
Na manhã de segunda-feira (5), funcionários do departamento de Jornalismo da Rádio CBN Curitiba (90,1 FM) paralisaram a programação local até o meio-dia.
Em nota oficial, os funcionários da rádio demonstram sua insatisfação “com a falta de esclarecimentos sobre denúncias de um caso que comprometeu o ambiente de trabalho”. Os funcionários da CBN Curitiba também cobraram “providências em relação aos fatos e a abertura de um diálogo com a equipe”.
Uma funcionária da rádio, que pediu para não ser identificada, disse que o comentarista Airton Cordeiro assediou “com palavras muito grosseiras” pelo menos cinco mulheres, entre elas uma estagiária de Jornalismo. As demais eram secretárias e recepcionistas e, após a denúncia da estagiária, outras mulheres, que inclusive já saíram da CBN, também fizeram denúncias.
A respeito da saída do diretor de Jornalismo, José Wille, a funcionária disse que ela se deu por uma divergência entre ele e a diretoria na condução deste caso. “Hoje nós paramos porque queríamos a segurança de que o Airton Cordeiro não voltará mais à CBN, já que blogs estavam dizendo que ele voltaria e não tínhamos nenhuma comunicação oficial por parte da empresa”, afirmou a funcionária.
De acordo com o jornalista Marcos Tosi, que leu uma nota no início do CBN Edição da Tarde, por volta das 14 horas, os funcionários da emissora decidiram retomar os trabalhos, após receberem a promessa por parte da direção da rádio de que serão tomadas providências a respeito do caso. Tosi disse também que a direção da empresa se comprometeu a manter o diálogo e que não ocorrerão represálias.
Contudo, logo após ler o comunicado, Tosi anunciou via Facebook seu desligamento da emissora. “Tomei a decisão de me desligar no final de semana; hoje pela manhã, a redação parou por iniciativa própria, por julgar que o ambiente de trabalho estava comprometido. Retardei minha saída para ajudar a mediar um acordo. Os ditames de minha profissão, e mais do que isso, minhas convicções pessoais, levam-me a tomar esta decisão”.
Um jornalista faz assim

Escreveu Marcos Garsia Tosi: Depois de 16 anos, desligo-me da Rádio CBN Curitiba. Foi uma trajetória de muita satisfação profissional e aprendizado como repórter, âncora e chefe de redação. Conheci pessoas admiráveis e vivi experiências únicas no radiojornalismo.
De hábito, não costuma agir por impulso. Tomei a decisão de me desligar no final de semana; hoje pela manhã, a redação parou por iniciativa própria, por julgar que o ambiente de trabalho estava comprometido.
Retardei minha saída para ajudar a mediar um acordo, que reproduzo abaixo.
Os ditames de minha profissão, e mais do que isso, minhas convicções pessoais, levam-me a tomar esta decisão.Na quinta-feira passada (1º), o diretor de jornalismo e âncora do programa CBN Curitiba Edição da Manhã, José Wille, anunciou sua saída da rádio, após 18 anos de trabalho.
Agradeço a todos os ouvintes, jornalistas, amigos e tanta gente que não conheço pessoalmente, que se manifestaram em apoio às medidas que tomamos para esclarecer fatos ultrajantes à honra de colegas funcionárias.
Como chefe de redação, agora ex-chefe, tomei as medidas necessárias, ou seja, apurar os fatos, ouvir as pessoas, relatar à direção e aguardar providências.
Infelizmente, como na antiguidade, o mensageiro da má notícia pagava o preço com a vida (pelo menos neste ponto, evoluímos).
Quanto às ameaças do referido comentarista de processar quem o acusou, digo que aguardo serenamente alguma intimação, com a convicção de ter ao meu lado a verdade, o depoimento espontâneo de cinco colegas e o apoio de todo o grupo de funcionários da CBN Curitiba – não só da equipe de jornalistas, de que tanto me orgulho.
Que fique este esclarecimento.
Houve o afastamento liminar do pivô da crise, mas estávamos aflitos por uma manifestação pública, um esclarecimento oficial aos ouvintes (que nos cobravam o tempo todo) e à equipe; esperávamos ainda uma tentativa de reparação dos danos no ambiente de trabalho.
A saída do diretor de Jornalismo, mensageiro da má notícia, agravou o quadro.
Os que pediram demissão tomaram suas decisões sem consultarem-se mutuamente ou combinarem qualquer coisa. O fato ilustra a magnitude do problema e a chegada a um ponto máximo de tensão.
Quando os bombeiros chegaram, o fogo já havia destruído muita coisa.
É fato, a empresa não demitiu os jornalistas; nós pedimos demissão, no meu caso, irrevogável.
Com essas palavras, termino o relato sobre o caso.
Um professor de Jornalistas
Sobre José Wille, Tosi deu o seguinte Testemunhal: “Foi meu melhor professor de jornalismo na Universidade Federal do Paraná; tive o privilégio de fazer ‘residência’ com ele pelos últimos 16 anos. No entanto, as maiores lições que aprendi com ele não são da técnica jornalística, mas lições de vida, de honradez e de integridade”.
- José Wille
A nossa missão fundamental, desde o primeiro dia, em 5 de maio de 1995, foi a de fazer uma rádio correta e realmente útil, voltada prioritariamente ao interesse do ouvinte. E que fizesse diferença em sua vida.
Sair de um trabalho é rotina na carreira de um jornalista. E algumas vezes temos que deixar tudo, justamente por fazer o que julgamos correto. Mas devemos seguir sempre em frente, em busca de outro veículo, para continuar exercendo a nossa missão de informar. Até breve!!”.
Na manhã desta segunda, em seu blog, o jornalista Alvaro Borba também anunciou sua saída da emissora, após quase uma década de trabalho na rádio. Borba agradeceu a oportunidade e enfatizou que a experiência acumulada lhe fez tomar a decisão de deixar a rádio.
Biografia sem mácula
Disse Borba: “Renunciei hoje às minhas funções na CBN Curitiba. Eu estava perto de completar uma década na emissora. Nesse período, uma grande oportunidade de crescimento profissional e pessoal me foi concedida. Sou grato. Quero acreditar que foi graças às experiências acumuladas ao longo dessa quase década que adquiri o amadurecimento necessário para tomar a decisão anunciada aqui. Sei que não está sobrando emprego por aí, mas se há algo mais escasso que emprego é biografia. Biografia, a gente só tem uma”.
Sindijor divulga notinha
O Sindijor-PR divulgou uma nota nesta segunda-feira a respeito da paralisação promovida pelos funcionários da rádio CBN Curitiba, informando que diretores do Sindijor estavam na sede da emissora, ao lado dos jornalistas da empresa.
O comunicado afirma que “relativo aos esclarecimentos sobre assédio sexual, na reunião a empresa recebeu um dossiê com provas – gravações e e-mails – levantadas pela equipe de jornalismo. Diante das evidências, os representantes da empresa afirmaram à equipe jornalística que o acordo que ela tinha com o acusado foi rompido e garantiram que não há possibilidade de seu retorno aos quadros da empresa. A CBN Curitiba também prometeu dar apoio psicológico às funcionárias que sofreram assédio”.
Segundo a diretora de Finanças do Sindijor, Maigue Gueths, que conversou com os jornalistas da CBN Curitiba na manhã desta segunda, na sede da emissora, os jornalistas tiveram muita dignidade na condução do caso. Na opinião da diretora, as denúncias precisam ser apuradas e, caso se confirmem, devem ser levadas para as esferas competentes. [O Sindicato precisa levar o caso para as autoridades policiais, e lutar pela condenação, na Justiça, do criminoso sexual. E não ficar nessa moleza:]
Maigue afirmou também que a diretoria do Sindijor ainda não decidiu quais medidas tomará a respeito do caso, mas que, “se as denúncias forem comprovadas, o responsável pelo suposto assédio poderá ser denunciado no Conselho de Ética do sindicato”. [Isso é mesmo que nada. O Conselho de Ética é enfeite. Não apita nada]
Airton Cordeiro acusa colegas de perseguição
Em entrevista concedida ao Paraná Online, por telefone, o comentarista Airton Cordeiro repudiou as acusações de assédio sexual e disse que está sendo vítima de uma “campanha sórdida” para afastá-lo da emissora.
“Eu estava nos EUA com toda a minha família festejando meus 50 anos de casamento. Quando retornei, no dia 18 de julho recebi esta notícia de assédio sexual e, com toda certeza, isto foi montado dentro da rádio, já que o Wille fazia restrições contra a minha presença porque eu fui convidado pessoalmente pelo proprietário da emissora, Joel Malucelli”.
“Houve a denúncia e em nenhum momento eu fui ouvido e a minha testemunha é o Eli Thomaz de Aquino, diretor da rádio”.