“Esta morrrendo gente” e reclamação de jornalista é “balela” (Bala nele e bala nela)

Mortes, agressões e ameaças tiram brilho para celebrar Dia do Jornalista

por Renata Cardarelli

O Dia do Jornalista é comemorado em 7 de abril, mas nos últimos meses alguns profissionais não tiveram razões para celebrar. Ameaças, agressões e assassinatos foram registrados neste ano. Três radialistas morreram, vítimas da profissão, e, pelo menos, três foram ameaçados verbal ou fisicamente.

Para o diretor do Instituto Vladimir Herzog e coordenador do projeto ‘Vlado proteção aos jornalistas’, Nemércio Nogueira, o amparo ao jornalista representa a segurança de toda a população. “O ‘Vlado proteção aos jornalistas’ tem como lema: ‘A segurança dos jornalistas é a segurança de todos nós’. Não achamos que os profissionais são coitadinhos, mas defendemos que a sociedade precisa de informação. Por isso, a segurança do jornalista é a segurança de todos nós”.

Nogueira defende que cabe aos veículos de comunicação criar métodos e sistemas para orientar os repórteres. “Deveria haver um pacto entre o jornalista e as empresas para que o profissional não fique solto no espaço. Se já existe algum tipo de assistência, tem que ser aprimorado, porque está morrendo gente”.

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Mafaldo Goes [esq.], Renato Machado Gonçalves [centro] e Rodrigo Neto foram as três vítimas fatais do jornalismo brasileiro neste ano (Imagens: Reprodução/Arquivo Pessoal/Rádio Vanguarda)

Três assassinatos em três meses


Mal começou o ano e um assassinato foi registrado. No dia 8 de janeiro, o jornalista Renato Machado Gonçalves, de 41 anos, foi morto a tiros, em frente a sua casa no centro de São João da Barra, no norte fluminense. Ele era proprietário da rádio Barra FM.

Com uma diferença inferior a duas semanas, o Brasil chorou a perda de dois radialistas. Mafaldo Bezerra Goes, de 61 anos, era conhecido por denunciar crimes que aconteciam na cidade de Jaguaribe (CE), por meio de um programa que apresentava na rádio FM Rio Jaguaribe. No dia 22 de fevereiro, caminhava de sua casa para a emissora, às 8h30, quando foi abordado por dois criminosos em uma motocicleta. Ele foi atingido, pelo menos, cinco vezes na cabeça e no tórax.

Rodrigo Neto não imaginava, mas duas semanas depois seria a vítima fatal de mais um crime contra o jornalismo. Aos 38 anos, o profissional era repórter policial e co-apresentador do ‘Plantão Policial’, da Rádio Vanguarda, de Ipatinga (MG). Ele saiu de um bar e se dirigia para seu carro, quando dois homens em uma moto começaram a disparar. Um dos tiros acertou o peito do jornalista e outro, a cabeça.

Ameaças e agressões
Além de casos de morte, profissionais enfrentam ameaças e retaliações. O Diário da Região, de São José do Rio Preto (SP), acusou o vereador Cesar Gelsi (PSDB) de ameaçar o repórter de política do veículo, Rodrigo Lima. As agressões verbais teriam ocorrido no dia 5 de fevereiro, na Câmara municipal. O político estaria descontente com duas matérias, que questionavam aspectos de sua vida política.

Em março, o vice-prefeito de Bonito (MS), Josmail Rodrigues (PTdoB), teria tentado agredir a repórter Lidiane Kober, do portal Midiamax News, durante uma entrevista. À época, o presidente do PTdoB no Mato Grosso do Sul, Morivaldo Firmindo de Oliveira, negou ter havido qualquer tipo de violência e disse que a reclamação da jornalista se tratava de “balela”.

Também envolvendo partidos políticos, desta vez o PT, a repórter da Folha, Daniela Lima, foi xingada e chutada por militantes ligados à legenda. Em nota, o Partido dos Trabalhadores disse não compactuar com o tumulto que envolveu a profissional.