ação. O procurador Ivan Cláudio Marx de Uruguaiana lembrou que o decreto de criação da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, o primeiro reconhecimento oficial das mortes efetuadas pelo Estado durante a ditadura, não vale como garantia de que as vítimas tenham sido assassinadas de fato.

Outro ponto abordado na denúncia do MPF é a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgão ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA). Em 2010, a entidade condenou o Brasil por não investigar os crimes cometidos pela ditadura e por se valer da Lei de Anistia como obstáculo para a punição dos agentes da repressão. (Agência Pulsar)


Acusado de ser ladrão, estuprador e assassino, o delegado Dirceu Gravina, o JC, ainda está na ativa, servindo ao governo Geraldo Alkmin. Confira

Carlos Alberto Ustra
Coronel Carlos Alberto Ustra

Coronel Carlos Alberto Ustra assinou os últimos manifestos do minoritário grupo de militares de pijama contra a criação da Comissão Nacional da Verdade, e participou da reunião proibida do dia 29 de março último, no Clube Militar do Rio de Janeiro, para comemorar o golpe militar de primeiro de abril de 1964. Conheça mais

O julgamento de Ustra: a memória contra o extermínio

Ontem
Ontem
Hoje
Hoje

Um dos assinantes do manifesto dos pijamas, teve seu julgamento em julho último.

Seu parceiro, coronel Curió também.

Este o medo dos que têm as mãos sujas de sangue. Sair do armário.  Dos porões da tortura.

Eles sabem que sequestros e ocultação de cadáveres são crimes permanentes.

No processo civil que a família do jornalista Luiz Eduardo Merlino move contra o coronel reformado do Exército Brasileiro, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Foi a vez de 6 testemunhas de acusação prestarem seus depoimentos no Fórum [Palácio de Justiça] João Mendes, na capital de São Paulo.Todas as declarações das testemunhas convocadas confirmaram a tese de que Ustra era a autoridade que ordenava os interrogatórios e o início das torturas que aconteciam nos porões [caves] do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), órgão da ditadura civil-militar de que foi comandante entre outubro de 1969 e dezembro de 1973. Paulo Vannuchi e Leane Ferreira de Almeida, dois dos depoentes, disseram que Ustra participava pessoalmente das sessões de tortura que conduzia.
Merlino era militante do POC (Partido Operário Comunista) e tinha 23 anos quando foi preso sem ordem judicial, em 15 de julho de 1971, na casa de sua mãe, na cidade de Santos. No dia 19 do mesmo mês, a família receberia a notícia de que ele havia se suicidado, atirando-se embaixo de um carro na BR-116. Na verdade, Merlino passou horas sendo torturado no pau-de-arara, até que complicações por conta da gangrena que tivera na perna o levassem a morte. A agonia do jornalista em seus últimos momentos foi presenciada por algumas das testemunhas. Segundo elas, o militante chegou a ser levado ao Hospital do Exército, mas, ao saberem que teriam de amputar-lhe a perna, os torturadores preferiram deixá-lo morrer. Laurindo Junqueira Filho, outra testemunha, disse à juíza que um caminhão atropelou o corpo de Merlino, por diversas vezes, até esquartejá-lo, para dar maior veracidade à versão de suicídio.O coronel não compareceu ao Tribunal, e as duas advogadas que o representavam não se manifestaram em nenhum momento.

Um “fio de memória”


Enquanto ocorria a sessão, cerca de 300 pessoas ligadas a movimentos sociais, entidades de direitos humanos e solidárias à família manifestavam-se em frente ao Fórum João Mendes; fato que deixou Ângela Mendes de Almeida, ex-companheira de Merlino, bastante surpresa e entusiasmada. A família deu entrada na primeira ação declaratória em 2008, porém, através de um recurso, acatado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, a defesa do coronel conseguiu que o processo fosse arquivado. Hoje, para Ângela, o próprio fato de esta nova ação estar tramitando representa “um avanço no processo em que estamos vivendo, num momento em que se vive um retrocesso na Comissão da Verdade e Justiça”.
A ação civil declaratória movida contra Ustra não implica pena criminal nem envolve indenização pecuniária. Trata-se de um reconhecimento moral de que existiu de fato um terrorismo de Estado no Brasil, algo que acarreta consequências práticas para os dias de hoje. No entendimento da família do jornalista assassinado e seus apoiadores reunidos no Coletivo Merlino, o silêncio e o esquecimento do passado unem-se à inovada política do “medo” e da “segurança” para dar continuidade à violência institucional e, sobretudo, à “engenharia do extermínio dos pobres”. Para Nicolau Bruno, membro do coletivo, é importante que os grupos contra a tortura e os movimentos sociais “criem uma unidade, criem um fio de memória que ligue as lutas contra a ditadura às lutas contra a violência nas periferias”. Afinal, como fez questão de frisar na fala que encerrou a manifestação, “a luta contra a ditadura era, antes do mais, uma luta anticapitalista”.

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