Papa Francisco: “É preciso estar dispostos a dar o perdão, mas nem todos o podem receber, o sabem receber ou estão dispostos a recebê-lo. É duro o que estou a dizer. Mas assim se explica porque há pessoas que acabam a sua vida de maneira nefasta, de maneira má, sem receber a carícia de Deus”

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A calorosa hospitalidade recebida nos Eua, os desafios da Igreja naquela Nação, a vergonha pelos abusos sexuais cometidos por alguns sacerdotes, o processo de paz na Colômbia, a crise migratória, os processos matrimoniais, a objeção de consciência, a China, as religiosas norte-americanas e as mulheres na Igreja, o poder do Papa: foram estes os principais pontos da conferência de imprensa de Francisco que, durante o vôo de regresso de Filadélfia — onde a 27 de Setembro, com a missa de encerramento do encontro mundial das famílias, terminou a viagem papal — respondeu por mais de 45 minutos a uma dúzia de perguntas.

O Pontífice disse que ficou surpreendido pela hospitalidade recebida que, embora tenha sido diferente nas três cidades visitadas nos Eua, foi muito calorosa. E acrescentou que ficou impressionado também com as celebrações litúrgicas e com a oração dos fiéis. O desafio da Igreja, disse, consiste em continuar a permanecer ao lado deste povo, acompanhando-o tanto na alegria como nas dificuldades. E isto deve realizar-se, permanecendo ao lado das pessoas.

Sobre os abusos sexuais cometidos por alguns membros do clero, o Papa disse que falou diante de todos os bispos do país, porque sentiu a necessidade de expressar compaixão pelo que aconteceu: algo muito desagradável, pelo que muitos pastores autênticos sofreram. Sem dúvida, os abusos existem em toda a parte, disse, mas quando quem os comete é um sacerdote, isto é gravíssimo, porque é uma traição da vocação presbiteral, que consiste também em fazer crescer o amor de Deus e, ao mesmo tempo, a maturidade afetiva dos jovens.

Quanto ao processo de paz na Colômbia, o Pontífice afirmou que recebeu com alívio a notícia, e que se sentiu partícipe desta aproximação entre o Governo e as Farc.

Sobre a imigração, ao contrário, Francisco frisou que hoje estamos diante de uma crise que deriva de um processo de longo período, porque a guerra da qual as pessoas fogem se combate há anos. Além disso, há a fome, que leva as pessoas a migrar. A África, disse ainda, é o continente explorado: primeiro a escravidão, depois os grandes recursos, e agora as guerras tribais, que escondem interesses económicos. Mas em vez de explorar, seria necessário investir, para evitar esta crise.

O Papa falou também das barreiras que são levantadas nalgumas regiões da Europa, afirmando que mais cedo ou mais tarde os muros desabam, e que contudo não são uma solução.

No que se refere à questão da nulidade matrimonial, o Pontífice reiterou que na reforma dos processos foi fechada a porta da via administrativa, através da qual podia entrar aquilo que alguém definiu «divórcio católico», e que a simplificação dos procedimentos já foi pedida pelos padres sinodais no ano passado. O matrimónio é um sacramento indissolúvel, e isto a Igreja não pode mudar. Os processos servem para provar que o que parecia sacramento não era tal. Além disso, há questões ligadas às segundas núpcias e à comunhão aos divorciados recasados que no entanto, disse o Papa, não são as únicas que serão enfrentadas no iminente Sínodo.

Falou-se inclusive de objeção de consciência, e Francisco afirmou qeu se trata de um direito, faz parte dos direitos humanos e é válida para todas as pessoas, portanto também quando se trata de um funcionário público. Negá-la significa negar um direito.

Depois, o Papa falou sobre a China, ressaltando que é uma grande Nação, portadora de uma imensa cultura. E afirmou que gostaria muito de visitar aquele país, acrescentando que ter uma Nação amiga como a China, com tantas possibilidades da fazer o bem, seria uma alegria.

Voltando a discorrer sobre questões americanas, o Pontífice disse que as religiosas são muito amadas nos Eua porque fizeram maravilhas nos campos da educação e da saúde. E reiterou que na Igreja as mulheres são mais importantes do que os homens, contudo realçando que há um pouco de atraso em matéria de teologia da mulher.

Quando lhe fizeram notar que nos Eua ele se tornou uma star, Francisco recordou que o título de um Papa é «servo dos servos de Deus». Os mass media usam o termo star, mas há outra verdade. Demasiadas estrelas apagaram-se. Ao contrário, frisou, ser servo dos servos de Deus não passa.

Enfim, respondendo a uma pergunta sobre a presença do presidente da câmara municipal de Roma, Ignazio Marino, na missa conclusiva do encontro mundial das famílias, o Papa desmentiu categoricamente que houve um convite da sua parte ou da parte dos organizadores. Leia aqui a entrevista do Papa

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Papa Francisco: A corrupção tem como consequência o empobrecimento de famílias, aposentados, trabalhadores honestos, “descartando os jovens, marginalizando os mais frágeis e necessitados”

O convite a não ser tímidos nem irrelevantes ao repudiar e debelar uma difundida mentalidade de corrupção» foi dirigido pelo Papa na abertura — a 18 de Maio — dos trabalhos da 68ª assembleia geral da Conferência episcopal italiana.

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No discurso proferido na sala do Sínodo, que precedeu o debate a portas fechadas que se prolongou por duas horas, o pontífice denunciou o persistir da corrupção no âmbito público e privado que tem como consequência o empobrecimento, «sem vergonha alguma», de «famílias, reformados, trabalhadores honestos, descartando os jovens e sobretudo marginalizando os mais frágeis e necessitados».

Comentando o tema dos trabalhos, centrados na exortação apostólica Evangelii gaudium, Francisco observou que «a alegria do Evangelho neste momento histórico em que muitas vezes vivemos circundados de notícias desanimadoras, de situações locais e internacionais que nos levam a experimentar a aflição e a tribulação», a vocação dos bispos deve consistir em «ser testemunhas alegres do Ressuscitado».

Oferecendo algumas sugestões para a reflexão dos prelados, o Papa frisou antes de tudo a importância da sensibilidade eclesial, ou seja, do «apropriar-se dos mesmos sentimentos de Cristo, de humildade, compaixão, misericórdia, gestos concretos e sabedoria». Depois, recomendou que «vão ao encontro do povo de Deus para o defender das colonizações ideológicas que o privam da sua identidade e dignidade humana», desejando que «nas opções pastorais e na elaboração dos documentos» não predomine «o aspecto teórico-doutrinal abstracto. Ao contrário – disse – devemos promover propostas concretas e compreensíveis». Enfim, constatou uma «alastrada debilitação da colegialidade» e criticou a tendência a deixar envelhecer institutos religiosos e mosteiros que contudo poderiam ser unidos.

“¡Basta de tanta corrupción, impunidad y violencia!”, exige el Episcopado Mexicano

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Ciudad de México, 11 de noviembre (SinEmbargo) – La Conferencia del Episcopado Mexicano se unió a los reclamos contra la violencia, corrupción e impunidad del país y pidió a las autoridades llevar hasta las últimas consecuencias las investigaciones sobre los 43 normalistas de Ayotzinapa, desaparecidos desde el pasado 26 de septiembre.
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“Frente a estos lamentables hechos, y ante los crímenes sucedidos en Tlatlaya y el espeluznante descubrimiento de fosas clandestinas, unimos nuestra voz a la del pueblo de México, del cual formamos parte, para gritar: ¡Basta ya de tanta corrupción, impunidad y violencia!”, dijo mediante un comunicado.
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En el primer día de actividades de la Asamblea Plenaria de los Obispos de México que se realizará hasta el 4 de noviembre, los prelados exigieron llevar las investigaciones de Ayotzinapa hasta sus últimas consecuencias para que se conozca el paradero de los alumnos de la Escuela Normal Isidro Burgos y “se sancione con todo el peso de la ley a los autores intelectuales y materiales“.

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Asimismo, se solidarizaron con las familias de los 43 normalistas desaparecidos. “A sus padres, hermanos, familiares y compañeros, les reiteramos, una vez más, nuestra cercanía y solidaridad. Estamos pidiendo a Dios que les dé fortaleza y que pronto quede esclarecido el paradero de sus hijos, hermanos y compañeros”, expresaron.
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Sobre algunos actos violentos que han tenido lugar en las manifestaciones que exigen la aparición con vida de los estudiantes de Iguala, el Episcopado exhortó a la sociedad a no traducir su dolor e indignación en actos violentos pues “provocan más violencia e injusticia para miles de inocentes, dañando la convivencia pacífica y retrasando el progreso”.
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“Por eso, invitamos a todos a unirnos en la diversidad y participar en la búsqueda de soluciones de fondo con diálogo, creatividad, solidaridad y respeto a las leyes y a todos los ciudadanos”, remarcó.
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A finales de octubre, el Episcopado Mexicano pidió a las fuerzas políticas del país no lucrar con la desaparición de los 43 normalistas de Ayotzinapa, Guerrero, ni convertir su caso en una bandera “para causar daños a terceros o provocar desestabilización”.
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Los obispos hicieron un llamado al gobierno mexicano a redoblar esfuerzos para encontrar a los estudiantes desaparecidos, sancionar a los culpables y hacer prevalecer el Estado de Derecho, “a fin de garantizar la seguridad y una vida digna a todos los mexicanos y mexicanas”.
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“Con profundo dolor ante los reprobables acontecimientos sucedidos en Ayotzinapa, Guerrero, unimos nuestra voz a lo ya expresado por los Obispos de la Provincia de Acapulco, de la Comisión Episcopal de Pastoral Social y muchos más, para manifestar nuestra solidaridad a los familiares de los 43 normalistas desaparecidos”, dijo el Episcopado en un comunicado de prensa.
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Realizaron un exhortó “a las fuerzas políticas y a la sociedad en general a actuar con responsabilidad y no lucrar políticamente con esta desgracia, ni convertirla en bandera para causar daños a terceros o provocar desestabilización, lo que alejaría aún más la necesaria justicia, equidad, seguridad y paz que México requiere para alcanzar un desarrollo del que nadie quede excluido”.
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Días antes, los obispos católicos de Acapulco advirtieron que la crisis generada por la desaparición de 43 estudiantes normalistas y el homicidio de seis personas en el municipio de Iguala es “un adelanto” de la capacidad desestabilizadora que tiene la violencia que se vive en aquella entidad del sur de México.
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“Este criminal hecho es como una ventana que nos permite mirar hacia el fondo del profundo Guerrero adolorido por tanta violencia. La cifra espantosa de más de 12 mil homicidios dolosos desde el año 2007 nos hace pensar que el caso de Iguala es una muestra de lo que ha sido la vida cotidiana en los últimos años”, dijeron los obispos de la Provincia Eclesiástica de Acapulco en un comunicado.
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Denunciaron que además de los homicidios “hay miles de víctimas de secuestros, desapariciones forzadas, desplazamientos forzados; extorsiones y amenazas son algunas de las formas más comunes de violencia que padecemos”.
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Los obispos también aludieron al hecho de que fueron fuerzas del gobierno las probables responsables de la agresión contra los normalistas como indicador de la urgencia que existe en el país por sanear los cuerpos policiacos y del “factor político” que presentan los diversos hechos de violencia.

 

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Mexico. “Si no reaccionamos, nos espera un Estado más asesino y represor”, dice el Obispo Vera

Por Javier Bravo López

Vera López dejó en claro que la ciudadanía tendrá en sus manos romper el esquema actual de la política mexicana si continúa organizándose. Foto ZonaFranca
Vera López dejó en claro que la ciudadanía tendrá en sus manos romper el esquema actual de la política mexicana si continúa organizándose. Foto ZonaFranca

– Para el obispo de Saltillo, Raúl Vera López, el Estado mexicano ha optado por someter por la vía de la violencia a la ciudadanía, como en los tiempos de la conquista española. Nos enfrentamos, consideró, a un Gobierno que no duda en utilizar a las policías en contra de sus gobernados.
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De visita Acámbaro, Guanajuato –en su tierra natal–, el prelado considerado como uno de los principales representantes de la Teología de la Liberación, echa una mirada a los crímenes de Iguala y Tlatlaya y, desde su papel como activista social y defensor de los derechos humanos, no duda en calificarlos como parte de un Estado represor que inmiscuye a los tres niveles de Gobierno.
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Ante esto, para el sacerdote de origen acambarense, la respuesta de la sociedad no puede ser más esperanzadora, pues todos los círculos sociales se han lanzado a las calles para reclamar y denunciar al Gobierno federal y sus omisiones en los casos como el del ex Alcalde de Iguala, José Luis Abarca, acusado desde hace más de un año de asesinar personalmente al líder social Arturo Hernández Cardona.
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“Si no reaccionamos, esto es lo que nos espera: un Estado cada vez más represor y más asesino. Todas estas cosas, aunque estén diciendo en este momento que esos muchachos no saben decir si son o no son (…) fueron ejecutados. Primero aprehendidos por la Policía Municipal, desde ese momento quedan bajo la custodia (…) y esas personas fueron asesinadas por criminales”.
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Vera López dejó en claro que la ciudadanía tendrá en sus manos la decisión de romper el esquema actual de la política mexicana si continúa organizándose, como ha hecho ahora por la desaparición de los 43 normalistas de Ayotzinapa, Guerrero.
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¿Y el papel de los partidos? Rebasado, dijo: “La clase política mexicana está dejando mucho qué desear, todos los partidos políticos en México están dejando mucho qué desear (…) todos han dado pruebas de sus grandes deficiencias (…) los partidos políticos, todos, están en una decadencia espantosa. No tienen futuro, no son en este momento la solución. Para nada”.
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DE VISITA EN GUANAJUATO
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Raúl Vera estuvo en Guanajuato, precisamente en Acámbaro, para presentar el libro “El Evangelio Social de Raúl Vera. Conversaciones con Bernardo Barranco”, un texto en el que se explora la formación y crecimiento intelectual de prelado mexicano, conocido internacionalmente por su labor a favor de los derechos humanos, pero quizá más por su postura crítica ante las omisiones, errores y cánones tradicionalistas de la propia Iglesia Católica.
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Desde su intervención en el movimiento zapatista en Chiapas, sumándose al ministerio de apoyo encabezado por Samuel Ruiz y el Ejército Zapatista de Liberación Nacional, la defensa de los derechos de los migrantes nacionales y centro americanos, hasta la férrea demanda de justicia tras el desastre de la mina de Pasta de Conchos, las conversaciones con el investigador estudioso de las religiones son un vistazo a la mirada del Obispo Vera.
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Pero también revela las motivaciones que un clérigo de alto nivel tiene para mostrarse crítico en los temas que los altos mandos eclesiásticos prefieren ignorar. Desde el rechazo a los homosexuales, la marginación del papel femenino, la pederastia clerical y la complicidad con las clases políticas. Todo forma parte, dice, de la desviación del ministerio de la fe hacia los intereses económicos.
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En ausencia del copartícipe del libro por enfermedad, Raúl Vera expuso a los acambarenses su visión de una Iglesia que habrá de dejar la cúpula para atender las disposiciones del Papa Francisco, quien dio la orden expresa de tener una autoridad clerical que afronte las realidades de la injusticia social.
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Quizá el viraje en la postura del Vaticano se puede resumir en una de las confesiones que el Obispo expuso ante acambareses durante la presentación literaria: “Si todavía continuara el pontificado de Benedicto XVI, yo no estaría aquí (risas) (…) quizá no existiría este libro”.

“A religião cristã é histórica, e não ideológica”. Novas formas de família na Igreja Católica

A Igreja Católica, em 1964, promoveu procissões de pregação do golpe militar, com a TFP – Tradição, Família e Propriedade, e o slogan hoje usado, pela direita, na Bolívia e na Venezuela: “a família que reza unida permanece unida”.

Com o aparecimento da Teologia da Libertação, os militares decidiram exportar, dos Estados Unidos, as igrejas pentecostais, que no Brasil atuam na política, elegendo pastores conservadores, para combater o casamento igualitário e libertário (o chamado casamento gay), e religiões nativas, notadamente de origem africana e indígena.

Essa nova onda de guerra religiosa recrudece quando a Igreja Católica, Apostólica e Romana sai das trevas da Santa Inquisição.

Francisco abre a Igreja às novas formas de família

O papa Francisco durante um encontro, no sábado, com atletas paralímpicos no Vaticano: AFP
O papa Francisco durante um encontro, no sábado, com atletas paralímpicos no Vaticano: AFP

 

por Pablo Ordaz/ El País/ Espanha

á há um membro do alto clero preso por lavagem de dinheiro e um arcebispo em prisão domiciliar por abuso de menores. O papa Francisco não foi a Milão, Londres ou Madri, mas à Coreia, à Albânia e à ilha de Lampedusa, lugares aonde o vento nunca soprou a favor nem do catolicismo e nem da própria vida. A agenda que Jorge Mario Bergoglio marcou quando, segundo suas próprias palavras, chegou ao Vaticano “do fim do mundo” está sendo cumprida. Um plano de transparência para o dinheiro do IOR (Instituto para as Obras de Religião), tolerância zero com os pedófilos e viagens constantes para a periferia do mundo. A etapa seguinte, que começa neste domingo com o Sínodo sobre a Família, é talvez a mais difícil, porque consiste em abrir as portas da Igreja aos que foram se afastando pelos azares da vida – divorciados que voltaram a se casar – ou aos que sempre as encontraram fechadas – união estável, novas famílias que surgem de relações quebradas, filhos adotados por casais do mesmo sexo. E é precisamente nessa distância curta entre o dogma e a tradição onde joga um papa como Francisco.

Não à toa, este está sendo o momento em que os setores mais retrógrados da Igreja – aqueles que sempre viram Francisco com desconfiança, mas não falaram nada por medo de serem afastados pelo líder – estão saindo à luz. O exemplo mais claro é o livro que o cardeal alemão Gerhard Müller, o poderoso prefeito para a Congregação para a Doutrina da Fé, e outros quatro cardeais – um norte-americano, outro alemão e dois italianos – publicaram junto ao Sínodo da Família. Nele, se opõem frontalmente ao retorno aos sacramentos de divorciados que voltaram a se casar, ou a que, em determinados casos de fracasso matrimonial, o procedimento de anulação seja acelerado e simplificado. “Está em jogo a lei divina”, afirmam os autores do livro, “porque a indissolubilidade do matrimônio é uma lei proclamada diretamente por Jesus e confirmada muitas vezes pela Igreja. O matrimônio só pode ser dissolvido pela morte”.

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Os mais críticos com as reformas do Papa alegam que “a lei divina está em jogo”

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Müller, atual chefe do antigo Santo Oficio, mesmo cargo que Joseph Ratzinger exerceu até substituir João Paulo II, diverge nada mais e nada menos que do próprio Jorge Mario Bergoglio, do cardeal de sua confiança Walter Kasper – “todo pecado pode ser perdoado, o divórcio também” – e do cardeal Lorenzo Baldisseri, que será justamente o secretário do Sínodo da Família. Baldisseri, como bom italiano, prefere mediar as partes antes que o sangue chegue ao rio, mas nem por isso esconde sua opinião ou a do Papa: “As coisas não são estáticas. Caminhamos através da história, e a religião cristã é histórica, e não ideológica. O contexto atual da família é diferente de 30 anos atrás, dos tempos em que se publicou a Familiaris Consortio (a Exortação Apostólica de João Paulo II). Se negarmos isso, ficaremos presos há 2.000 anos. O Papa quer abrir a Igreja. Há uma porta que até agora esteve fechada, e Francisco quer abri-la”.

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O cardeal Baldisseri replica aos conservadores que “as coisas não são estáticas” e Bergoglio quer abrir uma porta que estava fechada

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Mais claro que isso apenas a água. Tão claro que, como se um sino tivesse sido tocado, os guardiões da tradição estão acordando. A última aparição foi do cardeal esloveno Franco Rodé, antigo prefeito da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada, que falou de Bergoglio sem meias palavras: “Sem dúvida, o Papa é um gênio da comunicação. Parece simpático, e isso conta a seu favor. Mas suas opiniões sobre o capitalismo e a justiça social são excessivamente de esquerda. Claramente está marcado pelo ambiente do qual vem. Na América do Sul, há grandes diferenças sociais e cada dia se produzem grandes debates sobre essa questão por lá. Mas essa gente fala muito e resolve pouco”. Não se trata apenas do desabafo isolado de um cardeal que vê, aos 80 anos, aquilo que decorou estar sendo mudado, mas um pensamento que reflete o sentimento contrário às reformas de um setor que, ainda que minoritário, continua existindo dentro do Vaticano e permanece alerta, atento. Tanto que aquelas conspirações que marcaram os últimos dias do pontificado de Bento XVI estão voltando a surgir: relatórios secretos, vazamentos, acusações com mais ou menos fundamentos que tentam desqualificar os mais próximos colaboradores de Francisco, inclusive o cardeal australiano George Pell, atual prefeito da Secretaria de Economia da Santa Sé. Resta saber se são os últimos suspiros de uma época terrível para o Vaticano – o caso do Vatileaks, que foi fechado, talvez em falso, e a detenção do mordomo de Ratzinger – ou o princípio das hostilidades contra Bergoglio.

 

Um muçulmano no Sínodo Católico

 

Não é um processo rápido ou propenso às grandes manchetes. O Sínodo da Família, cujo título é “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”, que será desenvolvido até o próximo dia 19, contará com 253 participantes, dos quais 191 serão “padres sinodais”, e o resto se dividirá entre especialistas laicos e – pela primeira vez em um Sínodo – 14 famílias do Líbano, Congo, Ruanda, Filipinas e diversos países da Europa. Entre eles, está um casal formado por uma católica e um muçulmano. Os bispos, que já enviaram ao Vaticano o conteúdo dos seus discursos para eles serem ordenados por grupos temáticos, têm quatro minutos para defender suas propostas. O debate servirá para elaborar um documento que será enviado às Conferências Episcopais de todo o mundo. Portanto, como avisou o cardeal Lorenzo Baldisseri, o Sínodo “não tomará decisões” e suas conclusões serviram apenas “de base para a segunda assembleia, que se celebrará em 2015”. Será, portanto, no ano que vem que se anunciará a nova postura da Igreja para as famílias, se houver uma.
O interesse no momento não são tanto as respostas – que demoraram para chegar –, mas até que ponto a Igreja está disposta a se questionar e se alterar ou se continuará cômoda e presa a uma tradição que afasta os fiéis. Na véspera do Sínodo, e aproveitando sua conta no Twitter, @pontifex, o papa Francisco lançou uma mensagem que, mesmo óbvia, parece um desafio aos que, presos à tradição ou aos dogmas, continuam acreditando na teoria do vale das lágrimas. “A Igreja e a sociedade”, disse o Papa”, precisam de famílias felizes”.

 

 

Jornal do Vaticano: “Um sistema carcerário inaceitável”

Os bispos brasileiros após os incidentes num instituto no Maranhão

Presídio Urso Branco, Porto Velho
Presídio Urso Branco, Porto Velho

Mais do que nunca no Brasil «urge» uma reforma do sistema carcerário para evitar que o apinhamento dos institutos penais possa desencadear novos e sanguinolentos episódios de violência e, por conseguinte, a repetição de eventos como os ocorridos em Pedrinhas, no Estado do Maranhão, nos quais sessenta e dois detidos foram assassinados durante o último ano. Lê-se num comunicado do episcopado brasileiro no qual se evidencia que é «deplorável» que o Estado e a sociedade se ocupem da situação carcerária só quando acontecem eventos assustadores, como esses do Maranhão.

Segundo os prelados, as «soluções de emergência» propostas pelas autoridades, como por exemplo a transferência dos presos mais perigosos para estruturas federais de máxima segurança, «não resolvem o problema pela raiz e não levam às reformas estruturais exigidas pelo sistema actual de justiça penal». De acordo com o documento, «a falência do nosso sistema de justiça penal é causada pela política de aprisionamento de massa e é demonstrado pelas condições de detenção desumanas», com práticas que se assemelham à «tortura» e uma «falta de preparação dos funcionários carcerários». Ao encontrar-se com os jornalistas, o bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, D. Leonardo Ulrich Steiner, explicou que 40% dos quinhentos mil presos no país ainda está na expectativa de juízo, enquanto milhares de outros já descontaram a pena mas inacreditavelmente permanecem na prisão. «As nossas prisões, assim como se apresentam, não são adequadas para uma vida digna, nem para a reinserção social dos presos», acrescentou o bispo. Portanto, segundo o episcopado, é «urgente uma reforma do sistema carcerário» e isto inclui a indicação de «objectivos claros» para a solução do problema, além da «criação de um grupo ou de um programa de monitoragem sobre a actuação destes objectivos» (L’Osservatore Romano)

 

 

“O sentimento que está no coração do jovem é de tempos melhores. E boa parte deles, por mídias sociais, se movimentaram. E foram às ruas”

O NOVO CARDEAL BRASILEIRO, NOMEADO PELO PAPA FRANCISCO, VÊ PARALELOS NA POPULAÇÃO QUE SE MANIFESTA NAS RUAS E NA NOVA POSTURA DA IGREJA, DE TRATAR DE TEMAS QUE ANTES NÃO VINHAM A PÚBLICO

O cardeal Dom Orani João Tempesta. / RAFAEL FABRES
O cardeal Dom Orani João Tempesta. / RAFAEL FABRES

UMA GRANDE MAIORIA SE MANTEVE SILENCIOSA SE MANTEVE SILENCIOSA POR MUITO TEMPO

por Carla Jiménez/ El País/ Espanha

Dom Orani João Tempesta, o novo cardeal do Rio de Janeiro, nomeado pelo papa Francisco no dia 12 de janeiro passado, começou a entrevista para o EL PAÍS, fazendo uma confissão. Ele ainda não conseguiu abrir as correspondências que chegaram de Roma nos últimos dias, portanto desconhece a pauta que será tratada na reunião do consistório, no próximo dia 22. Na ocasião, ele deve estar com o Papa, para a nomeação de outros cardeais.
Natural de São José do Rio Pardo, cidade no interior de São Paulo, dom Orani, de 63 anos, tem a responsabilidade de suceder Dom Eugênio Salles, falecido há dois anos, uma das lideranças mais importantes do país, que teve forte atuação na defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar brasileira (1964-1985). O lado altruísta de Salles, porém, guardava nuances conservadoras, mais dogmático para com a Igreja.
“Cada época tem suas bandeiras, suas necessidades”, diz Dom Orani, que foi das comunidades eclesiais de base, e capitaneou a organização da Jornada da Juventude, no ano passado, em meio aos protestos de junho. “Uma grande maioria se manteve silenciosa por muito tempo”, disse ele, no sexto andar da sede de arquidiocese do Rio, no bairro da Glória.

 

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Pergunta. O Papa tem falado muito sobre a corrupção. Isso pode influenciar algumas posturas da Igreja, especificamente do Brasil, em temas como a corrupção na política, por exemplo?

Resposta. Ele tem trabalhado, primeiro, pelo lado interno da Igreja no sentido de reorganizar o Vaticano, e também tem assumido posições muito claras em relação ao mundo de hoje, como a economia, capitalismo, riqueza, pobreza, fome. E desvios, tem colocado isso com muita clareza, chamando o mundo a mudar de posição, e pensar diferente. Além de líder da Igreja, ele acaba tendo liderança mundial.

P. O Brasil está num momento de bastante tensão, num ano eleitoral. Começamos com mensalão do PT, e agora, o de Minas Gerais. Qual é a sua avaliação sobre este momento?

R. Aquilo que faz parte dos bens comuns, os bens do povo, devem ser aplicados para que exista uma vida mais justa. Então essa diferença social enorme, que ainda é muito grande, clama aos céus, e deveríamos fazer de tudo para que aquelas pessoas que não têm uma habitação, alimentação, escolaridade, com dignidade, possam ter. E muitas vezes isso não acontece em função de desvios e situações assim. Essas questão devem ser apuradas, e reencaminhadas. Agora, não podemos ser tão ingênuos. Sabemos que há forças políticas das mais variadas, e em ano de eleições, há situações concretas, outras são criadas. Criar uma reforma política, seria um sonho de um país latino-americano.

P. Como seria essa reforma política?

R. Um caminho para ter mais transparência. Conforme vai passando, e se tomando consciência, do que é o pais, a gente vê que certos tipos de reformas são necessárias. A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem uma proposta, aprofundada, para colaborar nesse pensamento. Precisamos lutar para que social, culturalmente, este país possa dar passos nesse sentido. Lamentar o que esteja ruim, mas ver os desafios novos. Cada geração tem de ter a responsabilidade e tentar fazer sua parte.

P. A geração anterior dos representantes da Igreja no Brasil foi muito clara no apoio à redemocratização deste país. Quais são as bandeiras desta nova geração, da qual o senhor faz parte?

R. Cada época tem suas bandeiras, suas necessidades. Temos de ter princípios para nos nortear, e aplicá-los, para que as pessoas vivam com qualidade, no lazer, transporte, educação, tudo que faz parte do ser humano. Sei, porém, que existe outra questão, que não depende de lei nem decreto. Que é o coração humano, que tem muita violência. As pessoas não vivem bem e acabam cometendo barbaridades com o outro. Temos de anunciar, mesmo para quem não tem fé e religião, que fazer o bem ao outro é uma coisa boa. Isso não é tão simples, num mundo cheio de egoísmo. Isso extrapola Governo, leis, mas creio também que é um sonho, propor sempre um upgrade.

P. Esses jovens que estão na rua, que saíram em junho, estão ávidos por alguma coisa. O que o senhor enxerga no coração deles?

R. É uma insatisfação com relação a alguns assuntos. Não apenas um aspecto, é um movimento multifacetado, mas que numa parte demonstra insatisfação com representantes, com conchavos políticos que não resolvem os problemas da condução do país. E na fronteira disso, há também aproveitadores, um certo anarquismo, que não respeita o bem do povo. Se eu quero o bem do outro, não vou destruir minha cidade. Mas, ainda estamos dentro de toda essa manifestação, não é fácil enxergar de dentro, mas se percebe um desejo de que as coisas mudem, e que sejam melhor utilizadas.

P. Não existe aqui uma massa mais bem intencionada do que mal intencionada?

R. Difícil equacionar quantias. Às vezes a minoria fala mais alto que a maioria. Mas não há dúvida, o sentimento que está no coração do jovem, é de tempos melhores. E boa parte deles, por mídias sociais, se movimentaram. E foram às ruas. Creio que os grupos menores que fazem barulho, podem aparecer mais, que são o foco do noticiário. Mas não tenho como quantificar. A insatisfação mundial é muito grande.

P. É legítima?

R. É claro, o Papa tem colocado, as pessoas têm que se manifestar, colocar sua opinião.

P. Ele usou a frase “Não gosto dos jovens que não saem de casa”. O senhor concorda com ele?

R. Exatamente, é necessário que digamos as coisas, que falemos. E cada um com a sua consciência. Tivemos uma grande maioria que foi por muito tempo silenciosa, nunca expôs suas opiniões. Reclamava, mas de outro jeito. Hoje as pessoas amadurecem mais rapidamente, a mídia leva mais conhecimento, mais notícias – elas tomam consciência com mais rapidez. Hoje, é claro, já tem outro nível de cultura, próprio dos tempos que mudam. (Transcrevi trechos. Leia mais)

 

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Papa Francisco: “La verdadera paz es un compromiso cotidiano”

Desde que fue elegido pontífice en marzo pasado, Bergoglio trató de cambiarles la cara a los organismos de la Santa Sede y de acercarlos a las necesidades de la gente. En pocos meses, destituyó a las autoridades del Banco Vaticano.

 

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por Elena Llorente
Desde Roma

El 2013 será recordado, por la historia y por la Iglesia Católica, como el año de los dos papas, Benedicto XVI y Francisco, y el año en el que el primer papa venido “del fin del mundo” quiso revolucionar –y tal vez lo consiga– el gobierno de la Iglesia y su sede en Roma. Es que desde que fue elegido pontífice, el 13 de marzo pasado, Jorge Mario Bergoglio empezó a dar vuelta como un calcetín los organismos de la Santa Sede para tratar de cambiarles la cara y de acercarlos a las necesidades de la gente. Como el IOR, el Banco Vaticano, que ha sido motivo de varios escándalos financieros en los últimos años. En pocos meses destituyó a sus autoridades, hizo publicar por primera vez su balance y tiene a una comisión trabajando sobre el asunto.

Pero el 2013 también será recordado como el año en que un papa comenzó su pontificado levantando como bandera a los pobres. En su primera aparición ante la prensa internacional a los pocos días de su elección dijo una frase que a muchos dejó con la boca abierta: “Cómo me gustaría una iglesia pobre para los pobres”. Pocos papas, que se recuerde al menos, debutaron hablando de la necesidad de una Iglesia pobre. Es que cuando se entra al Vaticano sorprenden los cortinados majestuosos, las escaleras del palacio real, las paredes llenas de pesadas decoraciones y dorados, el lujo de esos palacios construidos a lo largo de varios siglos. Hay quienes aseguran que muchas de esas decoraciones se hicieron con el oro de América que los reyes de España regalaron a los pontífices de entonces. Seguramente Francisco sintió el peso de esa contradicción y quiso inmediatamente diferenciarse, primero eligiendo el nombre Francisco, en memoria del santo más pobre de la Iglesia, San Francisco de Asís. Y luego diciendo esa frase a los periodistas. Una frase que, por lo demás, en América latina al menos, está asociada a la Teología de la Liberación, a los conocidos en los años ’70 como curas tercermundistas, a la misa cantada con guitarras y celebrada en castellano y no en latín, al Concilio Vaticano II y todas sus reformas en síntesis, que intentaron acercar la Iglesia a la gente y a los pobres en particular. Por eso, tal vez, y también por su apertura hacia la Teología de la Liberación –en tiempos de Juan Pablo II abiertamente condenada por el Vaticano– algunos medios ultraconservadores de Estados Unidos acusaron a Francisco de “marxista”. “¿Yo marxista? No me siento ofendido. He conocido varios buenos entre ellos. Pero es una ideología equivocada”, dijo el Papa al diario italiano La Stampa en una larga entrevista.

“La verdadera paz no es un equilibrio de fuerzas opuestas. No es pura ‘fachada’, que esconde luchas y divisiones. La paz es un compromiso cotidiano, que se logra contando con el don de Dios”, dijo el Papa. El mensaje para la Jornada Mundial de la Paz, que se celebra el 10 de enero y que se dio a conocer hace algunos días, Francisco lo transformó en un verdadero análisis sobre la fraternidad y las implicaciones a nivel económico, político y social que su existencia o su ausencia pueden producir en cualquier sociedad del mundo. Y subrayó cómo la fraternidad es determinante para la paz.

Primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco

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SOBRE O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ATUAL 

A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos.

Alegria que se renova e comunica

2. O grande risco do mundo actual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado.

Uma mãe de coração aberto

46. A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direcção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direcção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade.

47. A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. Um dos sinais concretos desta abertura é ter, por todo o lado, igrejas com as portas abertas. Assim, se alguém quiser seguir uma moção do Espírito e se aproximar à procura de Deus, não esbarrará com a frieza duma porta fechada. Mas há outras portas que também não se devem fechar: todos podem participar de alguma forma na vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer. Isto vale sobretudo quando se trata daquele sacramento que é a «porta»: o Baptismo. A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos. Estas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia. Muitas vezes agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa.

48. Se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há-de chegar a todos, sem excepção. Mas, a quem deveria privilegiar? Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto aos amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, «àqueles que não têm com que te retribuir» (Lc 14, 14). Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, «os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho», e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!

Alguns desafios do mundo actual

52. A humanidade vive, neste momento, uma viragem histórica, que podemos constatar nos progressos que se verificam em vários campos. São louváveis os sucessos que contribuem para o bem-estar das pessoas, por exemplo, no âmbito da saúde, da educação e da comunicação. Todavia não podemos esquecer que a maior parte dos homens e mulheres do nosso tempo vive o seu dia a dia precariamente, com funestas consequências. Aumentam algumas doenças. O medo e o desespero apoderam-se do coração de inúmeras pessoas, mesmo nos chamados países ricos. A alegria de viver frequentemente se desvanece; crescem a falta de respeito e a violência, a desigualdade social torna-se cada vez mais patente. É preciso lutar para viver, e muitas vezes viver com pouca dignidade. Esta mudança de época foi causada pelos enormes saltos qualitativos, quantitativos, velozes e acumulados que se verificam no progresso científico, nas inovações tecnológicas e nas suas rápidas aplicações em diversos âmbitos da natureza e da vida. Estamos na era do conhecimento e da informação, fonte de novas formas dum poder muitas vezes anónimo.

Não a uma economia da exclusão 

53. Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o facto de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população vêem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável», que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenómeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados», mas resíduos, «sobras».

54. Neste contexto, alguns defendem ainda as teorias da «recaída favorável» que pressupõem que todo o crescimento económico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos factos, exprime uma confiança vaga e ingénua na bondade daqueles que detêm o poder económico e nos mecanismos sacralizados do sistema económico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar. Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espectáculo que não nos incomoda de forma alguma.

Não à nova idolatria do dinheiro

55. Uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades. A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criámos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32, 1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura duma economia sem rosto e sem um objectivo verdadeiramente humano. A crise mundial, que investe as finanças e a economia, põe a descoberto os seus próprios desequilíbrios e sobretudo a grave carência duma orientação antropológica que reduz o ser humano apenas a uma das suas necessidades: o consumo.

56. Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum. Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respectivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do ter não conhece limites. Neste sistema que tende a fagocitar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta.

Não a um dinheiro que governa em vez de servir

57. Por detrás desta atitude, escondem-se a rejeição da ética e a recusa de Deus. Para a ética, olha-se habitualmente com um certo desprezo sarcástico; é considerada contraproducente, demasiado humana, porque relativiza o dinheiro e o poder. É sentida como uma ameaça, porque condena a manipulação e degradação da pessoa. Em última instância, a ética leva a Deus que espera uma resposta comprometida que está fora das categorias do mercado. Para estas, se absolutizadas, Deus é incontrolável, não manipulável e até mesmo perigoso, na medida em que chama o ser humano à sua plena realização e à independência de qualquer tipo de escravidão. A ética – uma ética não ideologizada – permite criar um equilíbrio e uma ordem social mais humana. Neste sentido, animo os peritos financeiros e os governantes dos vários países a considerarem as palavras dum sábio da antiguidade: «Não fazer os pobres participar dos seus próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. Não são nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos».

58. Uma reforma financeira que tivesse em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos dirigentes políticos, a quem exorto a enfrentar este desafio com determinação e clarividência, sem esquecer naturalmente a especificidade de cada contexto. O dinheiro deve servir, e não governar! O Papa ama a todos, ricos e pobres, mas tem a obrigação, em nome de Cristo, de lembrar que os ricos devem ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los. Exorto-vos a uma solidariedade desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a uma ética propícia ao ser humano.

Não à desigualdade social que gera violência

59. Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão. Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade. Isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reacção violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e económico é injusto na sua raiz. Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça. Se cada acção tem consequências, um mal embrenhado nas estruturas duma sociedade sempre contém um potencial de dissolução e de morte. É o mal cristalizado nas estruturas sociais injustas, a partir do qual não podemos esperar um futuro melhor. Estamos longe do chamado «fim da história», já que as condições dum desenvolvimento sustentável e pacífico ainda não estão adequadamente implantadas e realizadas.

60. Os mecanismos da economia actual promovem uma exacerbação do consumo, mas sabe-se que o consumismo desenfreado, aliado à desigualdade social, é duplamente daninho para o tecido social. Assim, mais cedo ou mais tarde, a desigualdade social gera uma violência que as corridas armamentistas não resolvem nem poderão resolver jamais. Servem apenas para tentar enganar aqueles que reclamam maior segurança, como se hoje não se soubesse que as armas e a repressão violenta, mais do que dar solução, criam novos e piores conflitos. Alguns comprazem-se simplesmente em culpar, dos próprios males, os pobres e os países pobres, com generalizações indevidas, e pretendem encontrar a solução numa «educação» que os tranquilize e transforme em seres domesticados e inofensivos. Isto torna-se ainda mais irritante, quando os excluídos vêem crescer este câncer social que é a corrupção profundamente radicada em muitos países – nos seus Governos, empresários e instituições – seja qual for a ideologia política dos governantes.

Alguns desafios culturais

61. Evangelizamos também procurando enfrentar os diferentes desafios que se nos podem apresentar. Às vezes, estes manifestam-se em verdadeiros ataques à liberdade religiosa ou em novas situações de perseguição aos cristãos, que, nalguns países, atingiram níveis alarmantes de ódio e violência. Em muitos lugares, trata-se mais de uma generalizada indiferença relativista, relacionada com a desilusão e a crise das ideologias que se verificou como reacção a tudo o que pareça totalitário. Isto não prejudica só a Igreja, mas a vida social em geral. Reconhecemos que, numa cultura onde cada um pretende ser portador duma verdade subjectiva própria, torna-se difícil que os cidadãos queiram inserir-se num projecto comum que vai além dos benefícios e desejos pessoais.

62. Na cultura dominante, ocupa o primeiro lugar aquilo que é exterior, imediato, visível, rápido, superficial, provisório. O real cede o lugar à aparência. Em muitos países, a globalização comportou uma acelerada deterioração das raízes culturais com a invasão de tendências pertencentes a outras culturas, economicamente desenvolvidas mas eticamente debilitadas. Assim se exprimiram, em distintos Sínodos, os Bispos de vários continentes. Há alguns anos, os Bispos da África, por exemplo, retomando a Encíclica Sollicitudo rei socialis, assinalaram que muitas vezes se quer transformar os países africanos em meras «peças de um mecanismo, partes de uma engrenagem gigantesca. Isto verifica-se com frequência também no domínio dos meios de comunicação social, os quais, sendo na sua maior parte geridos por centros situados na parte norte do mundo, nem sempre têm na devida conta as prioridades e os problemas próprios desses países e não respeitam a sua fisionomia cultural». De igual modo, os Bispos da Ásia sublinharam «as influências externas que estão a penetrar nas culturas asiáticas. Vão surgindo formas novas de comportamento resultantes da orientação dos mass-media (…). Em consequência disso, os aspectos negativos dos mass-media e espectáculos estão a ameaçar os valores tradicionais».

Não à guerra entre nós

98. Dentro do povo de Deus e nas diferentes comunidades, quantas guerras! No bairro, no local de trabalho, quantas guerras por invejas e ciúmes, mesmo entre cristãos! O mundanismo espiritual leva alguns cristãos a estar em guerra com outros cristãos que se interpõem na sua busca pelo poder, prestígio, prazer ou segurança económica. Além disso, alguns deixam de viver uma adesão cordial à Igreja por alimentar um espírito de contenda. Mais do que pertencer à Igreja inteira, com a sua rica diversidade, pertencem a este ou àquele grupo que se sente diferente ou especial.

99. O mundo está dilacerado pelas guerras e a violência, ou ferido por um generalizado individualismo que divide os seres humanos e põe-nos uns contra os outros visando o próprio bem-estar. Em vários países, ressurgem conflitos e antigas divisões que se pensavam em parte superados. Aos cristãos de todas as comunidades do mundo, quero pedir-lhes de modo especial um testemunho de comunhão fraterna, que se torne fascinante e resplandecente. Que todos possam admirar como vos preocupais uns pelos outros, como mutuamente vos encorajais animais e ajudais: «Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35). Foi o que Jesus, com uma intensa oração, Jesus pediu ao Pai: «Que todos sejam um só (…) em nós [para que] o mundo creia» (Jo 17, 21). Cuidado com a tentação da inveja! Estamos no mesmo barco e vamos para o mesmo porto! Peçamos a graça de nos alegrarmos com os frutos alheios, que são de todos.

100. Para quantos estão feridos por antigas divisões, resulta difícil aceitar que os exortemos ao perdão e à reconciliação, porque pensam que ignoramos a sua dor ou pretendemos fazer-lhes perder a memória e os ideais. Mas, se virem o testemunho de comunidades autenticamente fraternas e reconciliadas, isso é sempre uma luz que atrai. Por isso me dói muito comprovar como nalgumas comunidades cristãs, e mesmo entre pessoas consagradas, se dá espaço a várias formas de ódio, divisão, calúnia, difamação, vingança, ciúme, a desejos de impor as próprias ideias a todo o custo, e até perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. Quem queremos evangelizar com estes comportamentos?

104. As reivindicações dos legítimos direitos das mulheres, a partir da firme convicção de que homens e mulheres têm a mesma dignidade, colocam à Igreja questões profundas que a desafiam e não se podem iludir superficialmente. O sacerdócio reservado aos homens, como sinal de Cristo Esposo que Se entrega na Eucaristia, é uma questão que não se põe em discussão, mas pode tornar-se particularmente controversa se se identifica demasiado a potestade sacramental com o poder. Não se esqueça que, quando falamos da potestade sacerdotal, «estamos na esfera da função e não na da dignidade e da santidade». O sacerdócio ministerial é um dos meios que Jesus utiliza ao serviço do seu povo, mas a grande dignidade vem do Baptismo, que é acessível a todos. A configuração do sacerdote com Cristo Cabeça – isto é, como fonte principal da graça – não comporta uma exaltação que o coloque por cima dos demais. Na Igreja, as funções «não dão justificação à superioridade de uns sobre os outros». Com efeito, uma mulher, Maria, é mais importante do que os Bispos. Mesmo quando a função do sacerdócio ministerial é considerada «hierárquica», há que ter bem presente que «se ordenaintegralmente à santidade dos membros do corpo místico de Cristo». A sua pedra de fecho e o seu fulcro não são o poder entendido como domínio, mas a potestade de administrar o sacramento da Eucaristia; daqui deriva a sua autoridade, que é sempre um serviço ao povo. Aqui está um grande desafio para os Pastores e para os teólogos, que poderiam ajudar a reconhecer melhor o que isto implica no que se refere ao possível lugar das mulheres onde se tomam decisões importantes, nos diferentes âmbitos da Igreja.

105. A pastoral juvenil, tal como estávamos habituados a desenvolvê-la, sofreu o impacto das mudanças sociais. Nas estruturas ordinárias, os jovens habitualmente não encontram respostas para as suas preocupações, necessidades, problemas e feridas. A nós, adultos, custa-nos ouvi-los com paciência, compreender as suas preocupações ou as suas reivindicações, e aprender a falar-lhes na linguagem que eles entendem. Pela mesma razão, as propostas educacionais não produzem os frutos esperados. A proliferação e o crescimento de associações e movimentos predominantemente juvenis podem ser interpretados como uma acção do Espírito que abre caminhos novos em sintonia com as suas expectativas e a busca de espiritualidade profunda e dum sentido mais concreto de pertença. Todavia é necessário tornar mais estável a participação destas agregações no âmbito da pastoral de conjunto da Igreja.
196. Às vezes somos duros de coração e de mente, esquecemo-nos, entretemo-nos, extasiamo-nos com as imensas possibilidades de consumo e de distracção que esta sociedade oferece. Gera-se assim uma espécie de alienação que nos afecta a todos, pois «alienada é a sociedade que, nas suas formas de organização social, de produção e de consumo, torna mais difícil a realização deste dom e a constituição dessa solidariedade inter-humana».

O lugar privilegiado dos pobres no povo de Deus 

197. No coração de Deus, ocupam lugar preferencial os pobres, tanto que até Ele mesmo «Se fez pobre» (2 Cor 8, 9). Todo o caminho da nossa redenção está assinalado pelos pobres. Esta salvação veio a nós, através do «sim» duma jovem humilde, duma pequena povoação perdida na periferia dum grande império. O Salvador nasceu num presépio, entre animais, como sucedia com os filhos dos mais pobres; foi apresentado no Templo, juntamente com dois pombinhos, a oferta de quem não podia permitir-se pagar um cordeiro (cf. Lc 2, 24; Lv 5, 7); cresceu num lar de simples trabalhadores, e trabalhou com suas mãos para ganhar o pão. Quando começou a anunciar o Reino, seguiam-No multidões de deserdados, pondo assim em evidência o que Ele mesmo dissera: «O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres» (Lc 4, 18). A quantos sentiam o peso do sofrimento, acabrunhados pela pobreza, assegurou que Deus os tinha no âmago do seu coração: «Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus» (Lc 6, 20); e com eles Se identificou: «Tive fome e destes-Me de comer», ensinando que a misericórdia para com eles é a chave do Céu (cf. Mt 25, 34-40).

198. Para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica. Deus «manifesta a sua misericórdia antes de mais» a eles. Esta preferência divina tem consequências na vida de fé de todos os cristãos, chamados a possuírem «os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus» (Fl 2, 5). Inspirada por tal preferência, a Igreja fez uma opção pelos pobres, entendida como uma «forma especial de primado na prática da caridade cristã, testemunhada por toda a Tradição da Igreja». Como ensinava Bento XVI, esta opção «está implícita na fé cristológica naquele Deus que Se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza». Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles. Leia a Exortação na íntegra

España. La historia no oficial

por Olga Rodríguez
eldiario.es

A Santos, que tenía 39 años…

monumento

Santos ya tiene un lugar al que podemos llevarle flores.

Permítanme que comparta con ustedes algo personal. Ocurrió el pasado sábado, 12 de octubre, Día de las Fuerzas Armadas. Mientras el presidente del Gobierno y los príncipes de Asturias asistían al desfile del ejército, mientras se realizaban los preparativos para beatificar a 500 curas ‘mártires’ de la persecución religiosa en la Guerra Civil, un grupo de personas nos reunimos en el cementerio de León para celebrar la inauguración de un monumento a más de 1.500 víctimas del franquismo. Entre ellas, mi bisabuelo, “el abuelo Santos”.

Santos Francisco Díaz, herrador de Mansilla de las Mulas, padre de 7 hijos, fue fusilado y enterrado en una fosa común en octubre de 1936. Es uno de los más de 100.000 desaparecidos por el franquismo. Nunca tuvimos una tumba donde llorarle, nunca un lugar en el que colocar unas flores. A pesar de que la historia oficial, mutilada y falseada, presenta lo ocurrido en 1936 con insultante equidistancia, lo cierto es que en este país se produjo una persecución sistemática contra todos aquellos que pensaban de forma diferente a los golpistas.

Mi tío abuelo Chencho era aún un adolescente pero recuerda bien cómo tan solo días después del asesinato de su padre Santos, el cura del pueblo llamó desde su púlpito a la “guerra sin cuartel contra los rojos”. Allí, como en tantas otras localidades españolas, la Iglesia apoyó y participó en el golpe de Estado y amparó el fascismo que vino después.

Mi familia recuerda cómo aún en los años cincuenta los fascistas del pueblo lamentaban a voces, al paso de algunos jóvenes, no haber acabado también con los hijos de los rojos. Fueron años de terror y humillaciones en los que nadie pudo reivindicar ni el cuerpo ni la memoria de sus desaparecidos.

Entre esta y otras historias transcurrió también mi infancia y la de muchos otros nietos y bisnietos de este país. Santos no existe en la historia oficial de España, y por tanto el relato de mi abuelo tampoco, ni el de mi madre, ni el mío. Pertenecemos, como tantos más, a una historia subterránea, oculta, presente en algunos libros y artículos pero ausente de las escuelas e instituciones porque la Transición optó por enterrar –otra vez– a las víctimas, en nombre de la democracia.

El fascismo que dominó España es el mismo que se apoderó de Europa en los años cuarenta, pero aquí las autoridades muestran su repulsa hacia el segundo mientras se niegan a condenar el primero, perpetuando impunidad para eventuales desmanes.

Prueba de ello es lo que ocurrió este pasado fin de semana. En un acto claramente político, la Iglesia beatificó a más de 500 religiosos caídos en la Guerra Civil, ignorando a las víctimas republicanas y a los curas represaliados por el fascismo. Al acto, celebrado en Tarragona, acudieron los ministros de Justicia e Interior, el presidente de la Generalitat, el presidente del Congreso, más de 80 alcaldes, 104 obispos, más de 1.300 sacerdotes. El propio Papa intervino con un mensaje en la ceremonia, que fue retransmitida en directo por La 2.

Y así, una vez más, la Iglesia, que formó parte del golpe de Estado de 1936, que elaboró listas negras y fue cómplice de verdugos, condena al olvido a los represaliados por el franquismo, a los que ni siquiera ha pedido perdón.

Horas antes de la ceremonia de beatificación varios centenares de personas asistíamos en León a esa inauguración del monumento en memoria de más de 1.500 fusilados del franquismo. Setenta y siete años después del asesinato y desaparición de mi bisabuelo, por fin un acto público iba a honrar su memoria, en alto, sin miedo, sin susurros. Decenas de mujeres y hombres, ya ancianos, presenciaron de este modo el primer homenaje a sus seres queridos asesinados o desaparecidos. Hubo emoción y dignidad. Sin embargo, ninguna autoridad se dignó a asistir a este acto, a pesar de tratarse de uno de los mayores monumentos a las víctimas del franquismo.

Los desaparecidos y asesinados por el fascismo no existen para el Estado español ni para la Iglesia. La impunidad sigue así presente en forma de olvido y de desprecio por el conocimiento del pasado. El pasado, que prologa el futuro. La desmemoria nos desarma ante momentos como el actual, en el que de nuevo resuenan pequeños ecos de fascismo en Francia, en Grecia, aquí mismo, con discursos homófobos, con políticas xenófobas y criminalizadoras contra los másdesfavorecidos.

El desprecio por la Historia nos sitúa desnudos ante la eventualidad de un porvenir revuelto y oscuro. El fascismo es como un puzzle de enormes dimensiones: fácilmente identificable si se observa desde lejos pero difuso en las distancias cortas. Más aún en un país como este, en el que los fascistas pasaron a ser ‘demócratas’ de la noche a la mañana, sin tener que enfrentar ninguna pena por sus crímenes pasados, y en el que todos los gobiernos –todos– han apartado al Estado de la recuperación de la memoria, de la verdad, justicia y reparación.

A las familias de las víctimas del fascismo se les reprocha que no quieran dar carpetazo a la memoria. Por eso resulta cuando menos llamativo que sí se aplauda la reivindicación de otra memoria, la oficial, la sesgada, la que entierra parte de la Historia, la que invisibiliza a las cientos de miles de víctimas del fascismo.

El ejemplo aquí mencionado es prueba de ello: un homenaje al que asistieron cientos de autoridades políticas y eclesiásticas, retransmitido en directo por uno de los canales de la televisión pública –¿cuándo se retransmitirá un homenaje a los asesinados por el fascismo español?–, frente a otro homenaje, precario, extraoficial, que de hecho depende de uncrowdfunding para poder terminar el inacabado monumento a las víctimas, porque el Ayuntamiento de León ha decidido recortar el presupuesto previsto.

Quienes creen que hablar del franquismo es reabrir heridas olvidan que el pasado construye parte de nuestro presente y contiene valiosos aprendizajes. Así lo subrayó el pasado sábado el poeta Antonio Gamoneda durante el homenaje en León a las víctimas del franquismo: “Que la memoria histórica se proyecte sobre el futuro de nuestros hijos de forma eficaz y necesaria, para ir construyendo una democracia real y no esta democracia falsificada”.

Como ha escrito el historiador Julián Casanovas, el franquismo dejó un déficit de cultura cívica en nuestra sociedad. Visto lo visto, éste perdura hasta hoy. En nuestro país la memoria sigue siendo selectiva.

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