“Elas, alunas. Eles, professores. Ambos, partes de uma relação que, em alguns casos, confunde as barreiras do profissional e do pessoal. O G1 deixou de lado as histórias de amor entre alunos e professores que terminaram com um final feliz para mostrar um lado obscuro dessa relação: o de alunas que se sentiram assediadas por seus professores”, escreve Naiara Arpini. Leia aqui
A História ensina, pelos casos mais célebres, as paixões dos alunos pelos professores. Do jovem Alcebíades por Sócrates. De Heloísa (17 anos) por Abelardo (36 anos).
Eu tinha dez anos quando me apaixonei por minha professora do admissão.
Os magistrados da Justiça Federal de primeiro e segundo graus podem viajar a trabalho ao exterior de classe executiva. O privilégio vale também para o servidor nos trechos em que o tempo de voo entre o último embarque no território nacional e o destino for superior a oito horas, de acordo com a Resolução 340/2015 do Conselho da Justiça Federal, que regulamenta a concessão de diárias e compra de passagens aéreas no âmbito do CJF. Essa resolução, assinada pelo presidente do órgão e ministro do Superior Tribunal de Justiça, Francisco Falcão, revogou, parcialmente, outra, de 2008, que já previa o benefício naquela época. Conheça a mordomia.
Manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) procuram o latifúndio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, localizado em Osasco, para invadir. Procuraram, procuraram e não encontram nenhum canavial, nem um boi solto.
É que FHC construiu casa e aeroporto em uma fazenda encantada. Dela se tem apenas o registro. Veja prova abaixo desse oculto negócio agropecuário:
FHC tem agropecuária em Osasco, cidade sem zona rural
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por Helena Sthephanowitz
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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é sócio de seus três filhos na empresa Goytacazes Participações Ltda, cujas atividades registradas na Junta Comercial de São Paulo são serviços de agronomia e de consultoria às atividades agrícolas e pecuárias.
No Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, na Receita Federal, a empresa tem como atividade principal o cultivo de cana-de-açúcar. As atividades secundárias são a criação de bovinos para corte e cultivo de outras plantas de lavoura.
O curioso é que a empresa está sediada na cidade de Osasco, na Grande São Paulo, ou seja, não é uma área rural. E o mais curioso ainda é que, quando se faz uma busca no Google Maps, a imagem que identifica o endereço é uma residência simples. Seria uma empresa de fachada?
Nenhum dos quatro sócios mora em Osasco. O ex-presidente reside em São Paulo, uma filha reside em Brasília, outra no Rio de Janeiro, assim como seu filho.
Antes de ser político, FHC nunca foi ruralista. Formou-se em Sociologia e sempre trabalhou como professor, até ingressar na política.
O interesse pela, digamos, “sociologia bovina”, só surgiu aos 58 anos, quando ele já era senador. Em 1989, adquiriu a fazenda Córrego da Ponte, de 1046 hectares, em Buritis (MG), próximo de Brasília. Comprou em sociedade com seu amigo e ex-ministro Sérgio Motta, um engenheiro e político de vida urbana que, assim como FHC, causou surpresa o súbito pendor ruralista, já passados da meia idade.
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Motta faleceu em 1998 e FHC passou a fazenda para os filhos que venderam a propriedade em 2003. Só em 2012 a empresa Goytacazes Participações foi aberta em Osasco.
Em 1999, a revista IstoÉ publicou uma reportagem sobre a construção em 1995, quando FHC já era presidente, de um aeroporto construído pela Camargo Corrêa na fazenda Pontezinha da empreiteira, vizinha da propriedade do ex-presidente. Segundo a reportagem, o aeroporto era usado sobretudo para atender à família Cardoso. Este compadrio não despertou na época a curiosidade do Ministério Público, pelo menos para conferir, confirmando a tradição de engavetamento quando suspeitas atingem tucanos. In Rede Brasil Atual. Transcrevi trechos
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O romance das terras no País da Geral
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“Na barra dos dois galhos da cabaceira do Córrego do Grotão”, uma gleba de terras, situada no distrito de Serra Bonita, município de Buritis, desta comarca, na fazenda “Pontes”, com a área de 1.046 hectares…”
Parece começo de romance antigo e é o princípio da matrícula 04.823, de 20 de setembro de 1978, em que a Ruralminas, do Estado de Minas Gerais, representada pelo governador Aureliano Chaves, registrou, no Cartório de Imóveis de Unaí (MG), a venda de uma terra devoluta a Wandir Galetti, fazendeiro, residente em Brasília, por Cr$ 18.305,00, “pagos os impostos”. Em 12 de março de 79, Wandir Galetti hipotecou as terras ao Banco do Brasil, na agência de Unaí, por Cr$ 1.500,00, com juros de 15% ao ano, para pagar até 28 de fevereiro de 84. Pagou e cancelou em 25 de maio de 81. Em 26 de maio de 81, Wandir Galetti vendeu os 1.046 hectares (“746 de campos, 300 de cerrados, e mais uma casa de madeira, um curral de madeira branca, um paiol e mais ou menos 50 rolos de arame cercando a gleba”) a Cesar Hartmann, gaúcho de Júlio de Castilhos, por Cr$ 11 milhões. Em 13 de junho de 89, Cesar Hartmann vendeu a fazenda “Pontes” a Fernando Henrique Cardoso (“professor universitário”) e Sérgio Roberto Vieira da Motta (“engenheiro”) “por NCz$ 6 mil (seis mil cruzados novos), tendo o imóvel sido avaliado para efeitos fiscais por NCz$ 131 mil (cento e trinta e um mil cruzados novos)” (sic). Fazenda virou empresa Em 21 de junho de 91, Fernando Henrique e Serjão passaram a fazenda “Pontes” para a Agropecuária Córrego da Ponte Ltda., com sede em São Paulo, de propriedade dos dois, meio a meio, no valor de Cr$ 6.700,00. Em 23 de fevereiro de 92, a fazenda foi hipotecada ao Banco do Brasil, na agência do Núcleo Bandeirantes, em Brasília, por Cr$ 17.171.600,00, com juros de 12,5% ao ano (“para lavoura de arroz de sequeiro”) e pagamento até 30 de junho de 92. A hipoteca só foi paga e cancelada em 26 de agosto de 98. Em 30 de abril de 99, um ano depois da morte de Serjão, faz-se a “alteração do contrato social da Agropecuária Córrego da Ponte”. O capital social passa a ser de 730 mil cotas no valor de R$ 1,00 cada uma. Jovelino Carvalho Mineiro Filho (“casado, empresário rural”) fica com 525.600 cotas (R$ 525.600,00). Luciana Cardoso (“solteira, bióloga”) com 102.200 cotas (R$ 102.200,00). Beatriz Cardoso (“solteira, pedagoga”) com 102.200 cotas (R$ 102.200,00). Mas Jovelino Mineiro “cede” 160.600 de suas cotas a Paulo Henrique Cardoso (“solteiro, sociólogo”). A sociedade é “gerida e administrada” por Jovelino Mineiro e Luciana Cardoso. A fazenda-empresa é metade do Jovelino, metade dos Cardosolinos. Tribuna da Imprensa, em 10.10.2000, colaboração de HTavares
Iniciada na manhã desta segunda-feira (13), a Operação Águia de Haia, que atua contra desvios de recursos federais do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), cumpriu duas prisões e 96 mandados de busca e apreensão em 30 municípios, dentre eles 25 baianos. Também houve procedimentos nos estados de São Paulo e Minas Gerais, além do Distrito Federal.
As prisões ocorreram em Salvador e Guarajuba, localidade do município de Camaçari, na região metropolitana da capital baiana. Um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), em Salvador.
O objetivo é desarticular uma organização criminosa que forjava licitações e contava com a participação de agentes públicos para desviar recursos federais do Fundeb.
Somente nas cidades baianas, o montante desviado atinge a quantia de R$ 57.173.900,00. Entre os municípios estão Camamu, Livramento, Una, Itabuna, Ibirapitanga, Camacã, Buerarema, Teixeira de Freitas, Ilhéus e Nova Soure.
“As buscas ocorrem em diversos municípios do interior da Bahia. Estão sendo realizadas oitivas de pessoas no interior no momento. Não necessariamente elas serão presas pois, muitas vezes, a pessoa é levada para ser interrogada, para que a investigação seja concluída de forma mais célere”, explicou o delegado regional de Combate ao Crime Organizado, Fábio Muniz.
A organização iniciou as atividades criminosas em São Paulo, passou por Minas Gerais e, em 2010, se estabeleceu na Bahia. A PF investigou as ações realizadas até 2014.
Os responsáveis pelas fraudes serão indiciados por crimes licitatórios, corrupção ativa e passiva e formação de quadrilha, entre outros delitos.
Crime hediondo
Desviar verbas da educação acontece em todos estados, e na totalidade das prefeituras.
Esses bandidos, associados com secretários estaduais e municipais da Educação, e a cumplicidade do silêncio dos sindicatos de professores, roubam o futuro dos jovens brasileiros. Trata-se de um crime hediondo.
Todo professor precisa denunciar. São criminosos capazes de tudo. Inclusive matar. As denúncias precisam ser anônimas.
Este título peguei emprestado do amigo e jornalista maior do País da Geral, José de Souza Castro que, para honra minha escreveu o prefácio do meu livro de poesia
Revelou Castro: “Vim a conhecer Talis Andrade há uns quatro anos, por causa dos comentários dele na coluna de Moacir Japiassu, no Comunique-se, e de seus sábios escritos em três blogs do próprio poeta: Arte e Versos, Aqui não dá e Jornalismo de cordel. Não sei como, aos 70 anos, ele acha tempo para manter atualizados esses blogs e escrever poesia, ganhando um salário mínimo de aposentadoria pelo INSS. É um mistério: como um poeta brasileiro, ainda por cima nordestino, sobrevive?”
Olha, gente, jamais seria salvo pela poesia, mesmo que “eu me chamasse Drummond”. Ascenso, no leito de morte, disse para mim e o governador Paulo Guerra, que ser poeta é um “mal de raiz”.
Danação de vida. Sempre tive de exercer, penosa e comitantemente, três malsinadas profissões. Professor, jornalista e barnabé. Que o salário de uma não sustenta nenhum vivente.
Não tenho a grandeza de um Luiz Carlos Maciel, mas me ofereço, que não me faltam gosto nem fôlego, para exercer profissões da minha vocação e aprendizado.
Luiz Carlos Maciel, 77,
filósofo desempregado
por José de Souza Castro
Luiz Carlos Maciel
Leio no blog do poeta pernambucano Flávio Chaves que o filósofo Luiz Carlos Maciel está desempregado há quase um ano. Tem 77 anos e está sem dinheiro. Ele se oferece para trabalhar, avisando que só não canta e dança. No mais, o que vier, “eu traço”.
É possível que algum leitor nunca tenha ouvido falar de Luiz Carlos Maciel. Foi um dos fundadores de O Pasquim, surgido seis meses depois do AI-5, quando a ditadura militar se impunha como nunca. E o jornal se revelou como flor do lodo, no brejo político e social em que se transformara o Brasil: em pouco tempo, vendia mais de 200 mil exemplares por edição.
“Jornalista, dramaturgo, roteirista de cinema, filósofo, poeta e escritor. Apesar de sua vasta atuação no cenário cultural brasileiro, Luiz Carlos Maciel é comumente lembrado por sua participação no Pasquim, com a coluna Underground, quando então escrevia artigos sobre os movimentos alternativos que eclodiam no mundo, assim como as manifestações anteriores que lhes serviram de base, como o romantismo, o surrealismo, o existencialismo sartreano, a literatura da Beat Generation, o marxismo, entre muitos horizontes (re)descobertos na época. Este trabalho de difusão da contracultura lhe valeu o estereótipo de ‘guru da contracultura brasileira’ ”.
No final do artigo há uma breve cronologia dos trabalhos realizados por Luiz Carlos Maciel até 2004. Uma lista impressionante. Vivesse nos Estados Unidos ou na Europa, onde a cultura tem valor, esse gaúcho não teria chegado aos 77 anos desempregado e sem dinheiro.
Mas ele vive no Brasil. País onde cultura e velhice são desprezadas. Pior, se além de velho, é mulher, negra e faxineira.
No mesmo dia em que tomei conhecimento do caso de Luiz Carlos Maciel, soube do que aconteceu com a faxineira de um prédio residencial num bairro de classe média alta de Belo Horizonte. Um prédio de oito andares, com um apartamento de quatro quartos por andar.
Até agosto de 2012, o prédio tinha contrato de administração assinado com empresa especializada. O condomínio pagara a essa empresa, em 12 meses, um total superior a R$ 10 mil, incluindo salário da faxineira, INSS, FGTS e vale transporte. Havia faxina cinco dias por semana.
Para economizar, o condomínio decidiu cancelar o contrato e pagar diretamente a duas faxineiras que, conforme a lei, não têm qualquer direito trabalhista. Uma delas trabalha quatro horas por dia, dois dias por semana; outra, um dia por semana, durante oito horas. O gasto total caiu para R$ 9.520 no ano.
As faxineiras são as mesmas, até agora. Mas houve uma mudança: a que trabalhava um dia por semana, durante oito horas, passou a trabalhar por quatro horas, há cerca de três meses. O salário foi reduzido também pela metade. Mas a perda para ela é maior do que 50%, pois enquanto gastava com ônibus “x”, tirado de seu salário “y”, agora gasta o mesmo “x” tirado de metade do “y”. Um matemático pode calcular melhor do que eu a perda da faxineira.
Ela aceitou, sem reclamar da decisão da síndica. “O que eu podia fazer?”, perguntou-me ela. “Tenho 69 anos, e ninguém vai me empregar para fazer faxina, mesmo que eu possa trabalhar direitinho com essa idade. É melhor pingar do que secar”, filosofa.
“O que vier, eu traço”, diz o filósofo desempregado Luiz Carlos Maciel, oito anos mais velho.
A culpa é da crise econômica, que pesa mais para os mais fracos. Só dela? Não pesa nada na consciência dos mais ricos – não é, papa Francisco?
Foi decidido na última sexta-feira, 12 de junho, em assembleia, o final de uma das mais duradouras greves da história recente do país. Nestes 92 dias de paralisação, os professores estaduais paulistas ajudaram a levantar uma série de debates. Desde a equiparação salarial dos professores em relação a outras categorias e as condições de trabalho e projetos de educação em disputa, até questões de organização e política sindicais.
No auge da greve, entre abril e maio, cerca de 70% da categoria estava parada. O movimento enfrentou a repressão bruta da polícia militar durante seus atos de rua. Enfrentou também a falta de diálogo por parte do governo do Estado, que fazia questão de ignorar a greve e desqualificar suas reivindicações. Enquanto isso, a difusão desse desdém oficial era feita pelos grandes meios de comunicação. Além disso, uma série de disputas internas pela burocracia sindical enfraqueceu o movimento grevista.
Chegando ao acampamento dos professores, em frente à Secretaria de Educação, na praça da República, na noite da quinta-feira, dia 11 de junho, nossa reportagem se deparou com rostos cansados e vozes já trêmulas, vindas de bocas secas pelos três meses de discussões, debates e assembleias. Naquela noite, ainda se defendia a continuação da greve, mesmo com todos os prognósticos contrários. Os professores se encontravam em uma situação material extremamente precária, sem conseguir se manter financeiramente e pagar suas contas, sem acesso ao fundo de greve e, portanto, cada vez mais desmobilizados em busca de suas necessidades básicas.
Esvaziamento da greve
Alessandro Soares, professor de geografia no estado desde 2005, contou que, no final de maio, começou um refluxo na adesão à greve, “com a burocracia sindical desmobilizando a categoria”, diz.
A partir de então, vários grupos que se aproximaram durante a greve tentaram se articular em torno de uma agenda para debater as questões pertinentes à categoria, junto aos Conselhos Representantes do sindicato, e fazer pressão para que o movimento engrossasse novamente.
“Antes das assembleias, há uma plenária dos Conselhos Representantes. Em cerca de 4 ou 5 oportunidades, comparecemos a esses grupos de forma autônoma, pedindo a voz para que pudéssemos também mostrar que nós tínhamos uma pauta, uma agenda de reivindicações que levavam como maior bandeira uma melhoria da qualidade da educação, não apenas a questão salarial. Tem isso também, claro. Mas o mais importante para nós era discutir o que significa a educação aqui no estado de São Paulo. Uma educação toda sucateada”, explica o professor.
“Tivemos a abertura em relação ao regime militar no final dos anos 80, e então o governo do estado passou pelo PMDB e depois caiu no controle tucano. Houve uma crescente desmobilização e uma diminuição do poder aquisitivo dos professores a partir de então. E também uma piora do ensino público no estado de São Paulo”, observa.
Partidarização do debate
Para o professor, um dos fatores que “sangrou” o movimento grevista foi a postura dos diferentes grupos que disputam a burocracia sindical. Para ele, houve uma prioridade colocada nesta disputa em detrimento ao avanço das pautas propostas pela base.
“A gente observa dentro do sindicato que diversas correntes que lutam pelo aparelho, no momento mais agudo, se juntaram para terminar a greve”, critica o professor. De acordo com ele, mesmo as correntes de oposição, ligadas ao PSTU e ao PSOL, não aprofundaram a discussão sobre o que significa a educação. Para Alessandro e outros professores acampados na República, o debate em torno da educação foi partidarizado, transformando os professores em massa de manobra na disputa do imaginário político.
“O movimento grevista foi chamado no dia 13 de março pela direção da APEOESP com uma proposta de barrar toda uma série de propagandas que vinham contra o governo federal. Tanto que no dia 13 foi a nossa paralisação e, logo em seguida, no dia 15, houve o ato do pessoal mais conservador”, explica. Nesse momento, o movimento grevista foi crescendo, até chegar ao seu auge no final de abril. “Isso enquanto era conveniente para os setores governistas”, frisa Alessandro. Em outras palavras, não é uma coincidência o fôlego dessas correntes no momento em que as manifestações da direita estavam a todo vapor.
“No momento em que começava a esvaziar a greve, várias correntes independentes e autônomas se juntaram na rua, fazendo as caminhadas, os chamados cortejos, para a Secretaria de Educação. Em alguns momentos, a gente tentou tencionar um pouco mais para que outras pautas, caminhos e discursos fossem ouvidos”, continua Alessandro. Ele considera que esse fôlego extra, que estendeu a greve por quase mais um mês, foi uma vitória, pois, mesmo com toda a sangria, houve certa visibilidade para discutir o processo de deterioração das escolas públicas.
A sangria dos professores
Um outro fator fundamental a ser explicado é a postura que o estado de São Paulo, comandado pelo governador Geraldo Alckmin, tomou em relação aos profissionais da educação. “É um governo completamente centralista, que não ouve os trabalhadores. Simplesmente ignora a pauta que a gente levanta e não dialoga com os professores. É um governo autoritário e fascista, que coloca a polícia pra bater e perseguir professor. Também não quer discutir de forma aprofundada a escola publica”, dispara Alessandro.
A negociação em torno do aumento salarial foi um dos pontos dos quais o governo se esquivou. “A nossa data base é em março, mas o governo estadual bateu o pé e disse que era em julho. Mesmo sendo legal em março, o governo do estado falou que não aceita essa data base e, quando começou a negociar, o governo dizia que daria o aumento em determinado momento, mas, de forma mais objetiva, não passou nenhum dado a respeito desse aumento”, explica.
Quanto à regularização dos professores temporários, outra pauta da greve, o governo disse ao movimento grevista que iria mandar um projeto de lei para a ALESP. “Mas também não avançou”.
“Ou seja, é complicado, porque, mesmo com esse lema de pátria educadora, quando aparece um movimento sindical que discute não apenas a questão salarial, mas a qualidade e os objetivos da educação, da básica até a superior, não tem onde dialogar, porque partidarizaram a discussão”, lamenta. Se, de um lado, os adeptos de um desses partidos boicotaram internamente a organização da categoria, por outro lado o governo do outro partido se recusou a negociar e perseguiu os professores grevistas.
Para o professor de geografia, o golpe final do estado de São Paulo contra a mobilização dos professores veio na forma do corte do salário. “Esse corte de pontos foi um dos fatores que fez com que o movimento perdesse a sua postura. Todas as pessoas têm suas contas para pagar, sua realidade material, seu modo de vida, têm de colocar arroz, feijão e mistura na mesa. Tem gente que precisa pagar pensão, aluguel, e isso foi uma tática usada pelo governo do estado para enfraquecer o movimento”, descreve.
“No meu caso, tive um corte de salário total. Não vou receber em junho, nem em julho. Como voltei na última segunda-feira (15 de junho), só vou receber em agosto a metade do mês de junho (a contagem do salário é feita 60 dias depois de fechar o mês). Ou seja, vou ter problemas para pagar as minhas contas. Toda a questão material da minha vida está bem complicada, tenho que pedir dinheiro emprestado, correr para o banco, ter familiares ajudando, tentando uma série de coisas para segurar as pontas nesse meio tempo até que eu tenha a minha renda novamente, em setembro”, conta o geógrafo.
Ele não é o único a estar nessa situação. Naquela noite de 11 de junho, no acampamento, uma professora que falava na reunião dos acampados dizia em alto e bom som: “não podemos pedir para um professor que está há 3 meses com o aluguel atrasado, com muitas dificuldades para pagar as contas, vendo os filhos comerem pouco, que continuem em greve. Eles nos sangraram”.
Projeções para um “Brasil em transformação”
Montado pela APEOESP no início da greve, o acampamento foi desfeito no final de maio, após uma assembleia no dia 25. Os professores consideram um ato de resistência ter mantido o acampamento, de forma autônoma em relação à direção sindical, até o fim da greve. “Durante essa greve, a aula foi na rua. Eu aprendi muito nesse processo”, prossegue o nosso entrevistado.
“Será que esse modelo de escola pública fechada, cheia de grade, onde uns entram e outros não, essa coisa policialesca, é o projeto que queremos de uma escola pública? Ou a gente tem outro projeto? Eu não tenho uma resposta certa para isso. É uma questão que está levantada. Talvez esse modelo que temos de escola pública não seja o mais positivo no sentido da construção do conhecimento”.
Em relação à representação sindical, muito criticada pelos professores que acamparam na República, podem-se observar alguns novos ingredientes. É notável que há uma nova geração de professores e trabalhadores da educação que pensam a questão sindical sob um ponto de vista interessante, porém, pouco usual. Concorde-se ou não com as críticas, é inegável que a base do movimento grevista busca um debate mais sério.
“Essa greve deu uma oxigenada nas estruturas com um pessoal bastante combativo e cheio de fôlego, que quer por a mão na massa. Esse movimento vem desde junho de 2013, com o empoderamento de você poder sair na rua e levantar as bandeiras dos trabalhadores, da melhoria das condições de trabalho e qualidade de vida da classe trabalhadora. Eu acho que esse movimento grevista vem ainda no embalo do processo das jornadas de junho de 2013, junto com a questão do transporte colocada pelo MPL, e toda a agenda popular que estamos construindo nos últimos dois anos nesse Brasil em transformação”.
Com indisfarçável alegria, a Folha comemora em manchete a derrota dos professores paulistas. Exatamente 90 dias após o início da greve dos professores, a Folha dá capa para o assunto. Em nenhum momento antes fez qualquer reportagem para mostrar a real situação, tanto em relação às reivindicações dos professores, seja em relação à intransigência do governo do Estado. Não se trata apenas da blindagem ao eterno poder do PSDB sobre São Paulo, mas de informação sonegada, ao melhor método Rubens Ricúpero, escondendo como se não existisse, de toda comunidade escolar. Não há nada mais paradigmático para um grupo que lida com informação do que o silêncio sobre assunto que envolve tanta gente. Pior, exatamente quando os professores encerram sua luta o jornal dá ares de sua graça para tripudiar.
Infelizmente, a Folha faz isso porque há parcela significativa da sociedade que compactua no combate aos professores. A manchete da Folha faz parte de uma lógica levantada pela sua parceira do Instituto Millenium, a revista Veja, que pediu “menos escolas, mais prisões”.
Enquanto os setores progressistas não se derem conta de que, hoje, o principal entrave para a melhora da nossa sociedade se encontra exatamente nos associados dos Instituto Millenium não haverá esperança de de que tenhamos avanços no processo civilizatório.
Nunca é demais lembrar que o Governo de São Paulo distribui milhares de assinaturas da Folha, Estadão e Veja nas escolas públicas. Se isso não explica tudo, é mais do que suficiente para se ter uma ideia de onde está o verdadeiro banditismo. O criminoso mais perigoso é aquele que faz seu crime parecer um bem. Nisso a Folha tem boa parceria, não só no governo do Estado, mas em vários setores da sociedade. Quando alguém usa a democracia para pedir um Golpe de Estado está tendo um comportamento não só esperado, mas festejado por quem não tem a menor educação. Educação no seu sentido mais nobre, como ensinado por Paulo Freire.
O comportamento da Folha é mais nocivo que o tráfico do Fernandinho Beira-Mar, porque Fernandinho entrega seu produto para quem quer destruir a própria vida, enquanto a Folha entrega um produto com o objetivo de destruir a vida dos seus adversários.
Fico me perguntando o que eu faria com a Folha se estivesse dando aula numa das escolas em que ela é distribuída pelo Geraldo Alckmin.
Derrotados, professores encerram greve mais longa da categoria em SP
Parados há 89 dias, docentes da rede estadual pediam reajuste de 75%, mas não conseguiram nada
Governo Alckmin não apresentou nenhuma proposta de aumento; movimento perdeu força após corte de ponto
(WÁLTER NUNES)COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A mais longa greve da história da rede estadual de ensino de São Paulo terminou nesta sexta-feira (12), depois de 89 dias, sem nenhum acordo entre professores e a gestão Geraldo Alckmin (PSDB).
A maioria que compareceu à assembleia da categoria, na avenida Paulista, decidiu encerrar a paralisação apesar de não ter conseguido nenhum aumento salarial.
Os professores pediam reajuste de 75,33% –suficiente, segundo a Apeoesp (sindicato docente), para equiparar os salários dos professores aos dos demais profissionais com ensino superior no Estado.
O governo não apresentou proposta de reajuste. Diz que divulgará um plano até julho, quando completará um ano do último aumento. Os professores devem voltar às atividades na segunda-feira (15). A reposição de aulas será definida por cada escola.
A greve acabou se esvaziando e perdendo adesão principalmente depois do corte de ponto dos grevistas pelo Estado –com aval da Justiça.
A presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, negou derrota da categoria, que, segundo ela, continua insatisfeita. “Ninguém vai sair de cabeça baixa. O governo queria a derrota do movimento, mas ele não conseguiu”, afirmou. Segundo a PM, a assembleia reuniu cerca de mil pessoas. O sindicato estimou 8.000.
A greve foi anunciada em 13 de março, em meio a um ato em defesa de direitos trabalhistas que reuniu diferentes sindicatos e movimentos sociais e também serviu de apoio ao governo da presidente Dilma (PT).
‘SOBREVIVER’
“Nós viemos para votar não, porque não temos mais condições de ficar parados sem salário. Precisamos sobreviver”, afirmou Sueli Pinto Arantes, que saiu de Ribeirão Preto para a assembleia.
A decisão sobre a manutenção da greve já havia sido apertada na semana passada, quando foram necessárias duas votações, devido ao equilíbrio na primeira.
No auge da paralisação, em abril, a Apeoesp contabilizava adesão de 75%. Nos últimos dias, falava em 30%.
A Secretaria de Estado da Educação chegou a falar em até 9% de faltas, mas depois disse que a taxa de ausência estava limitada a 2%.
Em nota, a gestão Alckmin disse que a greve era “um movimento isolado”.
O governo afirmou ainda que concedeu 45% de reajuste em quatro anos.
Parte desse percentual, porém, se refere à incorporação de gratificação ao salário-base, que beneficia aposentados, mas tem impacto quase nulo para servidores ativos.
Em 29 de abril, mais de 200 pessoas, a maioria professores, ficaram feridas após ação da Polícia Militar (PM), a mando do governador Beto Richa, para dispersar os manifestantes que protestavam contra um projeto de lei que altera a Previdência no Paraná. O Brasil de Fato reuniu uma série de matérias e análises sobre o caso que completam um mês, nesta sexta-feira.
Movimento contra a terceirização e salário indigno
Em Porto Alegre, o Centro dos Professores do Rio Grande do Sul estão em greve desde ontem. Em São Leopoldo, vão dormir na Secretaria de Educação.
O Centro informou que o governador Sartori, além de não conceder os reajustes exigidos, pretende agora enviar projetos que alteram e retiram direitos, como licença-prêmio, fim da incorporação de função gratificada na aposentadoria, alteração da aposentadoria especial e rebaixamento do difícil acesso. “Não publicou a alteração de nível. No orçamento do Estado não tem recursos para reajuste salarial e prevê para 2016 apenas 3%. Não paga o PISO.
O governo Dilma da “Pátria Educadora”, novamente retirou bilhões da educação e junto com o congresso de picaretas, aprovam as MPs 664 e 665 e o PL 4330 das terceirizações que retiram direitos históricos dos trabalhadores.
Não somos responsáveis pela má gestão dos governos”.
Em 30 anos, a partir de 1979, os professores estaduais mineiros fizeram 15 greves, somando 640 dias parados na luta por salários menos injustos. Não faltou empenho dos trabalhadores no ensino público, mas os resultados foram pífios. Minas continuou sendo um dos Estados que pagavam salários mais baixos a seus professores. Em 2010, ocupava o 18º lugar, embora fosse o terceiro Estado em arrecadação de tributos e em Produto Interno Bruto (PIB), no Brasil.
Foi preciso o PT assumir o poder para que o Sindicato Único dos Trabalhadores no Ensino de Minas Gerais visse luz no fim do túnel. Conforme ESTE artigo assinado pela coordenadora-geral, Beatriz Cerqueira, o Sind-UTE MG só via trevas, até assinar um acordo com o governo Fernando Pimentel.
“E o que assinamos no dia 15 de maio não foi por bondade de governo, foi resultado de anos de luta”, escreveu Beatriz Cerqueira. “E continuamos mobilizados! Este documento foi o começo da recuperação do que perdemos na última década. Aqui em Minas a pauta da educação se transformou na pauta dos movimentos sociais! Não lutamos sozinhos. E isso causa ainda mais medo na casa grande!”, conclui.
Entre outras conquistas, o acordo prevê o pagamento do Piso Salarial Profissional Nacional aos professores para uma carga horária de 24 horas semanais. Ao longo de dois anos, será concedido reajuste de 31,78% na carreira do Professor de Educação Básica, ficando assegurado o pagamento daquele piso salarial. O reajuste será feito em três parcelas, durante dois anos, e o valor ficará incorporado ao salário, para fins de aposentadoria.
A primeira das três parcelas, a ser paga a partir do próximo mês de junho, é de apenas R$ 190, o que corresponde a um aumento de 13,06% para o Professor de Educação Básica. O que dá bem a ideia de quanto ganha pouco esse professor. E explica porque minha irmã mais velha, a Maria Afonsa, quando se aposentou como professora num grupo escolar da cidade onde morava (Bom Despacho), passou a costurar camisas em casa, para vender.
Ela teria ficado feliz, se não tivesse morrido antes desse generoso aumento salarial, por tantos anos esperado. “Conquistamos as mesmas condições para trabalhadores e aposentados”, disse Beatriz Cerqueira, ao comentar o acordo na assembleia dos professores. E prosseguiu:
“Nós acabamos com o subsídio como forma de remuneração, mantivemos os níveis de percentuais da carreira, de promoção e progressão, conquistamos a garantia de reajustes anuais para todas as carreiras, não apenas os profissionais de magistério, 60 mil novas nomeações de concurso público, aprovação de perícia médica para aposentadoria de trabalhadores da lei 100, ou para os que estão em ajustamento funcional.”
O acordo foi elogiado por políticos petistas, como o deputado estadual Rogério Correia, que fez questão de comparar com episódios recentes envolvendo governos tucanos: “É importante ressaltar a diferença do que está acontecendo, no Paraná, com professores espancados, pela PM, a mando do governo do PSDB, a greve que já dura 60 dias em São Paulo, a greve no Pará e em Goiás, com exemplos que não devem ser seguidos”, enfatizou ele em sua página na Internet.
Depende ainda dos deputados estaduais mineiros transformar em lei o acordo, para que ele passe a vigorar. O governo prometeu enviá-lo à Assembleia Legislativa para apreciação em regime de urgência. Rogério Correia é líder do Bloco do Governo e espera a aprovação da proposta já no início de junho. Como Pimentel tem folgada maioria na Assembleia, é possível que Minas, finalmente, passe a ocupar um lugar menos vergonhoso no ranking estadual dos salários dos professores. Décimo oitavo lugar, nunca mais!
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Salário dos professores
São Paulo paga pior, por exemplo, que Nairobi (Quênia), Lima (Peru), Mumbai (Índia) e Cairo (Egito). Em praticamente toda a Europa, nos Estados Unidos e no Japão, os salários são pelo menos cinco vezes superiores aos do professor do Ensino Fundamental em São Paulo.