Em detrimento da carga emocional que carregam as manipulações político-midiáticas, nada mais injusta, insensata e desequilibrada que a voz do povo. Como dito pelo jurista Luiz Flávio Gomes: “A voz do povo serve para impressionar o legislador, serve para mídia vender seus “produtos”, serve para reforçar o imaginário popular de que ele tem voz e vez, mas não é boa conselheira para a tomada de decisões no âmbito de política criminal”.
Delitos escandalosos e chocantes sempre existiram, e a sociedade sempre se revoltou contra os acusados, sejam eles quem foram. Entretanto, o que acontece quando os crimes não chocam, mas são inflamados pela política e pela mídia? Agentes malígnos são criados, são tornados os vilões de todos os males sociais, e pronto, encontraram mais um culpado. Adivinha, depois de tudo isto, nada muda. A constante construção de vilões é mais um atributo para a manutenção do “status quo”. O Sistema é tão previsível que podemos adivinhar o noticiário de amanhã. Vamos brincar de adivinhação? Que tal nas manchetes: “STF manda prender os primeiros réus do mensalão”, ou que tal, “Operação da polícia escuta mais de 90 Black Blocs e faz buscas e apreensões em São Paulo”. Nos diga, efetivamente onde a sua vida mudou? O mal sistema político persistirá, e eventualmente mais manifestantes permanecerão nas ruas. Continua igual, só aumentou o IBOPE dos noticiários.
Algumas ações são muito mais importantes no seu aspecto político do que efetivamente jurídicos. Para que se demonstre uma efetividade política é necessário escandalizar, montar megas operações, satisfazer os desejos de vingança sociedade, não basta fazer direito, é preciso ser grande e transmitir no Jornal Nacional. Da mesma forma em que a mídia procura inflamar os casos de sensacionalismo, a sociedade se satisfaz porque ela encontra exatamente aquilo que ela suspeitava que fosse encontrar. Por exemplo, não basta ser vândalo, o sujeito tem que ter cara de vândalo. Imagine, que a mídia vai fazer uma cobertura sobre vândalos em manifestações e lá eles encontram pessoas esteticamente aceitáveis para sociedade, gente com jeito de “cidadão de bem”, gola pólo e cavalinho tamanho GG estampado na camisa. Sacou? mauricinho e patricinha não são aceitáveis como vândalos, isso frustra qualquer mídia, pois não vende e não convence.
Resumindo, para políticos a intenção é demonstrar a efetividade do seu governo e garantir a reeleição no ano seguinte, já para a mídia o importante é prender a sua atenção e conseguir mais uma propaganda de margarina no intervalo comercial. Se já não acreditarmos em todos esses personagens construídos pela mídia, tentando deixar de lado a nossa vontade de vingança, você frustra os políticos e eles vendem menos margarinas. Isso nos parece sensato.