
por Igor dos Santos
Portal Imprensa
Os fotojornalistas Jardiel Carvalho, da Frame Photo; Ernane Rocha Lobo, da Futura Press; e Tércio Teixeira, da agência Folha Press, relataram à IMPRENSA as agressões que sofreram e a truculência da polícia durante as manifestações em São Paulo no último sábado (7/9), feriado da Independência. Repórteres e fotógrafos chegaram a ser agredidos e viram PMs dispararem contra eles com armas letais.

Após um carro atropelar alguns manifestantes, outros membros do protesto correram atrás do veículo e os fotógrafos acompanharam a movimentação. No entanto, encontraram dois oficiais da Rocam (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas). Um deles abandonou a moto e saiu correndo, mas o outro policial puxou a arma e efetuou disparos contra o grupo.
Dois tiros feitos com a arma letal foram na direção dos profissionais de imprensa e os outros foram em direção ao chão. Teixeira foi atingido pelos estilhaços de uma das balas no queixo e na perna. “Eu avisei para ele [policial que fez os disparos] que havia me atingido, que eu havia sido baleado. Anteriormente, ele já tinha deixado a arma cair no chão, mas quando viu o sangue escorrendo do meu queixo saiu correndo”, afirma o fotógrafo da Folha Press.
Após sofrer a agressão, Teixeira começou a perder muito sangue. Pensando em ajudar o colega, Lobo correu até um grupo de policiais “com as mãos levantadas para cima” pedindo a ajuda dos oficiais para que chamassem algum médico para atender o colega. No entanto, o fotógrafo acabou levando um jato de spray de pimenta no rosto. “Eu já havia sofrido agressões quando cobri manifestações anteriores, mas nunca nada tão grave”, diz.
Carvalho conseguiu registrar o momento do disparo. Ele disse que não conseguiu pensar muito no momento, mas que se sentiu “protegido pela câmera”. “É muito perigoso. Eu não recomendo a nenhum colega que passe pelo que a gente sofreu ali. Na hora eu me senti protegido pela câmera, só queria fazer o meu trabalho, mas o tiro podia ser para mim”, diz.
Sobre a atitude do policial, Carvalho afirma que o oficial “não pensou no que ele fez. Ele não estava acuado, não tinha nenhum grupo de manifestantes em cima dele. As outras revistas não procuraram saber, não procuraram falar com os envolvidos”, conta o repórter fotográfico da Frame Photo.
Os três fotógrafos apontaram a falta de preparo da polícia como o grande motivo para que eles tenham sofrido tantas agressões. No entanto, eles afirmam que isso não vai afastá-los do trabalho e que vão continuar exercendo a profissão e informando as pessoas.
“Se nós da imprensa não cumprirmos o papel que temos, as coisas só vão piorar. Se a gente não mostra esse tipo de impunidade, de injustiça que é cometida pelos policiais, eles não vão parar de agredir as pessoas”, afirma Carvalho.
Teixeira revela que, apesar do medo, não vai parar de trabalhar e exercer a profissão. “Vou continuar com amor ao fotojornalismo. Espero que o governo tome uma atitude e prepare melhor os policiais para que isso não aconteça novamente”.
Para Lobo, a agressão policial incentiva ainda mais o trabalho jornalístico nos protestos em todo o país. “Mais do que nunca pretendo continuar reportando, registrando o que está acontecendo nas ruas. As reportagens que eu estou vendo na mídia não estão sendo claras sobre o que está acontecendo. Sou apaixonado pelo meu trabalho e acredito que eu estou realizando uma missão aqui”, conclui Lobo.
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Acrescentei fotos e legendas (T.A.)