A pobreza leva à loucura

Estudos estabelecem relação direta entre a desigualdade social e a incidência de doenças mentais nos desassistidos

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por Gabriel Bonis

Na Londres do século XIX, Charlie Chaplin viveu uma infância atormentada pela pobreza e a instabilidade familiar. O ícone do cinema mudo perdeu o pai para o alcoolismo e acompanhou o declínio mental da mãe em meio à miséria. Embora evidências recentes sugiram que a “loucura” de Hannah Chaplin tenha sido causada pela sífilis, o comediante registrou em sua autobiografia que os problemas mentais da matriarca, surgiram porque ela passava fome para que os filhos pudessem comer.

Ainda que cientificamente incerto, o caso é um exemplo longínquo da relação entre pobreza e transtornos mentais, estudada ao menos a partir dos anos 1930. Desde então, surgiram pesquisas mais contemporâneas, entre elas uma análise que transplanta essa correlação ao Brasil. Feita em 2013 com dados do Censo do IBGE de 2010, um levantamento da ONG Meu Sonho Não Tem Fim indica que das mais de 2,4 milhões de pessoas com problemas mentais permanentes acima de 10 anos no Brasil, 82,32% são pobres.

pobreza loucura estatística

Dentro desta proporção, 36,11% não possuíam rendimentos mensais e 46,21% viviam com até um salário mínimo. Outras 15,49% estavam na faixa entre um e cinco salários e apenas 2,19% recebiam acima desse patamar. “É preciso considerar que esses problemas também são causados por aspectos como a genética, mas a falta de uma alimentação mínima pode contribuir para o aparecimento de doenças que afetam o desempenho mental”, afirma Alex Cardoso de Melo, responsável pela pesquisa e idealizador da ONG, focada em trabalhos educativos com populações carentes.

A ideia de traçar a relação entre pobreza e problemas mentais no Brasil, diz Melo, surgiu após a divulgação de um estudo de 2005 de Christopher G. Hudson, Ph.D em politicas de saúde mental. O trabalho analisou dados de 34 mil pacientes com duas ou mais hospitalizações psiquiátricas em Massachusetts, nos Estados Unidos, entre 1994 e 2000. E concluiu que condições econômicas estressantes, como desemprego e impossibilidade pagar o aluguel, levam a doenças mentais. E mais: a prevalência destas enfermidades nas comunidades ricas analisadas foi de 4%, contra 12% nas mais pobres.

Os estudos sobre o tema percorrem as décadas e suas conclusões são similares nestes períodos, descobriu o doutor em Psicologia Fernando Pérez del Río, do projeto Homem de Burgos, na Espanha. No estudo Margens da Psiquiatria: Desigualdade Econômica e Doenças Mentais, ele analisou mais de 20 levantamentos sobre o tema e reuniu as principais conclusões.

Entre elas, está a de que em países desenvolvidos como EUA e Reino Unido existem mais doentes mentais, proporcionalmente, que na Nigéria, Dinamarca, Noruega e Suécia. E que estudos estabelecem uma relação entre o grau interno desigualdade econômica de um país como condicionante direta da saúde mental de seus cidadãos.

Exemplo disso é o estudo The Distribution of the Common Mental Disorders: Social Inequalities in Europe, de 2004. O documento, citado por Del Río, indica que dos 20% da população europeia de baixa renda, 51% possuem algum transtorno menta­l grave. São pessoas que, devido a suas dificuldades de adap­tação social, acabam condenadas a trabalhar em condições precárias e com salários insuficientes, levando a má nutrição e à manutenção do circulo de pobreza e exclusão.

A integração social, por outro lado, é determinante para o acesso dos cidadãos aos seus direitos e a suas expectativas de futuro. “Ser pobre em uma sociedade rica pode ser ainda mais danoso à saúde que o ser em uma área de extrema miséria”, conta Del Rio, a CartaCapital. “É obviamente muito difícil trabalhar a frustração em uma sociedade rica, onde as expectativas são mais altas e se deprecia o fracasso.” Algo que pode ser retratado por um estudo da Organização Mundial da Saúde de 2004, no qual foi identificada a prevalência de 4,3% de transtornos mentais na conturbada Xangai, na China, contra 26,4% nos EUA.

Del Río destaca, em seu estudo, que os problemas de saúde de uma população também estão ligados a forma como a desigualdade de poder econômico e social condiciona as políticas públicas. “As doenças mentais são uma construção social. A desigualdade torna as sociedades mais classistas, o que significa que as origens familiares interferem mais nas posições sociais, o que implica na transmissão intergeracional da pobreza”, diz a CartaCapital.

Sob esse ângulo, revelam os estudos, países com menos diferenças econômicas entre seus habitantes possuem os cidadãos mais sãos. Enquanto nações com políticas neoliberais mais agressivas e individualistas estariam mais sujeitas a problemas mentais por retratar as pessoas necessitadas como “parasitas sociais”. Um cenário que reforçaria ansiedades e os níveis de estresse, favorecendo o aumento destas doenças.

No artigo The Culture of Capitalism, Jonathan Rutherford, docente de Estudos Culturais da Universidade de Middlesex, na Inglaterra, acrescenta que uma sociedade desigual é mais violenta, pois não dá o apoio correto aos seus cidadãos. O que evidencia uma vulnerabilidade capaz de gerar ansiedades. E isso pode piorar com a crise mundial e os cortes de benefícios sociais na Europa, defende Del Río. “Hoje a situação é pior, pois está se produzindo um corte das ajudas, que levam as pessoas a situações limites.” In Carta Capital, maio 2013

Milhões de Lulas, Marinas e Erundinas continuam invisíveis na mais extrema pobreza

A vida de pobreza, quando crianças e adolescentes de Erundina, de Marina, de Magalhães Pinto, ex-governador de Minas Gerais e chefe civil do golpe de 64, do vice-presidente José Alencar, dos presidentes Lula e Café Filho, de uma multidão de governadores, senadores, deputados e prefeitos vamos encontrar em milhões de brasileiros invisíveis.

A pergunta para os políticos, legisladores e governantes é uma só: que fez para acabar a fome de ontem e de hoje? Não interessa o amanhã. Mas o aqui e agora.

Talita Bedinelli, do jornal El País, Espanha, acompanhou a procura do Governo por pessoas extremamente pobres que ainda não recebem o benefício do bolsa-família, concedido para um quarto da população brasileira. Ela escreve:

A busca pelos ‘excluídos do Bolsa Família’ encontra os brasileiros invisíveis
Antonilson dos Santos, 23, Maria Eliane Ribeiro da Silva, 22, e os filhos Lucas (esq.), Ludmila, Bruna e Luan (no colo da mãe), que não haviam se cadastrado no Bolsa Família por falta de documentos: ALEX ALMEIDA
Antonilson dos Santos, 23, Maria Eliane Ribeiro da Silva, 22, e os filhos Lucas (esq.), Ludmila, Bruna e Luan (no colo da mãe), que não haviam se cadastrado no Bolsa Família por falta de documentos: ALEX ALMEIDA

Na porta de uma das casas de barro da zona rural de Alto Alegre do Pindaré (no oeste maranhense), Lucas, de 3 anos, brinca com o cadáver de um pássaro jaçanã ao lado das irmãs Ludmila, 6, e Bruna, 5. Dentro da casa, a mãe, Maria Eliane da Silva, de 22 anos, cuida do filho mais novo de oito meses quando uma equipe da Secretaria de Assistência Social entra para conversar com ela sobre o Bolsa Família.

A família só se cadastrou no programa do Governo federal agora, porque antes não tinha os documentos necessários, apesar de nunca ter tido nenhuma fonte segura de renda na vida. O marido de Maria faz bicos e recebe, quando consegue trabalho, em média 30 reais por dia. Nos meses bons, paga os 50 reais de aluguel da casa de três cômodos e compra comida para os filhos. Nos meses ruins, todos passam dias à base de uma papa feita de farinha e água, contam eles.

No município, seis de cada dez pessoas vive na pobreza, sendo que quatro delas estão em famílias cuja renda per capita não chega a 70 reais –são as consideradas extremamente pobres. As opções de trabalho são escassas: uma pequena rede de comércio no centro e cargos na prefeitura. A maioria das pessoas trabalha como diarista em roças ou no “roço da juquira”, a limpeza de áreas desmatadas para o pasto do gado. Cerca de metade dos moradores depende da bolsa do governo.

A equipe da prefeitura de Alto Alegre do Pindaré que visitava a casa de Maria Eliane fazia a chamada “busca ativa”, que tem o objetivo de procurar pessoas em situação de extrema pobreza que ainda não estão incluídas no benefício. Estima-se que 25% dos pobres do município que teriam direito à bolsa ainda não a recebem.

O EL PAÍS acompanhou o trabalho da equipe por dois dias na semana passada. Nas visitas, presenciou casos como o de Antônia Costa, de 31 anos, que se prostitui para complementar a renda; de Francilene Araújo, uma adolescente de 14 anos recém-casada que nunca saiu do povoado onde mora, ou de Sara de Jesus, grávida de quatro meses, que passa fome ao lado da filha de quatro anos. Nenhuma foi atrás do benefício ou porque moram longe da secretaria, onde é possível fazer o cadastro, ou por não terem os documentos necessários (CPF ou título de eleitor). Ao identificar casos assim, a equipe cadastra as famílias, explica como o programa funciona e como tirar os documentos –muitos não sabem que a primeira via é de graça.

A equipe de “busca ativa” atua na cidade há um ano, mas ainda não visitou todos os cerca de 200 povoados porque muitos só são acessíveis por meio de estradas precárias. A secretaria não tem carro adequado para chegar a esses locais, mas afirma que uma caminhonete chegará nos próximos meses. Um barco também foi comprado para que fosse possível alcançar as áreas ribeirinhas ou que alagam na temporada de chuva, mas o piloto ainda espera a chegada da habilitação para poder manejá-lo. No mês passado, 44 famílias foram “captadas” nas visitas.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome diz que o governo lançou a ação há três anos e, neste período, as equipes municipais conseguiram localizar 1,35 milhão de famílias. Atualmente, 13,9 milhões de casas recebem o Bolsa Família (cerca de um quarto da população brasileira), quase um milhão delas no Maranhão, onde se concentra a maior proporção de pobres do Brasil.

Para a ONU, o programa teve uma importante participação na redução da fome no país, que nos últimos 20 anos caiu pela metade. Atualmente, 3,4 milhões de pessoas (o equivalente a 1,7% da população) não têm o que comer no Brasil.

 

“É só dormir que a fome passa”
Sara de Jesus Lima, 23, segura a foto do filho que nasceu morto: ALEX ALMEIDA
Sara de Jesus Lima, 23, segura a foto do filho que nasceu morto: ALEX ALMEIDA

Sara de Jesus Lima, 23, interrompe a conversa com a reportagem na área rural de Alto Alegre do Pindaré, vai até o quarto e volta com uma fotografia em mãos. É a imagem do filho, que morreu no trabalho de parto. A mãe de Samara, 4 anos, está grávida de quatro meses e não recebe o Bolsa Família. “Nunca fui atrás. Nem tirei os documentos”, conta. A família sobrevive do dinheiro que o marido recebe na roça e da ajuda de vizinhos. Não são poucos os dias em que todos passam fome ou comem apenas uma papa de farinha com água ou um mingau de arroz. Na tarde da última quinta, havia apenas quatro garrafas de água e uma de limonada na geladeira. A família mora em uma casa de barro, com teto de palha, mobiliada apenas por duas redes, um colchão de casal apoiado em pedaços de madeira e a geladeira, distribuídos em três cômodos –sala, quarto e cozinha. O banheiro, uma estrutura aberta cercada de palha, fica nos fundos do terreno: é um buraco no chão coberto por uma tampa removível de madeira–uma estrutura bastante comum na área rural da região. Logo ao lado, mora a mãe dela, Terezinha de Jesus Lima, que não sabe a própria idade. Ela, o marido, de 67 anos, e outros dois filhos sobrevivem dos 374 reais que ganham do Bolsa Família, mas não tinham conseguido sacar o rendimento do mês porque o dinheiro havia acabado na lotérica. “Tem dias que o velho pergunta: ‘Minha velha, o que vamos comer hoje?’ Eu falo: ‘Meu velho, é só dormir que a fome passa. E esperar amanhã por Deus”.

 

“Eu dou um rolê”

ALEX ALMEIDA

Em um canto da casa de Antônia, 31 anos, estão empilhados quatro grandes sacos de arroz, produto da roça que ela tem com a família. “Isso dá pra meses. Vou comer devagar”, comemora. Ela não recebe o Bolsa Família porque perdeu os documentos e nunca fez outros. A segunda via é paga. No final da tarde da última quinta-feira, ela se preparava para sair de casa para dar um “rolê”, forma como, timidamente, descreve os programas que faz. Na cintura, levava um canivete. Do lado direito do olho, tinha uma mancha escura, que ela diz ser consequência de uma queda. Antônia tem três filhos: o de 5 e o de 9 anos vivem com a mãe dela e estão incluídos no cadastro do Bolsa Família da avó. A de 15 vive sozinha. “Aqui é ruim, não tem como trabalhar”, conta ela, que há alguns anos voltou do Pará, onde exercia a função de cozinheira em um garimpo. Nos “rolês”, ela consegue entre 30 e 40 reais, conta. Quando não tem dinheiro, pesca peixe no rio. “Tem um velhinho também que eu ajudo e ele me ajuda, me dá as coisas.”

 

“Queria ser doutora, mas vou ficar quieta mesmo”
Francilene, 14 anos, ao lado de uma inscrição com o nome dela e do marido: ALEX ALMEIDA
Francilene, 14 anos, ao lado de uma inscrição com o nome dela e do marido: ALEX ALMEIDA

Francilene Mendes Araújo, de 14 anos, nunca percorreu os 29 quilômetros de estrada que afastam o povoado de Cajueiro, bairro repleto de pés de caju, do centro de Alto Alegre do Pindaré, onde está o cartório necessário para que ela retire os documentos que ainda não tem. Ela cursa a oitava série do Ensino Fundamental na escola do povoado, que atende 12 crianças em duas salas multisseriadas (que juntam alunos de séries distintas). No ano que vem, deixará de estudar porque só há Ensino Médio em outro povoado e ela tem que caminhar por mais de uma hora para chegar lá. “No inverno chove e ninguém passa”, conta. Quando questionada se tem algum sonho, ela para, pensa e, com um sorriso tímido, responde: “Queria ser doutora. Mas vou ficar quieta mesmo.”

O assassinato de DG revolta o carioca

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Reproduções das capas do Extra, O Dia e O Globo. Escreveu o deputado Garotinho: “Copacabana viveu momentos de terror e guerra. Ainda tem muita coisa obscura, mas o fato é que mais uma vez a Zona Sul fica refém da violência. Aliás, a propaganda enganosa da pacificação cria situações absurdas. Um grupo de franceses chegou para se hospedar num albergue no Pavão-Pavãozinho porque ouviu falar que era um lugar completamente tranquilo e barato. Devem ter entrado em pânico com o tiroteio e a guerra que se seguiu”.

Não entraram em pânico. Parece que Garotinho desconhece o chamado turismo de favela, ou turismo da miséria, ou o turismo sádico, chamado de slumming. O desejo dos turistas era ver sangue derramado. Como faziam os antigos romanos nas arenas de gladiadores. Como se faz hoje nos ringues de boxe, nas pistas de corridas de carro.

O deputado Chico Alencar foi mais realista:

PELO MENOS DUAS MORTES E MUITA REVOLTA NO PAVÃO-PAVÃOZINHO

As informações são chocantes: Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, de 25 anos, dançarino do programa ‘Esquenta’, da TV Globo, foi encontrado morto na Creche Escola Lar de Pierina, na comunidade Pavão-Pavãozinho, na zona sul do Rio.

O corpo foi encontrado cheio de escoriações. A Secretaria de Segurança, pelo twitter, disse que um laudo da polícia civil teria apontado para morte por queda. Em pelo menos uma matéria na internet, há a informação de que Douglas estaria fugindo de um tiroteio quando caiu de uma grande altura.

Há outra versão, no entanto. Douglas teria sido confundido com um traficante, torturado e morto por policiais da UPP. É a versão de moradores e de parentes do rapaz:

– O corpo dele estava cheio de marcas de botas. As costas todas arranhadas, e as paredes da creche, que são de chapisco, ensanguentadas. A UPP não protege ninguém. A gente vive num regime de arbitrariedade. A gente quer que quem fez isso com meu filho seja punido. O corpo só foi aparecer hoje porque descobriram que mataram um trabalhador — disse a mãe de Douglas, Maria de Fátima, ao jornal O Globo.

protesto DG

No fim da tarde, moradores fecharam ruas na região de Copacabana e Ipanema. Houve confronto com policiais e tiros foram ouvidos. Na foto, um morador reage enquanto é detido por policiais.

Agora à noite, A NOTÍCIA DE QUE MAIS DUAS PESSOAS TERIAM SIDO MORTAS, ambas com TIROS NA CABEÇA.

Uma das mortes já foi confirmada: um homem de cerca de 30 anos, ainda não identificado, que já chegou morto ao Hospital Miguel Couto.

Moradores afirmam que um garoto de 12 anos chamado Matheus também teria sido baleado na cabeça quando descia o morro com os braços erguidos.

— Os policiais correram em direção ao rapaz. Pegaram o menino e o colocaram num carro da PM que saiu em disparada. Mas acho que o garoto já estava morto. Todo mundo viu o jeito como ele caiu — afirmou o cozinheiro Antonio Mauro Nunes de Souza, de 25 anos, para o jornal O Globo.

É mais um caso grave que acontece em áreas de UPP e que envolve policiais militares. É muito importante que todos os organismos de fiscalização e controle se façam presentes. Fundamental seguirmos atentos aos acontecimentos e ao esclarecimento dessas informações.

DG encenou a própria morte em 2013. A polícia transformou o filmete em realidade. Cena mil vezes repetida nas ruas do Rio de Janeiro
DG encenou a própria morte em 2013. A polícia transformou o filmete em realidade. Cena mil vezes repetida nas ruas do Rio de Janeiro

 

Urgência para lei antiterrorIsmo. PEC do trabalho escravo tramita no Congresso há 14 anos. Isso, sim, é a pior violência

O BRAZIL NÃO POSSUI UM CONCEITO DO QUE SEJA ESCRAVIDÃO. AS ELITES ESQUECEM: O TRABALHO ESCRAVO É UMA VIOLÊNCIA EXTREMA, O MAIS HEDIONDO CRIME. É CÁRCERE PRIVADO, TORTURA E LATROCÍNIO

Alex Falco escravo

Parece piada: os governantes, os políticos e os juristas brasileiros estão na dúvida do que seja escravidão. Isso motiva a não votação da PEC que elimina o trabalho escravo, que a Lei Áurea passou a não ter validade no Brasil republicano.

Que vergonha! Somente agora, na véspera do Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, no dia 28  último, a Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), vinculada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), criou um grupo de trabalho para discutir o conceito de trabalho escravo. A definição desse conceito será importante para dar andamento na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438/1, conhecida como PEC do Trabalho Escravo.

A PEC altera a redação do Artigo 243 da Constituição Federal e permite a expropriação de terras onde houver exploração de trabalhadores. As terras seriam destinadas à reforma agrária ou a programas de habitação popular, sem indenização ao proprietário. Ela tramita no Congresso há 14 anos. Para José Guerra, coordenador da Conatrae, uma definição do que é trabalho escravo dribla a estratégia atual de parlamentares que não querem votar a matéria.

“A PEC está travada porque alguns setores muito bem representados no Congresso, como os ruralistas, por exemplo, não aceitam o conceito de trabalho escravo. Como ninguém em sã consciência vai à público dizer que é contra o combate ao trabalho escravo, eles inventam alguns subterfúgios. Um deles é que o conceito atual dá margem a interpretações exageradas”, explica.

O objetivo é criar um texto defendendo o conceito existente há anos sobre trabalho escravo e que, de acordo com Guerra, é um conceito respeitado internacionalmente. O texto será definido em algumas semanas e a expectativa é aprová-lo na próxima reunião da Conatrae, no final de fevereiro, e divulgá-lo, aproveitando a volta das atividades no Congresso Nacional.

O grupo será composto por representantes da Conatrae, do Ministério Público do Trabalho, da organização não governamental (ONG) Repórter Brasil, da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) e do Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GPTEC).

O coordenador da Conatrae também defende o diálogo com a bancada ruralista no Congresso. Para ele, é importante mostrar que o setor também sai ganhando com a aprovação da PEC. “Ao aprovar leis mais fortes contra o trabalho escravo, a gente garante que o setor rural brasileiro não seja vítima de um ataque comercial de outro país que tenha como justificativa essa minoria que se utiliza de trabalho escravo”.

AS ELITES DO BRASIL TÊM O MESMO PENSAR DOS GOVERNANTES DA MAURITÂNIA E DO HAITI 
Fabio Magnasciutti
Fabio Magnasciutti

Em 20 de novembro, o Brasil recorda a memória de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra na luta pela libertação. Desde 1978, o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial batizou a data como o Dia Nacional da Consciência Negra em substituição ao 13 de Maio, que é considerado como o Dia das Raças.

Para colaborar com a reflexão nesta data, a Pastoral Afro-brasileira da CNBB divulgou uma mensagem, na qual recorda os desafios e a luta contra a escravidão moderna, e em prol da cidadania dos afrodescendentes.

A seguir, a íntegra do texto:

20 de novembro: Dia da Consciência Negra

Aos poucos os eventos gaúchos atraíram a atenção da mídia nacional e de grupos negros de outros Estados, que também passaram a adotar o 20 de novembro. Finalmente, em 1978, o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial adotou a data, batizando-a de Dia Nacional da Consciência Negra. Mais recentemente os poderes públicos abraçaram a ideia, dando origem ao feriado de amanhã, celebrado em muitas cidades do País.

Em uma dissertação de mestrado apresentada no programa de pós-graduação em história da PUC de Porto Alegre, o jornalista negro Deivison Moacir Cezar de Campos sugere que os rapazes do Palmares foram subversivos. Porque fizeram um contraponto ao discurso oficial do regime militar, que exaltava as igualdades proporcionadas pela democracia racial e via no debate sobre o tema um fator de distúrbio. “Eles buscavam o reconhecimento das diferenças étnicas e das condições desiguais de acesso à cidadania e a integração socioeconômica”, diz a tese. E mais: “Colocaram-se contra o oficialismo ao defenderem a substituição de 13 de Maio, o Dia das Raças, pelo 20 de Novembro, Dia do Negro; ao proporem uma revisão da historiografia; ao afirmarem um herói não reconhecido.”

Hoje, muitas conquistas das comunidades negras estão presentes em nossa sociedade. Existem desafios que vamos enfrentando com participação de grupos organizados ou não. A Pastoral Afro-brasileira, presente em todo o Brasil, celebra mas também está empenhada em enfrentar os desafios presentes no mundo.  A Escravidão hoje atinge 29 milhões de trabalhadores em todo o mundo. Um relatório recém-divulgado pela fundação Walk Free aponta que 29 milhões de pessoas no mundo ainda trabalham sob o regime de escravidão.

Para o cientista político Leonardo Sakamoto, que é coordenador da ONG Repórter Brasil e membro da Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, a escravidão ocorre quando a dignidade ou a liberdade são aviltadas. Condição degradante é aquela que rompe o limite da dignidade. São negadas a essas pessoas condições mínimas mais fundamentais, colocando em risco a saúde e a vida.

A Mauritânia ocupa o primeiro lugar do ranking de escravidão global, que analisou 162 países e leva em consideração o casamento infantil e os níveis de tráfico humano. Haiti, Paquistão e Índia vêm em seguida. No Brasil, 125 anos após a abolição da escravatura, milhares de pessoas ainda são submetidas a trabalhos em situação degradante. No entanto, há avanço na erradicação da prática. A primeira política de contenção do trabalho escravo é de 1995 e, de lá para cá, 45 mil pessoas foram libertadas de locais onde havia exploração desumana da mão de obra. Tramita no Congresso Nacional uma Proposta de Emenda Constitucional para endurecer a lei. É a PEC do Trabalho Escravo e prevê o confisco de imóveis em que o trabalho escravo for encontrado e sua destinação para reforma agrária ou para o uso habitacional urbano.

Lucrativa, a escravidão moderna movimenta mais de US$ 32 bilhões, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Estimativas da OIT também apontam que há 5,5 milhões de crianças escravas no mundo.

Como muito bem falou o Papa João Paulo II, aos afro-americanos, em 1992, em Santo Domingo: “A estima e o cultivo dos vossos valores Afro-americanos, enriquecerão infalivelmente a Igreja.”

Em outras palavras, a novidade que a Igreja quer e merece é a inclusão em sua Ação Evangelizadora, das riquezas culturais e espirituais que emanam do Patrimônio africano e afro-descendente.

O processo de Cidadania do povo negro é uma dimensão essencial da vida e da Missão da Nossa Igreja Católica Apostólica Romana. A Igreja Católica no Brasil, fiel à missão de Jesus Cristo, está presente nesses importantes acontecimentos por meio de seus representantes e de suas orações. Exorta a todo o Povo de Deus a colocar-se a serviço da vida e da esperança, “acolher, com abertura de espírito as justas reivindicações de movimentos – indígenas, da consciência negra, das mulheres e outros – (…) e empenhar-se na defesa das diferenças culturais, com especial atenção às populações afro-brasileiras e indígenas” (CNBB, Doc. 65, nº 59).

Pastoral Afro-brasileira da CNBB

 BRA^MG_FDM Passos escravidão

 

BRA^GO_DDM escravidão empregada doméstica

BRA_FDL escravidão

Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: «sendo rico, Se fez pobre por vós»

Mensagem do Papa para a Quaresma

 

Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9)


Queridos irmãos e irmãs!
Por ocasião da Quaresma, ofereço-vos algumas reflexões com a esperança de que possam servir para o caminho pessoal e comunitário de conversão. Como motivo inspirador tomei a seguinte frase de São Paulo: «Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza» (2 Cor 8, 9). O Apóstolo escreve aos cristãos de Corinto encorajando-os a serem generosos na ajuda aos fiéis de Jerusalém que passam necessidade. A nós, cristãos de hoje, que nos dizem estas palavras de São Paulo? Que nos diz, hoje, a nós, o convite à pobreza, a uma vida pobre em sentido evangélico?
A graça de Cristo
Tais palavras dizem-nos, antes de mais nada, qual é o estilo de Deus. Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: «sendo rico, Se fez pobre por vós». Cristo, o Filho eterno de Deus, igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre; desceu ao nosso meio, aproximou-Se de cada um de nós; despojou-Se, «esvaziou-Se», para Se tornar em tudo semelhante a nós (cf. Fil 2, 7; Heb 4, 15). A encarnação de Deus é um grande mistério. Mas, a razão de tudo isso é o amor divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas criaturas. A caridade, o amor é partilhar, em tudo, a sorte do amado. O amor torna semelhante, cria igualdade, abate os muros e as distâncias. Foi o que Deus fez connosco. Na realidade, Jesus «trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado» (CONC. ECUM. VAT. II, Const. past. Gaudium et spes, 22).
A finalidade de Jesus Se fazer pobre não foi a pobreza em si mesma, mas – como diz São Paulo – «para vos enriquecer com a sua pobreza». Não se trata dum jogo de palavras, duma frase sensacional. Pelo contrário, é uma síntese da lógica de Deus: a lógica do amor, a lógica da Encarnação e da Cruz. Deus não fez cair do alto a salvação sobre nós, como a esmola de quem dá parte do próprio supérfluo com piedade filantrópica. Não é assim o amor de Cristo! Quando Jesus desce às águas do Jordão e pede a João Baptista para O baptizar, não o faz porque tem necessidade de penitência, de conversão; mas fá-lo para se colocar no meio do povo necessitado de perdão, no meio de nós pecadores, e carregar sobre Si o peso dos nossos pecados. Este foi o caminho que Ele escolheu para nos consolar, salvar, libertar da nossa miséria. Faz impressão ouvir o Apóstolo dizer que fomos libertados, não por meio da riqueza de Cristo, mas por meio da sua pobreza. E todavia São Paulo conhece bem a «insondável riqueza de Cristo» (Ef 3, 8), «herdeiro de todas as coisas» (Heb 1, 2).
Em que consiste então esta pobreza com a qual Jesus nos liberta e torna ricos? É precisamente o seu modo de nos amar, o seu aproximar-Se de nós como fez o Bom Samaritano com o homem abandonado meio morto na berma da estrada (cf. Lc 10, 25-37). Aquilo que nos dá verdadeira liberdade, verdadeira salvação e verdadeira felicidade é o seu amor de compaixão, de ternura e de partilha. A pobreza de Cristo, que nos enriquece, é Ele fazer-Se carne, tomar sobre Si as nossas fraquezas, os nossos pecados, comunicando-nos a misericórdia infinita de Deus. A pobreza de Cristo é a maior riqueza: Jesus é rico de confiança ilimitada em Deus Pai, confiando-Se a Ele em todo o momento, procurando sempre e apenas a sua vontade e a sua glória. É rico como o é uma criança que se sente amada e ama os seus pais, não duvidando um momento sequer do seu amor e da sua ternura. A riqueza de Jesus é Ele ser o Filho: a sua relação única com o Pai é a prerrogativa soberana deste Messias pobre. Quando Jesus nos convida a tomar sobre nós o seu «jugo suave» (cf. Mt 11, 30), convida-nos a enriquecer-nos com esta sua «rica pobreza» e «pobre riqueza», a partilhar com Ele o seu Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão Primogénito (cf. Rm 8, 29).
Foi dito que a única verdadeira tristeza é não ser santos (Léon Bloy); poder-se-ia dizer também que só há uma verdadeira miséria: é não viver como filhos de Deus e irmãos de Cristo.
O nosso testemunho
Poderíamos pensar que este «caminho» da pobreza fora o de Jesus, mas não o nosso: nós, que viemos depois d’Ele, podemos salvar o mundo com meios humanos adequados. Isto não é verdade. Em cada época e lugar, Deus continua a salvar os homens e o mundo por meio da pobreza de Cristo, que Se faz pobre nos Sacramentos, na Palavra e na sua Igreja, que é um povo de pobres. A riqueza de Deus não pode passar através da nossa riqueza, mas sempre e apenas através da nossa pobreza, pessoal e comunitária, animada pelo Espírito de Cristo.
À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha.
Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspectivas de futuro, perderam a esperança! E quantas pessoas se vêem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de ruína económica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos auto-suficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus.
O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a miséria espiritual: o cristão é chamado a levar a todo o ambiente o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos ama gratuitamente e sempre, e de que estamos feitos para a comunhão e a vida eterna. O Senhor convida-nos a sermos jubilosos anunciadores desta mensagem de misericórdia e esperança. É bom experimentar a alegria de difundir esta boa nova, partilhar o tesouro que nos foi confiado para consolar os corações dilacerados e dar esperança a tantos irmãos e irmãs imersos na escuridão. Trata-se de seguir e imitar Jesus, que foi ao encontro dos pobres e dos pecadores como o pastor à procura da ovelha perdida, e fê-lo cheio de amor. Unidos a Ele, podemos corajosamente abrir novas vias de evangelização e promoção humana.
Queridos irmãos e irmãs, possa este tempo de Quaresma encontrar a Igreja inteira pronta e solícita para testemunhar, a quantos vivem na miséria material, moral e espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio do amor do Pai misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda a pessoa. E poderemos fazê-lo na medida em que estivermos configurados com Cristo, que Se fez pobre e nos enriqueceu com a sua pobreza. A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói.
Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser «tidos por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo» (2 Cor 6, 10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia. Com estes votos, asseguro a minha oração para que cada crente e cada comunidade eclesial percorra frutuosamente o itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!
Vaticano, 26 de Dezembro de 2013 Festa de Santo Estêvão, diácono e protomártir
Francisco

Vereador defende chacina de mendigos

Russo1

Durante uma sessão na Câmara Municipal de Piraí, Rio de Janeiro,  o vereador José Paulo Carvalho de Oliveira (PTdoB), conhecido como Russo, gerou polêmica ao afirmar  que os moradores de rua deveriam virar “ração para peixe”. A frase foi dita no mesmo momento em que ele se posicionava contra o direito dos moradores de rua de votarem.”Mendigo não tem que votar. Mendigo não faz nada na vida. Ele não tem que tomar atitude nenhuma”, disse.

O comentário foi feito no dia 8 de outubro, em uma discussão sobre os 25 anos da Constituição Federal. Na ocasião, o vereador ainda tocou em outros pontos polêmicos como a pena de morte, não prevista pela legislação brasileira. Ele comentou que achou uma pena quando acabaram com a pena de morte. “Deveria haver pena de morte. ‘Ah, vai matar inocente’. Não vai. Ainda que matasse, ia morrer muito menos inocente do que morre hoje, porque se um bandido soubesse que ele ia ser morto, com certeza ele ia pensar mais um pouquinho antes de fazer as coisas”, declarou.

Sobre a censura aos meios de comunicação, o legislador se mostrou preocupado com os conteúdos proporcionados para as crianças. “Fim da censura: eu acho isso ruim. Tem que ter censura. Tem um programa que passa altas horas da noite lá, tem um filme lá que pode passar de qualquer maneira. Eu sei que vai passar um filme ruim e não vou deixar meu filho ver. Mas nas propagandas de intervalo de um filme, de uma novela, tem coisas ridículas. Nas novelas de hoje passam gente transando escandalosamente na frente de criança. Tem que ter censura, sim, tem que ter um bom senso. Não pode se liberar tudo na vida, não, tem que ter censura”, defendeu.

O vereador pronunciou um discurso nazista/fascista/stalinista.  Coisa de reacionário, extremista, racista que prega a “solução final para os mendigos”. Isso é apologia do crime, das chacinas de mendigos, que são incendiados ou mortos a tiros, pauladas, e que entram na lista dos desaparecidos e do rendoso tráfico de cadáveres.

Comida para peixe. Na ditadura militar dos países do Cone Sul, inúmeros presos políticos foram transportados em aviões e jogados no alto mar.

Quanta ganha por mês esse vereador aproveitador do PTdoB de Piraí, terra que mata jornalistas?

José Paulo Carvalho de Oliveira não sabe distinguir um mendigo de um picareta político, de um funcionário de serviço fantasma, de um parasita vereador, de um lobista, de um gigolô e outros malandros – uma gentalha que “não faz nada” de útil, e sem trabalhar, vive uma vida de luxo e luxúria.

Jornalista Mário Randolfo Marques Lopes
Jornalista Mário Randolfo Marques Lopes

Que ele responda se já descobriram os assassinos do jornalista Mario Randolfo Marques Lopes que informava sobre a corrupção em Barra do Piraí. Randolfo havia sobrevivido a vários atentados contra sua vida nos últimos anos. Atentados por denunciar vereadores e prefeitos ladrões em Piraí.

95 moradores de rua foram assassinados desde o começo do ano

Rezo para que o discurso nojento do vereador José Paulo Carvalho de Oliveira não aumente a lista das chacinas de mendigos, impunemente praticadas no Brasil por assassinos cruéis e covardes.

Escreve Wilson Lima

Dados são da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República: Minas Gerais é o Estado que concentra o maior número de mortes, seguido de Goiás

Dos 195 assassinatos de moradores de rua registrados entre janeiro e junho, dez pessoas foram mortas por apedrejamento e nove por espancamento. Houve também o registro de sete moradores de rua que morreram após terem sido queimados.

In Wikipédia: Mendigomendicantepedintemorador de ruasem-teto ou sem-abrigo é o indivíduo que vive em extrema carência material, não podendo manter a sobrevivência com meios próprios. Tal situação de indigência material força o indivíduo a viver na rua, perambulando de um local para o outro, recebendo o adjetivo de vagabundo, ou seja, aquele que vaga, que tem uma vida errante.

O estado de indigência ou mendicância é um dos mais graves dentre as diversas gradações da pobreza material.

Os mendigos obtêm normalmente os seus rendimentos através de subsídios de sobrevivência estatais ou através da prática da mendicância à porta de igrejas, em semáforos ou em locais bastante movimentados como os centros das grandes metrópoles.

No Brasil, numa tentativa de abordar de forma mais politicamente correta a questão dos que vivem em carência material absoluta, criou-se as expressões pessoas em situação de rua e sem-teto para denominar este grupo social.

Lula: “Las manifestaciones nos incitan a hacer aún más cosas, hasta por el simple hecho de que un pueblo que consiguió tantas conquistas en un período reciente es natural que quiera más”

ar_pagina12. Lula Argentina Cristina

“Necesitamos un pensamiento realmente estratégico”

Poco antes de partir a Buenos Aires, donde participará de un congreso sobre la responsabilidad de los empresarios, el ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversó con este diario sobre Cristina, el No al ALCA, las novedades de la política brasileña con Marina Silva aliada al PSB, las protestas de junio y el nivel de profundidad de la integración sudamericana.

Por Martín Granovsky

 

A la vista, no parece haber vigilancia especial en el edificio modernista pintado de blanco de la calle Pouso Alegre 21, en el barrio paulista de Ipiranga. Tampoco sus oficinas lucen superpobladas con ejércitos de asesores. Una recepcionista que ofrece cafezinho, gente por debajo de los 30 años, sonrisas. En algún pasillo uno puede toparse con un ex ministro que sigue haciendo política pero ahora despunta el oficio lejos del ritmo agotador del Planalto, la Casa Rosada de Brasil. Antes, el Instituto del barrio Ipiranga se llamaba Ciudadanía. Ahora, simplemente se llama Instituto Lula, como su jefe que ocupó ocho años la presidencia y, ya a punto de cumplir los 68 el próximo 27, sigue activo, muy activo, dentro y fuera de Brasil.

–¿Le preocupa la salud de Cristina?

–Nuestro primer deseo es que se restablezca plenamente una gran amiga y líder política. Cristina Kirchner no sólo es importante para la Argentina, sino para toda la región. Tengo plena confianza en que se recuperará rápidamente.

–En su última visita a la Argentina usted pidió formular una doctrina de la integración. ¿Cuál sería el eje principal?

–Por más que los conservadores intenten negarlo, América del Sur avanzó mucho en los últimos diez años. Todos nuestros países viven en democracia. Crecen y se desarrollan con distribución del ingreso e inclusión social. La región hoy es mucho más soberana y respetada en el mundo. El Mercosur, a pesar de sus enemigos, está vivo y funcionando. Creamos la Unasur y el Consejo de Estados de Latinoamérica y el Caribe, Celac. Pero está claro que nuestra integración puede –y debe– ser más profunda y abarcativa. Estoy convencido de que para eso no bastan las visiones de corto plazo. Necesitamos un pensamiento realmente estratégico que encare los problemas estructurales de integración, que presente soluciones para los desafíos de integración física energética, productiva, socio-laboral, cultural, ambiental, financiera, etcétera. Tenemos que ir más allá de los gobiernos. Comprometer a la sociedad civil, a los sindicatos, a los empresarios, a la universidad, a la juventud. Se trata de construir una voluntad popular de integración. Lo fundamental es que todos entiendan cuánto podemos ganar colectivamente en la economía, en la política, en materia de igualdad social y en la cultura si nos integramos y fortalecemos las sociedades entre nuestros países. Vengo dedicándome a esa reflexión en diálogo con los sectores progresistas de la región.

–¿Opina que hoy la relación entre la Argentina y Brasil tiene una intensidad política apropiada o debería ser más profunda?

–En los últimos diez años, nuestra relación vivió el mejor período de su historia. Sin embargo, seguro que puede ser todavía más fuerte. En el plano político tenemos un diálogo excelente. Pero podemos ampliar –y mucho– la integración física, cultural, de cadenas productivas y de turismo. Ahora necesitamos más estudiantes brasileños en las universidades argentinas y más argentinos en universidades brasileñas. Más turistas argentinos conociendo Brasil. Aun más brasileños que hoy con la oportunidad de conocer y viajar a la Argentina. Más empresas de los dos países asociadas para actuar en terceros mercados. El potencial de lo que podemos hacer trabajando juntos apenas empezó a ser explotado. Es importante tener claridad sobre este punto.

–¿Qué cambió para Sudamérica el “no” a la formación de una Alianza de Libre Comercio de las Américas en noviembre de 2005?

–Fue fundamental que hayamos impedido aquella propuesta de formar el ALCA, en Mar del Plata. No era un verdadero proyecto de integración, sino de anexión económica. Afirmada su soberanía, Sudamérica buscó un camino propio y mucho más constructivo. Al revés de constituirnos en un mercado cautivo para los Estados Unidos, como preveía el Alca, buscamos un mercado compartido en beneficio del desarrollo de todos los países de la región. Creo que tanto en las políticas económicas como en las relaciones internacionales la región consiguió trabajar en forma conjunta al mismo tiempo que cada uno respetaba la soberanía de cada país. Eso puede parecer obvio. No lo es. Cuando analizamos la historia de América del Sur vemos que es una gran conquista. Si no hubiéramos evitado el ALCA, la región no habría podido dar el salto social y económico que dio en la última década. La Argentina, Brasil y Venezuela jugaron un papel central en ese proceso. Néstor Kirchner y Hugo Chávez fueron dos grandes aliados para lograrlo.

–Cada uno a su modo, los Estados de Sudamérica combatieron la pobreza y la miseria extrema. ¿Cómo se puede acelerar el combate contra ambas realidades?

–En todos los debates en que participé y participo defiendo el principio de que es fundamental que en el presupuesto los gobiernos incluyan a los pobres. Porque los más pobres muchas veces no son capaces de organizarse y expresarse. No tienen sindicato y tampoco partido. Entonces, cuando llega el momento del debate presupuestario todos se hacen presentes: los militares, los diplomáticos, la infraestructura… Todos menos los pobres. Por eso, es necesario incluir a los más frágiles, a los que más necesitan del Estado, en el presupuesto. Otra cosa: precisamos dejar de enfocar el dinero para políticas sociales como gasto y el dinero para el rico como inversión. Los economistas son increíbles. El dinero que ayuda a instalar una industria es inversión. Pero el dinero usado para dar empleo, seguridad alimentaria, educación y hospitales a gente que debe salir de la pobreza es considerado gasto. ¿Cuánto cuestan las enfermedades, el hambre, la pobreza? ¿Quién lo calcula? En lugar de considerar a los pobres como un problema hay que integrarlos como parte de la solución. Si les damos recursos a los más pobres, se convertirán en consumidores y harán girar la rueda de la economía. Si les damos trabajo se convierten en trabajadores. Si entendemos bien este circuito veremos que se puede erradicar la pobreza extrema, no sólo en nuestros países, sino también en todo el mundo.

–¿Qué deberían hacer los gobiernos con las nuevas demandas como el reclamo de una mejora en políticas de salud y transporte público? ¿Sorprendieron al Partido de los Trabajadores las movilizaciones de junio último?

–En cierto sentido sí, sorprendieron. El país avanzó de manera extraordinaria en los últimos años. Pero las manifestaciones fueron una señal de alerta importante para nosotros. Impiden cualquier riesgo de que nos relajemos. Nos incitan a hacer aún más cosas, hasta por el simple hecho de que un pueblo que consiguió tantas conquistas en un período reciente es natural que quiera más. Millones de personas tuvieron acceso a la enseñanza superior y ahora quieren empleos calificados. Pasaron a utilizar servicios públicos de los que antes no disponían. Ahora quieren mayor calidad. Millones de brasileños pudieron comprar su primer coche y hoy también viajan en avión. En contrapartida, claro, debemos contar con un transporte público eficiente y digno que reduzca el tránsito y haga más digna la vida en las grandes ciudades. Hay una nueva generación, más educada y exigente. Es bueno. Es bueno, en general, que el pueblo exija más. A los políticos nos corresponde escuchar las demandas y trabajar todavía mucho más.

–¿Usted considera que el PT y el gobierno reaccionaron a tiempo?

–La presidenta Dilma Rousseff tuvo una sensibilidad extraordinaria. Hizo cinco grandes propuestas para atender las voces que se expresaron en las calles: un plebiscito para reforma política; más recursos para el transporte en las grandes ciudades; la decisión de destinar los nuevos recursos petroleros (el llamado pré-sal) a la educación; garantizar que haya médicos en la periferia de las grandes ciudades y en todas las regiones del interior, e intensificar el combate contra la inflación. Desde ese momento, veo que la población entendió y valoriza los esfuerzos de la presidenta y que la solución a esos problemas se dará progresivamente. Todo exige mucho trabajo, muchos recursos. En Salud, por ejemplo, la oposición a mi gobierno terminó con un impuesto. Eran 40 mil millones de reales por año para Salud. Creían que me perjudicarían. No fue así. A mí no me hicieron nada. Salí del gobierno con una aprobación del 87 por ciento. El problema es que perjudicaron el pueblo brasileño, que precisaba de esos recursos para alcanzar una mejor atención y un acceso a estudios y medicamentos más complejos. Se parece a esa lamentable intransigencia de la oposición norteamericana al proyecto de salud propuesto por el presidente Barack Obama.

–Marina Silva anunció su afiliación del Partido Socialista Brasileño, que a su vez dejó la coalición de gobierno. ¿Le teme a una candidatura suya ahora que cuenta con una estructura partidaria?

–Debemos respetar a todos los adversarios. Ese es un principio. Pero, para ser sincero, creo que la presidenta Dilma tiene todas las condiciones para ser reelegida. El país continúa creciendo y desarrollándose. Genera empleos, promueve la inclusión social, expande y mejora la calidad de los servicios públicos, pone énfasis especial en educación, ciencia y tecnología… La mayoría de la población percibe que el país tiene un rumbo seguro y piensa que la actual presidenta es la persona más preparada para profundizar los cambios y garantizar que no haya retrocesos. No hay motivos para que la presidenta Dilma le tema a adversario alguno.

–¿Cómo hará el PT para mantener la alianza amplia en el gobierno y en el Parlamento y al mismo tiempo evitar contaminarse frente a la erosión que sufren algunos gobernadores?

–En un país tan diverso y complejo como Brasil es necesario gobernar con alianzas. Eso pasa tanto a nivel nacional como en el plano de los Estados y en el de los municipios. El sistema partidario brasileño está muy pulverizado. Atomizado. Existen más de 30 partidos y el elector puede escoger al presidente de la República de un partido y los diputados y senadores de otro. No hay voto por lista. El voto es por individuo, que encima luego no está obligado a quedarse en el partido por el cual fue elegido. Si no hay reforma política nadie en Brasil conseguirá gobernar sin alianzas. De todos modos, en mi opinión tampoco sería deseable gobernar sin ellas. Hace diez años que el PT gobierna Brasil en una alianza de centroizquierda. Fue así que el país alcanzó sus enormes conquistas económicas, sociales y culturales. Hemos buscado perfeccionar las alianzas, dándoles un carácter más programático y de mayor corresponsabilidad política. Pero sin duda vamos a mantener nuestro gobierno de coalición. Vamos a seguir trabajando junto con los partidos que nos apoyan. Para la población, lo importante es que gobernemos bien, escuchando y atendiendo sus demandas, dialogando con todos los sectores de la sociedad y profundizando los cambios sociales.

–¿Lula presidente en las elecciones de 2014 es una opción absolutamente descartada?

–Mi candidata a la reelección en 2014 es la presidenta Dilma Rousseff. Y seré un militante dedicado en favor de la presidenta porque tengo la siguiente convicción: así como mi segundo mandato fue mejor que el primero, el segundo mandato de Dilma también lo será.

–¿Qué expectativas tiene ante la revisión judicial del proceso por el llamado mensalao?

–Como aún no terminó el proceso judicial, en mi condición de ex presidente no me pronuncié sobre el juzgamiento.

–¿Cuál será la base de la relación entre Brasil y los Estados Unidos luego del espionaje a Dilma y la suspensión por parte de la presidenta de la visita de Estado a Washington programada para este mes?

–Los actos de espionaje contra los jefes de Estado son muy graves. No sólo contra Brasil. También en México y sobre autoridades y gobiernos de muchos otros países. No podemos aceptar como normal la intercepción de llamadas telefónicas y la invasión de correspondencia reservada de los presidentes de la República de países amigos. Fueron acciones que hirieron nuestra soberanía y vulneraron los principios más elementales del derecho internacional. Precisamos esperar las explicaciones norteamericanas sobre espionaje y un pedido de disculpas que todavía no vino. Brasil es un país que respeta a otras naciones del mundo y tiene relaciones pacíficas con ellas. Y quiere ser respetado de la misma forma. La presidenta Dilma Rousseff pronunció un gran discurso en las Naciones Unidas al apuntar que Internet, esta invención maravillosa que acerca a los pueblos del mundo, no puede convertirse en un terreno de espionaje o en un territorio de guerra. Ojalá que otros países se sumen a Brasil en el esfuerzo por una mejor gobernanza internacional de Internet. Creo que probablemente la mayoría de los ciudadanos de los países que practicaron ese tipo de espionaje están de acuerdo en que es inaceptable invadir comunicaciones privadas de millones de personas y espiar empresas como Petrobras o a la presidenta de un país amigo y pacífico.

 

Diáspora da seca redesenha o Brasil

por MAURI KÖNIG

Abandono do Semiárido começou há dois séculos, na época do Império. Nordestinos fugiam para o Sudeste ou eram levados para desbravar outras regiões do país. Foto Alexandre Mazzo
Abandono do Semiárido começou há dois séculos, na época do Império. Nordestinos fugiam para o Sudeste ou eram levados para desbravar outras regiões do país. Foto Alexandre Mazzo

A seca, realidade sempre presente no Semiárido brasileiro, tem como consequên­cias diretas a fome, a desnutrição, a miséria, a morte, o êxodo rural. Toda essa tragédia, em boa medida, forjou uma nova geopolítica nacional com base em uma diáspora imposta pela intolerância da seca. A despeito das glórias do passado, do seu papel na construção do país, o Nordeste de hoje se tornou um bode expiatório para aqueles que discursam sobre o desperdício do dinheiro público na sua recuperação. Mas é preciso pôr na balança o que o Nordeste já fez.

FOTOS: Veja slideshow da seca no Nordeste

O Nordeste foi a região mais rica e povoada do território brasileiro nos três séculos seguintes ao Descobrimento. Centro da produção açucareira até o fim do século 19, a queda dos preços do açúcar e do algodão fez a economia estagnar. Embora a água fosse escassa, antes a terra vasta e plana fez do sertão grande produtor de gado, levando carne e couro para toda a Colônia no século 17. A seca, sempre presente, foi agravada pela ocupação irregular do solo e a devastação da natureza. Desde o Brasil Colônia nunca houve políticas públicas para a região.

A seca de 1791 a 1793 tornou a vida mais difícil. A vegetação não se recuperou. A seca de 1877 a 1880 piorou o cenário, e se criou o conceito de retirante, o sertanejo que deixa sua terra para escapar dos efeitos da estiagem. Pela primeira vez o governo tentou uma política de salvação para o sertão: dom Pedro II importou camelos do Saara. Porém, as raízes do problema eram mais profundas. Em número quase quatro vezes maior do que a população de Fortaleza, os proscritos da seca ocuparam a capital do Ceará. O resultado foram epidemias, fome, saques e crimes.

Evasão em massa

À época começaram os primeiros movimentos migratórios significativos. O Ceará tinha 800 mil habitantes, dos quais 120 mil emigraram para a Amazônia e 68 mil se dirigiram a outros estados. Outra grande seca assolou a região em 1915. Para evitar nova invasão a Fortaleza, os governos estadual e federal criaram campos de concentração na periferia das grandes cidades para recolher os flagelados. Nova seca catastrófica em 1932, e outra vez foram sete os campos de concentração no Ceará, encarcerando 105 mil retirantes, recrutados para trabalhar de forma compulsória nas obras públicas.

Nas secas seguintes, os governos desistiram dos campos de concentração e começaram a estimular o sertanejo a abandonar suas terras. Passaram a planejar a migração maciça para o Oeste, de forma a povoar os sertões do Mato Grosso, num movimento migratório conhecido como Marcha para o Oeste.

Até o século 19, cinco entre dez brasileiros viviam no Nordeste, proporção que caiu para quatro entre dez no início da década de 1990, embora ali a taxa de natalidade seja maior do que no restante do país. O Censo de 1950 verificou que mais de 2 milhões de nordestinos haviam migrado para outras regiões do país. Entre 1950 e 1980, as grandes metrópoles do Sudeste tornaram-se o destino da maioria dos retirantes. Hoje, 12% da população da cidade de São Paulo é composta por migrantes nordestinos.

Conviver com a seca, a palavra de ordem

Não se pode combater a seca porque, como fenômeno natural, ela sempre se repete. O que se pode fazer é conviver com as condições climáticas. “Essa é a palavra, convivência”, diz o agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco João Suassuna. Tecnologia existe, mas nada aproveitada. Suassuna indica duas alter­­nativas mais prudentes como alternativa econômica para o Semiárido.

A primeira, criar gado adap­­tado à condição de seca. A Paraíba está tendo bons resultados com bois das raças guzerá e sindi, oriundas dos desertos da Índia e do Paquistão. Em grande escala, pode-se repetir o sucesso dos caprinos e ovinos, que se adaptaram bem ao clima do Nordeste desde sua chegada à época da colonização. O alimento para os rebanhos pode vir da segunda alternativa: plantas adaptadas ao meio para servir de forragem.

Há uma tecnologia de plantio adensado de palma, com alto ganho de produtividade. O bioma caatinga tem plantas que ao longo das eras se adaptaram à aridez, desenvolvendo meios de reserva de água para os períodos secos. Na caatinga há plantas produtoras de látex, mel, fibra, energia (para queimar como lenha) e alimento para o gado.

“Temos de fazer um extrativismo sustentável das plantas que existentes no bioma”, diz Suassuna. Mas ele observa com pesar o desperdício desse potencial. “A tristeza é que sabemos que conhecemos pouco esse bioma e o estão destruindo”. No extremo de Pernambuco fica a maior mina de gipsita do mundo. Para extrair o gesso é preciso calfinar o mineral, queimá-lo em fornalhas. Para isso, estão usando a caatinga. “Está virando carvão, estão acabando com um bioma que pouco se conhece.”

A família de Josafá Pereira dos Santos, 47 anos, tenta se adaptar ao meio. Ao todo, 15 pessoas viajam de carroça três quilômetros todos os dias de Mirandiba até Angico Verde (PE) para trabalhar. Carregam água em baldes para irrigar os pés de feijão e macaxeira.

Josafá Pereira dos Santos e sua família voltando depois de um dia de trabalho Mirandiba-Pernambuco Foto Alexandre Mazzo
Josafá Pereira dos Santos e sua família voltando depois de um dia de trabalho Mirandiba-Pernambuco. Foto Alexandre Mazzo

 

Tragédia brasileira
Intermitências da seca provocaram a morte de 3 milhões de nordestinos

A morte ronda diuturnamente o sertanejo no Semiárido, no lastro das secas que forjam a mais triste e previsível tragédia brasileira. Fustigado pelo desejo de quantificar as perdas humanas, o pesquisador Marco Antônio Villa contou os mortos nas principais estiagens ocorridas no Nordeste entre 1825 e 1985. Chegou a 3 milhões de vítimas, conforme narra em Vida e Morte no Sertão (Ática, 2000). Só a seca de 1877-1879, a mais terrível, dizimou 4% da população nordestina à época.

O saldo de mortos se deu, em grande medida, ao imobilismo das autoridades públicas, numa demonstração de negligência, violência, corrupção, manipulação e clientelismo. Villa reconstituiu o contexto e conjunturas para retratar os efeitos das secas sobre a economia regional, o fenômeno das migrações orientadas pelos governos, a indústria da seca, os saques perpetrados por retirantes desesperados, as epidemias, frentes de trabalho de caráter puramente assistencialistas.

Realidade ou ficção?
Vida do sertanejo em meio à aridez abasteceu a literatura nacional

Há realidades que, de tão inverossímeis, só a ficção para melhor explicá-las. A seca no Semiárido brasileiro, por exemplo, abasteceu a literatura mundial de grandes escritores. À literatura se incorporou a fase do ciclo das secas, tamanho o volume de romances que tinham como tema central a estiagem e a vida no sertão. José de Alencar (1876) inaugurou a série com a publicação O sertanejo, e o período se estendeu até a primeira década do século 20.

São três os personagens principais da literatura do ciclo das secas: o cangaceiro, o beato e o retirante. Nenhum livro desse período teve tanta influência quanto Os sertões, uma obra que mistura sociologia, literatura e reportagem de guerra, escrita por Euclides da Cunha. Numa clara admiração pelo sertanejo, o escritor buscou retratar sua resiliência com os rigores da natureza e carregou nas críticas ao governo federal pelo desprezo no tratamento dispensado a essa gente.

Outros escritores consagrados dedicaram seu talento literário a retratar a vida do sertanejo.

Publicado in

Gazeta do Povo

Jornal de Londrina

Gazeta Maringá

Francisco: La Iglesia, preocupada por “la destrucción del trabajo y la falta de futuro”

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10.02. 2013, o cardeal Jorge Bergoglio exhortó a producir “un cambio” y “dar un viraje” en una sociedad con realidades destructoras.

“Poco a poco nos acostumbramos a oír y a ver, a través de los medios de comunicación, la crónica negra de la sociedad contemporánea, presentada casi con un perverso regocijo, y también nos acostumbramos y convivimos con la violencia que mata, que destruye familias, aviva guerras y conflictos”, aseveró.

“El sufrimiento de inocentes y pacíficos no deja de abofetearnos; el desprecio a los derechos de las personas y de los pueblos más frágiles no nos son tan lejanos; el imperio del dinero con sus demoníacos efectos como la droga, la corrupción, la trata de personas, incluso de niños, junto con la miseria material y moral son moneda corriente”, explicitó el primado argentino.

Tras asegurar que “la destrucción del trabajo digno, las emigraciones dolorosas y la falta de futuro se unen también a esta sinfonía”, reconoció que “nuestros errores y pecados como Iglesia tampoco quedan fuera de este gran panorama”.

El arzobispo de Buenos Aires trazó este diagnóstico en su carta para la Cuaresma, tiempo litúrgico de 40 días anterior a la Pascua que los cristianos comenzarán a transitar el miércoles con la ceremonia de imposición de las cenizas.

“Hoy nuevamente somos invitados a emprender un camino pascual hacia la vida, camino que incluye la cruz y la renuncia; que será incómodo pero no estéril. Somos invitados a reconocer que algo no va bien en nosotros mismos, en la sociedad o en la Iglesia, a cambiar, a dar un viraje, a convertirnos”, subrayó.

Bergoglio sostuvo que “los egoísmos más personales justificados, la falta de valores éticos dentro de una sociedad que hace metástasis en las familias, en la convivencia de los barrios, pueblos y ciudades, nos hablan de nuestra limitación, de nuestra debilidad y de nuestra incapacidad para poder transformar esta lista innumerable de realidades destructoras”.

Asimismo, reconoció que frente a esta situación “la trampa de la impotencia nos lleva a pensar si vale la pena intentar un cambio cuando el mundo sigue su danza carnavalesca disfrazando todo por un rato”, pero recordó que “cuando se cae la máscara, aparece la verdad”.

El purpurado animó a la esperanza al recordar que “la Cuaresma que sí, que es posible no maquillarnos y dibujar sonrisas de plástico como si nada pasara. Sí, es posible que todo sea nuevo y distinto porque Dios sigue siendo ””rico en bondad y misericordia, siempre dispuesto a perdonar”” y nos anima a empezar una y otra vez”.

En este sentido, recordó que este tiempo litúrgico “no es sólo para nosotros, sino también para la transformación de nuestra familia, de nuestra comunidad, de nuestra Iglesia, de nuestra Patria, del mundo entero”.

Bergoglio consideró que es “una oportunidad que Dios nos regala para crecer y madurar en el encuentro con el Señor que se hace visible en el rostro sufriente de tantos chicos sin futuro, en la manos temblorosas de los ancianos olvidados y en las rodillas vacilantes de tantas familias que siguen poniéndole el pecho a la vida sin encontrar quien los sostenga”.