Cunha e Temer tentam primeiro impeachment de deputados golpistas

Nenhum presidente brasileiro foi derrubado por um impeachment. Será que o bandido Eduardo Cunha e seu parceiro, o policial Michel Temer, articulador da emenda da reeleição de Fernando Henrique vão conseguir esse (mal)feito?

Correu muito dinheiro no Congresso para comprar deputados e senadores para aprovar a reeleição. A concessão de rádios e televisões, que hoje promovem o golpe contra Dilma, foi uma das moedas da negociação.

Michel Temer, da bancada da bala, nomeado três (3) vezes secretário da Segurança, comandante das polícias civil e militar de São Paulo, por ser um deputado do baixo clero, foi escolhido para agenciar os votos. Em troca, pelos serviços prestados, Fernando Henrique elegeu Temer presidente da Câmara dos Deputados.

Escreve José Carlos Ruy: Um episódio mal conhecido da história republicana ocorreu em 1954 mas ficou eclipsado pela crise final do governo de Getúlio Vargas, que terminou em 24 de agosto daquele ano, com o suicídio do presidente.

Trata-se da tentativa de impeachment contra o presidente Getúlio Vargas, ocorrida em 1954, e que fez parte da investida da direita contra mudanças políticas e sociais no Brasil.

Foi a primeira vez em que se usou a Lei de Impeachment (Lei nº 1.079/1950) contra um presidente da República. Aquela lei, adotada no último ano do governo direitista do marechal Eurico Gaspar Dutra (foi publicada em 10 de abril de 1950) e pode-se supor que, naquela conjuntura (em que era provável vitória de Getúlio Vargas nas eleições presidenciais marcadas para 3 de outubro daquele ano) foi feita justamente para permitir a remoção do poder de um presidente que ameaçasse os interesses e privilégios dos setores mais reacionários da classe dominante.

A candidatura de Vargas naquele ano era certa, e a direita temia sua vitória (como, hoje, teme a vitória de Lula em 2018). A Lei do Impeachment foi adotada no mesmo contexto em que o jornalista e líder direitista Carlos Lacerda escreveu, no jornal Tribuna de Imprensa, a frase que melhor exprime o espírito golpista dos setores reacionários contra a estabilidade política e contra os governos progressistas e avançados, ontem e hoje: Vargas “não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”.

(…) O processo de impeachment contra Vargas foi apresentado à Câmara dos Deputados em 1953. O autor da proposta foi Wilson Leite Passos, militante de extrema-direita da UDN (União Democrática Nacional), antepassada do PSDB de hoje. Passos, que mais tarde foi deputado pela UDN, era raivosamente anticomunista; orgulhava-se de ser dono de uma pistola alemã Walther, que teria pertencido a um oficial alemão durante a 2ª Grande Guerra e devia ter matado “muito russo, muito comunista”, disse Passos muitos anos depois numa entrevista ao jornalista Mário Magalhães.

O pedido de impeachment foi votado em 16 de junho de 1954, numa sessão com a participação de 211 deputados –136 votaram contra ele, a 35 votos, e 40 se abstiveram. Transcrevi trechos. Leia mais sobre a derrota do impeachment contra Getúlio Vargas

Escreve Luís Barrucho: Wilson Leite Passos, um dos fundadores da antiga UDN (União Democrática Nacional), entrou para a história como autor do primeiro pedido de impedimento aberto contra um presidente brasileiro.

O alvo era Getúlio Vargas (1882-1954), acusado de favorecer o jornal Última Hora e tentar implantar o que chamavam de “República Sindicalista” no Brasil.

Com a Câmara a seu favor, o “pai dos pobres” sobreviveu ao impedimento (…)

Apoiador do golpe militar de 31 de março de 1964, que depôs o então presidente João Goulart e extinguiu os partidos políticos, decidiu filiar-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), base de sustentação do governo.

Leite Passos criou o Serviço Municipal de Eugenia, que funcionou de 1956 a 1975, oferecendo exames pré-nupciais, pré e pós-natais e orientação psicológica a casais, de forma a obterem “filhos sadios e famílias equilibradas”. Leia mais 

O caso Fernando Collor é interessante, ele renunciou antes da votação do impeachment.

Collor renunciou em 29 de dezembro de 1992, e no mesmo dia Itamar Franco assumiu o cargo de presidente.

Acontece que os parlamentares decidiram promover o teatro. Reunidos em plenário para a votação do impeachment, decidiram que o presidente não poderia evitar o processo de cassação, pela apresentação tardia da carta de renúncia.

O libertador da América Latina e os golpistas tucanos

simon-bolivar escravidão do povo

 

Ia escrever um artigo para comparar a República do Paraná à República do Galeão, quando descobri que Paulo Moreira Leite fez esta analogia.

Outra similitude a campanha de transformar o segundo governo de Dilma Rousseff no inferno terrorista que armaram para João Goulart, com o apoio da CIA, que antes da posse e durante todo o governo teve que enfrentar a consumada ameaça golpista.

“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”, disse Karl Marx.

Sem guerra civil o Brasil conquistou a Independência, libertou os escravos e proclamou a República. Nas Américas, os Estados Unidos teve a tragédia das guerras da Independência e da Abolição da Escravatura. Nos Andes, Simón Bolívar e José de San Martín venceram as guerras de independência da América Espanhola do Império Espanhol. O México fuzilou o imperador Maximiliano.

Até quando o Brasil viverá a farsa dos golpes e contragolpes?

Parece que o PT não possui uma estratégia política contra os porta-vozes de uma nova ditadura. Basta citar dois corruptos. Fernando Henrique, talvez demente, deita um discurso refeito nas redações da vendida grande imprensa. E Aécio Neves, com a mente entorpecida, teima em continuar no palanque eleitoral, pretendendo estender para o Brasil uma legenda de medo, financiada pelo bilionário tráfico de nióbio, que submeteu Minas Gerais, conforme denúncia de Marco Valério no Congresso. Este ano, em janeiro, Aécio mandou a polícia e a justiça prender o jornalista Marco Aurélio Caronte, que só foi solto depois do segundo turno eleitoral. Existem outros presos políticos do PSDB no País da Geral.

engano bolivar

O Brasil pariu, certa vez, uma república dos governadores. E faz que não vê uma ditadura dos tribunais de justiça estaduais. Nem preciso ressaltar que todo autoritarismo é corrupto.

 

 A VOLTA DA REPÚBLICA DO GALEÃO

 

Campanha anti-PT de delegados da Polícia Federal lembra desvios de IPM da Aeronáutica que emparedou Getúlio Vargas em 1954

 

por Paulo Moreira Leite

 

Galeão

 

Em reportagem publicada no Estado de S. Paulo, Julia Duailibi revela que delegados encarregados da investigação da Operação Lava Jato utilizaram-se de redes sociais para fazer campanha a favor de Aécio Neves e ofender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff.

A reportagem mostra uma moblização política-policial com poucos antecedentes históricos. Descreve delegados engajados partidariamente para combater e desmoralizar personagens centrais de uma investigação em curso, sob seus cuidados.

Um dos coordenadores da Lava Jato referiu-se a Lula como “essa anta.” Um outro participa de um grupo no Facebook cujo símbolo é uma caricatura de Dilma com dois incisivos vampirescos, com uma faixa escrita “fora PT,” e proclama que seu objetivo é mostrar que “o comunismo e o socialismo são um grande mal que ameaça a sociedade.”

O aspecto disciplinar do caso está resolvido no artigo 364 no regimento disciplinar da Polícia Federal, que define transgressões disciplinares da seguinte maneira:

I – referir-se de modo depreciativo às autoridades e atos da Administração pública, qualquer que seja o meio empregado para êsse fim.

II – divulgar, através da imprensa escrita, falada ou televisionada, fatos ocorridos na repartição, propiciar-lhe a divulgação, bem como referi-se desrespeitosa e depreciativamente às autoridades e atos da Administração;

III – promover manifestação contra atos da Administração ou movimentos de apreço ou desapreço a quaisquer autoridades;

Em 1954, quando o major Rubem Vaz, da Aeronáutica, foi morto num atentado contra Carlos Lacerda, um grupo de militares da Aeronáutica abriu um IPM a margem das normas e regras do Direito, sem respeito pela própria disciplina e hierarquia.

O saldo foi uma apuração cheia de falhas técnicas e duvidas, como recorda Lira Neto no volume 3 da biografia Getúlio, mas que possuía um objetivo político declarado — obter a renúncia de Vargas. Menos de 20 dias depois, o presidente da República, fundador da Petrobras, dava o tiro no peito.

Em 2014, nem é preciso perder tempo em perguntas sobre a isenção dos policiais, sobre foco, sobre indispensável distanciamento profissional para produzir provas consistentes e críveis. Está tudo claro.

A desobediencia a determinações claríssimas do regimento da PF sinaliza uma fraqueza profissional inaceitável.

Fica difícil saber até onde foi uma investigação necessária em torno da Petrobras — e onde ocorreu algo que tem características de uma conspiração, tipica de quem se vale de seus postos no Estado para atingir finalidades políticas.

Quem terá coragem de negar que as mais graves suspeitas que rondam o inquérito desde o início, de que seria uma investigação dirigida para causar prejuízos imensos ao Partido dos Trabalhadores, evitando comprometer políticos e legendas da oposição, ganharam veracidade e consistência a partir de hoje?

Como duvidar de uma ululante teoria do domínio do fato para tentar colocar a presidente e o ex num escândalo cujo alcance ninguém conhece?

Em 2004, quando ocorreu a primeira denúncia contra o Partido dos Trabalhadores, apareceu um vídeo onde Waldomiro Diniz, assessor parlamentar do PT, pedia propina para o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Semanas depois, surgiu uma gravação, onde o procurador Roberto Santoro, que conseguiu a gravação, apela a Cachoeira para lhe entregar a fita, usando um argumento claríssimo: “pra ferrar o chefe da Casa Civil da Presidência da República, o homem mais poderoso do governo, ou seja, pra derrubar o governo Lula…”

A primeira gravação foi um escândalo. A segunda, logo caiu no esquecimento — embora fosse indispensável para compreender a primeira. Isso porque atrapalhava o esforço da oposição para criminalizar o governo do Partido dos Trabalhadores.

Resta saber, agora, o que será feito com o anti-petismo militante e radical dos delegados.

Responsável pela Polícia Federal, o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo anunciou a abertura de uma investigação.

“É importante dizer que, se por um lado os delegados têm todo o direito de se manifestar a favor do candidato A, B, C ou D, contra partido Y, contra partido Z, de outro lado, quem conduz uma investigação deve ser absolutamente imparcial, até para que não traga nulidade ao processo”, afirmou Cardozo. Ele acrescentou que “a manifestação é livre, mas um delegado não pode conduzir uma investigação parcialmente, pelas suas convicções intimas, nem divulgar informações sigilosas”.

Nessas horas, é bom evitar confusões. Até agora ninguém questionou o direito dos delegados terem suas próprias opiniões políiticas. Quem coloca essa carta na mesa apenas ajuda a embaralhar uma discussão séria e urgente. Delegados e agentes da PF são brasileiros como os outros, em direitos e obrigações. Da mesma forma que existem policiais tucanos, também existem eleitores de Dilma, de Marina e dos outros candidatos. Isso não está em questão.

O que se questiona é um comportamento indisciplinado e desrespeitoso, que está longe de configurar um caso menor. A indisciplina não é uma reação de garotos e garotas mal comportadas na sala de aula. É um ato político.

Em 2006, foi a indisciplina de um delegado da Polícia Federal, eleitor assumido do PSDB, que forneceu imagens do dinheiro apreendido no caso dos aloprados, que garantiu uma cena que assegurou a realização de dois turnos na eleição presidencial.

Também se questiona outra coisa. Assim como acontece com militares, delegados são cidadãos que tem várias regalias — inclusive o porte de arma — no exercício de suas funções.

A sociedade lhes dá este direito porque confia em sua capacidade não só para obrigar os outros brasileiros a respeitar a lei e a ordem — mas também em sua disposição para dar o exemplo e submeter-se às peculiaridades que a lei e a ordem reserva para quem tem o direito de portar armas, abrir inquéritos, denunciar e acusar.

Esta é a questão. Basta recordar que foram — justamente — personagens e supostas revelações da Lava Jato que alimentaram a tentativa de golpe eleitoral midiático de 26 de outubro para se entender a importância de apurar cada passo, cada mensagem, cada iniciativa dos delegados denunciados.

 

 

 

simon  bolivar -pensamiento

Governo Fernando Henrique “não criou” museu, universidade, “e entrou em choque com a maioria dos professores universitários”

educação apatia analfabeto político indignados

 

Escreve o professor Theotonio dos Santos: “Vocês [do PSDB] vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo”.

Segue parte do trecho final da carta aberta a FHC, que Renato Rovai classificou como “uma das manifestações públicas mais demolidoras da nossa história política recente”.

Este é o quarto post que publico da “carta que merece ir para os livros de história”, acrescenta Renato Rovai.

 

 

O capitalismo dependente de São Paulo

 

discurso_elitista-fhc

 

Meu Caro Fernando,

 

Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso fazê-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.

(…) Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o vedadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora.

Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.

Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço
Theotonio Dos Santos

 

BIOGRAFIA 

Theotonio_dos_Santos

Born in Carangola, Brazil in 1936. Sociologist, PhD economics, MSc. political science. He has been Professor of the University of Brasilia, UNAM, Northern Illinois, Upstate New York, Catholic of Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bennett Institute of Rio de Janeiro and Minas Gerais Federal.

Currently, he is a Professor of the Fluminense Federal University and coordinator of UNESCO – the United Nations University on Global economy and sustainable development. Its contribution to the formulation of the concept of dependency, the different phases of dependency within the history of globalization and accumulation has been very important.

He has held positions as: Director of the Centre for Socio-economic studies of the University of Chile (CESO); Director in the Division of Post-graduate Economics-UNAM (Mexico); Board of Directors of the postgraduate program in environmental science, UFF, and the Secretary of International Affairs for the Government of Rio de Janeiro.

His works include: (1) Dependency Theory: Balance and Prospects; (2) Forças Produtivas e Relações Produção; (3) Socialism or Fascism: the Latin American Dilemma and the new character of dependence; (4)Imperialism and Dependency and (5) Economia Mundial, Integração Regional e Desenvolvimento Sustentável.

 

En el acto de apertura del VIII Foro de la Asociación Mundial de Economía Política (Florianópolis, 23-26 de mayo de 2013), el científico social brasileño Theotonio dos Santos fue galardonado con el Premio Economista Marxista 2013, que otorga esta entidad desde el año 2011, como reconocimiento a su dilatada producción intelectual que tiene como uno de los ejes la “Teoría de la Dependencia”, habida cuenta de que participó en la sustentación inicial de ella.ALAI

Titulado en economía, sociología y ciencia política, este profesor emérito de la Universidad Federal Fluminense y coordinador de la Cátedra y Red UNESCO-ONU de Economía Global y Desarrollo Sustentable (Reglen) llegó a la Conferencia de la Unión de Naciones Suramericanas sobre “Recursos Naturales para un Desarrollo Integral de la Región” (27-30 de mayo 2013) que tuvo lugar en Caracas, Venezuela (Osvaldo León)

Theotonio dos Santos Júnior (Carangola, 11 de novembro de 1936) é um economista brasileiro. Um dos formuladores da teoria da dependência, atualmente é um dos principais expoentes da teoria do sistema-mundo.

Mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília, doutor em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor emérito da Universidade Federal Fluminense. Coordenador da Cátedra e Rede da UNESCO e da UNU sobre economia global e desenvolvimento sustentável (a REGGEN). Leia mais em Wikipédia 

Entre seus aportes teóricos mais destacados à economia e às ciências sociais estão a contribuição à formulação geral do conceito de dependência, à periodização das diversas fases da dependência na história da acumulação capitalista mundial, à caracterização das estruturas internas dependentes e a definição dos mecanismos reprodutivos da dependência. Tem trabalhado também sobre a teoria dos ciclos, a dinâmica de longo prazo do capitalismo e a teoria do sistema-mundo. Outra contribuição teórica foi a formulação do conceito de “civilização planetária”.

O retorno do avião de Joaquim Barbosa com o cadáver de Genoíno. Para homenagens em várias cidades como aconteceu com Tancredo

Paixao
Paixao

O que motivou a saída do regime fechado para o semi-aberto, não foi a reparação de uma ilegalidade, e sim o medo da morte de Genoíno. Medo do ministro Joaquim Barbosa, que teria seu projeto de ser presidente do Brasil explodido.

A  morte de Genoíno constituiria um acontecimento político/emocional, cujo rastilho de pólvora modificaria a face do Brasil. Remember os casos do assassinato de João Pessoa, que resultou na Revolução de Trinta; do suicídio de Vargas, que adiou o golpe militar de 1954  para 64; e a morte de Tancredo, que consolidou o fim da ditadura.

Desde junho, parte do povo está nas ruas sem uma causa, sem um cadáver e nenhum líder.

“Sou preso político e estou muito doente. Se morrer aqui, o povo livre deste país que ajudamos a construir saberá apontar os meus algozes”, alertou Genoino no microblog Twitter.

Sponholz
Sponholz

Em julho, José Genoíno, deputado do PT, foi submetido a uma cirurgia para correção de uma dissecção de aorta (quando a artéria passa a abrir em camadas, provocando hemorragias) no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele ficou internado na instituição de saúde até o dia 20 de agosto.

O advogado Luiz Fernando Pacheco argumenta que sérios problemas de saúde podem causar a morte dele a qualquer momento, como atesta médica ouvida pela reportagem do Correio do Brasil.

Pacheco aguarda o julgamento do pedido para que Genoino seja reconduzido à casa, em São Paulo, para que cumpra a pena de 6 anos e 11 meses, em regime domiciliar.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous, concorda com a defesa de Genoino: “É sempre bom lembrar que a prisão de condenados judiciais deve ser feita com respeito à dignidade da pessoa humana e não servir de objeto de espetacularização midiática e nem para linchamentos morais descabidos”.

Vários  impedimentos dificultam a justiça conseguir a extradição de Henrique Pizzolato.As condições miseráveis dos presídios brasileiros também servirão de argumento para que Pizzolato seja mantido na Itália. “Qualquer corte italiana concordaria que se houver fundado motivo para supor que a pessoa reclamada será submetida a pena ou tratamento que de qualquer forma configure uma violação dos seus direitos fundamentais, o réu deverá ser protegido”.
Aroeira
Aroeira

A fragilidade da vida do ex-guerrilheiro, de novo lançado a um cárcere, foi alvo de um editorial de Carta Maior, assinado por Saul Leblon:

“Um déspota de toga não é menos ilegítimo que um golpista fardado. (…) A personalidade arestosa que se avoca uma autoridade irretorquível mancha a toga com a marca da soberba, incompatível com o equilíbrio que se espera de uma suprema corte. Desde o início desse processo é nítido o seu propósito de atropelar o rito, as provas e os autos, em sintonia escabrosa com a sofreguidão midiática. Seu desabusado comportamento exalava o enfado de quem já havia sentenciado os réus, sendo-lhe maçante e ostensivamente desagradável submeter-se aos procedimentos do Estado de Direito.

O artificioso recurso do domínio do fato, evocado inadequadamente como uma autorização para condenar sem provas, sintetiza a marca nodosa de sua relatoria. A expedição de mandatos de prisão no dia da República e no afogadilho de servir à grade da TV Globo, consumou a natureza viciosa de todo o enredo. A exceção do julgamento reafirma-se na contrapartida de uma execução despótica de sentenças sob o comando atrabiliário de quem não hesita em colocar vidas em risco se o que conta é servir-se da lei e não servir à lei.

A lei faculta aos condenados ora detidos o regime semi-aberto. A pressa univitelina de Barbosa e do sistema midiático, atropelou providências cabíveis para a execução da sentença, transferindo aos condenados o ônus da inadequação operacional. Joaquim Barbosa é diretamente responsável pela vida do réu José Genoíno, recém-operado, com saúde abalada, que requer cuidados e já sofreu dois picos de pressão em meio ao atabalhoado trâmite de uma detenção de urgência cinematográfica.

Suponha-se que existisse no comando da frente progressista brasileira uma personalidade dotada do mesmo jacobinismo colérico exibido pela toga biliosa. O PT e as forças democráticas brasileiras, ao contrário, têm dado provas seguidas de maturidade institucional diante dos sucessivos atropelos cometidos no julgamento da AP 470. Maturidade não é sinônimo de complacência. O PT tem autoridade, portanto, para conclamar partidos aliados, organizações sociais, sindicatos, lideranças políticas e intelectuais a uma vigília cívica em defesa do Estado de Direito. Cumpra-se imediatamente o semi-aberto, com os atenuantes que forem necessários para assegurar o tratamento de saúde de José Genoíno.

Justificar a violação da lei neste caso, em nome de um igualitarismo descendente que, finalmente, nivela pobres e ricos no sistema prisional, é a renúncia à civilização em nome da convergência da barbárie. Afrontar o despotismo é um predicado intrínseco à vida democrática. Vista ele uma farda ou se prevaleça de uma toga, não pode ser tolerado. A sorte de Genoíno, hoje, fundiu-se ao destino brasileiro. Da sua vida depende a saúde da nossa democracia. E da saúde da nossa democracia depende a sua vida”.

Sexo & poder: uma ‘mistura explosiva’

por Renato Dias

Loira, olhos verdes, curvas estonteantes, bumbum arrebitado, 33 anos de idade. O bastante para o deputado estadual e presidente do PMDB de Goiás, Samuel Belchior, uma estrela em ascensão no cenário político estadual, ser seduzido. O encanto terminou na Operação Miqueias, executada pela Polícia Federal (PF), em setembro último. Mais um exemplo que revela que sexo e poder constituem, na História, uma ‘mistura explosiva’.

Casado com Darcy Vargas, Getúlio Vargas, o homem da revolução de outubro de 1930 que mandou e desmandou no Brasil de 1930 a 1945 e, depois, de 1950 a 1954, e que entrou para a história ao montar o Estado Nacional e suicidar-se no mês de agosto, vivia enrolado em casos extraconjugais. Integrariam a relação de supostas amantes do gaúcho de São Borja, Aimeé Soto Mayor Sá, Virgínia Lane e há quem aponte ainda Adalgisa Nery.

Henry Kissinger afirma que o poder seria afrodisíaco

Arquiteto do Plano de Metas, 50 anos em 5, o pé-de-valsa Juscelino Kubistcheck subiu ao altar com dona Sarah Kubistcheck, mas trocava de amantes como quem muda de roupa.

O então presidente da  República, construtor de Brasília (DF), no Planalto Cetral, viveu um ‘tórrido  romance’ com a socialite Lúcia Pedroso. Bruxo da reabertura, Golbery de Couto e Silva teria usado um diário para chantagear Sarah Kubistcheck.

O “documento”, com detalhes picantes de suas aventuras amorosas, estava no carro onde morrera o ex-presidente da república. A estratégia da ditadura civil e militar era suspender as investigações sobre a morte de JK, ocorrida no ano de 1976. Ex-ministro do Trabalho, João Pinheiro Neto contou em Bons e Maus Mineiros & outros brasileiros (1995), Editora Mauad, que certa vez JK fingiu uma crise de apendicite para esconder o tiro que supostamente levara de um marido traído.

Quase um santo para a mídia tupiniquin, Tancredo Neves, morto em 1985 e sucedido pelo bigode José Sarney, deixou rastros de traição espalhados na poeira do tempo. Da história. Ele receberia o seu affair à Rua Rodolfo Dantas, Rio de Janeiro (RJ). Ela atendia pelo nome de Maria Cecília Serran. João Pinheiro Neto informa que a suposta amante era loura, bonita e possuía dons mediúnicos. “Gostava de se vestir de branco, adepta à proteção de Iemanjá e de exibir jóias caras”, relata o autor.

Myrian Abicair: esse era o nome da amante de João Baptista Figueiredo. Trata-se do último general-presidente a ocupar o Palácio do Planalto. Aquele mesmo que dizia preferir o cheiro de cavalo ao do “povo” e que, ao deixar o poder, pediu que lhe esquecessem. Ela era uma empresária de sucesso, que relata ter frequentado o circuito Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, a capital da República. “Saí do casamento de mãos abanando, por pura opção”. Tereza Collor, morena de pernas torneadas,  boca carnuda, olhos enigmáticos e cabelos lisos e negros,  teria sido um dos motivos que levaram Pedro Collor a denunciar à revista Veja, semanal de maior tiragem no Brasil, o irmão de sangue que virara presidente da República, Fernando Collor de Mello, com a bandeira de “caçador de marajás”. Direto de Alagoas para Brasília. É que ele teria se ‘insinuado’ para a cunhada.

Um sessentão divorciado dono de um topete único,  Itamar Franco, o político de Juiz de Fora (MG) que subiu a rampa do Palácio do Planalto com o impeachment e a renúncia de Fernando Collor de Mello, após escândalo de corrupção  e uma barulhenta Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional, foi flagrado com uma modelo e sambista, sem calcinha, no carnaval do Rio de Janeiro. Era Lilian Ramos. A imagem virou um escândalo mundial. Itamar Franco, porém, nem ligou.

– Rameira, ponha-se daqui para fora! Assim o então senador da República, em 1991, ícone do PSDB, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso (SP) se dirigiu à jornalista da TV Globo, Mirian Dutra, uma catarinense com poder de sedução. FHC, que se tornaria presidente da República e que aprovaria a reeleição, seria o suposto pai do filho da repórter. O abacaxi é que ele era casado. Aliás, muito bem casado com a respeitada, no circuito acadêmico, antropóloga Ruth Cardoso. Desde o ano de 1952 . A mídia abafou o caso por anos e anos.

Ditadores pulavam a cerca

Benito Mussolini, o fascista que dirigiu a Itália, adorava sexo. A sua amante mais famosa foi Ida Dalser. Nascida em 20 de agosto de 1880, ela vendeu as suas propriedades para financiar o jornal Il Popolo dell’Italia . O veículo deu sólida reputação ao Duce. Ao final da segunda guerra mundial, Mussolini foi executado ao lado de sua nova amante, Clara Petacci.

Apesar de não pensar apenas em sexo, John Fitzgerald Kennedy, celebrado presidente dos Estados Unidos morto em Dallas, no turbulento ano de 1963, com um tiro na cabeça, casado com a bela e elegante  Jacqueline Kennedy, entrou para a história por seu voraz apetite sexual. Até Marilyn Monroe, atriz, cantora e modelo norte americana, passou por sua cama.

Tempos depois, o democrata Bill Clinton, amigo do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, quase foi apeado do poder da Casa Branca (sede do poder executivo dos Estados Unidos) por ter mantido “relações impróprias” com uma estagiária: Monica Lewinski. Um escândalo entre charutos e esperma. Nitroglicerina pura. Os republicanos deliravam.

México

Nascido em Yanovka, Ucrânia, sob o nome de Liev Davidovich Bronstein, ele, já como Leon Trotsky, dirigiu a revolução de outubro de 1917, na Rússia, denunciou a destruição da democracia e do socialismo na extinta União Soviética, acabou no exílio do México. Mesmo casado com Natasha Bronstein, arrumou tempo para traí-la, aos 60 anos, com Frida Khalo, mulher de Diego Rivera .

Número 1 do socialismo soviético, o advogado Vladimir Yilich Ulianov, Lênin, era casado com a comunista Krupskaia, mas adorava também casos extraconjugais. O grande amor da vida do moralista Lênin não foi, porém, Elizabeth K e sim a francesa Elisabeth d’Her-benville Armand, mais conhecida como Inessa, informa o editor-chefe do jornal Opção, Euler de França Belém (Leia sem inter.

Revolução

Que Fidel Castro e Che Guevara adoravam mulheres, o Brasil sabe. Agora, que o guerrilheiro comunista, filho de pai italiano e mãe negra de descendência Haussá, Carlos Marighella, já casado com Clara Scharff, também vermelha, manteve relacionamento estável com Zilda Xavier Pereira, da Ação Libertadora Nacional (ALN), foi revelado apenas no ano passado pelo jornalista Mário Magalhães, em Marighella – O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo (2012), Companhia das Letras

Nota do redator do blogue: O sexo tem importância na política. Jawaharlal Nehru conseguiu libertar seu país, e ser o primeiro ministro, pelo seu amor correspondido por Edwina, née Ashley, casada com o lorde Louis (Dickie) Mountbtten, o último vice-rei britânico na Índia.

e neruh

Nehru e Edwina
Nehru e Edwina

A história do tiro em JK é contada com outros políticos, inclusive Jango. Um tenente, aviador particular de Jango, teria lhe dado um tiro que pegou na perna.  A versão oficial: Goulart mancava de uma perna, resultado de uma queda de cavalo.

A lista das mulheres de Getúlio se parece muito com a de Hitler.

Adalgisa Nery, viúva do pintor Ismael Nery, casou com Lourival Fontes, diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda de Getúlio. Para abafar os boatos de homossexualidade, Lourival espalhava casos de Getúlio com as cantoras de rádio.

Goebbels. ministro de Propaganda do Reich, gostava de fotografar Hitler ladeado por artistas de cinema. Goebbels dizia que sua esposa Marian foi noiva de Hitler.

Outro que tinha fama de homossexual era Itamar. A foto da vedete sem calcinha faz parte do mito do sedutor topete.

Adolescente, convidei dom Antônio de Almeida Moraes Júnior, arcebispo de Olinda e Recife, para fazer uma conferência na Academia dos Novos, em Limoeiro. Na viagem de carro, dom Antônio me revelou que Jango, garoto, foi amante de Getúlio. Naqueles tempos, o parceiro ativo não era considerado homossexual.

Lembrando o senador Luiz Carlos Prestes, o mais votado de todos os tempos

por Carlos Chagas
preste 0

prestes01

prestes02

prestes3

Pena que os jornalões tenham dedicado pouco ou nenhum espaço à sessão de quarta-feira passada, no Senado, quando foi simbolicamente devolvido o mandato de senador a Luiz Carlos Prestes. Sua família, presente, teve na voz de sua viúva, D.Maria, o eco de uma reparação que já fazia tardar.

Prestes senador

Foi o senador mais votado do país, proporcionalmente, em todos os tempos. Eleito pelo Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em dezembro de 1945, meses depois de libertado após nove anos de prisão infame, encontrou forças para receber 150 mil votos e reorganizar o Partido Comunista, junto com 14 deputados federais eleitos em todo o país.

Curvou-se agora o Senado ao Cavaleiro da Esperança, depois de haver cassado seu mandato em nome do que de mais reacionário existia entre nós, o preconceito ideológico. Na mensagem em que sancionou a lei restabelecendo ainda que tardiamente o mandato de Prestes, a presidente Dilma reconheceu o erro do passado.

SOCIALISMO

Não é preciso concordar com todas as ideias do senador para reverenciá-lo por setenta anos de lutas e perseguições, sofrimento e afirmação de permanente confiança no socialismo. Foi na maior epopeia de resistência contra as oligarquias que ele passou a conhecer o Brasil. Era apenas um rebelde, junto com outros tenentes,apesar de ser capitão, que por 32 mil quilômetros e não 25 mil, mais 1.500 homens, percorreu o interior e tomou conhecimento da miséria que nos assolava. Tornou-se comunista durante aquela cavalgada, ainda que só anos mais tarde tomasse conhecimento da teoria marxista-leninista.

Negou-se a assumir o comando militar e político da Revolução de Trinta, ciente de tratar-se de um movimento burguês que apenas serviria para mudar os personagens da mesma farsa social. Exilado na União Soviética, retornou em 1935, iludido pelas falsas informações de estar o Brasil preparado para a revolução proletária.

Malograda a tentativa, preso, viu-se vítima de uma perseguição pessoal por parte de Filinto Muller, ex-tenente da coluna Prestes condenado à morte pelo próprio comandante, por haver-se apropriado de recursos do movimento rebelde. Fugiu o traidor, tornando-se depois chefe de polícia do governo implantado com a vitória dos revoltosos burgueses. Foi a hora da desforra contra seu antigo chefe, que manteve em condições piores do que as concedidas a animais em cativeiro, conforme Sobral Pinto, seu advogado.

Tropas da polícia especial de Filinto conduz Prestes preso
Tropas da polícia especial de Filinto conduz Prestes preso

Foi em 1945, com o fim da ditadura do Estado Novo e a democratização, que o povo do então Distrito Federal o conduziu ao Senado. Durou pouco o sonho de um país livre. As forças reacionárias cassaram o registro do Partido Comunista, em 1947,e o mandato de seus parlamentares, inclusive Prestes, em 1948.

CLANDESTINIDADE

De novo na clandestinidade,voltou à União Sovietica, de lá retornando em 1958, no governo Juscelino Kubitschek, quando suspensa a proibição de funcionamento do Partido Comunista. Participou da campanha do marechal Henrique Lott a presidente da República,em 1960, derrotado por Jânio Quadros. Integrou-se à luta de Leonel Brizola em favor da posse de João Goulart na presidência da República. Com seu partido, formou ao lado da campanha pela reformas de base, sendo surpreendido com o golpe militar de 1964, que o levou novamente à clandestinidade.

Na lista dos procurados, vivo ou morto, novo período de exílio, mas sem deixar de opinar e de participar, mesmo de longe, dos anos de chumbo do regime então instaurado. Com a anistia no início dos Anos Oitenta, retornou outra vez nos braços do povo, de novo reorganizando o Partido Comunista, como seu Secretário-Geral.

Já encanecido, entrado nos oitenta anos, mais uma armadilha da vida. Viu-se traído pelos companheiros que tinha amparado, destituído da direção do partido e em seguida expulso, por insistir na doutrina inflexível do socialismo. Não compactuou com anões. A natureza seguiu seu curso e apenas agora o Brasil lhe faz justiça.

prestes o velho

Revolução de Trinta: romance e memória por Nei Duclós e Moacir Japiassu

O que aconteceu no outubro de uma revolução brasileira? Um romance e as memórias de ex-combatentes trazem à tona o dia em que o Brasil começou a mudar

Nei Duclós
Especial para o Jornal Opção

Depois de meio século de histórias mal contadas, aos poucos o Brasil inaugurado pela Revolução de 1930 ganha contornos mais nítidos, livres do aparelhamento político de que foi vítima, principalmente a partir do anti-1930, o golpe de 1964. Nestes dois textos, fora da ordem canônica das abordagens, damos um mergulho no que aconteceu na hora agá da revolução nos dois Estados chave do movimento, Paraíba e no Rio Grande do Sul. Um ensaio aborda o romance maior do paraibano Moacir Japiassu e o outro é uma reconstituição do batismo de fogo da guerra que mudou o país no lugar onde a onça bebeu água: Porto Alegre.

História é tiroteio

Linguagem é território livre, mas não deveria estar aberta a certas liberdades. Se o lugar escolhido para moradia for a Paraíba, as palavras precisam seguir a orientação ditada pela sabedoria da terra, e cuidar principalmente da tocaia. Um tiro pela culatra é o que menos aguarda um índio que se aventure na seca abraçada à areia. O que mais assusta é a desventura de ver sua catedral de palha — a percepção que até o momento se alimenta do mundo — sofrer o revés de um pé de vento. Mas para quem é estrangeiro, e queira visitar essas paragens, nada mais resta do que tratar o assunto com as hipérboles do seu espanto, já que o não-nordestino sofre de escassez de entendimento quando se trata de abraçar a Terra do Sol.

Um adventício, especialmente se for criado nas lonjuras sulistas, quando lhe bate a luz excessiva na cara cai na tentação de lembrar o óbvio, de que o caminho escolhido para a criação do mundo foi o verbo, o romance do “Gênesis”. Deus, prudente, preferiu aliar o testemunho por escrito aos seus gigantescos atos. Não fosse assim, quem garantiria crédito ao seu desmesurado esforço? E, melhor: não fosse pela palavra, quem poderia garantir que a encomenda fosse entregue no endereço certo? Pois não bastava inventar, era preciso inventar escrevendo. E assim foi feito o primeiro livro, do qual todos os outros são apenas imagem e semelhança.

O viajante traz na bagagem os arquivos a que está acostumado e quando depara com a Paraíba, por exemplo, é capaz de desistir da empreitada, pois tudo o que vê não poderá amarrá-lo a semelhante paisagem, já que nada ali tem seu feitio, a não ser o idioma, termo mais apropriado do que língua, que serve para diversas licenciosidades. É agarrado ao idioma que o viajante entra na Paraíba, guiado por Moacir Japiassu, que tem, com qualquer viajante, uma identificação plena. Pois ele também, um confesso paraibano auto-exilado, serviu-se da vivência estrangeira para depurar sua criação e entrou de volta não com a curiosidade dos turistas, nem com a condescendência dos que se iludem com os grandes centros, mas com a gana do combatente que volta para algum tipo de desforra.

É bom que se diga: não se trata de vingança, pois nenhum espírito mau sobrevive ao fogo do amor pelo lugar que nos viu nascer e crescer. Mas porque o escritor está empenhado em uma missão in­transferível: a de resgatar o que perdeu, tornando essa herança tão viva para os outros como foi para ele um dia; e tão maior do que qualquer mundo presente.

Todos que estão ao redor de um possuído incorporam as razões da advertência e confidenciam a quantidade de perigos que sugere esse estado. Mas quem é possuído não pela desrazão, mas pela criação obstinada, sabe que não pode voltar atrás. Ele precisa, como Japiassu fez, colocar em ação o moto contínuo de sua febre, composto de uma biblioteca afundada no ermo; um assobiador que é misto de virtuose, intelectual e torturador; um senhor de engenho do mando e do cutelo, dono de escravaria jagunça; outro senhor de engenho solteirão e cheio de remorso; uma sogra carola e terrível; uma esposa apática; uma professorinha na flor do viço e tentada pela esperteza; mais um padre que faz cruzada contra a jogatina. O sezão de Japiassu não se contenta, porém, em dispor esses personagens entre o canavial e a choupana, entre a igreja e a varanda, entre povoados que, no escuro, como ele diz, aglomeram as casas com medo da escuridão. Seu delírio o leva para mais longe.

Ele precisa descobrir, portanto inventar, o engenho de duas guerras acavaladas e isso só pode ser feito se for um leitor compulsivo de tudo o que as armas fizeram nesta nação, onde todos pensam que sabem, mas poucos sabem o que pensam. A revolta de Princesa, no interior da Paraíba, a cavaleiro da revolução de 30, movimento nacional visto aqui pelo prisma revelador do Nordeste, são os espaços históricos da sua incursão à memória mítica do País, ao que nossos pais nos contavam e nenhum livro oficial de história dava crédito. Como as guerras, no Brasil, convivem com as versões que as negam, cabe à literatura desencavar o rebento retido nessa gravidez tardia, que envenena o corpo do Brasil disforme, prenhe de gaiatices sobre revoluções.

O paradoxo é que o material de Japiassu é exatamente essa humanidade sinistra e ao mesmo tempo galhofeira, que é protagonista nos fatos e algoz nas versões. O campo de ação de um escritor fica duplamente minado e agora podemos entender quando Japiassu fala do trabalho que deu reescrever capítulos inteiros, adaptando a linguagem do narrador à fala das personagens. Esse trabalho é fruto do exímio talento aliado à persistência sertaneja, já que Japiassu dá um boi para adiar a escrita de um livro (seus grandes romances só saíram nos últimos anos, depois de décadas de militância na imprensa) e uma boiada para sair dele com a consciência do dever cumprido. O funcionamento desse mundo, que ele resgata inventando, passa pelo cuidado extremo com o detalhe, como o levantamento minucioso de cada peça musical clássica, por exemplo; ou as pistas deixadas pelas revoluções incompreendidas, entre trechos de jornais, manchetes, documentos; ou mesmo o cruzamento entre o clima da terra e o ânimo das pessoas, a geografia e a anatomia. Faz tudo isso usando muitas vezes a linguagem dos brutos: o sexo tem tratamento frontal (mas é praticado de todos os lados), os xingamentos especializam-se na demolição das biografias, o fedor antecipa o tiroteio e assim por diante. E cuida em definir-se pelo pudor dos verdadeiros criadores — ninguém fica sabendo se Isaías, o assobiador, é filho do padre Sabaó (se Isaías não sabe, porque o autor vai lhe devassar esse segredo)? Tudo intercalado (para evitar pomposidades) pela gargalhada explícita — reação comum do leitor em várias passagens do livro.

Sua galeria de personagens inclui tantas figuras fundamentais, que elencá-las numa resenha parece ser o relatório do viajante iludido em levar o romance como lembrança. O jornalista do jornal “Impren­sa às Suas Ordens”, cúmplice do assassinato do presidente João Pessoa, ilumina as origens de um conterrâneo tornado ilustre, Assis Chateaubriand; o José Américo recriado aqui revela o lado desconhecido da Revolução de 30, com suas contradições no bojo da luta; o conde cafetão e a soprano lírica amante do político poderoso são um ensaio sobre os bastidores de um movimento que ainda guarda vários enigmas. Não satisfeito, Japiassu ainda brinda o leitor com os antecedentes de toda a situação política e social do Nordeste ao colocar as origens da República por meio de ilustres figuras da transição, vindas do Império. Parece um confeito no bolo da noiva, mas é mais uma bala nesse rifle recheado.

Estamos longe de ver no concerto de Japiassu apenas uma obra didática, já que ele compartilha do caos que representa sem dó. Mas ele mantém a majestade do maestro que ensina ao impor sua regência. Seu romance reinventa a importância do seu autor, assim como estabelece um novo parâmetro na terra calcinada da literatura brasileira. O autor, imbuído da sua missão e do seu destino, avisa que os mortos não foram enterrados, nem o serão tão cedo. Que os enterrados vivos mordem. Que os excluídos da história sempre voltam. Que Deus, mesmo para os anticlericais, está vendo tudo. E que a punição será severa se tentarem ignorar mais este acontecimento cultural, que reforça a necessidade de o Brasil criar grandes livros, e não apenas literatura descartável.

Diante de um homem como Moacir Japiassu, ungido pelo dom da criação e apoiado pela cavalaria andante do talento, é prudente não exceder-se na conversa, já que se trata de um soldado marcado pela guerra. Diante de um escritor como ele, quem tem juízo cala e escuta. E quem tiver respeito, apresenta armas.

Disfarça que lá vem bala

Na manhã de 3 de outubro de 1930, o tenente-coronel Pedro Aurélio de Góis Monteiro foi passear em trajes civis na rua da Praia e ficou chocado: todo mundo citava seu nome como chefe militar da revolução que iria rebentar em poucas horas. Abatido com a indiscrição dos gaúchos, que faziam os comentários abertamente nos cafés e rodinhas na calçada, foi sentar-se, desolado, num dos bancos da praça da Alfândega.

Aproximou-se então um amigo, oficial do Estado-Maior da Região e ofereceu-se para participar do movimento. O paraibano Góis Monteiro, que confessava não ter vocação militar, disfarçou: “Minha presença aqui na praça já é um desmentido. Mas se isso que estão falando realmente acontecer, o senhor deve ficar ao lado do seu general”.

A tensa volta para casa aumentou seu nervosismo: já estavam assaltando as lojas de armas, os colégios encerravam as aulas e o comércio fechava as portas. Almoçou com a família e despediu-se da mulher e dos filhos: não sabia se tornaria a vê-los. Quando chegou na residência da irmã de Oswaldo Aranha para os últimos preparativos, fez um desabafo contra a “indiscrição da gente gaúcha”. Mas não tinha jeito: o “baile” tinha hora marcada e ele dirigiu-se ao Palácio do Governo para a cartada final.

Oswaldo Aranha também deu seu passeio na rua da Praia naquele dia, junto com o mineiro Virgílio de Mello Franco, um dos principais articuladores da revolução, que conta como foi: “Nosso propósito era despistar, pela nossa aparente despreocupação, o espiões do comandante da Região Militar, que andavam em grande atividade”.

Aranha estava preocupado: já passava do meio dia e o general Gil de Almeida, que tinha saído muito cedo, ainda não estava no Quartel General. Alguém o teria avisado e a pessoa mais importante do inimigo já estaria recolhido a algum outro quartel, esperando os acontecimentos? De repente, um “secreta” a serviço da causa passou por perto e sussurrou: “O home já está em casa”.

Quem não gostou daquela movimentação foi a filha do presidente do Estado, Alzira Vargas. Quando voltou do colégio, às quatro da tarde, a mãe, Darcy, avisou que não dormiriam no palácio pois a revolução iria rebentar depois das cinco horas. “Você precisa ir para tomar conta dos irmãos”, disse para a filha, que tentou reclamar, oferecendo-se para lutar. O irmão, Lutero, estava furioso: “Uns caras entraram no meu quarto e estão trocando de roupa sem pedir licença”. Era Góis e seu Estado Maior, que colocava a farda para assumir a luta. “Desde 25 de setembro a revolução ficara marcada para 3 de outubro”, conta Barbosa Lima Sobrinho. “A necessidade de comunicar a hora certa para um número enorme de pessoas, em todos os cantos do país, fez com que se divulgasse a combinação. Mas quem se atreveria a comunicar a informação ao sr. Washington Luiz, no receio de pilhérias desdenhosas que acolheriam a notícia inacreditada? Assim, ninguém se preveniu para a Revolução, que foi uma surpresa para o governo, muito embora andasse há muito entre os segredos de polichinelo”.

Uma das pessoas que ignoravam tudo era João Simplício, secretário da Fazenda do presidente do Estado, Getúlio Vargas. Os dois despachavam calmamente no Palácio, quanto às 17h30 ouviu-se o primeiro silvo vindo dos lados do Quartel General, seguido de mais um. Segundos depois, era um tiroteio cerrado, que em pouco tem se estendeu à cidade inteira. Diante do susto do seu auxiliar, Getúlio foi muito objetivo: “Calma, João Sim­plício. É a revolução”.

“Foi uma coisa brutal”, lembrou Flores da Cunha num depoimento sobre o assalto ao Quartel General. “Aquilo foi um ato que não se re­produz muitas vezes no mundo. Eu e o Oswaldo Aranha no comando de trinta guardas-civis, que saíram, numa marcha de rotina de policiamento. Quando fronteamos aquele ângulo morto do quartel, um dos guardas gritou: à carga! Eles se atiraram dentro do quartel e arrancaram as armas dos soldados, praticamente com as mãos limpas. Que coisa, que gesto! Morreram três ali mesmo. O que gritou à carga levou um tiro na cara.”

O QG estava situado, naquela época, numa esquina da rua dos Andradas, o quartel do 2º Exército ficava quase defronte e o da Brigada Militar na mesma rua. Vinte dias antes, Oswaldo Aranha selecionou 200 homens e determinou que diariamente, entre cinco e seis da tarde, marchassem em volta do quarteirão, passando sempre mais próximo das calçadas dos quartéis, recomendando que não aceitassem provocações de ninguém, por mais pesadas que fossem. Várias vezes os soldados do Exército provocaram os brigadianos, chamando-os de soldados de brinquedo, bonecos. Assim, no dia 3, o desfile já tinha se transformado em rotina e isso foi fatal.

A filha do general Gil, que morava num dos apartamento que existia no QG, veio direto a Flores da Cunha e advertiu: “Não deixe ninguém entrar no quarto do meu pai, que ele vai se matar”. Flores tranquilizou: “Ninguém vai entrar lá. Tira o revólver da mão dele, que ninguém vai invadir”. A oficialidade da Brigada Militar, segundo Flores, ficou só olhando o tiroteio, da calçada em frente. “Tive que saltar por cima dos miolos de um guarda morto e cheguei a gritar para os oficiais da Brigada: tragam uma padiola para levar este homem e eles me responderam: não existe nenhuma padiola aqui.”

“Exatamente na porta de entrada do Quartel jazia morto, com a cabeça estourada por uma granada de mão, de braços abertos em cruz, um pobre guarda civil”, conta Virgílio de Melo Franco. No meio da rua, no saguão e nas escadas, outros mortos. Seis tinham morrido imediatamente e cinco morreram mais tarde. Ao todo, entre mortos e feridos, 25 tinham sido postos fora de combate. Às 11 da noite, já estavam dominados o QG, o Arsenal de Guerra, o 8º e 9º Batalhão de Caçadores, o Es­quadrão da Região, o Curso de Preparação Militar, o Contingente de Carta Geral e mais a Com­panhia de Estabelecimentos, situado no Parque da Redenção. Só o 7º B.C. resistia.

“A obstinada resistência durava já mais de quatro horas”, conta Góis, “sem qualquer sinal de esmorecimento, sem atender a nenhuma intimidação para capitular. Não tive outro recurso naquela emergência: mandei bombardear o quartel com lança-chamas”. Logo aos primeiros disparos, foi incendiado um pavilhão que alojava uma companhia do Batalhão. A pedido de Flores, Góis fez uma trégua de uma hora para negociar a rendição. Enquanto conversava com o emissário, restabeleceu-se o tiroteio, já que o prazo da trégua tinha esgotado. Foi uma longa negociação, que terminou na rendição do 7ºB.C e a vitória da revolução em Porto Alegre.

O gaúcho Cordeiro de Farias, que estava em Minas naquela época, fez pouco da fuzilaria do sul: “O papel do Rio Grande do Sul não foi preponderante nem na fase conspiratória nem no levante revolucionário. Examinando com cuidado o aspecto militar do movimento, veremos que os gaúchos tiveram uma participação pequena. Para eles foi um ‘dolce far niente’. Em Minas foi diferente. As unidades estacionadas no interior não ofereceram grande resistências, mas o fato é quer em Belo Ho­rizonte a luta foi dramática e prolongada”. Minas, como se sabe, é sempre outra história.

Dime con quién te asesoras

Este artigo é importante, não tanto pelas denúncias que jamais serão confirmadas, como acontece no Brasil com os “assassinatos” de Siqueira Campos, Getúlio Vargas, Juscelino, Jango, Carlos Lacerda, delegado Fleury e outros.

Nestas eleições municipais nada se sabe dos marqueteiros comprados, tipo Duda Mendonça, e das fraudadas pesquisas de opinião pública. Idem os principais financiadores de campanhas.

Escreve Manuel E. Yepe:

En esta etapa de la campaña electoral, apenas puede negarse que Mitt Romney y Barack Obama sean prácticamente idénticos en todos los sentidos. En cuanto a sus posiciones en materia de salud pública, austeridad económica y perpetuidad de las guerras, el aspirante y el Presidente son dos imágenes idénticas en un mismo espejo.Lo anterior es la opinión del analista estadounidense Brandon Turbeville, de Carolina del Sur, en un artículo que publica la revista digital Activist Post en vísperas de las elecciones presidenciales de su país.Turbevile aprecia que hay identidad en cuanto a la expansión de las guerras y las masacres masivas; las diferencias están en que Obama las promueve mediante engaños y acciones encubiertas, y la psicosis de guerra de Mitt Romney se manifiesta mucho más abiertamente. “La carrera de Romney hacia una tercera guerra mundial -potencialmente termonuclear – no podría ser más clara”.

El equipo de política exterior de Romney estará integrado por neoconservadores que fueron parte del equipo de Bush, a los que se sumarán otros rabiosos halcones de guerra, sionistas e imperialistas, dice el analista.

Entre todos ellos, sobresale el neoconservador Dov Zakheim, considerado por algunos autor intelectual principal de los fatídicos actos terroristas del 11 de septiembre de 2001. Se asegura que será su asesor superior.

Turbeville recuerda que el diez de septiembre de 2001, el entonces Secretario de Defensa y jefe del Pentágono, Donald Rumsfeld, ofreció una conferencia de prensa en la que informó que del Pentágono se habían desaparecido 2.3 mil millones de dólares. (La periodista e informante de la CIA Susan Lindauer ha asegurado que la suma desaparecida era de 9.1 mil millones). Transcrevi trechos. Leia mais.

Uma terceira guerra mundial é o Apocalipse. Sua história jamais será contada.
Michel Serres, em entrevista ao Le Monde, em 10 de maio de 1981, falou que “hoje o político tem em mãos a violência absoluta, isto é, a bomba atômica. Nós não podemos fazer mais nada neste caso”.
Revela o filósofo: “O conhecimento estava de tal forma misturado ao poder e à violência, que o fim dessa história foi Hiroshima. E ainda é Hiroshima. Ora, se há desafios na cultura, na filosofia, é no sentido de descobrir as condições de algo que vá além dessa da data de vencimento, sempre adiada mais alguns milímetros. Nossa história é esse prazo de Hiroshima. Que é que fazem os políticos atualmente? Afastam esse prazo para um fim de semana, ou por mais uma semana, como as crianças que empurram com o pé sua madeira quando jogam amarelinha. Hiroshima está atrás de nós e à nossa frente. Isso não constitui um futuro”.
Para Michel Serres, se há uma esperança histórica “está além dessa data de vencimento, e é essa passagem que os filósofos devem negociar”. Para tanto, neste mundo hodierno, existe o cientista político que, no Brasil, está mais preocupado com a arte de ganhar dinheiro mais rápido e fácil. Viraram aduladores dos governantes.
Os primeiros cientistas políticos foram os profetas e os criadores de utopias. Serres afirma: “Acredito fundamentalmente que, em matéria de Antropologia, é a história das religiões que têm os conteúdos mais concretos, carnais, globais. (…) Sou um leitor assíduo de Homero, de Virgílio, de toda a Antiguidade grego-latina e também dos profetas de Israel que, para mim, inventaram a noção de História”.
E acrescenta:
“Eu posso dizer ao príncipe: você tem a bomba atômica nas mãos, não tem nenhuma necessidade de mim. Mas, enquanto filósofo, eu sou aquele que mostra, que revela que você tem isso nas mãos e que de agora em diante só fará reperti-se indefinidamente. Não lhe restou mais do que isto: a destruição universal. Somos nós, de agora em diante, que mostraremos a nudez absoluta de todos os reis. O real fugil deles, e vem em nossa direção”.
O real e a visão do futuro é a fala profética.

Prisão especial. Direito do jornalista e o encarceramento de Ricardo Antunes

Pelo que sei, o bacharel em Jornalismo Ricardo Antunes continua preso incomunicável, proibido de exercer sua profissão. Amordaçado, amarrado, encabrestado, está impedido de escrever. Vergonhosa e injusta censura. É o Brasil democrático da polícia do governador Eduardo Campos. A mesma polícia da ditadura militar.

Todo jornalista tem direito a prisão especial. Em que porão da Sorbonne jogaram Ricardo Antunes? Sobornne eram assim chamados os cárceres da ditadura Vargas em Pernambuco, quando Miguel Arraes era delegado do IAA, Instituto do Açúcar e do Álcool.

Sempre perguntam: – quem matou mais, no Cone Sul, a ditadura da Argentina ou a do Brasil? Quando a indagação histórica deveria ser: – Quem matou mais: a ditadura de 37 (de Vargas) ou a de 64 (dos marechais presidentes)?

Sou contra esse tipo de comparação. Basta uma morte. Basta uma prisão.

Escreve Fernando da Costa Tourinho Filho: Antes da sentença condenatória definitiva, a prisão processual é um mal. Sendo medida de exceção, que pode acarretar grave e imerecido dano àquele que a sofre, deve ser aplicada com a maior benignidade possível, e a prisão especial de que trata o art. 295 do CPP é consentânea com essa “aconselhável benignidade”. Em rigor a prisão especial deveria ser estendida a todas as pessoas que fossem presas provisoriamente. Ante a impossi1ilidade, por falta de recursos e estrutura, limitou-se o legislador a distinguir certas pessoas em vista da sua escolaridade e das funções que exercem no meio social. Não se trata de privilégio, como se propaga pela imprensa, mas de uma homenagem em razão das funções que certas pessoas desempenham no cenário jurídico-político da nossa terra, inclusive o grau de escolaridade. Ultimamente, em face de algumas regalias que estavam sendo concedidas a três ou quatro pessoas recolhidas a prisão especial, a imprensa falada, escrita e televisada passou a fazer severas críticas ao sistema, sob o argumento de que todos são iguais perante a lei e, sendo assim, a prisão especial deveria ser abolida. Tantas foram as críticas (desarrazoadas, diga-se de passagem) que o Ministro da Justiça solicitou à Comissão encarregada da reforma do nosso Código de Processo Penal fosse o instituto da prisão especial regulamentado. Regulamentado; abolido, não.

A prisão domiciliar, hoje, como sucedâneo da prisão provisória, a nosso juízo, só existe em se tratando de Advogados inscritos na OAB, nos termos do art. 7.º, V, da Lei n. 8.906, de 4-7-1994 (Estatuto da OAB). Aquela de que cuidava a Lei n. 5.256/67, sem dúvida, foi revogada pela Lei n. 10.258, de 11-7-2001, ao proclamar que a prisão especial consiste, exclusivamente, aí, traz a idéia de que esse local distinto da prisão comum há de ser outro estabelecimento com caráter prisional.

Por derradeiro: verdadeira prisão especial é a do jornalista profissional, quando comete crime de imprensa, tal como dispõem o art. 66 e seu respectivo parágrafo único da Lei n. 5.250, de 9-2-1967.Verbis:

“Art. 66. O jornalista profissional não poderá ser detido nem recolhido preso antes da sentença transitada em julgado; em qualquer caso, somente em sala decente, arejada e onde encontre todas as comodidades.

Parágrafo único. A pena de prisão de jornalistas será cumprida em estabelecimento distinto dos que são destinados a réus de crime comum e sem sujeição a qualquer regime penitenciário ou carcerário”. Transcrevi trechos. Leia mais 

O PETRÓLEO ERA DOS BRASILEIROS. DEIXOU DE SER COM O ENTREGUISMO DE FERNANDO HENRIQUE

1953 – O Petróleo é nosso!

por Lucyanne Mano

Rio de Janeiro, 03 de outubro de 1953. Acervo CPDoc JB
“O Congresso acaba
de consubstanciar em lei o plano governamental
para a exploração do nosso petróleo.
A Petrobras assegurará não só
o desenvolvimento da indústria petrolífera nacional,
como contribuirá decisivamente
para limitar a evasão de nossas divisas.
Constituida com capital, técnica
e trabalho exclusivamente brasileiros,
a Petrobras resulta de uma firme política nacionalista
no terreno econômico,
já consagrada por outros arrojados empreendimentos
cuja visibilidade sempre confiei”.

Getúlio Vargas

Durante uma cerimônia realizada no Palácio do Catete, o Presidente Getúlio Vargas sancionou a Lei nº 2.004, implantando o plano governamental para a exploração do petróleo brasileiro.

Jornal do Brasil: Sexta-feira, 04 de outubro de 1953 - página 6

Entre suas disposições, a lei estabeleceu a autorização da constituição da Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, como empresa estatal de petróleo, e garantiu o monopólio total da sua extração e parcial do seu refino.

“É portanto, com satisfação e orgulho patriótico que hoje sancionei o texto da lei aprovada pelo Poder Legislativo e que constitui novo marco da nossa independência econômica”.
Getúlio Vargas

Para conhecer a Lei nº 2004 na íntegra, acesse aqui!

Homens trabalhando na extração de petróleo. Acervo CPDoc JB
A conquista
A Lei nº 2.004 foi uma vitória dos nacionalistas que, em virtude da condição comercial estratégica do petróleo, travaram uma acirrada disputa pelo controle de sua exploração contra frentes que defendiam os interesses privatistas e, em conseqüência, a abertura do mercado brasileiro ao capital estrangeiro.Era o fim de uma batalha parlamentar de 23 meses. Começava uma nova era para o desenvolvimento econômico do país.

Nota do editor deste blogue:
O petróleo era nosso. Era. Nem os ditadores militares – Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo – ousaram tanto. Fernando Henrique fatiou a Petrobras para os corsários.
A Lei nacionalista nº 2.004 foi revogada pela Lei privatista e submissa nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, assinada por Fernando Henrique, o  Carlos Menen brasileiro.
A quarta maior empresa petrolífera do mundo, a Petrobras deixou de ser estatal. Virou uma empresa de Soros e outros especuladores.
FHC realizou cinco leilões dos nossos poços de petróleo e gás. Lula da Silva continuou com a entrega. Promoveu seis rodadas.
Desde 1980, o governo não inaugura nenhuma refinaria no Brasil.  A de Pernambuco, com dinheiro inicial de Hugo Chávez, continua enterrada. Típica caveira de burro.
O Brasil exporta petróleo e importa gasolina e gás. Os preços para o povo sobem, para aumentar os lucros das empresas estrangeiras.
O Brasil construiu refinarias no Japão, Estados Unidos, Argentina, Bolívia, Equador, Irão e outros países, inclusive na África. Mas os novos donos da Petrobras e do pré-sal proibiram a construção de refinarias no Brasil.