O PSDB apóia chacina de Richa no Paraná, e indica coronel Telhada para presidir Comissão de Direitos Humanos em São Paulo

Amarildo
Amarildo

O Estatuto da Criança e do Adolescente cria “monstrinhos” que a redução da maioridade penal pretende encarcerar. “Estamos falando de assassinos, estupradores e assaltantes.” Em alguns dias as declarações poderão ser atribuídas a ninguém menos do que o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

A opinião foi expressa nesta quarta-feira 6 pelo deputado estadual e ex-policial militar Coronel Telhada (PSDB) em audiência pública da Comissão Especial da Maioridade Penal realizada na Câmara dos Deputados.

Na semana passada, o controverso deputado foi oficializado no Diário Oficial do Estado como um dos três indicados do PSDB para compor a Comissão de Direitos Humanos no estado. Ele foi escolhido pelo partido em sua bancada de 22 parlamentares, a maior da Casa. In Rede Brasil Atual

Concordo com o jornalista Marcos Simões: “Piada de muito mau gosto. Quem conhece essa figura sabe do que ele gosta”. É um legítimo tucano. “Evangélico, Telhada já afirmou que perdeu as contas de quantos matou em serviço. Admiradores o exaltam como símbolo de uma PM dura”. In UOL

Telhada além de defender a ditadura militar, é um divisionista, antipatriota, racista que não esconde seu preconceito contra os nortistas e nordestinos.

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Homenagem à repressão?

Projeto de decreto legislativo de Salva de Prata à Rota avança na Câmara Municipal de São Paulo e vai na contramão da busca por justiça de transição

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por Marsílea Gombata

A Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara Municipal de São Paulo aprovou na quarta-feira 14 o projeto de decreto legislativo do vereador Paulo Telhada (PSDB) para conceder uma homenagem Salva de Prata às Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) da Polícia Militar de São Paulo.

A proposta prevê uma cerimônia que enaltecerá a “importância” do processo de formação da Rota, criada em 1970, assim como seu papel na repressão do regime dos generais. O projeto, de autoria do vereador que foi tenente da Rota entre 1986 e 1992 e tenente-coronel entre 2009 e 2011, tramitava na Casa desde abril.

Polêmico, o decreto encontrou forte oposição de alguns parlamentares da Casa, como os petistas Juliana Cardoso, Nabil Bonduki, Paulo Fiorillo e José Américo. Também foram contrários Orlando Silva (PCdoB), Toninho Vespoli (PSOL) e Gilberto Natalini (PV), que é presidente da Comissão da Verdade Vladimir Herzog, da Câmara Municipal.

No momento em que o Brasil vê efervescer, 28 anos depois do fim da ditadura, o debate sobre violações de direitos humanos e crimes de lesa humanidade perpetrados por torturadores do Estado no regime, a homenagem proposta pelo vereador eleito em 2012 parece ir na contramão daquilo que o País ainda não teve: justiça de transição – um conjunto de ações e processos, acordados no âmbito internacional, na passagem do regime ditatorial para a democracia. Embalada pelo andamento dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade e das comissões locais, a sociedade brasileira revolve seu passado para esclarecer fatos obscuros de um regime que edificou mentiras, destruiu famílias e ceifou vidas.

Nunca é demais lembrar que a Rota não é apenas fruto da ditadura que assolou o País de 1964 e 1985, como também forneceu apoio e atuou como agente repressor. Assim como a Polícia Militar, a Rota é lembrança permanente da repressão e impunidade de autores de violações sistemáticas, que agem com frequência nas periferias dos grandes centros urbanos. São também resquícios de uma transição democrática tortuosa vivenciada pelo País depois da ditadura. Uma amarga lembrança da necessidade de reforma das instituições do Estado.

Desde que a antiga Força Pública virou PM, em 1969, o órgão se viu em meio a crescentes denúncias de assassinatos envolvendo policiais. Como lembrou em artigo o grupo Margens Clínicas, que oferece atendimento psicológico a vítimas de violência policial, números da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo de 2012 mostram que 547 mortes ocorreram em supostos confrontos policiais, o que representa um aumento de 25% em relação ao ano anterior. Não são poucas as denúncias contra a PM (da qual a Rota faz parte) de assassinato, abuso de autoridade e descaracterização da cena do crime.

Para o especialista em direito penal e direitos humanos Túlio Vianna, a Polícia Militar representa hoje um “modelo anacrônico de segurança pública que favorece abordagens violentas, com desrespeito dos direitos fundamentais”. Sua análise não é desprovida de coro. No fim de julho, a Human Rights Watch entregou uma carta ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), na qual se dizia “preocupada” com as “execuções extrajudiciais” cometidas por policiais. O levantamento da entidade, baseado na análise de boletins de ocorrência de “resistências seguidas de morte” – como São Paulo classificava até 2012 mortes cometidas por policiais em supostos confrontos –, mostrou que somente nos anos de 2010, 2011 e 2012 a Rota matou 247 pessoas. À época, José Miguel Vivanco, diretor da Human Rights Watch para as Américas, disse que “as provas colhidas nos casos analisados em São Paulo revelam um claro padrão: policiais executam pessoas e, em seguida, acobertam esses crimes.”

Em maio de 2012, o Conselho de Direitos Humanos da ONU apresentou um documento no qual apontou a situação degradante do sistema carcerário e a atuação da polícia militar como alguns dos principais problemas do Brasil, e recomendou a desmilitarização da polícia. A proposta, no entanto, foi integralmente rejeitada pelo Brasil.

Mas o debate sobre a necessidade de desmilitarização de uma polícia que, em tese, foi criada para proteger os cidadãos em vez de amedrontá-los, foi retomado depois da repressão policial que marcou os protestos de junho pelo País. A expectativa é que a própria Comissão Nacional da Verdade recomende em seu relatório final a desmilitarização das PMs. O tema é debatido desde o fim da ditadura, mas sem grandes avanços.

Sem mudanças importantes, as polícias militares – e seus grupos de elite – tendem a se tornar cada vez mais despreparadas frente às necessidades democráticas que o País apresenta.

Homenagear, portanto, o símbolo da repressão militar no momento em que joga-se luz nas violações de agentes torturadores do Estado e em meio à discussão sobre a desmilitarização da PM parece ser um ato para endossar o aspecto tenebroso de um período que o Brasil quer, de uma vez por todas, deixar para trás.

 

 

O perigo de ser jornalista: violência e abandono

PROFISSÃO PERIGO

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por Raphael Tsavkko Garcia

 

Não há qualquer tipo de segurança ou mesmo garantia de segurança para quem exerce a profissão de jornalista. Caso você seja um freelancer, a situação tende a piorar. Sequer sobra a possibilidade de ter um jornal, uma estrutura como barreira ao menos para processos.

Casos recentes de assassinatos de jornalistas em Minas Gerais, as ameaças sofridas pela jornalista Lucia Rodrigues por parte do coronel Telhada, da Rota de São Paulo (e agora vereador), que também ameaçou e fez ser exilado o jornalista do Estado de S.Paulo André Caramante, ou mesmo a tentativa de assassinato de blogueiros como Ricardo Gama, no Rio de Janeiro, e o suposto suicídio do blogueiro catarinense Mosquito denunciam a total insegurança em que vivem aqueles que decidem denunciar poderosos e perigosos e também as ameaças e pressões sofridas por eles.

Recordo-me quando, em 2001, fotografei e gravei um protesto de neonazistas em plena Avenida Paulista. Eram neonazistas, fascistas, integralistas, enfim, toda a nata do submundo do ódio de extrema-direita reunida para defender o deputado Jair Bolsonaro. Até hoje, dois anos depois, ainda recebo ameaças por parte de neonazistas e similares, mas nada mais grave me ocorreu. Infelizmente o mesmo não pode ser dito no caso de dezenas de outros jornalistas.

Apuração e veracidade

Toda esta facilidade com que se ameaça e mata jornalistas é reflexo da falência não só do Estado de Direito, mas dos sindicatos, que deveriam representar nossa categoria. Os sindicatos não atuam sequer na luta por salários decentes, contra os PJ e excesso de “frilas”, que o diga na proteção de seus filiados e não-filiados. Para eles interessa mais a “luta” pelo diploma que pela vida dos jornalistas, de quem, com paixão, exerce esta profissão, independentemente de possuir ou não um pedaço de papel.

Não adianta contar com a polícia, pois uma parte significativa dos assassinos de jornalistas são policiais e ex-policiais, nem com o governo, pois muitas vezes os jornalistas são ameaçados e mortos por criticar governos e, infelizmente, não podemos contar com quem deveria nos representar, pois os sindicatos estão mais interessados em decidir quem pode ou deve sequer ter direito a ser chamado de jornalista baseados em um pedaço de papel e não em capacidade, habilidade e mesmo amor pelo que faz (fazemos).

Enquanto na grande mídia jornalistas se vendem pelos melhores preços (em muitos casos pelo preço possível, ou passam fome), vendem sua ideologia, sua ética, sua integridade para reportar aquilo que querem os patrões, na mídia alternativa – vide a Caros Amigos – resta a precarização. Os jornais não conseguem conviver com a internet, ampliando a precarização e as demissões (passaralhos) em redações, desprezando o importante papel dos jornalistas hoje de curadoria e de análise de dados e notícias. Apenas neste mês, a Abril pretende demitir mil funcionários e em momento algum o sindicato se insurgiu ou sequer planeja se insurgir, pressionar e buscar alternativas. Ao menos tempo, na Argentina, funcionários de jornais realizaram paralisações conjuntas e organizadas por todo o país.

O jornalista hoje não apenas escreve, mas se coloca como um diferencial de qualidade, analisa, seleciona, faz curadoria, é um modelo. Qualquer um pode ter um blog, mas a responsabilidade pela apuração e a garantia da veracidade dos fatos recai, ainda, sobre o jornalista. E isto é desprezado.

***

Raphael Tsavkko Garcia é mestre em Comunicação

Transcrito do Observatório da Imprensa

O mesmo esquema de terror ameaça e exila jornalistas em São Paulo

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por Conceição Lemes

A jornalista Lúcia Rodrigues tem 19 anos de profissão. De 31 de janeiro de 2011 a 5 de março de 2013, trabalhou na Rádio Brasil Atual. Primeiro, como pauteira. Depois, repórter.

Nesse período, foi agraciada com dois prêmios por reportagens sobre a desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). O 1º Prêmio Beth Lobo de Direitos Humanos das Mulheres, outorgado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo. E o 29º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, concedido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos e Ordem dos Advogados do Brasil – seção Rio Grande do Sul (OAB-RS).

No último dia 4, Lúcia entrevistou por mais de uma hora o coronel Paulo Adriano Telhada, ex-comandante da Rota, atualmente vereador do PSDB na Câmara Municipal de São Paulo.

O foco da matéria era principalmente a contratação de dois doadores de campanha para trabalhar como assessor no gabinete. Os nomes aparecem na lista do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo. Um doou quase R$ 40 mil e o outro, cerca de R$ 19 mil. Segundo o site da Câmara dos Vereadores, o primeiro assessor recebeu, em janeiro, mais de R$ 21 mil de salário; o segundo, quase R$ 18 mil. O coronel contratou, ainda, um primo para a assessoria de imprensa do gabinete.

O clima esquentou quando a repórter, ao abordar a contratação de parentes, perguntou se era legal contratar primos. Embora não seja moral nem ético, a lei permite. Lúcia não tinha certeza e disse que iria consultar advogados. O coronel reage com uma ameaça:

Eu aconselho você a tomar cuidado com o que você vai publicar, porque a paulada vem depois do mesmo jeito, no mesmo ritmo.

Ouça aqui todo o diálogo:

Ao coronel são imputadas 36 mortes durante o período em que atuou no Tático Móvel e depois como policial da Rota:

Você quer que eu conte quantos eu matei, eu não sei. Filha, eu sou um policial de 34 anos de serviço. Você sabia quantas vezes eu fui baleado? Você nunca perguntou… Vocês querem saber quantos eu matei, mas nunca perguntaram quantas vezes eu fui baleado. Você sabe quantas alças de caixão de policial eu já carreguei? Nunca perguntaram. Isso não interessa. Isso não interessa para vocês… O que interessa é que o coronel é um assassino, o coronel matou 48, 50 alguns falam 36, não sei onde arrumaram esse número… Eu não sei, eu nunca contei.

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Questionado sobre o paradoxo entre matar e frequentar igreja, Telhada afirma:

Eu estou em paz. Todos os caras que eu matei eram bandido. Não foi nenhum inocente. Essas mãos, aqui, filha, estão suja… de lama e sangue… Não tem nenhum sangue de inocente aqui.

Ouça aqui todo o diálogo:

A reportagem foi ao ar na manhã do dia seguinte, 5 de março. Dos dois áudios postados até aqui, apenas o primeiro entra de passagem.

Ouça aqui o que foi ao ar na Rádio Brasil Atual. Lúcia ouviu também o juiz José Henrique Rodrigues Torres, presidente da Associação Juízes para a Democracia (AJD).

DEMISSÃO POUCAS HORAS DEPOIS DE A ENTREVISTA COM TELHADA IR AO AR

À tarde, nesse dia, a jornalista foi demitida pelo próprio coordenador da Rede Brasil Atual, Paulo Salvador. Habitualmente ele não trabalha no mesmo espaço da Rádio; foi até o local apenas para exonerar Lúcia:

Ele me demitiu no estacionamento do prédio. Perguntei várias vezes o motivo. Ele disse que não iria falar. A única coisa que chegou a dizer é que não havia mais espaço para mim na firma com a mudança para a Paulista [a nova sede será na rua Carlos Sampaio]. Perguntei de quem era a decisão. Disse que era dele.

[Dele? Ou dele?
Dê-le.
Quem?
Ele!]

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Sobram ameaças para jornalistas

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Ameaças que aconteceram do final de julho a começo de setembro de 2012, conforme denuncia da Sociedade Interamericana de Imprensa:

AMEAÇAS DE MORTE

Em 23 de julho de 2012, a equipe de O GLOBO enviada a Redenção (PA) para investigar fraudes envolvendo a prefeitura foi ameaçada e coagida pelo prefeito e candidato à reeleição, Wagner Fontes (PTB-PA). A jornalista Carolina Benevides e o fotógrafo Marcelo Piu tiveram que deixar a cidade acompanhados de dois policiais federais. Durante a entrevista o candidato pediu que os jornalistas tivessem cuidado com as perguntas e ameaçou: “Estou falando para que você embase suas perguntas, até para que você possa refletir sobre o que eu vou te dizer. Se (alguém) falar mal a fim de difamar, pode ser que amanhã ou depois esteja morto”. A ameaça foi registrada em ocorrência na Polícia Federal de Redenção. No documento, consta que o prefeito coagiu e ameaçou a equipe, tendo deixado transparecer que um acidente poderia acontecer ou ainda que algo ilícito poderia ser encontrado com a equipe.

Em 14 de julho de 2012 o repórter André Caramante, do jornal Folha de São Paulo, passou a receber ameaças em postagens no Facebook após publicar uma matéria de denúncia sobre o ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA). Na matéria “Ex-chefe da ROTA vira político e prega a violência no Facebook”, o jornalista afirmou que o ex-comandante da unidade, Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, usava sua página no Facebook para incitar a violência em supostos confrontos com civis, que chamaria de “vagabundos”. Em uma das publicações reproduzidas da página de Telhada, que atualmente é candidato a vereador de São Paulo, há a frase “Tem gente que ainda quer defender essa raça de safados […] e algumas ‘organizações’ querem defendê-los como vítimas da injustiça da polícia”. Após a publicação da matéria, em 14 de julho, o jornalista contou que os seguidores da página do coronel fizeram comentários com ameaças, como “é isso aí Telhada, vamos combater esses vagabundos” e “esse Caramante é mais um vagabundo.

Em 8 de outubro de 2012, quatro meses após o inicio das ameaças por parte do ex-comandante (eleito vereador de São Paulo em 07/10), o jornalista Caramante teve que ser afastado, por razões de segurança, de suas funções na Folha de S.Paulo e se refugiou com sua família em país não revelado.

Em 13 de setembro de 2012, a rádio Farol FM, do deputado estadual João Henrique Caldas (PTN), teve suas instalações completamente destruídas por duas bombas de médio poder explosivo, na cidade de União dos Palmares no interior de Alagoas. O político é conhecido pela forte oposição ao prefeito de União dos Palmares, Areski Freitas (PTB) e vinha divulgando na rádio gravações em que supostamente se ouve o prefeito Freitas, que não é mais candidato ao pleito, em negociações que, na opinião do deputado, poderiam conter indícios de corrupção. De acordo com a polícia, a explosão ocorreu pouco depois das 4h. Populares acionaram os militares informando que ouviram o barulho da explosão e, ao saírem à rua, teriam visto dois homens correndo de dentro do prédio onde funcionava a rádio e fugindo em uma motocicleta, que não teve modelo e placa visualizados. Ao ser informado da ocorrência, o deputado federal João Caldas acionou a Polícia Federal.

Em 10 de agosto de 2012, o repórter-cinematográfico da TV Goiânia, Marco Antônio Ferreira, foi preso, acusado de crime de desobediência. O repórter transmitia ao vivo imagens do capotamento de uma viatura do Batalhão de Choque da Policia Militar do Goiás, ao se aproximar do veículo o Marco Antônio foi detido. Ele foi conduzido até o 8º Distrito Policial, no Setor Pedro Ludovico, onde foi lavrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por desobediência, crime que prevê pena entre 15 dias e 6 meses de detenção, mas foi liberado em seguida e não vai representar contra os policiais militares. O repórter-fotográfico Diomício Gomes, do POPULAR, também, teve o trabalho dificultado pelos mesmos policiais na cobertura do mesmo acidente. Confira

Um repórter ameaçado de morte

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Em 14 de julho, André Caramante, repórter da Folha de S.Paulo, assinou uma matéria com o seguinte título: “Ex-chefe da Rota vira político e prega a violência no Facebook”. No texto, de apenas quatro parágrafos, o jornalista denunciava que o coronel reformado da Polícia Militar Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, candidato a vereador em São Paulo pelo PSDB nas eleições do último domingo, usava sua página no Facebook para “veicular relatos de supostos confrontos com civis”, sempre chamando-os de “vagabundos”. Em reação à matéria, Telhada conclamou seus seguidores no Facebook a enviar mensagens ao jornal contra o repórter, a quem se referia como “notório defensor de bandidos”. A partir daquele momento, redes sociais, blogs e o site da Folha foram infestados por comentários contra Caramante, desde chamá-lo de “péssimo repórter” até defender a sua execução, com frases como “bala nele”. Caramante seguiu trabalhando. No início de setembro, o tom subiu: as ameaças de morte ultrapassaram o território da internet e foram estendidas também à sua família.
O que aconteceu com o repórter e com o coronel é revelador – e nos obriga a refletir. Hoje, um dos mais respeitados jornalistas do país na área de segurança pública, funcionário de um dos maiores e mais influentes jornais do Brasil, no estado mais rico da nação, está escondido em outro país com sua família desde 12 de setembro para não morrer. Hoje, Coronel Telhada, que comandou a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) até novembro de 2011, comemora a sua vitória nas eleições, ao tornar-se o quinto vereador mais votado, com 89.053 votos e o slogan “Uma nova Rota na política de São Paulo”.
Reportagem de Caramante
 http://www.youtube.com/watch?v=JMAwAVvW1oU
O que isso significa?

Bancada da bala é clichê do chiclé do PCC

‘Bancada da bala’ militariza gabinetes na Câmara Municipal

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GIBA BERGAMIM JR.

Sai a farda, entra o paletó e a gravata. No lugar da pistola, caneta e tablet. Em vez do quartel, o gabinete na Câmara.

Junto com os “vereadores-PMs” que tomaram posse neste ano -já apelidados de “bancada da bala”- veio um grupo que antes dividia com eles o dia a dia da caserna.

Estão nos gabinetes de Álvaro Camilo (PSD), ex-comandante-geral da PM, Paulo Telhada (PSDB), ex-comandante da Rota, e Conte Lopes (PTB), capitão aposentado que também atuou na Rota e foi deputado estadual.

Coronel da reserva, Camilo trouxe três ex-subprefeitos da gestão Gilberto Kassab (PSD).

O chefe de gabinete é o coronel Danilo Antão, seu braço direito na PM, que chefiou a Subprefeitura do Ipiranga. Os outros são os coronéis da reserva Nevoral Bucheroni, que comandou as subprefeituras de Pinheiros e Sé, e José Francisco Giannoni, ex-subprefeito de Santana.

Camilo chamou ainda o tenente-coronel Alexandre de Felice, o único que não atuou na prefeitura. “Trouxe pessoas que sabem muito bem a demanda da população.”

Ele diz que irá levar à Câmara as discussões sobre o combate aos bailes funk na periferia e a manutenção da Operação Delegada, em que PMs atuam na fiscalização do centro fora do horário de serviço.

O coronel Telhada trouxe colegas da Rota -tropa de elite da PM. Uma soldado que era sua secretária no quartel e dois sargentos reformados.

Telhada terá como foco de seus a segurança na cidade.

Conte Lopes trouxe para a Câmara um major da reserva que atuou com ele na polícia e na Assembleia.

Transcrito da http://fichacorrida.wordpress.com/

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Justiça cria a persona do jornalista inimigo

jornalista censura imprensa justiça indignados

Para manter um jornalista preso, a justiça de Pernambuco deu o seguinte parecer:

” (….) Não seria inverídico afirmar que boa parte das veiculações existentes no blog do agravado, ou até todas elas, teriam trazido consigo uma carga pessoal evidente, dado o relacionamento existente entre os litigantes não ser dos melhores, e talvez por isso as publicações tenham tratado o recorrente sem muito cuidado, na tentativa de atingi-lo imoderadamente.

Há nos autos provas documentais que atestam a existência de diferenças irreconciliáveis, por assim dizer, entre os litigantes, e que até provocaram a prisão em flagrante delito do recorrido (…)”

E agora, José?

É uma decisão que vai além do absurdo da permanência da censura da ditadura militar de 64. Ou do assédio judicial. Significa, principalmente, a morte do Jornalismo Opinativo. E atinge o Jornalismo Investigativo.

Diante da instantaneidade do jornalismo on line, e da rádio, e da televisão, o jornalismo impresso tem que ser investigativo e/ou opinativo.

Assisti em 1971, em Pamplona, Espanha, como aluno, a aula inaugural do Programa de Graduados Latinoamericanos, ministrada pelo célebre jornalista Jacques Fauvet ,  na Universidad de Navarra. Ele disse: “A rádio informa, a televisão mostra, o jornal opina”.

A estranha figura do jornalista inimigo precisa, necessária e urgentemente, ser estudada por juristas, legisladores e jornalistas.

Vou citar dois casos de jornalistas brasileiros que estão exilados:

Em São Paulo, o coronel Telhada e vereador da bancada da bala pode, agora, processar o jornalista “inimigo” André Caramante.

Da banda podre dos delegados de polícia do Paraná o direito de passar de algozes a vítimas do jornalista “inimigo” Mauri König.

Leia a liminar do desembargador Eurico de Barros Correia Filho na íntegra 

Martirena
Martirena

Democracia à brasileira: André Caramante começou o Ano 13 no exílio

Herzog
Herzog

Quando o cerco apertava só havia duas opções: ficar e morrer ou ir para o exterior. Também a mesma polícia que matou Herzog está por trás das ameaças a André Caramante. O Brasil, de 64 para 2013, não mudou nada.

Na encomenda da morte de um jornalista sempre tem, pelo menos, um policial.

Escreve a BBC:

Após escrever uma reportagem em julho relatando que o ex-comandante da Rota (a controversa unidade de elite da Polícia Militar de São Paulo) e vereador eleito Paulo Telhada usava sua página no Facebook para pregar a violência, o repórter André Caramante, do jornal Folha de S.Paulo, passou a ser alvo de ameaças que o levaram a deixar o país com a família.

Com os filhos fora da escola regular e longe dos amigos e da profissão, o jornalista espera providências das autoridades, que ainda não identificaram os autores de ameaças como: “Quero deixar um recado para o André Caramante. Para ele deixar a polícia trabalhar em paz ou os filhos dele vão estudar no tacho do inferno”, feita por telefone a um funcionário da Folha de S.Paulo, segundo o Ministério Público.

Herzog torturado. Desconheço a autoria deste excelente quadro que ilustra o cartaz do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog
Herzog torturado. Desconheço a autoria deste excelente quadro que ilustra o cartaz do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog

BBC Brasil – Como se sente nesta situação?

Caramante – Essa tentativa de intimidação contra a liberdade de imprensa não é nova e não se restringe apenas a mim. No México, por exemplo, as pressões contra a imprensa livre são exercidas pelo narcotráfico. No Brasil, mesmo após o fim da ditadura militar, há quase 30 anos, as indicações são de que setores das forças de segurança tentam impedir a divulgação de informações.

Posso citar dois exemplos, cada um com seu grau de intensidade, mas ainda assim semelhantes por terem PMs como alvo de denúncia: o do jornalista Caco Barcellos, autor do livro-reportagem Rota 66 – A História da Polícia que Mata, ameaçado de morte e obrigado a deixar o país nos anos 1990 por mostrar a política de extermínio da tropa especial da PM de São Paulo.

E também o do jornalista Renato Santana que, em 2011, após denunciar grupos de extermínio na região do litoral paulista, passou a ser ameaçado e teve de pedir demissão do jornal para o qual trabalhava e se mudar.

BBC  – O governo estadual poderia ter feito alguma coisa para evitar essa situação, ou pode tomar alguma atitude agora?

Caramante – Depois de a notícia sobre minha mudança temporária de localização ter sido tornada pública, o governador Geraldo Alckmin propôs me colocar, ao lado de minha família, no programa estadual de proteção a vítimas e testemunhas. Mas isso não atendeu a minha expectativa, porque faria com que eu tivesse de abrir mão de minha atividade profissional, do direito de informar.

(O programa) faz com que um jornalista tenha de deixar de exercer seu trabalho, rompa laços de amizade, mude de casa ou até mesmo de nome, mas não diz nada sobre como responder à ameaça contra a liberdade de imprensa que a minha situação expôs.

No fim de julho, o secretário da Segurança Pública do governador Alckmin já havia afirmado que iria determinar uma investigação na Corregedoria da PM contra o coronel reformado sobre as atitudes dele contra mim no Facebook. Até hoje não fui informado sobre o resultado dessa investigação. Somente dois meses depois dessa afirmação, a Corregedoria da PM, sabendo que eu já estava fora do país, enviou um ofício ao jornal para me ouvir. Fica muito difícil acreditar em resultados. Afinal, havia uma investigação em curso no fim de julho?

BBC – Qual é a sua opinião sobre o posicionamento do governo Alckmin?

Caramante – Se tivéssemos uma política de segurança pública transparente em São Paulo, o governo manteria de forma explícita, por exemplo, uma lista completa com todos os dados das vítimas dessa onda de violência em andamento. Em São Paulo, jornalistas não têm acesso a documentos públicos sobre esses crimes. A desculpa é a de que a revelação sobre quem morreu “atrapalharia as investigações”.

 [Coronel Telhada acaba de tomar posse na bancada da bala da Câmara Municipal de São Paulo. É policial da máxima confiança de Alckmin, e foi eleito vereador pelo partido tucano do governador.]
Coronel Telhada, um político tucano
Coronel Telhada, um político tucano

Ameaças a André Caramante: Diretor do Estadão conta que Folha tem motivos para ficar em silêncio. O caso Ricardo Antunes

Como acontece nos tempos da ditadura militar: André Camarante, exilado para não morrer
Como acontecia nos tempos da ditadura militar: André Camarante, exilado para não morrer

Por que a imprensa apenas noticiou o press release da prisão do jornalista Ricardo Antunes, nos dias 5 e 6 de outubro último?

André Caramante está exilado. O silêncio da imprensa motivou a morte de vários jornalistas durante a ditadura militar.

Escreve Nathália Carvalho

O caso do repórter da Folha de S. Paulo, André Caramante, e a questão da segurança dos jornalistas no Brasil foi tema de discussão durante o seminário de comemoração dos 10 anos da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Presente na ocasião, o diretor do Grupo Estado no Rio de Janeiro, Marcelo Beraba, disse que a Folha provavelmente tem motivos para não tornar ainda mais público o caso.Caramante virou assunto no final do evento quando Sérgio Gomes, diretor da Oboré, questionou os profissionais sobre a situação do jornalista que está fora do país por sofrer ameaças após fazer uma reportagem sobre o recém eleito vereador da capital paulista, Coronel Telhada (PSDB). Em resposta, Beraba, que já foi ombudsman da Folha, explicou que o veículo não deixaria de noticiar um fato como este se não houvesse motivo.”Entre todos os jornais, a Folha é a que mais tem postura de tornar público assuntos como este porque ela entende que essa é a melhor forma de agir. Mas, neste caso específico, eles têm tido atitude de se reservar e não é sem motivo”, argumentou o executivo do Grupo Estado.Da Universidade do Texas, Rosental Calmon Alves, que veio especialmente para o evento, compartilhou da mesma opinião e explicou que cada caso é um caso. “Às vezes vemos a situação de fora e achamos que não está sendo feito nada. Mas é muito importante ter cuidado ao criticar, porque às vezes faz parte da peculiaridade do caso”, disse. Ele explica que tornar público nem sempre é o melhor a se fazer. É exatamente assim que Fernando Rodrigues, jornalista da Folha de S. Paulo, pensa. “O ganho em ficar chamando a atenção para este episódio pode ser menos positivo para a segurança específica do profissional”, disse.

O evento, que foi realizado na manhã desta segunda-feira, 10, na Escola de Comunicação e Arte  da Universidade de São Paulo (ECA-USP), reuniu diversos estudantes e profissionais. Entre eles, o professor da USP Claudio Tognolli, Angelina Nunes (O Globo), Marcelo Moreira (TV Globo), e José Roberto Toledo (vice-presidente da Abraji).

Caso André Caramante

A história de André Camarante, que desenrola desde julho, ficou conhecida quando diversas pessoas começaram a ameaçar o jornalista pela publicação da matéria “Ex-chefe da Rota vira político e prega a violência no Facebook”, que denunciava Telhada. Depois disso, todos os textos assinados por Caramante passaram a ser bombardeados por comentários ameaçadores.

Com 34 anos, sendo 13 dedicados à cobertura de pautas nas áreas de segurança pública, Caramante conversou com a jornalista da revista Época, Eliane Brum, e deu detalhes sobre a situação. ” [Estou escondido] desde o início de setembro. Os advogados do jornal encaminharam às autoridades uma solicitação de investigação sobre as ameaças. Alterei completamente minha rotina e minha localização”, explicou.

Embora não esteja na redação, Caramante segue com o trabalho normalmente. “Não estar fisicamente na redação me causa impedimentos que são irrisórios frente à necessidade atual de garantia da integridade, minha e da minha família”, disse ele à Época.

 

Coronel Telhada, depois de estimular que seus seguidores ameaçassem André Caramante, o militar foi eleito em São Paulo
Coronel Telhada, depois de estimular que seus seguidores ameaçassem André Caramante, o militar foi eleito vereador em São Paulo. Conheça a bancada da bala