Nunca mais Operação Con-dor. Passou da hora de aprisionar em uma gaiola de ferro as aves agourentas

correio_braziliense. condor

Sergei Tunin
Sergei Tunin

A articulação política e militar das ditaduras na América Latina, chamada de Operação Condor, foi criada pelo regime brasileiro.

O presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, em 2012, Jair Krischke contou que já ouviu muito sobre a responsabilidade dos Estados Unidos na operação, mas que não é possível aceitar que se isente o Brasil. “Quem criou a operação foi a ditadura brasileira; afirmo mesmo sem poder comprovar com documentos. Quando ocorreu o golpe no Chile, em 1973, o embaixador brasileiro no país disse: ‘Ganhamos’. Mais de cinco mil brasileiros estavam exilados lá. Logo depois do golpe, mais de 100 foram presos”, disse.

Já para o presidente da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antônio Barbosa, o Brasil foi um dos protagonistas da operação. “Em 1974, houve uma reunião de oficiais em Buenos Aires para um acordo sobre os mecanismos repressivos que seriam usados. A operação foi adotada como política de Estado”.

RUMO À OPERAÇÃO CONDOR – DITADURA, TORTURA E OUTROS CRIMES

torturador ultra brilhante

Neusah Cerveira escreveu artigo que analisa os casos Cerveira/Rita Pereda como uma estréia bem sucedida ou o embrião que gestou a Operação Condor. Ele sustenta que a Operação Condor partiu dos órgãos de repressão brasileiros e posteriormente foi aperfeiçoada pelo governo dos EUA, até desaparecer temporariamente nas selvas da Nicarágua, no final da experiência sandinista. O artigo traz também uma entrevista concedida pelo coronel Brilhante Ustra, onde ele reconhece que houve tortura e desaparecimento dos corpos de militantes durante a ditadura brasileira. O texto objetiva também por um ponto final na “Lenda da Boa Ditadura”, demonstrando que no Brasil ela foi tão ou mais violenta quanto em qualquer outro país e o pior, devido à falta de punição desses crimes hediondos, deixou uma herança de práticas policiais de tortura que persiste até o dia de hoje.

Pra frente Brasil. Bom que o Correio Brazilense lembre a necessidade de abater o Condor. 

 

Ronaldo
Ronaldo

Turismo em centro de tortura

Ditadura Militar. Até para julgar escondiam o rosto. Foto inédita de Dilma Rousseff em Juiz de Fora

Os milicos da 4ªRM MG não aparecem. Dilma está frente a frente com os algozes

O fotógrafo Fernando Rabelo publicou no Facebook, nesta quarta-feira (20), a imagem com a seguinte explicação:

– Em 1972, Dilma Rousseff ficou encarcerada por dois meses em Juiz de Fora. Em 2011, o fotógrafo Aelson Foto Faria Amaral, que pesquisava o acervo fotográfico do Diário Mercantil no Arquivo Municipal de Juiz de Fora, localizou essa fotografia inédita (autor desconhecido), que mostra Dilma e seus companheiros durante um interrogatório na 4ªRM MG, em JF, em 1972. Na foto aparecem Marco Rocha, José Raimundo Jardim Alves Pinto, Guido de Souza Rocha, Ageu Heringer Lisboa, o atual ministro Fernando Pimentel, Gilberto Vasconcelos e Dilma Rousseff. Em outubro de 2001, nove anos antes de ser eleita presidente, Dilma Rousseff revelou em depoimento ao Conselho dos Direitos Humanos de Minas Gerais, que sofreu torturas em Juiz de Fora. Ao todo, Dilma ficou presa durante três anos em prisões no Rio e São Paulo. Transcrito do Blog da Amazônia de Altino Machado.

Cliquem na tag julgamento de Dilma Rousseff. Observarão que os julgadores escondem a cara. Alguns torturadores usavam capuz. Outros colocavam um saco na cabeça da vítima ou vendavam os olhos.

Talvez apareçam jornalistas para escrever: “Se é certo que a ex-militante política conhecida como Estela, codinome de Dilma Rousseff, foi inquirida em Juiz de Fora…”

Identidade do torturador de Dilma nos porões de Minas ainda é um mistério

“Se é certo que a ex-militante política conhecida como Estela, codinome de Dilma Rousseff, foi torturada em Juiz de Fora, sofrendo sessões de choque elétrico, pau de arara e até um soco nos dentes em 1972 — conforme mostrou o Correio/Estado de Minas em série de reportagens iniciada no domingo — pairam dúvidas sobre a real identidade do torturador”.

Estranho começo de uma reportagem. A reportagem é baseada na transcrição de um testemunhal. Os jornalistas que assinam o texto insinuam que Dilma Rousseff mente.

 

por Sandra Kiefer e Daniel Camargos

 

Em trecho do depoimento pessoal concedido ao Conselho de Defesa dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG), em 2001, Dilma revela três possíveis nomes de torturadores, atribuídos a dois homens presentes nas cenas de horror vividas nos cárceres mineiros. Por duas vezes durante o depoimento, Dilma cita doutor Medeiros, que ela acredita, porém, se tratar de um nome falso. Esse mesmo torturador usaria também o falso nome de Lara. “Esse dr. Medeiros aparecia de novo e ocupava um lugar central”, afirma. O terceiro nome é Joaquim, identificado por ela como sendo um agente de segundo nível, que poderia ser um inspetor ou algo assim.

Segundo a presidente, os torturadores eram possivelmente agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de Minas Gerais. “Acho que em Minas Gerais fui interrogada por civis, sobretudo os dois principais identificaram-se como policiais do Dops de Minas, dr. Medeiros, que era um nome falso”, informou Dilma, em depoimento à jovem equipe da Conedh-MG, que viajou até Porto Alegre para ouvir seis depoimentos, inclusive o da então secretária das Minas e Energia do Rio Grande do Sul.

Durante os últimos 10 dias, desde que teve acesso exclusivo ao processo de Dilma, a reportagem conversou com pelo menos 23 pessoas de diferentes organizações políticas da época pós-1964, de diversas ideologias, incluindo fontes da alta cúpula do Exército. Até agora, porém, não houve como cravar a identidade do torturador mineiro. Coincidência é que quem assina o inquérito policial militar (IPM) de Dilma em Juiz de Fora, concedido sob tortura, é Octávio Aguiar de Medeiros, um dos nomes mais proeminentes entre os militares da época. No início da década de 1970, ele foi comandante do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), em Belo Horizonte, e teria sido responsável por acabar com o Comando de Libertação Nacional (Colina) na capital mineira, organização à qual Dilma pertencia.

Segundo os entrevistados, porém, não era de praxe que um oficial da patente desse Medeiros comandasse pessoalmente uma sessão de tortura. Ainda que o comandante do CPOR tivesse participado da tortura de Dilma, é pouco provável que a presidente não soubesse da identidade completa de Octávio Aguiar de Medeiros, dizendo em outro trecho do depoimento que dr. Medeiros se tratava de um “nome falso”. “Dilma tem memória de elefante e não iria confundir o nome de seu torturador, ainda que tenham se passado 30 anos do fato”, afirma uma fonte, que conhece bem a presidente, desde a época de sua militância política em Belo Horizonte.

“Embora ainda fosse um ‘zé ninguém’ em BH, perto do que se tornaria mais tarde, todo mundo sabia quem era o Medeiros naquela época do movimento estudantil”, garante outra, que prefere manter o anonimato. Segundo outra pessoa, “é comum a vítima de agressão referir-se aos participantes do cenário como sendo torturadores, ainda que não tenham torturado com a própria mão. Ele não deixa de ser um torturador”, acredita.

Riocentro

Octávio Medeiros, que talvez pudesse comprovar se torturou a futura presidente do Brasil, já morreu. Foi em 2005, aos 82 anos. Ele galgou importantes patentes na carreira militar. Em 1978, chegou a assumir a chefia do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), em substituição a João Batista Figueiredo, que assumiu o posto de último presidente da ditadura militar no país. Durante o período em que comandou o SNI, ocorreu o atentado fracassado no RioCentro, quando duas bombas explodiram em poder dos militares no centro de convenções do Rio, em abril de 1981.

Outra possibilidade para encontrar o torturador da Dilma em Minas Gerais é buscar com lupa na Carta de Linhares, como é chamado o documento de 28 páginas que detalha a tortura sofrida por presos em quatro locais: a Delegacia de Vigilância Social, onde funcionava o Dops; a Delegacia de Furtos e Roubos; o 12º Regimento de Infantaria, todos em Belo Horizonte, e a Polícia do Exército do Estado da Guanabara, hoje Rio de Janeiro.

A principal hipótese é de que a carta tenha sido redigida por Ângelo Pezzuti (principal dirigente do Colina e que levou Dilma a ser torturada em Juiz de Fora ao endereçar a ela bilhetinhos com um plano de fuga da prisão sob o codinome Gabriel). O documento teria sido entregue aos familiares dele, no início de 1970. Na carta, constam os nomes de cinco torturadores: Luis Soares da Rocha, Mário Cândido da Rocha, José Pereira e José Reis. O quinto nome revela mais uma coincidência, pois é Lara Rezende: o mesmo nome do codinome adotado pelo torturador de Dilma.

Faltam os nomes dos torturadores


Dilma relatou ainda sessões de tortura com choque. “Não se distinguia se era dia ou noite. O interrogatório começava. Geralmente, o básico era choque.”
“Se o interrogatório é de longa duração, com interrogador ‘experiente’, ele te bota no pau de arara alguns momentos e depois leva para o choque, uma dor que não deixa rastro, só te mina. Muitas vezes também usava palmatória; usava em mim muita palmatória. Em São Paulo usaram pouco esse ‘método’. No fim, quando estava para ir embora, começou uma rotina. No início, não tinha hora. Era de dia e de noite. Emagreci muito, pois não me alimentava direito”, relatou.
Em outro momento, ela relata que sofreu hemorragia por conta da tortura. “Quando eu tinha hemorragia, na primeira vez foi na Oban (…) foi uma hemorragia de útero. Me deram uma injeção e disseram para não bater naquele dia. Em Minas, quando comecei a ter hemorragia, chamaram alguém que me deu comprimido e depois injeção. Mas me davam choque elétrico e depois paravam. Acho que tem registros disso no final da minha prisão, pois fiz um tratamento no Hospital das Clínicas.”

Solidão e tortura psicológica

De acordo com os documentos publicados pelos jornais, a presidente relatou momentos de solidão em que temia a morte.

“O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente pelo resto da vida”, disse.

“Tinha muito esquema de tortura psicológica, ameaças. Eles interrogavam assim: ‘Me dá o contato da organização com a polícia?’ Eles queriam o concreto. ‘Você fica aqui pensando, daqui a pouco eu volto e vamos começar uma sessão de tortura.’ A pior coisa é esperar por tortura.”

Sequelas


“Acho que nenhum de nós consegue explicar a sequela: a gente sempre vai ser diferente. No caso específico da época, acho que ajudou o fato de sermos mais novos; agora, ser mais novo tem uma desvantagem: o impacto é muito grande. Mesmo que a gente consiga suportar a vida melhor quando se é jovem, fisicamente, a médio prazo, o efeito na gente é maior por sermos mais jovens. Quando se tem 20 anos o efeito é mais profundo, no entanto, é mais fácil aguentar no imediato.”

“As marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim”, relatou a presidente.

Bilhetes


Na edição desta segunda, os jornais trouxeram ainda a informação de que bilhetes endereçados a Dilma e interceptados pelos militares foram os responsáveis por novas sessões de tortura em Minas.

Os militares acreditavam que Estela (Dilma) teria organizado, no fim de 1969, um plano para dar fuga a Ângelo Pezzuti. Por conta de 22 bilhetes encaminhados para Dilma, ela teria voltado a ser torturada.

Faltam os nomes dos torturadores

A História do Brasil revelará os nomes dos torturadores. Cedo ou tarde. É papel da imprensa realizar o verdadeiro jornalismo investigativo.

Para que se faça justiça. Porque totura nunca mais. Ditadura nunca mais.