O perigo do vice de Marina assumir

Pelo que confessa, com lágrimas nos olhos, ou como diz sua biógrafa Marília de Camargo César, Marina Silva possui a graça dos santos estigmas de “ferida de Deus” (uma réplica de Nossa Senhora das Dores, comemorada no dia 15 de setembro).

Para os profanos, os mundanos, os heréticos, os endemoniados, Marina tem uma saúde muito frágil.

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Comenta Gilmar Crestani:

A dieta da vítima

Cardápio da manipulação mafiomidiática entra mais uma matéria para transformar Marina em vítima. A Folha apela ao coitadismo para tornar Marina uma figura frágil, para criar uma cortina de fumaça e impedir que ela seja questionada. Não lembro de outra vez na história que um jornal trouxesse para a capa matéria a respeito da dieta de um governante para, com isso, interditar o debate.

Não há na Folha uma matéria consistente, explicativa a respeito do jato com duas caixas, a caixa preta e o caixa 2. Não há na Folha matéria que informe quem é o proprietário do apartamento emprestado a Marina em São Paulo, nem como o Itaú finanCIA Marina. Mas, em compensação, há uma longa matéria sobre a dieta da Marina.

Reportagem da Folha de S. Paulo, [editada dois dias depois das tradicionais comemorações dedicadas à Nossa Senhora das Dores]:

Cardápio restrito

Alérgica, Marina teve que excluir vários tipos de alimentos da dieta devido a doenças adquiridas em seringal no Acre, onde cresceu. [Marina viveu no seringal até os 15 anos]

por Natuza Neryde e Marina Dias

 

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Alimento sagrado, o milho é o pão do índio. Também fazia parte da dieta alimentar a mandioca. Também considerada pão. Importantes alimentos que foram retirados da mesa dos brasileiros pela exportação do arroz e trigo
Alimento sagrado, o milho é o pão do índio. Também a mandioca.  Importantes alimentos que foram retirados da mesa dos brasileiros pela exportação do arroz e trigo
Marina Silva voltou a passar fome. [Exagerado título. Marina, no seringal, vivia na casa da avó paterna. Que era parteira, uma profissão respeitada nas cidades sem médico do Brasil. Parteiras, curandeiras e bezendeiras não passam fome. Funciona o escambo.]

 

A candidata do PSB já não sofre a privação da infância, quando, certo dia, teve de dividir um ovo (e um punhado de farinha e sal) com sete irmãos. O caso foi narrado em seu programa de TV veiculado na terça-feira (16) como argumento de que nunca acabará com o Bolsa Família. [Marina conta que aconteceu em uma noite de Natal, em Rio Branco. Não foi no seringal].

A dieta da ex-ministra do Meio Ambiente, sem dúvida, melhorou. Mas está longe do ideal. [Que mentira! Ela tem uma dieta salutar. Ideal para uma vida saudável e longa]. Nos últimos dois dias, Marina não consegue disfarçar a voz rouca e os sinais de cansaço. Ela perdeu três quilos depois que a morte de Eduardo Campos, em 13 de agosto, levou-a a assumir a cabeça de chapa pelo PSB.

Na última semana, a agenda carregada deixou espaço para apenas uma refeição por dia. Reclamou de fome. [Uma refeição por dia? Não foi falta de dinheiro. Dinheiro existe de sobra na campanha do PSB].

Assessores buscaram a ajuda de uma nutricionista para reforçar sua alimentação. Querem reduzir o ritmo de sua agenda eleitoral. Não se esquecem de uma lancheira com frutas para a candidata.

Mas a presidenciável não tem conseguido sequer repor as calorias que perde no seu acelerado ritmo de campanha. Nesta semana, visitou quatro Estados em dois dias. Uma pessoa, em média, perde 1.200 calorias apenas dormindo. No caso de Marina, nutricionistas estimam um gasto diário total de 2.400. [Coisa de quem está desacostumada. Mais trabalhadeira terá se for presidente. As outras candidatas a presidente, Dilma e Luciana Genro, também perdem calorias. Ou será que Marina esconde alguma doença? Aconteceu com Tancredo]

RESTRIÇÕES

A candidata sofre de sérias restrições alimentares resultantes de uma coleção de doenças adquiridas antes dos 16 anos no seringal Bagaço, onde cresceu, a 70 km da capital acriana, Rio Branco.

Lá, teve malária por cinco vezes; leishmaniose, uma, e hepatite, três. Remédios para curar parte da extensa lista de enfermidades geraram outro efeito colateral: contaminação por mercúrio. [Toda esta coleção de doenças antes de completar 16 anos? Coitada! Não sei como essa menina conseguia forças para exercer a profissão de seringueira? Força e tempo. Porque conforme relato das irmãs, de volta do seringal, Marina ia brincar, como faz qualquer outra criança].

Se, no passado, dividiu um ovo com os irmãos, hoje Marina já não pode comer nem clara nem gema.

Não bebe leite nem iogurte. Não come queijo, manteiga, doce de leite ou qualquer outro laticínio. Camarão, frutos do mar, carne de vaca, carne de porco, soja e derivados também estão excluídos de sua dieta. Nem mesmo gergelim é permitido.

O que sobra: peixe de rio, frango, feijão, arroz integral, alface (desde que sem tempero), mandioca, milho (sem ser de lata) e frutas. [Tirando o frango, o alface, o arroz, esta a dieta básica das nações indígenas, antes da mudança alimentar provocada pelo o homem branco invasor].

Os alimentos só podem ser cozidos com água e sal.

Nada disso é por convicção natureba. Marina foi aprendendo a evitar muitos alimentos por ter graves alergias.

Em um compromisso de campanha, passava com aliados perto de uma barraquinha de venda de camarão quando o cheiro do crustáceo fechou sua glote. A candidata teve de abandonar imediatamente o local.

Esta, aliás, era uma semelhança que ela dividia com Eduardo Campos. Também alérgico, o pernambucano teve uma séria intoxicação após ingerir camarão.

Outra ocasião de campanha e outro mercado deram à candidata a oportunidade para uma “desforra” alimentar. Numa banca que vendia bijus, assessores a abasteceram de uma quantidade que foi devorada em velocidade assustadora. [Bijus, que sofisticado!]

Feito sem manteiga, o biscoito leva açúcar suficiente para suprir, se consumido em abundância, necessidades calóricas de emergência. [Pelo relato, graças a Deus, Marina não tem pressão alta, nem diabetes. Apesar da “providência divina” que protege Marina, navegar é preciso na vida de Beto Albuquerque, que a República nossa costuma transformar vices em presidentes].

PEGADA HOLÍSTICA

Quando a candidata é convidada para algum almoço ou jantar de trabalho, sua equipe se apressa em enviar um cardápio com recomendações em negrito e letras maiúsculas.  [Costumes de rico, de quem frequenta restaurantes de luxo, com pratos internacionais. Em qualquer boteco, padaria, restaurante popular, e nas residências da maioria dos brasileiros, diferentes iguarias do milho e da mandioca]

No campo destinado à sugestão do que beber, só um item: água morna. Há mais de um ano, Marina decidiu seguir as orientações de um homeopata. Ou, como definiu um assessor, “um médico holístico com pegada mais naturalista”.

Com fortes dores no nervo ciático, ela resolveu deixar de beber água fria ou gelada, por recomendação do médico Mauro Carbonar.

Tradicionalmente empregada pela medicina oriental, a prescrição não é adotada exclusivamente por alternativos. Água morna ajuda a relaxar as cadeias musculares e melhora as articulações.

De lá para cá, ela não sai de casa sem levar uma garrafa térmica.

Os acréscimos entre parênteses é do editor do blogue

A carta de Pêro Vaz de Caminha e os relatórios da Fifa

Carta de Pêro Vaz de Caminha
Carta de Pêro Vaz de Caminha

O Brasil programou gastar 2 bilhões em segurança na Copa do Mundo. Nos cinco séculos de presença branca e colonial, inimagináveis mudanças no comportamento e costumes dos habitantes da Ilha de Vera Cruz.

Escreveu Pêro Vaz de Caminha:

E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens.

Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram. (…)

A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. (…)

O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, bem vestido, com um colar de ouro mui grande ao pescoço, e aos pés uma alcatifa por estrado. Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires Correia, e nós outros que aqui na nau com ele vamos, sentados no chão, pela alcatifa. Acenderam-se tochas. Entraram. Mas não fizeram sinal de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém um deles pôs olho no colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal como se lá também houvesse prata.

Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram medo dela: não lhe queriam pôr a mão; e depois a tomaram como que espantados.

Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada daquilo; e, se alguma coisa provaram, logo a lançaram fora.

Trouxeram-lhes vinho numa taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes a água em uma albarrada. Não beberam. Mal a tomaram na boca, que lavaram, e logo a lançaram fora. (…)

Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha.

Ali por então não houve mais fala ou entendimento com eles, por a barbaria deles ser tamanha, que se não entendia nem ouvia ninguém. (…)

E uma daquelas moças era toda tingida, de baixo a cima daquela tintura; e certo era tão bem-feita e tão redonda, e sua vergonha (que ela não tinha) tão graciosa, que a muitas mulheres da nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela. (…)

Os outros dois, que o Capitão teve nas naus, a que deu o que já disse, nunca mais aqui apareceram – do que tiro ser gente bestial, de pouco saber e por isso tão esquiva. Porém e com tudo isso andam muito bem curados e muito limpos. E naquilo me parece ainda mais que são como aves ou alimárias monteses, às quais faz o ar melhor pena e melhor cabelo que às mansas, porque os corpos seus são tão limpos, tão gordos e tão formosos, que não pode mais ser.

Isto me faz presumir que não têm casas nem moradas a que se acolham, e o ar, a que se criam, os faz tais. Nem nós ainda até agora vimos nenhuma casa ou maneira delas. (…)

E o Capitão mandou aquele degredado Afonso Ribeiro e a outros dois degredados, que fossem lá andar entre eles; e assim a Diogo Dias, por ser homem ledo, com que eles folgavam. Aos degredados mandou que ficassem lá esta noite.

Foram-se lá todos, e andaram entre eles. E, segundo eles diziam, foram bem uma légua e meia a uma povoação, em que haveria nove ou dez casas, as quais eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitânia. Eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoada altura; todas duma só peça, sem nenhum repartimento, tinham dentro muitos esteios; e, de esteio a esteio, uma rede atada pelos cabos, alta, em que dormiam. Debaixo, para se aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma num cabo, e outra no outro.

Diziam que em cada casa se recolhiam trinta ou quarenta pessoas, e que assim os achavam; e que lhes davam de comer daquela vianda, que eles tinham, a saber, muito inhame e outras sementes, que na terra há e eles comem. Mas, quando se fez tarde fizeram-nos logo tornar a todos e não quiseram que lá ficasse nenhum. (…)

Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma crença.

E portanto, se os degredados, que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa intenção de Vossa Alteza, se hão de fazer cristãos e crer em nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque, certo, esta gente é boa e de boa simplicidade. E imprimir-se-á ligeiramente neles qualquer cunho, que lhes quiserem dar. E pois Nosso Senhor, que lhes deu bons corpos e bons rostos, como a bons homens, por aqui nos trouxe, creio que não foi sem causa. (…)

Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios, que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.

Neste dia, enquanto ali andaram, dançaram e bailaram sempre com os nossos, ao som dum tamboril dos nossos, em maneira que são muito mais nossos amigos que nós seus. (…)

Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. (…)

O soldado da Copa
O soldado da Copa

Pêro exaltou a mansidão do índio.

Qual a visão de um cartola da Fifa do brasileiro hoje, para exigir um gasto de 2 bilhões em segurança?

O índio era mais sadio que o brasileiro atualmente, porque comia bem. Alimentos não mais vistos na mesa do trabalhador, e proibidos nas luxuosas praças de alimentação das arenas da Copa.

Brasil dependente alimentar

A desnacionalização da mesa do brasileiro, provocada pelas multinacionais, transformou o Brasil em importador de alimentos. O pão do índio era o milho. Era a mandioca. O milho virou lavoura de exportação para fabricar álcool nos Estados Unidos.

O Brasil importa os alimentos básicos: trigo, arroz, inclusive feijão. Trocamos o suco de frutas pela Coca-Cola e bebidas com sabores artificiais.

Os cursos de Nutrição têm como livros básicos autores europeus e estadunidenses. Publica hoje o jornal Público de Portugal:

Teresa quis lembrar aos cariocas o gosto da tapioca

A chef Teresa Corção criou o Instituto Maniva, que se apresenta em feiras biológicas no Rio de Janeiro com a sua banca de tapioca orgânica Nelson Garrido
A chef Teresa Corção criou o Instituto Maniva, que se apresenta em feiras biológicas no Rio de Janeiro com a sua banca de tapioca orgânica. Nelson Garrido
Por Alexandra Prado Coelho

Porque é que o Rio de Janeiro se afastou dos alimentos mais tradicionais, como a mandioca, ou as frutas da mata atlântica, e começou a comer pão feito de trigo importado e frutas que vêm de outros países? Foi esta a pergunta que levou um grupo de chefs cariocas a criar o Instituto Maniva e a iniciar uma nova relação com os produtores.

Tudo começou com a mandioca. A história do Brasil — e a história da eco-chef carioca Teresa Corção e do seu Instituto Maniva.

“E [os índios] não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos”. Isto registou na sua Carta Pero Vaz de Caminha, cronista de D.Manuel I, depois de os navegadores portugueses terem encontrado os índios tupinanquins na Bahia, a 24 de Abril de 1500.

Saltamos uns cinco séculos e estamos, pelas dez da manhã, na Feira Biológica do bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, onde o Instituto Maniva está a inaugurar a sua banca de tapioca (uma das farinhas que se fazem a partir da mandioca) biológica. Foi há uns dez anos que Teresa Corção se lançou na missão de dar a conhecer a tapioca aos cariocas. É que, descobriu ela, em 500 anos os brasileiros, pelo menos os do Rio de Janeiro, tinham-se esquecido dessa comida — o inhame e a mandioca — que deixava os indígenas “tão rijos e tão nédios”.

“A mandioca é o elemento identitário brasileiro, o nosso símbolo de segurança alimentar, existem mais de 1800 variedades catalogadas”, explica, sentada num banco baixinho. “Em 2002 fui a um festival em Pernambuco e foi aí que me dei conta de que não conhecia as coisas da mandioca e comecei a perguntar-me porquê. Percebi então que a mandioca era uma grande desconhecida, embora fosse muito presente na mesa de todo o mundo, sobretudo através da farofa.” A tapioca, no Rio nessa época, “não era tão conhecida”, e era comida sobretudo pelos imigrantes vindos do Nordeste.

Aproxima-se de nós e junta-se à conversa Marcelo Scofano, especialista em azeite e também ele um eco-chef. “A questão da tapioca tem muito a ver com o facto de o colonizador ter introduzido o trigo como elemento essencial”, explica. “E o trigo não é nativo daqui nem dá em lado nenhum. Oitenta por cento do nosso trigo é importado. A gente depende da Argentina, do Canadá e dos Estados Unidos para um alimento essencial, o pão nosso de cada dia, quando temos um alimento extremamente

rico, sem glúten, e que dá nos cinco biomas brasileiros, que é a mandioca. A tapioca era o pão nativo e foi substituído pelo trigo. Ainda ontem falei com uma pessoa que nunca tinha comido pão até vir para o Rio. Comia macaxeira, aipim, inhame.”

O mesmo acontece com a fruta, continua Teresa Corção. “Esta região é mata atlântica, riquíssima em fruta. E no entanto há pouquíssima fruta no Rio. O que é fruta para um carioca? É maçã, uva, frutas europeias adaptadas ao Brasil. E as frutas brasileiras, tanto da mata atlântica como da Amazónia, são completamente desconhecidas aqui.”

Aponta para a pequena feira à nossa volta, onde, além da tapioca orgânica do Maniva — que tem uma versão rosa forte, feita com beterraba —, há algumas bancas de legumes, um vendedor de azeite e sumo de uva biológicos e quase nenhuma fruta. “Quando os portugueses chegaram, havia tanto caju que eles botavam os escravos debaixo das árvores para eles comerem caju, que era muito bom contra o escorbuto.” Olha em redor. “Não era para ter imenso caju aqui? E não tem, não se encontra nas feiras. Pitanga é outra fruta maravilhosa, dá em tudo quanto é lugar, e não há nas feiras porque não tem o hábito do consumo. E ao mesmo tempo a gente jura que o coco é tropical, quando o coco foi o português que trouxe da Ásia.”

Para contrariar este cenário de desconhecimento de alimentos locais, o Maniva – que reúne 16 ecochefs, entre os quais Claude e Thomas Troisgros (Olympe, CT Brasserie, CT Boucherrie e CT Trattorie), Kátia Barbosa (Aconchego Carioca) e Pedro de Artagão (Irajá Gastrô) — começou a trabalhar, dedicando-se à divulgação de produtos. Teresa produziu, por exemplo, filmes sobre a produção de farinha de mandioca, O Professor da Farinha, e documentário Seu Bené vai Pra Itália, sobre a viagem de um produtor de farinha de mandioca da Amazónia para o evento Terra Madre, do movimento Slow Food, em Turim.

O trabalho do Maniva passa também por uma colaboração cada vez mais próxima com pequenos agricultores locais dedicados à produção biológica, como os que estão hoje na

feira das Laranjeiras. “Aqui há todo um astral. Se você perguntar àquela moça ali, ela é mãe de cada um destes produtos.” Uma das grandes dificuldades destes pequenos agricultores, que não conseguem entrar nos grandes supermercados, é fazer chegar os seus produtos aos compradores. Daí o aparecimento das feiras biológicas, que são apoiadas pela Secretaria de Desenvolvimento Económico Solidário Prefeitura do Rio, e cujo número tem vindo a crescer na cidade. “Há uns seis anos estes produtores vendiam em torno a uns 700 mil reais por ano, hoje estão vendendo nove milhões”, diz Vinícius Assumpção, responsável da Secretaria, que está de visita à feira. “Já temos doze feiras, e a ideia é ir ampliando, mas de forma consistente, sem perder a qualidade.”

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Comprar os excedentes

Quando, no final da feira, sobram produtos, Teresa e outros eco-chefs vão comprá-los. “Comecei a comprar os excedentes e é uma coisa que eu quero transformar num método. O que é que está sobrando aí? Está sobrando alho-porro. Eu arremato aquilo, vou noutra barraca e tem o cara do shitake, a quem sobrou algum, e eu e os outros chefs que têm restaurantes podemos gerar valor agregado, fazendo um prato. E o meu cliente sabe que está ajudando o produtor porque está escrito lá no meu cardápio.”

O restaurante que Teresa Corção dirige há mais de 30 anos chama-se O Navegador e fica no Centro do Rio de Janeiro, a zona mais antiga da cidade, no belo espaço do sexto andar do edifício do Clube Naval. A filosofia está explicada no cardápio: “Das hortaliças orgânicas de Friburgo e do Brejal na Serra Fluminense, às farinhas de mandioca especiais de Bragança no Pará, Cruzeiro do Sul no Acre e de Palhoça em Santa Catarina, passando por queijos tradicionais de Minas Gerais das serras do Salitre e da Canastra à pimenta rosa da foz do Rio de São Francisco, nossos alimentos são escolhidos com toda a atenção. Conhecemos quem os produz e visitamos suas terras.” Por baixo, um mapa do Brasil mostra que o doce de leite e a goiabada (ambos excelentes) vêm de Minas Gerais, tal como os cogumelos orgânicos e o queijo meia cura, o palmito pupunha vem do Rio de Janeiro, assim como o aipim, e a farinha e o tucupi vêm de Bragança, no estado do Pará.

As receitas são também homenagens a pratos tradicionais. Há Nosso bobó (creme camarão e aipim, dendê artesanal da Bahia, lascas de beijus), e Terra Brasilis (peixe do dia grelhado no azeite, servido sobre puré de aipim e banana-da-terra, acompanhada por pétalas de palmito pupunha e cubos de tomate — o palmito e aipim são de pequenos produtores do município Silva Jardim, do estado do Rio de Janeiro, e “escolher este prato incentiva a economia local”, lê-se). Há Panelinha de moqueca capixaba do Gui Secchin, “à moda do artista plástio capixaba Guilherme Secchin”, há Tortacapixaba, prato típico do Espírito Santo, com bacalhau, camarão, pescada amarela e palmito, ovos batidos e azeitonas verdes, gratinado no forno, há Pirão Seu Bebé e Dona Maria, Galinhada com palmito, que é um arroz de frango típico da região do cerrado, e muitos outros pratos.

Escolhemos o “Prato nosso de cada dia” que, por ser uma terça-feira, era um riquíssimo “Cozido da Terrinha, feito com vegetais da estação produzidos pelos agricultores do Estado do Rio de Janeiro, participantes do Circuito Carioca de Feiras Orgânicas” (as segundas-feiras são dia de peixe assado, as quartas de costelinha assada no tropeiro, as quintas de galinha com pirão-de-parida e as sextas de “feijoada sustentável preparada com feijão dos pequenos produtores”).

E assim, uma história que começara naquela manhã com a mandioca, numa banca de feira num bairro do Rio de Janeiro, levou-nos até aos índios que Pero Vaz de Caminha encontrou em 1500, atravessou muito do Brasil e da sua enorme variedade de produtos, e terminou, da melhor forma possível, em frente a um prato cheio de carnes cozidas, com abóbora, milho, ovo, quiabo, couve, batata-doce, banana-da-terra, arroz e pirão.

 

Alerta urgente. No a Terminator en Brasil – Petición de firmas

As sementes suicidas

A los diputados de la Comisión de Constitución y Justicia de la Camara Federal de Brasil: Alerta urgente Vamos a impedir que nuestras semillas se tornen suicidas

Tenemos que impedir que aprueben las semillas suicidas

En la misma semana que se conmemora el Día Mundial de la Alimentación, cuyo tema central es “Sistemas alimentarios sustentables para la seguridad alimentaria y nutricional”, nos sorprende un hecho muy grave que afecta directamente la soberanía alimentaria y los derechos de los campesinos en Brasil y como efecto dominó, en el resto del mundo.

Se trata de un proyecto de Ley para legalizar la tecnología Terminator, que no está permitida en ningún país, gracias a la moratoria internacional que se aprobó en Naciones Unidas (Convenio de Diversidad Biológica) en el año 2000.

Si Brasil legaliza esta tecnología, violará la moratoria internacional y permitirá que las empresas transnacionales presionen a cada vez mas países a permitirla.

El proyecto en discusión en Brasil es el Proyecto de ley (PL) núm. 268/2007 presentado por el Diputado Eduardo Sciarra – PSD/PR, que permite la “flexibilización de la prohibición impuesta por la Ley de Bioseguridad (de Brasil) y por la Convención sobre Diversidad Biológica de las Tecnologías de Restricción del Uso Genético, TRUGs. En la práctica, si se aprueba este proyecto de ley se permitirá la producción y comercialización de semillas transgénicas suicidas que una vez cosechadas no volverán a germinar, obligando a los agricultores a comprar semillas cada ciclo agrícola. Aún peor es el hecho de que –como sabemos que ocurre con los transgénicos— las semillas suicidas contaminarán muchas otras semillas vecinas y las volverán estériles.

Después de ser rechazado por una de tres comisiones, el proyecto de ley se discutirá nuevamente este miércoles 16 de octubre. Es sumamente importante que desde Brasil y el mundo nos manifestemos ante los Diputados que integran la Comisión de Constitución y Justicia (CCJ), la próxima en tratar el tema, sobre los gravísimos riesgos de esta liberación, demandándoles el rechazo a este proyecto de ley.

Para manifestarse, personas y organizaciones pueden firmar la carta a los Diputados en el sitio de change.org que será entregada a los integrantes de la CCJ.

La carta, que se encuentra en portugués, dice lo siguiente:

A los diputados de la Comisión de Constitución y Justicia

Por este medio manifestamos nuestro rechazo al contenido del Proyecto de Ley No. 268/2007 presentado por el Diputado Eduardo Sciarra, que permite la “flexibilización” de la prohibición impuesta por la Ley de Bioseguridad de Brasil y por el Convenio sobre Diversidad Biológica a las Tecnologías de Restricción del Uso Genético (TRUGs), conocidas como Terminator. La propuesta en discusión permitiría el uso de las TRUGs en dos situaciones: a) cuan do la tecnología se introduzca en cultivos biorreactores o plantas que puedan multiplicarse vegetativamente (como caña, mandioca, papas); b) cuando el uso de la tecnología constituya una medida de bioseguridad para evitar la contaminación de cultivos orgánicos o convencionales.

Si se permite, en la práctica ese tipo de tecnología impedirá que los agricultores puedan conservar y multiplicar sus semillas, que han cuidado por generaciones, y estarán obligados a comprar nuevas semillas a las trasnacionales en cada ciclo agrícola. La liberación en cualquier tipo de cultivo es la puerta de entrada para la introducción de genes suicidas en todos los cultivos del país, asegurando el monopolio de mercado a una media docena de empresas y comprometiendo seriamente la soberanía nacional.

Además la tecnología GURT está basada en una reacción en cadena, que se activa al echarle un agrotóxico. Por tanto, se podría cruzar con las semillas de vecinos e incluso mucho más allá y activarse posteriormente, produciendo un gran impacto económico para los productores y en la biodiversidad.

Justamente por estos y otros riesgos sobre la biodiversidad, por la violación que implican a los derechos de los campesinos y agricultores, es que Naciones Unidas estableció en el año 2000 una moratoria internacional contra su uso, tanto experimental, como comercial.

Si está Comisión aprueba su aplicación, Brasil no solo estará cambiando su ley nacional, con consecuencias inaceptables para los campesinos y la biodiversidad. Además estará violando unilateralmente un acuerdo internacional de Naciones Unidas, y abriendo la puerta para que otros países sean presionados por las empresas para aplicar esta tecnología.

Por tanto, compete a esta comisión rechazar este proyecto, porque atenta contra un acuerdo internacional firmado por Brasil en la comunidad internacional, pero que además es una amenaza a los campesinos y la seguridad alimentaria y la biodiversidad agrícola en el resto del mundo.

Firme aquí.

Diga não aos exterminadores de sementes!

Contra o Projeto de Lei 268/2007 no Brasil

Você sabia que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo? Junte-se à nós nessa campanha por uma agricultura sem veneno! Assine a petição!
Você sabia que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo? Junte-se à nós nessa campanha por uma agricultura sem veneno! Assine a petição!
Deputados(as) da Comissão de Constituição e Justiça
Venho manifestar repúdio ao conteúdo do Projeto de Lei n° 268/2007, de autoria do Deputado Eduardo Sciarra – PSD/PR, que permite a “flexibilização da proibição imposta pela Lei de Biossegurança e pela Convenção da Diversidade Biológica às tecnologias genéticas de restrição de uso GURTs, conhecida como Terminator. A proposta em discussão visa permitir o uso das tecnologias genéticas de restrição de uso em duas situações: a) quando a tecnologia for introduzida em plantas biorreatoras ou plantas que possam ser multiplicadas vegetativamente (ex.: cana, mandioca, batata); b) quando o uso da tecnologia comprovadamente constituir uma medida de biossegurança benéfica à realização da atividade (supostamente para evitar a contaminação de plantios orgânicos ou convencionais).Na prática esse tipo de tecnologia, se liberada, impedirá que os agricultores possam conservar e multiplicar suas sementes, por vezes mantidas durante gerações, obrigando-os a comprar novas sementes das grandes transnacionais a cada safra. A liberação em qualquer tipo de planta é a porta de entrada para a introdução do gene suicida em todos os cultivos do país, assegurando o monopólio do mercado a uma meia dúzia de empresas e comprometendo seriamente a soberania nacional. O uso como medida de biossegurança constitui uma enorme falácia e disfarça o verdadeiro interesse de garantir o controle das sementes pelas grandes corporações. A fragilidade desta argumentação reside em vários fatores, entre os quais se pode destacar pesquisas que comprovam falhas na tecnologia, pois não há garantia de que todas as sementes não venham a germinar, ou seja, a contaminação seria mantida. Mais perigoso, porém, é que esta suposta solução não evita a contaminação na primeira geração, fazendo com que agricultores percam suas sementes próprias pelo cruzamento com as sementes Terminator, acarretando em impactos sociais, econômicos e ambientais que podem ser irreversíveis.

Seus impactos são tão graves que desde do ano 2000 vigora uma Moratória Internacional aprovada pela Convenção de Biodiversidade, probindo sua utilização.

Não bastasse, o BRASIL ESTARÁ VIOLANDO UNILATERALMENTE UM ACORDO INTERNACIONAL AMPLAMENTE DISCUTIDO E VÁRIAS VEZES REAFIRMADO NO ÂMBITO DAS NAÇÕES UNIDAS, tornando nossa nação na porta de entrada destas tecnologias em escala global.
Portanto, demandamos à esta Comissão que REJEITE NA ÍNTEGRA e ARQUIVE o PL 268/07, por atentar contra um acordo internacional, do qual o Brasil é signatário e pela evidente ameaça que esta tecnologia representa à nossa agricultura, economia, biodiversidade e, fundamentalmente, à nossa soberania nacional.

Atenciosamente,
Assine aqui

Dinheiro do povo chove na lavoura de exportação

O Brasil das montadoras e oficinas depende da lavoura de exportação. É o exportar e morrer de Fernando Henrique. Exportar açúcar para adoçar a boca do europeu. Isso começou em 1536. E nunca parou.

Agora também temos os latifúndios de soja para alimentar as vacas loucas da Europa. De milho, para fabricar álcool nos Estados Unidos.

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O Brasil dos sem terra prometeu uma reforma agrária desde a Campanha Abolicionista.

Vai plantar feijão já foi uma expressão depreciativa.

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O Brasil não pode e não deve importar feijão. Deixar de ser o maior importador de trigo do mundo. E jamais esquecer que o milhão foi o pão do índio.

Idem a mandioca.

Não há explicação: Um povo morrer de fome com tanta terra para cultivar. Uma terra que tudo dá.

Desde 1985, 1.566 personas han sido asesinadas en Brasil por defender su derecho a la tierra. El 8% de estos crímenes han sido juzgados

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Entrevista a Joao Pablo Rodrigues Chaves, dirigente del Movimiento de Trabajadores Rurales sin Tierra
“Lula fue el padre de los pobres y la madre de los ricos”

por Gerardo Elorriaga
lavozdigital.es

Denuncia los graves problemas vinculados al monocultivo industrial y la «criminalización» que sufre el campesinado

A la vera de las inmensas carreteras brasileñas se encuentran acampadas más de 150.000 familias campesinas que aspiran a la propiedad de una pequeña hacienda. El Movimiento de Trabajadores Rurales Sin Tierra (MST) apoya esta demanda de los braceros desde su creación hace tres décadas. Hoy, convertida en una de las organizaciones sociales más importantes de Latinoamérica, mantiene su lucha en un escenario aún más complejo, globalizado, donde confluyen intereses económicos de enormes dimensiones. Joao Pablo Rodrigues Chaves, miembro de su Coordinación Nacional, acaba de recibir el Premio Gernika por la Paz y la Reconciliación, un galardón a una lucha dificultada por la represión oficial y el asesinato clandestino.
-El conflicto social permanece en el campo brasileño. ¿En estos últimos treinta años se han consolidado progresos o la situación ha empeorado?

-El movimiento se fundó en un periodo dictatorial y, para nosotros, supone un avance importante la consolidación de un proceso democrático y las conquistas económicas y de derechos sociales para el campesino, como la política de créditos agrícolas, la introducción de la energía eléctrica o la educación.

-Pero la concentración de la propiedad se ha agudizado en estas últimas décadas.

-Ha aparecido un nuevo factor, las transnacionales que adquieren tierras para dedicarlas al monocultivo de exportación. Pueden cultivar caña de azúcar y producir etanol en el estado de Sao Paulo o el nordeste, eucalipto con el fin de generar pasta de celulosa, gracias al capital finés o surasiático, o dedicarse al negocio de la soja en el centro oeste. En el negocio han entrado Monsanto, Bunge, Bill Gates y George Soros, entre otros.

-La agricultura brasileña es un ejemplo de globalización comercial.

-El capital internacional ha emigrado a nuestro país como una forma segura de inversión en tiempos de crisis. Toda la exportación de grano se lleva a cabo por cinco o seis firmas y la producción de carne se canaliza a través de tres frigoríficas. Ese fenómeno nos deja en una situación muy complicada porque el enemigo ya no es el latifundista local, sino la gran empresa internacional con sede en Nueva York o Helsinki.

-¿Los gobiernos progresistas de Lula da Silva y Dilma Rousseff apoyan esta expansión?

-Lula fue el padre de los pobres y la madre de los ricos, porque el modelo de desarrollo brasileño está basado en el apoyo al inversor extranjero. Se dedican 2.000 millones de dólares (1.535 millones de euros) a préstamos, subsidios para infraestructuras o incentivos para los campesinos, mientras que las empresas de agronegocio cuentan con 120.000 millones. Por ejemplo, la soja para la exportación no paga impuestos, solo la dedicada al consumo interno.

 

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Espiral de violencia

-En lo que va de año tres de sus representantes han sido asesinados. ¿Quién mata en Brasil?

-Mata quien detenta la tierra. Las grandes empresas son muy modernas, y sus plantaciones de Sao Paulo disponen de la tecnología más reciente, pero el mismo grupo puede poseer una hacienda en Maranhao, al nordeste, completamente arcaica, con sistemas de esclavitud y milicias armadas. También tenemos problemas con la Policía local, radicalizada contra nosotros. Sufrimos su persecución, la criminalización, porque hoy el agronegocio es hegemónico y el campesino sin tierra, el indígena, el sindicalista y el ambientalista son los malos.

-¿Persisten todavía lacras como la esclavitud y el trabajo infantil?

-Permanecen porque la agricultura es mixta, está la moderna y aquella que se basa en el trabajo barato de la mano de obra sin derechos, que destruye la foresta y presiona a los pequeños propietarios para que vendan. En sus haciendas aisladas los trabajadores han de pagar la cama, la comida y la ropa. El año pasado fueron liberados 2.000 personas que estaban en esta situación.

-¿Hay conciencia en el país de los riesgos de este monocultivo industrial, no solo en el plano económico sino en el sanitario, por el elevado uso de pesticidas que exige?

-No, Brasil es el mayor consumidor de agrotóxicos del mundo, con una media de cinco kilos por persona, lo que supone casi mil millones de kilos anuales. El fenómeno es muy grave porque se esparcen por avión, lo que afecta a la salud de las personas. Se fumigan los pastos y los cultivos de soja, maíz, eucalipto o los pastos, pero no hay crecimiento de la producción de frijoles, mandioca o de frutas como el mango. Los precios de los alimentos son los más elevados de Latinoamérica, el del tomate ha aumentado un 150%, va a ser más caro que la carne.

-¿Este modelo de desarrollo es viable?

-No es sostenible, los países emergentes necesitan procesos nuevos. No se invierte en tecnología que no sea para el biodiesel, estamos perdiendo la soberanía alimentaria, los campesinos emigran a las urbes y los grandes capitalistas quieren explotar la Amazonia para extraer el hierro. Vamos a tener enormes problemas sociales y ecológicos.

-La clase política parece carecer de conciencia sobre los riesgos asumidos, pero, ¿qué ocurre con la sociedad?

-Existe la conciencia de que el país se enriquece frente a un mundo decaído y una creciente clase media que reclama una buena casa, coche, televisión y frigorífico. La población brasileña se concentra en cinco ciudades, Sao Paulo, Río de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza y Salvador, y no le importa lo que pueda suceder en el Mato Grosso o la Amazonía, aunque el gran motor económico del país es el campo. Ahora existe mucha preocupación por el aumento de los casos de cáncer, pero no existe un debate sobre su causa. Se piensa en el crecimiento económico, pero no en el social ni en los riesgos que comporta.

 

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Contexto económico del país.

Exportaciones agrícolas. Brasil ocupa el tercer puesto mundial, tan solo por detrás de Estados Unidos y la UE.

Control de tierras. El 50% de su 65 millones de hectáreas aradas se encuentra en manos de grandes grupos económicos y el 54% de los cultivos son transgénicos.

Superficie cultivada. Las explotaciones superiores a las 100.000 hectáreas han pasado de 22 en el 2003 a 2.008 en el 2011.

Miembros del MST. Cuenta con 2,5 millones de afiliados y se atribuye el asentamiento de 500.000 familias.

Las víctimas. Desde 1985, 1.566 personas han sido asesinadas en Brasil por defender su derecho a la tierra. El 8% de estos crímenes han sido juzgados.