O encontro dos dois Franciscos em Assis

Papa Francisco em Assis

Ei-lo, portanto, no dia da festa do santo, 4 de Outubro, recomeçar precisamente onde há oitocentos anos Francisco deu início ao seu caminho: a partir de Cristo encarnado no homem sofredor. Para o santo foram os leprosos. Para o Papa Bergoglio, os corpos das crianças assistidas no Instituto  Seráfico de Assis.

Aqui no Seráfico ainda se respira o amor do frade Francisco por cada criatura. E o Papa conhece bem esta riqueza. Por isso, imergiu-se de alma e corpo nesta realidade. O encontro com as crianças teve lugar na capela do Instituto. Deixando de lado o discurso preparado, o Pontífice recolheu e relançou a amargura e a indignação diante de uma sociedade que não sabe reconhecer as chagas de Cristo.

Entretanto, uma pequena multidão reuniu-se diante do santuário de São Damião, onde é venerado o Crucifixo diante do qual pela primeira vez Francisco ouviu o Senhor falar-lhe e recomendar-lhe: «Vai e repara a minha casa». O Papa Francisco meditou prolongadamente diante daquele Crucifixo. Ao seu redor, um silêncio quase irreal, mas deveras eloquente.

No paço episcopal teve lugar talvez o momento mais significativo da sua peregrinação, certamente o mais esperado. Na «Sala da Espoliação», onde são Francisco renunciou à sua riqueza para se oferecer ao Senhor, o Papa propôs a imagem de uma Igreja despojada de toda a mundanidade, da «mundanidade espiritual que mata».

A sala estava cheia de desabrigados assistidos pela Cáritas umbra,  por ex-prisioneiros e por pais de família que com o trabalho perderam tudo, menos a dignidade. Diante deles, o Papa Francisco voltou a pôr de lado o discurso preparado e falou com o coração na mão, como em Cagliari, quando fez o mesmo gesto diante dos operários.

Depois, foi a pé até à vizinha basílica de Santa Maria Maior, a antiga catedral de Assis. Em seguida, retomou a sua peregrinação dirigindo-se de carro até à basílica superior. O Santo Padre desceu primeiro à cripta e ajoelhou-se em recolhimento diante da rocha secular que conserva os despojos mortais do santo. Depois, foi à praça de São Francisco onde presidiu à concelebração eucarística com os oito membros do Conselho de cardeais — que o acompanharam nesta peregrinação — e com os cardeais Bagnasco, Betori e Nicora, com os arcebispos Becciu, substituto da Secretaria de Estado, e  Gänswein, prefeito da Casa Pontifícia, com os bispos da Úmbria e com numerosos sacerdotes.

A manhã terminou no mais puro estilo franciscano. O Papa Bergoglio  despediu-se dos hóspedes e do seu próprio séquito e, de carro, foi ao centro de primeiro acolhimento situado nos arredores da estação ferroviária de Santa Maria dos Anjos, onde almoçou com os pobres. Ali, todos os dias há uma refeição quente para eles, posta à disposição pela Cáritas umbra. Trata-se de um lugar onde a dificuldade se ameniza com uma refeição frugal, na paz do coração por um calor humano oferecido abundantemente, por um gesto quotidiano que tem um sabor de humanidade. O Papa Francisco sentou-se à grande mesa de madeira  em forma de «L», pondo-se precisamente no canto, de maneira a poder fitar todos nos olhos. Toalha e guardanapos rigorosamente de papel, como todos os dias. Não havia vinho, só a «irmã água». A refeição preparada pela irmã Dina, chefe da cozinha, era a mesma do domingo ou de qualquer dia de festa, com a lasanha preparada por Annarita, como  seu prato forte.

«Uma lição de simplicidade», estava escrito num dos vários cartazes de boas-vindas. E foi o que o Pontífice fez durante esta manhã passada em Assis: deu uma grande lição de simplicidade. E na casa do seu «mestre» Francisco não podia deixar de ser assim.

 do nosso enviado Mario Ponzi/ L’Orsevatore Romano
ITALY-POPE-VISIT-ASSISI
Trechos de sermões do Papa em Assis
“Aqui, Jesus está escondido nesses jovens, nessas crianças, nessas pessoas. No altar, adoramos a Carne de Jesus. Neles, encontramos as chagas de Cristo – que precisam ser ouvidas talvez não tanto nos jornais, como notícias… Esta é uma escuta que dura um, dois, três dias. Devem ser ouvidas por aqueles que se dizem cristãos. O cristão adora e busca Jesus e sabe reconhecer as suas chagas. A Carne de Jesus são as suas chagas nessas pessoas”.
Francisco recordou o luto em toda a Itália, neste dia, por conta da trágico naufrágio em Lampedusa. “Hoje, é um dia de lágrimas. É o espírito do mundo que faz essas coisas”, explicou o papa, que usou palavras fortes para quem se deixa levar por este espírito: “É realmente ridículo que um cristão verdadeiro, que um padre, um freira, um bispo, um cardeal, um papa, queiram percorrer esta estrada do mundo, é uma atitude homicida. O mundano mata, mata a alma, as pessoas, mata a Igreja. Hoje, aqui, peçamos a graça para todos os cristãos. Que o Senhor nos dê a coragem de nos espoliar do espírito do mundo, que é a lepra e o câncer da sociedade, é o câncer da revelação de Deus. O espírito do mundo é o inimigo de Jesus”.

“Paz e Bem!”, começou o papa em sua homilia. Em primeiro lugar, frisou que o caminho de Francisco para Cristo começou do olhar de Jesus na cruz. “O santo se deixou olhar por Ele no momento em que deu a vida por nós e nos atraiu para Ele. Naquele instante, Jesus não tinha os olhos fechados, mas bem abertos: um olhar que lhe falou ao coração”.

:“Quem se deixa olhar por Jesus crucificado fica recriado, torna-se uma nova criatura. E daqui tudo começa: é a experiência da Graça que transforma, de sermos amados sem mérito algum, até sendo pecadores”, prosseguiu.

O papa recordou que quem segue a Cristo recebe a verdadeira paz. “A paz franciscana não é um sentimento piegas, não é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos… Também isto não é franciscano, mas uma ideia que alguns formaram. A paz de São Francisco é a de Cristo, é a de quem assume o seu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. E este jugo não se pode levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas com mansidão e humildade de coração”, ressalvou o pontífice, pedindo a São Francisco que nos ensine a ser «instrumentos da paz»”.

Francisco denunciou a “indiferença para com os que fogem da escravatura, da fome, para encontrar a liberdade e encontram a morte em Lampedusa”

Body bags containing African migrants, who drowned trying to reach Italian shores, lie in the harbour of Lampedusa

Ataúdes de las víctimas del naufragio en el aeropuerto de Lampedusa. / LANNINO (EFE)
Ataúdes de las víctimas del naufragio en el aeropuerto de Lampedusa. / LANNINO (EFE)

“Hoje é um dia de lágrimas”, disse o papa Francisco em Assis – que na quinta-feira se referiu ao ocorrido como uma “vergonha”. O papa denunciou a “indiferença para com os que fogem da escravatura, da fome, para encontrar a liberdade e encontram a morte como ontem em Lampedusa”.

O prefeito de Roma, Ignazio Marino, garantiu que todas as pessoas que escaparam do naufrágio de Lampedusa ficarão na cidade. “Os 155 sobreviventes serão acolhidos aqui. Esse é o primeiro sinal da rebelião contra a resignação e a indiferença”, declarou.

Marino acrescentou que será uma honra acolher os imigrantes para recordar as mulheres, crianças e homens que perderam a vida no mar italiano. “Estamos furiosos por ter que contar as vítimas no mar. Não podemos mais assistir a essas tragédias e queremos nos empenhar contra aquilo que o papa Francisco definiu como ‘globalização da indiferença’. Roma quer colocar a cultura da vida ante o crime da indiferença”, completou.

Num dia de pranto

 

 

GIOVANNI MARIA VIAN

Na festa do santo do qual o bispo de Roma pela primeira vez escolheu assumir o nome, Assis acolheu o Papa Francisco. Com um afecto que se tornou evidente pela participação comovida na visita de tantíssimas pessoas, e com o ânimo marcado pela última dilacerante tragédia que causou centenas de vítimas nas águas de Lampedusa. Num dia de pranto – assim o definiu o Pontífice – cuja tristeza foi de certa forma expressa também pelo clima cinzento e chuvoso de um Outono antecipado.
Precisamente Lampedusa foi a meta da primeira viagem do pontificado, decidida para confiar à misericórdia de Deus os vinte e cinco mil mortos destes anos no Mediterrâneo – homens, mulheres, crianças em fuga de condições de vida desesperadas – e para procurar afastar dos corações aquela dureza que o Papa denunciou vigorosamente como uma globalização da indiferença. Assim a homenagem comovida de flores que depôs sobre o túmulo do santo de Assis evocou a imagem das que confiou às ondas do mar diante da pequena ilha siciliana.
E se, face à tragédia, a primeira palavra que surgiu imediatamente nos lábios do Pontífice foi “vergonha”, as carícias e os beijos que distribuiu prolongadamente aos jovens deficientes assistidos no Instituto Seráfico eram também para as vítimas deste drama que tem proporções mundiais. Eloquente foi a decisão de iniciar a visita em Assis por este lugar no qual a atenção e a cura da carne sofredora de Cristo são antes de mais uma escolha de vida. Escolha de atenção ao próximo que – recordou o Papa Francisco – deve distinguir os cristãos. Assim a meditação improvisada sobre as chagas de Jesus ressuscitado – era lindíssimo, disse – quis frisar que precisamente estas chagas permitem que os discípulos o reconheçam. De facto, assim como Jesus está ao mesmo tempo escondido e presente na Eucaristia, está presente e escondido também na sua carne que sofre neste mundo.
Aquela carne que Francisco de Assis reconheceu e abraçou no leproso, no início de um caminho exemplar no qual já os contemporâneos viram as características extraordinárias de um “segundo Cristo” (alter Christus).
Portanto, nas pegadas de Francisco desdobrou-se o caminho em Assis do Papa que dele assumiu o nome. Primeiro no paço episcopal, onde o filho do mercante Bernardone se despojou das vestes e onde o Papa Francisco falou de novo improvisando, fazendo uma meditação sobre a espoliação continuamente necessária da parte da Igreja, para evitar a mundanidade espiritual. Em seguida em São Damião, onde exortou os religiosos a permanecer fiéis às núpcias celebradas com a Senhora Pobreza. Depois diante do túmulo de Francisco e por fim na ermida dos Cárceres, primeiro Pontífice que a visita. O Bispo de Roma dirigiu-se ao santo directamente na homilia com palavras muito sentidas: ensina-nos – disse – a permanecer diante do crucifixo para nos deixarmos guiar por ele; ensina-nos a ser instrumentos de paz, aquela que provém de Deus e que o Papa Francisco implorou mais uma vez: pela Terra Santa, pela Síria, pelo Médio Oriente, pelo mundo. Um mundo sofredor que deseja e precisa da paz e do olhar de Deus.

Solo los muertos pueden quedarse

 

por Pablo Ordaz

 

El viernes por la tarde, solemnemente, el primer ministro de Italia, Enrico Letta, anunciaba que todos los fallecidos en el naufragio de Lampedusa —por ahora 58 hombres, 49 mujeres y cuatro niños— recibirán la nacionalidad italiana. Justo a la misma hora —y no es un recurso periodístico—, la fiscalía de Agrigento (Sicilia) acusaba a los 114 adultos rescatados de un delito de inmigración clandestina, que puede ser castigado con una multa de hasta 5.000 euros y la expulsión del país. Los muertos, sin embargo, podrán quedarse. Ante la imposibilidad de ser identificados, se les ha adjudicado un ataúd, un número y un trozo de tierra en cementerios de Sicilia para que descansen, ahora sí, con la nacionalidad europea que se jugaron la vida por conseguir.

El Ayuntamiento de Roma, en un gesto que seguramente le honra, organizó una vela nocturna por los difuntos y anunció que dará cobijo a los 155 supervivientes del naufragio. El resto, los más de mil que llegaron un día antes, tendrán que seguir hacinados en los inmundos barracones del centro de acogida de Lampedusa, situado —muy convenientemente— en el extremo de la isla opuesto a donde los turistas disfrutan del último sol del verano. La diferencia entre unos y otros es solo de número. Unos forman parte de una noticia de impacto mundial y los otros son solo protagonistas de su propia tragedia. La delgada línea entre Roma y el olvido.

El vicepresidente del Gobierno y ministro de Interior, Angelino Alfano, hasta hace solo unos días delfín de Silvio Berlusconi y ahora su supuesto verdugo político, pidió —también el viernes— el premio Nobel de la Paz para Lampedusa, pero sus habitantes, que conocen a Alfano y a su afligido jefe porque sus Gobiernos aprobaron la ley que criminaliza el auxilio a los náufragos, tienen una idea más práctica. La expresaron por las calles de la isla durante una manifestación de dolor y rabia precedida por una cruz construida con los restos de un naufragio: “Los próximos muertos —porque habrá más muertos y lo sabéis todos— os los llevaremos a las puertas del Parlamento. Nosotros a los inmigrantes queremos acogerlos vivos, no muertos”, corearon.

Cuando sucedía todo lo anterior, viernes por la tarde, ya habían transcurrido 36 horas desde que un barco con más de 500 fugitivos de Eritrea y Somalia, muchos de ellos menores de edad, se incendiara y se hundiera a solo media milla de la isla de Lampedusa, famosa en toda Europa —y tal vez en todo el mundo después de la visita del papa Francisco el pasado julio— por ser el destino de miles de inmigrantes. Y aun siendo así, los políticos italianos —desde el presidente de la República para abajo— seguían haciendo declaraciones como si se encontraran ante una sorprendente catástrofe natural. Un ciclón o un terremoto tremendo que, de improviso, hubiese puesto al descubierto la deficiente construcción de los edificios o el mal entrenamiento del plan de emergencias. Pero no. Cada día, desde que la primavera trae el buen tiempo hasta que el otoño se lo lleva, la isla de Lampedusa, varada en el Mediterráneo a 205 kilómetros de las costas de Sicilia y a 113 de África, es puerto de refugio o muerte de centenares de miles de inmigrantes. Las cifras —siempre aproximadas— indican que, en las últimas dos décadas, más de 8.000 personas han muerto frente a Lampedusa. La alcaldesa, Giusi Nicolini, llegó a escribir una carta desesperada a la Unión Europea —”¿Cuán grande tiene que ser el cementerio de mi isla?”— y el papa Jorge Mario Bergoglio atrajo la atención sobre la isla al advertir de que “la globalización de la indiferencia” se hace allí carne y sufrimiento.

Por eso, suena del todo incomprensible que las autoridades italianas —la Guardia Costera, la Guardia de Finanzas, la Capitanía del puerto de Lampedusa— tardaran más de dos horas en enterarse de que un barco que albergaba a más de 500 personas estaba ardiendo y hundiéndose a solo media milla de la isla. Y que solo reaccionaran tras ser alertados por algunos pesqueros —otros tres, según los náufragos, pasaron de largo— y que, todavía entonces, pasara mucho tiempo hasta que se decidieron a ayudar.

La denuncia de Vito Fiorino, dueño de una de las embarcaciones que primero se acercó a la zona de la catástrofe, es tremenda: “Eran las 06.30 o las 06.40 cuando di la orden de llamar a la guardia costera, pero no llegaron hasta las 07.40. Nosotros ya habíamos subido a bordo a 47 náufragos, pero ellos lo hacían muy lentamente, podían haber ido más deprisa. Cuando volvíamos a puerto cargados de náufragos hemos visto la patrullera de la Guardia de Finanza que salía como si fuese de paseo. Si hubieran querido salvar a la gente, habrían salido con barcas pequeñas y rápidas. La gente se moría en el agua mientras ellos se hacían fotografías y vídeos. Cuando mi barco estaba lleno de inmigrantes y les pedimos a los agentes que los subieran a la patrullera, nos decían que no era posible, que tenían que respetar el protocolo. También me querían impedir ir al puerto con los náufragos. Si ahora quieren detenerme por haber salvado a náufragos, que lo hagan, no veo la hora…”, dijo a la prensa en el puerto de Lampedusa.

El problema es que sí, que podrían detenerlo. La legislación italiana contempla desde 2002 —gracias a la presión xenófoba de la Liga Norte en los Gobiernos de Silvio Berlusconi— el delito de complicidad con la inmigración ilegal para quien introduzca en el país a inmigrantes sin permiso de entrada, incluyendo a quienes ayuden a los barcos en los que viajan. De ahí que sea difícilmente compatible la sorpresa y aun la consternación político-institucional por la tragedia con el mantenimiento —durante el año de Gobierno de Mario Monti y los cinco meses de Enrico Letta— de una ley que, como finalmente admitió ayer el ministro de Administraciones Públicas, “alimenta un circuito de xenofobia y racismo que no hace honor a Italia”.

Un país al que fue muy caro llegar. Algunos de los supervivientes han contado que, tras atravesar el desierto y sobrevivir en Libia, tuvieron que pagar 500 dólares por un viaje en barco que incluía una botella de cinco litros de agua para compartir entre tres. Viajaron durante tres días, desde el puerto libio de Misrata. El patrón del barco, un traficante que ya había sido detenido años atrás y que se hacía llamar “doctor”, los amontonaba en función del precio que habían pagado. Los más pobres, en las bodegas, donde todavía siguen, suspendidas las tareas de rescate por el mal tiempo. El fuego, coinciden todos, se originó al encender unas mantas para hacerse ver desde tierra. Pero, como ahora se pregunta Italia avergonzada, o nos lo vieron o no los quisieron ver.

De Lampedusa zarpa una procesión de ataúdes sellados, algunos blancos, sin nombre, numerados del uno al 111: “Muerto número 54, mujer, probablemente 20 años. Muerto número 11, hombre, probablemente tres años…”.

Sobreviventes de Lampedusa serão processados por imigração clandestina

Os sobreviventes do naufrágio da última quinta-feira (3) em Lampedusa serão processados por imigração clandestina, informou neste sábado a Procuradoria de Agrigento, na Sicília. O crime prevê como pena máxima uma multa de 5 mil euros (cerca de R$ 15 mil).

Mais de 110 imigrantes africanos morreram no acidente, ocorrido próximo a uma praia da ilha de Lampedusa, no sul da Itália.  Cerca de 200 pessoas ainda estão desaparecidas e outras 155 foram resgatadas com vida. Os mergulhadores italianos suspenderam temporariamente as operações de busca devido às más condições do mar.

A tragédia abalou a Itália e fez com que o presidente do país, Giorgio Napolitano, instasse a União Europeia (UE) a adotar medidas para evitar novos naufrágios, que há décadas são constantes em Lampedusa. Segundo Napolitano, esse não é um problema exclusivo da Itália, já que o país serve apenas de porta de entrada à Europa para os imigrantes.

Neste sábado, o primeiro-ministro da França, Jean-Marc Ayrault, convocou uma reunião urgente com vários países europeus para tratar do tema da imigração ilegal. “É importante que os responsáveis políticos europeus falem do assunto o quanto antes, juntos”, disse o premier. (ANSA)

Papa Francisco: “Hoje é dia de lágrimas” pelos imigrantes que morreram em Lampedusa

Bergoglio está de visita a Assis. “A vítimas da cultura do desperdício são precisamente as pessoas mais frágeis “, tinha escrito numa intervenção que deixou de lado, para improvisar.

“Hoje é um dia de lágrimas”, disse. Francisco – que na quinta-feira se referiu ao ocorrido como uma “vergonha” – denunciou a “indiferença para com os que fogem da escravatura, da fome, para encontrar a liberdade e encontram a morte como ontem [quinta-feira] em Lampedusa”.

Governo italiano tenta levar União Europeia a discutir política de imigração. Mergulhadores disseram ter visto dezenas de cadáveres. Muitos terão sido levados por correntes marinhas.

Reacende-se o debate em Itália sobre as leis de imigração, sobretudo as que tornam crime o apoio no mar a embarcações com imigrantes ilegais – o motivo que terá impedido o socorro ao navio que naufragou já perto da ilha de Lampedusa, na quinta-feira. O número oficial de mortos mantinha-se, nesta sexta-feira de manhã, em mais de 130, mas o elevado número de desaparecidos faz temer que tenham morrido pelo menos 300 pessoas, entre as quais crianças.

“Já não temos esperança de encontrar sobreviventes”, disse à AFP um elemento das forças policiais envolvidas nas operações de resgate de um desastre que relança o debate sobre a política europeia de imigração. A Itália está esta sexta-feira a viver um dia de “luto nacional”.

Até à manhã desta sexta-feira só foram salvas 155 pessoas das 450 a 500 que o navio transportaria, o que pode fazer do desastre a maior tragédia da imigração, nos últimos anos. Mergulhadores que exploraram a zona próxima do navio afundado disseram ter visto dezenas de cadáveres. Muitos outros terão sido levados da zona pelas correntes marinhas.

A última grande tragédia com imigrantes ocorreu em Junho de 2011, quando 200 a 270, oriundos da África subsariana e fugidos da Líbia em guerra, se afogaram ao tentarem chegar a Lampedusa. Segundo a organização não-governamental Migreurop, com sede em Paris, nos últimos 20 anos, 17 mil imigrantes morreram ao tentar chegar à Europa.

“Já não temos espaço, nem para os vivos nem para os mortos”, disse ainda na quinta-feira, poucas horas depois do naufrágio, a presidente da câmara de Lampedusa, Giusi Nicolini.

O vice-primeiro-ministro italiano, Angelino Alfano, confirmou à AFP a detenção do capitão do navio, que partiu do porto líbio de Misrata, lotado de imigrantes, maioritariamente somalis e eritreus. Já esta sexta-feira, na Câmara dos Deputados, Alfano defendeu a necessidade de “actuar, na Europa e em África”.

Na Europa, o vice-primeiro-ministro considera necessário mudar as regras “que fazem pesar demasiado a imigração clandestina sobre os países de entrada”. Na quinta-feira reivindicou a possibilidade de a Itália alargar o patrulhamento “para além das suas águas territoriais”.

Agir na UE
Alfano disse ter conversado ao telefone com o presidente da Comissão, Durão Barroso, e que este lhe deu “abertura” para reabrir o dossier da entrada de imigrantes ilegais na Europa. “Prometeu-me que virá connosco a Lampedusa para lhe mostramos o que se passa nesta parte da Europa”, disse Alfano, citado pelo jornal La Repubblica. “Faremos ouvir alto a nossa voz na Europa para alterar os tratado de Dublin, o acordo internacional que atribui muito, muito, muito peso da imigração aos países de primeiro ingresso.”

A ministra da Integração italiana, Cécile Kyenge, primeira negra num governo italiano, reclamou a criação de “corredores humanitários para tornar mais segura a travessia daqueles que são vítimas de organizações criminosas”.

A comissária europeia dos Assuntos Internos, Cecilia Malmström, afirmou no Twitter a sua convicção de que é preciso mudar a situação: “Os meus pensamentos estão com as vítimas e com as suas famílias. Devemos redobrar os esforços para lutar contra os traficantes de pessoas que exploram o desespero.”

Mas outros recordaram em Itália que a própria legislação italiana está na origem de problemas, não só a lei Bossi-Fini, como, mais recentemente, uma alteração que transforma em crime de favorecimento da clandestinidade prestar ajuda em alto mar a embarcações de imigrantes ilegais que estejam em perigo. Por isso, diz a presidente da câmara de Lampedusa, Giusi Nicolini, os pescadores se mantêm afastados destes navios. Três barcos de pescadores afastaram-se da embarcação que transportava estes imigrantes, que se incendiou e acabou por naufragar, dado o pânico das pessoas a bordo.

As autoridades italianas informaram que cerca de 25 mil imigrantes entraram este ano em Itália, três vezes mais do que em 2012. Segundo as Nações Unidas, no ano passado, quase 500 pessoas morreram ou foram dadas como desaparecidas no mar, quando tentavam chegar à Europa.

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Otra tragedia en Lampedusa deja cientos de muertos y desaparecidos

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Lampedusa conoció ayer la peor tragedia de la inmigración de los últimos años: más de 130 personas muertas y casi 200 desaparecidas después del naufragio de un barco cerca de la pequeña isla siciliana. Según las autoridades, el barco partió de Libia transportando entre 450 y 500 inmigrantes, pero solo sobrevivieron 150, por lo que el número de víctimas puede superar las 300.

«No tenemos más sitio, ni para los vivos ni para los muertos», declaró, abatida, la alcaldesa de Lampedusa, Giusi Nicolini. «Es un horror. No paran de aparecer cuerpos».

Hasta un centenar de cadáveres fueron descubiertos por los submarinistas del servicio de guardacostas, en el interior y en torno a la embarcación, que se encontraba hundida a unos cuarenta metros de profundidad. Los primeros balances oficiales iban aumentando a medida que aparecían más cuerpos.

«Ha sido trágico ver los cuerpos de los niños», relataba muy afectado Pietro Bartolo, un responsable sanitario de la isla a la cadena de televisión Sky TG24. Lampedusa «no tiene suficientes ataúdes» y han debido transportarlos por avión, explicó. El Gobierno italiano decretó para hoy un día de duelo nacional. El viceprimer ministro, Angelino Alfano, acudió al lugar y se encargó de dar algunos detalles de la tragedia. Los inmigrantes, en su mayoría somalíes y eritreos, habían partido de la costa libia y el accidente se produjo a unos 550 metros de la costa.

«Cuando hemos llegado cerca de la isla, hemos decidido encender un fuego, incendiando la cubierta, para llamar la atención, pero el puente estaba sucio de gasolina: en pocos segundos el barco ha quedado envuelto por las llamas, muchos de nosotros nos hemos lanzado al agua gritando mientras el barco volcaba», relató uno de los supervivientes, según «Il Corriere della Sera».

Otros aseguraron que varios pesqueros no les socorrieron. Un pescador, Rafaele Colapinto, explicó que llegó a ayudar a los inmigrantes: «Hemos visto un mar de cabezas, tardamos una media hora en recogerlos a todos porque estaban resbaladizos a causa de gasóleo».

El puerto se llenó pronto de cuerpos envueltos en bolsas verdes. Por falta de espacio, fueron transportados a un hangar en el aeropuerto de la isla.

Entre ellos se halló a una joven eritrea aún con vida después de que un miembro de los equipos de rescate se diera cuenta de que aún respiraba. Trasladada al hospital de Palermo se encuentra en estado grave, deshidratada, con hipotermia, y sufre de neumonía después de ingerir, al igual que las otras víctimas, el gasóleo vertido por el barco.

Nicolini envió un telegrama al primer ministro, Enrico Letta, pidiéndole que «venga a contar los muertos» con ella y acusó a Europa de «mirar hacia otro lado (..) frente a la enésima masacre de inocentes en la isla». Recordó además que Lampedusa, más cerca de las costas de África que de Sicilia, es el desde hace años el destino de los inmigrantes clandestinos.

«Esta es una tragedia europea, no solo italiana», afirmó Alfano, que pidió que Italia, donde este año han llegado ya 25.000 inmigrantes (tres veces más que en 2012), pueda extender sus patrullas «más allá de sus aguas territoriales».

La ministra de Integración, Cécile Kyenge, originaria de la República Democrática del Congo, exigió una coordinación europea para instaurar «corredores humanitarios que hagan las travesías más seguras que aquellas con las que especulan las organizaciones criminales».

«Es consecuencia de una política represiva»

El drama de Lampedusa es consecuencia de una política represiva hacia la inmigración. según François Crépau, relator especial de la ONU para la protección de los migrantes, que aseguró que «estas muertes se podían haber evitado». En la apertura del Segundo Diálogo de Alto Nivel sobre Migración en la Asamblea General de la ONU, afirmó que «tratar la inmigración clandestina únicamente con medidas represivas puede provocar estas tragedias. La inmigración clandestina no es un delito contra las personas o los bienes ni una amenaza para la seguridad». Mediante el bloqueo de sus fronteras, los países europeos dan más poder a los contrabandistas y traficantes de seres humanos, criticó, denunciado la «paranoia» impulsada por los políticos. «Los gobiernos deben asumir su parte de responsabilidad», insistió y propuso desarrollar las posibilidades de la inmigración legal y aceptar la idea de la diversidad y del multiculturalismo.

GARA

Lampedusa, temor de 300 mortos

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PREFEITA DE LAMPEDUSA: “VENHA CONTAR OS MORTOS COMIGO”

A prefeita de Lampedusa, Giusi Nicolini, pediu para o primeiro-ministro da Itália, Enrico Letta, dirigir-se à ilha para “contar os mortos” provocados nesta quinta-feira (3) pelo naufrágio de uma embarcação com 500 imigrantes africanos ilegais.
“Venha contar os mortos comigo”, escreveu a prefeita em um telegrama ao premier. Nicolini há anos tenta chamar a atenção das autoridades ao problema dos naufrágios em Lampedusa. Em entrevista à ANSA por telefone, a prefeita relatou que a cena desta quinta-feira “é um horror”. “Não terminam nunca de descarregar mais corpos. Venham ver. É uma cena impressionante”, contou a prefeita, chorando.
“Não posso deixar de expressar a miopia da Europa, que insiste em olhar só para o outro lado. Os imigrantes chegam à nossa ilha há anos e continuarão fazendo isso por muito tempo. Se as instituições não intervierem imediatamente, serão, inevitavelmente, cúmplices desse absurdo e vergonhoso massacre”, criticou.
Nicolini também desferiu críticas à lei italiana “Bossi-Fini”, que regula os casos de imigração no país. Em vigor desde julho de 2002, a lei prevê, entre outras coisas, punição aos que favorecem a imigração clandestina e o envio de pessoas indocumentadas a centros de acolhimento temporário.
“A Itália tem leis desumanas. Três barcos pesqueiros foram embora do local da tragédia porque o nosso país processa os pescadores que salvam vidas humanas, acusando-os de favorecer a imigração clandestina”, afirmou Nicolini. “O governo deve anular imediatamente essa normativa”, acrescentou. (ANSA)

Trezentos mortos no naufrágio em Lampedusa. “Uma vergonha que não se deve repetir”

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De acordo com a primeira reconstituição dos fatos, a embarcação virou em frente a “Isola dei Conigli”, uma ilhota que pertence a Lampedusa, e tinha a bordo cerca de 500 imigrantes, inclusive mulheres e crianças.

As vítimas explicaram que são da Eritréia e da Somália. Reportagens Corriere Della Sera

Naufragio Lampedusa: 62 corpi recuperati

«É uma vergonha». Para o Papa Francisco não há outras palavras para definir mais uma tragédia do mar – que se verificou nas primeiras horas desta manhã, quinta-feira 3 de Outubro, ao largo de Lampadusa – na qual perderam a vida numerosos imigrantes. O Pontífice expressou assim a sua dor e profunda indignação pelo contínuo repetir-se destas tragédias face à indiferença da comunidade internacional.

«Rezemos juntos a Deus – disse dirigindo-se aos participantes na comemoração promovida pelo Pontifício Conselho «Justiça e Paz» do cinquentenário da encíclica Pacem in terris, recebidos em audiência esta manhã na Sala Clementina – por quem perdeu a vida: homens, mulheres, crianças, pelos familiares e por todos os refugiados». E depois da dor o seu apelo urgente: «Unamos os nossos esforços para que nunca mais se repitam semelhantes tragédias. Só uma colaboração decidida de todos pode ajudar a prevenir». Uma chamada à solidariedade, unida com a justiça, que o Santo Padre tinha feito pouco antes no discurso, indicando os caminhos que se devem percorrer para concretizar a paz para todos os homens. Relendo a encíclica de João XXIII o Papa Francisco tinha frisado a indicação do fundamento da construção da paz: «A origem divina do homem, da sociedade e da própria autoridade, que compromete os indivíduos, as famílias, os vários grupos sociais e os Estados a viver relações de justiça e de solidariedade».

Justiça e solidariedade: palavras que, segundo o Santo Padre, devem ser transformadas em «realidade», trabalhando sobretudo para superar «egoísmos, individualismos, interesses de grupo», e tendo sempre em vista «a dignidade de cada ser humano». Um tema particularmente querido a João XXIII, que entre os direitos fundamentais indicados na encíclica incluía a possibilidade para todos de ter acesso aos bens essenciais para a sobrevivência, naquele espírito de comunhão e de fraternidade universal do qual precisamente o Papa Francisco irá prestar testemunho amanhã, sexta-feira 4, em Assis.

++ Naufragio Lampedusa: 14 cadaveri, anche 2 bambini ++

nau cadaveres

Papa Francisco foi a Lampedusa, porto de abrigo de milhares de emigrantes, “chorar os mortos que ninguém chora”

A gust of wind lifts up Pope Francis' mantle as he stands onboard a boat at Lampedusa Island

Francisco fez uma peregrinação a Lampedusa, Itália, para combater a “globalização da indiferença”. Esse encontro do Papa com os emigrados foi censurado pela grande imprensa brasileira. Principalmente os jornais golpistas que são contra o povo nas ruas, e qualquer plebiscito ou referendo. Uma imprensa elitista que, inclusive, vem inventando que o Papa teme os atuais protestos brasileiros.

Quem chorou hoje no mundo?

“Senti que devia vir hoje aqui para rezar e manifestar a minha proximidade”
É o hábito do sofrimento do outro que alimenta a globalização da indiferença e adensa o número de “responsáveis sem nome nem rosto”. Foi duríssima a condenação do Papa Francisco, ao falar de Lampedusa, no extremo sul da Europa; mas ele dirigia-se ao mundo, chamando-o às suas responsabilidades diante do drama de quantos são obrigados a fugir da própria terra em busca de paz e dignidade. O Papa explicou que a primeira viagem do seu pontificado é precisamente para eles, para estas vítimas de uma violência inaudita.

Quando, há algumas semanas, recebeu a notícia de mais uma tragédia do mar, recordou: “senti que devia vir aqui hoje para rezar, para realizar um gesto de proximidade, mas também para despertar as nossas consciências a fim de que o que aconteceu não se repita”. E invocou o Senhor, pedindo “perdão pela indiferença em relação a tantos irmãos e irmãs; por quantos adormeceram, fechando-se no próprio bem-estar que leva à anestesia do coração, e por aqueles que, com as suas decisões a nível mundial, criaram situações que levam a estes dramas”.

Escreve o jornal Público de Portugal:

O Papa Francisco escolheu Lampedusa para a primeira viagem apostólica do seu pontificado e a primeira de sempre de um Papa à ilha italiana do Mediterrâneo, ponto de passagem para milhares de imigrantes que tentam chegar à Europa.

O Sumo Pontífice quis manter a sobriedade dos actos para “chorar os mortos” dos naufrágios de embarcações que transportam imigrantes do Médio Oriente e Norte de África – os mortos que ninguém chora, disse. E para tal, fez-se acompanhar apenas dos seus secretários particulares, dos seus guarda-costas e do porta-voz do Vaticano Federico Lombardi, nota a AFP, e sem responsáveis políticos num barco que percorreu parte da costa até à Porta da Europa, monumento erguido em memória de todas as vítimas de naufrágios.

O Papa lançou ao mar uma coroa de crisântemos (brancos e amarelos, cores do Vaticano) antes de se recolher em silêncio. Depois, saudou a multidão que o esperava no cais enquanto os navios ao largo da ilha faziam ressoar as suas sirenes em sinal de luto pelos mortos, descreve a AFP.

Lampedusa flores

O barco que usou é o mesmo que, desde 2005, socorreu 30 mil pessoas apanhadas em naufrágios na travessia do Mediterrâneo. Também para celebrar uma missa, usou um barco que em tempos naufragou, como altar. “Os mortos no mar são como um espinho no coração”, disse frente a habitantes da ilha e imigrantes.

O Papa Francisco quis, com esta visita, sensibilizar a ilha de 6000 habitantes e o país para a necessidade de acolher essas pessoas e garantir os seus direitos. “Tende a coragem de acolher aqueles que procuram uma vida melhor”, pediu, ao mesmo tempo que elogiou Lampedusa como “exemplo para todo o mundo” precisamente por ter “a coragem de acolher” essas pessoas.

Apelou a um despertar das consciências para contrariar a “indiferença” relativamente aos imigrantes. “Perdemos o sentido da responsabilidade fraterna e esquecemo-nos de como chorar os mortos no mar”, lamentou. “Ninguém chora estes mortos”, criticando “os traficantes” que “exploram a pobreza dos outros.”

“Oremos pelos que hoje não estão aqui”, disse o Papa a um pequeno grupo de imigrantes acabados de chegar, no domingo, a este primeiro porto seguro para milhares de pessoas que tentam chegar à Europa. “Fugimos dos nossos países por motivos políticos e económicos. Pedimos a ajuda de Deus depois dos nossos longos sofrimentos”, acrescentou.

A escolha de Lampedusa para a primeira deslocação fora de Roma é altamente simbólica para um Papa que colocou os pobres e os excluídos no centro do seu pontificado e lançou um apelo à Igreja para que regresse à sua missão de os servir, nota a Reuters, acrescentando que esta viagem coincide com o início do Verão quando se intensificam as travessias. “O resto da Itália e a Europa têm de ajudar-nos”, disse à AFP a presidente da câmara de Lampedusa, Giusi Nicolini.

A ilha italiana do Mediterrâneo, entre a Sicília e a costa da Tunísia e da Líbia, é uma das principais portas de entrada para a União Europeia, juntamente com a fronteira entre a Grécia e Turquia. Desde Janeiro, 4000 imigrantes chegaram já à ilha – esse número é três vezes maior do que os do ano passado, segundo a AFP. 2011, com as Primaveras Árabes, foi particularmente movimentado. Nesse ano, cerca de 50 mil imigrantes e refugiados desembarcaram em Lampedusa, metade dos quais vindos da Líbia e da Tunísia, cuja costa fica a pouco mais de 100 quilómetros da ilha.

Muitos atravessam em condições precárias e perigosas. De acordo com números das Nações Unidas, referidos pela Reuters,  desde o início do ano, 40 terão morrido na travessia entre a Tunísia e a Itália, um número menor que em 2012 quando houve registo de quase 500 mortos ou desaparecidos.

 Transcrevo do L’Osservatore Romano:

Uma viagem que interroga as consciências

Desde o anúncio de surpresa o significado da viagem do Papa Francisco a Lampedusa foi fortíssimo: não são palavras vazias as que o bispo de Roma vindo “quase do fim do mundo” vai repetindo desde o momento da eleição em conclave. A primeira viagem do pontificado, tão breve quanto significativa, quis de facto alcançar – daquele centro que deve ser exemplar ao presidir “na caridade a todas as Igrejas”, como recordou apresentando-se ao mundo – uma das periferias, geográficas e existenciais, do nosso tempo.

Um itinerário simples no seu desenrolamento, que surgiu de mais uma notícia perturbadora da morte de imigrantes no mar – que permaneceu “como um espinho no coração” do Papa Francisco – e realizada para rezar, fazer um gesto concreto e visível de proximidade e despertar “as nossas consciências”, mas também para agradecer. Na celebração penitencial diante do mundo e da solidariedade com os mais pobres, acrescentaram-se várias vezes expressões não protocolares e espontâneas de gratidão por quem há anos sabe acolhê-los e abraçá-los, oferecendo deste modo silencioso e gratuito “um exemplo de solidariedade” autêntica.

Desta porta da Europa, continente demasiadas vezes perdido no seu bem-estar, o bispo de Roma dirigiu ao mundo uma reflexão exigente sobre a desorientação contemporânea, marcada pelas perguntas de Deus que abrem as Escrituras hebraicas e cristãs: “Adão, onde estás?” e “Caim, onde está o teu irmão?”. Perguntas bíblicas que vão à raiz do humano e que o Papa Francisco repetiu diante de muitos imigrados muçulmanos, aos quais tinha acabado de desejar que o iminente jejum do Ramadão dê frutos espirituais, com uma oferta de amizade que evidentemente supere os confins da pequena ilha mediterrânea.

Sempre as mesmas perguntas, hoje dirigidas a um homem que vive na desorientação, frisou o Pontífice: “Muitos de nós, incluo-me também a mim, estamos desorientados, já não prestamos atenção ao mundo no qual vivemos, não nos ocupamos, não preservamos o que Deus criou para todos e nem sequer somos capazes de nos preservarmos uns aos outros”. A ponto que milhares de pessoas decidem abandonar as suas terras e caem desta forma nas mãos dos traficantes, “daqueles que se aproveitam da pobreza dos outros, estas pessoas para as quais a pobreza dos outros é uma fonte de lucro”, denunciou o bispo de Roma recordando as palavras de Deus a Caim: “Onde está o sangue do teu irmão que clama da terra até mim?”.

Ninguém se sente responsável porque – disse o Papa Francisco – “perdemos o sentido da responsabilidade fraterna”. Aliás, a cultura do bem-estar “faz-nos viver em bolhas de sabão, que são bonitas, mas nada mais”: em síntese, trata-se de uma ilusão que no mundo globalizado de hoje levou a uma “globalização da indiferença” privando-nos até da capacidade de chorar diante dos mortos. Repete-se assim a cena evangélica do homem ferido, abandonado à beira da estrada e do qual só um samaritano se ocupa. Como acontece na “pequena realidade” de Lampedusa, onde tantos encarnam a misericórdia daquele Deus que se fez menino obrigado a fugir da perseguição de Herodes.

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