Paraná tinha que ser a terra de jornalistas ameaçados de morte. De jornalistas exilados.
Não se faz uma república do Galeão sem terrorismo judicial e policial.
A corrupção no Paraná vem desde o BanEstado, um banco que Fernando Henrique vendeu para o Itaú, por uma mixaria. A transa ção do BanEstado lembra a estória do corno que vendeu o sofá da sala que a mulher fornicava.
Até o presente, da Operação Lava Jato, não vazou nada do tráfico de drogas, do tráfico de diamantes, nem os nomes dos doleiros envolvidos. Paraná tem mais doleiro do que dono de banca de jogo de bicho.
Os ladrões do BanEstado continuam roubando, roubando, roubando noutros negócios inventados. Toda uma gente blindada do partido de Beto Richa & aliados.
Eta PT frouxo. Precisa divulgar os casos dos jornalistas ameaçados por delegados da polícia corrupta do governador. Apresentar os nomes dos doleiros que o juiz Moro esconde, os nomes dos delegados que Richa protege. Moro u?
Ameaçado de morte e tem que deixar o Paraná
James Alberti
por Roger Pereira
Um jornalista que trabalhava na apuração de denúncias de corrupção e pedofilia cometidas por agentes públicos estaduais no município de Londrina (norte do Paraná) foi perseguido e ameaçado de morte na última semana, tendo que ser retirado do estado por questões de segurança. O caso, que ocorreu no último dia 9, foi tornado público nesta sexta-feira pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná, após certificação de que o profissional estava em segurança.
James Alberti estava em Londrina para aprofundar a investigação sobre rede de corrupção e pedofilia na Receita Estadual do Paraná, que já levou à prisão cerca de 20 pessoas, entre eles, um primo do governador Beto Richa, Luiz Abi Antoun e um assessor do governo do Estado, Marcelo Caramori. Segundo o sindicato dos jornalistas, Alberti foi perseguido e teve sua vida ameaçada por um telefonema “em que se revelava um esquema para matá-lo por meio de um suposto assalto a uma churrascaria que ele costumava jantar durante sua estadia na cidade”. Ao receber a denúncia a RPC teria providenciado a remoção do jornalista da cidade e o enviado para fora do estado, a um destino sigiloso.
É a segunda vez neste mês que jornalistas paranaenses são ameaçados. Na última semana, o sindicato denunciou que repórteres do jornal Gazeta do Povo estavam sendo coagidos pelas polícias civil e militar do estado a quebrar o sigilo de fonte e revelar como obtiveram informações para uma série de reportagens que denunciou desvios de conduta de policiais, na premiada série de reportagens “Polícia Fora da Lei”.
Segundo relato dos jornalistas, eles estavam constantemente sendo convocados a prestar depoimentos, sendo insistentemente inquiridos para revelar as fontes da reportagem. Em 2012, também por denunciar irregularidades cometidas por policiais, o jornalista Mauri Konig, também da Gazeta do Povo, foi obrigado a deixar o país por conta de ameaças.
“É inaceitável, para uma sociedade que busca fortalecer sua democracia, que jornalistas sejam sujeitados a este tipo de situação. Primeiramente, jornalistas são coagidos por autoridades públicas para revelar suas fontes. Agora, um profissional tem sua vida ameaçada pelo simples fato de estar exercendo seu ofício. Quando um jornalista tem este direito ameaçado, todos os outros jornalistas também terão. É um precedente que se abre e que coloca em risco a democracia”, disse o presidente do sindicato, Guilherme Carvalho. In Portal Terra
DEPOIMENTOS NO FACE Everson Bressan: Fica firme ai amigo, já fizeram ameaças contra mim também, eu já te falei, mas no seu caso eles estão indo nas ultimas consequências, são bandidos mesmo!Ainda bem que você tem suporte, no meu caso tive de baixar a bola. MANDA VER AI AMIGO NÃO BAIXE A BOLA!
Aurélio Munhoz: Salve, grande James Alberti. O que dizer, cara, diante de mais esta barbaridade contra você – e por, extensão, contra nós, jornalistas? Força, apenas. Você é maior que isso tudo!
Diários Secretos entre as reportagens mais impactantes do mundo
Luxuosa Assembléia Legislativa do Paraná
James Alberti é um dos autores da série Diário Secretos, selecionada pela Rede Mundial de Jornalismo Investigativo como uma das dez mais impactantes do planeta.
As reportagens foram divulgadas pela Gazeta do Povo e pela RPC TV em 2010, revelando um esquema milionário de desvio de recursos e contratação de funcionários fantasmas na Assembleia Legislativa do Paraná.
O jornalismo investigativo foi realizado, além de James Alberti, pelos jornalistas Katia Brembatti, Gabriel Tabatcheik e Karlos Kohlbach, com apoio de uma equipe de mais de 40 profissionais dos dois veículos de comunicação. A série recebeu importantes prêmios, como o Grande Prêmio Esso e o Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, ambos no Brasil, além de ser agraciada como o título de melhor reportagem investigativa da América Latina e com Global Shining Light Award, prêmio concedido ao mais importante trabalho realizado em país em desenvolvimento.
Em declaração, o presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), José Roberto de Toledo, destacou os motivos que fazem da série paranaense um trabalho de excelência. “Há reportagens notáveis por seu trabalho meticuloso de investigação independente; há investigações notáveis por usarem com propriedade técnicas de jornalismo de precisão para entrevistar os dados e extrair deles conteúdo jornalístico relevante e de interesse público; há reportagens investigativas que provocam impacto na sociedade e mudam a vida das pessoas. Nenhuma delas é comum, mas são muito raras as que conseguem reunir essas três características de uma vez só. É o que faz da série Diários Secretos, da Gazeta do Povo, um caso exemplar de jornalismo investigativo relevante, impactante e preciso. Nada mais justo que tenha sido escolhida para ilustrar as consequências positivas do jornalismo investigativo no Brasil, em seu projeto em parceria com o Google”, disse.
A Rede Mundial de Jornalismo Investigativo (GIJN, na sigla em inglês) elaborou um site em que reúne as reportagens, além de entrevistas e dados que comprovam o quanto os trabalhos jornalísticos bem feitos contribuem para o desenvolvimento social e o combate à corrupção (veja ao lado). A seleção reúne reportagens de dez países, incluindo também Inglaterra, Costa Rica, África do Sul, Gana, Ucrânia, Filipinas e Paquistão. Encabeçando a lista dos trabalhos jornalísticos mais impactantes está o caso Watergate, publicado pelo jornal Washington Post, e que culminou com a renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon, em 1974.
Abib Miguel, que era diretor-geral da Assembleia à época da série, deixou o cargo e chegou a ser preso. As investigações que o Ministério Público abriu a partir da série já comprovaram mais de R$ 250 milhões em desvios, mas os promotores estimam que o valor usado irregularmente pode chegar a R$ 1 bilhão. A série consumiu dois anos de trabalho e resultou em um banco de dados com as informações sobre as contratações de funcionários pela Assembleia. Até o trabalho ser realizado, os diários oficiais da Assembleia não estavam disponíveis para consulta e depois passaram a ser publicados na internet.
A série provocou indignação pública, levando milhares de pessoas às ruas em protestos em 13 cidades do Paraná. O Ministério Público criou uma força-tarefa de 20 pessoas para investigar os casos, rendendo processos criminais e cíveis. As investigações continuam e mais processos devem ser ajuizados. Contudo, até agora, 15 pessoas já foram condenadas. Ex-funcionários e deputados estão com os bens bloqueados e o número de servidores diminuiu, gerando R$ 4,5 milhões de economia por mês.
No Paraná tem de tudo. Aquém e além da fronteira com o Paraguai. Dentro e fora do palácio do governador Beto Richa. Lá estão concentrados movimentos separatistas e arremedos de novas repúblicas. A do Galeão é a mais famosa, por oferecer delações premiadas que salvam a cara e o dinheiro de doleiros e corruptos. Costume que começou com a falência do BanEstado.
Um terrorismo que exila e ameaça de morte. Que o pessoal da ditadura de 64 continua no mando do Paraná.
Um Estado sem Lei. Do Paraná vem o apelo dos jornalistas a todos os brasileiros que amam a Claridade e a Liberdade: “Protejam o direito à informação e a democracia!”
Direito de Sigilo de Fonte Ameaçado
Os jornalistas Diego Ribeiro, Felippe Aníbal, Mauri König e Albari Rosa (Daniel Castellano/Gazeta)
Quando um jornalista sofre algum tipo de censura ou coação para ferir princípios éticos, a maior prejudicada é a democracia. Porque o que está em jogo é a garantia de que o jornalismo possa estar a serviço da sociedade, cumprindo o direito fundamental do cidadão de acesso à informação. Sem informação livre não é possível construir uma sociedade consciente, capaz de interpretar corretamente a realidade e agir para o bem comum.
Uma das conquistas que asseguram o acesso do jornalista a informações de interesse público é o direito de sigilo de fonte. Ou seja, a garantia para uma pessoa que cedeu dados para um jornalista de que não terá sua identidade revelada. O sigilo de fonte dá ao jornalista a possibilidade de construir relações com fontes dispostas a realizar denúncias graças à confiança que é depositada no jornalista. É o que dá ao jornalista a possibilidade de ter acesso a certas informações que não teria se este princípio não existisse.
O artigo 5º inciso XIV da Constituição Brasileira diz que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. Este direito também está garantido no caso de busca e apreensão de material de trabalho [gravador, agenda, computador, etc.].
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, em seu artigo. 5º, diz que “é direito do jornalista resguardar o sigilo da fonte”. Também que é dever do jornalista “não colocar em risco a integridade das fontes e dos profissionais com quem trabalha”.
Com base nesse debate, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj),a Federación de Periodistas de América Latina y el Caribe (FEPALC) e a Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) vêm a público para denunciar a tentativa de policiais civis e militares do estado do Paraná em quebrar o direito de sigilo de fonte dos jornalistas Mauri König, Felippe Aníbal, Diego Ribeiro e Albari Rosa, do jornal paranaense Gazeta do Povo.
Os três estão sendo convocados sistematicamente para prestar depoimentos a unidades da Polícia Civil e da Polícia Militar, devido a série de reportagens “Polícia fora da lei”, que denuncia desvios de conduta de policiais. Outras reportagens que envolvem as forças policiais do Paraná também têm motivado intimações aos jornalistas. Além da perda de tempo e do constrangimento, eles são insistentemente inquiridos para revelar as fontes da reportagem.
É inaceitável, para uma sociedade que busca fortalecer sua democracia, que jornalistas sejam sujeitados a este tipo de situação. É inaceitável que jornalistas sejam coagidos para revelar suas fontes.
Não se trata de um caso específico. Quando um jornalista tem este direito ameaçado, todos os outros jornalistas também terão. É um precedente que se abre e que coloca em risco o futuro do jornalismo como profissão. Sem sigilo de fonte, o acesso a informações públicas estará ameaçado. Quem confiará em jornalista para repassar informações importantes, sabendo que pode ter sua identidade revelada e sua integridade ameaçada?
Protejam os jornalistas, protejam o direito de sigilo de fonte destes profissionais, protejam o direito à informação e a democracia!
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR)
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)
Federación de Periodistas de América Latina y el Caribe (FEPALC)
Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ)
Transcreverei trechos de entrevista de Chiqui Ávalos a Lucas Rohãn, quando anunciou seu exílio no Brasil, depois da eleição de Horacio Cartes presidente de Paraguai.
Chiqui escreveu o livro La otra cara de HC (Horacio Cartes), uma biografia não autorizada, que revela a vida do presidente e os nomes dos seus parceiros de crimes, notadamente, evasão de divisas e tráfico.
Talvez Chiqui esteja noutro país. Que o Brasil passou a ser local de risco. Que começou este ano com dois jornalistas exilados. Um ainda está no exterior, Mauri König, ameaçado por uma máfia de delegados do Paraná, que tem ligação com o Paraguai.
No mais, Horacio Cartes possui fortes ligações com o crime organizado no Brasil e nos meios políticos da direita.
Eis o texto de Lucas Rohãn: Poucas semanas antes das eleições presidenciais no Paraguai, o jornalista Chiqui Ávalos lançou um livro polêmico. La outra cara de HC fala sobre o passado obscuro de (…) Horacio Cartes. Empresário do ramo de cigarros e dirigente esportivo, ele já foi condenado por evasão de divisas e convive com a eterna suspeita de envolvimento com o contrabando de cigarros para o Brasil. Além disso, no livro, Ávalos apresenta documentos e depoimentos que comprovariam a ligação de Cartes não só com o contrabando, mas também com o tráfico de drogas.
Em entrevista exclusiva ao Terra, o escritor confirma que “fontes diplomáticas” brasileiras ajudaram na construção do livro. Ele também conta que se refugiará na casa de amigos no Brasil (…) porque teme por sua segurança. Após o lançamento da obra, Ávalos recebeu ameaças anônimas e convive com o que chama de “histórias folclóricas que circulam na fronteira sobre vinganças contra alguns adversários”. Confira a entrevista na íntegra:
Terra – Por que o senhor resolveu lançar o livro, perto das eleições? Chiqui Ávalos – É uma tendência mundial, assim como acontece nos Estados Unidos, no Brasil ou na Argentina, que a oportunidade para conhecer os candidatos faz com que a indústria editorial insista nessas datas como as mais importantes nas edições. Seis meses atrás ou seis meses depois, teria menos valor para que o leitor faça suas avaliações.
Terra – Quanto tempo o senhor trabalhou para juntar todo o material? Como foi essa pesquisa? Chiqui Ávalos – A primeira investigação que fiz foi para um jornal (Hoy) em 1985 sobre a evasão de divisas do Banco Central, nas quais para dinamizar a produção agrícola foi habilitada uma cotização especial para quem importava insumos por um valor abaixo do dólar nas ruas. Inventaram operações, houve cumplicidades dos controles, das empresas e do próprio banco, além das financeiras que compravam os dólares a 240 guaranis (câmbio da época) oficialmente e se beneficiavam com a diferença de câmbio ao vender a 400. O que em 35 milhões de dólares representou o início de muitas fortunas. Horacio Cartes trabalhava na Cambios Humaitá nessa época, empresa dos filhos do chefe de polícia do Stroessner (Alfredo Stroessner, general que governou o Paraguai de 1954 a 1989), e depositavam os fundos em uma conta especial em Nova York.
Terra – O senhor tem medo das reações que essas denúncias podem causar? Teme por sua segurança? Chiqui Ávalos – Dizer que não tenho medo seria uma irresponsabilidade. De fato, por histórias que circulam e o relacionam com a máfia, com narcotraficantes conhecidos do Brasil (Fahd Yamil, que está na lista da DEA [agência norte-americana que combate o tráfico de drogas], doleiros como Dario Messer) o fazem temível, além das histórias folclóricas que circulam na fronteira sobre vinganças contra alguns adversários. Tenho o apoio e a ajuda não só em alguns documentos, mas também na discreta proteção de algumas embaixadas (…). Mas tudo “off the record” para não comprometer ninguém diplomaticamente.
Terra – Qual o motivo de sua viagem ao Brasil? Chiqui Ávalos – Vou visitar alguns amigos, jornalistas e diplomatas que me recomendaram não ficar no Paraguai. [Que] eu correria perigo, tanto se ganham os colorados, quanto se perdem, poderiam procurar um bode expiatório e não quero ser o pato do casamento.
Terra – O seu livro contou com a ajuda de fontes diplomáticas e de meios de comunicação do Brasil. O que o senhor conseguiu com esses contatos? Essas “fontes diplomáticas” demonstram preocupação pelo futuro do Paraguai? Chiqui Ávalos – Sim. Apesar de não poder revelar as fontes, tive acesso a alguns documentos graças a “mãos amigas”. Pessoalmente acredito que depois de ter falado com referências importantes, não é do agrado do governo brasileiro ter Cartes como presidente do Paraguai, com todas as acusações de lavagem de dinheiro, narcotráfico, contrabando de cigarros e etc. Inclusive, já fiz contatos com editoras brasileiras para lançar o livro [ no BRasil] com o título O perigo mora ao lado.
Terra – O senhor já teve alguma conversa com Cartes sobre essas acusações? Chiqui Ávalos – Não, nenhuma. O comuniquei que estava escrevendo o livro, seus amigos e seus companheiros políticos de rua sabiam que eu estava fazendo, mas jamais falamos sobre o assunto.
Terra – Se tudo é verdade, por que Cartes não está preso? Chiqui Ávalos – Ele já esteve na prisão por evasão de divisas em 1985. Foi condenado em três oportunidades e finalmente, em uma das mais estranhas decisões da Corte Suprema, foi absolvido em… 2008! Vinte anos depois.
Terra – Desde o dia do lançamento do livro até agora, como o senhor avalia a repercussão em seu país? Chiqui Ávalos – Um amigo me disse que vender a quantidade de livros como La otra cara de HC no Paraguai, um país que não lê, é como vender picolés aos pinguins. Tive dificuldades? Claro. Três editoras rechaçaram o material, outras duas não se animaram a publicar e tive que arcar com todos os custos. Os dois maiores jornais “independentes” do país não quiseram publicar um anúncio pago adiantado e vários hotéis negaram abrigar a apresentação do livro, além do silêncio de outros meios aliados ou temerosos a Cartes.
Houve ameaças, pressões nos meus colaboradores, mas, sobretudo, há um ambiente rarefeito de […] que, infelizmente, nos faz voltar no tempo em que vivíamos no “stronismo” (período no qual o Paraguai foi governado pelo general Stroessner), do qual Cartes é admirador, quando o medo era o pão nosso de cada dia, aniquilando a liberdade de várias gerações. Esse é o pior dano.
Genocidio no Brasil. Campo de concentração em Minas Gerais, aquela que depois se tornaria o grande ícone da imprensa no Brasil [ Tv Globo] dá um show de desinformação. Estrangeiros vêm no Brasil, filmam tudo e as imagens rodam o mundo.
Expedição do SPI ao Xingu. Primeiro contato com os índios Mehinaku, 1944 | Heinz Forthmann: Museu do Índio:Funai
O grande ícone da grande imprensa brasileira, estrategicamente, acusa erroneamente garimpeiros brasileiros da chacina, mobilizando a opinião pública mundial contra o Brasil.A justiça brasileira investiga e, um mês depois, descobre que a culpa são de empresas como a Arruda e Junqueira, empresas terceirizadas por Nelson Rockefeller e pela CIA para o extermínio generalizado de centenas de tribos que vivem em regiões de interesse de mineradoras internacionais. Mas isso não é transmitido para o mundo e nem para o Brasil. Segundo decisão dos donos da grande emissora “para não gerar uma visão negativa do Brasil do exterior”.
O ano é 1963. O padre Edgar Smith recebe em seu confessionário o genocida Ataíde Pereira que, prevendo a morte breve e atormentado pelos crimes que havia cometido, procura o padre para confessar seus pecados e tentar de alguma forma mudar o rumo das coisas. Todos seus companheiros já estão mortos, o chefe da expedição, Francisco Brito, o piloto do avião que bombardeara a tribo e até o próprio padre Edgar estariam mortos algumas semanas mais tarde. Além disso não havia recebido os quinze dólares prometidos pelo serviço. O padre convenceu Pereira de repetir sua confissão em um gravador e entregou a fita ao SPI, Serviço de Proteção ao Indio. O caso foi abafado no Brasil, mas não no mundo. Finalmente, com toda a pressão internacional o caso chega ao procurador geral de justiça que pede uma investigação completa do caso.
As provas do genocidio são incontestáveis, 20 volumes de provas são coletados e acusam que entre 1957 e 1968 cerca de 100 mil indios foram assassinados por mineradoras estrangeiras. Os que não resistiram a ocupação, tiveram a vida poupada e foram levados para Crenaque em M.G. onde existia um enorme campo de concentração onde mais alguns milhares morreriam de fome e maus tratos.
O detalhamento do genocídio é chocante: os Nambikuaras haviam sido mortos com metralhadoras, os Pataxós com varíola inoculada no lugar de vacinas, os Canelas mortos por jagunços, os Maxakalis drogados e mortos a tiros, os Beiços de Pau receberam alimentos com formicida e arsênico.
Todas as tribos estudadas pelo SIL haviam sido mortas. O Instituto Summer de Linguística aprendia a língua da tribo o suficiente para dar alternativa aos índios. Ou eles fugiam para o campo de Crenaque (origem do nome) ou morreriam. Trechos da confissão de Pereira mostram como era a vida do matador:
” …estavamos com bastante medo uns dos outros. Nesse tipo de lugar, as pessoas atiram umas nas outras, e são alvejadas, pode-se dizer, sem saber a razão. Quando abrem um buraco em você , eles tem mania de enfiar uma flecha na ferida, para colocar a culpa nos indios…”
As próximas vítimas eram os Cintas-Largas, uma pequena tribo indígena da Amazônia brasileira que havia cometido o erro de se instalar sobre uma mina de nióbio e se recusavam a sair.
O depoimento de Pereira da chacina dos Cintas- Largas mosta como era o cotidiano desses matadores. Após metralhar toda tribo, haviam sobrados somente uma jovem menina e uma criança que chorava abraçada a menina no centro da aldeia. Os matadores pedem pela vida da menina, alegando que pode ser usada para prostituição”. Chico atravessou a cabeça da criança com um tiro. Ele parecia descontrolado. Ficamos muito assustados. Ele amarrou a garota índia de cabeça para baixo numa árvore, as pernas separadas, e a rasgou ao meio com o facão. Quase com um único golpe, eu diria. A aldeia parecia um matadouro. Ele se acalmou depois de cortar a mulher, e nos disse para queimar as cabanas, jogar os corpos no rio.
Depois disso, pegamos nossas coisas e retomamos o caminho de volta, tomando cuidado para esconder nossas pegadas. Mal sabia que um dia a pegada a ser apagada seria ele.
No fim foi provado que o SPI estava diretamente envolvido nas chacinas com a distribuição de roupas contaminadas por varíola, alimentos envenenados, crianças escravizadas, mulheres prostituídas e muito mais.
Dos 700 funcionários, 134 foram processados, mas todos perdoados na ditadura, foram então treinados pela CIA aos moldes da Policia Tribal do Departamento de Assuntos Indios(BIA) dos EUA e colocados sob a chefia do ex-chefe do serviço militar de informações. Assim por mais alguns anos a FUNAI adotou a politica de arrendar terras indigenas para empresas mineradoras, encaminhando os índios para morrerem em Crenaque. [A tribo indígena Crenaque, na região do Vale do Rio Doce, Minas Gerais, em 2010, vivia em uma pequena reserva. Chamados de Aimorés, os cremaque estavam reduzidos à cerca de apenas 150 indivíduos]
Caçadores crenaque do Vale do Rio Doce, no Estado do Espírito Santo, posam com seus arcos e flechas, divertidos e receosos por serem fotografados, por volta de 1910. Os crenaques, aparentados aos botocudos, pertenciam a um dos grupos que mais resistiram à colonização portuguesa
Os militares do ministério do interior cooperavam com a agência americana de pesquisa geológica, mapeando a Amazônia.
Trechos do livro Seja Feita a Vossa Vontade de Gerard Colby com Charlotte Dennett. A grande e maior rede de TV do Brasil é uma ferramenta criada pela CIA para esconder a operação Brother Sam e a extração de niobio do Brasil. Através de Nelson Rockefeller a CIA obtém, usando a CBMM do falecido amigo e sócio, Walter Moreira Salles o nióbio de Araxá praticamente de graça.
Quando Getulio Vargas descobriu, e tentou interromper esse processo, foi deposto no golpe militar que levaria a sua morte.
Quando Jango descobriu, cassou a Hanna Mineradora e anunciou as reformas de base, também morreu.
Em todos esses momentos Moreira Salles estava presente. Agora que o Ministério Público começou a investigar a relação desta emissora com a CBMM, surgiu a PEC 37. Se não colar, os tumultos estão ai nas ruas, como o IPES fez em 1964, criando o caos para justificar a intervenção militar.
Não podemos fazer protestos violentos, e a razão da luta não pode ser aumento do preço da passagem, e sim o fim da exploração oculta do nióbio. Isso é a origem de todo problema.
Precisamos mostrar aos EUA que nós sabemos o que está se passando para que ele libere ainda mais a famosa emissora e grande rede de TV brasileira da obrigação de nos manter desinformados, sempre sabotando o QI dos brasileiros com programas alienativos, condenando ao esquecimento nossos heróis e politicos honestos, e escondendo o extermínio sistemático dos nossos índios para beneficiar as empresas estrangeiras, facilitando seus interesses, até tomarem posse de suas terras sem serem notadas. Acorda Brasil!
[Em 15 de maio de 2009, a jornalista Roberta Vieira informava que Shirley Krenak ia ser a atriz principal de um filme francês, tendo como cenário a aldeia da tribo indígena Crenaque na região de Valadares.
Skirley Krenak
De acordo com Maria Tereza Alves, roteirista e diretora, o objetivo da película é mostrar o preconceito que existe por parte dos europeus em relação aos indígenas. Quando indagada se o nível de preconceito na Europa é alto, a resposta é rápida: “O mesmo nível de preconceito que existe no Brasil. O filme abordará o racismo que existe na Europa em relação às comunidades indígenas. Vai mostrar o que eles pensam a respeito dessas pessoas. O preconceito que existe na França é igual ao que existe no Brasil, no mesmo nível”, explicou.
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O príncipe alemão Maximilian Alexander Philipp Wied-Neuwied, esteve no Brasil em 1818, e escreveu sobre os costumes e a língua dos botocudos, inclusive um dicionário. Levou um índio com ele, Kuêk.
Foto do príncipe Maximilian
A foto de empalação publicada por Eduardo Bueres, tudo indica, visou ilustrar o esquartejamento de uma índia. Este método de execução e punição foi introduzido no Brasil pelos portugueses. A empalação, também, era praticada nas Américas pelos espanhóis.
A foto de empalação acima não consegui identificar a origem. Recentemente, em novembro de 2011, em Salvador, Bahia, “o corpo de Fernanda Souza Mendonça, de 26 anos, foi encontrado no interior da sua casa na rua Antônio Martins de Lima, localizada no bairro de Bom Juá, segundo informações da 9ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM). O corpo da vítima, que morava sozinha, apresentava sinais de violência sexual e teria sido empalada com dois cabos de vassoura.
O pedaço de madeira atravessou a vagina e saiu no pescoço de Fernanda” .
CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO
Em uma série de reportagens sobre a seca no Nordeste, Mauri Kónig fala de um campo de concentração em Fortaleza para os retirantes. O padre Bianor Aranha me revelou a existência de um campo de concentração em Umbuzeiro, construído por João Pessoa, para os presos da Guerra de Princesa.
Pouco se fala, mas em Crenaque existiu um campo de concentração.]
UM CAMPO DE CONCENTRAÇÃO INDÍGENA A 200 QUILÔMETROS DE BELO HORIZONTE (MG)
por André Campos
Localizada poucas horas a nordeste de Belo Horizonte (MG), próxima à região da Serra do Cipó, a Fazenda Guarani foi, a partir do fim de 1972, uma continuação da experiência de confinamento de índios iniciada quatro anos antes, com a instalação do Reformatório Krenak em Resplendor (MG).
O Posto Indígena Guido Marlière, que abrigava o reformatório e os índios krenaks, vinha há anos tendo partes de suas terras ocupadas por fazendeiros. Algo que ocorria com a anuência do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), órgão federal que antecedeu a Fundação Nacional do Índio (Funai). Durante décadas, foi política oficial do SPI o arrendamento a terceiros de lotes nas áreas dos índios. “Esse foi o instrumento que patrocinou oficialmente a invasão de quase todas as terras indígenas até então demarcadas em todo o país”, escreve Egon Reck, experiente ativista do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
A pressão para que fosse extinto o Posto Indígena Guido Marlière levou à negociação de uma permuta entre a Funai e o governo mineiro. As terras foram cedidas aos fazendeiros, e, em contrapartida, o órgão federal recebeu a Fazenda Guarani, uma área pertencente à Polícia Militar, no município de Carmésia (MG). Em 1972, concretizado o acordo, a Ajudância Minas Bahia, órgão regional da Funai, transferiu para lá todos os indígenas de Resplendor – os krenaks e os presos do reformatório.
“Fomos despejados dentro de um vagão de carga, que nem animais”, conta Edmar Krenak, que era criança quando ocorreu a transferência. “Eu lembro da tristeza dos índios mais velhos. Meu pai mesmo não queria sair de dentro da casa. Armou-se de arco e flecha, deu um trabalho e teve que ir algemado”. Nesse novo “lar”, os krenaks relatam diversas privações. “Lá era muito frio e não tinha nada para comer. Só banana”, lembra Maria Sônia Krenak..
NA LUTA PELAS TERRAS EM ARACRUZ
A Fazenda Guarani assumiu o papel, antes exercido pelo Reformatório Krenak, de central carcerária indígena da ditadura. Para o local passaram a ser enviados diversos os índios e comunidades envolvidos em litígios Brasil afora.
“Quando começamos a lutar pela demarcação das terras aqui no município de Aracruz (ES), eles levaram a gente para lá”, revela Toninho Guarani, indígena guarani mbyá que passou parte de sua adolescência em naquele local. “Eles colocavam a própria polícia militar para vigiar. Ninguém podia entrar e ninguém podia sair.”
Os guaranis, explica Toninho, caminham pelo mundo seguindo revelações. E foi uma revelação de sua avó que levou seu grupo a iniciar, ainda na década de 1940, uma caminhada de contornos épicos, partindo do sul do país em busca da chamada “terra sem males” – o local onde, segundo a crença da etnia, é possível alcançar um estado de perfeição e ascender a uma espécie de paraíso.
Já na década de 1960, eles chegaram em Aracruz (ES), então um município litorâneo com boa parte da sua fauna e mata preservados. Mas sobre aquele lugar, uma terra supostamente propícia para a busca da “terra sem males”, também repousavam planos para viabilizar enormes plantações de eucalipto. E o choque de interesses levou os indígenas, sob pressão e a contragosto, para a Fazenda Guarani.
“Em Minas Gerais e no Espírito Santo, se houve alguma resistência de um povo indígena, eles pegavam essas pessoas e levavam pra lá”, diz Toninho, que perdeu um irmão na Fazenda Guarani, morto devido a uma picada de cobra.
O confinamento, avalia ele, foi uma tentativa de impor o sedentarismo aos guaranis, cujas contínuas migrações pelo sul do continente, frequentemente associadas a motivações espirituais, são amplamente documentadas desde o século XIX. “Foi uma violação dos direitos sagrados dos nossos líderes religiosos. Nós lutamos para que o Estado brasileiro reconheça o direito do nosso povo de fazer essas caminhadas”, reivindica Toninho.
Depois de alguns anos, os guaranis fugiram da fazenda e empreenderam nova peregrinação – percorrendo longos trechos de carona ou mesmo a pé. Em 1983, a Justiça determinou a homologação da área indígena ocupada pelos guaranis naquele município.
A ANUÊNCIA DOS ALTOS ESCALÕES
Em 1973, pouco após a transferência do Reformatório Krenak para a Fazenda Guarani, mudou também a chefia da Ajudância Minas Bahia da Funai. Assumiu o posto João Geraldo Itatuitim Ruas, um quadro histórico do SPI e um dos primeiros servidores de origem indígenas a integrarem o serviço público brasileiro.
Itatuitim conta ter sido salvo da morte por uma missionária católica, após sua mãe morrer no parto – segundo a tradição de sua etnia, do Alto Xingu, as crianças que não recebiam o leite materno supostamente eram sacrificadas. Entregue ao Marechal Rondon, foi criado entre brancos e estudou com a mãe de Darcy Ribeiro antes de ingressar nas fileiras do órgão indigenista.
Com essa biografia, Itatuitim, sofreu ao se tornar encarregado da Fazenda Guarani ao assumir a Ajucância. “Imagina o que era para mim, como índio, ouvir a ordem do dia do cabo Vicente (policial militar e chefe local do posto indígena), botando todos os presidiários em fila indiana, antes de tomarem um café corrido, ameaçando baixar o cacete em quem andasse errado. E alertando que, para aquele que fugisse, havia quatro cachorros policiais, treinados e farejadores, prontos para agir”, exemplifica. “Eles não trabalhavam no sábado, que era dia de lavar a roupa, costurar, essas coisas todas. Mas, durante a semana, era trabalho escravo!”
Itatuitim conta ter procurado o general Bandeira de Mello, então presidente da Funai, para discutir o fim da instituição correcional. Do general, diz ele, ouviu a seguinte pergunta: “Por que você vai salvar 50 índios que já estão condenados à morte?”.
Não satisfeito, o chefe da Ajudância Minas Bahia procurou o então ministro do Interior – o engenheiro Maurício Rangel Reis, morto em 1986. “Ao invés de me tratar com educação, ele me maltratou. Disse que eu queria perdoar, e ameaçou me demitir”, relembra.
Mesmo assim, Itatuitim afirma ter começado a enviar diversos índios que estavam confinados na Fazenda Guarani de volta às suas aldeias de origem. Algo que, de acordo com ele, teria contribuído para a sua demissão da Funai, pouco tempo depois.
Além dos “infratores”, a Fazenda Guarani também recebia indígenas para “tratamento mental”. Apesar, no local, de não haver nenhum atendimento psiquiátrico disponível.
Um deles foi um índio da etnia campa que, segundo diz sua ficha individual, já havia sido clinicamente diagnosticado como esquizofrênico. Entre outras excentricidades, ele dizia ser dono de vários automóveis e aviões, além de amigo íntimo do mandatário supremo da nação. “Sempre que um avião passa sobre esse reformatório ele pula e grita, dizendo que é o presidente vindo buscá-lo”, escreveu o chefe de posto a seu respeito.
Cela do casarão da fazenda GuaraniGrade de entrada na cela
As denúncias sobre o uso da Fazenda Guarani como local de prisão, confinamento ou despejo de índios “sem terra” seguiram até o final da década de 1970. Atualmente, lá vive apenas um grupo pataxó, cujos primeiros representantes foram remanejados por conta de conflitos fundiários em Porto Seguro (BA), acompanhados de novas levas após a “desmilitarização” da fazenda. Hoje, a comunidade pataxó na Fazenda Guarani é composta por 280 pessoas.
Como resquícios da presença da polícia militar, o local ainda conserva as ruínas da antiga capela e do engenho. O casarão que servia como sede para os destacamentos policiais foi convertido em moradia para alguns dos indígenas. E a antiga solitária – um cubículo de, no máximo, quatro metros quadrados – virou um depósito onde se empilham os cachos de banana colhidos nas redondezas.
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André Campos, 31 anos, é autor de reportagens e documentários investigativos e pesquisa há cinco anos as cadeias indígenas da ditadura. Esta reportagem foi realizada através do Concurso de Microbolsas de Reportagem da Pública. André Campos não faz referência ao relatório do Edgar Smith (In Pública)
A maioria das agressões aconteceu nas capitais de São Paulo e Rio de Janeiro. O ódio vem do revide às coberturas jornalísticas dos casos Amarildo e da chacina da família Pesseghni. E do interesse político de atemorizar o povo, que reivindica serviços essenciais como saúde e educação.
Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin acaba de comprar armas químicas para usar contra os manifestantes e jornalistas.
São Paulo possui 95 mil soldados estaduais. É a maior polícia do Brasil, e a terceira entre os efetivos dos países da América Latina.
Apesar de fortemente armado, Alckmin se diz ameaçado de morte, pelo govêrno paralelo, o PCC.
Admitir as presenças de um governo legal e outro invisível é sinal de fraqueza, de uma Polícia Militar sem comando, apenas treinada para reprimir professores e estudantes grevistas, e os indignados com a corrupção. Polícia adestrada para dispersar das ruas os movimentos pacíficos que, desarmados, promovem passeatas.
Desde junho, quando o país começou a presenciar a série de protestos em diversos estados, mais de 80 profissionais de imprensa foram agredidos física e moralmente, conforme levantamento realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraij). Quem passou por isso não guarda boas lembranças e afirma que há pouca segurança para repórteres que cobrem momentos de conflitos.
Contratado da Globonews, Pedro Vedova teve sua história divulgada no mesmo dia em que policiais atiraram em sua testa: 20 de junho. O jornalista estava cobrindo os protestos no Rio de Janeiro quando a redação pediu para que ele pegasse a chegada dos manifestantes à prefeitura. “Mas a bateria da câmera acabou e não fazia sentido que eu estivesse lá sem equipamento. Corri para a base da redação e troquei. Quando voltei, a confusão já estava formada”.
Ao ver o conflito e auxiliado por dois seguranças da emissora, Vedova andou pela margem de um viaduto se escondendo atrás de palmeiras. “Quando cheguei até a última árvore, me senti vulnerável. Então, abaixei para apoiar a câmera. Não estava filmando, mas usei o zoom do equipamento para enxergar o que estava acontecendo a 100 metros de onde estava”. Naquele momento, o jornalista foi atingido no meio da testa.
Pedro Vedova
“A gente sabe que parte da polícia é agressiva, mas jamais imaginaria que poderiam mirar na minha cabeça. As autoridades procuram controlar a confusão, mas não havia nada perto de mim que tivesse de ser controlado. Não dá para falar que o tiro foi acidental”. À época, Vedova não percebia que estar ali se tratava de ato corajoso. Depois de ficar afastado e passar por cirurgia, o cinegrafista comenta que ficou desapontado e frustrado com tudo que aconteceu.
Ex-repórter do Portal iBahia, de Salvador, Tiago Di Araújo passou por situação diferente do colega do Globonews. Era 22 de junho quando, ao fotografar as manifestações, três policiais o abordaram. “Pediram a minha identificação de profissional da imprensa e eu apresentei. Um dos policiais alegou que uma daquelas fotos poderia demitir um pai de família, me pedindo para apagá-las. Respondi que estava apenas fazendo o meu trabalho e eles me ameaçaram dizendo que eu iria perder todas as fotos”. E foi o que aconteceu, pelo menos num primeiro momento. Repreendido, Di Araújo foi obrigado a apagar as imagens, que recuperou por meio de um programa quando chegou à redação.
A atitude das autoridades foi ridícula, afirma o jornalista. “Só não fui agredido por ter me identificado com crachá e creio também por ser profissional da maior rede de comunicação do estado”.
Tiago Di Araújo
Segurança
Di Araújo acredita que não há segurança suficiente para quem trabalha na rua e que, nestes casos, o profissional conta com a própria sorte e esperteza. “Mudei a minha confiança na segurança pública. E aumentou o medo em relação às atitudes policiais, que sempre optam pela violência física e verbal para impor certo tipo de respeito”. Ele afirma que não existe nenhum tipo de prevenção contra essas atitudes truculentas e que, depois do ocorrido, são geralmente acionados meios legais, que não resolvem em nada.
Vedova conta que, se fosse hoje, teria muito mais receio da polícia. “A questão é que o repórter precisa estar com a câmera apontada para o policial e para os manifestantes. O jornalista não tem o que fazer na manifestação se não isso. Ficaria mais atento à movimentação dos PM’s”. Ele acredita que situações como essas são específicas e que o profissional precisa ter postura ativa para levar informação completa e de qualidade às pessoas. “Ainda que haja dificuldades para cobrir por causa das autoridades ou manifestantes, temos que ir e fazer o nosso trabalho”.
Estratégias
Questionado sobre os cuidados para trabalhar durante coberturas de protestos, Vedova explica que não há muitas estratégias para se proteger. “Você vai aprendendo, mas eu já era repórter escaldado, fui criterioso e cuidadoso, mas acabou acontecendo”. O colaborador da Globonews acredita que se trata de fatalidade, algo que ninguém conseguiria prever.
Na Bahia, Di Araújo ressalta que ficou assustado com a situação e teve medo de registrar algumas fotos nos protestos que cobriu em seguida. “Fiquei bem abalado e com medo, por causa do histórico de violências policiais que ocorrem em nossa cidade. Eles gravaram a minha fisionomia e meu nome, e ainda me ameaçaram”.
Debate
A discussão sobre a violência contra profissionais de imprensa foi tema de hangout realizado pela Abraji na semana passada. O debate contou com a presença do presidente da entidade e editor do ‘RJTV’ (TV Globo), Marcelo Moreira, do diretor e repórter da Gazeta do Povo, Mauri König, e do coordenador dos cursos de jornalismo em situações de conflito armado e outras situações de violência realizados em São Paulo pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), João Paulo Charleaux.
Sobre as agressões que partem de manifestantes, Moreira disse que isso é reflexo de descontentamento com a mídia, que é vista como concentradora de informação. “Mas acontece que isso tem que ser discutido no campo das ideias e jamais o repórter deve ser vítima de violência por alguém que não concorde com o veículo de imprensa”.
König trouxe para o debate a visão de que a maioria da opinião pública acredita existir um grupo de jornalistas que iniciam seus trabalhos com o propósito de sacanear alguém e fazer mal. “Incomoda ver essa busca de usar a imprensa como bode expiatório de todos os males do Brasil. O repórter acaba sendo a ponta de lança da mídia tradicional e sofre na rua”. Ele acredita que as empresas de comunicação precisam ser responsáveis pela segurança de seus profissionais. “Grandes grupos têm assistência para o repórter que cobre conflitos, mas as pequenas não. Isso deveria ser geral. O jornalista não pode contar apenas com a cara e a coragem para fazer seu trabalho”.
Investir em treinamentos pode ser a saída para diminuir os casos de violência, explica Moreira. “O repórter percebe que uma matéria não compensa o risco que ele está correndo quando é treinado. Nenhuma imagem vale uma vida e não vale a pena que ele se arrisque por algo que será publicado em pouco espaço no veículo. Essa noção precisa ser repassada para os profissionais”.
[Outra vítima da violência da polícia de Alckmin, o fotógrago Sérgio Silva que perdeu um olho: “Todos os dias quando eu acordo, me olho no espelho e a imagem que tenho é essa que você está vendo agora: da violência, do meu olho fechado. Todos os dias eu lembro, não tem como.”
Naquela tarde de junho, em São Paulo, Sérgio registrava, pela agência Futura Press, uma manifestação contra o aumento da tarifa de transporte público quando policiais começaram a atirar com balas de borracha na esquina das ruas Caio Prado e Consolação, no centro da cidade.
A tragédia que lhe tirou a visão, há quase quatro meses, mudou sua vida. Não apenas deu fim ao seu instrumento de trabalho, como o impediu de conseguir manter uma rotina comum para um homem de 31 anos, casado e com duas filhas. “Além de tecnicamente eu estar muito abaixo de um fotógrafo normal, não sou capaz de enxergar direito o caminho pelo qual devo ir ou mesmo de pegar um transporte público sozinho”, contou. “Retomei a vida social recentemente, há cerca de três semanas. Vou a casa de familiares, amigos, estou fazendo primeiro uma adaptação, para depois pensar em exercer minha profissão como antes.”]
O repórter Mauri König, da Gazeta do Povo, é um dos vencedores deste ano do Prêmio Maria Moors Cabot, o Cabot Prize, o mais antigo e um dos mais prestigiados do jornalismo mundial. O anúncio foi feito na quinta-feira (05) pela Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia.
A premiação, criada em 1938 pelo industrial e filantropo Godfrey Lowells Cabot, em memória de sua mulher, Maria, é conferida desde 1939 e se destina a homenagear jornalistas que trabalham no ocidente e, por meio de suas reportagens, contribuem para o avanço da cooperação interamericana.
Junto com Mauri foram premiados o repórter da The New Yorker Jon Lee Anderson (autor da uma também premiada biografia de Che Guevara), a fotógrafa documentarista e repórter freelancer Donna DeCesare, especialista em América Latina, e o diretor da revista colombiana Semana Alejandro Rubino Santos.
Segundo o comunicado da universidade, Mauri König tem “arriscado a vida ao denunciar abusos contra os direitos humanos, tráfico sexual e corrupção”.
O presidente de Columbia, Lee C. Bollinger, disse que o Prêmio Maria Moors Cabot reconhece corajosas reportagens sobre a América Latina, onde a liberdade de imprensa ainda está distante e o exercício da profissão implica um grande risco pessoal. O prêmio não é concedido por um único trabalho, como o Prêmio Esso, no Brasil, mas por toda a obra construída pelo jornalista.
Os vencedores receberão medalhas e US$ 5 mil em cerimônia marcada para o dia 21 de outubro, no campus da universidade de Columbia.
“O melhor desse prêmio, assim como o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa, que recebi em 2012, é o reconhecimento de todo um histórico profissional, e não de um trabalho apenas. É como uma chancela ao que se está fazendo”, escreveu Mauri König para A Gralha.
E mais: “Uma premiação como essa prova ser possível fazer jornalismo de qualidade e de profundidade mesmo em veículos regionais. No caso brasileiro, a Gazeta do Povo está fora do eixo Rio-São Paulo-Brasília, e mesmo assim permite a seus profissionais fazerem coberturas que transcendem sua área de circulação.“
A importância do prêmio: “O Cabot Prize se distingue das demais premiações não só pela antiguidade e por referendar o conjunto da obra de um profissional, mas também por prezar, antes de tudo, pela qualidade da informação que se está levando ao público, independentemente do porto do veículo de imprensa.”
Mauri König nasceu em Pato Branco (PR) em 1967. Graduado em letras e jornalismo, pós-graduado em jornalismo literário, iniciou a carreira jornalística em 1990 na tríplice fronteira Brasil-Paraguai-Argentina, onde foi correspondente de O Estado de S. Paulo, Gazeta Mercantil e Folha de Londrina. É repórter especial da Gazeta do Povo desde 2002.
König é um dos cinco jornalistas brasileiros mais premiados de todos os tempos, segundo ranking do Jornalistas&Cia e do Instituto Corda. Entre seus principais prêmios estão dois Esso, dois Embratel, quatro Vladimir Herzog, dois Lorenzo Natali Prize (da União Europeia) e outro da Sociedade Interamericana de Imprensa.
Em 2012, König ganhou o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa do Comitê de Proteção aos Jornalistas, de Nova York. Agora o Prêmio Maria Moors Cabot, o Cabot Prize, o mais antigo prêmio do jornalismo mundial, concedido desde 1939 a jornalistas de todo o mundo que se destacam na profissão.
O Brasil Oculto é seu segundo livro. O primeiro, Narrativas de um correspondente de rua, de 2008, foi finalista do Prêmio Jabuti.
A bologueira cubana Yoani Sanchez, bastante criticada pela esquerda por suas posições e histórias inversossímeis sobre a vida em Cuba, participará da cerimônia para receber o prêmio conferido a ela em 2009. Naquele ano ela foi impedida de deixar Cuba. Os organizadores esperam agora que, com a mudança das leis cubanas, Yoani, que já viajou para vários países, compareça à entrega dos prêmios.
Os brasileiros que já venceram o Maria Moors Cabot são o porta-voz da Globo, Merval Pereira (2009); o maior repórter brasileiro desde sempre, José Hamilton Ribeiro (2006); a “urubóloga” Miriam Leitão (2005); o repórter especial do jornal carioca O Dia João Antônio Barros, de linha de trabalho igual à de Mauri König (2003); o hoje colunista da Folha Clóvis Rossi (2001); Ricardo Arnt, Gilberto Dimenstein e Otavio Frias Filho, todos da Folha (1991); Carlos Lins da Silva, também da Folha (1990); Roberto Civita, dono da Editora Abril (1988); Luiz Fernando Levy, Roberto Müller e Paulo Sotero, todos da Gazeta Mercantil (1987); Fernando Pedreira, do Estado de S. Paulo (1974); Alberto Dines, do Jornal do Brasil (1970); Alceu Amoroso Lima, líder católico e colunista do Jornal do Brasil (1969); M. F. Nascimento Brito, dono do Jornal do Brasil (1967); Roberto Marinho (1965); Hernane Tavares de Sá (1958); Paulo Bittencourt, dono do Correio da Manhã e Roberto Marinho (1957); Danton Jobim (1954); Austregésilo de Athayde (1952); Orlando Ribeiro Dantas (1948); Assis Chateaubriand (1945); Paulo Bittencourt e Sylvia Bittencourt (1941).
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Transcrito d’A Gralha. Jornal eletrônico sem patrão, redigido por Ana Cecília Pontes de Souza, Jorge Eduardo França Mosquera, Julio Tarnowski Junior e Leandro Taques, que acreditam ser possível construir uma imprensa livre, mas comprometida com um mundo melhor e a felicidade do ser humano.
Aconteceu com Mosquito, e o stalking terminou com um misterioso suicídio. Vem sucedendo com o mais conhecido, internacionalmente, cartunista brasileiro Carlos Latuff, ameaçado pela polícia do governador Sérgio Cabral. No exílio permanece o premiado jornalista Mauri König, ameaçado de morte pelos delegados caça níqueis do governador Beto Richa.
Em Recife, a polícia prendeu o jornalista Ricardo Antunes, por seis meses, pela plantação de ter negociado com o bacharel em Jornalismo, Antônio Lavareda, uma notícia por um milhão de dólares – a notícia mais cara do mundo. Preço jamais visto na História da Imprensa. Contra esta arbitrariedade fui anticandidato a presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco. Coloquei Ricardo Antunes como vice-presidente. A chapa registrada, e única concorrente da chapa continuísta, deu, sem querer, uma nada consta contra Ricardo Antunes. Fiz o domado sindicato, indiretamente, defender Ricardo Antunes contra os secretários jornalistas do governador Eduardo Campos, que chamou Ricardo Antunes de “pobre coitado” e “infame”.
É neste Pernambuco ditatorial, da antiga Sorbonne, que se promove o assédio a Noelia Brito. Exemplo dessas costumeiras mensagens no Brasil:
Da escuridão do Reluz, Noelia Brito vem recebendo os corruptos, criminosos, nefastos, fúnebres avisos de morte anunciada: “os imeios contendo xingamentos e ameaças para que não fizesse qualquer menção ao caso da licitação do Reluz em nenhum dos espaços onde escreve. Dois dias após as ameaças, portanto, no dia 23 de agosto, o jornal Correio Braziliense revelou que um apadrinhado de Geraldo Julio fora o vencedor da licitação milionária destinada à instalação de luminárias na capital pernambucana. O resultado dessa licitação já havia sido anunciado, com antecedência, nos classificados de jornais e pelo Blog Carta Polis”.
Acrescenta Noelia Brito: “Antes das ameaças por email, esta blogueira já vinha sendo vítima de uma série de ataques difamatórios em postagens realizadas por perfis falsos plantados no grupo Direitos Urbanos, do Facebook, no Blog de Jamildo, onde assina coluna semanal, e no Facebook, em perfis “fakes”.
O caso já foi denunciado à Polícia Federal, “já que as verbas do Reluz são federais, e os crimes cometidos pelos bandidos que tentam calar a voz desta blogueira são federais”, informa Noelia Brito. Leia mais
O que pode acontecer na vida de um jornalista que sofre represálias? Como ele encara a profissão após ser ameaçado? Como fica o psicológico de quem passa por situações de extremo medo? Com histórico que reúne, pelo menos, 16 homicídios, sete tentativas de assassinato, 24 ameaças de morte, 2 sequestros, 41 agressões físicas e inúmeros processos judiciais, o ano de 2012, certamente, não foi um dos mais tranquilos para os profissionais de imprensa.
Diante de tantos casos graves, que foram noticiados e esquecidos, o Comunique-se foi em busca de três histórias que completaram ou vão completar um ano nos próximos meses. Mauri König, da Gazeta do Povo; Leniza Krauss, da Rede Record; e Monize Taniguti, de O Jornal, em Guaíra (SP), mostram os reflexos das ameaças na vida dos profissionais.
Em ilustração de 2010, cartunista Carlos Latuff declara apoio aos jornalistas (Imagem: Carlos Latuff)
Mauri König, repórter da Gazeta do Povo
Diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e repórter do jornal Gazeta do Povo, Mauri König foi ameaçado de morte em dezembro de 2012. À época, pessoas que se identificavam como policiais ligaram para o jornalista avisando que militares estavam indo para Curitiba para matá-lo. O motivo da represália foi uma série de reportagens publicadas ao final de maio de 2012 – em conjunto com os repórteres Felippe Aníbal, Diego Ribeiro e Albari Rosa – denunciando ilegalidades e corrupções exercidas por policiais. König foi obrigado a deixar o país e viver escondido com a família.
“Ainda não consegui me recuperar totalmente”, conta. O jornalista, que ainda sente os reflexos das ameaças, diz que, por muito tempo, precisou ficar fora de casa, pois existia a possibilidade da residência ser metralhada. Casado pela segunda vez e pai de uma criança de três anos – a mais nova dos três filhos do profisisonal -, ele se viu obrigado a se afastar da família, situação que acabou sendo permanente. “Perdi a minha família. Minha mulher ficou traumatizada, tem muito medo pela vida do nosso filho e, por isso, acabamos nos separando. Ela mudou de estado e é muito doloroso e penoso para o pai não poder acompanhar o crescimento do filho”, lamenta.
Atualmente, König vive momento de mudança, tanto na vida profissional, quanto na pessoal. “Sempre escolhi ser repórter, mas agora não sei se é o momento. Quero mudar o meu perfil, tratar de assuntos mais amenos”. Ainda na Gazeta do Povo, o jornalista deixou as ruas para se dedicar a serviços internos, como edição e fechamento de capa. “Entreguei-me demais ao trabalho e isso acabou restringindo a minha vida pessoal. Negligenciei o meu trato com a família. Tenho que rever as minhas decisões, talvez tardiamente, mas estou começando a rever”.
Tudo na rotina de König mudou. Sozinho, o profissional passa parte do tempo na redação e tenta ocupar as outras horas com atividades como exercícios físicos, dança de salão e idiomas. A medida faz parte da estratégia para fugir da depressão. “Vivo, hoje, sozinho com a minha mente. Quando voltei ao Brasil, precisei tomar remédios para dormir, tive depressão aguda e sentimento de culpa por tudo o que aconteceu com a minha família e comigo. Preciso tomar cuidado para não ser engolido novamente”. O jornalista afirma que, além de estar sempre ocupado, a terapia é grande aliada na aceitação das mudanças.
König está em busca de uma maneira segura para voltar à reportagem. Para quem vive da profissão, o jornalista aconselha ter cautela. “Sempre achei que o repórter precisa e deve assinar os seus textos. É uma forma de validar a informação e de construir patrimônio. Mas, em alguns casos, isso precisa ser repensado”. O profissional conta que nunca publicou nada sem assinar, mas que, se fosse hoje, jamais teria colocado o nome e a identificação da equipe na reportagem. “Tem que abrir mão da vaidade. Talvez, foi isso que me prejudicou”.
Leniza Krauss, repórter da Record
Repórter da Rede Record, Leniza Krauss sofreu represália em junho do ano passado. A profissional investigava, junto com o produtor Lumi Zúnica, também ameaçado, o assassinato de Geralda Guabiraba, caso conhecido como “Pedra da Macumba”. Ambos receberam diversos telefonemas e foram obrigados a deixar o estado de São Paulo. Leniza contou três tentativas de invasão à sua casa. “Foram 40 dias longe daqui, os mais sofridos da minha vida. Tive que me afastar da família. A minha filha, na época com dois anos, teve febre emocional. Ela chamava pela mãe o tempo inteiro e eu não podia voltar”.
Até agora, o caso que Leniza estava apurando não foi resolvido. Tampouco pouco foi descoberto os autores das ameaças. “As represálias para o produtor chegavam pelo telefone da mulher dele. Eu recebia ligações e ameaças no meu celular. Uma vez estávamos no DEIC prestando depoimento e ligaram, simultaneamente, avisando que sabiam que tínhamos buscado ajuda policial”. A jornalista explica que seu computador foi invadido e todos seus passos eram seguidos. “Não era ninguém ‘blefando’, eles sabiam os conteúdo dos e-mails trocados e tudo que conversávamos”.
Por decisão da Record, as apurações foram congeladas. Neste momento, as ameaças cessaram. “Psicologicamente ainda me sinto muito abalada, é algo que por mais que eu queira, ou tente, não passa. A Leniza depois desse episódio é bastante diferente”. Grávida de seu segundo filho, a repórter vê na atual gestação os reflexos do que aconteceu no ano passado. “Estou afastada desde os sete meses de gravidez. Tive pré-eclampsia (doença em que a gestante desenvolve hipertensão). Tenho absoluta certeza de que tudo de ruim durante a minha gestação foi por causa do impacto psicológico que sofri”.
A casa própria de Leniza foi abandonada. A profissional foi obrigada a deixar a residência e, agora, paga aluguel. “Tive que trocar de casa, de bairro, de carro! Tudo para preservar a segurança da minha família”. Embora tenha migrado dentro da emissora para cobrir pautas mais tranquilas, a repórter considera que grandes descobertas jornalísticas promovem reviravoltas em casos que ficariam impunes. “Mas é preciso coragem e até arriscar a própria vida para falar, mostrar e cobrar das autoridades”.
Não fosse pela família, ela afirma que teria se arriscado mais. Aos profissionais que seguem em coberturas de risco, ela aconselha “o mesmo de sempre: ouvir o coração, a intuição e os cuidados. Todos os possíveis e imagináveis”.
Monize Taniguti, diretora de O Jornal, de Guaíra
Era setembro de 2012 quando a jornalista Monize Taniguti saiu de casa, como de praxe, para buscar, em uma cidade vizinha, a versão impressa da edição semanal de O Jornal. Dona do veículo de comunicação que circula em Guaíra, interior de São Paulo, ela quase não retornou para casa. “Aqui tem muito canavial na estrada. Dois carros me abordaram. Eram três homens, um deles me deu um comprimido para tomar. Em seguida, me levaram”. Depois de longo caminho, os criminosos pediram para que a profissional saísse do automóvel. Ela foi agredida com chutes, socos e tapas no rosto. “Abandonaram-me lá e levaram todos os exemplares do jornal. Meus equipamentos ficaram. Ficou muito claro que eram represálias pelas reportagens que publico”. Na época, ela divulgou série de reportagens com denúncias políticas. A profissional não acredita que a agressão tenha vindo de políticos, mas sim de militantes.
Como geralmente acontece, o caso de Monize também ficou sem solução. Até o momento, os autores do crime não foram descobertos. Mesmo com diversas denúncias, a jornalista, que estava muito nervosa, afirma que não consegue identificar os homens. À época, ainda muito assustada, a diretora do jornal precisou passar um tempo longe da cidade e da família. “Tinha segurança 24 horas na minha casa. Fiquei com muito medo. Nunca imaginei que isso poderia acontecer”.
Passado quase um ano da agressão, a jornalista conta que se sente fortalecida. “Conheci um lado da minha personalidade que não conhecia. Sempre fui uma pessoa determinada que corria atrás de seus objetivos, mas não imaginava que poderia ser tão corajosa”. Sem paralisar o trabalho no jornal, Monize segue com pautas de denúncia e conta que não ficou traumatizada pela situação. Mas há ressalvas. “Tenho medo do próximo ano eleitoral. Hoje, o que mais me preocupa é a segurança da minha filha, de cinco anos. Tenho receio que, para me atingir, possam fazer algo com ela”. A rotina da jornalista não mudou, mas ganhou cautela e segurança. “Tomo certos cuidados básicos. Reforcei a segurança da minha casa com alarmes e cerca elétrica, e tenho um profissional durante a noite, que vigia a casa do lado de fora”.
Sem planos para deixar a profissão, ela alerta que cuidado nunca é demais e afirma que todo jornalista investigativo “é um pouco louco”. “E acho que tem que ser assim mesmo. O jornalista deve ser ousado, mas precisa ter cautela, paciência e também contar com a sorte. Quem escolhe este tipo de jornalismo sabe que fará inimigos, pois sempre ocorrem denúncias que atingem pessoas poderosas, com dinheiro e disposta a tudo para que seu ‘negócio’ não seja desvendado”.
Dados que refletem a situação brasileira
A história de König, Leniza e Monize é resultado da pouca segurança que existe no Brasil. Em relatório divulgado e elaborado pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) no início deste ano, o país figura entre os dez mais perigosos para profissionais da imprensa. Chamado de “Ataques à Imprensa”, o documento denunciou o “aumento sem precedentes no número de jornalistas assassinados e presos no último ano” e uma “legislação restritiva e censura estatal” que colocam em risco o jornalismo independente. “Os obstáculos no Brasil são, em particular, alarmantes, dada a sua condição de líder regional e sede de uma vasta e diversa rede de meios de comunicação”, afirmou a escritora Karen Phillips, no site do CPJ.
Quando o Congresso Nacional fará uma investigação sobre as organizações criminosas que suicidaram Mosquito, que levaram ao exílio André Caramante, Mauri König e que, também, ameaçam de morte Lúcia Rodrigues, Carlos Latuff, para citar casos recentes?
“Essas organizações policiais, que reúnem não só membros ativos das forças de repressão, como também simpatizantes com perfil fascista, anti-comunista, anti-petista, machista e homofóbico. É sabido que dois desses perfis, Fardados e Armados e Rondas ostensivas tobias de aguiar “Rota” estão incitando seus membros a tomarem ações violentas contra mim”, denunciou Latuff.
O Brasil, campeão de censura judicial contra blogueiros que denunciam a corrupção, permite que a internet seja usada para as mortes anunciadas de jornalistas, poetas, escritores e artistas.
Há uma explícita mea culpa mea maxima culpa nesses blogues quando atacam os desfensores dos direitos humanos.
LATUFF É MEU AMIGO, MEXEU COM ELE, MEXEU COMIGO!
por Ivam Pinheiro
Carlos Latuff está entre aqueles que lutam contra a opressão do capital e por uma sociedade justa e fraterna. Antes de tudo, é um humanista, internacionalista e revolucionário, que sofre as dores dos oprimidos, seja onde for.
Militante corajoso, independente, coloca sua arte, sempre inteligente e radical (no bom sentido da palavra), a serviço da esquerda de todo o mundo e da humanidade. Uma charge de Latuff vale mais que muitos manifestos, fala por si, emociona.
Mais uma vez, Latuff está ameaçado de morte.
Justamente indignado com a violência policial, fez, em suas próprias palavras, uma “provocação” em torno do assassinato de um casal de PMs paulistas.
Por mais que a emoção o tenha levado a exagerar o tom da “provocação”, temos a obrigação política e moral, os revolucionários e progressistas, de lhe prestar solidariedade e blindá-lo diante das ameaças de que tem sido vítima, por parte de fascistas que tentam se aproveitar de um momento de compreensível destempero verbal do nosso Latuff.
É bom que saibam os que o ameaçam do carinho que lhe devotam um incalculável número de pessoas e organizações políticas e sociais no mundo todo.
E que depois do “Cadê o Amarildo?”, os matadores, com ou sem farda, de carreira ou de aluguel, vão ter que pensar muito antes de assassinar covardemente um ser humano, seja ele um pedreiro ou um artista. Não mais os deixaremos em paz, a cada covardia.
Com nossa solidariedade, sabemos onde estará por muitos anos o jovem Latuff: numa prancheta, com sua pena implacável contra as opressões e em nossas manifestações contra elas, com a alegria dos que lutam por uma sociedade onde todos nos possamos chamar de companheiros.
Por que escondem esta informação dos pernambucanos? Foi revelada pelo mais premiado jornalista brasileiro, Mauri König, que entrevistou João Suassuna, pesquisador e agrônomo da Fundação Joaquim Nabuco.
Esvreve Kónig: “No extremo de Pernambuco fica a maior mina de gipsita do mundo. Para extrair o gesso é preciso calfinar o mineral, queimá-lo em fornalhas. Para isso, estão usando a caatinga. ‘Está virando carvão, estão acabando com um bioma que pouco se conhece, disse Suassuna”.
Leia a reportagem de uma série “sobre a tragédia brasileira da diáspora da seca”.
Em Pernambuco, as jazidas de gipsita estão encravadas na região semiárida, precisamente no chamado Pólo Gesseiro do Araripe, formado pela multinacional HOLCIM e o Grupo Nassau.
Em consequência dessa organização, foram atraídas para a região, empresas de distribuição do gesso, de construção civil (aplicação do gesso), de máquinas e ferramentas, de explosivos, transportadoras, oficinas mecânicas e metalúrgicas, indústrias químicas, de embalagens, e centros de tecnologia.
QUE GANHA PERNAMBUCO?
Pela situação de Araripina, nada. Só destruição do meio-ambiente.
Conhecida como a Capital do Gesso, responsável por 98 por cento do gesso consumido no Brasil, no Sertão pernambucano é mais pobre que Serra Talhada, Arcoverde, Petrolândia e Petrolina.
Uma situação bastante misteriosa.
Quem consegue explicar o que acontece com essa riqueza roubada?