Nova lei determina que não existe deputado ladrão

Deputados ficha suja votam lei para não ser chamados de bandido. Talvez seja possível usar a classificação racista: no máximo praticam crime de colarinho (de) branco. É o velho ditado: quem rouba um milhão, barão.

Que rouba um tostão, ladrão. Veja quanto é exemplar este caso:

Faxineira é presa pela Polícia Federal por comer chocolate sem pedir

Agostinho Cascardo, delegado da PF, prende faxineira que comeu chocolate que estava em sua mesa. Em entrevista, a mulher disse que não imaginou que o delegado fizesse tanta questão por um bombom. Internautas indignados (e bem humorados) iniciaram campanha para arrecadar chocolates ao delegado. A campanha ficou conhecida como Operação Sonho de Valsa

O delegado da PF Agostinho Cascardo (foto) prendeu uma faxineira por causa de um chocolate
O delegado da PF Agostinho Cascardo (foto) prendeu uma faxineira por causa de um chocolate

Pragmatismo Político/ Agência Estado – A faxineira E.R.S., de 32 anos, foi detida pela Polícia Federal de Roraima acusada do furto qualificado de um chocolate que estava na mesa do delegado-corregedor Agostinho Cascardo. Ela retirou o bombom de uma caixa e comeu. Após sentir a falta do produto, o delegado analisou as câmeras de segurança da sala e a fez pegar a embalagem do chocolate na lata do lixo, para servir como “prova do crime”.

A acusada trabalhava para uma empresa terceirizada que presta serviço à Polícia Federal e foi demitida por justa causa por “quebra de confiança”.

O caso aconteceu na quinta-feira (30), mas só foi divulgado nesta terça (6), ganhando de imediato repercussão em redes sociais.

Os internautas de Roraima iniciaram uma campanha para arrecadar chocolates e doar ao delegado. A campanha ficou conhecida como Operação Sonho de Valsa.

Em entrevista a veículos de comunicação de Roraima, a faxineira, que tem quatro filhos menores de idade, admitiu ter comido o chocolate, mas disse que não imaginou que o delegado fizesse tanta questão de apenas um dos bombons.

Ela prestou depoimento por quase uma hora e assinou a “notícia-crime” se dizendo constrangida e envergonhada.

Segundo a assessoria de comunicação da Polícia Federal, o caso foi encaminhado para Brasília e a instituição não vai se posicionar sobre o assunto. Ainda conforme a assessoria, não houve prisão em flagrante e foi pedido arquivamento do caso ao Ministério Público Federal pelo “valor irrisório” do crime. A comunicação da PF confirmou que foi feita uma notícia-crime e que a demissão da mulher aconteceu por justa causa.

O Ministério Público Federal em Roraima ainda não recebeu os autos do procedimento e disse que “tão logo tome conhecimento formal dos fatos, analisará o caso em todos os seus aspectos”.

Em nota, a Diretoria Regional da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal em Roraima (ADPF-RR) negou que tivesse sido instaurado inquérito policial ou que tivesse sido feito autuação de flagrante ou de qualquer procedimento investigatório de natureza criminal.

“Na ocasião, simplesmente se observou os protocolos e as normas internas do Departamento de Polícia Federal ao promover o registro de ocorrência, cujo conhecimento foi dado à empresa prestadora de serviços terceirizados contratada pela Superintendência Regional no Estado”.

Quando o pobre rouba a imprensa, a polícia, a justiça usam os seguintes termos: pechelingue, ladravaz, ladravão, furtador, capoeiro, agadanhador, agafanhador, escamoteador, abafador, lapim, lapinante, ventanista, roubador, rapinador, pilhante, pandilheiro, mão-leve, malandrim, malandréu, rato, ladro, larápio, bandido, gatuno, rapace, rapinante, pilha, ratoneiro, malandro.

Cadeia é feita para preto. Que temos uma polícia PPV, e uma justiça também PPV. Os presídios brasileiros têm cor.

presos18

Fotos do blogue de Humberto Oliveira
Fotos do blogue de Humberto Oliveira

Também fica proibido classificar de corrupto um deputado que desvia verbas da saúde, roubando o futuros de milhões de crianças e jovens, e da saúde, apressando a morte de quem procura os hospitais e postos de saúde, sem médicos, enfermeiros, medicamentos etc.

Corrupto tem os seguintes sinônimos: putrefato, podre, devasso, pervertido, depravado, venal, viciado, sórdido, imoral, perverso.

A justiça eleitoral limpa as fichas sujas e a imprensa lava os nomes
Eneko
Eneko

TV Brasil – A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou, na tarde de ontem, o projeto de lei 215/2015, que garante o “direito ao esquecimento” no Brasil. Mas aqui a ideia é um pouco diferente daquela que vigora na Europa.

A ideia é que os cidadãos tenham poder para fazer sumir todo o conteúdo disponível na internet que os associem a fatos caluniosos, difamatórios, injuriosos ou a algum crime de que tenham sido absolvidos sem chances de recurso.

Embora pareça positiva, a iniciativa ultrapassa alguns limites aplicados na legislação europeia. Isso porque no Brasil os deputados querem que as informações simplesmente desapareçam, enquanto que na Europa a lei só obriga buscadores a desindexar esses materiais. Além disso, lá o direito ao esquecimento não se aplica a pessoas públicas, mas aqui, sim.

bombom

Segundo a Folha de S.Paulo, o projeto tem patrocínio do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que acelerou a tramitação para que o texto sequer precisasse passar por comissões de mérito – ou seja, nem os deputados responsáveis por avaliar projetos sobre ciência e tecnologia foram consultados.

O Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional divulgou parecer contra a ideia, que precisa ser aprovada em plenário para ser enviada ao Senado, onde teria de passar por comissões de mérito, pelo CCJ da Casa e, só depois, pelo plenário. Mas já no plenário da Câmara haverá enfrentamento de deputados contrários, segundo a Folha.

Josetxo Ezcurra
Josetxo Ezcurra

Os pobres que a direita quer

por João Teixeira Lopes

 

Um estudo da economista Cláudia Joaquim mostra bem o uso que a Direita faz do Estado. Inserido no Programa de Emergência Social (PES), o Governo [de Portugal] aumentou consideravelmente a verba para refeições nas cantinas sociais, ao mesmo tempo que diminuiu as transferências sociais e os salários.

 

 

 Anne Derenne
Anne Derenne

Mas, perguntará o leitor, não é importante, em momento de urgência social, matar a fome às pessoas? A resposta não passa por negar essa necessidade, mas deve fazer perguntas a montante: não é muito mais justo e racional evitar a intensa produção de pobres que estas políticas de austeridade têm causado, nomeadamente ao aumentarem o desemprego, ao reduzirem o universo de abrangidos pelo rendimento social de inserção e abono de família que, mesmo sem serem medidas particularmente audazes, tiveram pelo menos o mérito de minorar a intensidade da pobreza? Não seria mais justo e racional acabar com os trabalhadores pobres, isto é, as centenas de milhar de pessoas que recebem um salário tão baixo que não conseguem superar o limiar de pobreza (411 euros)?

Mas a Direita deseja controlar os pobres, domesticá-los, dividi-los entre os “bons pobres” (“os nossos”, os “assistidos”, os “utentes”) e os outros (os “perigosos”, “mandriões, “viciosos”). Ao mesmo tempo, pela ação de proximidade, permite que as instituições privadas de solidariedade social exerçam um domínio clientelar e de contenção da raiva e da miséria extrema, contendo possíveis conflitos e impondo “boas maneiras”. Esta pobreza mansa é o sonho da Direita: sem Estado Social, o Estado não deixará, por mãos alheias, de matar a fome, como quem presta um favor que será cobrado, mas sem nunca permitir que deixem de ser pobres.

Sérgio Aires, sociólogo da rede europeia anti pobreza, chama-lhe a “misericordização” da protecção social: misericórdia para os pobres assistidos por misericórdias; nenhuma redistribuição, zero solidariedade.

 

João Teixeira Lopes, dirigente do Bloco de Esquerda, sociólogo, professor universitário

 

Os grandes temas tabus esquecidos do debate

Por medo de perder votos, Dilma e Aécio ignoram temas importantes para os eleitores

 

dilma aécio

 

por Juan Arias/ El País/ Espanha

O penúltimo debate entre os candidatos presidenciais, Dilma Rousseff e Aécio Neves, no qual se sentia no ar o medo de ambos de cair de novo nas cenas de boxe vistas no encontro anterior, ocorreu sem grandes destaques, quase como um decalque dos primeiros embates deste segundo turno, com temas já abordados e, de novo, deixando no esquecimento assuntos fundamentais, como por exemplo, os referentes à sexualidade, ao meio ambiente e ao racismo que atinge os brasileiros negros e mulatos.

[Um debate visa desmascarar os santos de pau oco, os príncipes encantados, os falsos salvadores da pátria, os demagogos amigos do povo, criados pela propaganda política que lava mais branco, que pede para votar no melhor. Quando quem tem uma vida suja não deve ser candidato.

Propostas são promessas. A garantia de que promessa é dívida para ser, realmente, paga, depende do passado de quem faz. Daí a necessidade do eleitor conhecer a vida de quem lhe deve, de quem lhe dá esperanças, oferece probabilidades de um futuro melhor]

Já às vésperas da votação, os temas tabu, dos quais os dois candidatos fogem como o diabo da cruz, continuam sendo os grandes ausentes, como se eles não interessassem aos cidadãos ou por temor dos candidatos de perder votos ao se comprometerem com essas questões.

Dilma e Aécio mantiveram silêncio, por exemplo, em relação ao aborto, que segue matando milhares de mulheres, geralmente as mais pobres e vulneráveis. É um assunto que os assusta, assim como as questões relativas aos direitos dos homossexuais, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a possibilidade de adotarem crianças. Ou a homofobia, que continua provocando mortes a cada dia, frutos da intolerância e do preconceito. Esse medo tem um nome: o terror de perder os votos dos milhões de evangélicos.

E com os assuntos relativos à sexualidade, os candidatos também ficaram gravemente calados em relação à proteção da Amazônia, que permanece sendo sacrificada e que representa uma das maiores riquezas ecológicas do planeta, um orgulho dos brasileiros.

Esqueceram-se do meio ambiente [a seca de São Paulo] e das energias alternativas, que hoje são assuntos universais e importantíssimos. Como é possível que Marina Silva, que deu seu apoio a Aécio, não tenha pedido a ele para colocar a defesa da Amazônia como prioridade no debate?

[Que a Amazonia é do Brasil]

E o racismo perpetrado diariamente contra os brasileiros negros e mulatos, que são maioria no país mas continuam como os grandes excluídos da sociedade?

E o problema da desigualdade social? Será que os candidatos não lamentam ou não se preocupam com o fato de o Brasil, rico em quase tudo, continuar apresentando um dos maiores índices de desigualdade entre os países em desenvolvimento?

[Exemplo: a reforma agrária]

Entre as bandeiras do medo levantadas nesta campanha sempre esteve presente a comparação entre o PT que se interessaria pelos pobres e o PSDB que preferiria os ricos. Mas será que nenhum dos candidatos considerou importante explicar por que, apesar de tantos avanços sociais, o Brasil mantém esse abismo perverso da desigualdade, que vai desde a riqueza, que continua acumulada por poucos, às oportunidades para todos abrirem um caminho na vida?

Por que ninguém fala em taxar as grandes fortunas, de acabar com essa injustiça de que os ricos paguem, por exemplo, o mesmo coeficiente de impostos que a castigada classe média? E essas diferenças gritantes de salários entre os políticos e os professores, para citar um exemplo? A reforma política, mãe de tantas corrupções, com essa loucura de dezenas de partidos sem ideologia e a falta de credibilidade dos cidadãos nos políticos, foi outra das grandes ausentes do debate.

[Por ninguém fala nos sem terra, nos sem teto?]

E por fim, a política externa, um assunto que pode não trazer votos, pois a maioria dos cidadãos não o vê como uma urgência para sua vida cotidiana, tampouco mereceu uma só menção.

Curiosamente, no entanto, Neves foi bastante aplaudido quando mencionou a predileção que o Governo Rousseff tem tido com os países mais ditatoriais da América Latina.

[Esta é uma referência implícita ao Uruguai, Argentina, Bolívia, Venezuela, países que realizaram eleições diretas para presidente e, coisa que o Brasil não faz, ouviram a voz do povo em plebiscitos e referendos] 

De fato, é fundamental para um país da importância geopolítica do Brasil saber como quer se posicionar no cenário internacional, quem serão seus parceiros, com quem prefere negociar política e economicamente.

[O medo do Mercosul, do BRICS; e a defesa do FMI, da dolarização, do Brasil quintal, eterna colônia]

Trata-se justamente de um assunto que poderia claramente diferenciar ambos os candidatos. Por que Aécio não explicou como pretende mudar a tão criticada política externa do país?

[A política de Aécio é a mesma de Fernando Henrique, privatista e entreguista, tendo Armínio Fraga como ministro da Economia]

Os brasileiros têm o direito de saber com quem o país deseja jogar em um futuro próximo.

[Temas como nacionalismo, patriotismo e brasilidade permanecem esquecidos.  E para combater a corrupção e os privilégios das elites: as reformas do judiciário, do legislativo, do executivo.

As reformas de base, que motivaram o golpe de 64, continuam banidas do cenário político]

Falta apenas um debate antes do pleito. Se esses assuntos até agora tabus permanecerem como os grandes ausentes, pelo medo dos candidatos de perder votos, os brasileiros poderão ir às urnas votando às cegas e no vazio.

 

[Os comentários entre colchetes são do editor deste blogue]

 

 

Encruzilhada eleitoral

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)

Na medida em que se entra na reta final para as eleições 2014, a propaganda avança e as pesquisas impactam. O cidadão se vê numa encruzilhada eleitoral. Um enorme desafio à cidadania. Não basta apenas escolher um nome. O alcance da responsabilidade e das consequências do voto não permitem atitude simplória, sob pena do alto custo de decisões inadequadas sobre o executivo e a representatividade. Uma gama enorme de fatores interfere na consolidação dessa esperada postura cidadã, obviamente na contramão da inadmissível proposta do voto nulo ou do não comparecimento às urnas. Eleições garantem o exercício nobre da cidadania. Por isso mesmo, supõem e exigem preparação individual muito mais elaborada. Um espinhoso processo de discernimento pela articulação e confronto desta gama de fatores que perpassam o emocional, as razões ideológicas – necessariamente presentes no embate eleitoral – e os interesses econômicos, atingindo um horizonte político de maior elaboração e clarividência. Fácil não é.

Quel idéias em crise OAB plebiscito

Escolher apenas por simpatia, sob impulso, é um tremendo risco. É indispensável analisar programas e propostas das coligações partidárias e ponderar elementos, especialmente aqueles de inegociável sensibilidade social, num momento em que o pobre e o excluído precisam ter prioridade de tratamento e destinações. Também não se pode dispensar o compromisso dos que têm competência para gerar e garantir dinâmicas de crescimento econômico e a consequente inclusão social. Trata-se de um exercício político que inclui atividade de conhecimento e disposição para debates e confrontos, nas rodas familiares, de amizade e profissionais, em exigente processo de discernimento. Agora é hora de buscar indispensável avanço na sociedade.

Os vícios da política brasileira e suas mediocridades não justificam a falta de envolvimento e empenho por parte dos cidadãos. Aliás, a construção do novo, em política e em cenários de igualdade social, é processo complexo que supõe um passo a passo até que se possa alcançar a meta, responsabilidade de todos, de uma sociedade mais civilizada e amadurecida no exercício e no tratamento de sua cidadania. Basta pensar a amplitude de reformas que precisam ocorrer para que um cenário novo se desenhe, superando o modo obsoleto de se fazer política no Brasil.

Sabe-se que sem reformas política, tributária, fiscal e outras não se avançará para além de discursos repetitivos, estéreis, e de promessas que caem no descrédito. Neste “passo a passo” para que as reformas aconteçam, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outras 400 entidades continuam, nesta Semana da Pátria, a investir no Projeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política. Ao oferecer critérios adequados para avaliar a qualidade dos candidatos ao Executivo e, sobretudo, ao Legislativo, esta proposta impactará a realidade política do Brasil. Não custa nada contribuir com sua assinatura e buscar outras, entre amigos e familiares. Só assim, será possível se chegar ao número exigido de adesões para que o projeto da Reforma Política passe a tramitar no Congresso Nacional. Um desafio à hombridade dos eleitos e à coragem de olharem para além dos interesses cartoriais e particulares.

Este Projeto de Lei, nos seus quatro importantes itens, terá força para modificar o atual quadro político do Brasil. Por meio dele, será possível afastar o poder econômico das eleições, com a proibição do financiamento de campanhas eleitorais por empresas; cobrar coerência de candidatos e partidos com a eleição em dois turnos – o primeiro para a escolha de um programa e o segundo para a escolha das pessoas que ocuparão os cargos políticos. Não se pode simplesmente, como acontece na realidade brasileira, depositar tudo nas mãos de algumas pessoas para que governem e legislem a partir de interesses próprios, de trocas e de pagamento de favores. A Reforma Política cobrará, ainda, a urgência inteligente de aumentar a participação das mulheres. Embora constituam 58% do eleitorado, apenas 8% delas desempenham funções políticas. É enorme a perda da contribuição feminina neste setor, em vista de sua qualificação comprovada em outras áreas.

É precioso ainda, como quarto ponto da proposta de Reforma Política, ampliar a participação do povo nas principais decisões, por meio da regulamentação de Plebiscito, Referendo Popular e Projeto de Lei de Iniciativa Popular, mesclando a democracia representativa com a democracia participativa. O não atendimento a esta urgência resultará em continuar a manter o povo – verdadeiro dono do poder – submisso a essa representatividade que não o representa. Refém de dirigentes que não atendem suas necessidades básicas e de direito, gerando quadros na contramão da justiça social.

Neste mesmo ato de coleta de assinaturas pela Reforma Política, como celebração digna da Semana da Pátria, se faz o recolhimento de votos por uma Assembleia Nacional Constituinte para mudar o sistema político no Brasil. O caráter popular deste plebiscito é um exercício importante de cidadania e com impacto nas instâncias governamentais para que convoquem um plebiscito oficial. O discernimento neste momento eleitoral e o gesto cidadão de participar desta coleta de assinaturas ajudarão a desenhar um novo cenário para que não seja tão nebulosa, como está agora, desafiando a todos, com riscos muito sérios, a atual encruzilhada eleitoral.

Gianfranco
Gianfranco

Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: «sendo rico, Se fez pobre por vós»

Mensagem do Papa para a Quaresma

 

Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9)


Queridos irmãos e irmãs!
Por ocasião da Quaresma, ofereço-vos algumas reflexões com a esperança de que possam servir para o caminho pessoal e comunitário de conversão. Como motivo inspirador tomei a seguinte frase de São Paulo: «Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza» (2 Cor 8, 9). O Apóstolo escreve aos cristãos de Corinto encorajando-os a serem generosos na ajuda aos fiéis de Jerusalém que passam necessidade. A nós, cristãos de hoje, que nos dizem estas palavras de São Paulo? Que nos diz, hoje, a nós, o convite à pobreza, a uma vida pobre em sentido evangélico?
A graça de Cristo
Tais palavras dizem-nos, antes de mais nada, qual é o estilo de Deus. Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: «sendo rico, Se fez pobre por vós». Cristo, o Filho eterno de Deus, igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre; desceu ao nosso meio, aproximou-Se de cada um de nós; despojou-Se, «esvaziou-Se», para Se tornar em tudo semelhante a nós (cf. Fil 2, 7; Heb 4, 15). A encarnação de Deus é um grande mistério. Mas, a razão de tudo isso é o amor divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas criaturas. A caridade, o amor é partilhar, em tudo, a sorte do amado. O amor torna semelhante, cria igualdade, abate os muros e as distâncias. Foi o que Deus fez connosco. Na realidade, Jesus «trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado» (CONC. ECUM. VAT. II, Const. past. Gaudium et spes, 22).
A finalidade de Jesus Se fazer pobre não foi a pobreza em si mesma, mas – como diz São Paulo – «para vos enriquecer com a sua pobreza». Não se trata dum jogo de palavras, duma frase sensacional. Pelo contrário, é uma síntese da lógica de Deus: a lógica do amor, a lógica da Encarnação e da Cruz. Deus não fez cair do alto a salvação sobre nós, como a esmola de quem dá parte do próprio supérfluo com piedade filantrópica. Não é assim o amor de Cristo! Quando Jesus desce às águas do Jordão e pede a João Baptista para O baptizar, não o faz porque tem necessidade de penitência, de conversão; mas fá-lo para se colocar no meio do povo necessitado de perdão, no meio de nós pecadores, e carregar sobre Si o peso dos nossos pecados. Este foi o caminho que Ele escolheu para nos consolar, salvar, libertar da nossa miséria. Faz impressão ouvir o Apóstolo dizer que fomos libertados, não por meio da riqueza de Cristo, mas por meio da sua pobreza. E todavia São Paulo conhece bem a «insondável riqueza de Cristo» (Ef 3, 8), «herdeiro de todas as coisas» (Heb 1, 2).
Em que consiste então esta pobreza com a qual Jesus nos liberta e torna ricos? É precisamente o seu modo de nos amar, o seu aproximar-Se de nós como fez o Bom Samaritano com o homem abandonado meio morto na berma da estrada (cf. Lc 10, 25-37). Aquilo que nos dá verdadeira liberdade, verdadeira salvação e verdadeira felicidade é o seu amor de compaixão, de ternura e de partilha. A pobreza de Cristo, que nos enriquece, é Ele fazer-Se carne, tomar sobre Si as nossas fraquezas, os nossos pecados, comunicando-nos a misericórdia infinita de Deus. A pobreza de Cristo é a maior riqueza: Jesus é rico de confiança ilimitada em Deus Pai, confiando-Se a Ele em todo o momento, procurando sempre e apenas a sua vontade e a sua glória. É rico como o é uma criança que se sente amada e ama os seus pais, não duvidando um momento sequer do seu amor e da sua ternura. A riqueza de Jesus é Ele ser o Filho: a sua relação única com o Pai é a prerrogativa soberana deste Messias pobre. Quando Jesus nos convida a tomar sobre nós o seu «jugo suave» (cf. Mt 11, 30), convida-nos a enriquecer-nos com esta sua «rica pobreza» e «pobre riqueza», a partilhar com Ele o seu Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão Primogénito (cf. Rm 8, 29).
Foi dito que a única verdadeira tristeza é não ser santos (Léon Bloy); poder-se-ia dizer também que só há uma verdadeira miséria: é não viver como filhos de Deus e irmãos de Cristo.
O nosso testemunho
Poderíamos pensar que este «caminho» da pobreza fora o de Jesus, mas não o nosso: nós, que viemos depois d’Ele, podemos salvar o mundo com meios humanos adequados. Isto não é verdade. Em cada época e lugar, Deus continua a salvar os homens e o mundo por meio da pobreza de Cristo, que Se faz pobre nos Sacramentos, na Palavra e na sua Igreja, que é um povo de pobres. A riqueza de Deus não pode passar através da nossa riqueza, mas sempre e apenas através da nossa pobreza, pessoal e comunitária, animada pelo Espírito de Cristo.
À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha.
Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspectivas de futuro, perderam a esperança! E quantas pessoas se vêem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de ruína económica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos auto-suficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus.
O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a miséria espiritual: o cristão é chamado a levar a todo o ambiente o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos ama gratuitamente e sempre, e de que estamos feitos para a comunhão e a vida eterna. O Senhor convida-nos a sermos jubilosos anunciadores desta mensagem de misericórdia e esperança. É bom experimentar a alegria de difundir esta boa nova, partilhar o tesouro que nos foi confiado para consolar os corações dilacerados e dar esperança a tantos irmãos e irmãs imersos na escuridão. Trata-se de seguir e imitar Jesus, que foi ao encontro dos pobres e dos pecadores como o pastor à procura da ovelha perdida, e fê-lo cheio de amor. Unidos a Ele, podemos corajosamente abrir novas vias de evangelização e promoção humana.
Queridos irmãos e irmãs, possa este tempo de Quaresma encontrar a Igreja inteira pronta e solícita para testemunhar, a quantos vivem na miséria material, moral e espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio do amor do Pai misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda a pessoa. E poderemos fazê-lo na medida em que estivermos configurados com Cristo, que Se fez pobre e nos enriqueceu com a sua pobreza. A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói.
Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser «tidos por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo» (2 Cor 6, 10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia. Com estes votos, asseguro a minha oração para que cada crente e cada comunidade eclesial percorra frutuosamente o itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!
Vaticano, 26 de Dezembro de 2013 Festa de Santo Estêvão, diácono e protomártir
Francisco

Papa Francisco: Ao serviço dos novos escravos

Mensagem à ordem da Santissíma Trindade

 

O convite a «nunca deixar de imitar Cristo» no serviço aos pobres e aos escravos do nosso tempo foi dirigido pelo Papa aos membros da ordem da Santíssima Trindade numa carta ao ministro-geral, Irmão José Narlaly, por ocasião do oitavo centenário da morte do fundador, João da Matha e dos quatrocentos anos da morte de são João Baptista da Conceição, reformador da Ordem. «Ao unir-me ao vosso cântico de louvor à Santíssima Trindade por estes grandes santos – escreveu o Papa – desejo pedir-vos, seguindo o seu exemplo, que nunca deixeis de imitar Cristo e, com a força do Espírito Santo, de vos dedicardes com humildade ao serviço do pobre e do escravo. Hoje há muitos. Vemo-los todos os dias e não podemos ir além, contentando-nos com uma boa palavra».

 

PAPA É CHAMADO DE MARXISTA APÓS LANÇAR DOCUMENTO CONTRA A TIRANIA DO CAPITALISMO

PALAVRAS ENLOUQUECIDAS

As «palavras cristãs» sem a presença de Cristo são como enlouquecidas, sem sentido e enganadoras que acabam no orgulho e no «poder pelo poder». Foi um convite a um «exame de consciência» sobre a coerência entre o dizer e o fazer que o Papa Francisco propôs na missa celebrada na manhã de 5 de Dezembro na capela da Casa de Santa Marta.

Inspirando-se na liturgia hodierna, o Pontífice recordou que «muitas vezes o Senhor falou desta atitude», a de conhecer a Palavra sem a pôr em prática. Como diz o Evangelho, Jesus «repreendia também os fariseus» que «conheciam tudo, mas não o faziam». E dizia ao povo: «fazei o que eles dizem mas não o que eles fazem, porque não fazem o que dizem!». É a questão das palavras «separadas da prática», palavras que ao contrário devem ser vividas. No entanto «estas palavras são boas» advertiu o Papa «são palavras bonitas». Por exemplo, «também os Mandamentos e as bem-aventuranças» fazem parte destas «palavras boas» e também «muitas coisas que Jesus disse. Não as podemos repetir mas se não nos leva à vida não só não servem mas fazem mal, enganam-nos, fazem-nos crer que temos uma linda casa, mas sem alicerces».

No tercho evangélico de Mateus (7, 21.24-27), prosseguiu o Papa, o Senhor diz que precisamente aquele «que escuta a Palavra e a põe em prática será semelhante ao homem sábio que construiu a casa sobre a rocha». Trata-se enfim, explicou, de «uma equação matemática: conheço a Palavra – ponho-a em prática – edifiquei-me sobre a rocha». A questão essencial, contudo, frisou o Santo padre, é «de que modo a ponho em prática?». E evidenciou que «consiste precisamente nisto a mensagem de Jesus: pô-la em prática como se constrói uma casa sobre a rocha». E «esta figura da rocha refere-se ao Senhor».

A este propósito o Papa Francisco evocou o profeta Isaías que, na primeira leitura (26, 1-6), diz: «Confiai no Senhor sempre porque Ele é uma rocha eterna». Portanto, explicou o Pontífice, «a rocha é Jesus Cristo, a rocha é o Senhor. Uma palavra é forte, dá vida, pode ir em frente, pode suportar todos os ataques se tiver as suas raízes em Jesus Cristo». Ao contrário, «uma palavra cristã que não tem as suas raízes vitais, na vida de uma pessoa, em Jesus Cristo, é uma palavra cristã sem Cristo. E as palavras cristãs sem Cristo enganam, fazem mal».

Depois o Papa recordou o escritor inglês Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) que «falando sobre as heresias» disse «que uma heresia é uma verdade, uma palavra, uma verdade que enlouqueceu». É um facto, evidenciou o Pontífice, que «quando as palavras cristãs são sem Cristo começam a empreender o caminho da loucura». Isaías, prosseguiu, «é claro e indica-nos qual é esta loucura». De facto, lê-se no trecho bíblico: «O Senhor é uma rocha eterna, porque ele abateu quantos habitavam no alto, inverteu a cidade excelsa». Sim «quantos habitavam no alto. Uma palavra cristã sem Cristo – acrescentou o Pontífice – leva-nos à vaidade, à segurança de nós mesmos, ao orgulho, ao poder pelo poder. E o Senhor abate estas pessoas».

Esta verdade, explicou, «é uma constante na história da salvação. Diz Ana, a mãe de Samuel; e Maria no Magnificat: o Senhor abate a vaidade, o orgulho daquelas pessoas que acreditam que são rocha». São «pessoas que só seguem uma palavra, sem Jesus Cristo». Fazem própria uma palavra que é cristã «mas sem Jesus Cristo: sem a relação com Jesus Cristo; sem a oração com Jesus Cristo; sem o serviço a Jesus Cristo; sem o amor a Jesus Cristo».

Para o Papa Francisco «o que o Senhor nos diz hoje» é um convite a «construir a nossa vida sobre esta rocha. E a rocha é Ele. Paulo diz-nos explicitamente – frisou – quando se refere àquele momento no qual Moisés bateu na rocha com o bastão. E diz: a rocha era Cristo. Cristo é a rocha». Esta meditação exige, sugeriu o Pontífice, «um exame de consciência» que «nos fará bem». Um «exame de consciência» que podemos fazer respondendo a uma série de perguntas essenciais. O próprio Papa as explicitou: «Mas como são as nossas palavras? São palavras suficientes em si mesmas? São palavras que se consideram poderosas? São palavras que pensam que nos dão a salvação? São palavras com Jesus Cristo? É sempre Jesus Cristo quando dizemos uma palavra cristã?». O Pontífice quis frisar de novo que se refere expressamente «às palavras cristãs. Porque quando não há Jesus Cristo – disse – também isto nos divide entre nós e provoca a divisão na Igreja».

O Papa Francisco concluiu a homilia pedindo «ao Senhor a graça de nos ajudar nesta humildade que devemos ter: dizer sempre palavras cristãs em Jesus Cristo, não sem Jesus Cristo». E pediu ao Senhor que nos ajude também «nesta humildade a ser discípulos, salvos, a ir em frente não com palavras que, pensando que somos poderosos, acabam na loucura da vaidade e do orgulho». Que «o Senhor – concluiu – nos dê esta graça da humildade de dizer palavras com Jesus Cristo. Fundadas em Jesus Cristo».


Nota do redator do blogue: A imprensa capitalista brasileira vem censurando o Papa Francisco. Dá muito mais destaque para o pastor Feliciano, que acaba de condenar Mandela, no dia da morte do grande líder negro, que condenou o apartheid. Talvez Feliciano também não aprove as palavras do Pastor Martin Luther King Jr que, em 1968 organizou uma campanha por justiça sócio-econômica, contra a pobreza (a “Campanha dos Pobres”), que tinha por objetivo principal garantir ajuda para as comunidades mais pobres dos Estados Unidos.

Que campanha pelos pobres realizam os que acusam o Papa Francisco de comunista?

UMA IGREJA PARA OS POBRES OU PARA OS RICOS?

Reuters/ Postado por Philip Pullella

foice cruz

O papa Francisco, em resposta às críticas de conservadores de que suas ideias econômicas e sociais respingam no comunismo, disse para um jornal italiano neste domingo (15) que não é marxista, mas mesmo marxistas podem ser boas pessoas.

Francisco também negou que pretende nomear uma cardeal feminina, disse que está fazendo um bom progresso para sanear as finanças do Vaticano e confirmou que vai visitar Israel e a Palestina no ano que vem, segundo o La Stampa.

Mês passado, um programa de rádio ancorado por Rush Limbaugh, que tem muitos fãs nos Estados Unidos, criticou o papa por comentários sobre a economia mundial.

Limbaugh, que não é católico, disse que partes do documento eram “marxismo puro saindo da boca de um papa” e sugeriu que alguém escreveu o documento papal por ele. Também acusou o papa de passar dos limites do catolicismo e ser “puramente político”.

Em resposta às acusações, que iniciaram um debate na mídia e nos blogs mês passado, Francisco, membro da ordem dos jesuítas, associada a políticas sociais progressistas, disse que “a ideologia marxista é errada, mas, na minha vida, conheci muitos marxistas que são boas pessoas, então não me sinto ofendido”.

Ele também foi criticado por outros conservadores. No documento do mês passado, considerado uma plataforma do seu papado, Francisco atacou o capitalismo como “uma nova tirania” e disse que “a economia de exclusão e desigualdade” matou pessoas ao redor do mundo.

Na sua resposta aos críticos, Francisco disse que não estava falando como um “técnico, mas de acordo com a doutrina social da Igreja Católica Romana, e isso não o transforma em um marxista”. Ele disse que estava apenas tentando mostrar “um recorte do que estava acontecendo” no mundo.

Em outro documento semana passada, Francisco disse que salários enormes e bônus eram sinstomas de uma economia baseada na ganância e pediu que as nações diminuíssem a desigualdade econômica.

Preocupações conservadoras

Conservadores estão preocupados e decepcionados com pronunciamentos do papa, como quando ele disse que não estava em posição de julgar homossexuais, que são pessoas de bem, sinceramente procurando Deus.

Sobre as especulações de que estaria pensando em nomear uma cardeal feminina ano que vem, disse: “Eu não sei da onde essa ideia saiu. As mulheres na Igreja deveriam ser valorizadas, mas não virarem clérigos”.

Ele disse que as reformas financeiras estão “no caminho certo”, mas ainda não decidiu o que fazer com o Banco do Vaticano, envolto em escândalos nas últimas décadas. No passado, não descartou fechá-lo.

Francisco disse que está “ficando pronto” para visitar a Terra Sagrada ano que vem, no 50° aniversário de quando o papa Paulo VI se tornou o primeiro papa nos tempos modernos a visitar o local.

Ele foi convidado por Israel e pela Autoridade Palestina para fazer uma visita, que deve ser realizada em maio ou junho.

Primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco

livro

 

SOBRE O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ATUAL 

A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos.

Alegria que se renova e comunica

2. O grande risco do mundo actual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado.

Uma mãe de coração aberto

46. A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direcção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direcção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade.

47. A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. Um dos sinais concretos desta abertura é ter, por todo o lado, igrejas com as portas abertas. Assim, se alguém quiser seguir uma moção do Espírito e se aproximar à procura de Deus, não esbarrará com a frieza duma porta fechada. Mas há outras portas que também não se devem fechar: todos podem participar de alguma forma na vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer. Isto vale sobretudo quando se trata daquele sacramento que é a «porta»: o Baptismo. A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos. Estas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia. Muitas vezes agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa.

48. Se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há-de chegar a todos, sem excepção. Mas, a quem deveria privilegiar? Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto aos amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, «àqueles que não têm com que te retribuir» (Lc 14, 14). Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, «os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho», e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!

Alguns desafios do mundo actual

52. A humanidade vive, neste momento, uma viragem histórica, que podemos constatar nos progressos que se verificam em vários campos. São louváveis os sucessos que contribuem para o bem-estar das pessoas, por exemplo, no âmbito da saúde, da educação e da comunicação. Todavia não podemos esquecer que a maior parte dos homens e mulheres do nosso tempo vive o seu dia a dia precariamente, com funestas consequências. Aumentam algumas doenças. O medo e o desespero apoderam-se do coração de inúmeras pessoas, mesmo nos chamados países ricos. A alegria de viver frequentemente se desvanece; crescem a falta de respeito e a violência, a desigualdade social torna-se cada vez mais patente. É preciso lutar para viver, e muitas vezes viver com pouca dignidade. Esta mudança de época foi causada pelos enormes saltos qualitativos, quantitativos, velozes e acumulados que se verificam no progresso científico, nas inovações tecnológicas e nas suas rápidas aplicações em diversos âmbitos da natureza e da vida. Estamos na era do conhecimento e da informação, fonte de novas formas dum poder muitas vezes anónimo.

Não a uma economia da exclusão 

53. Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o facto de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população vêem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável», que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenómeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados», mas resíduos, «sobras».

54. Neste contexto, alguns defendem ainda as teorias da «recaída favorável» que pressupõem que todo o crescimento económico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos factos, exprime uma confiança vaga e ingénua na bondade daqueles que detêm o poder económico e nos mecanismos sacralizados do sistema económico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar. Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espectáculo que não nos incomoda de forma alguma.

Não à nova idolatria do dinheiro

55. Uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades. A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criámos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32, 1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura duma economia sem rosto e sem um objectivo verdadeiramente humano. A crise mundial, que investe as finanças e a economia, põe a descoberto os seus próprios desequilíbrios e sobretudo a grave carência duma orientação antropológica que reduz o ser humano apenas a uma das suas necessidades: o consumo.

56. Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum. Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respectivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do ter não conhece limites. Neste sistema que tende a fagocitar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta.

Não a um dinheiro que governa em vez de servir

57. Por detrás desta atitude, escondem-se a rejeição da ética e a recusa de Deus. Para a ética, olha-se habitualmente com um certo desprezo sarcástico; é considerada contraproducente, demasiado humana, porque relativiza o dinheiro e o poder. É sentida como uma ameaça, porque condena a manipulação e degradação da pessoa. Em última instância, a ética leva a Deus que espera uma resposta comprometida que está fora das categorias do mercado. Para estas, se absolutizadas, Deus é incontrolável, não manipulável e até mesmo perigoso, na medida em que chama o ser humano à sua plena realização e à independência de qualquer tipo de escravidão. A ética – uma ética não ideologizada – permite criar um equilíbrio e uma ordem social mais humana. Neste sentido, animo os peritos financeiros e os governantes dos vários países a considerarem as palavras dum sábio da antiguidade: «Não fazer os pobres participar dos seus próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. Não são nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos».

58. Uma reforma financeira que tivesse em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos dirigentes políticos, a quem exorto a enfrentar este desafio com determinação e clarividência, sem esquecer naturalmente a especificidade de cada contexto. O dinheiro deve servir, e não governar! O Papa ama a todos, ricos e pobres, mas tem a obrigação, em nome de Cristo, de lembrar que os ricos devem ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los. Exorto-vos a uma solidariedade desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a uma ética propícia ao ser humano.

Não à desigualdade social que gera violência

59. Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão. Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade. Isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reacção violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e económico é injusto na sua raiz. Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça. Se cada acção tem consequências, um mal embrenhado nas estruturas duma sociedade sempre contém um potencial de dissolução e de morte. É o mal cristalizado nas estruturas sociais injustas, a partir do qual não podemos esperar um futuro melhor. Estamos longe do chamado «fim da história», já que as condições dum desenvolvimento sustentável e pacífico ainda não estão adequadamente implantadas e realizadas.

60. Os mecanismos da economia actual promovem uma exacerbação do consumo, mas sabe-se que o consumismo desenfreado, aliado à desigualdade social, é duplamente daninho para o tecido social. Assim, mais cedo ou mais tarde, a desigualdade social gera uma violência que as corridas armamentistas não resolvem nem poderão resolver jamais. Servem apenas para tentar enganar aqueles que reclamam maior segurança, como se hoje não se soubesse que as armas e a repressão violenta, mais do que dar solução, criam novos e piores conflitos. Alguns comprazem-se simplesmente em culpar, dos próprios males, os pobres e os países pobres, com generalizações indevidas, e pretendem encontrar a solução numa «educação» que os tranquilize e transforme em seres domesticados e inofensivos. Isto torna-se ainda mais irritante, quando os excluídos vêem crescer este câncer social que é a corrupção profundamente radicada em muitos países – nos seus Governos, empresários e instituições – seja qual for a ideologia política dos governantes.

Alguns desafios culturais

61. Evangelizamos também procurando enfrentar os diferentes desafios que se nos podem apresentar. Às vezes, estes manifestam-se em verdadeiros ataques à liberdade religiosa ou em novas situações de perseguição aos cristãos, que, nalguns países, atingiram níveis alarmantes de ódio e violência. Em muitos lugares, trata-se mais de uma generalizada indiferença relativista, relacionada com a desilusão e a crise das ideologias que se verificou como reacção a tudo o que pareça totalitário. Isto não prejudica só a Igreja, mas a vida social em geral. Reconhecemos que, numa cultura onde cada um pretende ser portador duma verdade subjectiva própria, torna-se difícil que os cidadãos queiram inserir-se num projecto comum que vai além dos benefícios e desejos pessoais.

62. Na cultura dominante, ocupa o primeiro lugar aquilo que é exterior, imediato, visível, rápido, superficial, provisório. O real cede o lugar à aparência. Em muitos países, a globalização comportou uma acelerada deterioração das raízes culturais com a invasão de tendências pertencentes a outras culturas, economicamente desenvolvidas mas eticamente debilitadas. Assim se exprimiram, em distintos Sínodos, os Bispos de vários continentes. Há alguns anos, os Bispos da África, por exemplo, retomando a Encíclica Sollicitudo rei socialis, assinalaram que muitas vezes se quer transformar os países africanos em meras «peças de um mecanismo, partes de uma engrenagem gigantesca. Isto verifica-se com frequência também no domínio dos meios de comunicação social, os quais, sendo na sua maior parte geridos por centros situados na parte norte do mundo, nem sempre têm na devida conta as prioridades e os problemas próprios desses países e não respeitam a sua fisionomia cultural». De igual modo, os Bispos da Ásia sublinharam «as influências externas que estão a penetrar nas culturas asiáticas. Vão surgindo formas novas de comportamento resultantes da orientação dos mass-media (…). Em consequência disso, os aspectos negativos dos mass-media e espectáculos estão a ameaçar os valores tradicionais».

Não à guerra entre nós

98. Dentro do povo de Deus e nas diferentes comunidades, quantas guerras! No bairro, no local de trabalho, quantas guerras por invejas e ciúmes, mesmo entre cristãos! O mundanismo espiritual leva alguns cristãos a estar em guerra com outros cristãos que se interpõem na sua busca pelo poder, prestígio, prazer ou segurança económica. Além disso, alguns deixam de viver uma adesão cordial à Igreja por alimentar um espírito de contenda. Mais do que pertencer à Igreja inteira, com a sua rica diversidade, pertencem a este ou àquele grupo que se sente diferente ou especial.

99. O mundo está dilacerado pelas guerras e a violência, ou ferido por um generalizado individualismo que divide os seres humanos e põe-nos uns contra os outros visando o próprio bem-estar. Em vários países, ressurgem conflitos e antigas divisões que se pensavam em parte superados. Aos cristãos de todas as comunidades do mundo, quero pedir-lhes de modo especial um testemunho de comunhão fraterna, que se torne fascinante e resplandecente. Que todos possam admirar como vos preocupais uns pelos outros, como mutuamente vos encorajais animais e ajudais: «Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35). Foi o que Jesus, com uma intensa oração, Jesus pediu ao Pai: «Que todos sejam um só (…) em nós [para que] o mundo creia» (Jo 17, 21). Cuidado com a tentação da inveja! Estamos no mesmo barco e vamos para o mesmo porto! Peçamos a graça de nos alegrarmos com os frutos alheios, que são de todos.

100. Para quantos estão feridos por antigas divisões, resulta difícil aceitar que os exortemos ao perdão e à reconciliação, porque pensam que ignoramos a sua dor ou pretendemos fazer-lhes perder a memória e os ideais. Mas, se virem o testemunho de comunidades autenticamente fraternas e reconciliadas, isso é sempre uma luz que atrai. Por isso me dói muito comprovar como nalgumas comunidades cristãs, e mesmo entre pessoas consagradas, se dá espaço a várias formas de ódio, divisão, calúnia, difamação, vingança, ciúme, a desejos de impor as próprias ideias a todo o custo, e até perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. Quem queremos evangelizar com estes comportamentos?

104. As reivindicações dos legítimos direitos das mulheres, a partir da firme convicção de que homens e mulheres têm a mesma dignidade, colocam à Igreja questões profundas que a desafiam e não se podem iludir superficialmente. O sacerdócio reservado aos homens, como sinal de Cristo Esposo que Se entrega na Eucaristia, é uma questão que não se põe em discussão, mas pode tornar-se particularmente controversa se se identifica demasiado a potestade sacramental com o poder. Não se esqueça que, quando falamos da potestade sacerdotal, «estamos na esfera da função e não na da dignidade e da santidade». O sacerdócio ministerial é um dos meios que Jesus utiliza ao serviço do seu povo, mas a grande dignidade vem do Baptismo, que é acessível a todos. A configuração do sacerdote com Cristo Cabeça – isto é, como fonte principal da graça – não comporta uma exaltação que o coloque por cima dos demais. Na Igreja, as funções «não dão justificação à superioridade de uns sobre os outros». Com efeito, uma mulher, Maria, é mais importante do que os Bispos. Mesmo quando a função do sacerdócio ministerial é considerada «hierárquica», há que ter bem presente que «se ordenaintegralmente à santidade dos membros do corpo místico de Cristo». A sua pedra de fecho e o seu fulcro não são o poder entendido como domínio, mas a potestade de administrar o sacramento da Eucaristia; daqui deriva a sua autoridade, que é sempre um serviço ao povo. Aqui está um grande desafio para os Pastores e para os teólogos, que poderiam ajudar a reconhecer melhor o que isto implica no que se refere ao possível lugar das mulheres onde se tomam decisões importantes, nos diferentes âmbitos da Igreja.

105. A pastoral juvenil, tal como estávamos habituados a desenvolvê-la, sofreu o impacto das mudanças sociais. Nas estruturas ordinárias, os jovens habitualmente não encontram respostas para as suas preocupações, necessidades, problemas e feridas. A nós, adultos, custa-nos ouvi-los com paciência, compreender as suas preocupações ou as suas reivindicações, e aprender a falar-lhes na linguagem que eles entendem. Pela mesma razão, as propostas educacionais não produzem os frutos esperados. A proliferação e o crescimento de associações e movimentos predominantemente juvenis podem ser interpretados como uma acção do Espírito que abre caminhos novos em sintonia com as suas expectativas e a busca de espiritualidade profunda e dum sentido mais concreto de pertença. Todavia é necessário tornar mais estável a participação destas agregações no âmbito da pastoral de conjunto da Igreja.
196. Às vezes somos duros de coração e de mente, esquecemo-nos, entretemo-nos, extasiamo-nos com as imensas possibilidades de consumo e de distracção que esta sociedade oferece. Gera-se assim uma espécie de alienação que nos afecta a todos, pois «alienada é a sociedade que, nas suas formas de organização social, de produção e de consumo, torna mais difícil a realização deste dom e a constituição dessa solidariedade inter-humana».

O lugar privilegiado dos pobres no povo de Deus 

197. No coração de Deus, ocupam lugar preferencial os pobres, tanto que até Ele mesmo «Se fez pobre» (2 Cor 8, 9). Todo o caminho da nossa redenção está assinalado pelos pobres. Esta salvação veio a nós, através do «sim» duma jovem humilde, duma pequena povoação perdida na periferia dum grande império. O Salvador nasceu num presépio, entre animais, como sucedia com os filhos dos mais pobres; foi apresentado no Templo, juntamente com dois pombinhos, a oferta de quem não podia permitir-se pagar um cordeiro (cf. Lc 2, 24; Lv 5, 7); cresceu num lar de simples trabalhadores, e trabalhou com suas mãos para ganhar o pão. Quando começou a anunciar o Reino, seguiam-No multidões de deserdados, pondo assim em evidência o que Ele mesmo dissera: «O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres» (Lc 4, 18). A quantos sentiam o peso do sofrimento, acabrunhados pela pobreza, assegurou que Deus os tinha no âmago do seu coração: «Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus» (Lc 6, 20); e com eles Se identificou: «Tive fome e destes-Me de comer», ensinando que a misericórdia para com eles é a chave do Céu (cf. Mt 25, 34-40).

198. Para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica. Deus «manifesta a sua misericórdia antes de mais» a eles. Esta preferência divina tem consequências na vida de fé de todos os cristãos, chamados a possuírem «os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus» (Fl 2, 5). Inspirada por tal preferência, a Igreja fez uma opção pelos pobres, entendida como uma «forma especial de primado na prática da caridade cristã, testemunhada por toda a Tradição da Igreja». Como ensinava Bento XVI, esta opção «está implícita na fé cristológica naquele Deus que Se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza». Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles. Leia a Exortação na íntegra

O encontro dos dois Franciscos em Assis

Papa Francisco em Assis

Ei-lo, portanto, no dia da festa do santo, 4 de Outubro, recomeçar precisamente onde há oitocentos anos Francisco deu início ao seu caminho: a partir de Cristo encarnado no homem sofredor. Para o santo foram os leprosos. Para o Papa Bergoglio, os corpos das crianças assistidas no Instituto  Seráfico de Assis.

Aqui no Seráfico ainda se respira o amor do frade Francisco por cada criatura. E o Papa conhece bem esta riqueza. Por isso, imergiu-se de alma e corpo nesta realidade. O encontro com as crianças teve lugar na capela do Instituto. Deixando de lado o discurso preparado, o Pontífice recolheu e relançou a amargura e a indignação diante de uma sociedade que não sabe reconhecer as chagas de Cristo.

Entretanto, uma pequena multidão reuniu-se diante do santuário de São Damião, onde é venerado o Crucifixo diante do qual pela primeira vez Francisco ouviu o Senhor falar-lhe e recomendar-lhe: «Vai e repara a minha casa». O Papa Francisco meditou prolongadamente diante daquele Crucifixo. Ao seu redor, um silêncio quase irreal, mas deveras eloquente.

No paço episcopal teve lugar talvez o momento mais significativo da sua peregrinação, certamente o mais esperado. Na «Sala da Espoliação», onde são Francisco renunciou à sua riqueza para se oferecer ao Senhor, o Papa propôs a imagem de uma Igreja despojada de toda a mundanidade, da «mundanidade espiritual que mata».

A sala estava cheia de desabrigados assistidos pela Cáritas umbra,  por ex-prisioneiros e por pais de família que com o trabalho perderam tudo, menos a dignidade. Diante deles, o Papa Francisco voltou a pôr de lado o discurso preparado e falou com o coração na mão, como em Cagliari, quando fez o mesmo gesto diante dos operários.

Depois, foi a pé até à vizinha basílica de Santa Maria Maior, a antiga catedral de Assis. Em seguida, retomou a sua peregrinação dirigindo-se de carro até à basílica superior. O Santo Padre desceu primeiro à cripta e ajoelhou-se em recolhimento diante da rocha secular que conserva os despojos mortais do santo. Depois, foi à praça de São Francisco onde presidiu à concelebração eucarística com os oito membros do Conselho de cardeais — que o acompanharam nesta peregrinação — e com os cardeais Bagnasco, Betori e Nicora, com os arcebispos Becciu, substituto da Secretaria de Estado, e  Gänswein, prefeito da Casa Pontifícia, com os bispos da Úmbria e com numerosos sacerdotes.

A manhã terminou no mais puro estilo franciscano. O Papa Bergoglio  despediu-se dos hóspedes e do seu próprio séquito e, de carro, foi ao centro de primeiro acolhimento situado nos arredores da estação ferroviária de Santa Maria dos Anjos, onde almoçou com os pobres. Ali, todos os dias há uma refeição quente para eles, posta à disposição pela Cáritas umbra. Trata-se de um lugar onde a dificuldade se ameniza com uma refeição frugal, na paz do coração por um calor humano oferecido abundantemente, por um gesto quotidiano que tem um sabor de humanidade. O Papa Francisco sentou-se à grande mesa de madeira  em forma de «L», pondo-se precisamente no canto, de maneira a poder fitar todos nos olhos. Toalha e guardanapos rigorosamente de papel, como todos os dias. Não havia vinho, só a «irmã água». A refeição preparada pela irmã Dina, chefe da cozinha, era a mesma do domingo ou de qualquer dia de festa, com a lasanha preparada por Annarita, como  seu prato forte.

«Uma lição de simplicidade», estava escrito num dos vários cartazes de boas-vindas. E foi o que o Pontífice fez durante esta manhã passada em Assis: deu uma grande lição de simplicidade. E na casa do seu «mestre» Francisco não podia deixar de ser assim.

 do nosso enviado Mario Ponzi/ L’Orsevatore Romano
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Trechos de sermões do Papa em Assis
“Aqui, Jesus está escondido nesses jovens, nessas crianças, nessas pessoas. No altar, adoramos a Carne de Jesus. Neles, encontramos as chagas de Cristo – que precisam ser ouvidas talvez não tanto nos jornais, como notícias… Esta é uma escuta que dura um, dois, três dias. Devem ser ouvidas por aqueles que se dizem cristãos. O cristão adora e busca Jesus e sabe reconhecer as suas chagas. A Carne de Jesus são as suas chagas nessas pessoas”.
Francisco recordou o luto em toda a Itália, neste dia, por conta da trágico naufrágio em Lampedusa. “Hoje, é um dia de lágrimas. É o espírito do mundo que faz essas coisas”, explicou o papa, que usou palavras fortes para quem se deixa levar por este espírito: “É realmente ridículo que um cristão verdadeiro, que um padre, um freira, um bispo, um cardeal, um papa, queiram percorrer esta estrada do mundo, é uma atitude homicida. O mundano mata, mata a alma, as pessoas, mata a Igreja. Hoje, aqui, peçamos a graça para todos os cristãos. Que o Senhor nos dê a coragem de nos espoliar do espírito do mundo, que é a lepra e o câncer da sociedade, é o câncer da revelação de Deus. O espírito do mundo é o inimigo de Jesus”.

“Paz e Bem!”, começou o papa em sua homilia. Em primeiro lugar, frisou que o caminho de Francisco para Cristo começou do olhar de Jesus na cruz. “O santo se deixou olhar por Ele no momento em que deu a vida por nós e nos atraiu para Ele. Naquele instante, Jesus não tinha os olhos fechados, mas bem abertos: um olhar que lhe falou ao coração”.

:“Quem se deixa olhar por Jesus crucificado fica recriado, torna-se uma nova criatura. E daqui tudo começa: é a experiência da Graça que transforma, de sermos amados sem mérito algum, até sendo pecadores”, prosseguiu.

O papa recordou que quem segue a Cristo recebe a verdadeira paz. “A paz franciscana não é um sentimento piegas, não é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos… Também isto não é franciscano, mas uma ideia que alguns formaram. A paz de São Francisco é a de Cristo, é a de quem assume o seu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. E este jugo não se pode levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas com mansidão e humildade de coração”, ressalvou o pontífice, pedindo a São Francisco que nos ensine a ser «instrumentos da paz»”.

Papa Francisco: “Os velhos necessitam cuidados e companhia. Os jovens trabalho e esperança”

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OLHAR PARA O FUTURO

Da conversa do Papa Francisco com Eugenio Scalfari publicada em Repubblica chamam imediatamente a atenção o tom de confronto aberto e amistoso, o desejo de se compreender reciprocamente e o facto, sempre mais evidente, de que o Pontífice não hesita em pôr-se em questão em primeira pessoa. «Posso abraçá-lo por telefone?» irrompe o fundador do diário romano. «Claro, também eu o abraço. Depois fá-lo-emos pessoalmente, adeus» responde com simplicidade o Papa Francisco. O encontro é uma consequência da carta que o Pontífice enviou a Scalfari e ajuda ainda mais a compreender o coração do Papa Francisco: «É preciso conhecer-se, ouvir-se» e – disse – «acontece-me que depois de um encontro me venha a vontade de ter outro porque surgem novas ideias e descobrem-se necessidades novas». Eis que é a atenção às pessoas e à sua unicidade a característica que dele imediatamente conquista e atrai.

Um enlace jocoso de palavras sobre a intenção recíproca de conversão permite que o Pontífice mencione a questão do proselitismo: não tem sentido, porque – como quis recordar aos catequistas com as palavras de Bento XVI – «a Igreja não cresce por proselitismo, cresce por atracção», um «fermento que serve para o bem comum. Trata-se ao contrário do testemunho, que cada cristão deve prestar, assim como deve transparecer da Igreja no seu conjunto: uma minoria, sem dúvida, mas também força de transformação.

«O ideal de uma Igreja missionária e pobre» anima como um fogo escondido as palavras do Papa Francisco, que sem hesitações responde às perguntas de Scalfari e olha para o caminho dos cristãos na história falando significativamente dos santos – Paulo, Agostinho, Francisco, Inácio – e repetindo que o objectivo é «ouvir as necessidades, os desejos, as desilusões, o desespero, a esperança. Devemos dar de novo esperança aos jovens, ajudar os idosos, abrir ao futuro, difundir o amor. Pobres entre os pobres. Devemos incluir os excluídos e pregar a paz».

Palavras que evocam não ocasionalmente o início do documento conciliar sobre a Igreja no mundo contemporâneo: «A alegria e a esperança (gaudium et spes), a tristeza e a angústia dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de quantos sofrem, são também a alegria e a esperança, a tristeza e a angústia dos discípulos de Cristo, e não há nada genuinamente humano que não tenha eco no seu coração». De facto, o Papa Francisco olha para o Vaticano II, «inspirado por João XXIII e por Paulo VI», porque por sua vez – frisa claramente – o concílio «decidiu olhar para o futuro com espírito moderno e abrir à cultura moderna».

Não são afirmações vazias as que foram feitas por aquele que na entrevista se define, além do título tradicional de bispo de Roma, «Papa da catolicidade». Com efeito, no diálogo fala com tons pessoalíssimos de si mesmo, revelando a iluminação humilde que teve logo após à eleição em conclave e que o induziu a aceitá-la. E é precisamente este pôr-se em questão que lhe permite falar das realidades mais profundas: a graça, a alma, Deus e o futuro, sobre o qual orienta o olhar. Porque «também a nossa espécie acabará, mas a luz de Deus não acabará».

 

PARA CONHECER JESUS

Para conhecer verdadeiramente Jesus é preciso falar com ele,  dialogar com ele enquanto o seguimos no seu caminho.

«Não se pode conhecer Jesus – foi a sua resposta – sem ter problemas». Paradoxalmente, acrescentou, «se quiseres ter um problema, vai pelo caminho que te leva a conhecer Jesus» e então surgirão muitos problemas. Em todo caso, não se pode conhecer Jesus «na primeira classe» ou «na tranquilidade», nem «na biblioteca». Só conhecemos  Jesus no caminho diário da vida.

Podemos conhecê-lo, afirmou o Santo Padre, «também no catecismo. É verdade! O catecismo – frisou – ensina-nos muitas coisas sobre Jesus e devemos estudá-lo, aprendê-lo. Assim aprendemos que o Filho de Deus veio para nos salvar e compreendemos o amor do Pai  na beleza da história da salvação». Entretanto, o conhecimento de Jesus através do catecismo «não é suficiente»: conhecê-lo com a mente é já um passo em frente, mas «é necessário conhecer Jesus no diálogo com ele. Falando com ele, na oração, de joelhos. Se não rezas, se não falas com Jesus – disse – não o conheces».

 

A CORTE DO VATICANO É A LEPRA DO PAPADO

El papa Francisco aseguró que el defecto de la Curia romana, el gobierno de la Iglesia, es que se ocupa sólo de los problemas de la Santa Sede olvidando el mundo que le rodea, en una entrevista publicada hoy en el diario La Repubblica.

La Curia “tiene un defecto: es Vaticano-Céntrica. Ve y se ocupa de los intereses del Vaticano y olvida el mundo que le rodea. No comparto esta visión y haré de todo para cambiarlo”, explicó el papa en la entrevista al fundador del rotativo, Eugenio Scalfari, que se publica hoy en concomitancia con la primera reunión que mantendrá el papa con el llamado G8 de la Iglesia, el Consejo de ocho cardenales nombrados por Francisco para analizar la posible reforma de la Curia romana.

Para el exarzobispo de Buenos Aires, en el pasado “los jefes de la Iglesia han sido a menudo narcisistas, adulados por sus cortesanos” y agregó que “la Corte es la lepra del papado”. “La Iglesia tiene que volver a ser una comunidad del pueblo de Dios y los presbíteros, los párrocos y los obispos deben estar al servicio del pueblo de Dios”, añadió el papa Jorge Bergoglio. Sobre su visión de la Iglesia, explicó que no se debe basar en el “proselitismo” sino “en escuchar las necesidades, las desilusiones, la desesperación y dar esperanza a los jóvenes y ayudar a los viejos, abrir al futuro y difundir el amor. Ser pobres entre los pobres”.

Bergoglio indicó en esta entrevista de tres páginas que en el Concilio Vaticano II se decidió “mirar al futuro con espíritu moderno y abrir a la cultura moderna, que significaba ecumenismo religioso y diálogo con los no creyentes”. Pero el pontífice reconoció que “hasta ahora se ha hecho poco” y anunció que él tiene “la humildad y la ambición” de llevar a acabo ese camino de la Iglesia hacia la modernidad. Respecto a los cambios que tiene previsto acometer, recordó como ha nombrado el Consejo de los ocho cardenales para que le aconsejen. “No son cortesanos sino personas sabias, animadas por mis mismos sentimientos. Esto es el inicio de una Iglesia con una organización no sólo vertical sino también horizontal”, destacó.

Durante la conversación con Scalfari, Francisco bromeó al asegurar que cuando tiene delante un “clerical” también él se vuelve “anticlerical de golpe” y es que, explicó, “el clericalismo nada tiene que ver con el cristianismo y que San Pablo fue el primero que habló con los paganos, los creyentes de otras religiones”. Por otra parte, aseveró que la Iglesia “no se ocupará de política”, pues “las instituciones políticas son laicas por definición y actúan en esferas diferentes”. “La Iglesia no irá más allá de su deber de expresar y difundir sus valores, al menos mientras yo esté aquí”, confirmó.

En la entrevista también se tocan asuntos de actualidad y Bergoglio consideró que “los grandes males que afligen el mundo son el desempleo de los jóvenes y la soledad en la que ha dejado a los viejos”. “Los viejos necesitan cuidados y compañía. Los jóvenes trabajo y esperanza”, indicó.

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El papa también criticó el “liberalismo salvaje” que hace que “los fuertes se hagan más fuertes, los débiles más débiles y los excluidos más excluidos”, y añadió que “se necesitan reglas de comportamiento y si fuera necesario también la intervención del Estado para corregir las desigualdades más intolerables”.

En la entrevista, el papa habla de los santos de su experiencia religiosa y, aunque matizó que no se puede hacer una clasificación de preferidos “como si fueran futbolistas argentinos”, los “más cercanos a su alma” son San Francisco y San Agustín. Sobre la “vocación mística” de algunos santos, Bergoglio explicó que no cree que tenga esta vocación, aunque desveló como tras ser elegido papa y mientras esperaba antes de asomarse al balcón de la basílica de San Pedro cerró los ojos y dejó de sentir “el ansia y la emotividad”

“Una gran luz me invadió, duró sólo un momento aunque me pareció muchísimo tiempo. Luego la luz se disipó, yo me levante de golpe y me dirigí a la mesa donde estaban los cardenales para firmar el acto de aceptación. Y firme”, relató. El papa termina la entrevista con Scalfari prometiendo un nuevo diálogo con el periodista, que se define ateo y a quien ya dirigió una carta sobre los no creyentes, en el que se afrontarán asuntos como el papel de la mujer en la Iglesia.