Eduardo Campos iniciou campanha presidencial

Neto de Arraes e protegido de Lula, governador de Pernambuco e candidato do PSB

por João Domingos/Estadão

Governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos fecha 2012 cacifado pelo ótimo desempenho nas eleições municipais. Mesmo batendo de frente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o PT, conseguiu vencer as duas eleições que considerava estratégicas e abriu passagem para que seu nome se consolidasse como uma possibilidade real na corrida pelo Palácio do Planalto em 2014.

Mesmo enfrentando diretamente candidatos petistas, que tiveram apoio declarado de Lula e da presidente Dilma Rousseff, Campos foi bem sucedido ao ganhar a prefeitura do Recife, com Geraldo Júlio (PSB), interrompendo um longo ciclo de poder petista. A outra vitória foi em Belo Horizonte, numa espécie de consórcio político com o senador tucano Aécio Neves. Ambos bancaram a candidatura à reeleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB) contra Patrus Ananias (PT) e foram bem sucedidos.

As duas vitórias deram a Campos a possibilidade de transitar entre a base governista e a oposição. Se opera politicamente em Minas ao lado de Aécio e no Paraná ao lado do governador Beto Richa, também do PSDB, preserva sua posição de integrante da base do governo Dilma.

Dom Quixote. A exemplo do xará Miguel de Cervantes, que em Dom Quixote conta as histórias do período em que foi prisioneiro em Argel, até a fuga para a Europa, Arraes gastava noites e noites falando de sua passagem pela capital argelina, o golpe sofrido pelo presidente Ben Bella (1918-2012), a guinada dos governos africanos para a esquerda sob influência da União Soviética, os longos 13 anos do governo de Houari Boumédiène (1932-1978), que nacionalizou empresas, principalmente as petrolíferas francesas.

Campos, então com 14 anos, era o maior ouvinte de tudo o que Arraes contava. Grudou-se no avô, perguntava, dava opinião, rebatia, complementava. Arraes comentou à época que via naquele garoto grandes chances de vir a se tornar um político.

Manteve-o por perto. Em 1985 o neto foi eleito presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Pernambuco. Em 1986, Arraes candidatou-se ao governo e fez dele o dono de sua agenda. Eleito, Arraes chamou o neto para a sua chefia de gabinete. Campos estava então com 21 anos.

Comentário do editor do blogue: Arraes nunca foi um dom Quixote. Arraes era candidato a presidente desde seu primeiro governo. Disputava a presidência, pelas esquerdas, com Brizola. Havia até uma profecia, com apelo místico, para este feito.

Que Eduardo Campos aprendeu com o avô foi a ciência da propaganda política (conforme teoria de Pavlov). Estudo do comportamento que Skinner pretendeu o status de ciência.

O projeto de Arraes ser presidente foi cassado pelo golpe de 64. O mito Arraes cresceu quando estava no exílio.

Em 1986 foi novamente eleito governador. Criei o slogan da esperança, inclusive o trem da esperança que marcou sua propaganda de tv. Este evento propus para as campanhas vitoriosas de Roberto Magalhães governador, Gustavo Krause vice-governador, Marco Maciel senador, em 1982, mas foi uma idéia rejeitada. Só fiz a mudança do roteiro do trem: para Roberto, um trem que vinha do interior (reduto macielista) para a capital (reduto de Arraes). Copiei da campanha de Lincoln  . Filme biográfico.

A esperança da campanha de Aluísio Alves a governador, em 1960.

Era arrasador ver o povo nas ruas vestido de verde, com bandeiras na cor verde, ou galhos de verdes folhas nas carreatas e passeatas.

Até a estátua de São Pedro, no alto da estratégica igreja do Alecrim, em Natal, foi pintada toda de verde. A estátua no lugar da cruz ou do galo.

Igreja de São Pedro, no bairro do Alecrim, Natal
Igreja de São Pedro, no bairro do Alecrim, Natal
Igreja de Santo Antonio (Igreja do Galo), Natal

Na Revolução Francesa, o povo tomou a Bastilha carregando os galhos verdes das árvores que encontravam pelas ruas de Paris.

O povo estonteado, tomado pelo fanatismo, derrotou Djalma Marinho. Não idealizei a campanha de Djalma. Fui secretário do jornal O Nordeste, repórter especial do jornal A República, e orador estudantil nas carrocerias de caminhões, improvisadas como palanques de comício.

Djalma, o grande tribuno do Congresso Nacional, o jurista, recusava baixar o tom. Eu dizia: – baixe o nível, fale o que povo quer ouvir. Ele me respondia: – Não sou demagogo.

A campanha de Djalma estava toda errada. Tanto que o slogan “Não minto, não roubo”, que acusava Aluízio, parecia mais uma defesa de Djalma, quando Aluízio denunciava, caluniosamente, o governador Dinarte Mariz de ter dito: – “Todo homem se vende, e sei o preço de cada um”. Uma manchete do Jornal do Comércio do Recife, repetida nos comícios e jornais do Rio Grande do Norte.

Não existe uma receita certa em propaganda. Evo Morales derrotou os brancos com o lema indígena: “Não minto, não roubo e não sou frouxo (ou não mato)”.

Propaganda é plágio. O que há de novo são os meios (os antigos sempre serão usados) e a propaganda subliminar, que muitos confundem com propaganda implícita e propaganda indireta.

Minhas propostas apresentei na estratégia da campanha de senador de Antonio Farias.

Arraes eleito governador em 1986, em 1994, o “Arraes está voltando” teve como inimigo o tempo, e Ulisses Guimarães que também se lança candidato a presidente, tendo Jarbas Vasconcelos como vice.

Finalmente Arraes perde a reeleição, em 1998, para seu ex-aliado e ex-prefeito do Recife Jarbas Vasconcelos, que obteve mais de 64% dos votos válidos.

Arraes considerava a propaganda, hoje chamada de marketing pelos marreteiros, uma guerra de símbolos. Usou a pá de pedreiro (da Maçonaria), a pomba da Paz, o “A” de Arraes, que lembrava o “A” do anarquismo e o da campanha de Allende. A vassoura de Jânio, outro símbolo copiado de uma campanha presidencial chilena.

Falta para Eduardo Campos o símbolo, e um slogan. Se conseguir espalhar que o Arraes da profecia não era o avô, mas o neto…  (T.A.)

Símbolo Anarquismo
Símbolo Anarquismo

Escreve Sebastião Nery:

 

Dinarte Mariz
Dinarte Mariz

 

O sábio e saudoso Dinarte Mariz era governador do Rio Grande do Norte e inimigo de Aluisio Alves. Aluisio saiu da UDN, foi candidato pela oposição e ganhou. Dinarte disse que não passava o cargo.

No dia da posse, Dinarte saiu cedo do palácio e entregou as chaves ao porteiro Francisco. Todo importante, paletó e gravata, sapato engraxado, Francisco foi lá para a frente e ficou de pé nas escadarias.

Esperou uma hora, duas, três, o novo governador não chegava. Aluisio estava indo da Assembléia para o palácio, a pé, com o povo. A mulher mandou chamar o porteiro Francisco para o almoço, nada. Ele ali, de pé, cumprindo patrioticamente seu dever cívico.

De repente, à frente da multidão, apareceu Aluisio na esquina. O porteiro Francisco suspirou, aliviado:

– Ainda bem que ele está chegando. Não aguento mais governar essa merda.

Entregou as chaves e o fugaz poder.