BCE e Alemanha declaram guerra à Grécia

Medida aprovada pela instituição dirigida por Mário Draghi significa o começo da asfixia da economia grega e um golpe de Estado financeiro. Documento do governo alemão exige a capitulação de Atenas e a reversão de todas as medidas já tomadas pelo governo Tsipras. Este afirma que “é óbvio que estas sugestões não serão aceites”.

Draghi mostrou as garras do BCE. Foto de European Parliament
Draghi mostrou as garras do BCE. Foto de European Parliament

Num momento em que decorrem as negociações entre o novo governo grego e a União Europeia, o Banco Central Europeu, dirigido pelo italiano Mário Draghi, tomou na noite desta quarta-feira uma decisão que significa um primeiro passo para a asfixia da economia grega.

Sem qualquer aviso, o conselho de governo do BCE decidiu deixar de aceitar como garantia os títulos da dívida grega nas suas operações de liquidez, argumentando que não é possível assumir que o plano de resgate da Grécia vá terminar com êxito. Isso significa que os bancos gregos passam a não poder usar os títulos como garantia nos seus empréstimos do dia-a-dia.

A decisão deixa apenas um fio de ligação entre o sistema financeiro grego e o europeu: o ELA, o sistema de ajuda de emergência do BCE, que é mais oneroso e que tem um prazo para terminar se não houver acordo: 28 de fevereiro.

Golpe de Estado financeiro

A medida significa uma pressão brutal sobre a Grécia justamente no dia em que o ministro das Finanças grego se encontra como o homólogo alemão, e já está a ser considerada como um golpe de Estado financeiro, desferido por uma instituição não-eleita contra um governo acabado de ser eleito pelo seu povo.

O Ministério das Finanças grego recordou, porém, que o sistema bancário grego “está adequadamente capitalizado e protegido através do acesso à Assistência de Emergência de Liquidez” (o ELA) e que “o BCE está a pôr pressão sobre o Eurogrupo para que se realize um acordo rápido entre a Grécia e seus parceiros”, seguindo a linha de declarações otimistas dadas durante o périplo de Yanis Varoufakis por diversos países europeus.

Mas a medida parece ter sido tomada em sincronia com as pressões que a Alemanha quer pôr sobre a Grécia, no dia em que Varoufakis se reúne com Schauble, o ministro das Finanças germânico.

Um documento a que a Reuters teve acesso mostra que as exigências germânicas à Grécia são nada menos que a capitulação do seu novo governo.

Alemanha quer forçar a capitulação de Tsipras

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O documento exige a manutenção da troika no país (Varoufakis anunciou que não negociaria com ela); o cumprimento de todos os pagamentos ao BCE e ao FMI; a manutenção dos superavits primários de 3% do PIB em 2015 e 4,5% em 2016 (Varoufakis tinha proposto 1%); o despedimento de 150 mil funcionários públicos (o novo governo recontratou aqueles postos em mobilidade); a manutenção do salário mínimo (o governo grego aumentou-o); a continuação das privatizações (Atenas suspendeu-as).

Uma fonte oficial grega ouvida pela Reuters disse que “é óbvio que estas sugestões não serão aceitas pelo governo grego. Eles estão a atacar o recente mandato dado pelo povo grego e isto não vai ajudar à perspetiva de crescimento da Europa”. Esquerda Net

Publicado por

Talis Andrade

Jornalista, professor universitário, poeta (13 livros publicados)

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