Com bombas, tiros e gás, PM de Alckmin tenta conter manifestação na USP

Trabalhadores e estudantes da USP aderiram ao Dia Nacional de Paralisação e Manifestações, convocado por centrais sindicais, e realizaram, na manhã desta sexta-feira (29), uma paralisação do campus. De forma pacífica e organizada, eles não poderiam imaginar o tamanho da repressão policial que estava por vir.

Vários manifestantes ficaram feridos, duas mulheres foram espancadas
Vários manifestantes ficaram feridos, duas mulheres foram espancadas

Ao chegar no lugar a PM promoveu um verdadeiro cenário de guerra. A repressão dura ao ato foi feita com bombas, balas de borracha, gás lacrimogênio e muita pancadaria. De acordo com a nota emitida pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP, dezenas de estudantes e funcionários foram agredidos e muitos ficaram feridos, duas mulheres foram espancadas, levaram socos no rosto, foram jogadas no chão e pisoteadas pelos policiais.

A manifestação foi criminalizada e um estudante do curso de Ciências Sociais foi detido por participar do ato. Ele precisou ser levado ao hospital, já com a cabeça enfaixada, devido aos ferimentos causados pela polícia.

Neste momento a polícia mantém detido um estudante do curso de Ciências Socais da USP, por participar do ato, criminalizando a manifestação. Ele está sendo levado agora do hospital, com a cabeça enfaixada em função dos ferimentos causados pela polícia, para o 34º DP.

Fonte: Portal Vermelho

Legenda do jornal A Tarde, Bahia: "Policial atira com bala de borracha em protesto contra terceirização em SP". E acrescenta: "É absurdo o que fazem com o trabalhador".
Legenda do jornal A Tarde, Bahia: “Policial atira com bala de borracha em protesto contra terceirização em SP”. E acrescenta: “É absurdo o que fazem com o trabalhador”.

Governo Fernando Henrique “não criou” museu, universidade, “e entrou em choque com a maioria dos professores universitários”

educação apatia analfabeto político indignados

 

Escreve o professor Theotonio dos Santos: “Vocês [do PSDB] vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo”.

Segue parte do trecho final da carta aberta a FHC, que Renato Rovai classificou como “uma das manifestações públicas mais demolidoras da nossa história política recente”.

Este é o quarto post que publico da “carta que merece ir para os livros de história”, acrescenta Renato Rovai.

 

 

O capitalismo dependente de São Paulo

 

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Meu Caro Fernando,

 

Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso fazê-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.

(…) Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o vedadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora.

Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.

Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço
Theotonio Dos Santos

 

BIOGRAFIA 

Theotonio_dos_Santos

Born in Carangola, Brazil in 1936. Sociologist, PhD economics, MSc. political science. He has been Professor of the University of Brasilia, UNAM, Northern Illinois, Upstate New York, Catholic of Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bennett Institute of Rio de Janeiro and Minas Gerais Federal.

Currently, he is a Professor of the Fluminense Federal University and coordinator of UNESCO – the United Nations University on Global economy and sustainable development. Its contribution to the formulation of the concept of dependency, the different phases of dependency within the history of globalization and accumulation has been very important.

He has held positions as: Director of the Centre for Socio-economic studies of the University of Chile (CESO); Director in the Division of Post-graduate Economics-UNAM (Mexico); Board of Directors of the postgraduate program in environmental science, UFF, and the Secretary of International Affairs for the Government of Rio de Janeiro.

His works include: (1) Dependency Theory: Balance and Prospects; (2) Forças Produtivas e Relações Produção; (3) Socialism or Fascism: the Latin American Dilemma and the new character of dependence; (4)Imperialism and Dependency and (5) Economia Mundial, Integração Regional e Desenvolvimento Sustentável.

 

En el acto de apertura del VIII Foro de la Asociación Mundial de Economía Política (Florianópolis, 23-26 de mayo de 2013), el científico social brasileño Theotonio dos Santos fue galardonado con el Premio Economista Marxista 2013, que otorga esta entidad desde el año 2011, como reconocimiento a su dilatada producción intelectual que tiene como uno de los ejes la “Teoría de la Dependencia”, habida cuenta de que participó en la sustentación inicial de ella.ALAI

Titulado en economía, sociología y ciencia política, este profesor emérito de la Universidad Federal Fluminense y coordinador de la Cátedra y Red UNESCO-ONU de Economía Global y Desarrollo Sustentable (Reglen) llegó a la Conferencia de la Unión de Naciones Suramericanas sobre “Recursos Naturales para un Desarrollo Integral de la Región” (27-30 de mayo 2013) que tuvo lugar en Caracas, Venezuela (Osvaldo León)

Theotonio dos Santos Júnior (Carangola, 11 de novembro de 1936) é um economista brasileiro. Um dos formuladores da teoria da dependência, atualmente é um dos principais expoentes da teoria do sistema-mundo.

Mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília, doutor em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor emérito da Universidade Federal Fluminense. Coordenador da Cátedra e Rede da UNESCO e da UNU sobre economia global e desenvolvimento sustentável (a REGGEN). Leia mais em Wikipédia 

Entre seus aportes teóricos mais destacados à economia e às ciências sociais estão a contribuição à formulação geral do conceito de dependência, à periodização das diversas fases da dependência na história da acumulação capitalista mundial, à caracterização das estruturas internas dependentes e a definição dos mecanismos reprodutivos da dependência. Tem trabalhado também sobre a teoria dos ciclos, a dinâmica de longo prazo do capitalismo e a teoria do sistema-mundo. Outra contribuição teórica foi a formulação do conceito de “civilização planetária”.

Guerra da maconha. Polícia Federal invade universidade e diz que reitoria não precisa ser avisada. Que esta é a lei do cão chupando manga

“Todas as vezes que a PF tem que agir ela age. Às vezes, informamos a determinados dirigentes por uma questão de deferência (consideração), mas não se trata de uma exigência da lei”, disse o delegado dos delegados da polícia de Dilma em Santa Catarina.

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O Brasil é, realmente, um estado policial. Não precisam os nazistas realizar marchas de retorno do ditadura. O povo, sim.  O povo em geral necessita fazer uma campanha para sair. Acabar com todos as leis em vigor do golpe de 64. E colocar limites na polícia federal e nas polícias e soldados estaduais. Todos prendem e arrebentam.

Publica o jornal Notícias do Dia de Florianópolis: O superintendente em exercício da Policia Federal em Florianópolis, Paulo César Barcellos Cassiano Júnior, 35 anos, disse que os agentes entraram no campus da UFSC para coibir o tráfico e o consumo de drogas. Segundo Paulo César, o pedido da investigação foi feito pela reitoria da universidade no ano passado. No entanto, quando a PF foi ao campus identificar e reprimir o tráfico, ocorreu o confronto com os estudantes.

 

Delegado Paulo Cassiano Jr. esteve no conflito no campus da UFSC. Foto: Marco Santiago
Delegado Paulo Cassiano Jr. esteve no conflito no campus da UFSC. Foto: Marco Santiago

Após a reitora Roselane Neckel repreender a ação policial, o superintendente rebateu: “Não vou permitir que a reitora transforme a universidade em uma república de maconheiros”. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Como o senhor analisa a posição da reitora ao repreender a ação policial no campus da UFSC, no confronto com os estudantes?
Pelo que tenho observado, os estudantes estão pressionando a reitora para que ela atenda aos desejos deles. Isto é uma subversão da ordem porque é a reitora quem deve dar o comando, e não os estudantes. O que nós não permitiremos é que as atribuições da Polícia Federal sejam limitadas, impedidas ou restringidas por parte da reitoria, ainda que ela esteja atendendo anseios dos estudantes.

Havia necessidade de mandado judicial para entrar na UFSC?
Não, não havia.

Por que não era necessário?
Porque o crime (consumo/porte de drogas) estava acontecendo.

A assessoria da reitoria informou que a reitora não foi comunicada da presença da PF no campus. Isto é legal, é ilegal?
A regra da PF é a de não avisar com antecedência a ninguém. Todas as vezes que a PF tem que agir ela age. Às vezes, informamos a determinados dirigentes por uma questão de deferência (consideração), mas não se trata de uma exigência da lei.

A PF foi ao campus para reprimir o tráfico ou para identificar o comércio de drogas?
As duas coisas.

Vocês prenderam estudantes ou traficantes?
As duas coisas. Estudantes que estavam fazendo o uso de entorpecente. Para nós a profissão é irrelevante, o que importa é a conduta.

Há quanto tempo a PF investiga o tráfico de drogas na UFSC?
Neste inquérito policial que está em aberto, desde o ano passado.

A reitora esteve na PF ou vocês foram à UFSC para dar início às investigações?
Ela nos procurou no dia 29 de agosto do ano passado, solicitando providências pelos fatos criminosos que estavam acontecendo lá, relativamente ao tráfico de drogas.

Era tráfico ou somente consumo?
Tráfico.

O senhor falou na entrevista coletiva que a universidade está um antro de prática criminosa. O que o senhor quer dizer com isso?
Somente ontem [terça-feira] tivemos crime de dano, incitação para a prática de crimes, uso de entorpecente, crimes contra a honra e crime de lesão corporal. Todas as vezes que a Polícia Federal se dirige para o campus universitário é desta forma que ela é recebida.

A violência foi por parte de vocês ou dos estudantes?
Nós fomos repelidos pelos estudantes quando tentamos trazer os presos para a superintendência.

Vocês vão instaurar inquérito sobre danos (depredação de viaturas)?
Além do inquérito que já existe para apurar o tráfico de drogas, nós também vamos abrir inquérito para apurar lesões em nossos policiais e para apurar o crime de dano contra o patrimônio público federal.

O senhor vai ouvir a reitora?
Ainda não sabemos. Mas, certamente, assessores ligados a ela e professores que se apresentaram como membros da diretoria da universidade serão ouvidos. Possivelmente a reitora será intimada.

Vocês têm informações que existe tráfico entre professores ou apenas entre alunos?
Não temos informações de envolvimento de professores, mas também não descartamos.

Não seria mais viável reprimir o tráfico na origem, nos traficantes?
Todas as duas frentes de atuação são válidas. Tanto os universitários que praticam crime (consumo de drogas) quanto os traficantes em qualquer lugar onde estejam.

Na sua opinião a reitora não se importa com o tráfico na UFSC, faz vistas grossas?
Acho que ela deve estar preocupada com as aspirações políticas internas, porque é incoerente e irresponsável que ela nos procure para dizer que no ambiente da universidade esteja acontecendo tráfico de drogas e depois emite uma nota de repúdio quando a polícia reprimir estes mesmos crimes lá.

Como o senhor analisa a liberação da maconha no Uruguai?
Não tenho opinião formada.

“Necesitamos hoy, más que nunca, una profunda discusión respecto del país que queremos construir y a partir de aquello cuál es el tipo de Universidad que se pondrá al centro de dicha construcción”

Camila Vallejo, líder estudiantil chilena en un discurso memorable


Camila linda

Debemos romper con aquella burbuja universitaria que instala el individualismo, la competencia y el exitismo personal como patrón de conducta para los estudiantes por sobre ideas y conceptos fundamentales como lo son la solidaridad, la comunidad y la colaboración entre nosotros.
Somos contrarios a la visión de que la Universidad es solo venir, sacarse buenas notas, y abandonar cuanto antes sus aulas para salir pronto a ganar dinero en el mercado laboral, tenemos los ojos lo suficientemente abiertos como para darnos cuenta que afuera hay un mundo entero por conquistar, que este mundo requiere de nuestra entrega, de nuestro esfuerzo y de nuestro sacrificio y que para quienes ya hemos abierto los ojos a las inequidades sociales que asoman por todos los rincones de nuestra ciudad, se nos vuelve imposible volver a cerrar la puerta y hacer como que nada hemos visto o como que nada ha pasado. Nuestro compromiso por la transformación social es irrenunciable.
Porque necesitamos hoy, más que nunca, una profunda discusión respecto del país que queremos construir y a partir de aquello cuál es el tipo de Universidad que se pondrá al centro de dicha construcción.
Porque no creemos en la Universidad como un espacio neutro dentro de la sociedad, la universidad es un agente vivo en su construcción y en el desarrollo del proyecto país que como ciudadanos levantamos día a día. Nuestra responsabilidad está en generar organización al interior de aquella, lo cual nos permita transformar la universidad, para así poder transformar la sociedad.
Nuestro concepto de Universidad nos habla de un espacio abierto, participativo y democrático, con una comunidad universitaria activa, dialogante, una comunidad que se involucra en el diseño y conducción de su casa de estudios.
Nuestra visión es la de una Universidad que se ubique ya no en los primeros rankings de la competencia o el marketing universitario, de los cuales hoy en día mucho se habla, sino que se ubique en el primer lugar de aporte al desarrollo social del país, el primer lugar en el fomento de la equidad en cuanto a la composición social de sus estudiantes, que ocupe el primer lugar en el desarrollo de la ciencia y tecnología al servicio de los intereses de Chile y su pueblo. (Leer más)

A aposta radical das cotas: luta das/os oprimidas/os e ruptura epistemológica e política

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por João Telésforo

Já acumulamos alguns anos de discussão sobre o tema das cotas no Brasil. Dois exemplos famosos: reserva de vagas para negros/as, indígenas, estudantes de baixa renda e egressos/as da escola pública no acesso à universidade; reserva de vagas para mulheres em cargos de representação e direção política.

O debate amadureceu muito (e eu tenho amadurecido com ele), mas ainda me incomoda que as cotas sejam predominantemente defendidas, no senso comum, apenas como políticas compensatórias, e não tanto como aposta de que a inclusão de grupos oprimidos em certas instituições traga o potencial de intensificar o combate às opressões geradas por elas e reproduzidas em seu interior.

Você já está bastante acostumado a ouvir falar no aspecto compensatório das cotas. Exemplo. As estruturas sociais discriminam os/as negros/as e isso prejudica o seu acesso à educação superior. Portanto, ações afirmativas voltadas à inclusão de negros/as na universidade não visam a privilegiá-los/as, mas a corrigir uma barreira ao seu acesso. Isso não atenta contra o “mérito”; pelo contrário, contribui para que a seleção avalie o verdadeiro mérito. Digamos que alguém que enfrentou uma série de barreiras de discriminação racial e de classe ao longo de seu percurso de vida e escolar obtenha a nota 89/100 numa prova de ingresso, e alguém que não as enfrentou, 90/100. Sem nem entrar na questão sobre se a tal prova é mesmo uma boa forma de avaliar… Quem tem mais “mérito”, de acordo com ela? Quem mostrou maior talento, dedicação e capacidade de crescimento? Quem, uma vez que tenha um pouco menos de desigualdade de condições na universidade, tenderá a ter resultados melhores? Eu apostaria todas as minhas fichas na pessoa que obteve o 89.

Isso é fundamental, mas as cotas, a garantia de que pessoas de certos grupos ocupem certas vagas (desde que obtenham certo desempenho básico, em alguns casos), são mais radicais do que isso, em dois aspectos. O primeiro foi explicado pelo Gustavo Capela num texto aqui no blog, faz uns anos: inserir negros/as em posições de poder e prestígio é uma forma de romper com o imaginário social de que seriam incapazes de exercer certas profissões ou posições; de romper simbolicamente, visualmente, com a naturalização de seu lugar político, profissional, acadêmico e espacial subalterno (e a sociedade é feita também, em enorme medida, de construções e disputas simbólicas).

Há um segundo aspecto, no entanto, que parece escapar à maioria das discussões. O movimento negro, por exemplo, tem lutado por espaço em instituições como a universidade para combater o racismo no acesso a ela (de modo que a mobilidade acadêmica e social seja menos determinada por fatores raciais) e no imaginário social que enxerga o/a negro/a como inferior, mas também para combater o racismo na e da universidade em outro aspecto, o do conhecimento, cultura e educação produzidos por ela, tanto em seus conteúdos, como em seus métodos.

A universidade não tem servido, historicamente, à causa das e dos oprimidos: à colaboração com as lutas das classes trabalhadoras, das mulheres, dos/das negros/as e indígenas, dos/das sem-terra e sem-teto… Divulga externamente e para si mesma a imagem de que seria uma instituição “imparcial”, interessada na busca “desinteressada” do conhecimento, mas a verdade é que serve cada vez mais a empresas (privadas ou estatais) que têm interesses muito determinados: ampliar seus lucros, o que está em confronto estrutural com os interesses e anseios dos grupos citados, “minorias” que contemplam amplas maiorias da população. E mais: mesmo quando o/a pesquisador/a não é diretamente constrangido/a no que pode e deve pesquisar pelo estrangulamento de suas fontes financiadoras, o isolamento social da classe dominante na universidade, a reprodução inconsciente do senso comum de certa classe na seleção de temas e perspectivas de pesquisa, tende a produzir efeito semelhante (duas palavras-chave, aqui, são hegemonia e alienação… e quando falo em classe, aqui, leia-se também etnia e gênero dominantes, entre outros aspectos).

Como romper com esse processo de dominação e alienação na e da universidade? A aposta histórica da esquerda, pelo menos desde o século XIX, é que somente os/as oprimidos/as podem ser sujeitos de sua libertação, da superação das opressões. Portanto, se queremos romper com as práticas dominadoras na e da universidade, é fundamental que as/os oprimidas/os ocupem-na e disputem-na a serviço de suas causas libertadoras. Por isso, é fundamental a extensão popular, a produção de conhecimento pela univeridade em co-pesquisa com movimentos populares. Por isso, também, a aposta de que a inclusão direta dos/das oprimidas no espaço universitário, em especial dos/das oprimidos/as organizados como tal, em movimento de superação dessa condição (de “classe em si” a “classe para si”, diria o marxismo), pode ser decisiva.

Eu disse que pode ser, e falei ainda em aposta. Nenhuma certeza ou determinismo, pois. De fato, não há garantia alguma de que os/as negros/as que adentram a universidade, por exemplo, farão esse combate de modo organizado e sistemático. Porém, é mais provável que consigam fazê-lo quando conseguem ao menos presença no espaço, serem partes dele, do que quando não têm sequer esse nível básico de acesso.

Falei ilustrativamente da universidade e das cotas raciais, mas isso também me parece valer para outros tipos de cotas. Em movimentos sociais e partidos políticos, por exemplo, instaurar cotas para mulheres em postos de direção e representação pode servir para romper com a invisibilização de suas capacidades e a naturalização de que não têm as qualidades exigidas para funções de liderança. Porém, tem potencial ainda maior do que esse: a abertura de espaços e o empoderamento possivelmente conquistado pelas mulheres ao exercer tais cargos tem o potencial de aumentar a capacidade da organização de combater o machismo no seu interior, na sua práxis e na política que apresenta.

Então, não é apenas para “compensar” o nosso machismo, contra o qual lutamos (que nos leva, inconscientemente, a não reparar e valorizar tanto nas qualidades dirigentes das mulheres), que defendo cotas para mulheres em postos de direção do B&D e do PSOL, por exemplo (cotas que já existem, aliás, mas em alguns casos poderiam ser maiores). Vou além disso: uma mulher, por ser mulher (e ainda mais quando é feminista, envolvida na luta para se constituir como “mulher para si”, digamos), tem sim um diferencial positivo que deve ser valorizado na ocupação de postos de direção e representação numa organização que se pretenda feminista. A cota, assim compreendida, não desvaloriza em nada a mulher, como se necessitasse dela por não ter qualidade para ser dirigente ou representante. Pelo contrário: valoriza a sua luta e seu potencial universalizante. Ser mulher e feminista é, em si, uma qualidade a ser valorizada com orgulho numa dirigente, numa organização feminista. Consequência da aposta de que a as/os oprimidas/os são as/os maioras/es portadoras/es do potencial de lutar contra as opressões, os sujeitos protagonistas da construção de uma sociedade livre e igualitária.

Pela defesa e ampliação de cotas para mulheres, negros/as e outros grupos oprimidos!

cotas

Opinião: Uma cultura de comunicação para a universidade brasileira

livro leitor educação ensino

Nas universidades brasileiras, públicas e privadas, impera a exprobação. Até os trotes acadêmicos são proibidos. Livres quando promovem sexo e bebedeira. A increpação começa nas bibliotecas com o Índex. Os sindicatos de professores e diretórios acadêmicos temem editar blog. Onde há censura, impera a corrupção.

educação estudantes

Escreve Wilson da Costa Bueno:

É fato indiscutível que a universidade brasileira, com raríssimas exceções, não pratica uma cultura de comunicação, ou seja, ela, de maneira geral, não assume o exercício da comunicação como estratégico e, em consequência, não está capacitada para acessar ou ser acessada por muitos de seus públicos de interesse.

Certamente, esta realidade tem a ver com os sistemas de gestão que tipificam as nossas instituições universitárias que, com raras exceções, adotam um processo de decisão centralizado, em que não há espaço para o diálogo ou para a chamada administração participativa.

Os diversos segmentos que compõem a estrutura da universidade docentes, funcionários e alunos quase sempre restringem o seu contato às instâncias burocráticas ou operacionais que legitimam seus papéis e funções, sem buscar, por falta de mecanismos facilitadores, uma maior interação.

Evidentemente, isso não significa que a universidade não desenvolva ações isoladas de comunicação. O número de eventos promovidos pelas nossas instituições universitárias é significativo e abrange as inúmeras áreas do conhecimento. Muitas instituições privadas têm se mostrado, inclusive, arrojadas em suas campanhas publicitárias, ainda que limitadas ao período pré vestibular. Algumas universidades públicas, federais ou estaduais, dispõem de estruturas de comunicação, editam periódicos (jornais, revistas ou boletins) e mantêm um fluxo regular de informações com os meios de comunicação.

Há que se considerar, no entanto, que tais ações de comunicação, embora gerem resultados parciais e localizados, não configuram uma autêntica cultura de comunicação. Na verdade, uma cultura de comunicação se define exatamente por uma prática que extrapola a mera sobreposição de atividades isoladas. Ela está legitimada pela consciência, comum a todos os níveis da organização, de que é necessário manter relacionamentos saudáveis e produtivos e de que a tarefa de comunicar não é exclusiva das estruturas profissionalizadas de comunicação.

Em uma organização que prima por uma autêntica cultura de comunicação, todos os seus integrantes se sentem envolvidos com ela e almejam, apesar das diferenças ou mesmo das oposições, o desenvolvimento pessoal ou institucional.

A maioria dos dirigentes das nossas universidades enxerga a comunicação sob uma perspectiva meramente instrumental. A ausência de uma visão estratégica não permite que a comunicação flua com facilidade entre os vários segmentos da universidade direção (reitoria), corpo docente, corpo discente, funcionários e há obstáculos também importantes no relacionamento entre a universidade e a sociedade.

Embora, em muitos casos, o discurso oficial pareça inserir a comunicação como uma de suas prioridades, na prática, as instituições universitárias relegam na a um plano inferior. Julgam na, quando muito, útil, mas, dificilmente, estratégica; portanto não a incorporam em seu planejamento e a ela destinam recursos (humanos e materiais) insuficientes para dar conta das funções que ela deve obrigatoriamente desempenhar.
Da mesma forma, ela se viabiliza a partir de atividades fragmentadas, nas quais muitas vezes não há, ao menos, uma visão concreta dos seus públicos estratégicos, o que representa desperdício de recursos e reduzida eficácia.

A perspectiva adequada seria a de encarar a comunicação como fundamental e assumir o conceito moderno de comunicação integrada, gerida a partir de uma política global de comunicação. Ao contrário das empresas privadas, no entanto, as instituições universitárias ainda não caminharam neste sentido e se ressentem, por causa disso, de legitimidade. De maneira geral, elas encontram dificuldade para se justificar perante diversos segmentos sociais, que as julgam elitistas, improdutivas e autoritárias.

A visão instrumental de comunicação, que a rebaixa no conjunto das prioridades definidas pelas instituições universitárias, resulta, também, na ausência de estruturas profissionalizadas e com participação efetiva no processo de tomada de decisões.

Ainda que, em boa parte delas, a área de comunicação esteja sob a responsabilidade de profissionais de reconhecida competência, não dispõe de autonomia para traçar diretrizes e estabelecer planos de ação. Ocorre que, com poucas exceções, esta área está atrelada de tal forma à estrutura de poder da universidade que vive permanentemente sob tutela (ou censura, em alguns casos), o que lhes retira a agilidade para responder às demandas de informação/comunicação. Fica evidente, para os que acessam a universidade, que a área de comunicação não passa de um mero apêndice desta estrutura de poder e que, na maioria dos casos, atende mais a interesses pessoais do que institucionais. Não é rara a associação da figura do coordenador/assessor de comunicação ao papel de chefe de gabinete, ou seja, de alguém mais comprometido com o reitor do que com a própria instituição. Em boa parte das vezes, ele é antes um elemento de confiança do reitor ou da direção que um profissional a serviço da instituição e tende a abandonar as suas funções, quando, por exemplo, o reitor é substituído. Por ser, então, um cargo preenchido por decisões pessoais e políticas, ele se atrela a uma visão de curto prazo. Este fato pode explicar a descontinuidade dos programas de comunicação das nossas universidades, sobretudo as públicas.

Além disso, a área de comunicação está, quase sempre, subdimensionada, em termos de recursos humanos e materiais, sendo incapaz de colocar em prática as inúmeras atividades requeridas pela instituição para o desempenho das suas vertentes de ensino, pesquisa e extensão. Nem sempre, ainda, os profissionais que integram esta área têm um perfil abrangente ou comungam com a perspectiva moderna de comunicação como insumo estratégico, atuando mais como tarefeiros do que como executivos de comunicação.

A falta de definição de uma carreira para o profissional de comunicação nas universidades acaba fazendo com que ela ou recrute colaboradores no seu próprio quadro docente (geralmente dos cursos de comunicação) ou lance mão de estagiários, a baixo custo. Em ambos os casos, a idéia que vigora é reduzir despesas, mesmo porque elas não estão previstas no orçamento. No primeiro caso, o profissional, que é também docente, encontra dificuldade para conciliar as duas tarefas, ambas importantes. No segundo caso, a falta de experiência dos estagiários sinaliza para a improvisação e o amadorismo.

A maioria das nossas universidades está preparada mais para falar do que para ouvir, ou seja, por uma distorção inerente à sua perspectiva de comunicação, elas desempenham mais o papel de transmissoras de informações do que de captadoras das demandas dos diferentes públicos de interesse. Este fato tem estreita relação com a cultura universitária brasileira, marcada pelo individualismo, pela arrogância, pelo corporativismo, pela falta de sensibilidade para com os problemas nacionais e pelos preconceitos com relação a possíveis parceiros que se situam fora do ambiente universitário.

Uma instituição que vislumbra os demais setores da sociedade com superioridade e que, em geral, só consegue eleger os seus próprios problemas como prioritários, com certeza, não está disposta a ouvir. Por isso, está longe de praticar a comunicação autêntica, porque essa pressupõe horizontalidade entre os interlocutores.

Não é por outro motivo que a “comunicação” da universidade brasileira se restringe a duas modalidades: a científica, exercida exclusivamente entre os pesquisadores e seus pares, e a burocrática, pautada por normas e regulamentos, expressão do oficialismo administrativo. Também se justifica a partir deste fato a não priorização, pela universidade, do esforço de divulgação, que representa, em última instância, a democratização do saber.

A universidade brasileira não valoriza o trabalho de seus docentes que se voltam para o relacionamento com a sociedade, por não reconhecê lo como uma de suas funções primordiais. Também o desestimula porque considera sua produção voltada para os cidadãos como de relevância menor ou duvidosa. Sabidamente, aos olhos da universidade brasileira e das instituições de fomento, a produção de livros didáticos ou de artigos de divulgação é vista com preconceito, enquanto se sobrevaloriza o trabalho acadêmico. Na moeda da comunicação universitária brasileira, um artigo publicado em uma revista internacional indexada vale mais do que uma centena de bons artigos de divulgação veiculados em periódicos de informação geral brasileiros.

Certamente, as dificuldades enfrentadas pelas nossas universidades, que andam correndo o pires à cata de recursos (o mesmo raciocínio vale para os nossos institutos de pesquisa), acabarão por levá las a uma autocrítica. Estabelecer parcerias com o setor privado e buscar legitimação junto à sociedade deixarão de ser propostas alternativas para nossas instituições universitárias para se constituírem em estratégias obrigatórias para a sua sobrevivência.

Se a universidade se dispõe (ou é obrigada) a estabelecer novos vínculos com a sociedade, então ela precisa redimensionar o seu perfil comunicacional. Isso implica atribuir nova escala de valores ao trabalho de interação com os seus distintos públicos de interesse e priorizar os relacionamentos. Sem perder os seus objetivos básicos pesquisa, ensino e extensão precisa capacitar se para exercê los plenamente a partir de uma nova proposta de comunicação, que privilegie a transparência, o diálogo, o compartilhar do saber e a responsabilidade social.

Num mundo globalizado, é indispensável que a universidade brasileira estabeleça novas fronteiras para o seu relacionamento com a sociedade, descartando, sobretudo, a sua posição isolacionista. A academia não pode restringir seus esforços de comunicação às publicações científicas (ainda que prioritárias e fundamentais), sob pena de perder legitimidade.

O mundo existe além dos campi e a universidade deve participar dele. A universidade deve rever sua postura de encastelamento e comunicar mais e melhor. Para tanto, ela deverá capacitar se, despir se de preconceitos e abrir-¬se para um debate franco com a sociedade. O futuro não poupará as organizações, entre as quais as universidades, que, com prepotência, derem as costas às demandas sociais legítimas e que não se dispuserem ao trabalho de resgatar a cidadania. Para a universidade brasileira, isso significa buscar a comunhão de interesses, colocando a sua competência a serviço da maioria.

Desenvolver uma cultura de comunicação que estimule o comprometimento e a responsabilidade, que extrapole o mundo dos sábios e se debruce sobre as aspirações e as expectativas do cidadão comum. A universidade tem um papel importante e precisa estar disposta e capacitada para desempenhá-lo. Se ela não ousar descer do pedestal em que se encontra, poderá perder o apoio da sociedade e consequentemente dos governos e do mercado. A universidade não pode ignorar que, seja ela pública ou privada, é a sociedade e por extensão os cidadãos com os seus impostos que a financiam. E quem paga a conta tem o direito de exigir a devida contrapartida.

Em tempo: algumas luzes estão começando a brilhar no horizonte e algumas instituições universitárias parecem ter acordado para a importância estratégica da comunicação. A USP faz, nesse momento, um esforço enorme para mudar o perfil de sua comunicação e, a exemplo do que acontece em outras áreas, poderá se constituir em referência. É preciso acreditar.

indignados educação

Levante da Unijuí que perde sentido de universidade comunitária

Durante o evento “Salão do conhecimento” no Campus da Unijuí, aconteceu o velório simbólico dos cursos realizado pelo Levante Popular da Juventude, DCE, juntamente com os centros acadêmicos e demais universitários.

A manifestação na entrada do evento teve como objetivo abrir um debate na universidade quanto ao fechamento das licenciaturas, a precarização dos laboratórios, sucateamento da educação, falta de professores, dentre outras pautas pertinentes ao atual momento em que se encontra a universidade.
Paralelo a intervenção também aconteceu uma panfletagem sobre a proposta de aumento das mensalidades de 8%, e um convite a comunidade universitária a participar de uma assembleia geral para debater o aumento no dia 29 de outubro.
Segundo os manifestantes, este estabelecimento de ensino está continuamente perdendo o seu sentido de universidade comunitária.
Veja vídeo e fotos 

Un giro radical en la naturaleza de las universidades

Entrevista en profundidad a John Holmwood y Gurminder Bhambra, académicos defensores de la U. Pública en el Reino Unido. 

Medina
Medina

¿Cómo surge la idea de esta “Campaña por la Universidad Pública”?

Gurminder Bhambra: El 2010, el gobierno anunció que impulsaría una nueva forma de financiar la educación superior para enfrentar la crisis de los euros. Esta idea implicaba por un lado, la posibilidad de aumentar los aranceles estudiantiles sin tope alguno y por otro, una serie de recortes presupuestarios a las universidades, haciendo que los incrementos de los aranceles reemplazaran los fondos gubernamentales.

En este contexto comenzamos la campaña, originalmente sólo con la intención de instalar la idea de los recortes, conversar al respecto y también para señalar que lo que proponía el gobierno era en un giro radical en la naturaleza de las universidades.  No creo que hayamos pensado tan claramente la idea de universidad pública antes de esto, pero una vez que se empezó a promover la idea de recortar fondos a las instituciones y habilitar un sistema con fines de lucro, comprendimos que teníamos un sistema de universidades públicas, que posee beneficios particulares que necesitamos destacar, orientar y desarrollar.

John Holwood:Hasta entonces, todas las universidades privadas que conocíamos en Gran Bretaña eran sin fines de lucro. Había declaraciones de principios que las diferenciaban, pero cada universidad contaba con el mismo arancel para el mismo curso o carrera. Lo que involucran los cambios que se están proponiendo, es la creación de diferentes montos para el financiamiento entre las distintas universidades, por lo que algunas instituciones podrían cobrar aranceles muy altos y conseguir mejor financiamiento. Esto nos llevó a preocuparnos por las consecuencias en términos de desigualdades y justicia social, reconociendo que si bien las universidades contarán con fondos privados, esos fondos provendrían de los aranceles universitarios y sin garantía alguna de que las funciones de orientación pública de las universidades siguieran siendo desarrolladas y reconocidas.