Os despejos judiciais criam novas favelas nas regiões metropolitanas
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Não se faz nada que preste para o povo que se amontoa em áreas de risco
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Oscar Arnolfo Romero Galdámez será beato. Decidiu o Papa Francisco, que na segunda-feira, 3 de Fevereiro – durante a audiência concedida ao prefeito da Congregação para as causas dos santos – autorizou a promulgar o decreto relativo ao martírio do arcebispo de San Salvador, assassinado a 24 de Março de 1980 enquanto celebrava a missa. Na mesma circunstância foram autorizados os decretos relativos ao martírio de dois franciscanos conventuais e de um sacerdote assassinados em 1991 no Peru, e às virtudes heróicas do servo de Deus Giovanni Bacile.
Eis o texto dos decretos:
A 3 de Fevereiro o Santo Padre recebeu em audiência particular o Cardeal Angelo Amato, S.D.B, prefeito da Congregação para as causas dos santos, durante a qual autorizou a Congregação a promulgar os decretos relativos:
— ao martírio do Servo de Deus Oscar Arnolfo Romero Galdámez, arcebispo de San Salvador; nascido a 15 de Agosto de 1917 em Ciudad Barrios (El Salvador) e assassinado, por ódio à fé, no dia 24 de Março de 1980, em San Salvador (El Salvador);
— ao martírio dos servos de Deus Miguel Tomaszek e Sbigneo Strzałkowski, sacerdotes professos da Ordem dos frades menores conventuais, e Alessandro Dordi, sacerdote diocesano; assassinados, por ódio à Fé, a 9 e a 25 de Agosto de 1991, em Pariacoto e em Rinconada, nos arredores de Santa (Peru); e
— às virtudes heróicas do servo de Deus Giovanni Bacile, arcipreste decano de Bisacquino; nascido em Bisacquino (Itália), no dia 12 de Agosto de 1880 e ali falecido em 20 de Agosto de 1941.
Óscar Arnulfo Romero Galdámez, conhecido como Monsenhor Romero, (Ciudad Barrios, San Miguel, 15 de agosto de 1917 — San Salvador, 24 de março de 1980) foi o quarto arcebispo metropolitano de San Salvador (1977-1980).
Nomeado em 3 de fevereiro de 1977, exerceu um apóstolo da não-violência, posição que o levou a ser comparado ao Mahatma Gandhi e a Martin Luther King.
Óscar Romero passou a denunciar, em suas homilias dominicais, as numerosas violações de direitos humanos em El Salvador e manifestou publicamente sua solidariedade com as vítimas da violência política, no contexto da Guerra Civil de El Salvador, governado por uma cruel ditadura, tal como acontecia noutros países das América do Sul e Central, inclusive o Brasil.
A morte
Na homilia de 11 de novembro de 1977, Monsenhor Romero afirmou: “a missão da Igreja é identificar-se com os pobres. Assim a Igreja encontra sua salvação.”
Óscar Romero foi assassinado quando celebrava a missa, em 24 de março 1980, por um atirador de elite do exército salvadorenho, treinado nas Escola das Américas. Sua morte provocou uma onda de protestos em todo o mundo e pressões internacionais por reformas em El Salvador.
Em 2010, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o dia 24 de março como o Dia Internacional pelo Direito à Verdade acerca das Graves Violações dos Direitos Humanos e à Dignidade das Vítimas em reconhecimento à atuação de Dom Romero em defesa dos direitos humanos.
A Comissão da Verdade que investigou os crimes cometidos durante a guerra civil de El Salvador indicou em seu relatório, feito há 20 anos, a “evidência plena” da cumplicidade no assassinato do também já falecido Roberto D’Aubuisson, fundador da ARENA (Aliança Republicana Nacionalista), partido que governou o país entre 1989 e junho de 2009.
No entanto, uma Lei de Anistia aprovada em 1993, um ano depois dos Acordos de Paz de 1992 que puseram fim à guerra, deixou na impunidade tanto o homicídio de Romero como outros crimes de lesa humanidade.
A guerra civil salvadorenha deixou um saldo de 75 mil mortos, oito mil desaparecidos e 12 mil aleijados.
O papa Francisco vem sendo criticado, injuriado e boicotado pela imprensa capitalista. Por quê? Esta frase título bem explica o motivo:
“Bilionário ameaça parar com doações se Papa continuar a pedir apoio aos mais pobres”.
O jornalista Fernando Brito publica o fac-símile da capa de um jornal de humor, “onde o Papa Francisco aparece maquiado, com a boca delineada por batom e de brinco, e pergunta:
“E com Maomé, pode?”. Pode sim. Como faz a revista parisiense Charlie Hebdo, de propriedade dos banqueiros Rothschild, que satiriza todas religiões, menos o judaísmo, fonte do cristianismo e do islamismo.
A imprensa monopolista brasileira, das famílias Marinho, Frias e Mesquita, censura e deturpa as palavras de Francisco.
Duvido que o Globo, o Estadão e a Folha de S. Paulo destaquem as palavras do Papa publicadas hoje no Osservatore Romano:
Recordando que «não existe uma humanidade sem cultivo da terra», o Papa Francisco pediu que a agricultura seja «reconhecida e valorizada adequadamente, inclusive nas concretas escolhas políticas e económicas». E convidou a não ceder à tentação de «vender a mãe terra», sacrificando o seu cultivo a favor de actividades «aparentemente mais rentáveis». O Pontífice denunciou novamente «a cultura do descarte» que desperdiça os alimentos, esfomeando populações inteiras: «com o pão não se brinca» admoestou, exortando a repensar «profundamente o sistema de produção e de distribuição alimentar»
O bilionário Kenneth Langone, fundador da Home Depot, empresa varejista norte-americana de produtos para casa, enviou um aviso ao Papa Francisco durante uma entrevista no canal CNBC: pessoas “como ele” estão se sentindo ofendidas com as mensagens do Vaticano em apoio aos mais pobres.
Para completar, disse que se o Pontífice continuasse a fazer declarações contra o capitalismo, ele iria parar com as doações que realiza.
Em um discurso realizado no Brasil em julho, o Papa Francisco pediu para “aqueles que têm posse de grandes recursos” não pararem de lutar por um mundo mais justo e solidário. “Ninguém deve se manter insensível em relação à desigualdade que enfrentamos”, afirmou Francisco. Fonte: Forbes/MSN Notícias
por Fernando Brito
A revista de humor Barcelona – que modestamente se intitula “uma solução europeia para os problemas dos argentinos” – publicou no final do ano passado, uma capa onde o Papa Francisco aparece maquiado, com a boca delineada por batom e de brinco.
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E o título, garrafal:
¡Putazo!
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Se é preciso tradução para a gíria portenha digamos que é um chamar de “gay” de forma ofensiva.
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A editora da revista, Ingrid Beck, topou ser entrevistada por Eduardo Feinmann, um apresentador de TV conservador e dado a grosserias no padrão Danilo Gentilli.
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O resultado é uma sessão de baixaria, porque Feinmann chama a jornalista de “mal-nascida”.
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O que é, por lá, é quase um “puta”.
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Beck tenta argumentar, mas acaba se ofendendo e deixa a entrevista.
Uma imbecilidade mútua.
Que foi planejada pelo entrevistador e aceita pela entrevistada, que acha que “imprensa” é um salvo conduto universal, que nos dá direito a tudo, como davam as “carteiradas” de jornalistas no passado.
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É uma boa advertência para os limites da atividade de jornalista, dos dois lados.
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Se o leitor acho que foi ofensiva ao Papa ou se foram ofensivos a Ingrid, porque é aceitável ser ofensivo aos islâmicos?
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Não gozamos de imunidade para fazer “gracinhas” ofensivas a pessoas ou a símbolos religiosos.
Se o fazemos, estamos sujeitos à receber, na mesma moeda.
E reduzimos o nosso papel a uma briga de botequim.
Veja o vídeo da briga aqui
por María Martín/ El País/ Espanha
Os nomes e perfis dos usuários que inundaram as redes sociais de ataques preconceituosos contra os nordestinos já estão no Ministério Público Federal. As unidades de todo o Brasil receberam de domingo a quarta-feira 131 denúncias por racismo nas redes sociais, 85 delas atacavam especificamente os nordestinos, mais de 20 por dia, conforme um levantamento feito para o EL PAÍS. A procuradoria analisará cada uma dessas denúncias individualmente.
Os ataques vêm de todos os cantos. Uma auditora de Trabalho de Cuiabá, no Mato Grosso, desabafou:
“Desculpem nordestinos, mas essa região do Brasil merecia uma bomba como em Nagasaki, para nunca mais nascer uma flor sequer em 70 anos. #pqp #votocensitáriojá [sic]”. A piada pode lhe custar o cargo, depois da denúncia feita na ouvidoria do próprio Ministério.
E tem mais. Um coletivo de 100.000 médicos ou estudantes de medicina tem uma página própria no Facebook onde ficam à vontade para pedir a castração química dos nordestinos, pregar por um holocausto na região e fazer campanha pró-Aécio.
“70% de votos para Dilma no Nordeste! Médicos do Nordeste causem um holocausto por aí! Temos que mudar essa realidade!”, diz um dos posts. O curioso é que uma das regras para ser admitido no grupo é a seguinte: “Não admitimos desrespeito entre colegas, xingamentos, piadas desrespeitosas, ofensas, acusações descabidas ou condutas que não sejam dignas da classe”.
“A maneira como as pessoas estão repudiando o PT, a quantidade de ódio e energia destinada, a demonstração de esse repúdio irracional não é só política. Essa queixa contra o voto dos nordestinos é uma forma de expressar o ódio de classe”, afirma Maria Eduarda da Mota Rocha, pesquisadora e professora de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco, que escreveu sobre este episódio rotineiro para o EL PAÍS. “No fim das contas ainda temos uma sociedade com um passado escravocrata muito próximo e que não consolidou a ideia de igualdade. Estamos vivendo um momento no Brasil de perda de privilégios exclusivos, uma ferida muito sensível para as elites”.
Para o pesquisador italiano Alessandro Pinzani, co-autor do livro Vozes do Bolsa Família, o episódio o recrudescimento dos ataque aos nordestinos em campanha eleitoral é um exemplo do “fim da cordialidade brasileira”. “Nos últimos anos se mostrou a verdadeira face da luta de classe no país, justamente porque o Governo petista começou a fazer políticas para população de baixa renda e imersos na pobreza extrema. O brasileiro tradicional da elite se sente inseguro respeito a isso, e transforma a insegurança em uma raiva que encontra como objeto, entre outros, o Governo”, afirma Pinzani.
O pesquisador, professor da Universidade Federal de Santa Catarina e há dez anos no Brasil, se mostra surpreso diante o rechaço ao Governo Dilma. “Morei nos Estados Unidos na época de George Bush filho e na Itália com Silvio Berlusconi e nunca vi este grau violento de rechaço que vemos aqui”, explica. “O que essa elite esquece, que sequer sabe, qual é o valor médio do Bolsa Família, e que é um dos cerca de 60 programas de combate a pobreza. O programa atinge uma parcela da população que não tem escolha. Ali não existe isso de aplicar o ditado de ‘ensinar a pescar ao invés de dar o peixe’. No sertão não tem peixe! Não tem nada!. E nunca vai ter nada. Porque nenhuma empresa vai abrir nada em meio do nada, sem uma infraestrutura, com uma população despreparada. Os beneficiários não querem isso por comodismo, eles não tem alternativa, além de emigrar”.
Até o comentário do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre os eleitores do Partido dos Trabalhadores, colocou lenha na fogueira. “O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados”, disse FHC em uma entrevista.
Enquanto isso nordestinos como Bruno, nascido em Pernambuco, mas residente em São Paulo tem que acelerar o scroll da sua timelime para evitar algumas das barbaridades que vimos nesses dias. Ele conta como na noite da eleição encontrou sua mulher Karina chorando em frente à tela do computador.
– O que foi?
– Nada.
“Em seguida, reparei no que estava acontecendo”, lembra Bruno.
– Você ficou lendo coisas de nordestinos no Facebook, é isso né? Por favor, não ligue eu já estou acostumado com isso.
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Transcrevi trechos. Ilustrações: Memes do arquivo Google e do blog anticomunista Homem Culto (todo nordestino é matuto, bronco, burro, pobre, analfabeto e não sabe votar)
MENSAGEM URBI ET ORBI DO PAPA FRANCISCO
Natal do Senhor, 25 de Dezembro de 2013
«Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens do seu agrado» (Lc 2, 14).
Queridos irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro, feliz Natal!
Faço meu o cântico dos anjos que apareceram aos pastores de Belém, na noite em que nasceu Jesus. Um cântico que une céu e terra, dirigindo ao céu o louvor e a glória e, à terra dos homens, votos de paz. Convido todos a unirem-se a este cântico: este cântico é para todo o homem e mulher que vela na noite, que tem esperança num mundo melhor, que cuida dos outros procurando humildemente cumprir o seu dever.
Glória a Deus. A primeira coisa que o Natal nos chama a fazer é isto: dar glória a Deus, porque Ele é bom, é fiel, é misericordioso. Neste dia, desejo a todos que possam reconhecer o verdadeiro rosto de Deus, o Pai que nos deu Jesus. Desejo a todos que possam sentir que Deus está perto, possam estar na sua presença, amá-Lo, adorá-Lo.
Possa cada um de nós dar glória a Deus sobretudo com a vida, com uma vida gasta por amor d’Ele e dos irmãos. Paz aos homens.
A verdadeira paz não é um equilíbrio entre forças contrárias; não é uma bela «fachada», por trás da qual há contrastes e divisões. A paz é um compromisso de todos os dias, que se realiza a partir do dom de Deus, da graça que Ele nos deu em Jesus Cristo. Vendo o Menino no presépio, pensamos nas crianças que são as vítimas mais frágeis das guerras, mas pensamos também nos idosos, nas mulheres maltratadas, nos doentes… As guerras dilaceram e ferem tantas vidas!
Muitas dilacerou, nos últimos tempos, o conflito na Síria, fomentando ódio e vingança. Continuemos a pedir ao Senhor que poupe novos sofrimentos ao amado povo sírio, e as partes em conflito ponham fim a toda a violência e assegurem o acesso à ajuda humanitária. Vimos como é poderosa a oração! E fico contente sabendo que hoje também se unem a esta nossa súplica pela paz na Síria crentes de diversas confissões religiosas. Nunca percamos a coragem da oração! A coragem de dizer: Senhor, dai a vossa paz à Síria e ao mundo inteiro.Dai paz à República Centro-Africana, frequentemente esquecida dos homens. Mas Vós, Senhor, não esqueceis ninguém e quereis levar a paz também àquela terra, dilacerada por uma espiral de violência e miséria, onde muitas pessoas estão sem casa, sem água nem comida, sem o mínimo para viver. Favorecei a concórdia no Sudão do Sul, onde as tensões actuais já provocaram diversas vítimas e ameaçam a convivência pacífica naquele jovem Estado.
Vós, ó Príncipe da Paz, convertei por todo o lado o coração dos violentos, para que deponham as armas e se empreenda o caminho do diálogo. Olhai a Nigéria, dilacerada por contínuos ataques que não poupam inocentes nem indefesos. Abençoai a Terra que escolhestes para vir ao mundo e fazei chegar a um desfecho feliz as negociações de paz entre Israelitas e Palestinianos. Curai as chagas do amado Iraque, ferido ainda frequentemente por atentados. Vós, Senhor da vida, protegei todos aqueles que são perseguidos por causa do vosso nome. Dai esperança e conforto aos deslocados e refugiados, especialmente no Corno de África e no leste da República Democrática do Congo. Fazei que os emigrantes em busca duma vida digna encontrem acolhimento e ajuda. Que nunca mais aconteçam tragédias como aquelas a que assistimos este ano, com numerosos mortos em Lampedusa.
Ó Menino de Belém, tocai o coração de todos os que estão envolvidos no tráfico de seres humanos, para que se dêem conta da gravidade deste crime contra a humanidade. Voltai o vosso olhar para as inúmeras crianças que são raptadas, feridas e mortas nos conflitos armados e para quantas são transformadas em soldados, privadas da sua infância. Senhor do céu e da terra, olhai para este nosso planeta, que a ganância e a ambição dos homens exploram muitas vezes indiscriminadamente. Assisti e protegei quantos são vítimas de calamidades naturais, especialmente o querido povo filipino, gravemente atingido pelo recente tufão.
Queridos irmãos e irmãs, hoje, neste mundo, nesta humanidade, nasceu o Salvador, que é Cristo Senhor. Detenhamo-nos diante do Menino de Belém. Deixemos que o nosso coração se comova, deixemo-lo abrasar-se pela ternura de Deus; precisamos das suas carícias. Deus é grande no amor; a Ele, o louvor e a glória pelos séculos! Deus é paz: peçamos-Lhe que nos ajude a construí-la cada dia na nossa vida, nas nossas famílias, nas nossas cidades e nações, no mundo inteiro. Deixemo-nos comover pela bondade de Deus.
SAUDAÇÃO NATALÍCIAA vós, queridos irmãos e irmãs, vindos de todo o mundo e reunidos nesta Praça, e a quantos estão em ligação connosco nos diversos países através dos meios de comunicação, dirijo os meus votos de um Natal Feliz!
Neste dia, iluminado pela esperança evangélica que provém da gruta humilde de Belém, invoco os dons natalícios da alegria e da paz para todos: para as crianças e os idosos, para os jovens e as famílias, para os pobres e os marginalizados. Nascido para nós, Jesus conforte quantos suportam a prova da doença e da tribulação; sustente aqueles que se dedicam ao serviço dos irmãos mais necessitados. Feliz Natal!
SOBRE O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ATUAL
A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos.
Alegria que se renova e comunica
2. O grande risco do mundo actual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado.
Uma mãe de coração aberto
46. A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direcção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direcção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade.
47. A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. Um dos sinais concretos desta abertura é ter, por todo o lado, igrejas com as portas abertas. Assim, se alguém quiser seguir uma moção do Espírito e se aproximar à procura de Deus, não esbarrará com a frieza duma porta fechada. Mas há outras portas que também não se devem fechar: todos podem participar de alguma forma na vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer. Isto vale sobretudo quando se trata daquele sacramento que é a «porta»: o Baptismo. A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos. Estas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia. Muitas vezes agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa.
48. Se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há-de chegar a todos, sem excepção. Mas, a quem deveria privilegiar? Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto aos amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, «àqueles que não têm com que te retribuir» (Lc 14, 14). Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, «os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho», e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!
Alguns desafios do mundo actual
52. A humanidade vive, neste momento, uma viragem histórica, que podemos constatar nos progressos que se verificam em vários campos. São louváveis os sucessos que contribuem para o bem-estar das pessoas, por exemplo, no âmbito da saúde, da educação e da comunicação. Todavia não podemos esquecer que a maior parte dos homens e mulheres do nosso tempo vive o seu dia a dia precariamente, com funestas consequências. Aumentam algumas doenças. O medo e o desespero apoderam-se do coração de inúmeras pessoas, mesmo nos chamados países ricos. A alegria de viver frequentemente se desvanece; crescem a falta de respeito e a violência, a desigualdade social torna-se cada vez mais patente. É preciso lutar para viver, e muitas vezes viver com pouca dignidade. Esta mudança de época foi causada pelos enormes saltos qualitativos, quantitativos, velozes e acumulados que se verificam no progresso científico, nas inovações tecnológicas e nas suas rápidas aplicações em diversos âmbitos da natureza e da vida. Estamos na era do conhecimento e da informação, fonte de novas formas dum poder muitas vezes anónimo.
Não a uma economia da exclusão
53. Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o facto de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população vêem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável», que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenómeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados», mas resíduos, «sobras».
54. Neste contexto, alguns defendem ainda as teorias da «recaída favorável» que pressupõem que todo o crescimento económico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos factos, exprime uma confiança vaga e ingénua na bondade daqueles que detêm o poder económico e nos mecanismos sacralizados do sistema económico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar. Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espectáculo que não nos incomoda de forma alguma.
Não à nova idolatria do dinheiro
55. Uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades. A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criámos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32, 1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura duma economia sem rosto e sem um objectivo verdadeiramente humano. A crise mundial, que investe as finanças e a economia, põe a descoberto os seus próprios desequilíbrios e sobretudo a grave carência duma orientação antropológica que reduz o ser humano apenas a uma das suas necessidades: o consumo.
56. Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum. Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respectivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do ter não conhece limites. Neste sistema que tende a fagocitar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta.
Não a um dinheiro que governa em vez de servir
57. Por detrás desta atitude, escondem-se a rejeição da ética e a recusa de Deus. Para a ética, olha-se habitualmente com um certo desprezo sarcástico; é considerada contraproducente, demasiado humana, porque relativiza o dinheiro e o poder. É sentida como uma ameaça, porque condena a manipulação e degradação da pessoa. Em última instância, a ética leva a Deus que espera uma resposta comprometida que está fora das categorias do mercado. Para estas, se absolutizadas, Deus é incontrolável, não manipulável e até mesmo perigoso, na medida em que chama o ser humano à sua plena realização e à independência de qualquer tipo de escravidão. A ética – uma ética não ideologizada – permite criar um equilíbrio e uma ordem social mais humana. Neste sentido, animo os peritos financeiros e os governantes dos vários países a considerarem as palavras dum sábio da antiguidade: «Não fazer os pobres participar dos seus próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. Não são nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos».
58. Uma reforma financeira que tivesse em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos dirigentes políticos, a quem exorto a enfrentar este desafio com determinação e clarividência, sem esquecer naturalmente a especificidade de cada contexto. O dinheiro deve servir, e não governar! O Papa ama a todos, ricos e pobres, mas tem a obrigação, em nome de Cristo, de lembrar que os ricos devem ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los. Exorto-vos a uma solidariedade desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a uma ética propícia ao ser humano.
Não à desigualdade social que gera violência
59. Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão. Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade. Isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reacção violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e económico é injusto na sua raiz. Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça. Se cada acção tem consequências, um mal embrenhado nas estruturas duma sociedade sempre contém um potencial de dissolução e de morte. É o mal cristalizado nas estruturas sociais injustas, a partir do qual não podemos esperar um futuro melhor. Estamos longe do chamado «fim da história», já que as condições dum desenvolvimento sustentável e pacífico ainda não estão adequadamente implantadas e realizadas.
60. Os mecanismos da economia actual promovem uma exacerbação do consumo, mas sabe-se que o consumismo desenfreado, aliado à desigualdade social, é duplamente daninho para o tecido social. Assim, mais cedo ou mais tarde, a desigualdade social gera uma violência que as corridas armamentistas não resolvem nem poderão resolver jamais. Servem apenas para tentar enganar aqueles que reclamam maior segurança, como se hoje não se soubesse que as armas e a repressão violenta, mais do que dar solução, criam novos e piores conflitos. Alguns comprazem-se simplesmente em culpar, dos próprios males, os pobres e os países pobres, com generalizações indevidas, e pretendem encontrar a solução numa «educação» que os tranquilize e transforme em seres domesticados e inofensivos. Isto torna-se ainda mais irritante, quando os excluídos vêem crescer este câncer social que é a corrupção profundamente radicada em muitos países – nos seus Governos, empresários e instituições – seja qual for a ideologia política dos governantes.
Alguns desafios culturais
61. Evangelizamos também procurando enfrentar os diferentes desafios que se nos podem apresentar. Às vezes, estes manifestam-se em verdadeiros ataques à liberdade religiosa ou em novas situações de perseguição aos cristãos, que, nalguns países, atingiram níveis alarmantes de ódio e violência. Em muitos lugares, trata-se mais de uma generalizada indiferença relativista, relacionada com a desilusão e a crise das ideologias que se verificou como reacção a tudo o que pareça totalitário. Isto não prejudica só a Igreja, mas a vida social em geral. Reconhecemos que, numa cultura onde cada um pretende ser portador duma verdade subjectiva própria, torna-se difícil que os cidadãos queiram inserir-se num projecto comum que vai além dos benefícios e desejos pessoais.
62. Na cultura dominante, ocupa o primeiro lugar aquilo que é exterior, imediato, visível, rápido, superficial, provisório. O real cede o lugar à aparência. Em muitos países, a globalização comportou uma acelerada deterioração das raízes culturais com a invasão de tendências pertencentes a outras culturas, economicamente desenvolvidas mas eticamente debilitadas. Assim se exprimiram, em distintos Sínodos, os Bispos de vários continentes. Há alguns anos, os Bispos da África, por exemplo, retomando a Encíclica Sollicitudo rei socialis, assinalaram que muitas vezes se quer transformar os países africanos em meras «peças de um mecanismo, partes de uma engrenagem gigantesca. Isto verifica-se com frequência também no domínio dos meios de comunicação social, os quais, sendo na sua maior parte geridos por centros situados na parte norte do mundo, nem sempre têm na devida conta as prioridades e os problemas próprios desses países e não respeitam a sua fisionomia cultural». De igual modo, os Bispos da Ásia sublinharam «as influências externas que estão a penetrar nas culturas asiáticas. Vão surgindo formas novas de comportamento resultantes da orientação dos mass-media (…). Em consequência disso, os aspectos negativos dos mass-media e espectáculos estão a ameaçar os valores tradicionais».
Não à guerra entre nós
98. Dentro do povo de Deus e nas diferentes comunidades, quantas guerras! No bairro, no local de trabalho, quantas guerras por invejas e ciúmes, mesmo entre cristãos! O mundanismo espiritual leva alguns cristãos a estar em guerra com outros cristãos que se interpõem na sua busca pelo poder, prestígio, prazer ou segurança económica. Além disso, alguns deixam de viver uma adesão cordial à Igreja por alimentar um espírito de contenda. Mais do que pertencer à Igreja inteira, com a sua rica diversidade, pertencem a este ou àquele grupo que se sente diferente ou especial.
99. O mundo está dilacerado pelas guerras e a violência, ou ferido por um generalizado individualismo que divide os seres humanos e põe-nos uns contra os outros visando o próprio bem-estar. Em vários países, ressurgem conflitos e antigas divisões que se pensavam em parte superados. Aos cristãos de todas as comunidades do mundo, quero pedir-lhes de modo especial um testemunho de comunhão fraterna, que se torne fascinante e resplandecente. Que todos possam admirar como vos preocupais uns pelos outros, como mutuamente vos encorajais animais e ajudais: «Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35). Foi o que Jesus, com uma intensa oração, Jesus pediu ao Pai: «Que todos sejam um só (…) em nós [para que] o mundo creia» (Jo 17, 21). Cuidado com a tentação da inveja! Estamos no mesmo barco e vamos para o mesmo porto! Peçamos a graça de nos alegrarmos com os frutos alheios, que são de todos.
100. Para quantos estão feridos por antigas divisões, resulta difícil aceitar que os exortemos ao perdão e à reconciliação, porque pensam que ignoramos a sua dor ou pretendemos fazer-lhes perder a memória e os ideais. Mas, se virem o testemunho de comunidades autenticamente fraternas e reconciliadas, isso é sempre uma luz que atrai. Por isso me dói muito comprovar como nalgumas comunidades cristãs, e mesmo entre pessoas consagradas, se dá espaço a várias formas de ódio, divisão, calúnia, difamação, vingança, ciúme, a desejos de impor as próprias ideias a todo o custo, e até perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. Quem queremos evangelizar com estes comportamentos?
104. As reivindicações dos legítimos direitos das mulheres, a partir da firme convicção de que homens e mulheres têm a mesma dignidade, colocam à Igreja questões profundas que a desafiam e não se podem iludir superficialmente. O sacerdócio reservado aos homens, como sinal de Cristo Esposo que Se entrega na Eucaristia, é uma questão que não se põe em discussão, mas pode tornar-se particularmente controversa se se identifica demasiado a potestade sacramental com o poder. Não se esqueça que, quando falamos da potestade sacerdotal, «estamos na esfera da função e não na da dignidade e da santidade». O sacerdócio ministerial é um dos meios que Jesus utiliza ao serviço do seu povo, mas a grande dignidade vem do Baptismo, que é acessível a todos. A configuração do sacerdote com Cristo Cabeça – isto é, como fonte principal da graça – não comporta uma exaltação que o coloque por cima dos demais. Na Igreja, as funções «não dão justificação à superioridade de uns sobre os outros». Com efeito, uma mulher, Maria, é mais importante do que os Bispos. Mesmo quando a função do sacerdócio ministerial é considerada «hierárquica», há que ter bem presente que «se ordenaintegralmente à santidade dos membros do corpo místico de Cristo». A sua pedra de fecho e o seu fulcro não são o poder entendido como domínio, mas a potestade de administrar o sacramento da Eucaristia; daqui deriva a sua autoridade, que é sempre um serviço ao povo. Aqui está um grande desafio para os Pastores e para os teólogos, que poderiam ajudar a reconhecer melhor o que isto implica no que se refere ao possível lugar das mulheres onde se tomam decisões importantes, nos diferentes âmbitos da Igreja.
105. A pastoral juvenil, tal como estávamos habituados a desenvolvê-la, sofreu o impacto das mudanças sociais. Nas estruturas ordinárias, os jovens habitualmente não encontram respostas para as suas preocupações, necessidades, problemas e feridas. A nós, adultos, custa-nos ouvi-los com paciência, compreender as suas preocupações ou as suas reivindicações, e aprender a falar-lhes na linguagem que eles entendem. Pela mesma razão, as propostas educacionais não produzem os frutos esperados. A proliferação e o crescimento de associações e movimentos predominantemente juvenis podem ser interpretados como uma acção do Espírito que abre caminhos novos em sintonia com as suas expectativas e a busca de espiritualidade profunda e dum sentido mais concreto de pertença. Todavia é necessário tornar mais estável a participação destas agregações no âmbito da pastoral de conjunto da Igreja.
196. Às vezes somos duros de coração e de mente, esquecemo-nos, entretemo-nos, extasiamo-nos com as imensas possibilidades de consumo e de distracção que esta sociedade oferece. Gera-se assim uma espécie de alienação que nos afecta a todos, pois «alienada é a sociedade que, nas suas formas de organização social, de produção e de consumo, torna mais difícil a realização deste dom e a constituição dessa solidariedade inter-humana».
O lugar privilegiado dos pobres no povo de Deus
197. No coração de Deus, ocupam lugar preferencial os pobres, tanto que até Ele mesmo «Se fez pobre» (2 Cor 8, 9). Todo o caminho da nossa redenção está assinalado pelos pobres. Esta salvação veio a nós, através do «sim» duma jovem humilde, duma pequena povoação perdida na periferia dum grande império. O Salvador nasceu num presépio, entre animais, como sucedia com os filhos dos mais pobres; foi apresentado no Templo, juntamente com dois pombinhos, a oferta de quem não podia permitir-se pagar um cordeiro (cf. Lc 2, 24; Lv 5, 7); cresceu num lar de simples trabalhadores, e trabalhou com suas mãos para ganhar o pão. Quando começou a anunciar o Reino, seguiam-No multidões de deserdados, pondo assim em evidência o que Ele mesmo dissera: «O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres» (Lc 4, 18). A quantos sentiam o peso do sofrimento, acabrunhados pela pobreza, assegurou que Deus os tinha no âmago do seu coração: «Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus» (Lc 6, 20); e com eles Se identificou: «Tive fome e destes-Me de comer», ensinando que a misericórdia para com eles é a chave do Céu (cf. Mt 25, 34-40).
198. Para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica. Deus «manifesta a sua misericórdia antes de mais» a eles. Esta preferência divina tem consequências na vida de fé de todos os cristãos, chamados a possuírem «os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus» (Fl 2, 5). Inspirada por tal preferência, a Igreja fez uma opção pelos pobres, entendida como uma «forma especial de primado na prática da caridade cristã, testemunhada por toda a Tradição da Igreja». Como ensinava Bento XVI, esta opção «está implícita na fé cristológica naquele Deus que Se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza». Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles. Leia a Exortação na íntegra
Na Bolívia a justiça é gratuita. No Brasil, o pobre para ter um advogado de graça precisa assinar um atestado de pobreza.
O atestado ou declaração de pobreza é um documento usado para comprovar que uma pessoa não tem condições de pagar os custos exigidos para ter acesso a alguns serviços como: assessoria jurídica e segunda via do RG, entre outros.
Garantir que as informações presentes na declaração são verdadeiras é responsabilidade do declarante.
A evasão dos defensores públicos para outras carreiras jurídicas é uma preocupação em todo o país, não sendo diferente no Piauí. Segundo a Associação Piauiense de Defensores Públicos (Apidep) o índice de abandono de aprovados no penúltimo concurso realizado pelo órgão, finalizado em 2004 e de onde decorreram as últimas nomeações, chegou a 46%.
Foram nomeados para assumirem a vaga até o 118º colocado, sendo que destes apenas 63 estão na instituição, totalizando atualmente com 86 profissionais para atender toda a população carente do Estado. Os demais aprovados ou desistiram da nomeação ou pediram exoneração, todos em razão da aprovação em concursos de outras carreiras.
Entre os principais motivos para o aumento do quadro de evasão dos defensores está a remuneração, principalmente se comparada com carreiras jurídicas semelhantes, como o Ministério Público e o Judiciário. Para o presidente da Apidep, Arilson Malaquias, não só a questão remuneratória afeta o interesse pela carreira, mas também a falta de estrutura que desestimula os profissionais.
A falta de investimento na instituição é um grave problema enfrentado. Em 2012, a lei orçamentária estadual estipula apenas pouco mais de 40 milhões de reais contra os 320 e 109 milhões orçados para o Judiciário e Ministério Público, instituições que integram o chamado sistema de Justiça.
Para Malaquias, isso é reflexo do desinteresse em proteger e garantir o direito da população carente, tendo em vista que a Defensoria Pública é o instrumento de que dispõe a sociedade carente para atuar no sistema de justiça de forma a acessar direitos básicos, que não raramente, são violados pelo próprio Estado.
“Cerca de 70% da população piauiense ganha menos de três salários mínimos e não têm condições de pagar advogados. Para atender a essa população seria necessário dobrar triplicar o número de defensores. A maior demanda pela atuação da instituição está relacionada às questões ligadas ao Direito de Família, com destaque para as questões de pensão alimentícia, separação e reconhecimento de paternidade, e no interior, também os benefícios previdenciários e assistenciais”, destacou Arilson Malaquias.
O presidente alerta que devido ao grande número de unidades jurisdicionais, os Defensores são obrigados a acumularem atuações em núcleos diversos com imenso volume de trabalho e ações. “No interior, a cobertura é feita também com acumulações nas principais Comarcas, tendo ainda, onde não há Defensor Público lotado, que a instituição realizar atendimento de maneira emergencial dentro de critérios definidos, como em audiências e júri de réus presos”, enfatizou Malaquias.
Arilson acrescenta que a evasão dos profissionais para outras carreiras só será suprimida quando as desigualdades no tratamento orçamentário forem corrigidos, como ocorre em diversos estados da federação.