A crise obriga o Brasil a retomar as reformas

por José Chaves

Certo de que o Brasil enfrentará um longo período de baixo crescimento, o governo trava uma grande batalha para que o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano alcance, pelo menos, o de 2011 ─ 2,7%. Em outro “front”, a luta é contra a inflação, que deverá superar o centro da meta de 4,5%, fixada pelo Banco Central. Para fazer o PIB crescer mais rapidamente e com maior vigor, o governo reduziu as taxas de juros nos bancos oficiais, tendo por alvo o consumo das famílias e das empresas. Os bancos privados seguiram no mesmo caminho de baixa em ritmo menos intenso, mas aumentaram as tarifas cobradas de suas clientelas.

O ataque aos juros altos foi escolhido porque sua queda contribui ─ como efetivamente aconteceu ─ para elevar o crédito na economia e, por conseguinte, estimular o aumento do consumo. Ocorre que o crescimento do consumo vem pressionando fortemente a inflação, porque a oferta começa a se retrair, uma vez que a taxa de investimento continua fraca. Tampouco as empresas estão dispostas ao risco de buscarem recursos de capital de giro para diminuírem a capacidade instalada ociosa em setores básicos da indústria. O resultado disso é o que se vê: o PIB não reage e o perigo de volta da inflação revitalizada ronda a atividade econômica, preocupação constante do governo.

Visando a quebrar esse cenário, o governo anunciou que vai ampliar em R$ 6,6 bilhões suas compras no ano, elevando para R$ 8,4 bilhões o total que será gasto, no segundo semestre, com equipamentos, veículos e máquinas. A determinação é que as compras sejam feitas no mercado interno, embora a preços de até 25% superiores aos vigentes no exterior. O que o governo espera é que o impacto desses investimentos ainda influencie o PIB deste ano, porque, paralelamente, reduziu de 6% para 5,5% a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), facilitando empréstimos via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Na ocasião do lançamento do pacote, a presidenta Dilma Rousseff disse que “não é hora de se brincar à beira do precipício”, expressando o sentimento de que a crise chegou ao Brasil para valer. Se isso é real, o jeito é proteger os setores mais frágeis da população e continuar empreendendo uma vigorosa política de combate aos juros altos; de realizar investimentos como os anunciados esta semana e de fortalecer a expansão da infraestrutura econômica e social, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Tudo isso é correto diante da crise, mas temos a convicção de que as reformas iniciadas nos últimos governos devam ser imediatamente retomadas ─ reforma tributária, reforma administrativa e reforma eleitoral, entre outras ─, cabendo até mesmo uma grande cruzada nacional que as tornem conquistas reais da sociedade. Sem essas reformas, perderemos o bonde da história, quando tudo voltar ao normal, quando os efeitos negativos da crise tiverem passado.

 

José Chaves é deputado federal (PDT – PE)

PENDURADA CLASSE MÉDIA Brasil é campeão mundial nos juros do cartão de crédito: 323,14%

 por Vicente Nunes 

 

A Proteste, respeitada associação de defesa dos consumidores, constatou em pesquisa o que todos os brasileiros já sabem há muito tempo: o país é campeão em juros cobrados no cartão de crédito.

O levantamento da entidade foi feito com sete países: além do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Venezuela e México. Aqui, mesmo com toda a queda da taxa básica de juros (Selic) promovida pelo Banco Central desde agosto do ano passado, de 4,5 pontos percentuais, para 8% ao ano, o avanço dos bancos e administradoras de cartões sobre o bolso dos consumidores permanece pesado.

Os brasileiros que recorrerem ao financiamento por meio do cartão, o chamado rotativo, paga taxa média de juro anual de 323,14%. No Peru, o segundo país da América Latina com a maior taxa, os juros chegam a 55% ao ano. No Chile, são de 54,24% anuais. O menor indicador é da Colômbia, com 29,23% ao ano.

###
ENDIVIDAMENTO

Segundo a Proteste, os juros cobrados nas modalidades do crédito rotativo são uma das causas do crescente endividamento dos brasileiros. Conforme os dados levantados em junho de 2012, a taxa média atual está em 12,77% ao mês, que corresponde a 323,14%. A média foi calculada com base nos juros cobrados pelos cartões dos seguintes bancos e financeiras: Itaú, Bradesco, Santander, HSBC, Banco IBI, Banrisul, Caixa Econômica Federal, Citibank, Losango, Panamericano, Banco do Brasil, Banco BMG e BV Financeira.

A Proteste informa que a comparação foi com as taxas praticadas em outros países, priorizando a América Latina porque em boa parte dos países da Zona do Euro e em outras economias desenvolvidas, que praticam juros muito inferiores aos do Brasil, não se financia saldos devedores de cartões de crédito.

Veja as taxas dos países pesquisados (ao ano):

BRASIL – 323,14%

ARGENTINA – 50,0%

CHILE – 54,24%

COLÔMBIA – 29,23%

PERU – 55,0%

VENEZUELA – 33,0%

MÉXICO – 33,8%

Mais ajuste fiscal, mais sacrifícios, talvez mais neoliberalismo

por Carlos Chagas

Acorda, Dilma! Eles enlouqueceram!

Começam a ameaçar com mais ajuste fiscal, mais sacrifícios, talvez mais neoliberalismo, depois da temporada de benesses e benefícios promovida no governo Lula.

Chega a ser agressiva a postura adotada pela equipe econômica, esperançosa de continuar e incapaz de perceber chegada a hora de mudar de vez o modelo que nos assola desde os tempos do sociólogo. Pregam tudo o que faz a alegria dos potentados, dos banqueiros e dos especuladores, esquecendo-se da classe média e até se preparando para retirar das massas o alpiste oferecido há pouco como embuste eleitoral. Senão vejamos:

Prevêem, os áulicos de Dilma, que desta vez virá a reforma da Previdência Social. Traduzindo: vão restringir direitos dos aposentados, desvinculando de uma vez por todas do salário mínimo os vencimentos de quem parou de trabalhar. Pensionistas, aposentados do INSS e inativos do serviço público que se virem, porque receberão sempre menos do que os funcionários e trabalhadores em atividade. Quem mandou envelhecer? Ao mesmo tempo, serão descontados como se disputassem novas aposentadorias, sabe-se lá se no céu ou no inferno.

Em paralelo, evidencia-se que os reajustes do salário mínimo vão minguar. Jamais acontecerão nos níveis de anos de eleições presidenciais. No máximo, encostarão na inflação, mas, mesmo assim, na dependência de os juros baixarem. Quer dizer, os responsáveis pelos juros ainda altíssimos são os assalariados e os aposentados, não os especuladores e os banqueiros cujos lucros, em todas essas previsões, só farão crescer.

No capítulo das reformas diabólicas, asseguram que desta vez virá a reforma trabalhista. Para restabelecer direitos surripiados nos oito anos de Fernando Henrique? Nem pensar. Virão para extinguir as poucas prerrogativas sociais que sobraram. Por exemplo: vão acabar com a multa por demissões imotivadas e vão autorizar o parcelamento em doze vezes ao ano do décimo-terceiro salário e das férias remuneradas. Como a cada ano os salários e vencimentos perdem parte de seu poder aquisitivo, em poucos anos as parcelas estarão incorporadas à perda, ou seja, desaparecerão.

Outra iniciativa a assolar o país na segunda parte do mandato de Dilma será a contenção dos gastos públicos, atendendo a exigências do poder econômico. Não apenas demissões e não reposição de vagas no serviço público, mas a retomada do processo de privatizações. Como também cortes em investimentos de infraestrutura, saúde, educação, habitação e congêneres.

Ninguém se iluda se, a prevalecer a cartilha dos neoliberais incrustados no governo, logo voltar a deletéria proposta da privatização da parte da Petrobrás que continuou pública, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e até dos presídios. Nada melhor do que, para atender as exigências do PCC, do CV e congêneres, vender as cadeias à iniciativa privada. Algumas vão virar hotéis de cinco estrelas, para os bandidos que puderem pagar. O resto que se vire…

(Transcrevi trechos)

Os sem teto da classe média

Quando se fala em sem teto, as elites pensam na maioria dos brasileiros de rendimento mensal máximo de 270 reais, nos socorridos pelo bolsa família, inclusive nos que ganham o mínimo do mínimo, o tabelado 610 reais (305 dólares) como salário ou aposentadoria ou pensão. Ledo engano. Os miseráveis, os pobres constroem suas casas em áreas de risco, nos mais distantes lugares, nos locais sem os serviços essenciais, inclusive terrenos invadidos. Certamente que existem os moradores de rua, os que alugam imóveis. O aluguel de um casebre em uma favela do bairro de Boa Viagem, Recife, custa mais de 70 reais. É um quartinho e wc, coberto com telhado de zinco.

Sem teto, o verdadeiro sem teto, é o morador de apartamento. O bacharel que ganha o salário piso. Que mora dois, três anos em um prédio, até receber o aviso de denúncia vazia, e vai residir noutro lugar duas, três vezes mais caro. Que o tabelamento dos aluguéis, pelo governo, nenhum proprietário de imóvel respeita. E quem aluga não possui nenhum direito, nenhunzinho.

Existe no Brasil um mercado de aluguéis, empresas com mais de mil imóveis, um negócio que rende mais que qualquer outro ramo da agiotagem.

Com empréstimos facilitados pelos bancos oficiais, mais o ganho do mercado de aluguéis, o especulador imobiliário vai enriquecendo. É este prestamista o principal comprador de imóveis residenciais no Brasil, mais os corruptos, ou estrangeiros que decidem viver seus tempos de velhice no Brasil.

Um trabalhador honesto não tem como comprar a casa própria. Salvo se juntar a renda familiar ( e rezar para ninguém ser desempregado), tirar na loteria, receber herança ou conseguir estabilidade em um rendoso emprego público, de preferência no judiciário ou legislativo.

Mais quem paga aluguel assina um contrato de cão. Veja que absurdas obrigações, e o governo e legisladores e a justiça não sabem nada deste mercado negro:

* Satisfazer, incontinenti, todas as notificações ou intimações expedidas por órgãos públicos da administração direta ou indireta, decorrentes de atos, ações ou omissões de sua responsabilidade, bem como entregar, imediatamente, ao(à) locador(a) todos os documentos de cobranças de taxas, tributos e encargos de qualquer natureza

* Pagar, incontinenti, qualquer multa imposta pelos poderes públicos, por inflação de leis, regulamentos ou posturas dando imediata ciência ao(à) locador(a)

* Permitir, no caso de exposição para venda do imóvel locado, que este seja visitado e examinado por terceiros (isto é, se o inimigo deseja te visitar, stalking, ou amigo urso assediar sexualmente…)

* Fica assegurado ao (à) locador(a) a faculdade de, a qualquer tempo, por si ou pessoa de confiança, vistoriar o imóvel (o direito de privacidade não existe)

Transcrevi parte de um contrato de locação com comentários meus entre parêntesis, apenas para assinalar que, quem aluga imóvel, é um brasileiro de merda, isto é, não é um cidadão.

A sujeição de ter de alugar é que o Brasil paga os piores salários do mundo, e todo emprego é temporário, que o ditador Castelo Branco cassou a estabilidade. Quem não possui emprego fixo não pode realizar nenhum projeto para o futuro.

Os salários estão congelados, e no Brasil fazer greve passou a ser um crime, baderna. E quanto mais baixo um salário, maior o ganho do empregador.

Quanto mais velho um comprador de imóvel mais caro fica o sonho da casa própria, maior o juro (as seguradoras cobram taxas exorbitantes), e menor o prazo das prestações.

Os juros dos serviços essenciais e dos impostos. Ninguém fala deles

Para cortar o rendimento – que já era pequeníssimo – da caderneta de poupança dos pobres, o governo não negociou com nenhum trabalhador que ganha o salário mínimo, nenhum bacharel que recebe o pisoteado piso. Fez na marra.

O governo não tirou nada dos especuladores internacionais do cassino da bolsa. Nem vai baixar os juros das contas de luz, de água, de telefone, do condomínio (principalmente de quem paga aluguel – os sem teto da classe média), do imposto de marinha, da taxa dos bombeiros, do IPTU e outros.

Esse economês de spread, de rankig de taxas cobradas; esse vocalulário todo em língua estrangeira, não engana mais o brasileiro. O governo devia ser transparente, e falar a língua do povo para o povo. Que é ele, com o salário congelado, quem vai pagar as contas.

 

 

Dilma não tem que pedir nada. Basta investigar a agiotagem bancária

Dilma Rousseff cobrou dos bancos privados:

– É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo. Esses valores não podem continuar tão altos. O Brasil de hoje não justifica isso. Os bancos não podem continuar cobrando os mesmos juros para empresas e para o consumidor, enquanto a taxa básica Selic cai, a economia se mantém estável e a maioria esmagadora dos brasileiros honra com presteza e honestidade os seus compromissos.

Para a presidenta, com a queda da taxa básica de juros e inflação estável, os bancos privados estão sem argumento para explicar a manutenção dos altos juros cobrados dos clientes. “O setor financeiro, portanto, não tem como explicar essa lógica perversa aos brasileiros. A Selic baixa, a inflação permanece estável, mas os juros do cheque especial, das prestações ou do cartão de crédito não diminuem”.

De acordo com a presidenta, somente quando os juros nacionais chegarem ao patamar das taxas internacionais, a economia brasileira “será plenamente competitiva”, saudável e moderna.