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No passado, era comum e quase unânime a postura desrespeitosa – e até cruel – dos jornais diários de Belo Horizonte em relação à ação de ativistas políticos de esquerda.
Na noite de 30 de dezembro de 1952, intelectuais, empresários e sindicalistas, entre eles Armando Ziller, Luís Bicalho, Sebastião Nery, coronel Olímpio, Aluísio Ordones, reuniram-se num prédio da rua Carijós, em BH, para criar o Movimento Mundial da Paz. A polícia chegou de surpresa e escrachou todo mundo. No dia seguinte, os jornais publicavam manchetes execrando os ativistas:
“Desmantelada pela polícia uma reunião comunista. Efetuadas numerosas prisões e apreendido farto material de propaganda vermelha” (Estado de Minas)
“Comunistas surpreendidos quando tramavam planos de ação” (Diário de Minas)
“Autoridades prendem e autuam 40 elementos da malta comunista em ação” (Diário da Tarde)
“Preso ontem em BH um redator do Diário (católico) entre os subversivos do credo vermelho” (Tribuna de Minas)
O redator do Diário preso era Sebastião Nery, 20 anos, ex-seminarista, implacavelmente perseguido pelo jornal Tribuna de Minas, dirigido pelo empresário misto de jornalista Alexandre Konder, que cultivava atitudes nazi-fascista, e também não dava trégua ao líder católico José Mendonça, redator-chefe do Diário e presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais.
“Confirmam-se as acusações da Tribuna de Minas sobre as ligações do sr. José Mendonça com elementos comunistas. Um dos presos é o jornalista Sebastião Nery, redator do jornal católico, que carregava um cartaz com o retrato de Prestes”, denunciava a TM.
“Konder só deixou de hostilizar jornal católico quando voltou ao Rio de Janeiro para morrer de câncer, internando no Hospital do Exercido,” disse o prof. Mendonça
Na reunião abafada pelos agentes policiais havia pessoas de várias classes, até um militar, Olímpio, coronel reformado do Exercito brasileiro, que havia desaparecido na confusão com a chegada da polícia.
Dias depois, já solto, o jornalista Sebastião Nery encontra-se com o militar em outra reunião:
– O senhor foi lesto, o único que conseguiu fugir.
E o coronel:
– Meu filho, não repita isto. Não fugi. Um oficial do Exército não foge. Bate em retirada.
Após a Segunda Guerra Mundial, numa zona cada vez maior do Terceiro Mundo, as políticas implementadas viram as costas às antigas potências coloniais. Essa orientação esbarra contra a oposição firme dos governos dos grandes países capitalistas industrializados, que exercem uma influência determinante sobre o Banco Mundial e sobre o FMI. Os projetos do Banco possuem uma vertente política acentuada: refrear o desenvolvimento de movimentos que ponham em causa o poder das grandes potências capitalistas. A proibição de apresentar justificações “políticas” e “não económicas” nas operações do Banco (uma das mais importantes cláusulas dos seus estatutos) é sistematicamente contornada. A parcialidade política das instituições de Bretton Woods é demonstrada pelo apoio financeiro dado, em especial, às ditaduras que assolaram o Chile, o Brasil, a Nicarágua, o Congo-Kinshasa e a Roménia.
Para implementar essa política, o Banco Mundial e o FMI adotam uma tática generalizada: tornam-se mais flexíveis em relação aos governos de direita (menos exigentes em termos de políticas de austeridade antipopulares), que se confrontam com uma forte oposição de esquerda, do que em relação aos governos de esquerda, que se confrontam com uma forte oposição de direita. Concretamente, isso significa que essas instituições pretendem dificultar a vida aos governos de esquerda, confrontados com uma oposição de direita, de modo a enfraquecê-los e a favorecerem a ascensão da direita ao poder. [É a política ora adotada para derrubar Dilma Rousseff].
Segundo a mesma lógica, serão menos exigentes com os governos de direita, que se confrontam com oposições de esquerda, de modo a evitarem enfraquecê-los e impedindo a esquerda de ascender ao poder. A ortodoxia monetarista possui uma geometria variável: as variações dependem muito de fatores políticos e geoestratégicos.
Alguns casos concretos – o Chile, o Brasil, a Nicarágua, o Zaire e a Roménia – ilustram o que ficou dito: trata-se, em simultâneo, de escolhas do Banco e do FMI, porque essas escolhas são determinadas, grosso modo, pelas mesmas considerações e são submetidas às mesmas influências.
O FMI e o Banco Mundial não hesitam em apoiar as ditaduras, quando (tal como outras grandes potências capitalistas) acham oportuno. Os autores do Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento Humano, realizado pelo PNUD (edição de 1994), afirmam claramente isso: “De facto, a ajuda dada pelos Estados Unidos, durante os anos oitenta, é inversamente proporcional ao respeito pelos direitos humanos. Os doadores multilaterais também não parecem muito incomodados com tais justificações. Parecem, de facto, preferir os regimes autoritários, aceitando sem pestanejar que esses regimes favorecem a estabilidade política e gerem melhor a economia.
O regime democrático do presidente João Goulart foi deposto pelos militares em abril de 1964. Os empréstimos do Banco e do FMI, que tinham sido suspensos durante três anos, são retomados pouco tempo depois. |9|
Resumo sucinto dos acontecimentos: em 1958, o presidente brasileiro Kubitschek entra em negociações com o FMI para receber um empréstimo de 300 milhões de dólares por parte dos Estados Unidos. Finalmente, Kubitschek recusa as condições impostas pelo FMI e dispensa o empréstimo. Isto vale-lhe grande popularidade.
O seu sucessor, João Goulart, anuncia que vai pôr em prática uma reforma agrária radical e proceder à nacionalização das refinarias de petróleo: é derrubado pelos militares. No dia seguinte ao golpe, os Estados Unidos reconhecem o novo regime militar. Algum tempo depois, o Banco e o FMI retomam a política de empréstimos suspensa. Por seu lado, os militares anulam as medidas económicas criticadas pelos Estados Unidos e pelo FMI. Note-se que as instituições financeiras internacionais consideram que o regime militar adota medidas económicas saudáveis (sound economic measures). |10| No entanto, o PIB cai 7% em 1965, e milhares de empresas vão à falência. O regime organiza uma forte repressão; proíbe as greves; provoca uma forte queda dos salários reais; suprime as eleições por sufrágio universal; decreta a dissolução dos sindicatos e recorre regularmente à tortura.
Desde a primeira viagem efetuada em 1968, McNamara visita com regularidade o Brasil, encontrando-se sempre com os governantes militares. Os relatórios públicos do Banco saúdam de forma sistemática a política da ditadura no que se refere à redução de desigualdades |11|, apesar de, internamente, as discussões poderem azedar. Quando o subdiretor do Departamento de Projetos, Bernard Chadenet, declara que a imagem do Banco vai degradar-se após ser dado apoio ao governo repressivo do Brasil, McNamara reconhece que há uma repressão muito forte (“um tremendo esforço repressivo”). Mas acrescenta que “não é necessariamente muito diferente do que tinha ocorrido em governos anteriores e que não parecia ser muito pior do que noutros países membros do Banco. O Brasil será pior do que a Tailândia?”. |12| Alguns dias mais tarde, McNamara prosseguia: “Não parece haver uma alternativa viável ao governo dos generais” Kap. |13|. O Banco Mundial compreende bem que as desigualdades não diminuem e que os seus empréstimos para a agricultura fortalecem os grandes proprietários. Decide, entretanto, prosseguir com os empréstimos, porque o que pretende realmente é manter o governo sob sua influência. Contudo, a esse nível, enfrenta um óbvio fracasso: os militares dão mostras de uma profunda desconfiança face à vontade de o Banco aumentar a sua influência. Finalmente, em finais dos anos setenta, beneficiam de uma profusão de empréstimos concedidos por banqueiros privados internacionais, a taxas de juros inferiores às do Banco. Transcrevi trechos. Leia mais e entenda o perigo do Brasil ter como ministro da Fazenda um ex-agente do FMI
Generais ainda nomeiam seis municípios e mais de 700 colégios. Créditos: Davi Ribeiro
Vamos continuar homenageando os torturadores?
por Miguel Martins
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Um beco sem saída, com entrada guardada por um portão de ferro. Descrita dessa forma, a Rua Doutor Sérgio Fleury, em São Paulo, parece simbolizar o destino de tantos opositores da ditadura que cruzaram o caminho do “homenageado”. Em 1980, a Câmara Municipal de São Paulo condenou a ruela a assumir o nome do delegado do Departamento de Ordem Política e Social responsável por comandar o assassinato de dezenas de militantes de esquerda entre 1969 e 1979, quando morreu em circunstâncias suspeitas. Mas, entre o portão e o muro branco da Sérgio Fleury, aflora-se um condomínio que em nada lembra os porões e sessões de tortura. Com 31 casas, ela é tão pacata quanto poderia ser uma travessa da capital paulista, com moradores acostumados a passar suas tardes sentados na calçada ou a cuidar de seus jardins.
Fabíola Hass, de 36 anos, tomou conhecimento das atrocidades cometidas por Fleury recentemente. No ano passado, assessores do então vereador Orlando Silva, do PCdoB, foram à rua para colher assinaturas dos moradores em defesa do projeto de substituir o nome da travessa para Frei Tito, militante da Juventude Estudantil Católica torturado pelo delegado em 1969. Fabíola e a maioria dos vizinhos desconheciam a história de ambos. Em um primeiro momento, a oposição à mudança do nome foi quase unânime, mas não por motivos ideológicos. Os moradores não queriam pagar uma taxa de pouco mais de 60 reais para registrar o novo endereço e alterá-lo em contas de luz, água e telefone.
Hoje, Fabíola conhece mais sobre os crimes cometidos por Fleury e aprova a mudança. “Essa lei da anistia foi aprovada por quem? Não há possibilidade de condenar torturadores?”, pergunta, curiosa. “Não tive tanto contato com esses temas na escola. Conheço mais sobre os horrores do nazismo do que da ditadura.” Estimular a visão crítica dos moradores de São Paulo sobre a história da repressão, reverenciada em seus endereços de correspondência, é um dos objetivos do Programa Ruas de Memória, da Secretaria municipal de Direitos Humanos, que busca renomear 22 logradouros da cidade com referências a agentes da ditadura.
No ano passado, a pasta organizou uma sessão de cinema ao ar livre e projetou um documentário sobre a vida de Frei Tito. O filme sensibilizou diversos moradores, que agora se dividem sobre o nome. Um levantamento realizado por Andréa Riskala, síndica da ruela, rejeitou recentemente a mudança por quatro votos. “Era uma oportunidade de tirarmos o nome desse cara da nossa rua. A gente não podia declinar desse convite.”
O trabalho de varrer do emplacamento urbano brasileiro as referências a ex-presidentes militares, torturadores e integrantes centrais da ditadura ganhou fôlego em 2015. A partir da publicação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, em dezembro de 2014, o processo tem sido mais ágil. Motivados pela recomendação da comissão de alterar o nome dos logradouros que façam referência a agentes da repressão, prefeituras e governos estaduais têm realizado levantamentos dos locais de homenagem e imposto mudanças relevantes. Não deixa, porém, de ser um trabalho de formiga: as alterações têm de passar pelos legislativos estadual ou municipal e, muitas vezes, pela aprovação dos moradores.
As loas à ditadura singram o País de norte a sul. Seis municípios brasileiros homenageiam ex-ditadores. São duas cidades chamadas Presidente Castello Branco, uma no Paraná e a outra em Santa Catarina, e uma Presidente Figueiredo, no Amazonas. O recordista de homenagens é justamente o governante responsável pelo período de maior repressão. Além de dois municípios Presidente Médici, um no Maranhão e outro em Rondônia, há uma Medicilândia no Pará.
Segundo o Censo Escolar de 2014, mais de 700 colégios homenageiam ex-ditadores. Humberto Castello Branco dá nome a 352 escolas, Artur da Costa e Silva a 200, Emílio Garrastazu Médici a 108, Ernesto Geisel a 21 e João Figueiredo a 34. O próximo levantamento deve revelar uma queda nos números. Em 2014, o Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici, na Bahia, passou a se chamar Carlos Marighella, em referência ao ex-deputado baiano morto em 1969 em uma emboscada comandada pelo delegado Fleury. No Maranhão, o governador Flávio Dino, do PCdoB, retirou referências a ex-ditadores de dez colégios estaduais neste ano. A escola Marechal Castello Branco, em São Luís, foi rebatizada de Doutor Jackson Kléper Lago, em homenagem ao ex-governador do Maranhão, morto em 2011.
Além das escolas, o número de avenidas, ruas, pontes e viadutos impressiona. A dificuldade para alterar o nome de endereços que dependem da anuência de moradores tem levado deputados e vereadores a focar em logradouros sem residências. Ao lançar o Programa Ruas de Memória, a prefeitura paulistana propôs a alteração do nome do Viaduto 31 de Março, referência ao dia do golpe, para Therezinha Zerbini, militante na luta pela anistia. “Não queremos apagar o passado”, afirma Rogério Sottili, secretário-adjunto de Direitos Humanos. “Todos os logradouros que tiverem seus nomes alterados terão uma placa para lembrar como eram chamados.”
Em breve, Costa e Silva deverá deixar de ser o nome de três importantes vias públicas do País. Em São Paulo, o Elevado Costa e Silva, vulgo Minhocão, é alvo do programa da Secretaria de Direitos Humanos. No Rio de Janeiro, a Ponte Presidente Costa e Silva, mais conhecida como Rio-Niterói, caminha para se chamar Herbert de Souza, o Betinho, sociólogo exilado nos tempos da repressão. Em Brasília, a Ponte Costa e Silva, ligação do Plano Piloto ao Lago Sul, teve o nome alterado para Honestino Guimarães, presidente da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília, assassinado em 1973 pela repressão.
As moradoras Fabíola e Andréa apoiam a mudança do nome da ruela que homenageia um dos maiores assassinos da ditadura: Sérgio Fleury
Autor do projeto em Brasília, o deputado distrital Ricardo Vale, do PT, afirma que aprovar a mudança foi difícil. “Tive de obter o apoio de 14 deputados, um a um”, lembra. “No momento em que setores da sociedade passaram a defender a volta da ditadura, deputados de partidos conservadores e da bancada evangélica se opuseram à troca.”
Se não tem sido fácil retirar as homenagens à ditadura, valorizar o passado de quem se opôs ao regime virou uma tarefa inglória. Recentemente, Rodrigo Rollemberg, governador do DF, vetou a cessão de um terreno no Eixo Monumental para a construção do Memorial Liberdade e Democracia, homenagem ao ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe de 1964. Embora o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tenha autorizado o projeto, o Ministério Público do Distrito Federal recomendou a suspensão das obras pela falta de uma consulta pública à população sobre a transferência do lote, entre outras razões pouco convincentes. O monumento seria erguido próximo do Setor Militar Urbano, o que pode ter incentivado uma pressão das Forças Armadas pela suspensão. Vale iniciou uma coleta de assinaturas na Câmara Distrital para retomar projeto.
O acirramento do conservadorismo em São Paulo é citado também pelas moradoras da Rua Doutor Sérgio Fleury como um entrave. “Até aqui há quem peça a volta dos militares. O momento político não contribui para esse tipo de iniciativa”, diz Andréa. Apesar de mais uma derrota para se livrar de Fleury, a síndica conta com os recém-chegados para consolidar a mudança. “Tem um novo morador que disse ser a favor, quem sabe não conseguimos trocar em breve?” No lento processo para moldar uma consciência histórica sobre a ditadura, cada voto é uma vitória.
Editorial intitulado “Última chance”, da Folha de S. Paulo, e a necessidade de resistência ao golpe
Grupo que apoiou e defendeu a ditadura volta a ameaçar governo eleito pelas vias democráticas
por Kátia Gerab Baggio
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Grupo que apoiou e defendeu a ditadura volta a ameaçar governo eleito pelas vias democráticas
VioMundo – O editorial intitulado “Última chance”, publicado na capa da Folha de S. Paulo, com inusual destaque, ontem (13), é um “dileto produto” da mesma família Frias que já denominou, em outro editorial, a ditadura militar inaugurada em 1964 como “ditabranda”.
São os Frias golpistas, como já vimos em outros momentos da história do Brasil. O editorial defende a necessidade de revisar “desembolsos para parte dos programas sociais”, além da “desobrigação parcial e temporária de gastos compulsórios em saúde e educação, que se acompanharia de criteriosa revisão desses dispêndios no futuro”.
Menciona a necessidade de “alguma elevação da já obscena carga tributária”, mas não faz referência, em nenhum trecho do texto, à urgente necessidade de combate mais efetivo à gigantesca sonegação de impostos. Esta, sim, efetivamente obscena.
O editorial termina com as seguintes palavras: “não lhe restará (à presidente Dilma Rousseff), caso se dobre sob o peso da crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo que ocupa.”
O momento é grave.
O tom do editorial não é muito diferente das ameaças feitas a João Goulart, em março de 1964, pela mídia liberal-conservadora da época (incluindo o jornal dos Frias).
Mas as forças da resistência – organizadas na Frente Brasil Popular, movimentos sociais e sindicais, PT, PCdoB e políticos de alguns outros partidos que são contrários ao golpismo – não irão aceitar o golpe sem reação.
E aos que se alinham à esquerda, mas estão, por razões indiscutíveis, profundamente insatisfeitos com o governo Dilma, no segundo mandato, digo o seguinte:
Caso Dilma não resista às pressões brutais que vem sofrendo desde que foi reeleita –pelos mercados, pelo grande capital, pela “grande” mídia e pelas oposições – e eventualmente venhamos a ter um governo do PMDB em aliança com as partidos de oposição (PSDB – DEM – PPS e outros partidos menores de direita e centro-direita), avalio que todos os avanços sociais dos governos Lula e Dilma estarão em risco.
Penso que propostas da pauta direitista do Congresso e de parte da sociedade – aprovação da legalidade da terceirização de atividades-fim pelas empresas; cortes drásticos em programas sociais como Bolsa Família e encerramento de outros programas; cortes ainda mais severos nos orçamentos da Educação e Saúde; revisão do Mais Médicos; fim do regime de partilha e da política de conteúdo nacional da Petrobras; aprovação de uma “reforma política” que só atenda aos interesses dos partidos direitistas, com a manutenção da legalidade das doações de empresas às campanhas eleitorais e aos partidos; diminuição da maioridade penal etc. – terão enormes chances de serem aprovadas pelos parlamentares, sem o anteparo de um governo eleito com o apoio da maior parte dos setores de esquerda, centro-esquerda e movimentos sociais.
E que, apesar de cada vez mais acossado pelos setores de direita, sabe que não pode virar as costas, completamente, aos seus eleitores.
Se a presidente Dilma Rousseff for derrubada – não acredito que ela renuncie –, avalio que o retrocesso será inevitável.
Como é mais do que evidente, é cristalino, não é o desejo de moralizar a política brasileira que está em questão nas ameaças golpistas – a defesa da manutenção das doações de empresas às campanhas e aos partidos, por parte das oposições de direita a Dilma e ao PT, demonstra isso claramente. O que está em pauta é, sim, uma ampla e profunda agenda de retrocessos sociais.
Em razão disso, penso que a resistência ao golpe é necessária.
Além, é claro, da defesa fundamental e imprescindível dos princípios democráticos.
Jornal conservador e golpista e direitista continua com sua propaganda suja favorável às podres elites de Minas Gerais, que promoveram o banqueiro e governador Magalhães Pinto chefe civil do golpe de 64.
O jornal Estado de Minas e seus irmãos bastardos Correio Braziliense e Diário de Pernambuco – o que restou do império de Assis Chateaubriand – sempre fizeram parte da imprensa vendida ao império, aos interesses coloniais da Europa Ocidental e dos Estados Unidos, por um Brasil dependente, terceiro-mundista, dividido entre latifundiários, e suas riquezas entregues aos piratas estrangeiros.
Uma política que custa o suor, as lágrimas e o sangue dos sem terra, dos sem teto, dos sem nada, dos bolsas-família, dos que recebem o salário mínimo do mínimo.
Esquecem os descartáveis poderosos de hoje, que todos vão terminar no ostracismo e, também, com suas riquezas roubadas. Foi o que aconteceu com Magalhães Pinto. Foi o que aconteceu com Assis Chateaubriand.
Assim haverá de ocorrer com as botijas de ouro e nióbio e diamantes da família Neves, cuja fortuna será tomada pelas multanacionais, ou perdida, espero, para beneficiar o povo espoliado durante cinco séculos, desde o ano de 1536, quando foi conquistado Pernambuco, a primeira das 13 capitanias hereditárias, que originaram os estados brasileiros.
Para manter as capitanias que, políticamente, são transmitidas de pai para filho ou neto (de forma hereditária, como direito de sangue), o Estado de Minas realiza sua campanha contra Lula, não pelo que ele fez, mas pelo que representa como símbolo de combate a fome, e de ascensão social do negro e do mulato, e a felicidade do povo em geral. Por Independência ou Morte, uma Liberdade ainda que tardia (Libertas quae sera tamem).
Delegado da PF do zé foi exonerado! E quer prender o Lula!
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Escreve Paulo Henrique Amorim, com informação de Stanley Burburinho:
Delegado da PF que pediu para Lula depor na Lava Jato foi exonerado de cargo de chefia em 08/2013, pelo atual diretor-geral da PF.
Jornal mentiroso e safado. Não existe nenhum pedido da Polícia Federal, apenas, exclusiva e facciosa insinuação de um delegado, motivado pela vingança de ter sido demitido de um poderoso cargo de chefia.
O desejo do delegado Joselio Azevedo era “produzir dano político e eleitoral, transformando a atividade policial em gazua de interesses partidários”.
O mesmo delegado, jogando na corda bamba, pediu “para interrogar Aécio Neves, de quem Yousseff não disse ‘achar’, mas ter certeza que recebia dinheiro de uma diretoria de Furnas, que dividiria com o falecido deputado José Janene, do PP”. A denúncia contra Aécio foi escondida pela imprensa.
“Ninguém, em sã consciência, pode prever como sairemos da caótica situação a que nos levaram esses anos de experiência petista. Muitos souberam desde logo que seu líder não era mais do que um aventureiro irresponsável, despreparado, desprovido de caráter e de condições morais e intelectuais”. General Gilberto Rodrigues Pimentel, presidente do Clube Militar
“É típico de nosso povo esperar que alguém, o governo, os poderosos, resolvam os problemas a preço módico, poupando ao povo o esforço de fazê-lo”. General Clovis Purper Bandeira, editor de Opinião do Clube Militar
O Século XX foi marcado por ditaduras militares na Europa – Hitler, Mussolini, Stalin, Franco, Salazar – paridas da Primeira Grande Guerra e que conceberam a Segunda Grande Guerra Mundial. Guerras que colonizaram o Oriente Médio, a África, e promoveram guerras civis e golpes na América Latina, patrocinados pelo imperialismo.
Uma política que martirizou o povo pisoteado pelos Quatro Cavaleiros do Apocalipse. E nada mais demoníaco do que um Pinochet, uma Operação Con-dor.
Transcrevo do Cinema Uol, Literatortura e Pragmatismo político: Das sessões de tortura aos fantasmas da ditadura, o cinema brasileiro invariavelmente volta aos anos do regime militar para desvendar personagens, fatos e consequências do golpe que destituiu o governo democrático do país e estabeleceu um regime de exceção que durou longos 21 anos.
Estreantes e veteranos, muitos cineastas brasileiros encontraram naqueles anos histórias que investigam aspectos diferentes do tema, do impacto na vida do homem comum aos grandes acontecimentos do período.
Embora a produção de filmes sobre o assunto tenha crescido mais recentemente, é possível encontrar obras realizadas durante o próprio regime militar, muitas vezes sob a condição de alegoria.
“Terra em Transe”, de Glauber Rocha, é um dos mais famosos, retratando as disputas políticas num país fictício. Mais corajoso do que Glauber foi seu conterrâneo baiano Olney São Paulo, que registrou protestos de rua e levou para a tela em forma de parábola, o que lhe custou primeiro a liberdade e depois a vida.
Os onze filmes que compõem esta lista, se não são os melhores, fazem um diagnóstico de como o cinema retratou a ditadura brasileira.
1. MANHÃ CINZENTA (1968), Olney São Paulo – Em plena vigência do AI-5, o cineasta-militante Olney São Paulo dirigiu este filme, que se passa numa fictícia ditadura latino-americana, onde um casal que participa de uma passeata é preso, torturado e interrogado por um robô, antecipando o que aconteceria com o próprio diretor. A ditadura tirou o filme de circulação, mas uma cópia sobreviveu para mostrar a coragem de Olney São Paulo, que morreu depois de várias sessões de tortura, em 1978.
2. PRA FRENTE, BRASIL (1982), Roberto Farias – Um homem comum volta para casa, mas é confundido com um “subversivo” e submetido a sessões de tortura para confessar seus supostos crimes. Este é um dos primeiros filmes a tratar abertamente da ditadura militar brasileira, sem recorrer a subterfúgios ou aliterações. Reginaldo Faria escreveu o argumento e o irmão, Roberto, assinou o roteiro e a direção do filme, repleto de astros globais, o que ajudou a projetar o trabalho.
3. NUNCA FOMOS TÃO FELIZES (1984), Murilo Salles – Rodado no último ano do regime militar, a estreia de Murilo Salles na direção mostra o reencontro entre pai e filho, depois de oito anos. Um passou anos na prisão; o outro vivia num colégio interno. Os anos de ausência e confinamento vão ser colocados à prova num apartamento vazio, onde o filho vai tentar descobrir qual a verdadeira identidade de seu pai. Um dos melhores papéis da carreira de Claudio Marzo.
4. CABRA MARCADO PARA MORRER (1984), Eduardo Coutinho – A história deste filme equivale, de certa forma, à história da própria ditadura militar brasileira. Eduardo Coutinho rodava um documentário sobre a morte de um líder camponês em 1964, quando teve que interromper as filmagens por causa do golpe. Retomou os trabalhos 20 anos depois, pouco antes de cair o regime, mesclando o que já havia registrado com a vida dos personagens duas décadas depois. Obra-prima do documentário mundial.
5. O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? (1997), Bruno Barreto – Embora ficcionalize passagens e personagens, a adaptação de Bruno Barreto para o livro de Fernando Gabeira, que narra o sequestro do embaixador americano no Brasil por grupos de esquerda, tem seus méritos. É uma das primeiras produções de grande porte sobre a época da ditadura, tem um elenco de renome que chamou atenção para o episódio e ganhou destaque internacional, sendo inclusive indicado ao Oscar.
6. AÇÃO ENTRE AMIGOS (1998), Beto Brant – Beto Brant transforma o reencontro de quatro ex-guerrilheiros, 25 anos após o fim do regime militar, numa reflexão sobre a herança que o golpe de 1964 deixou para os brasileiros. Os quatro amigos, torturados durante a ditadura, descobrem que seu carrasco, o homem que matou a namorada de um deles, ainda está vivo –e decidem partir para um acerto de contas. O lendário pagador de promessas Leonardo Villar faz o torturador.
7. CABRA CEGA (2005), Toni Venturi – Em seu melhor longa de ficção, Toni Venturi faz um retrato dos militantes que viviam confinados à espera do dia em que voltariam à luta armada. Leonardo Medeiros vive um guerrilheiro ferido, que se esconde no apartamento de um amigo, e que tem na personagem de Débora Duboc seu único elo com o mundo externo. Isolado, começa a enxergar inimigos por todos os lados. Belas interpretações da dupla de protagonistas.
8. O ANO EM QUE MEUS PAIS SAIRAM DE FÉRIAS (2006), Cao Hamburger – Cao Hamburger, conhecido por seus trabalhos destinados ao público infantil, usa o olhar de uma criança como fio condutor para este delicado drama sobre os efeitos da ditadura dentro das famílias. Estamos no ano do tricampeonato mundial e o protagonista, um menino de doze anos apaixonado por futebol, é deixado pelos pais, militantes de esquerda, na casa do avô. Enquanto espera a volta deles, o garoto começa a perceber o mundo a sua volta.
9. HOJE (2011), Tata Amaral – Os fantasmas da ditadura protagonizam este filme claustrofóbico de Tata Amaral. Denise Fraga interpreta uma mulher que acaba de comprar um apartamento com o dinheiro de uma indenização judicial. Cíclico, o filme revela aos poucos quem é a protagonista, por que ela recebeu o dinheiro e de onde veio a misteriosa figura que se esconde entre os cômodos daquele apartamento. Denise Fraga surpreende num papel dramático.
10. TATUAGEM (2013), Hilton Lacerda – A estreia do roteirista Hilton Lacerda na direção é um libelo à liberdade e um manifesto anárquico contra a censura. Protagonizado por um grupo teatral do Recife, o filme contrapõe militares e artistas em plena ditadura militar, mas transforma os últimos nos verdadeiros soldados. Os soldados da mudança. Irandhir Santos, grande, interpreta o líder da trupe. Ele cai de amores pelo recruta vivido pelo estreante Jesuíta Barbosa, que fica encantado pelo modo de vida do grupo.
11. BATISMO DE SANGUE (2007) – Apesar do incômodo didatismo do roteiro, o longa é eficiente em contar a história dos frades dominicanos que abriram as portas de seu convento para abrigar o grupo da Aliança Libertadora Nacional (ALN), liderado por Carlos Marighella. Gerando desconfiança, os frades logo passaram a ser alvo da polícia, sofrendo torturas físicas e psicológicas que marcaram a política militar. Bastante cru, o trabalho traz boas atuações do elenco principal e faz um retrato impiedoso do sofrimento gerado pela ditadura.
Gaúcha de nascimento e paulistana de coração, Inoil Amaral Rodrigues, de 70 anos, professora aposentada do Ensino Fundamental e especializada em alfabetização, marcou a Internet no último domingo (16) após ser fortemente hostilizada por manifestantes, na Avenida Paulista, simplesmente por estar vestida de vermelho. Em diferentes registros de vídeo e uma foto que registrou exatamente o episódio, de autoria do fotógrafo Luciano Marra, Inoil aparece reagindo com coragem e paciência aos atos de agressão verbal e ódio vindos de paulistanos trajados de camisas da seleção brasileira e apetrechos dos mais esquisitos na cabeça. Parecia Copa do Mundo, mas eram só as excentricidades de uma galera muito louca.
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Dona Inoil ficou conhecida como “Dama de Vermelho” na internet, em alusão à cor que lhe rendeu atenção por parte das agressões fascistas e de parte da imprensa (uma pequena parte interessada em se aprofundar nos assuntos, é claro).
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O mandato político da deputada federal Jandira Feghali, líder do PCdoB na Câmara, se sensibilizou com o episódio e declarou apoio a ela e tantas outras pessoas que foram alvo de reações agressivas, simplesmente por quererem expressar o contraditório naquele dia, em diferentes pontos do Brasil. Por isso, com produção e entrevista do repórter Bruno Trezena, nossa seção “2 Dedos de Prosa” desta semana é com ela.
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Com a palavra, a Dama de Vermelho.
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Bruno Trezena: Vamos do início? Como a senhora foi parar naquela situação?
Inoil Amaral: Primeiramente, permita-me explicar, não sou militante de nenhum partido. Tenho militância simpática aos governos de Lula e Dilma, mas o que se viu naquele dia foi um absurdo tamanho comigo e outras pessoas. Desde quando é proibido sair às ruas vestido de vermelho, mesmo que haja manifestações contrárias ao PT? Onde está a liberdade de expressão?
Para se ter uma ideia, naquele dia nem me lembrava que haveria atos contra a Dilma. Tanto que o que chamou a atenção dessas pessoas foi o casaco vermelho que eu levava dentro da bolsa e, quando tudo explodiu em agressão, ergui sob a cabeça.
O dia ocorria normalmente. Mais cedo havia ido à feira e um dos vendedores me disse que teria que fechar mais cedo por conta do tal protesto na Avenida Paulista. Voltei pra casa, almocei e resolvi ir à rua pra ver como estava a movimentação.
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BT: E o que aconteceu quando a senhora chegou no local?
IA: Vi os carros de som estacionados, as pessoas passando pra lá e pra cá e resolvi entender o que dizia um dos manifestantes no microfone. Parei na ciclovia e fiquei lá, ouvindo. Nessa hora notei um senhor de cinza, com uma roupa lembrando farda militar, gesticulando na minha direção de longe. Ele fazia movimentos bruscos com a mão, dando a entender para que eu saísse dali. Achei aquilo tudo muito estranho. E foi aí que notei uma senhora atrás de mim, de amarelo, acompanhada de uma moça bem humilde – acho que era a empregada dela – me fitando com uma cara de raiva. Quando me virei ela perguntou: “Por que você está vestida assim?”. E eu perguntei qual era o problema da minha roupa, mas ela continuou: “Você é do PT?”. Segui explicando que estava acompanhando a manifestação como todo mundo e tinha direito de estar ali. Não demorou muito para que as agressões começassem.
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BT: Nas imagens a senhora aparece andando por uma rua e respondendo calmamente às agressões que vinham na sua direção. Por que aquilo?
IA: Em determinado momento, um senhor fardado se aproximou e me questionou sobre estar ali. Qual o problema da minha presença? Tentei explicar, mas ele logo saiu perguntando de forma agressiva: “A senhora é comunista? Eu sou capitão do exército e advogado, acho melhor a senhora sair daqui, vai começar o hino nacional”. Foi quando eu disse em sua direção: “E daí o que o senhor é. O senhor pode ser o que quiser. Eu vou continuar aqui da mesma forma que vocês. E eu respeito o hino, vocês eu não respeito”. Assim que acabou o hino, seguido do silêncio, eu gritei: “Viva a democracia! Viva a liberdade de expressão!”. E aí tudo começou.
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BT: Que tipo de agressões a senhora sofreu?
IA: Todos se viraram pra mim e passaram a me acusar de petista, comunista, de terrorista ou sei lá mais o que. Carros começaram a buzinar e um monte de gente a gritar palavrões na minha direção. Algumas pessoas passaram a assoprar aquelas vuvuzelas no meu ouvido, tentando me atingir de alguma forma. E eu continuei meu caminho, de braço erguido com a cor que tanto incomodava aquele estranho grupo. É isso, eles tinham medo do vermelho. É uma fobia inexplicável, de gente com muita desinformação nas ruas, sem saber o que quer realmente da vida. É um absurdo o que aconteceu, mas eu sigo em paz.
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BT: O que a senhora presenciou nesses atos, antes da confusão começar?
IA: Coisas terríveis. Num desses carros de som, um senhor fardado gritava no microfone que as forças militares fariam uma reunião no Quartel General do Exército, ali no Ibirapuera, e que precisavam reagir a entrada de árabes no país. Diziam que eles fariam terrorismo com ajuda do governo brasileiro. Mas eu digo, meu filho, terrorismo são essas pessoas que estão fazendo diariamente no Brasil. Eles amedrontam o povo, inventando coisas e deturpando a História, gerando um grande temor na sociedade. É através do medo e da raiva que eles estão tentando trazer o povo pro lado deles. É uma tática suja, do tipo de gente que criou a Ditadura.
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BT: Muitas dessas pessoas pedem o retorno da Ditadura no Brasil…
IA: Olha, isso jamais. Não entendo o que eles estão fazendo nas ruas, exigindo intervenção militar… onde essas pessoas estavam quando milhares de famílias foram destroçadas pelo Regime Militar? Diversos cidadãos estão traumatizados até hoje por conta da perseguição política e dos crimes de Estado. Lembro até hoje, quando tive meu primeiro filho, o que soldados daquela época fizeram com uma conhecida. Um pelotão deles apareceu de repente na minha rua e tiraram dos braços de uma vizinha seu filho de apenas dois anos. É muito doloroso recordar isso e, como se vê, tem gente que não faz a mínima noção do que clama por aí.
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BT: Inoil, sua determinação virou símbolo a diversas pessoas do Brasil. Se tivesse a oportunidade de dizer algo à presidenta Dilma, o que falaria?
IA: Eu falaria pra que ela fique tranquila, como eu fiquei, pois foi a maioria popular que a elegeu. Foi democrático, dentro do sistema eleitoral. O povo trabalhador mais humilde gosta dela, e eles não serão afetados por este ódio elitizado. A diferença de opinião política vai existir, mas todos têm que respeitar a democracia. Tem gente aí que quer tentar dar o golpe, mas não vão passar.