Desembargador Edson Ulisses de Melo vestiu a carapuça: “Eu, o coronel em mim”

Desembargador Edson Ulisses de Melo, cunhado do governador Marcelo Déda
Desembargador Edson Ulisses de Melo, cunhado do governador Marcelo Déda

Toda Argentina foi pra ruas, esta semana, em defesa das prostitutas, contra um julgamento safado de um tribunal.

No Brasil existe a justiça PPV, contra pobres, pretos e putas, quem disse foi o presidente do STF, ministro Geraldo Vidigal; e existe a “justiça bandida”, na qualificação da ministra Eliana Calmon.

No Brasil, na terra do sabe com que está falando, existe a expressão decisão da justiça não se discute, cumpre-se.

As vítimas clamam, resignadas: Só acredito na Justiça de Deus!

Escreve Aline Pinheiro: “Advogados costumam dizer que há juízes que pensam que são deuses e juízes que têm certeza. É o caso da juíza Adriana Sette da Rocha Raposo, titular da Vara do Trabalho de Santa Rita, na Paraíba.

Nas palavras da juíza: “A liberdade de decisão e a consciência interior situam o juiz dentro do mundo, em um lugar especial que o converte em um ser absoluto e incomparavelmente superior a qualquer outro ser material”.

E a fúria divina, que protege os lá de cima, lança seus raios contra os jornalistas. No Recife, os pobres coitados recebem um salário piso de 450 dólares.

Texto de ficção faz jornalista ser

processado por desembargador

por Jacqueline Patrocinio

O jornalista José Cristian Góes reagiu com surpresa ao ser informado, na última semana, que dois processos são movidos contra ele pelo desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe (TJ-SE), Edson Ulisses de Melo. O magistrado se sentiu prejudicado com um texto ficcional publicado no portal Infonet em maio deste ano.

cristiangoes

José Cristian Góes mantém um blog no portal Infonet 

Intitulado de “Eu, o coronel em mim”, o texto é uma confissão em primeira pessoa, onde um personagem imaginário dos tempos de escravidão se vê obrigado a lidar com questões democráticas. “O artigo não tem nenhum nome, sobrenome, nem características de ninguém. Além disso não há qualquer citação de local, data, ou função”, informou o jornalista ao Comunique-se.

As ações criminal e cível pedem abertura de inquérito policial e pena de prisão por difamação, além de indenização por dano moral e o pagamento de R$ 25 mil pelas custas do processo. O desembargador, que é cunhado do governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), interpretou o trecho “chamei um jagunço das leis, não por coincidência marido de minha irmã” como críticas diretas a ele, fazendo referência ao cargo que ocupa.

Em comentários que o texto provoucou no blog, internautas identificaram alguns políticos, inclusive Deda, que não processou o jornalista. “O texto se refere a um sujeito ficcional. Não foi inspirado em ninguém, seria impossível qualquer pessoa se reconhecer no artigo. O blog é apenas uma análise da realidade”, explicou.

Góes alertou para o perigo entre confundir conteúdos jornalísticos e textos subjetivos e ficcionais. “São coisas opostas. O processo fere o princípio da liberdade de expressão”, avaliou. A audiência da ação criminal já está marcada para 23 de janeiro, mas o jornalista espera que a situação se resolva de outra maneira. “Acredito que o desembargador vai se convencer do equívoco que ele está provocando. Todos os jornalistas ficam numa situação delicada. Imagina se a moda se espalha pelo país?”, questionou.

Veja a íntegra do texto de José Cristian Góes causou os processos:

Eu, o coronel em mim

Está cada vez mais difícil manter uma aparência de que sou um homem democrático. Não sou assim, e, no fundo, todos vocês sabem disso. Eu mando e desmando. Faço e desfaço. Tudo de acordo com minha vontade. Não admito ser contrariado no meu querer. Sou inteligente, autoritário e vingativo. E daí?

No entanto, por conta de uma democracia de fachada, sou obrigado a manter também uma fachada do que não sou. Não suporto cheiro de povo, reivindicações e nem com versa de direitos. Por isso, agora, vocês estão sabendo o porquê apareço na mídia, às vezes, com cara meio enfezada: é essa tal obrigação de parecer democrático.

Minha fazenda cresceu demais. Deixou os limites da capital e ganhou o estado. Chegou muita gente e o controle fica mais difícil. Por isso, preciso manter minha autoridade. Sou eu quem tem o dinheiro, apesar de alguns pensarem que o dinheiro é público. Sou eu o patrão maior. Sou eu quem nomeia, quem demite. Sou eu quem contrata bajuladores, capangas, serviçais de todos os níveis e bobos da corte para todos os gostos.

Apesar desse poder divino sou obrigado a me submeter à eleições, um absurdo. Mas é outra fachada. Com tanto poder, com tanto dinheiro, com a mídia em minhas mãos e com meia dúzia de palavras modernas e bem arranjadas sobre democracia, não tem para ninguém. É só esperar o dia e esse povo todo contente e feliz vota em mim. Vota em que eu mando.

Ô povo ignorante! Dia desses fui contrariado porque alguns fizeram greve e invadiram uma parte da cozinha de uma das Casas Grande. Dizem que greve faz parte da democracia e eu teria que aceitar. Aceitar coisa nenhuma. Chamei um jagunço das leis, não por coincidência marido de minha irmã, e dei um pé na bunda desse povo.
Na polícia, mandei os cabras tirar de circulação pobres, pretos e gente que fala demais em direitos. Sóquem tem direito sou eu. Então, é para apertar mais. É na chibata. Pode matar que eu garanto. O povo gosta. Na educação, quanto pior melhor. Para quê povo sabido? Na saúde…se morrer “é porque Deus quis”.

Às vezes sinto que alguns poucos escravos livres até pensam em me contrariar. Uma afronta. Ameaçam, fazem meninice, mas o medo é maior. Logo esquecem a raiva e as chibatadas. No fundo, eles sabem que eu tenho o poder e que faço o quero. Tenho nas mãos a lei, a justiça, a polícia e um bando cada vez maior de puxa-sacos.

O coronel de outros tempos ainda mora em mim e está mais vivo que nunca. Esse ser coronel que sou e que sempre fui é alimentado por esse povo contente e feliz que festeja na senzala a minha necessária existência.

(Transcrito do comunique-se com)