Estudantes da USP promovem hoje a festa peruadas contra Eduardo Cunha

Meu peru é sem noção, apoia o Cunha e a redução

peruadas cunha

Tradicional festa dos estudantes do Largo S. Francisco

“Vai, vai, vai começar a brincadeira
Tem cerveja, gelada a tarde inteira
Vem soltar a lascívia acumulada
Vai, Vai, Vai, começar a Peruada!”

Ocorre nesta sexta-feira, 23, a tradicional Peruada organizada pelos alunos do Centro Acadêmico XI de Agosto, em SP. O mote deste ano é: “Meu peru é sem noção, apoia o Cunha e a redução”.

A passeata político-carnavalesca circula pelos principais pontos da região central de SP. A saída da caminhada está prevista para as 12h40, com retorno programado por volta das 18h. A Faculdade ficará fechada.

De acordo com a organização, a passeata inteira será marcada por manifestações contra o deputado Eduardo Cunha, presidente do Congresso, e rechaçando as propostas de redução da maioridade penal (apoiada por ele) e de aumento do tempo de internação dos menores. Ao longo dessa gestão, o centro acadêmico criou uma campanha chamada “Direito USP contra a redução”, então a Peruada entra também nessa construção.

Como tradicionalmente acontece, a concentração será em frente ao Largo do Paiçandu, por volta das 9h. O percurso, de aproximadamente quatro horas, passará pelas ruas da região central, Largo do Paiçandu, Teatro Municipal, Câmara Municipal de São Paulo, retornando à Faculdade de Direito, entre outros.

Mais informações sobre o evento podem ser consultadas na página do evento no Facebook: “Peruada 2015”

A tradição da Peruada

cervajada peruadas 1

cervejada das peruadas 3

cervejada peruadas

Em São Paulo sem água, um bando de terroristas pede sangue

Passeata em Sampa. Imaginei que  para reclamar a falta de água.

E coisa rara, sem pancadaria da polícia e sem infiltrados e espionagem.

 

Viva a PM! Viva Bolsonaro! Viva Lobão!

 

gorila

 

por Fábio Chap

Acabei de voltar de uma manifestação em que:

– 93% dos presentes gritavam: ‘Viva a PM! Viva a PM!’

– 52% dos presentes pediam a intervenção militar, ou seja, o retorno da ditadura militar no Brasil

– 97,8% dos presentes comemoraram quando foi dito no megafone que o congresso derrubou  a ‘medida bolivariana’ da Dilma que propunha participação popular na política brasileira

– Foi anunciado no carro de som que a ‘Fulana de Alguma Coisa’ tinha perdido seu cartão de crédito e poderia retirar no próprio caminhão. (Adoro manifestações em que eu posso recuperar meu cartão de crédito quando o perco.)

– 94% aplaudiu fervorosamente o Lobão quando ele subiu no carro de som

– 86% aplaudiu fervorosamente o filho de Bolsonaro, e ficou gritando: ‘Bolsonaro! Bolsonaro! Bolsonaro!’

– Discuti com uma mulher que cismou que eu era comunista quando eu disse que o Aécio bateu na esposa. Ela disse que eu preciso estudar mais e que se ele bateu na esposa, isso é problema particular deles, não nosso

– Uma menina bonita e bem vestida, por volta dos 20 anos, disse que o PT acabou  com a juventude dela

– Uma mulher começou a gritar ‘Dilma, Dilma, Dilma’ e ouviu de contra-argumento que ela era maconheira, sapatona e vagabunda. O homem que a xingou estava vestido de azul e deveria ter por volta de seus 60 anos.

Nesses rolês eu aprendo muito sobre o ÓDIO. E quanto mais eu vejo essas pessoas odiosas vomitarem suas verdades pequenas e particulares, mais eu desejo que elas descubram um pouco mais sobre o amor.

Quem sabe um dia.

 

Hidrante como enfeite

 

Boca de incêncio
Boca de incêncio

O governador Geraldo Alckmin mandou a polícia militar não reprimir a passeata. Ora, ora, era uma passeata favorável à polícia.

Estavam proibidos desta vez, o uso de bombas de efeito moral, balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo.

O governador aprovou apenas o uso de canhões de água contra os petistas, que não apareceram.

Os soldados estaduais testaram os hidrantes para ligar suas mangueiras. Não encontraram nenhum em funcionamento.

Alckmin ainda acredita que existe água em São Paulo.

E se acontecer um incêndio?

 

Os filhos da mídia foram protestar na Paulista

 

gorilas

 

por Paulo Nogueira

 

Os filhos da mídia foram neste sábado para as ruas protestar contra, bem, contra sei lá o quê.

Contra terem perdido nas urnas e, portanto, contra a democracia.

Disse “filhos”, mas poderia ter dito “vítimas”.

Porque em sua louca cavalgada antidemocrática eles foram intoxicados mentalmente pelo que a mídia deu nestas últimas semanas.

Eles pareciam saídos das páginas da Veja e dos comentários de gente como Jabor.

Pediam o impeachment de Dilma pelo caso Petrobras.

São os efeitos colaterais da capa criminosa que a Veja deu às vésperas das eleições.

Os manifestantes da Paulista tomaram aquilo como uma verdade indiscutível.

Isso mostra que é necessário aplicar uma punição exemplar à Veja. É uma tentativa de golpe branco fazer o que a revista fez – sem uma única prova – em cima de uma eleição tão disputada.

A Veja tem que enfrentar – rapidamente — as consequências do que fez. Ou vamos esperar que um lunático, inspirado pela revista, comece a matar petistas?

A mídia está também por trás do disparatado pedido de auditoria de votos feito pelo PSDB.

Os tucanos só fizeram isso por saberem que têm as costas quentes com a imprensa. Ou então se refreariam antes de atentar contra as instituições com um pedido tão esdrúxulo.

As dúvidas não resistem a um minuto de reflexão. Considere. O Datafolha deu, na véspera, 52% a 48% para Dilma. A diferença ficou nos decimais: 51,64% versus 48,36%.

A desconfiança nasce também, assinale-se, de trapaças do PSDB não devidamente cobradas pela mídia.

Aécio usou dados enganosos de uma pesquisa do instituto Veritás que lhe dava ampla vantagem em Minas, onde perdera no primeiro turno.

O dono do Veritás avisou que era um erro, ou crime, utilizar os números que Aécio brandiu publicamente, nos debates, contra Dilma. O estatístico também.

E mesmo assim Aécio não se deteve.

O que pensa um fanático antipetista quando vê uma coisa dessas? Num dia, numa pesquisa, seu candidato está ganhando amplamente em Minas. No dia seguinte, no mundo real, o candidato perde.

Farsa, é a conclusão.

E a frustração se converte em raiva depois que analistas afirmam que Aécio perdeu a presidência por causa dos votos que não teve em Minas.

Manifestações como a de hoje mostram como a sociedade está sendo agredida por uma mídia interessada apenas na manutenção de seus formidáveis privilégios.

Pensava-se que o ataque da mídia à democracia cessaria com as eleições.

Não cessou.

É hora de o Estado proteger a democracia, antes que seja tarde demais.

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Leia também: “Se eu fosse você, temeria pela sua integridade física”: nosso repórter na manifestação pelo impeachment em SP

 

Será que vai ter água?

 

Sergei Tunin
Sergei Tunin

DIREITA VOLVER. O mercado financeiro e Marina Silva se assumiram

Com o golpe militar de 1964, e a caneta do ditador Castelo Branco, o Banco Central nasceu livre e independente, e foi cassada a estabilidade no emprego do trabalhador brasileiro, concedida na presidência de Getúlio Vargas. Essa volta aos tempos de chumbo, esse retrocesso, pretendem os banqueiros e grandes empresários, que patrocinam a candidatura de Marina Silva e do vice Beto Albuquerque, deputado federal que sempre defendeu os interesses dos latifúndios, dos agronegócios, e das estrangeiras empresas de armas, de fumo, e o avanço dos transgênicos na agricultura, tendo o povo brasileiro como cobaia.

salário emprego mendigo

 

Com o fracasso do PSDB em se firmar como braço político da elite econômica, o PSB de Marina destoa de compromissos históricos e abraça a agenda liberal de Castelo Branco e FHC

por redação RBA

 

A adesão do mercado financeiro à candidatura de Marina Silva foi instantânea. E o programa do PSB, já com a candidata na cabeça de chapa após a morte de Eduardo Campos, torna nítida essa aliança em temas relacionados a mercado de trabalho, direitos dos trabalhadores e condução da economia. Diz o programa de Marina: “A terceirização de atividades leva a maior especialização produtiva, a maior divisão do trabalho e, consequentemente, a maior produtividade das empresas”. É essa a linguagem utilizada pelas empresas e bancos quando substituem seus quadros de funcionários por serviços terceirizados para economizar com salários e direitos e desorganizar categorias.

E são esses os argumentos da bancada empresarial no Congresso desde 2004, na tentativa de aprovar um projeto de lei (o PL 4330) que escancara as portas da legislação trabalhista para essa fraude na subcontratação de mão de obra. Atualmente, as empresas perdem na Justiça do Trabalho os processos contestando essa prática. E com um programa desses, podem acabar com a “insegurança jurídica”.

O objetivo de “reduzir os custos” do trabalho no Brasil não é novo. Um projeto de lei com esse fim foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 2002, último ano de governo FHC. Quando Lula tomou posse, em 2003, retirou o projeto, que já estava no Senado, e enterrou sua tramitação. De lá para cá, o Brasil conviveu com um processo de desenvolvimento que apostou no fortalecimento do mercado interno, permitiu a criação de empregos e o aumento da renda.

Para retomar aquela agenda que havia sido superada, Marina precisará de uma ­­coalizão neoliberal conservadora no Congresso, nos moldes daquela que deu sustentação às políticas da era FHC. Com o discurso da “nova política”, vai precisar de adesões do pior da “velha política” para cumprir seus “compromissos”.

Seu programa defende a independência do Banco Central, o que significa retirar do Estado o papel de regulador da economia e deixar ao sabor do mercado a regulação dos juros, do crédito e do câmbio, por exemplo. Não por coincidência, estão entre os gurus econômicos do PSB uma das donas do Itaú Maria Alice Setúbal e os economistas de alma tucana Eduardo Giannetti e André Lara Resende. Por meio da candidata, propõem superávits primários (sobras de caixa para arcar com o pagamento de juros da dívida pública) mais elevados que os atuais. Mesmo que ao preço de conduzir a economia brasileira a um forte arrocho fiscal, levando à redução dos investimentos públicos e dos gastos sociais.

Não por coincidência, estão entre os gurus econômicos do PSB uma das donas do Itaú Neca Setúbal e os economistas de alma tucana Eduardo Giannetti e André Lara Resende
Não por coincidência, estão entre os gurus econômicos do PSB uma das donas do Itaú Neca Setúbal e os economistas de alma tucana Eduardo Giannetti e André Lara Resende

O programa de Marina para a política comercial também repete o ideário neoliberal que prevaleceu no Brasil durante os anos 1990, e que destruiu economias em todo o mundo. Os acordos bilaterais propostos pela candidata do PSB contrariam a tendência de fortalecimento dos blocos econômicos como o Mercosul. A diminuição da importância do pré-sal também é um dos anseios da “nova” aliança, o que anularia os enormes investimentos em pesquisa e tecnologia feitos para que o Brasil assumisse posição de protagonista no campo energético mundial. E prejudicaria o retorno desses investimentos, já previsto em lei, para a educação e a saúde.

Outra curiosidade do caderno de projetos do PSB para o Brasil é destinar cinco páginas à importância do agronegócio, e de se garantir seu crescimento, e somente três parágrafos à agricultura familiar, que responde pelo emprego de 74% da mão de obra na área rural, por aproximadamente 38% da produção nacional, e por 60% da produção de alguns itens básicos da alimentação brasileira.

O programa reserva ainda a redução do papel do BNDES e dos bancos públicos, tanto no que diz respeito ao crédito de longo prazo quanto ao consumidor. Marina propõe acabar com crédito direcionado, aquele que financia casa própria, agricultura, pequenos e médios empresários e industriários. Em benefício dos bancos privados, que poderiam cobrar juros mais altos na concessão desse tipo de empréstimo, que hoje é regulamentado.

Os riscos desse receituário são conhecidos dos brasileiros: recessão de fato (muito além da “recessão técnica”) e a volta do desemprego. Um cenário dos anos 1990, que enfraquece os trabalhadores e diminui sua capacidade de promover a distribuição de renda por meio de aumentos reais em seus acordos coletivos.

Com o fracasso do PSDB em se firmar como braço político da elite econômica, no plano nacional, o PSB e Marina aceitam assumir essa agenda. Ela une sua fome de ganhar uma eleição com a vontade do mercado de devorar o projeto de desenvolvimento com distribuição de renda e inclusão social que vem sendo construído desde 2003 ao longo dos governos Lula e Dilma. É isso o que está em jogo no dia 5 de outubro.

 

Emprego terceirizado, o famoso PJ, é trabalho temporário, renda incerta, porque amanhã você pode estar no olho da rua.
Emprego terceirizado, o famoso PJ, é trabalho temporário, renda incerta, porque amanhã você pode estar no olho da rua. (T.A.)

Os banqueiros das ditaduras do Cone Sul. Os bancos de Pinochet, FHC e Marina

Conheça a história de bancos e banqueiros que financiaram as ditaduras do Cone Sul. Do banco de Magalhães Pinto, chefe civil do golpe de 64, que patrocinou a campanha presidencial de Fernando Henrique. Do Itaú, que financiou o DOI-Codi.

“Existem algumas poucas verdades absolutas na vida política. Uma delas é aquela de que o banco que se mete em seus meandros, inevitavelmente, quebra. Aqui e lá fora. Não faltam exemplos”, diz o jornalista Palmério Doria, em artigo exclusivo para o 247.

O texto serve de alerta para os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, filhos de Olavo Setubal e Walter Moreira Salles, que permitiram o excessivo engajamento do Itaú Unibanco no processo político de 2014, especialmente em razão dos vínculos entre Neca Setubal e Marina Silva; outras experiências que terminaram mal no Brasil foram as do Econômico, de Angelo Calmon de Sá, e do Bamerindus, de José Eduardo Andrade Vieira.

Banqueiro em política é véspera de bancarrota

 

banqueiros do conesul

Por Palmério Doria, especial para o 247

Nos Estados Unidos o respeitado Riggs Bank, de Washington, conhecido pela tradição de ser o banco oficial de todos os presidentes, sucumbiu ao ser descoberto numa indesculpável travessura: abrigava contas milionárias de Augusto Pinochet, o ditador chileno, abertas com passaportes e nomes falsos. Obviamente o dinheiro sujo do genocida andino chegou aos seus cofres com a conivência da diretoria. Deixaram, assim, os banqueiros do Riggs de frequentar o Salão Oval para o amargor de depoimentos em chefaturas policiais e audiências nos tribunais de justiça.

Na Argentina, dois bancos mantiveram relações carnais com os milicos golpistas pós-1976, o ano da derrubada da viúva de Perón e instauração do regime cruel que sequestrou, matou e desapareceu com cerca de 30 mil pessoas. O Banco de Intercâmbio Regional (BIR) e o Banco Oddone tinham tentáculos dentro dos quartéis e passe livre na Casa Rosada, ocupada alternadamente por generais ladrões e assassinos. Mas suas contabilidades – escondidas pela profusão de patrocínios culturais, badalações no society platino e eventos no exclusivo Jockey Club portenho – estavam podres. Nem os militares ousaram salvar os banqueiros falidos quando Jose Alfredo Martinez de Hóz, o czar da economia, decretou as quebras.

Enquanto milhares de correntistas iam do escândalo nas portas (cerradas) das agências ao “simples” suicídio, os banqueiros fugiram para o exterior ou acabaram nos calabouços do regime. A influência política de nada valeu diante da revolta popular e da comoção causada pela debacle sistêmica provocada pela quebra do BIR e do Oddone. E eram todos bancos presumivelmente “sadios” e com forte proteção política.

José Rafael Trozzo, o presidente do BIR, era a voz de apoio ao regime entre o empresariado mais saliente, e Luis Alberto Oddone, dono do banco que levava seu sobrenome, chegou mesmo a custear do próprio bolso a fortuna de US$ 700 mil (valores de 1976) pagos à agências internacionais de relações públicas e lobby para que propagandeassem os feitos do novo regime argentino. Trozzo, avisado por um general camarada, fugiu para Miami. Oddone resolver peitar Martinez de Hóz e passou longa temporada numa masmorra nos arredores de Buenos Aires.

Mais curioso foi o final do banqueiro Ruben Beraja, do Banco Mayo, presidente da DAIA (Delegación de Asociaciones Israelitas Argentinas) e destacado membro da corte de Menem, nos anos infames do neoliberalismo platino. Diante de uma fraude monstruosa, um rombo que atravessava a casa das centenas de milhões de dólares, o BCRA (o Banco Central de lá) simplesmente decretou a liquidação do Mayo. Beraja se encontrava em Washington, como feliz e prestigiado integrante da comitiva do presidente Carlos Menem. No hall do hotel, a caminho da Casa Branca, Carlos Korach, mafioso chefe-de-gabinete da Casa Rosada, o desconvida na frente dos presentes e lhe dá com crueza a notícia do estouro de seu banco: “Te jodeste, hermano”. Nem sempre a proximidade com o poder e a intimidade com os poderosos consegue segurar um banco quebrado. Dinheiro é coisa séria.

Ricardo Espirito Santo Salgado comandou por muitos com mão-de-ferro o banco que leva o sobrenome da família materna. Ganhou o popular apelido de “o-dono-disto-tudo” e recebia presidentes, primeiros-ministros e autoridades monetárias em sua deslumbrante casa nos arredores de Lisboa, talvez uma das mais lindas da Europa. Elegante e arrogante, impôs-se na política portuguesa, na de Moçambique, na de Angola e, também, recebeu Marcos Valério e uns sôfregos emissários do delator Roberto Jefferson, então influente dono do PTB, para negociações mirabolantes acerca de aplicações das reservas do tesouro brasileiro. Que, é claro, jamais foram feitas.

O sólido banco de Ricardo E. S. Salgado não era tão sólido quanto parecia, e seu espírito como banqueiro estava longe de ser santo. Hoje, depois de apeado da presidência do antigo colosso lusitano, espera em prisão domiciliar a decisão da Justiça sobre propinas pagas, propinas recebidas, desvios de fundos e balancetes dignos de Ionesco. Não sem antes ter deixado nas burras do tesouro a bagatela de três milhões de euros – valor arbitrado como fiança pelo direito de não ir (por enquanto) mofar num cárcere lisboeta qualquer. Sabe o que aconteceu ao ex-dono-disto-tudo? Encontrou pela frente um primeiro-ministro corajoso, um ministro da Fazenda sério e um juiz imparcial. O futuro do ex-banqueiro que comandou governos e tratava dignatários por “tu” não é nada alvissareiro.

Voltemos ao patropi.

Ângelo Calmon de Sá despachava em histórico edifício na Cidade Baixa, em Salvador, sede do então centenário Banco Econômico. Não fitava as pessoas, mal as cumprimentava e um dos seis elevadores estava permanentemente interditado. Só o “doutor Ângelo” podia usá-lo. Estava em Paris, numa suíte do George V, tomando champanhe Cristal Rosé Brut Imperial com dona Ana Maria, mas o “seu” elevador, lá no centro histórico lindo e fétido de nossa primeira capital, estava fechado aos mortais. Ele era uma semidivindade baiana. Não estava entronizado no altar da Igreja do Bonfim nem flutuava entre os imensos Orixás do genial escultor Tati Moreno nas águas escuras do Dique do Tororó.

Os governadores da Bahia passavam pela opulenta casa, majestosamente plantada entre mangueiras frondosas, lá no alto de um dos vales rasgados no ventre soteropolitano, prestando-lhe vassalagem e os salamaleques de praxe. Muitas e muitas vezes o “doutor Ângelo” viajava ao Rio, São Paulo ou Brasília, sozinho, aboletado em um de seus dois jatos Falcon, enquanto seus assessores diretos, velhos diretores e gerentes fiéis o seguiam como mortais que eram em voos comerciais. Ministro da ditadura militar e de Collor, presidente do Banco do Brasil, nome sempre lembrado para concorrer ao governo da Bahia, industrial com várias fábricas da Coca-Cola, imenso plantador de cacau, criador de gado da melhor raça, latifundiário de terras que se perdiam no horizonte. Financiou pesadamente todos os partidos, com preferência pela Arena, PDS e PFL, sem se esquecer de encher os cofres de FHC em 94. Pois meses depois – e com dezenas de deputados e senadores comandados pelo inefável ACM atravessando a rua e invadindo o Palácio do Planalto para pressionar em favor do “doutor Ângelo” e do seu agonizante bancão – o mesmo FHC foi obrigado a decretar o fim do Econômico. Estava podre.

Do “doutor Ângelo” sobrou uma dívida imensa, recordações cinzentas e uma pasta rosa, providencialmente deixada em sua mesa na presidência do Econômico, com a contabilidade paralela onde constavam generosos aportes aos políticos de suas relações, de ACM a FHC, passeando por todo o abecedário.

José Eduardo Andrade Vieira era o quarto dos filhos do velho Avelino, o mais destacado banqueiro paranaense. Dois irmãos morreram no mesmo acidente aéreo. O terceiro, de enfarte fulminante. Sobrou ele, a quem não estava destinada a tarefa de comandar o império iniciado pelo pai. Como o J. Pinto Fernandes, do poema do mestre Drummond, “Zé do Banco” não tinha entrado na história, mas com o Bamerindus ficou.

Com muito trabalho e muita simpatia o patriarca havia feito de um tamborete (o Banco Mercantil e Agrícola do Norte do Paraná) nascido em Tomazina, uma pobre cidadezinha, o portentoso Bamerindus, um dos maiores bancos do Brasil nas décadas de 50, 60, 70, 80 até sua quebra na metade dos anos 90. Zé Eduardo até que se saiu bem. Liberal, generoso, recrutou executivos respeitados no mercado, jamais teve seu nome envolvido em negociatas ou corrupção, investiu no marketing e fez de seu Bamerindus uma marca moderna, simpática. Surpreendeu os que dele pouco esperavam. Mas se meteu na maldita da política, comprou um partido, o PTB, comprou um mandato de senador pelo Paraná, virou ministro de Itamar Franco, financiou pesadamente FHC (que fez sua campanha nos jatinhos do banco), virou ministro do governo do tucano e quebrou bonito.

De uma casa bancária, o extinto Banco Nacional, Paulo Henrique Cardoso sacou a herdeira, Ana Lúcia Magalhães Pinto, com quem manteve casamento de 17 anos, do qual nasceram filhas gêmeas. Viajavam Brasil e mundo afora num jatinho da Líder mantido à disposição, mantendo imensa distância de qualquer coisa que lembrasse trabalho. Os cunhados pagavam as contas e ajudaram o pai do cunhado diletante a eleger-se presidente, sendo um de seus maiores doadores. Até que em 1994, com milhares de empréstimos a clientes fictícios gerados pelo contador Clarimundo Sant’Anna na tentativa de salvar a casa já em escombros, o Banco Nacional já dava mostras de sua precariedade.

No réveillon de 1994, véspera de assumir o Palácio do Planalto, o recém-eleito presidente aparece ao lado de Marcos Magalhães Pinto, presidente do Nacional e irmão de sua nora Ana Lúcia, risonhos numa opípara festança de réveillon da família. Eles, os discretos banqueiros de Minas Gerais, já viviam o outono de uma antiga opulência. Em 1995, ainda no primeiro mandato de FHC, o Banco Central decreta a liquidação do Nacional (o Unibanco, hoje Itaú, pegou o filé da massa falida, deixando a “banda podre” para o contribuinte). Nem o futuro das netas, nem o farto dinheiro recebido pelo PSDB na campanha, conseguiram impedir a ação saneadora do Banco Central. Contrafeito, a FHC só restou assinar a sentença de morte.

Dois meses depois, PHC deixa Ana Lúcia e suas gêmeas e se instala num hotel da grã-finíssima Avenida Vieira Souto, de frente para o mar de Ipanema. O rombo bilionário, que extinguiu o Banco Nacional – do qual a mulher de PHC era herdeira e acionista igualzinho a “educadora” Neca Setúbal – é tido como a maior fraude financeira da história do Brasil, pois, ao que se sabe, atingiu quase um terço do dinheiro circulante. Sejamos mais didáticos: o rombo deixado pelos então parentes de FHC equivalia a mais de R$ 3,00 de cada R$ 10,00 em circulação no país!

Vamos passear de novo pelo mundo.

Nélson Mezerhane é um judeu venezuelano, elegante e simpático. Homem de coragem, financiou a oposição e resolveu enfrentar o regime do coronel Hugo Chávez. Seu Banco Federal não era o maior da Venezuela, mas estava entre os melhores, com centenas de milhares de clientes e uma rede de agências espalhadas por todo o país, investimentos em outras empresas e boa fama no mercado. A colônia judaica local não entendeu o que achou ser “loucura” do seu mais destacado integrante e benfeitor. O problema é que a carta-patente, aquela autorização de funcionamento de uma instituição financeira, é dada pelo Banco Central, a autoridade monetária do país. Preciso contar o resto da história? Mezerhane teve sorte. Sorte e um jatinho. Está em Miami, sem banco, porém livre de uma série de “boletos de captura”, as temidas ordens de prisão.

Outros banqueiros já se envolveram na política e são testemunhos do que, sempre e inevitavelmente, acontece aos que confundem o ronco da história com o tilintar das moedas. Quando financiam candidatos, pagam contas de campanha, participam diretamente do movimento eleitoral, é sinal de que estão com algum grave problema, algo muito sério a ser escondido. Quando se imiscuem na vida pública e no processo eleitoral o fazem em busca de proteção política e salvação imediata. Ou são autores de rombos colossais ainda não revelados ao “mercado” ou pressentem o estouro próximo da boiada, por conta de multas, sonegações, contabilidades paralelas, perdas maquiadas em balanços fictícios, negócios mal feitos, fusões ou incorporações que não geraram o ganho de competitividade e de caixa esperados.

O espanhol Mário Conde, do Banesto (Banco Español de Crédito), era locomotiva da alta sociedade madrilena e banqueiro da família real. Na lista dos 10 homens mais elegantes da Espanha, dos 10 homens mais admirados da Espanha, dos 10 homens mais respeitados da Espanha, dos 10 homens mais influentes da Espanha, dos 10 maiores filantropos da Espanha, dos 10 maiores mecenas da Espanha, dos 10 maiores financiadores de partidos e políticos da Espanha. E o seu banco, um dos 10 maiores da Espanha, não tinha caixa 2, mas tantas contabilidades paralelas a esconderem sua situação pré-falimentar, que passavam das 10. Quebrado em 1993, preso e condenado, pegou 10 anos de cadeia.

Mas, também, há banqueiro que fica bem na história.

O embaixador Walther Moreira Salles foi um dos grandes brasileiros do seu tempo. Iniciador de grandes negócios, visionário, serviu aos governos de Getúlio, JK e Jango. Foi ministro da Fazenda, duas vezes embaixador em Washington, negociador de nossa dívida externa (na melhor das negociações que já fizemos). Angariou imenso prestígio e multiplicou a fortuna iniciada pelo pai no sul de Minas Gerais, na cidade de Poços de Caldas, com um armazém de secos e molhados. Mas nunca foi político, tendo até rechaçado um convite de JK para ser o candidato do PSD ao governo de seu Estado. Apesar disso, atuou com desenvoltura nos bastidores do poder, sem jamais tornar-se um operador político ou o impulsionador de candidaturas ou candidatos.

O ditador Costa e Silva lhe devotava verdadeiro horror. O motivo era prosaico: levou um chá-de-cadeira de Jânio Quadros (a quem mandou cassar em 64 para depois assumir a autoria da violência às gargalhadas) e, incomodado, viu que era Moreira Salles quem saia da sala do então presidente eleito. Em 68, com o AI-5, resolveu cassar o elegantíssimo e educadíssimo banqueiro. Delfim Netto, consultado acerca da estultice já transformada em ato prestes a ser assinado, fez o chefe mudar de idéia: “Tudo bem, presidente. Mas o Walther tem mais crédito que o Brasil”.

Olavo Setúbal, um engenheiro cartesiano e formal, conhecido pela aplicação nos negócios e pela inegável inteligência, construiu um império baseado no trabalho e em golpes da boa sorte. Herdou do tio um banco sem maior expressão, o Federal de Crédito, e o fez crescer à custa de fusões e incorporações, dezenas delas, particularmente ao longo das décadas de 50, 60 e 70. Com o regime militar seus negócios floresceram. Contou com o apoio da ditadura para assumir outro grande banco, o Banco União Comercial (BUC), de propriedade da família do milionário Soares Sampaio, à beira da quebra por conta de uma desastrada gestão de Roberto Campos, seu presidente e verdadeiro mito do liberalismo econômico brasileiro. O genro de Soares Sampaio, o industrial Paulo Geyer, não aceitou as condições de-pai-para-filho com que o Banco Central doava o BUC a Setúbal, e resolver não assinar a transferência de suas ações. “Perguntem ao Geyer se ele vai assinar logo ou se eu vou precisar mandar dois sargentos irem buscá-lo em casa?”, foi a reação do general Ernesto Geisel.

Além do BUC, a ditadura presenteou Setúbal com a prefeitura de São Paulo, onde ele se saiu bem. Deu conta do recado e protagonizou um episódio decente: recusou-se a demitir o secretário de Cultura, o respeitado dramaturgo Sábato Magaldi, apontado como “comunista” pelo execrável general Silvio Frota, um monstrengo da linha mais que dura.

Picado pela mosca azul, “Olavão” foi preterido pelos milicos na sucessão de Paulo Egydio ao governo de São Paulo e se preparou para disputar o Palácio dos Bandeirantes pelo PFL em 1986. Na convenção do partido, um grupo de malandros tirou o tapete do dono do Itaú e impediu sua candidatura, substituída pela de Paulo Maluf. Desiludido, Olavo nunca mais confundiu as urnas eleitorais com os caixas do Itaú.

Recordo essas histórias, ao alcance de qualquer um, para declarar meu espanto com a participação ativa e exótica de bancos e banqueiros – a começar pelo Itaú de Roberto Setúbal e Pedro Moreira Salles – no financiamento e sustentação da candidatura de Marina Silva à presidência da República. Custo a crer que essa aventura surpreendente, atentatória aos bons manejos bancários, às boas práticas empresariais, seja um biombo desesperado para evitar o pagamento de multa no valor impressionante de R$ 18 bilhões e 700 milhões devidos à Receita Federal em impostos não recolhidos na fusão Itaú-Unibanco. Mas, também, não creio que tais banqueiros sejam ingênuos, inocentes ou desavisados. Creio que a arrogância e o desespero, quem sabe, formaram um caldo de cultura que os fará se arrepender mais cedo que tarde da aventura em que se meteram, fazendo de uma despreparada evidente uma candidata com um Itaú de vantagens para eles, os banqueiros, e de desvantagens, para o país.

A ingerência de um colosso bancário na vida pública do país protagonizou até uma festa-fraude. A dos 90 anos de fundação do Itaú-Unibanco. Ora, quem completaria 90 anos não existe mais, o banco dos Moreira Salles. O Itaú foi fundado em 1945, com outro nome, e veio crescendo como já se relatou aqui. Mas esse pretexto serviu para colocar centenas de alegres convivas do society paulistano, gente do mercado financeiro e alguns empresários ligados à oposição num regabofe onde o presidente executivo do Itaú fez um pavoroso discurso político-eleitoral, atacando o governo e deixando claro o seu apoio à mutante candidata acreana, claramente desqualificada para a missão de comandar um país como o Brasil. Da dívida bilionária, não se falou nada. Sem trocadilho, necas.

Não é preciso ser futurólogo. O suave embaixador Walther e o objetivo Olavo não ousaram tanto e, no entanto, não saíram incólumes.

95 empresas financiaram a ditadura

Ronaldo
Ronaldo

 

Em reunião do grupo de trabalho “Ditadura e repressão aos trabalhadores e ao movimento sindical” com pesquisadores sobre o envolvimento do empresariado brasileiro com o regime militar, neste sábado 15, a advogada Rosa Cardoso, membro da CNV, afirmou que o apoio dado por grupos do setor privado ao golpe deve se fazer conhecido.

“Devemos fazer uma responsabilização institucional em relação às empresas que apoiaram a ditadura. Assim, conseguimos mostrar que tratou-se de um golpe civil militar e não apenas militar, uma vez que foi construído por toda uma classe empresarial”, disse Rosa sobre o apoio também de grupos multinacionais que se viam em situação de risco nos governos que antecederam o regime militar, como o de João Goulart.

A advogada de presos políticos na ditadura lembrou que, antes mesmo do golpe contra Jango, foram criados os Ipes (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) e o Ibad (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), que apoiavam partidos e parlamentares de direita com dinheiro do empresariado e da própria CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos), ajudando a criar todo um aparato para o golpe. “Havia Ipes não apenas nas principais capitais, mas também em lugares mais afastados, como Manaus”, disse. “E não apenas os Ipes, mas também grupos que não tinham paciência para ser tão militante, como o de antigos membros da Revolução Constitucionalista (movimento paulista de 1932 contra Getúlio Vargas) e os banqueiros.” [Recentemente Olavo Setubal, dono do banco Itaú, foi lembrado em um escracho].

Na época, afirmou o pesquisador Jorge José de Melo, o empresariado paulista denominava 40% do PIB brasileiro.
“Colaborar com esse tipo de estrutura do regime era ter acesso livre aos recursos públicos”, explicou o jornalista que analisou a trajetória de Henning Albert Boilesen, presidente da Ultragaz e colaborador do regime, que acabou assassinado por um comando da ALN (Ação Libertadora Nacional) e do MRT (Movimento Revolucionário Tiradentes) em 1971. “Alguns colaboraram ideologicamente, como Boilesen e Gastão Bueno Vidigal, do Banco Mercantil, mas outros colaboravam para ter acesso mais fácil aos recursos.”

Assim, o golpe de 1964 contou com a ajuda da elite burguesa preocupada em proteger o capital. Para executar o programa de propaganda, contou a jornalista Denise Assis, foi montado um esquema de doações, constituído por 125 pessoas físicas e 95 jurídicas – destas, cinco (Listas Telefônicas Brasileiras, Light, Cruzeiro do Sul, Refinaria e Exploração de Petróleo União e Icomi) arcavam com mais de 70% das contribuições. O dinheiro arrecadado seguia, então, para as agências de propaganda como: Promotion S.A, Denisson Propaganda, Gallas Propaganda, Norton Propaganda e Multi Propaganda.

Empreiteiras. Dentre os setores que contribuíram e se beneficiaram do regime militar, um de grande destaque foi o de construção civil. Segundo Pedro Henrique Pedreira Campos, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) que pesquisou como as empreiteiras apoiaram a ditadura, “empresários que atuam no setor de obras públicas e infraestrutura deram grande salto nessa época”. “Tornaram-se grandes grupos, inclusive com atuação internacional. Em troca, foram altamente favorecidos pelas políticas de Estado implantadas naqueles período. Houve, então, uma concentração no setor na área de construção pesada.”

Muitas vezes, mais do que a colaboração financeira com o regime, as empresas forneciam também apoio logístico à repressão. Além da perseguição a trabalhadores, com as chamadas “listas negras” daqueles que não deveriam ser mais contratados, houve quem cedesse acessórios – como tampões de proteção acústica da General Motors para funcionários do DOI-Codi em São Paulo – ou disponibilizasse instalações para serem transformadas em centros de tortura, como acusam a Petrobras de fazê-lo.

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A LISTA DAS EMPRESAS GOLPISTAS

Mais de 80 empresas estão envolvidas em espionagem e delação de quase 300 funcionários, segundo levantamento feito pela Comissão Nacional da Verdade. O intuito era sufocar qualquer movimento sindicalista que estivesse sendo gestado entre os trabalhadores de grandes montadoras, como Volkswagen, Chrysler, Ford, General Motors, Toyota, Scania, Rolls-Royce, Mercedes Benz, e também de outros setores, como a Brastemp, a estatal Telesp, a Kodak, a Caterpillar, a Johnson & Johnson, a Petrobras, a Embraer e a Monark – todas elas concentradas no ABCD paulista e no Vale do Paraíba.

As empresas justificavam o controle e a colaboração com o regime pela suposta ameaça comunista dos movimentos sindicais. Desde citar os nomes de quem organizasse atos sindicalistas ou vendesse jornais na porta da fábrica, até qualificar algumas mortes como acidentes de trabalho quando de fato não o eram. A polícia, em muitos casos, chegava a receber das companhias milhares de folhas de registros dos empregados que estiveram presentes em greves ou manifestações, com todos os seus dados pessoais, o que poderia levar hoje a processos civis desses funcionários (dos que ainda estão vivos ou de seus familiares) contra as empresas. Não se sabe, porém, se esses dados serviam para evitar futuras contratações por outras empresas ou simplesmente para coleta. Segundo os especialistas, é bastante provável que tenham que ressarcir os afetados, já que não estão amparadas pela lei de Anistia (n.6.683, 1979), que perdoou aqueles que cometeram crimes durante o regime militar no Brasil (1964-1985).

“Os empresários podem ser acusados por crimes de lesa humanidade; 40% dos mortos e desaparecidos durante a ditadura são trabalhadores”, afirma Sebastião Neto, ex-preso político e um dos pesquisadores do grupo de trabalho “Ditadura e repressão aos trabalhadores e ao movimento sindical”, da Comissão Nacional da Verdade. Ainda não se sabe quais deles foram efetivamente detidos por causa da denúncia do empregador. Entre os que chegaram a ser torturados e mortos, também não se sabe ao certo se sofreram tudo isso pela investigação no local de trabalho ou por sua relação com organizações políticas.

O Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Dops) em São Paulo tinha uma lista com nome e endereços de centenas de trabalhadores de várias fábricas do ABC (Brastemp, Chrysler, Corona, Equipamentos Villares, Ford, Forjaria São Bernardo, Mercedes-Benz, Rolls-Royce, Scania, Volkswagen, entre outros). Também haveria um informante entre os que discutiam a greve da Scania em São Bernardo, em maio de 1978, tida como marco da retomada do movimento sindical, ainda no final da ditadura.

 Saad Murtadha
Saad Murtadha

A LISTA DA MORTE

Na semana passada, a agência Reuters divulgou informações sobre monitoramento da Volkswagen, durante a ditadura, em relação ao então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República, e outros dirigentes. “Talvez a Volks tivesse mais expertise”, comentou Neto, que se preocupou em não enfatizar a ação de uma empresa. “O que nós mostramos é um mecanismo contínuo de repressão, o controle no dia a dia dos trabalhadores”, explica. Segundo ele, havia “naturalidade” na relação entre empresas e polícia política.

Os exemplos são vários. “Em Criciúma, você tem um episódio que o empresário conferia a lista dos presos”, diz Neto, citando ainda o caso de uma mineradora (Morro Velho), em Nova Lima (MG) com um grupo de 51 operários “que ficaram impedidos de viver na cidade” – haveria um acordo para não empregá-los em nenhum lugar. Isso ocorreu ainda em período anterior à ditadura. Ainda em Minas, outro caso de destaque é o chamado “massacre de Ipatinga”, na Usiminas, com 13 mortos reconhecidos.

Depois do golpe de 1964, há a suspeita, no grupo de trabalho, de que as estatais foram uma espécie de “laboratório” da repressão. Apenas na Petrobras foram mais de 500 demissões nos seis meses seguintes à queda de João Goulart.

Rosa Cardoso destaca ainda a importância de se conhecer casos de empresas que cresceram durante a ditadura, citando as construtoras Odebrecht e Camargo Corrêa. “Mas também a Globo, empresa de comunicação. A Varig, por exemplo, que tomou o lugar da Panair, numa falência absolutamente fraudulenta que lhe foi imposta.”

Neto lembra que alguns problemas são atuais. “Hoje, o movimento sindical é muito criminalizado nas greves”, afirma, citando a existência de recursos jurídicos como o interdito proibitório. Ou o que ele chama de “uma espécie de naturalidade de a empresa ligar para a polícia para resolver uma contenda trabalhista“.

 

banqueiros movimento greve manifestante indignados banqueiros

Latuff
Latuff

marina tortura

Candidata do Clube Militar
Candidata do Clube Militar

Que a passeata do retorno da ditadura lembre as torturas e mortes dos presos políticos

Ares
Ares

Vai ter marcha soldado amanhã, porque existe democracia no Brasil, depois de 21 anos de ditadura militar.

Marcha soldado,
cabeça de papel.
Quem não marchar direito,
vai preso pro quartel.

No Brasil do golpe de 64 era assim: quem não pensasse direito ia preso por quartel. Pensar direito era não ter direito de expressão, não pensar diferente, ter cabeça de camarão.

Devemos fazer passeatas sim, no dia 31 de março, pela paz, pelo civismo, pelo brasilidade, pelo patriotismo, pelo nacionalismo, pela fraternidade, pela igualdade, pela liberdade, pela democracia.

E gritar bem alto:
Tortura nunca mais!
Ditadura nunca mais!

O “Essencial”no Diário do Centro do Mundo:

Coronel admite ter sumido com corpo de Rubens Paiva e descreve as torturas em outros presos políticos

Em depoimento à Comissão Estadual da Verdade, o coronel reformado Paulo Malhães, de 76 anos, um dos mais atuantes agentes do Centro de Informações do Exército (CIE) na ditadura, confirmou ter desenterrado e sumido com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, morto sob torturas em janeiro de 1971, e explicou como a repressão fazia para apagar os vestígios de suas vítimas.

Para evitar o risco de identificação, as arcadas dentárias e os dedos das mãos eram retirados. Em seguida, o corpo era embalado em saco impermeável e jogado no rio, com pedras de peso calculado para evitar que descesse ao fundo ou flutuasse. Além disso, o ventre da vítima era cortado para impedir que o corpo inchasse e emergisse. À Comissão da Verdade, contou que o destino do ex-deputado foi o mesmo rio da Região Serrana onde foram jogados outros desaparecidos políticos:

“Rubens Paiva, calculo, morreu por erro. Os caras exageravam naquilo que faziam, sem necessidade. Ficavam satisfeitos e sorridentes ao tirar sangue e dar porrada. Isso aconteceu com Rubens Paiva. Deram tanta porrada nele que, quando foram ver, já estava morto. Ai ficou o abacaxi, o que fazer? Se faz o que com o morto? Se enterra e se conta este negócio do sequestro”, disse.

España. Miles de personas exigen justicia contra la estafa hipotecaria

Manifestación de la PAH

Cabecera de la protesta de este sábado en Madrid convocada por la PAH contra la “impunidad financiera” y la “estafa hipotecaria”. (Víctor Lerena / EFE)
  • La protesta contra la “impunidad financiera” recorrió las calles de Madrid.
  • Pidieron que se castigue a los “responsables de la estafa hipotecaria”.
  • Solicitaron que los bancos “respondan ante los tribunales”.
  • La manifestación partió de la sede de la Asociación Española de la Banca y finalizó en los alrededores de la Audiencia Nacional.

“Paralización total de los desahucios. No a la ley hipotecaria”, “Que se sepa. Este banco engaña, estafa y echa a la gente a su casa“, “No al fraude hipotecario” o “Unos palacios, otros desahucios”, apuntaban otras pancartas.

En el punto de partida se ha leído un manifiesto en el que se protestaba por los “propietarios de las entidades financieras, que han tomado constantes decisiones” desde el estallido de la crisis “con el objetivo de incrementar su capital y enriquecerse aún más a costa de los derechos fundamentales de las grandes mayorías sociales”.

“Centenares de miles de viviendas están siendo acumuladas por las entidades financieras en clamorosa comisión del delito consistente en acaparar un bien de primera necesidad con la finalidad de alterar artificialmente el precio de las cosas”, apostillaba en el comunicado Luchano Chamarro, uno de los afectados.

También , María Jesús, otras de las afectadas, protestaba durante la manifestación por que no se haya tenido en cuenta la iniciativa que presentaron en el Congreso sobre los desahucios: “Nos la han tirado a la basura, han aprobado una ley, que no tiene nada que ver con la que hemos presentado”.

“Por eso, pedimos justicia y castigo a los que nos han traído a esta situación, que tienen nombre y apellido, banqueros y políticos“, ha añadido.

Pablo, otro miembro de la plataforma de afectados por la hipoteca, convocante de la manifestación con Stop Desahucios, acusaba a “banqueros, a toda la gente que controla el poder financiero, de la bolsa”, de ser los verdaderos “escracher.

Una acusación que han reiterado los manifestantes en la protesta en varias ocasiones, como en el Ayuntamiento de Madrid y en la sede del Banco de España.

El color de la marcha lo pusieron unos novios con los que se toparon los manifestantes en la Puerta de Alcalá, donde se hacían fotos tras su boda y que escucharon mientras posaban: “¡Tened cuidado con la hipoteca!”.

 

Escraches a la inglesa: ¿Quién quiere desahuciar a un millonario?

 

Pablo Plaza, en InfoLibre 
Foto: UK Uncut protesta por los recortes frente al Parlamento británico. (Ian Parker)

“¿Algún millonario causante de miseria vive en tu ciudad? ¿Algún artífice de la austeridad reside en tu vecindario? ¿Quién está presionando y beneficiándose de los recortes? Llego el momento de desahuciarlo”. Era la invitación de un grupo de activistas británicos, en su página web, a hacer escrache al ministro y el secretario de Estado de Trabajo y Pensiones del Gobierno, dos de los 18 ministros ricos que forman parte del Gabinete (29 miembros en total). “Nos dijeron que el único camino para reducir el déficit era recortar en los servicios públicos. Que no había alternativa y que estábamos en esto juntos. Sin embargo, no es el caso. Mienten. Los recortes se basan en la ideología, no en la necesidad”, aseguran.

Rechazaban así una de las medidas adoptadas en el controvertido plan de recortes a las prestaciones sociales llevado a cabo por el Gobierno conservador de David Cameron: el “impuesto dormitorio”, que gravará con 17 euros a la semana a 670.000 familias que tienen una habitación vacía en sus viviendas sociales. Lo que, se espera, provocará que 5.000 familias pierdan sus hogares. “No vamos a tolerarlo. Es la hora de la desobediencia civil por todo el país. La gente está cabreada, encolerizada, con estos detestables recortes. Vamos a levantarnos.”

El 27 de octubre de 2010, una semana después de que el ministro de Hacienda del Reino Unido anunciase los recortes más profundos en los servicios públicos desde 1920, cerca de 70 personas corrieron a lo largo de Oxford Street (la calle comercial por excelencia de Londres), entraron en la tienda insignia de Vodafone, se sentaron dentro y consiguieron cerrarla. Según publicada el diario The Guardian, entre otros, el gigante rojo de las telecomunicaciones evadía impuestos (más de 7 mil millones de euros).

La noche anterior a la protesta, fruto de la frustración y el descontento con el draconiano plan de austeridad, un hashtag comenzó a replicarse por Twitter hasta convertirse en trending topic#ukuncut. La gente hablaba de la acción en la tienda de móviles. Estaban furiosos con los recortes, pero habían encontrado una válvula de escape que comenzaba a bullir. La idea se hizo viral. Tres días después, 30 tiendas de Vodafone distribuidas por todo el país se vieron obligadas a cerrar tras acciones similares.

Había nacido UK Uncut. Un movimiento de base que lleva a cabo acciones para resaltar las alternativas a las políticas de recorte del gasto del Gobierno tory. Para ellos, sí que hay alternativas, pero el Gobierno las ignora. Una de ellas es tomar medidas drásticas contra la evasión legal de impuestos de las corporaciones y los ricos que, se estima, cuesta al Estado 112 mil millones de euros. Otra es hacer que los bancos paguen por el subsidio implícito que le proveen los contribuyentes, es decir, que los bancos no puedan afrontar riesgos altos en base a sus expectativas, conseguir grandes beneficios y, finalmente, tras ser rescatados por el Gobierno, mantener esas ganancias y llevarse la subvención. Un alto ejecutivo del Banco de Inglaterra cifró el costo de este subsidio en 118 mil millones de euros al año.

Tanto la evasión fiscal de un solo año, como el continuo subsidio que pagan los ciudadanos a través de los impuestos a la industria bancaria, podrían pagar los 96 mil millones de euros que suponen cuatro años de recortes.

Dicen que estas “reformas” desmantelarán el estado del bienestar y que la desigualdad se disparará y golpeará fuertemente a los más pobres y vulnerables. Bibliotecas, asistencia médica, educación, voluntariado, deportes, medio ambiente, discapacitados, los más pobres y los jubilados serán quienes paguen el precio por las temeridades de los ricos. “Si los que han causado la crisis pagasen los mismos impuestos que tú y que yo, no tendríamos déficit. Los hechos hablan por sí solos.”, concluían en una entrada publicada en su blog.

Consideran que están sufriendo un experimento económico que no es que no sea necesario, sino que probablemente hará la recesión peor. Se refieren, como ya señalaron otras personas antes, a La doctrina del shock: en tiempos de crisis económica, la gente se aterroriza y acepta cualquier cosa, políticas que normalmente nunca aceptarían, por grande que sea, para solucionarlo.

UK Uncut surgió para luchar contra todo eso. No dudan en escracharsolo a miembros del Gobierno, también a multinacionales como Starbucks o Vodafone, bancos como Lloyd/Halifax, HSBC, Barclays o RBS, cadenas de supermercados como Tesco, la farmaceútica Boots o el magnate del textil sir Philip Green. Todo aquel que elude sus obligaciones impositivas con el fisco es escrachado. Una denuncia pública a la que se han sumado numerosos apoyos por parte de diferentes organizaciones sociales (Tax Justice Network, War on Want, People and Planet, etc), un ex-parlamentario laborista, el Green Party, el diario The Guardian y varios periodistas.

Pero los movimientos sociales reivindicativos suelen necesitar de un órgano representativo en las instituciones para poder ejercer como grupo de presión y lograr así alcanzar las propuestas que defienden en las calles. Alguien que emprenda acciones legales en los tribunales. En este caso, la campaña de UK Uncut derivó, y se complementó, con la creación de UK Uncut Legal Action. Las protestas y denuncias públicas, ahora, también acabarían en los juzgados. Sin ir más lejos, en su primer proyecto han adoptado medidas legales (junto a una firma de abogados) contra el Gobierno por el dudoso trato fiscal brindado a Goldman Sachs,a quien hizo “un inusual y generoso regalo de Navidad”: perdonarle once millones de euros que adeudaba. El 2 de mayo se verán en los tribunales. Por el momento, han recaudado más de 20.000 euros en donaciones; y esperan llegar hasta los 24.000.

UK Uncut tan solo espera ser una pequeña parte de un movimiento mucho mayor. Están en unas 60 ciudades, y siguen creciendo. Desde pensionistas hasta adolescentes, de veteranos a novatos. Mucha es la gente que se ha unido ya a alguna de las protestas convocadas.Cualquier persona puede proponer un objetivo al que denunciar, y todo aquel que esté de acuerdo con la protesta es libre de sumarse a la convocatoria y acudir al escrache.

Quieren desenterrar la idea de que la sociedad es apática, que la masa no se moviliza. Demostrar que la ciudadanía puede hacer algo más que unirse a un grupo de Facebook para ponerse en pie y defender activamente aquello en lo que creen. “Pero, a menos que tomemos parte de ello, que lo hagan nuestros amigos, familiares y conocidos, se habrán salido con la suya. Sí hay alternativas y no estamos en esto juntos”. Es por lo que luchan.

“Si no hay justicia, hay escrache”

por Martín Cúneo (Periódico Diagonal)

Escacharre-y-Escrache

Los responsables de los crímenes de la dictadura argentina y de la gran crisis económica de 2001 empezaron a tener miedo: se había inventado el escrache. Ahora que el movimiento de afectados por la hipoteca ha advertido que utilizará esta herramienta si no se aprueba la Iniciativa Popular Legislativa tal como ha sido propuesta resulta útil repasar el origen de esta ruidosa estrategia.

Las leyes de amnistía y los indultos habían dejado en la calle a los responsables de la desaparición de 30.000 personas, de la tortura de otros miles de supervivientes y el secuestro de cientos de menores. La apertura de juicios en el exterior había provocado una situación al menos curiosa: en la segunda mitad de los ’90 el único sitio donde los criminales de la última dictadura argentina podían sentirse seguros era en Argentina.

Junto con el corte de ruta, esos años dieron a luz una nueva forma de protesta, esta vez procedente de una nueva generación del movimiento de derechos humanos, los hijos de los desaparecidos. En 1995, una superviviente de la Escuela Mecánica de la Armada (ESMA) acudió a una consulta médica en el Sanatorio Mitre, en el barrio Once de la capital. Descubrió que entre los trabajadores del hospital figuraba un médico llamado Jorge Magnaco. Nadie, ni en el hospital donde trabajaba ni en el bar donde tomaba café ni en la tienda del barrio donde compraba, sospechaba que ese hombre maduro, calvo y de barba blanca recortada había sido el encargado de los partos en el centro de exterminio de la ESMA.

Durante cuatro viernes seguidos, la organización HIJOS marchó desde el sanatorio hasta la casa del médico. Pegaron carteles con su cara y sus crímenes. Repartieron panfletos contando quién era su compañero de trabajo, quién era su vecino. Había nacido el ‘escrache’, una modalidad de lucha que se generalizó contra todos los represores que conseguían localizar y confirmar su identidad. “Ante la ausencia de justicia hagamos que el país sea su cárcel”, se convirtió en el lema de la estrategia impulsada por HIJOS y coordinada con las organizaciones populares de cada ciudad y cada barrio. En el caso de Magnaco, los resultados fueron inmediatos: fue despedido de su trabajo y en una reunión de la comunidad de su edificio le pidieron que se marchara.

“Si no hay Justicia, hay escrache”, era la advertencia. Con pintadas, retratos fotocopiados, teatro callejero, pintura roja, huevos, reparto de ‘volantes’ a los vecinos, incluso casa por casa, los activistas de HIJOS consiguieron que, a falta de una condena judicial, los criminales reciban, al menos, una condena social.

Una herramienta útil

Cuando la crisis económica argentina estalló en diciembre de 2001, el escrache trascendió el ámbito de los derechos humanos. Con el Corralito, se generalizó para localizar, señalar a los responsables de la ruina del país y de millones de argentinos tras una década de corrupción descarada y políticas neoliberales. Pocos políticos, jueces y grandes empresarios argentinos de la época pueden afirmar, sin faltar a la verdad, que nunca fueron escracheados.

“Nuestros escraches son producto de un trabajo, de una reconstrucción social y de la necesidad de contar otra historia”, decía Florencia Gemetro, activista de HIJOS, a Página12. “Otra cosa es esta expresión de la impotencia multidirigida, en la que cualquiera puede ser escrachado. Cuando se le grita a un político en la calle, esos gritos no provienen de un modo de entender la justicia. Si el sentido del escrache no es conseguir justicia popular, corre el peligro de desvanecerse en el vaciamiento político: no queda nada después, porque no hubo toma de conciencia ni organización”, agrega.

ESCRACHES EN OTROS PAÍSES

escrache

Chile

La modalidad del escrache no tardó en extenderse a otros países con las mismas situaciones de impunidad. En Chile fueron las ‘funas’, auténticos trabajos de investigación, como el que llevó hasta el asesino de Victor Jara, que trabajaba en un Ministerio de Santiago de Chile.

Ecuador

En abril de 2005, cientos de personas realizaron un escrache alrededor de la casa familiar del presidente Lucio Gutiérrez. “Forajidos”, les llamó entonces este excoronel. Una denominación que aceptarían encantados y con la que conseguirían destituirle pocos días después.

Táctica y estrategia: una genealogía crítica del escrache

por Luis Martín-Cabrera
Rebelión

Los políticos del PP están en su derecho de rechazar el “escrache” como táctica; tienen a su alcance toda la fuerza de los aparatos represivos del Estado para reprimir y criminalizar esta forma de protesta, poseen el monopolio de la violencia, pero lo que de ninguna manera podemos consentir es que se arroguen también el monopolio de la historia y la cambien a su antojo. Una mentira repetida muchas veces no se convierte en verdad. Mal que les pese a Goebbels y a la Señora de Cospedal, la verdad no se ensaya.

El PP insiste día sí y día no en vincular el escrache con el nazismo y con otras prácticas totalitarias como la lapidación o el terrorismo. La cosa no deja de ser irónica en un partido que tiene como fundador a Manuel Fraga Iribarne, autor de una de las leyes de prensa más represivas de nuestra reciente historia y apologeta inconfeso hasta sus últimos días del régimen franquista. Sí, el mismo régimen que celebraba el cumpleaños de Adolfo Hitler por lo menos hasta la victoria de los aliados en la segunda guerra mundial. La angustia con que los políticos del PP repiten que el escrache es una práctica cercana al nazismo evidencia bien una estructura psicológica perversa –confundir víctimas con victimarios, incapacidad para hacer empatía con el sufrimiento ajeno, etc.—bien una ignorancia supina sobre la historia y la genealogía del escrache como táctica y estrategia de protesta.

Nuestros políticos tienen tal tortícolis de tanto mirar a Europa en general y a Alemania en particular que se les ha olvidado que el “escrache” no vino de Europa, vino de Argentina, un país con el que también tenemos una larga y fecunda historia de encuentros y desencuentros. Por tanto, se puede discutir a fondo la justeza de una táctica como el escrache, lo que no se puede hacer es vincularlo con la Europa de los años treinta ni con las prácticas de los nazis marcando las puertas de los judíos antes del holocausto.

El escrache nace en pleno ajuste neoliberal durante el gobierno de Carlos Saúl Menen. El término escrache proviene del lunfardo, el habla de las clases populares, los inmigrantes y el hampa en la Argentina de los años veinte y treinta. A los políticos del PP les vendría bien leerse alguna de las maravillosas novelas de Roberto Arlt sobre el submundo del lumpen en Argentina para que entendieran que, lejos de tener que ver con el nazismo y el exterminio de los más vulnerables, el lunfardo es la expresión lingüística de los desposeídos porteños, muchos de ellos, por cierto, inmigrantes españoles e italianos que huían de una crisis causada por unas clases dominantes que, como las de ahora, insistían en aplicar un ajuste brutal a la mayoría (cambiamos casas por tierras, y la negativa a hacer una reforma agraria y la situación se parece mucho, con actores y todo incluidos).

En un libro sobre la expropiación de la ESMA (Escuela de Mecánica de la Armada), el campo de concentración más grande que hubo en la Argentina, se puede leer:

“Posiblemente del cruce de dos términos italianos scraccâ [expectorar] y schiacciare [romper, destrozar] el lunfardo construye ‘escrachar’. Algunas de sus acepciones más usuales son: retratar o fotografiar a alguien sin habilidad o contra su voluntad; arrojar una cosa con fuerza, estrellarla contra algo; romperle a alguien la cara; poner a alguien en evidencia; delatar a alguien abierta y públicamente. [1]

Sí, es cierto, hay una cierta violencia en la etimología y la práctica del escrache, pero dos consideraciones son fundamentales para debatir su justeza . En primer lugar, hay que tener en cuenta que se trata de una respuesta a una situación de violencia estructural mucho mayor. En el caso de Argentina son los hijos de los desaparecidos, la organización HIJOS (Hijos contra la impunidad y el olvido) la que utiliza el escrache por primera para señalar a los represores y torturadores que viven con total tranquilidad a la sombra de la impunidad. En el caso de España, que por cierto no es ajena a esta situación de genocidio, se trata de la violencia estructural desatada por una Ley de Ejecución Hipotecaria que produce suicidios, desahucios y tragedias familiares vulnerando el derecho a una vivienda digna, uno de los derechos fundamentales recogidos en la Declaración Universal de los Derechos Humanos.

Por eso, no dejan de ser también perversas las declaraciones de Felipe González mostrando preocupación por los hijos menores de aquellos políticos del PP que son escrachados y nada tienen que ver con las decisiones de sus padres. Comparar la vergüenza que puedan sentir los hijos de un cargo electo del PP con la violencia que sufren los menores que ven cómo sus padres son desahuciados y expulsados de su vivienda por una ley de ejecución hipotecaría que el propio Tribunal de Justicia europeo considera ilegal es simplemente una forma de ceguera perversa y violenta. A los políticos no se les escracha como individuos, sino como representantes públicos y no hay nada malo en que sus familias sepan que sus decisiones afectan de manera dramática a la mayoría de la población. Por lo demás, mejor sentir vergüenza que ser un sinvergüenza, sin vergüenza no hay ética, dice Lacan.

En segundo lugar, y esto es fundamental, el escrache como táctica responde a una situación de impunidad. “Si no hay justicia, hay escrache” reza el lema de la organización HIJOS que precede a todas sus acciones. La agresividad del escrache, sus tácticas de guerrilla urbana, emergen cuando se han agotado todas las vías legales o cuando la ley simplemente consagra una situación de exclusión y violencia insoportables. En el caso de HIJOS el escrache surge tras las leyes de Punto Final, Obediencia Debida y Amnistía de los años noventa que consagran la impunidad de los genocidas en Argentina. Del mismo modo, en España la Plataforma de Afectados por la Hipoteca (PAH) recurre al escrache cuando el gobierno abandona la Iniciativa Legal Popular y ya no quedan más recursos legales con que presionar a los políticos, es una táctica surgida al calor de la impunidad contra la impotencia.

Pero más allá de lo que se piense sobre la agresividad o no del escrache, lo que es fundamental en esta práctica es que contribuye a iluminar algo que la sociedad no veía. El escrache es esa fotografía hecha contra la voluntad de quienes perpetúan una situación de injusticia. Marca, hace visible una herida en la sociedad, escupe una verdad que todo el mundo conocía pero nadie veía, aspira a ser una pedagogía popular. ¿Qué sabríamos hoy de la situación de los afectados por los desahucios si no fuera por la Plataforma de Afectados por la Hipoteca? Si no hay justicia, hay escrache.

Por otro lado, el escrache es una práctica política muy novedosa que inventa un tiempo y un espacio nuevos para la política militante, abre el presente a una lectura diferente de la historia e ilumina posibilidades donde el final de la historia neoliberal sutura y repite que “no hay alternativas”. Los miembros del Colectivo Situaciones, un grupo de teóricos militantes surgido tras la crisis del 2001 en Argentina, afirman:

“Los escraches son, en primer lugar, un llamado a la lucha, una confirmación práctica de que la acción transformadora es ahora o no es. Son lo opuesto a la melancolía del que espera (sentado) un mundo mejor. El escrache nos demuestra que la lucha no depende de un mañana luminoso, de ninguna estrategia legítimamente demostrada, ni de ningún salvador que nos libere. Por eso el escrache funda otra idea del tiempo, diferente a la que nos ofrece el capitalismo […]. Así el escrache funda un presente lleno de potencialidades, decisivo. El escrache es una práctica que no puede esperar ni conformarse. Surge hoy y es para ahora” [2]

Es decir, el escrache no opera en un plano ontológico, sino que es pura inmanencia, aspira a interrumpir la hegemonía del bloque histórico de poder, por eso pone tan nerviosos a los políticos, les pone por primera vez contra las cuerdas, porque les impide protegerse con el sacrosanto derecho a la intimidad y la propiedad privada. El escrache revela que el sistema está atravesado por la violencia y que el monopolio de la violencia que ostentan los políticos no es natural, sino que es el resultado de la dominación capitalista. Por eso, lo que hay que pedirle al escrache no es que sea más o menos agresivo, sino que sea más pedagógico, que involucre a más gente, que sea más creativo, que anude el pasado con el presente, que produzca justicia. Y en esto también tenemos más en común con Argentina que con Alemania, no en vano uno de los escraches más mutitudinarios que hubo en Argentina fue el de Martínez de Hoz, el ministro de economía de Videla que implementó las primeras medidas de liberalización de la economía, el fundamento de las políticas de ajuste neoliberal que continuó Menen en los noventa.

[1] Marcelo Brodsky. Memoria en construcción. El debate sobre la ESMA. Buenos Aires: La Marca, p. 175.

[2] Colectivo Situaciones. Mesa del escrache popular. Buenos Aires: de mano en mano: 2002.