Os que patrocinam e promovem a apologia do retorno da ditadura, da intervenção de um exército, de um impeachment à Paraguai, aconchavado por Eduardo Cunha, devem explicações por crimes cometidos à polícia, à justiça e, principalmente, ao povo.
Que sejam incluídos nesse festival de porra-louquice e “taradinhos do impeachment”, o Tribunal de Contas, um “playground de políticos fracassados”, na definição do ministro Joaquim Barbosa.
Quando o Congresso do Paraguai golpeou Fernando Lugo, abriu alas para Horacio Cartes assumir a presidência da República, um corrupto amigo do senador Perrella, dono do helicóptero do pó, e do senador Aécio Neves. Cartes responde a inquérito no Brasil como contrabandista.
A reputação dos golpistas Cunha, Nardes, Agripino, Aéreo Neves já apodreceu
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À medida em que apodrece a reputação dos centuriões do golpe (Cunha, Nardes, Agripino, Aéreo Neves), os golpistas jogam um jogo de vida ou morte.
Escreve Saul Leblon: O país vive horas cruciais. O assalto conservador ao poder joga uma cartada de vida ou morte contra o relógio político nos próximos dias.
À medida em que apodrece a reputação de seus centuriões, e os savorolas da ética entram em combustão explosiva – caso dos homens-tocha Cunha, Agripino, Nardes, Aéreo Neves etc, resta-lhes apostar tudo no estreito espaço de tempo entre a desmoralização absoluta e a capacidade residual de articular o golpe.
Arqueado sob R$ 31 milhões em depósitos suíços, segundo a Folha, Cunha negociou com a hesitação golpista: em troca do pescoço, articulou uma operação casada com o PSDB.
Tucanos salvam a aparência pedindo seu afastamento – ‘para que possa exercer seu direito constitucional à ampla defesa’. Em troca, o personagem que não tem mais nada a perder acelera a operação do impeachment, como última estaca de sobrevivência antes do abismo.
Sílvio Costa fala da podridão dos golpistas Paulinho da Força e Cedraz
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Tereza Cruvinel: Em discurso ontem na Câmara, o deputado Silvio Costa (PSC-PE), vice-líder do Governo, questionou a autoridade do TCU para julgar e recomendar a rejeição das contas do Governo Dilma. “O TCU não estará em condições de fazer esta julgamento enquanto não forem esclarecidas as denúncias que atingem pelo menos dois de seus ministros”.
Costa recordou a delação premiada do dono da UTC, Ricardo Teixeira, que afirmou tem comprado uma decisão do TCU favorável à licitação da usina de Angra 3, que estava enfrentando restrições técnica, através de Thiago Cedraz, filho do presidente do tribunal, Aroldo Cedraz. Pessoa disse ter pago uma mesada mensal de R$ 50 mil a Tiago e uma propina de um milhão de reais para ele ‘resolver” o problema.. O problema estava na resistência do relator do caso, ministro Raimudo Carrero, que acabou liberando a licitação que vinha obstacularizando.
– Enquanto as investigações da Lava Jato não forem conclusivas sobre o papel destes dois ministros, o tribunal não tem autoridade para rejeitar contas do governo – disse Costa.
Ricardo Pessoa disse não saber a quem foi destinada a propina. Um dos mediadores dos pagamentos foi Luciano Araujo, tesoureiro do partido Solidariedade, que disse à Folha de São Paulo ter ido à UTC mas para receber uma doação de R$ 1,2 milhão ao partido de Paulinho da Força Sindical.
GOVERNO DA VENEZUELA PROÍBE QUE AVIÃO DE AÉCIO E ALOYSIO SOBREVOE OU POUSE NO PAÍS
De acordo com informações do Ministério da Defesa, o governo da Venezuela negou autorização para que avião militar com uma comitiva de Aécio Neves e companhia possa sobrevoar e pousar naquele país, no próximo dia 17.
O fato foi confirmado pelo senador tucano Aloysio Nunes Ferreira e pelo presidente do PSDB, senador Aécio Neves .
O Itamaraty disse que ainda não tem informações sobre o assunto. Aécio, Aloysio e Fernando Henrique e outros líderes da direita e da extrema-direita anunciaram viagem à Venezuela na próxima quinta-feira, para dar apoio a golpistas da oposição, que defendem uma intervenção militar dos Estado Unidos naquele país.
“Eu tenho dito que quando se fala de democracia e de liberdade não há que se respeitar fronteiras. Vamos, portanto, em um grupo suprapartidário, de forma absolutamente respeitosa, dizer que na nossa região o tempo do autoritarismo já passou”, proclamou Aécio.
Questionado sobre se temia alguma reação contrária do governo venezuelano à visita do grupo, alegando uma possível “intromissão” do Senado brasileiro em um assunto interno do país sul-americano, Aécio negou e disse que “não há mais espaço para presos políticos” no mundo atual.
“Eu espero que o governo venezuelano entenda essa nossa ida como uma manifestação do Congresso brasileiro em nome da esmagadora maioria brasileira, em nome da democracia e da liberdade”, complementou o tucano.
“Nós estaremos na verdade suprindo com o nosso gesto a omissão do governo brasileiro em relação a essa questão. Não estamos falando de apoio a A ou B, estamos falando de respeito à democracia”, concluiu o senador.
É entranhável que a Aeronáutica, com o dinheiro do povo brasileiro, banque essa viagem de conspiradores e inimigos da democracia, e que viola a autodeterminação dos povos.
Por que o Brasil mandar uma avião militar para a Venezuela, com dois notórios golpistas, para desestabilizar um governo democrático, eleito pelo voto direto e democrático do povo?
O golpismo e o retorno da ditadura militar motivaram Aécio e Aloysio, candidatos derrotados a presidente e vice nos primeiros e segundos turnos das eleições de outubro último, a convocar várias passeatas e marchas fracassadas nas capitais do Brasil. Os dois fazem parte do movimento para derrubar os presidentes Dilma Rousseff no Brasil, Nicolás Maduro na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Cristina Kirchner na Argentina, Rafael Correa no Equador.
Um movimento patrocinado pela extrema-direita, pelo colonialismo e pelo imperialismo para minar a União dos Países da América do Sul.
Sponholz
A Venezuela impedir a invasão de Aécio constitui uma medida de precaução. Aécio faz pregação golpista. E depois é bom ter cuidado. Não se sabe se o senador Zezé Perrella faz parte da comitiva. Perrella é mineiro e amigo íntimo de Aécio e do presidente do Paraguai, Horacio Cartes, que responde a processos de contrabando no Brasil, e denunciado pelo envolvimento com o tráfico de drogas. Perrella é o dono do helicóptero, pego com meia tonelada de cocaína originária do Paraguai.
Tem mais: Foi encontrada cocaína em uma das duas fazendas de Aloysio. Cada fazenda, ele revelou para o cego tribunal eleitoral, vale um mísero real. Repetindo: dois reais o valor das duas fazendas. Ou latifúndios.
Para entender essa conspiração internacional leia:
A crônica de um desastre anunciado
Por Frederico Füllgraf
Jorge Alarminos
Finalmente Felipe González, advogado e ex-primeiro-ministro da Espanha (1982-1996), desembarcou na Venezuela para conseguir a liberdade de Antonio Ledezma e Leopoldo López, dois políticos acusados de conspiração e incitação ao golpe contra o governo Nicolás Maduro.
Em maio passado, as audiências nos tribunais venezuelanos foram adiadas, motivando o cancelamento provisório da “missão González”, cujo anúncio, em março, lançou mais lenha à fogueira desatada em 2014 pelo ex-presidente José Maria Aznar e pela recente “Declaração do Panamá sobre a Venezuela”, com a qual, à margem da última Assembleia Geral da OEA, 31 ex-presidentes ibero-americanos cobraram medidas internacionais contra o governo venezuelano.
González desembarcou, mas já retornou à Espanha após o veto da Justiça venezuelana de sua visita aos presos. No entanto, sua reunião com o oposicionista MUD – Mesa de la Unidad, cujas lideranças criticou pelas disputas internas em detrimento da unidade do movimento, deixa entrever a indisfarçada ingerência do líder espanhol na contenda entre governo e oposição, advertida por González para cerrar fileiras em torno da plataforma de Leopoldo López: exigir eleições parlamentares com observadores internacionais, o fim da perseguição aos opositores e a libertação dos presos políticos.
Deixando a Venezuela “pela porta dos fundos”, a bordo de um avião da Força Aérea Colombiana – especialmente enviado a Caracas pelo presidente Juan Manuel Santos –, Felipe González articulou seu protesto ao tratamento de persona non grata que lhe fora atribuído, abandonando a agenda do diálogo, agora trocada pela da confrontação.
Com a mobilização dos ex-presidentes Andrés Pastrana (Colômbia), Fernando Henrique Cardoso (Brasil) e Ricardo Lagos (Chile), que deveriam acompanhá-lo em comitiva a Caracas – mobilização na qual embarcou o candidato derrotado do PSDB, Aécio Neves, que viajará a Caracas em 17 de junho –, González definitivamente internacionalizou a queda de braço com o governo Maduro, simultaneamente articulando uma frente conservadora na América Latina e instigando a União Europeia para sanções contra a Venezuela – sanções esperadas durante a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) com a União Europeia, ocorrida em Bruxelas, até 11 de junho.
Uma dramaturgia sem dúvida exitosa, mediante um arranjo orquestrado com a imprensa espanhola e o discreto movimento de peões do maior conglomerado da mídia venezuelana, o Grupo Cisneros.
O eixo Espanha-Chile
Em fins de março deste ano, os correspondentes estrangeiros oficialmente credenciados no Chile fomos convidados a uma entrevista coletiva do ex-presidente Ricardo Lagos, na sede de sua Fundação Democracia y Desarrollo, em Santiago.
De início, desconfiamos que a pauta “aberta” escondia a intenção de Lagos de “vender-nos” sua recém-lançada página interativa na internet, que estimula a participação cidadã na coleta de propostas para a reforma constitucional prometida pela presidente Michelle Bachelet.
Ricardo Lagos (Foto: Frederico Füllgraf)
Com meia hora de conversa trivial, então o astuto Lagos surpreendeu-nos com um “furo”. Confidenciou-nos que em breve o ex-primeiro-ministro espanhol, Felipe González, empreenderia uma missão politica à Venezuela, à qual teria convidado os ex-presidentes Andrés Pastrana e Fernando Henrique Cardoso. Ele, Ricardo Lagos, sentia-se honrado como o terceiro na lista do espanhol, que cobrava representatividade continental à sua missão.
Politico calejado, o socialista Lagos não teve papas na língua, acusando o “regime bolivariano” de violar os direitos humanos e justificando uma ação concertada em nível internacional para “restabelecer a constitucionalidade” ultrajada – palavras que poderiam ter sido pronunciadas por seu conterrâneo e também ex-presidente, o conservador multibilionário Sebastián Piñera, que em janeiro viajara a Caracas em companhia de Pastrana para visitar Leopoldo López na prisão de Ramo Verde. Barrados pela polícia, os dois ex-presidentes foram reconduzidos ao centro de Caracas sob escolta do Servicio Bolivariano de Inteligencia Nacional (Sebin).
Em defesa de Piñera, no final de janeiro, outro ex-presidente chileno, o democrata-cristão Eduardo Frei Tagle, partiu para o ataque frontal, afirmando que a Venezuela é “um país que não respeita a democracia”.
Nem mesmo Isabel Allende – filha do mitológico presidente chileno e presidenta simultânea do Senado e do Partido Socialista – se conteve. “O governo do Chile deve manifestar sua preocupação pela detenção de Ledezma na Venezuela”, disparou pelo Twitter, na ocasião da prisão. Em seguida endureceu o discurso: “O governo da Venezuela não é socialista, é uma ditadura militar, com tudo o que isso significa (…)”, disparate do qual finalmente recuou, corrigindo-se: “Eu não qualifico Maduro de ditador, ele foi eleito democraticamente (…) Não o comparo com Pinochet, nada que ver, são situações radicalmente diferentes”.
O “golpe baixo” de Ricardo Lagos e o cerco conservador a Bachelet
A certa altura da coletiva de Lagos, perguntei-lhe sobre o papel mediador das missões da Unasul em Caracas, que cobraram o diálogo entre o governo Maduro e a oposição. A resposta do ex-presidente, reverberada no dia seguinte pela mídia internacional, foi que admitia, sim, um “esforço significativo” de Ernesto Samper – ex-presidente colombiano e secretário-geral do organismo – mas que não era o suficiente.
Poucos dias depois, Lagos posava para foto da imprensa chilena, ladeado por Mitzy Capriles Ledezma e Lilian Tintori – respectivamente esposas de Antonio Ledezma e Leopoldo López – durante escala em Santiago do Chile de sua turnê pela América do Sul, em busca de apoio político à libertação de seus maridos.
E então Lagos cravou a seguinte comparação: “Há mais de 80 presos políticos [na Venezuela], creio que deve-se cobrar ao governo Maduro que a Cruz Vermelha seja aceita para visitar as prisões e ver as condições dos detentos… Não sei se direi uma impertinência, mas em seu momento Pinochet aceitou que a Cruz Vermelha viesse ao Chile”.
Foi a “bomba”.
Com o destemido título “El golpe bajo de Ricardo Lagos”, no Diario Radio Universidad de Chile (14/4/2015), a socióloga e colunista Antonia Garcia Castro assestou um agravo demolidor, aqui citado no original espanhol:
“Ricardo Lagos debe saber si se trata o no de una impertinencia. No puede no saberlo. No puede no conocer el valor que tiene cada palabra que se pronuncia en el espacio público, con toda la fuerza simbólica que otorga, además, el hecho de ser un ex Presidente de la República. ¿Qué está diciendo Ricardo Lagos? ¿Que “hasta” Pinochet tuvo un gesto “humanista” y/o “democrático”?”
E dirigindo-se diretamente ao ex-presidente, fulminou:
“Que usted lo cite a Augusto Pinochet para desarrollar un argumento supuestamente democrático y respetuoso del derecho es algo más que una impertinencia. Es una vergüenza. Es un golpe bajo. Es no haber entendido la propia historia”.
Entre coletivas com Lagos e abraços com Piñera, as esposas dos dois políticos venezuelanos acusados de conspiração tentavam forçar a agenda de Michelle Bachelet para recebê-las, mas a presidente permaneceu firme e seu então porta-voz, Alvaro Elizalde, foi taxativo: “O governo do Chile tem um compromisso com o roteiro traçado pela Unasul para fortalecer o diálogo entre o governo e a oposição venezuelanos” – ponto.
Com nova escala em Buenos Aires – onde sua recepção festiva pelo prefeito Mauricio Macri, ferrenho adversário conservador de Cristina Fernández de Kirchner, foi ruidosamente repudiada por centenas de intelectuais, artistas e círculos simpáticos ao “chavismo” – finalmente, no dia 5 de maio, Mitzy Capriles Ledezma e Lilian Tintori concluíam seu tour com uma recepção no Brasil. Por Fernando Henrique Cardoso.
No Chile, a mais alta esfera do poder político as deixara de mãos abanando, mas em 20 de maio – véspera do “Dia das Glórias Navais” e com Michelle Bachelet distraída com a preparação do discurso de prestação de contas de seu primeiro ano de governo –, por 66 votos a favor, 26 contra e 10 abstenções, em Valparaíso, a Câmara de Deputados aprovava uma resolução cobrando da presidente retirar da Venezuela o embaixador Pedro Ramírez para consultas, “até que se resolva a situação do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma; e do líder opositor, Leopoldo López”.
Extrema e hostil, com a medida as forças conservadoras do Legislativo chileno pretendem estremecer as – até agora – tranquilas relações oficiais entre Chile e Venezuela, agravando a polarização buscada pelo espanhol Felipe González, ao montar sua “frente de ex-presidentes” à margem das missões da Unasul, respeitada até mesmo por Henrique Capriles, governador do estado de Miranda e candidato à presidência derrotado em 2013 por Nicolás Maduro pela margem mínima de 1,5% dos votos.
Tramas paralelas: Teodoro Petkoff, El País e o “fator Cisneros”
Contudo, no tabuleiro do xadrez político venezuelano operam dois “bispos” com notável poder de articulação dentro e fora do país, ambos vinculados aos meios de comunicação não oficialistas: Teodoro Petkoff e Gustavo Cisneros.
O primeiro, um ex-comunista, ex-guerrilheiro, dublê de ex-ministro de Economia do governo Carlos Andrés Perez, na década de 1980 e, há alguns anos, publisher do jornal oposicionista Tal Cual. O segundo, o homem mais rico e poderoso da Venezuela, dono do Grupo Cisneros de Comunicação, de oposição ao “chavismo”, mas considerado “intocável”.
Longe de Caracas, no dia 4 de maio, Petkoff deveria receber em Madri o Prêmio de Jornalismo Ortega y Gasset (15 mil euros e uma obra do artista plástico Sebastián Eduardo Chillida), outorgado a profissionais que se destacam na “defesa das liberdades, da independência e do rigor, como virtudes essenciais do jornalismo”.
Criado em 1984 pelo jornal El País, do Grupo Prisa – que na comercialização de conteúdo audiovisual é parceiro do Grupo Telefónica e que na Espanha lidera a campanha midiática contra o chavismo, com colunistas ultraconservadores como o argentino Héctor E. Schamis, da Universidade de Georgetown (EUA) – o prêmio foi para o venezuelano de descendência búlgara, porque seus jurados o consideram “símbolo da resistência democrática”.
Mas Petkoff não tinha permissão para deixar a Venezuela, porque enfrenta uma ação judicial protocolada pelo presidente da Assembleia (Congresso) Nacional, o “chavista” duro Diosdado Cabello, que se sente difamado por um artigo de opinião publicado pelo Tal Cual em janeiro de 2014.
Quem recebeu o prêmio em nome de Petkoff foi Felipe González.
Embora taxado à esquerda como “privatizador agressivo” – que em 1989 adotou medidas de austeridade e silenciou o levante dos pobres da capital, massacrados por Andrés Pérez no temível episódio conhecido como “Caracazo” –, hoje Petkoff poderia ser definido como socialdemocrata com tentações neoliberais, “un izquierdista a modo”, segundo línguas ferinas, porém jamais como articulador da direita golpista. No entanto, como ironiza o também ex-privatizador Felipe González e em seu momento lobista de empresas espanholas na América do Sul, quando opina Teodordo Petkoff “treme o regime” de Nicolás Maduro.
Já Cisneros, “cubano por nascimento e venezuelano de coração” – proprietário dos conglomerados Venevisión e Venevisión Plus, da operadora de TV por satélite DirecTV, da franquia da Pepsi Cola na Venezuela e um dos mais requintados colecionadores de arte do mundo, dono de patrimônio líquido de 4 bilhões de dólares (Forbes, 2015) depositados nos EUA – comportou-se sempre como aliado de plantão de vários poderosos, entre os quais cita Carlos Andrés Pérez, George Bush pai e Felipe González.
Anticastrista figadal, por outro lado Cisneros tem se desempenhado como articulador de laços estratégicos da Venezuela com a Espanha e os Estados Unidos, sobretudo como facilitador das recentes reuniões-relâmpago do subsecretário de Estado dos EUA Thomas Shannon com Nicolás Maduro, em Caracas.
É nas mansões de Cisneros em Nova York, Madri e Aspen (Colorado) que costumam juntar-se líderes conservadores do mais alto coturno, como os espanhóis José María Aznar e Felipe González e o colombiano Alvaro Uribe, para sofisticadas tertúlias nos campos da arte, mas obviamente com um olho no mercado financeiro e outro no tabuleiro político.
Já em Caracas, no dia 14 de fevereiro, durante o lançamento do “Plano de Paz” – cujo objetivo é reduzir a criminalidade e a violência que assolam a Venezuela –, Nicolás Maduro surpreendeu a assistência abraçando Gustavo Cisneros como copatrocinador do programa. Episódio inusitado, indicando que para Cisneros é útil acomodar-se a “novas maneiras de fazer negócios”, enquanto que para Maduro o ombro a ombro com o mais poderoso dos empresários funciona como munição publicitária.
Felipe González e a internacionalização da crise venezuelana
Assinada pelo argentino Fernando de la Rúa, o brasileiro Fernando Henrique Cardoso, o chileno Ricardo Lagos, os mexicanos Felipe Calderón e Vicente Fox, os uruguaios Luis Alberto Lacalle e Julio María Sanguinetti e os espanhóis José María Aznar e Felipe González, a Declaração do Panamá faz um alerta à “grave alteração institucional, política, econômica e social que afeta sem distinções os nossos irmãos venezuelanos” , e denuncia a “ausência de independência da Justiça, a perseguição judicial dos que se manifestam e se expressam politicamente como dissidentes frente ao referido Governo [além da] presença reiterada de atos de tortura por funcionários do Estado, a existência de grupos paraestatais armados e de apoio ao próprio Governo, em um ambiente de total impunidade”.
Neste tom, os signatários afirmam promover “um clima de paz e de negociações”, a rigor desprezando esforços para o reatamento do diálogo e, figurativamente, jogando mais gasolina na fogueira.
A iniciativa para a declaração partiu de González e do atual primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, escolhido pelo Parlamento Europeu para tomar “todas as iniciativas pertinentes” e conseguir “a libertação imediata” de Ledezma, López y Ceballos. Com a delegação à Espanha do papel de trator, o Legislativo europeu finalmente dá pernas à sua resolução de 21 de dezembro de 2014, aprovada com esmagadora maioria de 476 votos contra 109 e 49 abstenções, mediante a qual condenou a “prisão de manifestantes pacíficos, estudantes e líderes políticos” – resolução que Nicolás Maduro desancou como “medida de despiste da crise europeia”.
O modus operandi de González em sua recente visita a Caracas não deixa dúvidas: para muito além da preocupação retórica com os direitos humanos dos presos, a estratégia hispano-europeia visa mesmo a interferir no processo eleitoral venezuelano, com a escolha de um lado.
Os crimes de López e Ledezma e o coro da tergiversação
Não é preciso ser “chavista”, mas apenas profissional em busca “da independência e do rigor, como virtudes essenciais do jornalismo”, como reza o Prêmio de Jornalismo Ortega y Gasset, para perceber um fenômeno perturbador: um poderoso coro político-midiático-internacional tenta transformar Ledezma, López e Ceballos em heróis da resistência democrática, omitindo do noticiário e do debate a gravidade de seus atos.
Quais são as efetivas transgressões dos dois ex-prefeitos?
Em primeiro lugar, Antonio Ledezma não está mais encarcerado e, sim, usufruindo de prisão domiciliar, após submeter-se a uma cirurgia. Detido em 19 de fevereiro, é acusado pela Promotoria venezuelana de conspiração e associação criminosa ocorrida em setembro de 2014. Pano de fundo é seu contato com os paramilitares Lorent Gómez Saleh e Gabriel Valles, segundo o ex-ministro do Interior venezuelano Miguel Rodríguez Torres, associados ao ex-presidente colombiano Álvaro Uribe. Ledezma confirmou conhecer os dois agentes, mas negou envolvimento em planos de desestabilização do governo Maduro.
Ex-governador do Distrito Federal, eleito em 2008 com 52% dos votos para o cargo de prefeito de Caracas – cargo cujo poder Hugo Chávez esvaziou, criando a figura do “Chefe de Governo de Caracas” – Ledezma é antigo desafeto do “chavismo”, contra o qual já protestou com greves de fome e manifestações públicas.
A acusação de sua vinculação aos paramilitares do ex-presidente ultradireitista colombiano Uribe é grave, e soma-se à denúncia do colombiano como autor intelectual do assassinato do jovem deputado “chavista” Robert Serra, ocorrido em 2014, logo atribuído pela oposição venezuelana a “acertos de contas” entre os próprios “chavistas”.
As acusações contra Uribe – encarniçado desafeto do “chavismo” – não são invencionices ou mais uma “madurada” do presidente venezuelano, que desde sua posse, em 2013, denunciou mais de 12 conspirações golpistas. Cabe lembrar que em agosto de 2014, a Segunda Comissão do Senado da Colômbia deu início a demorado ciclo de debates sobre o eventual envolvimento de Uribe com o narcotráfico e a manutenção de bandos paramilitares clandestinos; debates que deverão gerar investigações.
Conterrâneo de Uribe, o secretário-geral da Unasul Ernesto Samper advertiu ao The Guardian (9/10/2014) que “o assassinato do jovem legislador Robert Serra, na Venezuela, é um sinal preocupante da infiltração do paramilitarismo colombiano”.
Já Lepoldo López encarna sem dúvida a facção mais agressiva da oposição venezuelana, cuja liderança disputa com Henrique Capriles, tentando atrair os seguidores deste para uma plataforma mais radical, de aberta ruptura com a institucionalidade democrática. Contra ele pesam graves acusações, envolvendo a marcha oposicionista de 12 de fevereiro de 2015, em Caracas, durante a qual López conclamou a massa pela derrubada de Maduro, ocasionando a morte de três e o ferimento de dezenas de pessoas.
Segundo Luis Vicente León, diretor do instituo de pesquisa de opinião Datanálisis, simpatizante da oposição, “López tinha perdido terreno, pois já não era prefeito (do distrito de Chacao) e estava inabilitado politicamente”. Uma vez que Capriles fora consagrado como líder inquestionável da oposição, segundo León, “o radicalismo foi a única saída enxergada por López para recuperar sua suposta liderança”.
Como derradeiro lance, ao entregar-se voluntariamente López apostou em sua martirização, mas a conta não fechou. Preso, as acusações da Promotoria foram do homicídio ao terrorismo, logo atenuadas para “instigação ao delito, danos materiais, incêndio de edificação pública e associação criminosa”.
Projetada sobre esse cenário, a intenção de Felipe González – com sua mirada de soslaio para a conjuntura espanhola e na ressurreição eleitoral do PSOE – de “reinserir os direitos humanos no topo da agenda latinoamericana” merece toda a desconfiança como manobra demagógica.
Nicolás Maduro em seu labirinto
Marcando distância da direita, mas também do “chavismo” empedernido, ganha credibilidade e respeito a posição da presidente Dilma Rousseff, quando adverte em recentes entrevistas à TV francesa e à Deutsche Welle TV que o Brasil não incentiva o golpismo, nem é intervencionista, mas aposta na garantia das liberdades individuais e insiste no diálogo como método imperativo para dirimir conflitos e salvaguardar a prevalência do Estado de Direito – um recado para a direita gorila e sua imprensa, mas também ao governo Maduro.
Na Venezuela não impera uma ditadura. Talvez o estilo “chavista” de governar possa ser descrito como “hegemonismo radical” com tinturas autoritárias; intransigente e pouco criativo.
Ao Brasil não interessa o prolongamento da interminável crise venezuelana, mas seu governo não se tem deixado pressionar pela “missão González”, preferindo agir cautelosamente, por vezes, nos bastidores.
Tentativas golpistas para varrer do mapa os governos do PSUV na Venezuela foram notórias, com Hugo Chávez vítima de uma delas, em 2002. Porém, não escapa à observação da diplomacia brasileira que, tanto Chávez como Maduro têm apelado à “Ley Habilitante” para governar por decreto; decisões que soem provocar urticária no Planalto
São notórias também duas inabilidades de Nicolás Maduro. Primeiro, sua impaciência ou inapetência para insistir no diálogo com a oposição, ainda que setores desta se revelassem embirradas e recalcitrantes. Denunciando seu confrontacionismo, Maduro e o núcleo duro do PSUV teimam em cair na armadilha, apostando, eles mesmos, na confrontação e desse modo engessando o diálogo genuíno . Foi o que advertiu José Pepe Mujica, durante sua presidência pro tempore da Unasul, cansado de insistir na necessidade de paciência e crença no diálogo.
A segunda e catastrófica imperícia de Maduro consiste em não articular a divisão da oposição e investir em pactos pontuais com Henrique Capriles, afastando-o dos setores abertamente golpistas. Sem falar de sua boquirrotice e seu destempero no tratamento de personalidades do cenário internacional, que ao invés de impulsionarem a solidariedade mais contribuíram, se não para o isolamento da Venezuela, pelo menos para a ridicularização de seu mandatário.
Em Caracas continua o jogo da polarização e não há sinal de que seus atores queiram mudar a tática de seus times.
Infelizmente, o tempo não corre a favor de Nicolás Maduro.
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Frederico Füllgraf é jornalista em Santiago (Chile). Transcrito do Observatório da Imprensa.
Transcreverei trechos de entrevista de Chiqui Ávalos a Lucas Rohãn, quando anunciou seu exílio no Brasil, depois da eleição de Horacio Cartes presidente de Paraguai.
Chiqui escreveu o livro La otra cara de HC (Horacio Cartes), uma biografia não autorizada, que revela a vida do presidente e os nomes dos seus parceiros de crimes, notadamente, evasão de divisas e tráfico.
Talvez Chiqui esteja noutro país. Que o Brasil passou a ser local de risco. Que começou este ano com dois jornalistas exilados. Um ainda está no exterior, Mauri König, ameaçado por uma máfia de delegados do Paraná, que tem ligação com o Paraguai.
No mais, Horacio Cartes possui fortes ligações com o crime organizado no Brasil e nos meios políticos da direita.
Eis o texto de Lucas Rohãn: Poucas semanas antes das eleições presidenciais no Paraguai, o jornalista Chiqui Ávalos lançou um livro polêmico. La outra cara de HC fala sobre o passado obscuro de (…) Horacio Cartes. Empresário do ramo de cigarros e dirigente esportivo, ele já foi condenado por evasão de divisas e convive com a eterna suspeita de envolvimento com o contrabando de cigarros para o Brasil. Além disso, no livro, Ávalos apresenta documentos e depoimentos que comprovariam a ligação de Cartes não só com o contrabando, mas também com o tráfico de drogas.
Em entrevista exclusiva ao Terra, o escritor confirma que “fontes diplomáticas” brasileiras ajudaram na construção do livro. Ele também conta que se refugiará na casa de amigos no Brasil (…) porque teme por sua segurança. Após o lançamento da obra, Ávalos recebeu ameaças anônimas e convive com o que chama de “histórias folclóricas que circulam na fronteira sobre vinganças contra alguns adversários”. Confira a entrevista na íntegra:
Terra – Por que o senhor resolveu lançar o livro, perto das eleições? Chiqui Ávalos – É uma tendência mundial, assim como acontece nos Estados Unidos, no Brasil ou na Argentina, que a oportunidade para conhecer os candidatos faz com que a indústria editorial insista nessas datas como as mais importantes nas edições. Seis meses atrás ou seis meses depois, teria menos valor para que o leitor faça suas avaliações.
Terra – Quanto tempo o senhor trabalhou para juntar todo o material? Como foi essa pesquisa? Chiqui Ávalos – A primeira investigação que fiz foi para um jornal (Hoy) em 1985 sobre a evasão de divisas do Banco Central, nas quais para dinamizar a produção agrícola foi habilitada uma cotização especial para quem importava insumos por um valor abaixo do dólar nas ruas. Inventaram operações, houve cumplicidades dos controles, das empresas e do próprio banco, além das financeiras que compravam os dólares a 240 guaranis (câmbio da época) oficialmente e se beneficiavam com a diferença de câmbio ao vender a 400. O que em 35 milhões de dólares representou o início de muitas fortunas. Horacio Cartes trabalhava na Cambios Humaitá nessa época, empresa dos filhos do chefe de polícia do Stroessner (Alfredo Stroessner, general que governou o Paraguai de 1954 a 1989), e depositavam os fundos em uma conta especial em Nova York.
Terra – O senhor tem medo das reações que essas denúncias podem causar? Teme por sua segurança? Chiqui Ávalos – Dizer que não tenho medo seria uma irresponsabilidade. De fato, por histórias que circulam e o relacionam com a máfia, com narcotraficantes conhecidos do Brasil (Fahd Yamil, que está na lista da DEA [agência norte-americana que combate o tráfico de drogas], doleiros como Dario Messer) o fazem temível, além das histórias folclóricas que circulam na fronteira sobre vinganças contra alguns adversários. Tenho o apoio e a ajuda não só em alguns documentos, mas também na discreta proteção de algumas embaixadas (…). Mas tudo “off the record” para não comprometer ninguém diplomaticamente.
Terra – Qual o motivo de sua viagem ao Brasil? Chiqui Ávalos – Vou visitar alguns amigos, jornalistas e diplomatas que me recomendaram não ficar no Paraguai. [Que] eu correria perigo, tanto se ganham os colorados, quanto se perdem, poderiam procurar um bode expiatório e não quero ser o pato do casamento.
Terra – O seu livro contou com a ajuda de fontes diplomáticas e de meios de comunicação do Brasil. O que o senhor conseguiu com esses contatos? Essas “fontes diplomáticas” demonstram preocupação pelo futuro do Paraguai? Chiqui Ávalos – Sim. Apesar de não poder revelar as fontes, tive acesso a alguns documentos graças a “mãos amigas”. Pessoalmente acredito que depois de ter falado com referências importantes, não é do agrado do governo brasileiro ter Cartes como presidente do Paraguai, com todas as acusações de lavagem de dinheiro, narcotráfico, contrabando de cigarros e etc. Inclusive, já fiz contatos com editoras brasileiras para lançar o livro [ no BRasil] com o título O perigo mora ao lado.
Terra – O senhor já teve alguma conversa com Cartes sobre essas acusações? Chiqui Ávalos – Não, nenhuma. O comuniquei que estava escrevendo o livro, seus amigos e seus companheiros políticos de rua sabiam que eu estava fazendo, mas jamais falamos sobre o assunto.
Terra – Se tudo é verdade, por que Cartes não está preso? Chiqui Ávalos – Ele já esteve na prisão por evasão de divisas em 1985. Foi condenado em três oportunidades e finalmente, em uma das mais estranhas decisões da Corte Suprema, foi absolvido em… 2008! Vinte anos depois.
Terra – Desde o dia do lançamento do livro até agora, como o senhor avalia a repercussão em seu país? Chiqui Ávalos – Um amigo me disse que vender a quantidade de livros como La otra cara de HC no Paraguai, um país que não lê, é como vender picolés aos pinguins. Tive dificuldades? Claro. Três editoras rechaçaram o material, outras duas não se animaram a publicar e tive que arcar com todos os custos. Os dois maiores jornais “independentes” do país não quiseram publicar um anúncio pago adiantado e vários hotéis negaram abrigar a apresentação do livro, além do silêncio de outros meios aliados ou temerosos a Cartes.
Houve ameaças, pressões nos meus colaboradores, mas, sobretudo, há um ambiente rarefeito de […] que, infelizmente, nos faz voltar no tempo em que vivíamos no “stronismo” (período no qual o Paraguai foi governado pelo general Stroessner), do qual Cartes é admirador, quando o medo era o pão nosso de cada dia, aniquilando a liberdade de várias gerações. Esse é o pior dano.
Lateral do Libertad e da seleção do Paraguai foi oferecido ao Cruzeiro (Foto: AFP)
Os negócios do Club Libertad com o Cruzeiro começaram na presidência de Zezé Perrella , via sua forte amizade com Horacio Cartes, que foi eleito este ano presidente do Paraguai.
Nesta sexta-feira (13), a diretoria do Cruzeiro confirmou o acerto com o lateral-esquerdo Miguel Samúdio, de 27 anos.
O diretor de futebol do Cruzeiro, Alexandre Mattos, aproveitou sua estadia no Paraguai, onde foi conferir o sorteio dos grupos para a Copa Libertadores, para comprar o jogador. Os valores da negociação não foram revelados.
Reforço para a Libertadores, Samudio tem grande experência no torneio continental, tendo disputado a competição por cinco vezes, todas defendendo o Libertad. Uma delas, em especial, o deixou marcado no país. Em 2011, ele foi um dos destaques dos “albinegros” no confronto contra o Fluminense, pelas oitavas de final. À época, o ala anotou um dos gols que eliminaram o tricolor carioca da peleja.
A qualidade do seu futebol o levou à seleção paraguaia, defendendo a “Albirroja” nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014.
O jornalista César Ávalos acompanha a trajetória do empresário – e agora presidente – Horacio Cartes desde 1985. Em 2013, pouco antes das eleições, lançou o livro “La otra cara de HC”
O novo presidente do Paraguai, Horacio Cartes, alcançou mais de um milhão de votos nas eleições de 21 de abril , cerca de 46% do total. Com ele, retorna ao poder o velho Partido Colorado, sigla que passou sessenta anos consecutivos na presidência – até o dia em que Fernando Lugo rompeu com o domínio que certa vez pareceu eterno. Mas Lugo não pôde terminar o seu mandato: foi destituído, e um dos entusiastas do impeachment de 2012 foi justamente Horacio Cartes. A eleição do novo mandatário se conecta com outros capítulos políticos da história recente do país, e contra Cartes não faltam acusações e denúncias.
O jornalista paraguaio César “Chiqui” Ávalos organizou parte delas no livro “La otra cara de Horacio Cartes”, lançado em Assunção antes do processo eleitoral e hoje um sucesso de vendas. Em entrevista para o Sul21, Ávalos buscou esmiuçar a atuação do novo presidente em diferentes lados. O jornalista responde sobre os supostos privilégios que o presidente obteve durante a ditadura militar, o papel como dirigente de futebol no Club Libertad, as negociações como empresário do tabaco e da bebida e os processos judiciais que Cartes responde na América Latina.
Sul21 – Ávalos, antes das eleições surgiram diversas acusações contra Horacio Cartes, muitas delas inclusive foram denúncias detalhadas. E, assim mesmo, Cartes foi eleito presidente do Paraguai com uma grande votação. A que se deve o prestígio de Horacio Cartes no país?
Ávalos – O fato de que a votação tenha se definido a favor de Cartes não se deve a seu prestígio, por sinal bastante questionado, mas pela estrutura do Partido Colorado, o maior do país, e que regressa para a presidência em que esteve por sessenta anos. De maneira que a tarefa de reconstrução do partido, apontada pelo dinheiro de Cartes, tem a ver com este resultado.
Sul21 – Cartes é acusado de receber milhares de hectares de terra destinados à reforma agrária nos anos oitenta. Há informações sobre isso no livro “La otra cara de Horacio Cartes”?
Ávalos – Na verdade, houve uma decisão mediante a qual foram repassados a Cartes 4.000 hectares. É uma irregularidade, pois a reforma agrária é apenas para os cidadãos que vivem da produção da terra. O livro conta que já naquela época (eram os anos 80) Cartes fora privilegiado, ou seja, Cartes foi privilegiado desde a época Alfredo Stroessner.
Sul21 – Sobre o mesmo tema, e já que o Paraguai é um país com enormes conflitos no campo, como o novo presidente deve manejar o diálogo com os campesinos?
Ávalos – O problema com os campesinos exigirá alguma vez uma definição política, e não econômica, considerando as irregularidades cometidas durante sessenta anos na concessão das terras. Em vinte anos, não se pôde fazer uma avaliação dos cadastros porque não convém a ninguém perder os privilégios já concedidos.
Sul21 – As últimas eleições ocorreram no momento em que o país ainda se recuperava do golpe de Estado que resultou na queda de Fernando Lugo. Como foi possível garantir eleições limpas no Paraguai?
Ávalos – A destituição de Lugo, mais além da sua legitimidade (que creio correta de acordo com a Constituição), se deveu à falta de manejo de Lugo para governar e a uma corrupção sem limites nas concessões do Estado, que possivelmente ele até desconhecia, dada a sua ausência no poder. Por isso, a esquerda que sustentava o luguismo não chegou a 13% dos votos nas últimas eleições.
Sul21 – Quais são os negócios que Horacio Cartes mantém fora da América Latina? Como ele negocia tabaco e bebida para o exterior?
Ávalos – A explicação é complexa e para entender é preciso ler o livro, mas as negociações estão relacionadas com liberações de todo tipo e flexibilidade na aplicação das medidas de controle. E, sobretudo, a uma estrutura criada para facilitar o desenvolvimento dos seus negócios, ilícitos principalmente nos países limítrofes, como Brasil e Argentina.
Sul21 – O novo presidente paraguaio também gerou notícias pela sua atuação frente ao Club Libertad, que em uma década se tornou uma força do futebol de Assunção. Como dirigente de futebol, que artifícios se utilizou Horacio Cartes?
Ávalos – Cartes ingressou no futebol como um negócio, gerenciando um clube tradicional, o que permitiu vantagens na transferência de jogadores que não estavam permitidas normalmente. Ele incrementou o orçamento, criou um sistema de promoção de jogadores, trazendo de clubes menores, do interior, e transferindo a preços multiplicados para a Europa, com grandes benefícios.
Sul21 – O livro “La otra cara de Horacio Cartes” foi feito a partir de uma longa pesquisa. Cartes, como empresário, já despertava a desconfiança da imprensa paraguaia?
Ávalos – O trabalho no livro começou em 1985, quando se produziu o primeiro delito de Cartes, o da evasão de divisas, operação mediante a qual se simulava a importação de produtos agrícolas subsidiados por um preço do dólar menor que o oficial. O dinheiro chegava sem que se houvesse feito as importações, e se vendia na rua com os benefícios lógicos. A partir daí, esteve envolvido em outras operações, especialmente com o Brasil, há denúncias até de contrabando de diamantes, etc.
Sul21 – Com Cartes, o Partido Colorado irá retornar à presidência do país que governou por sessenta anos, cerca de trinta deles com Stroessner. Quais as heranças da ditadura que ainda são visíveis na estrutura do partido?
Ávalos – O governo de Stroessner fundou uma dinastia em que as pessoas próximas enriqueceram mediante privilégios como a concessão das terras, o contrabando, a corrupção, as prebendas públicas (só tinham direito aos cargos do Estado os colorados, e para ser professor ou membro das Forças Armadas, por exemplo, era preciso ter um papel de filiação). Esse costume se estendeu até agora, e ainda existem vestígios dessas práticas, que curiosamente foram repetidas por gente de outros partidos no poder (como com Lugo e o Partido Liberal).
Sul21 – Quais os processos mais importantes pelos quais Cartes ainda responde na Justiça do Paraguai? No Brasil, também há um processo registrado contra ele – a empresa Souza Cruz entrou na Justiça do Rio de Janeiro contra a Tabacalera del Este, de propriedade de Cartes. De que maneira essa empresa atua no mercado brasileiro?
Ávalos – Por agora, Cartes não tem juízos pendentes com a Justiça dentro do Paraguai, ainda que seja possível que sim no Brasil. Sua organização foi demandada centenas de vezes como proprietária do Banco Amambay, e das quatro causas que teve na justiça ordinária (evasão, homicídio doloso), houve extinção da causa.
Sul21 – Como o público recebeu o livro “La otra cara de Horacio Cartes” em Assunção? E fora do país, houve interesse e curiosidade pelos negócios de Horacio Cartes?
Ávalos – É um orgulho para mim que o livro tenha batido todos os recordes de venda conhecidos até agora no país, o que demonstra a sua seriedade e confiabilidade. Recebi ameaças e, é claro, questionamentos pessoais, mas nenhum relacionado com a veracidade dos documentos apresentados na obra. No exterior, os colegas me brindaram uma ampla cobertura em todo o mundo, e houve notas em jornais como The New York Times, The Guardian, Clarín e Página 12. Creio que é o suficiente para explicar a repercussão.
O empresário Horácio Cartes, 65 anos, que foi eleito presidente do Paraguai pelo Partido Colorado , é dono de uma empresa do setor tabagista, a Tabacos del Paraguay S. A., e de uma produtora de bebidas chamada Bebidas del Paraguay, além de ser o dirigente da equipe de futebol Libertad. Cartes formou-se como técnico em motores de avião em uma escola de Tulsa, em Oklahoma nos Estados Unidos. Tinha apenas 19 anos quando deu início às suas atividades comerciais.
A entrada de Horacio na política ocorreu em 2009, com sua filiação ao Partido Colorado. No ano seguinte, ele ajudou a fundar o Movimento Honor Colorado (Movimento Honra Colorada), sob a liderança do ex-presidente, Nicanor Duarte Frutos.
Ganhou as eleições internas do Partido Colorado ocorridas em novembro de 2012, superando o candidato da Frente para la Victoria, Javier Zacarías Irún, quando este se converte em candidato oficial à presidência do país.
Acusações de lavagem de dinheiro e narcotráfico
Em um dos relatórios da “CPI da Piratería” da Câmara de Deputados do Brasil, a empresa de propriedade de Cartes, a TABESA (Tabacalera del Este SA), de Ciudad del Este, figura como uma das empresas que contrabandeiam cigarros paraguaios ao país vizinho. Ou seja, o novo presidente do Paraguai pode estar envolvido em um sistema a de contrabando de cigarros que abastece o mercado informal brasileiro.
Além disso, executivos relacionados com as empresas de Cartes, como Juan Carlos Ramírez Villanueva e Eduardo Campos Marín, têm os nomes envolvidos em investigações por crimes econômicos no Brasil. Como o seguinte decreto do Superior Tribunal de Justicia brasileiro: “o Superior Tribunal de Justiça decretou a prisão preventiva do paraguaio Juan Carlos Ramírez Villanueva, acusado por crimes de lesa ao sistema financeiro nacional, pelo suposto desaparecimento de mais de 35 milhões de reais em operação não autorizada pelo mercado”.
Em março de 2000, a Dinar apreendeu 343 quilos de maconha e 20 quilos de cocaína de um dos aviões que aterrissaram na fazendo Esperanza, de propriedade de Horacio Cartes. Além disso, o mais novo representante do Partido Colorado no Paraguai, comprou, na década de 90, uma fazenda que pertencia ao brasileiro Milton Machado, o qual esteve envolvido em denúncias de que aviões carregados com cocaína haviam sido interceptados em nesse local.
O senador Zezé Perrella (PDT-MG) saudou o presidente do Paraguai, Horacio Cartes, em sua visita ao Senado (30 de setembro passado) e afirmou que, no que depender dos senadores brasileiros, “o Paraguai já é do Mercosul.”
Perrella esteve com Cartes pouco antes de sua eleição, e em rápidas palavras no Salão Nobre do Senado destacou suas qualidades de empresário e homem público, salientando ter ele condições de realizar um governo de promoção do desenvolvimento econômico e de inclusão social no país vizinho.
Horácio Cartes também dirigiu um clube de futebol paraguaio, o Libertad, surgindo daí a amizade com o senador mineiro, então presidente do Cruzeiro.
Diferente de Perrella, Cartes nasceu em berço de ouro.O pai de Cartes era o proprietário de uma companhia de franquia da Cessna Aircraft. Horacio Cartes estudou engenharia aeronáutica nos Estados Unidos. Com dezenove anos começou um negócio de câmbio de moeda que cresceu no atual Banco Amambay. Nos anos seguintes, Cartes adquiriu ou ajudou a criar 25 empresas, incluindo Tabesa, a maior fabricante de cigarros do país, e uma grande empresa de engarrafamento de suco de frutas. Magnata do tabaco, preside desde 2001 o Club Libertad, equipe de futebol do Paraguai. Em 2000, a polícia antidrogas apreendeu um avião que transportava cocaína e maconha em seu rancho. Cartes alegou que o avião fez um pouso de emergência em seu complexo e que não tinha envolvimento com o tráfico de drogas e era contra a legalização das drogas.
Conforme dados de 2010 revelados pelo Wikileaks, Cartes é investigado por lavagem de dinheiro.
Direitista e conservador, Cartes declarou que “atiraria nos próprios testículos” caso tivesse um filho gay. Comparou os gays a macacos e considera o apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo “o fim do mundo”.
Lavagem de dinheiro
Horacio Cartes alvo de processo no Rio de Janeiro
Reportagem publicada no jornal Página/12, Argentina. Tradução do Cepat
A Tabacalera del Este S. A. (Tabesa), empresa de propriedade do presidente eleito do Paraguai, Horacio Cartes, figura como acusada num processo aberto na Justiça brasileira. A denúncia judicial, apresentada pela gigante do setor tabaqueiro, Souza Cruz, tramita na Quarta Jurisdição Empresarial do Rio de Janeiro. O juiz Mauro Pereira Martins já emitiu uma sentença preliminar em que afirma que há “prova documental robusta” da prática de atos de concorrência desleal, diante do notório fornecimento ao mercado brasileiro de “massa volumosa de produtos fabricados pela (empresa) acusada”.
O magistrado espera, atualmente, que a defesa dos executivos da Tabesa, de Assunção, apresente seus argumentos através de uma carta enviada à capital paraguaia. Segundo uma reportagem publicada ontem, pelo jornal brasileiro “O Globo”, o presidente eleito do Paraguai também teria sido mencionado no relatório de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), da Câmara baixa brasileira, que, em 2003, atuou sobre supostos fatos vinculados com o crime de pirataria.
O documento da Justiça brasileira afirma que a Tabesa – controlada por Cartes e por José María Cases Ribalta – “é considerada a empresa mais profissionalizada do Paraguai e seus produtos tem como destino as regiões sul e sudeste do Brasil”. O relatório afirma que as vendas ao mercado brasileiro são operadas por Fahd Yamil, investigado pela suspeita de ligações com o crime organizado. A reportagem, realizada pelo jornalista brasileiro José Casado, afirma que Cartes é alvo de uma investigação sobre lavagem de dinheiro, iniciada pelos Estados Unidos, em 2009, e que é dirigida para entidades financeiras reais, seus executivos e facilitadores da lavagem de dinheiro na Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai).
Segundo Casado, um relatório elaborado em janeiro de 2010, por Douglas W. Poole, chefe de Inteligência da Agência Norte-Americana Antidrogas (DEA), destaca que seus agentes se infiltraram na empresa de lavagem de dinheiro de Cartes, uma organização que, segundo se acredita, “lava grandes quantidades de moeda (dólares) obtidas por meios ilegais, incluindo a venda de entorpecentes” da Tríplice Fronteira para os Estados Unidos.
A empresa investigada pelo operativo – supostamente batizado “Coração de Pedra” – seria o Banco Amambay, principal financiador da Tabesa, acrescenta a nota. As suspeitas sobre Cartes também foram tema do livro “La outra cara de HC”, uma investigação que demandou vários anos e cujo objetivo seria revelar a personalidade do agora presidente eleito do país. O livro foi lançado no dia 2 de abril, pelo jornalista paraguaio César “Chiqui” Avalos, que, desde então, permanece supostamente refugiado no Brasil, por sugestão de seus amigos, diante do risco de alguma represália, segundo declarou, recentemente, aos meios de comunicação locais. Este texto conta com três edições esgotadas e “é vendido como pão fresco”, pelo menos em Assunção, segundo apontou o empregado de uma livraria do centro da cidade.
Nas 268 páginas, inclui-se a documentação sobre os processos judiciais e as denúncias feitas contra Cartes, desde 1985, quando se descobriu um escândalo com divisas, que teria prejudicado o Estado paraguaio em cerca de cem milhões de dólares. O então principiante empresário teria se favorecido com a compra de dólares a preços preferenciais, destinados à importação de maquinaria agrícola e industrial e que, presumivelmente, colocava novamente no mercado a quase o dobro de seu preço. Foi julgado e preso, durante alguns meses, por “acumulação de autos na evasão de divisas”, e quando recuperou a liberdade foi viver, durante quatro anos, numa uma cidade brasileira fronteiriça com o Paraguai, até retornar ao país guarani, em 1989.
Em 2008, foi absolvido após seus advogados ganharem um pleito iniciado contra o Banco Central (BCP), que havia qualificado de inconstitucional a sentença de descumprimento do caso. Diante do questionamento sobre o motivo da absolvição de Cartes pela Justiça, Avalos denuncia a conivência de políticos, empresários e funcionários de diferentes repartições do Estado, que contribuíram com o desaparecimento de expedientes e provas para eliminar rastros. Contudo, além disso, diz respeito àquilo que seu compatriota Helio Vera, certa vez, definiu como “Paraguayología”, conceito cunhado em tom de humor para retratar o espírito de uma nação em que “existe corrupção como em todos os países do mundo, mas tanta impunidade como em nenhum outro”.
A 45ª Cúpula do Mercosul terminou hoje (12) com a adesão de um novo membro, a Bolívia, e três duras declarações: todas elas políticas e relacionadas ao escândalo de espionagem, desencadeado pelas revelações Edward Snowden, ex-funcionário de uma empresa que prestava serviço para a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA).
O Brasil, a Argentina, o Uruguai, a Venezuela e Bolívia convocaram para consulta seus embaixadores nos quatro países europeus que proibiram o avião do presidente boliviano Evo Morales de sobrevoar seus territórios, no último dia 2 de julho. Havia a suspeita infundada de que Snowden estava a bordo do avião presidencial.
O americano, que está há quase três semanas no setor de trânsito do Aeroporto Internacional de Moscou, é procurado pela Justiça norte-americana, desde que revelou à imprensa que o governo dos EUA monitora telefonemas e e-mails de cidadãos comuns, empresas e funcionários públicos de vários países – inclusive do próprio Estados Unidos. Quando Evo Morales visitou a Rússia, surgiram rumores de que ele estava transportando Snowden para a Bolívia. Portugal, a Espanha, Itália e França proibiram o avião do presidente de sobrevoar seus territórios, que teve que fazer um pouso não programado na Áustria, onde permaneceu durante13 horas.
“Mesmo que ele [Snowden] estivesse dentro do avião, não se podia fazer isso. Violar tratados internacionais jamais foi feito antes em tempos de paz”, disse a presidenta Dilma Rousseff, em entrevista à imprensa, após o encontro com os presidentes do Mercosul. Convocar embaixadores “para consultas”, na linguagem diplomática, é uma forma de manifestar um profundo mal-estar. Os presidentes do Mercosul também pediram explicações dos embaixadores europeus em seus países, além de exigir desculpas públicas.
As revelações de Snowden foram motivo de outra declaração dura, que não só condena os atos de espionagem como pede à Organização das Nações Unidas que adote normas para impedir que um país viole a soberania de outro e a privacidade de seus cidadãos. “É necessário que haja uma discussão sobre segurança”, disse Dilma, na entrevista. “Eu sou amplamente favorável e defendo com unhas e dentes as redes sociais como conquistas para a liberdade de expressão e a democratização de todas as posições. O Estado não pode usar isso para ser o grande irmão que fiscaliza tudo, que vê tudo e que inibe as pessoas”, disse.
Segundo Dilma, o argumento de que é necessário monitorar vidas alheias para combater o crime e o terrorismo é “inaceitável” e incompatível com as garantias democráticas. Os presidentes do Mercosul também defenderam o direito de um país conceder asilo. Essa posição foi uma resposta às pressões exercidas pelos Estados Unidos a países que ofereceram abrigo político a Snowden – entre eles, a Bolívia, Venezuela e Nicarágua.
A presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, lembrou que o asilo político salvou muitos perseguidos das ditaduras militares latino-americanas. “Quando falamos nessas resoluções, sabemos do que estamos falando porque vivemos histórias trágicas e sangrentas”, disse Cristina, em seu discurso.
Unidos na sua ação internacional, os países do Mercosul ainda não conseguiram solucionar um problema interno: a reincorporação do Paraguai, um dos quatro membros fundadores, junto com o Brasil, a Argentina e o Uruguai. O país foi suspenso há um ano, depois da destituição do então presidente Fernando Lugo. O impeachment-relâmpago foi criticado pelos governos da região, que suspenderam o Paraguai do Mercosul até a posse do presidente eleito, Horacio Cartes, no próximo dia 15 de agosto.
“Todos nós nos comprometemos a comparecer à posse de Cartes”, disse Dilma. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro – que a partir de ontem (11) assumiu a presidência pro tempore do Mercosul – declarou em seu discurso que quer resolver qualquer mal-entendido com os paraguaios. Mas ele foi considerado “pessoa não grata” pelo Congresso paraguaio, que o acusa de ter interferido nos assuntos internos do país, durante o processo de impeachment de Lugo.
Cartes, apesar de dizer que o Paraguai tem interesse de voltar ao Mercosul, não aceita que a Venezuela ocupe a presidência pro tempore do bloco. A opinião pública paraguaia e o Partido Colorado, ao qual Cartes pertence, consideram que foram punidos sem razão, uma vez que a Constituição paraguaia prevê o impeachment de um presidente. (Transcrito do Jornal do Brasil)
Las sospechas que rodean a Cartes fueron tema del libro periodístico La otra cara de HC
LA PISTA QUE LLEGA AL ELECTO PRESIDENTE DE PARAGUAY
La Tabacalera del Este Sociedad Anónima (Tabesa), empresa propiedad del presidente electo de Paraguay, Horacio Cartes, figura como acusada en un proceso abierto en la Justicia brasileña. La denuncia judicial, presentada por el gigante del sector tabacalero Souza Cruz, se tramita en la Cuarta Jurisdicción Empresarial de Río de Janeiro. El juez Mauro Pereira Martins ya emitió un fallo preliminar en el que afirma que hay “prueba documental robusta” de la práctica de actos de competencia desleal, ante el notorio suministro al mercado brasileño de “masa voluminosa de productos fabricados por la (empresa) acusada”.
El magistrado espera actualmente que la defensa de los ejecutivos de Tabesa, desde Asunción, den a conocer sus argumentos a través de una carta enviada a la capital paraguaya. Según un reportaje publicado ayer por el diario brasileño O Globo, el presidente electo de Paraguay también habría sido mencionado en el informe de una comisión parlamentaria de investigación (CPI) de la Cámara baja brasileña, que funcionó en 2003, sobre supuestos hechos vinculados con el delito de piratería.
El documento de la Justicia brasileña afirma que Tabesa –controlada por Cartes y por José María Cases Ribalta– “está considerada como la empresa más profesionalizada de Paraguay y sus productos tienen como destino las regiones sur y sudeste de Brasil”. El informe afirma que las ventas al mercado brasileño son operadas por Fahd Yamil, investigado por sospecha de vínculos con el crimen organizado. El reportaje, realizado por el periodista brasileño José Casado, asegura que Cartes también es blanco de una investigación sobre lavado de dinero iniciada en 2009 por Estados Unidos y que está dirigida a entidades financieras reales, sus ejecutivos y facilitadores del lavado de dinero en la Triple Frontera (Argentina, Brasil y Paraguay).
Según Casado, un informe elaborado en enero de 2010 por Douglas W. Poole, jefe de Inteligencia de la agencia norteamericana antidrogas (DEA), señala que sus agentes se infiltraron en la empresa de lavado de dinero de Cartes, una organización que, según se cree, “blanquea grandes cantidades de moneda (dólares) obtenidas por medios ilegales, incluyendo la venta de narcóticos”, de la Triple Frontera a Estados Unidos.
La empresa investigada por el operativo –supuestamente bautizado “Corazón de Piedra”– sería el Banco Amambay, principal financiador de Tabesa, agrega la nota. Las sospechas que rodean a Cartes también fueron tema del libro La otra cara de HC, una investigación que demandó varios años y cuyo objetivo sería develar la personalidad del ahora presidente electo del país. El libro fue lanzado el 2 de abril por el periodista paraguayo César “Chiqui” Avalos, quien, desde entonces, permanece supuestamente refugiado en Brasil por sugerencia de sus amigos, ante el riesgo de alguna represalia, según declaró recientemente a medios locales. Este texto lleva tres ediciones agotadas y “se vende como pan caliente”, al menos en Asunción, según señaló el empleado de una librería del centro de la ciudad.
A lo largo de 268 páginas, se incluye documentación sobre los procesos judiciales y las denuncias hechas contra Cartes, desde 1985, cuando se destapó un escándalo con divisas que habría perjudicado al Estado paraguayo en cerca de cien millones de dólares. El entonces incipiente empresario se habría favorecido con la compra de dólares a precios preferenciales, destinados a la importación de maquinaria agrícola e industrial y que presuntamente colocaba nuevamente en el mercado a casi al doble de su precio. Fue enjuiciado y encarcelado durante unos meses por “acumulación de autos en la evasión de divisas” y cuando recuperó la libertad se fue a vivir durante cuatro años a una ciudad brasileña, fronteriza con Paraguay, hasta que retornó al país guaraní en 1989.
En 2008 fue absuelto luego de que sus abogados ganaran un pleito iniciado contra el Banco Central (BCP), que había calificado de inconstitucional el fallo de sobreseimiento del caso. Ante el interrogante de por qué Cartes fue absuelto por la Justicia, Avalos denuncia la complicidad de políticos, empresarios y funcionarios de diferentes reparticiones del Estado, quienes contribuyeron con la desaparición de expedientes y pruebas para eliminar rastros. Pero además recurre a lo que su compatriota Helio Vera definió alguna vez como “Paraguayología”, concepto acuñado en clave de humor que retrata el espíritu de una nación donde “hay corrupción como en todos los países del mundo, pero tanta impunidad como en ningún otro”. (Página 12)
La victoria debe haber sido fácil para los coordinadores de la conspiración en la embajada norteamericana en Asunción. Lo cierto es que la presidencia de Lugo era un tanto nominal ya que el parlamento, la policía y el ejército estaban del lado de la oposición. Habiendo prosperado durante décadas al calor de las finanzas de la USAID, un conjunto de organizaciones no gubernamentales estaban preparadas para montar protestas masivas en caso que el plan anti-Lugo se paralizara, pero no tuvieron que hacerlo –aparte de la tasa de muertos en Curuguaty—el derrocamiento del legítimo presidente de Paraguay merece figurar como un caso ejemplar en los registros de los servicios de inteligencia de Estados Unidos.
El vicepresidente paraguayo, Federico Franco, juramentado sin demora al tiempo que Lugo era depuesto, permanecerá en el cargo hasta el fin del período presidencial de este en el mes de agosto del 2013. Las elecciones se realizarán en el mismo mes y Washington abiertamente apoya al líder el Partido Colorado, Horacio Cartes, empresario que de acuerdo con ABC Color, la DEA lo tuvo como sospechoso de lavado de dinero y complicidad con los carteles de la droga. El vuelco en la reputación de Cartes quedó reflejado en algunos de los cables que publicó Wikileaks y es posible que algunas agencias norteamericanas hayan conformado un conjunto de informes que involucran a Cartes y que Washington no tendrá ninguna dificultad para mantenerlo bajo estricto control –al igual que a no pocos presidentes latinoamericanos.
En la Red se encuentran varias versiones sobre el incidente armado de Curuguaty. Una posible explicación es que la responsabilidad fue de Blas Riquelme quien contrató a varios francotiradores a través de sus contactos en las fuerzas armadas, aunque no queda claro por qué los francotiradores dispararon contra la policía. Una versión alternativa sostiene que el episodio fue una provocación montada por el Ejército Popular Paraguayo, un grupo clandestino supuestamente formado por la policía para combatir extremistas. Este origen hipotético podría ser la razón de por qué este ejército continúa vivo a pesar del intenso trabajo que se realiza en Paraguay por parte de expertos invitados colombianos y norteamericanos.
Alvarado Godoy escribió en el sitio web titulado “Descubriendo Verdades” que todo el episodio había sido un “montaje fabricado,” básicamente siguiendo un plan preconcebido. Godoy asegura tener información que en la operación participaron los US Navy Seals (grupo comando norteamericano) instalados en Paraguay para entrenar marines paraguayos. La historia no suena descabellada considerando el hecho de que a menudo ciudadanos norteamericanos han sido sorprendidos con armamento de francotiradores en toda América Latina y recientemente en Argentina y Bolivia. Rutinariamente la CIA, la DEA y la Agencia de Inteligencia para la Defensa de Estados Unidos contratan personal para realizar operaciones encubiertas en las que se emplean armas de fuego.
Francamente el pronóstico es que el esquema exitosamente probado por Estados Unidos en Honduras y Paraguay –deposición pseudo-constitucional de presidentes rebeldes—será aplicado de manera profusa en América Latina en los próximos años. En todo caso, Washington sería ingenuo si creyera que la violencia resultante puede ser contenida. En Honduras, el gobierno títere de P. Lobo se aferra al poder recurriendo a una campaña terrorista que ya ha cobrado cientos de vidas de políticos, periodistas, sindicalistas, estudiantes y líderes indígenas progresistas, cosa que de seguro ocurrirá en el futuro en Paraguay.