Papa prega a Teologia da Pobreza: «quando a fé não chega aos bolsos, não é uma fé genuína»

Riqueza e pobreza

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Foi a «teologia da pobreza» o nó central da homilia do Papa Francisco na missa celebrada na terça-feira, 16 de Junho, em Santa Marta. A reflexão do Pontífice partiu do trecho da segunda carta aos Coríntios (8, 1-9), no qual são Paulo «está a organizar na Igreja de Corinto uma colecta para a Igreja de Jerusalém, que vive momentos difíceis de pobreza». Para evitar que a colecta se verificasse de forma errada, o apóstolo «faz algumas considerações», uma espécie de «teologia da pobreza».

Especificações necessárias porque, explicou Francisco, «pobreza» é uma palavra «que causa sempre perplexidade». Com efeito, quantas vezes ouvimos dizer: «Mas este sacerdote fala demasiado sobre a pobreza, este bispo fala de pobreza, este cristão, esta religiosa falam de pobreza… Mas são um pouco comunistas, não é?». E, ao contrário, sublinhou o Papa, «a pobreza está precisamente no centro do Evangelho», a ponto que «se nós tirássemos a pobreza do Evangelho, nada se entenderia da mensagem de Jesus».

Eis então explicada a catequese de Paulo «sobre a esmola, a pobreza e as riquezas» que começa com um exemplo tirado da experiência da Igreja da Macedónia. Ali, «na grande prova da tribulação – porque sofriam tanto devido às perseguições – na pobreza extrema, a sua alegria superabundou e superabundaram na riqueza da sua generosidade». Ou seja, «ao dar, ao suportar as tribulações enriqueceram-se, tornaram-se jubilosos. É, acrescentou Francisco, o que se encontra numa das Bem-aventuranças: «Bem aventurados sois vós quando vos insultarem, e perseguirem…».

Depois de ter feito este exemplo, Paulo dirige-se de novo para a Igreja de Corinto: «E dado que vós sois ricos, pensai neles, na Igreja de Jerusalém». Mas, perguntou o Papa, de qual riqueza fala Paulo? A resposta lê-se imediatamente depois: «Sois ricos em todas as coisas: na fé, na palavra, no conhecimento, em cada zelo e na caridade que vos ensinamos». Segue-se uma exortação: «Assim, dado que sois ricos, abundai também nesta obra de generosidade». Ou seja, fazei com que, explicou Francisco, esta riqueza tão grande – o zelo, a caridade, a palavra de Deus, o conhecimento de Deus – chegue aos bolsos». Porque, acrescentou, «quando a fé não chega aos bolsos, não é uma fé genuína»; e esta é «uma regra de ouro» que deve ser recordada.

Do trecho paulino sobressai, portanto, uma «contraposição entre a riqueza e a pobreza. A Igreja de Jerusalém é pobre, está em dificuldade económica, mas é rica, porque tem o tesouro do anúncio evangélico». E foi precisamente «esta Igreja de Jerusalém, pobre», que enriqueceu a Igreja de Corinto «com o anúncio evangélico: deu-lhe a riqueza do Evangelho». Quem era rico economicamente, na realidade, era pobre «sem o anúncio do Evangelho». Há, disse o Pontífice, «um intercâmbio recíproco» e assim «da pobreza vem a riqueza».

É neste ponto, explicou o Papa, que «Paulo com o seu pensamento, chega ao fundamento daquilo a que podemos chamar “teologia da pobreza”, porque a pobreza está no centro do Evangelho». Lê-se na epístola: «De facto, conheceis a graça do nosso Senhor Jesus Cristo: era rico e fez-se pobre por nós, a fim de que vos torneis ricos por meio da sua pobreza». Portanto, «foi precisamente o Verbo de Deus que se fez carne, o Verbo de Deus nesta condescendência, neste abaixamento, neste empobrecimento, que nos tornou ricos nos dons da salvação, da palavra, da graça». Este «é o centro da teologia da pobreza» que, de resto, se encontra na primeira bem-aventurança: «Felizes os pobres de espírito». Francisco explicou: «Ser pobre é deixar-se enriquecer pela pobreza de Cristo e não querer ser rico com outras riquezas excepto as de Cristo, é fazer o que Cristo fez». Não é só fazer-se pobre, mas é «dar mais um passo», porque, disse, «o pobre me enriquece».

Citando um exemplo concreto do dia-a-dia, o Papa explicou que «quando oferecemos uma ajuda aos pobres, não fazemos de modo cristão obras de beneficência». Estamos diante de um acto «bom», «humano», mas «não é a pobreza cristã que Paulo menciona e prega». Porque pobreza cristã significa «que eu ofereço ao pobre do que é meu e não do que é supérfluo, também do necessário, porque sei que ele me enriquece». E por que me enriquece o pobre? «Porque Jesus disse que ele próprio está no pobre».

O mesmo conceito é afirmado por Paulo quando escreve: «Nosso Senhor Jesus Cristo de rico que era fez-se pobre por vós, para que vós vos tornásseis ricos por meio da sua pobreza». Isto acontece «cada vez que me despojo de algo, mas não só do supérfluo, para dar a um pobre, a uma comunidade pobre, a tantas pessoas pobres às quais falta tudo», porque «o pobre me enriquece» enquanto «é Jesus quem age nele».

Eis porque, concluiu o Papa, a pobreza «não é uma ideologia». A pobreza «está no centro do Evangelho». Na «teologia da pobreza» encontramos «o mistério de Cristo que se abaixou, se humilhou e se empobreceu para nos enriquecer». Assim, compreende-se «porque a primeira das bem-aventuranças é: “Bem-aventurados os pobres de espírito”». E «ser pobre de espírito – frisou o Pontífice – é ir por este caminho do Senhor», o qual «se abaixou» a ponto de se fazer «pão por nós» no sacrifício eucarístico. Isto é, Jesus «continua a abaixar-se na história da Igreja, no memorial da sua paixão, no memorial da sua humilhação, no memorial do seu abaixamento, no memorial da sua pobreza, e enriquece-nos com este “pão”».

Eis a sugestão final para a oração: «Que o Senhor nos faça entender o caminho da pobreza cristã e a atitude que devemos assumir quando ajudamos os pobres». In Osservatore Romano/ Vaticano

Tico Santa Cruz
Tico Santa Cruz

Classe Média. Música de protesto

por Max Gonzaga

democracia burguesa

Sou classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal
Sou classe média
Compro roupa e gasolina no cartão
Odeio “coletivos”
E vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um pacote cvc tri-anual
Mas eu “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com estado quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão
O pára-brisa ensaboado
É camelo, biju com bala
E as peripécias do artista malabarista do farol
Mas se o assalto é em moema
O assassinato é no “jardins”
A filha do executivo é estuprada até o fim
Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal
Porque eu não “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida

Os dez deveres do desempregado

por João Teixeira Lopes/ Público/ Portugal

 

Juan Hervas
Juan Hervas

 

 

1 – Os desempregados têm por dever principal trabalhar e não mandriar. Só o trabalho liberta. Devem acordar cedo, fazer ginástica e comer pouco.

2 – Os desempregados devem rezar as matinas e as vespertinas, com sentimentos puros.

3 – Os desempregados devem agradecer a Deus. Por não serem pobres. Ou se são pobres, por não serem miseráveis. Ou se são miseráveis, por não viverem no Uganda.

4 – Os desempregados não podem receber subsídio, pois isso torna-os moles, dependentes e com um agudo défice de empreendedorismo.

5 – Os desempregados jamais devem usar as redes sociais. Podem encontrar por lá o Papa Francisco e enveredar por maus caminhos.

6 – Os desempregados devem lavar os dentes com água de três dias.

7 – Os desempregados devem trabalhar como voluntários sob a estrita condição de nunca pedirem remuneração.

8 – Se alguma entidade insistir em remunerá-los apenas devem aceitar uma pequena quantia, inferior a dois euros, para poderem dar esmola.

9 – Os desempregados são europeus, por isso estão autorizados a ir a Lourdes a pé uma vez por ano.

10 – Os desempregados existem para a caridade alheia, tal como os pobres. O seu futuro é o passado e o seu fim último é esperarem, limpinhos, com paciência, humildade e singela alegria. O país não seria mesmo sem eles.

A MALDIÇÃO DOS CATADORES DE LIXO

por Talis Andrade

 

 Jeff Treves
Jeff Treves

 

O mendigo uma criação

pérfida do homem

que cercou os campos de caça

cercou as fontes dágua

 

Malditos os que alimentam os pobres

com sobejos

Os que se consideram magnânimos

porque distribuem

roupas velhas

brinquedos quebrados

que pretendiam jogar no lixo

Mil vezes malditos os governantes

que exportam alimentos

enquanto o povo morre de fome

 

Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: «sendo rico, Se fez pobre por vós»

Mensagem do Papa para a Quaresma

 

Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9)


Queridos irmãos e irmãs!
Por ocasião da Quaresma, ofereço-vos algumas reflexões com a esperança de que possam servir para o caminho pessoal e comunitário de conversão. Como motivo inspirador tomei a seguinte frase de São Paulo: «Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza» (2 Cor 8, 9). O Apóstolo escreve aos cristãos de Corinto encorajando-os a serem generosos na ajuda aos fiéis de Jerusalém que passam necessidade. A nós, cristãos de hoje, que nos dizem estas palavras de São Paulo? Que nos diz, hoje, a nós, o convite à pobreza, a uma vida pobre em sentido evangélico?
A graça de Cristo
Tais palavras dizem-nos, antes de mais nada, qual é o estilo de Deus. Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: «sendo rico, Se fez pobre por vós». Cristo, o Filho eterno de Deus, igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre; desceu ao nosso meio, aproximou-Se de cada um de nós; despojou-Se, «esvaziou-Se», para Se tornar em tudo semelhante a nós (cf. Fil 2, 7; Heb 4, 15). A encarnação de Deus é um grande mistério. Mas, a razão de tudo isso é o amor divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas criaturas. A caridade, o amor é partilhar, em tudo, a sorte do amado. O amor torna semelhante, cria igualdade, abate os muros e as distâncias. Foi o que Deus fez connosco. Na realidade, Jesus «trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado» (CONC. ECUM. VAT. II, Const. past. Gaudium et spes, 22).
A finalidade de Jesus Se fazer pobre não foi a pobreza em si mesma, mas – como diz São Paulo – «para vos enriquecer com a sua pobreza». Não se trata dum jogo de palavras, duma frase sensacional. Pelo contrário, é uma síntese da lógica de Deus: a lógica do amor, a lógica da Encarnação e da Cruz. Deus não fez cair do alto a salvação sobre nós, como a esmola de quem dá parte do próprio supérfluo com piedade filantrópica. Não é assim o amor de Cristo! Quando Jesus desce às águas do Jordão e pede a João Baptista para O baptizar, não o faz porque tem necessidade de penitência, de conversão; mas fá-lo para se colocar no meio do povo necessitado de perdão, no meio de nós pecadores, e carregar sobre Si o peso dos nossos pecados. Este foi o caminho que Ele escolheu para nos consolar, salvar, libertar da nossa miséria. Faz impressão ouvir o Apóstolo dizer que fomos libertados, não por meio da riqueza de Cristo, mas por meio da sua pobreza. E todavia São Paulo conhece bem a «insondável riqueza de Cristo» (Ef 3, 8), «herdeiro de todas as coisas» (Heb 1, 2).
Em que consiste então esta pobreza com a qual Jesus nos liberta e torna ricos? É precisamente o seu modo de nos amar, o seu aproximar-Se de nós como fez o Bom Samaritano com o homem abandonado meio morto na berma da estrada (cf. Lc 10, 25-37). Aquilo que nos dá verdadeira liberdade, verdadeira salvação e verdadeira felicidade é o seu amor de compaixão, de ternura e de partilha. A pobreza de Cristo, que nos enriquece, é Ele fazer-Se carne, tomar sobre Si as nossas fraquezas, os nossos pecados, comunicando-nos a misericórdia infinita de Deus. A pobreza de Cristo é a maior riqueza: Jesus é rico de confiança ilimitada em Deus Pai, confiando-Se a Ele em todo o momento, procurando sempre e apenas a sua vontade e a sua glória. É rico como o é uma criança que se sente amada e ama os seus pais, não duvidando um momento sequer do seu amor e da sua ternura. A riqueza de Jesus é Ele ser o Filho: a sua relação única com o Pai é a prerrogativa soberana deste Messias pobre. Quando Jesus nos convida a tomar sobre nós o seu «jugo suave» (cf. Mt 11, 30), convida-nos a enriquecer-nos com esta sua «rica pobreza» e «pobre riqueza», a partilhar com Ele o seu Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão Primogénito (cf. Rm 8, 29).
Foi dito que a única verdadeira tristeza é não ser santos (Léon Bloy); poder-se-ia dizer também que só há uma verdadeira miséria: é não viver como filhos de Deus e irmãos de Cristo.
O nosso testemunho
Poderíamos pensar que este «caminho» da pobreza fora o de Jesus, mas não o nosso: nós, que viemos depois d’Ele, podemos salvar o mundo com meios humanos adequados. Isto não é verdade. Em cada época e lugar, Deus continua a salvar os homens e o mundo por meio da pobreza de Cristo, que Se faz pobre nos Sacramentos, na Palavra e na sua Igreja, que é um povo de pobres. A riqueza de Deus não pode passar através da nossa riqueza, mas sempre e apenas através da nossa pobreza, pessoal e comunitária, animada pelo Espírito de Cristo.
À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha.
Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspectivas de futuro, perderam a esperança! E quantas pessoas se vêem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de ruína económica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos auto-suficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus.
O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a miséria espiritual: o cristão é chamado a levar a todo o ambiente o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos ama gratuitamente e sempre, e de que estamos feitos para a comunhão e a vida eterna. O Senhor convida-nos a sermos jubilosos anunciadores desta mensagem de misericórdia e esperança. É bom experimentar a alegria de difundir esta boa nova, partilhar o tesouro que nos foi confiado para consolar os corações dilacerados e dar esperança a tantos irmãos e irmãs imersos na escuridão. Trata-se de seguir e imitar Jesus, que foi ao encontro dos pobres e dos pecadores como o pastor à procura da ovelha perdida, e fê-lo cheio de amor. Unidos a Ele, podemos corajosamente abrir novas vias de evangelização e promoção humana.
Queridos irmãos e irmãs, possa este tempo de Quaresma encontrar a Igreja inteira pronta e solícita para testemunhar, a quantos vivem na miséria material, moral e espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio do amor do Pai misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda a pessoa. E poderemos fazê-lo na medida em que estivermos configurados com Cristo, que Se fez pobre e nos enriqueceu com a sua pobreza. A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói.
Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser «tidos por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo» (2 Cor 6, 10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia. Com estes votos, asseguro a minha oração para que cada crente e cada comunidade eclesial percorra frutuosamente o itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!
Vaticano, 26 de Dezembro de 2013 Festa de Santo Estêvão, diácono e protomártir
Francisco

Papa Francisco: encontrar os mais necessitados não significa dar esmola olhando-os de longe mas fitando-os nos olhos, tocando-os como fazia Jesus. Ide, procurai e encontrai-vos com os mais necessitados

«Com Jesus e São Caetano, vamos ao encontro dos mais necessitados!», o Papa Francisco afirma que os cristãos são chamados a «edificar, criar e construir uma cultura do encontro». E encontrar os mais necessitados não significa dar esmola olhando-os de longe mas fitando-os nos olhos, tocando-os como fazia Jesus. «Ide, procurai e encontrai-vos com os mais necessitados – disse o Papa – mas não sozinhos: com Jesus e com São Caetano!»

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São Caetano,  fundador  da Ordem dos Caetanos ou Teatinos, nasceu em  1480, em Vicenza, de pais  ilustres  e  virtuosos. Logo após o batismo, foi a criança,  pela mãe oferecida e  consagrada à Santíssima Virgem. Não ficou sem efeito a oração de sua mãe.

Desde  pequeno Caetano mostrava grande amor à oração e às obras de caridade.  Exemplar em tudo, era entre os  companheiros de infância chamado “o Santo”.

A  vida de São Caetano, vivida através da pureza e penitência, apresenta ainda outras coisas à nossa consideração, por exemplo, o desapego dos  bens  terrestres e  a confiança ilimitada na Divina Providência. O mal de muita  gente  é uma preocupação exagerada com as coisas  do mundo. Com receio de experimentar prejuízo, não se dão à pena de  rezar de  manhã e de noite, de ouvir a santa Missa. A atenção está concentrada  num ponto só: ganhar dinheiro.  Que sem  a  bênção de Deus nada conseguem, é uma circunstância de que não se lembram. Não devemos pertencer  a  essa  classe de gente. A nossa  confiança deve estar em Deus, que veste os lírios  do campo e  dá alimento às aves do céu. Procuremos primeiro o reino dos céus e  tudo o mais  nos será dado por acréscimo.

Na arte sacra, São Caetano é representado com um livro e uma cruz nas mãos. Noutros locais e representado com o menino Jesus ao colo.

Três palavras que nunca se devem esquecer em casa: por favor, obrigado, desculpa

«Como é possível viver a alegria da fé hoje?». A pergunta do Papa Francisco serviu de fio condutor à peregrinação organizada pelo Pontifício Conselho para a Família por ocasião do Ano da fé. E à pergunta – que retomava o slogan escolhido para a iniciativa: «Família, vive a alegria da fé» – responderam com a sua presença jubilosa as mais de cem mil pessoas que se reuniram na praça de São Pedro provenientes de 75 países do mundo para participar no sábado à tarde, 26 de Outubro,  no encontro de oração e de testemunho, e domingo de manhã na celebração da Eucaristia, ambos presididos pelo Papa Francisco.

Durante a sugestiva vigília do sábado, depois de ter ouvido vários testemunhos de famílias, o Pontífice ofereceu uma meditação centrada nas canseiras e nas dificuldades de todos os dias, sobre a necessidade de comunicar, sobre  o peso dos silêncios. «Mas o que mais pesa – admoestou o Papa – é a falta de amor», a ausência de alegria nas casas.

No dia seguinte, celebrando a missa dominical, o bispo de Roma na homilia partindo das leituras  traçou três características da família cristã: a oração em comum, a preservação da fé e a vivência da alegria, aquela «verdadeira – explicou – que nos faz sentir a beleza de estar juntos, de nos apoiarmos reciprocamente»; em cuja base está a «presença de Deus» com «o seu amor acolhedor, misericordioso, respeitoso para com todos» e «paciente». Por fim, no Angelus, o Papa pediu para rezar pelas famílias em dificuldade.

Outro aspecto aprofundado pelo bispo de Roma concerniu o sacramento do matrimónio, com a exortação dirigida aos esposos a permanecer unidos “sempre e por toda a vida”, sem “dar importância a esta cultura do provisório que nos transtorna a vida”. A este propósito, o Papa repetiu as três palavras-chave já sugeridas durante a missa no dia mariano de 13 de Outubro passado, “para não lançar pratos” entre marido e esposa: por favor, obrigado, desculpa. Por fim, indicando o ícone da Apresentação de Jesus no templo, colocado ao lado da cátedra, o Pontífice relançou o diálogo entre as gerações, sobretudo entre jovens e idosos, entre avós e netos.

 

A residência fixa do morador de rua

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Em Uberlândia vão levar seis meses para mapear os moradores de rua. Gosto do termo mapear. Significa, inclusive pela demora de uma solução, que os mendigos possuem endereço fixo.

O Brasil nunca registra as mortes dos mendigos. Coisa natural morrer de fome, de bala, de frio. Ou morrer incendiado nas brincadeiras inocentes de garoto rico.

Dia 26, informou a Agência Estadão, a morte de quatro mendigos em São Paulo.

Em Passos, rumo aos albergues (quais são os endereços dos albergues nas capitais brasileiras?. Deviam mapear para os mendigos), cantam os moradores de rua, ouvindo Roberto Carlos:

Não suporto mais, “seu”prefeito,

você longe de mim.

Será que um albergue custa tanto assim…

Será que tenho algum direito?

Quero até morrer, do que viver assim.

Só quero que você, me aqueça neste inverno,

E que tudo mais vá pro inferno.

E que tudo mais vá pro inferno.

UOOOOOO

E que tudo mais vá pro inferno.

UOOOOOO que friooooooooo

 

Gatoto Nero
Gatoto Nero

Quem quer ajudar tem pressa

Ninguém mais acredita na ajuda do próximo. A ajuda desinteressada.

No mundo capitalista e individualista, gente, bicho e coisas se transformam em moedas de troca, e com juros.

Há uma diferença entre oblação (ato de oferecer a Deus), oferenda (aquilo que se oferece a qualquer ente, a qualquer instituição), e oferta (o ato de oferecer e também a coisa oferecida: lei da oferta e procura). Aqui se diz que todo homem tem seu preço.

O marketing dos publicitários criou várias datas para estimular a negociação de presentes (no dia das mães, dos pais, dos namorados e outros). Este ato consumista é mais uma questão de status econômico, exibicionismo, do que de amor maternal, filial, desde que há a espera de quem recebe, e uma latente cobrança.

Um presente verdadeiro não possui dia marcado, e tem que ser expontâneo, e não busca nenhuma vantagem.

Há mais prazer em dar do que em receber.

O presente de uma pessoa fraterna e pura não visa comprar ninguém. Constitui uma oferenda. Uma dádiva (a constatação de que existem pessoas generosas).

Brinde é coisa de um negociante para seus fregueses. Mimo, dos lobistas para uma autoridade. Donativo, uma compensação para fins beneficentes (bolsa família).

Esmola é um auxílio, um óbolo, se entrega às pessoas necessitadas. Mas hoje, egoísta e desumanamente,  se condena a esmola, porque supostamente vicia, e cria o parasita em uma economia que faz do salário um lucro para a empresa, que paga cada vez mais o mínimo do mínimo. Como se quem padece de fome e sede pudesse esperar nas filas do desemprego.

O papa Francisco fala para as periferias que ensinam a realidade.

“Gosto daquilo que me disseste: que a periferia tem um sentido negativo, mas também um sentido positivo. Sabes por que motivo? Porque juntos se entende melhor a realidade não a partir do centro, mas das periferias. Entende-se melhor. Também aquilo que tu disseste: tornar-se sentinela, não?”. O papa discursou para os padres que trabalham nas comunidadees pobres.

– o Pároco fez-me recordar algo de bonito sobre Nossa Senhora. Quando Nossa Senhora, assim que recebeu o anúncio que seria mãe de Jesus, e também o anúncio de que a sua prima Isabel estava grávida – como se lê no Evangelho – partiu à pressa; não esperou. Não disse: “Mas agora eu estou grávida, e devo cuidar da minha saúde. A minha prima terá amigas que talvez a ajudem”. Ela sentiu algo e “partiu à pressa”. É bonito pensar isto de Nossa Senhora, da nossa Mãe que vai à pressa, porque sente algo dentro de si: ajudar. Vai para ajudar, e não para se gloriar e dizer à prima: “Escuta, agora sou eu que mando, porque sou a Mãe de Deus!”. Não, não agiu deste modo. Partiu para ajudar! E Nossa Senhora é sempre assim. É a nossa Mãe, que vem sempre depressa quando nós precisamos dela.

Maria tinha 15 anos quando ficou grávida de Jesus. Isabel estava com uma idade bem avançada
Maria tinha 15 anos quando ficou grávida de Jesus. Isabel estava com uma idade bem avançada

–  Seria bonito acrescentar às Ladainhas de Nossa Senhora uma que reze assim: “Senhora que vai depressa, ora por nós!”. Isto é bonito, verdade? Porque Ela vai sempre à pressa, Ela não se esquece dos seus filhos. E quando os seus filhos se encontram em dificuldade, quando têm alguma necessidade e a invocam, Ela vem à pressa. E isto dá-nos uma segurança, a certeza de ter a Mãe ao lado, sempre ao nosso lado. Vamos, caminhamos melhor na vida quando temos a mãe próxima de nós. Pensemos nesta graça de Nossa Senhora, nesta graça que Ela nos concede: de estar próxima de nós, mas sem nos fazer esperar. Sempre! Ela existe – tenhamos confiança nisto – para nos ajudar. Nossa Senhora caminha sempre à pressa por nós. Ler mais Maria é a mãe que vem sempre apressadamente assistir os seus filhos

Papa Francisco: A falta de ética na vida pública causa tanto dano à humanidade inteira

Outro ponto importante são os pobres. Se sairmos de nós mesmos, encontramos a pobreza. Hoje… – dizê-lo faz doer o coração – hoje encontrar um sem-teto morto de frio não é notícia. Hoje é notícia, talvez, um escândalo. Um escândalo: ah, isso é notícia! Hoje pensar que muitas crianças não terão que comer não é notícia. Isto é grave; sim, grave! Não podemos ficar tranquilos! Bem! As coisas estão assim. Não podemos tornar-nos cristãos engomados, aqueles cristãos demasiado educados que falam de coisas teológicas enquanto tomam o chá, tranquilos. Isto não! Devemos tornar-nos cristãos corajosos e ir à procura daqueles que são precisamente a carne de Cristo, aqueles que são a carne de Cristo! Quando vou confessar – não aqui; aqui ainda não posso, porque sair para confessar… daqui não se pode sair, mas isso é outro problema – quando, na diocese anterior, ia confessar, vinham as pessoas e eu sempre lhes fazia esta pergunta: “Dá esmolas?” “Sim, padre!” “Muito bem!”. Mas fazia-lhe mais duas: “Diga-me, quando dá esmola, fixa nos olhos aquele ou aquela a quem dá a esmola?”. “Bem, não sei, não me dou conta”. Segunda pergunta: “E quando dá esmola, toca a mão da pessoa a quem dá a esmola ou lança-lhe a moeda?”. Este é o problema: a carne de Cristo, tocar a carne de Cristo, assumir este sofrimento pelos pobres. A pobreza, para nós cristãos, não é uma categoria sociológico, filosófica ou cultural. Não! É uma categoria teologal. Diria que esta é talvez a primeira categoria, porque aquele Deus, o Filho de Deus, humilhou-se, fez-se pobre para caminhar connosco ao longo da estrada. E esta é a nossa pobreza: a pobreza da carne de Cristo, a pobreza que nos trouxe o Filho de Deus com a sua Encarnação. A Igreja pobre para os pobres começa pelo dirigir-se à carne de Cristo. Se nos fixarmos na carne de Cristo, começamos a compreender qualquer coisa, a compreender o que é esta pobreza, a pobreza do Senhor. E isso não é fácil! Mas aos cristãos apresenta-se-lhes um problema que não lhes faz bem: o espírito do mundo, o espírito mundano, a mundanidade espiritual. Isto faz-nos sentir autónomos, viver o espírito do mundo, e não o de Jesus. Quanto à pergunta que me fazíeis: como se deve viver para enfrentar esta crise que toca a ética pública, o modelo de desenvolvimento, a política? Pensar que esta é uma crise do homem, uma crise que destrói o homem, uma crise que despoja o homem da ética. Na vida pública, na política, se não houver a ética, uma ética de referimento, tudo é possível e tudo se pode fazer. E, quando lemos os jornais, vemos como a falta de ética na vida pública causa tanto dano à humanidade inteira.
Gostaria de contar-vos uma história. Já o fiz duas vezes esta semana, mas farei uma terceira convosco. É a história que narra um midrash bíblico de um rabino do século XII. Ao contar a história da construção da Torre de Babel, diz ele que, para construir a Torre de Babel, era necessário fazer os tijolos. Que significa isto? Ir, empastar o barro, trazer a palha, misturar tudo, e depois… forno. E quando o tijolo estava pronto tinha de ser carregado lá para cima, para a construção da Torre de Babel. Enfim, o tijolo era um tesouro, considerando todo o trabalho que se requeria para o fazer. Quando caía um tijolo, era uma tragédia nacional e o trabalhador culpado era punido; era tão precioso um tijolo que, se caísse, era um drama. Mas, se caía um trabalhador, não sucedia nada; era um caso completamente diverso. O mesmo sucede hoje: se os investimentos em bancos caem um pouco, é uma tragédia! Que havemos de fazer? Mas, se as pessoas morrem de fome, se não têm que comer, se não têm saúde, isso não importa! Esta é a nossa crise de hoje! E o testemunho de uma Igreja pobre para os pobres vai contra essa mentalidade. Continue lendo