No Brasil todo defunto vira santo. Morte de corrupto não merece luto oficial. Isso acontece porque temos cidades com nome de torturador e de ladrão

 

 

Que uma família cultue e chore seus mortos um direito sagrado. Mas o Estado deve apenas homenagear e lembrar personalidades, cuja história sirva de exemplo para todos os brasileiros, principalmente quando exerceram cargos nos poderes executivo, legislativo e judiciário.

Leio hoje: Pela morte do deputado estadual Walter Rabello (PSD), o governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), decretou luto oficial por três dias. Por meio da Secretaria de Comunicação Social, o chefe do Executivo estadual disse lamentar a perda do parlamentar, que faleceu na noite desta terça-feira (9), aos 48 anos.

“O Walter fazia um grande trabalho e infelizmente nos deixou. Que Deus conforte sua família neste momento tão difícil”, disse o governador, em nota. Walter Rabello deixou a mulher, cinco filhas e duas netas. Além de deputado, ele também trabalhava como apresentador de TV e cantor.

Na sessão plenária desta terça-feira, Rabello fez um balanço de sua atuação parlamentar durante o primeiro semestre deste ano. Presidente da Comissão de Segurança Pública e Comunitária na Casa de Leis, ele comentou sobre os projetos que apresentou para melhorias nessa área.

Rabello começou na política em 2004, quando se elegeu vereador por Cuiabá e, dois anos depois, deputado estadual. Por mudar de partido, teve o mandato cassado por ‘infidelidade partidária’, em 2008. Na eleição de 2010, conquistou mais uma vez a cadeira. Este ano, foi reeleito com 27.232 votos.

Todo deputado do Mato Grosso é um Rabello em vida? Tem Rabello como modelo? Justa a homenagem, ele vai terminar nome de ruas e avenidas. De escolas e ginásios. De faculdade de comunicação social. Talvez de um algum presídio.

Major Curió nome de cidade

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Adorados como deuses, depois de mortos, Hitler teve derrubadas suas estátuas na Alemanha. Deixou de ser nome de cidades e monumentos. Aconteceu o mesmo com Stalin. Posso citar dezenas de ditadores na Europa do Século XX.

A estátua de Stálin derrubada pelo povo húngaro
A estátua de Stálin derrubada pelo povo húngaro

 

Por que não acontece o mesmo no Brasil? Resultado: São Paulo já realizou a quinta marcha pedindo o retorno da ditadura de 1964, que durou 21 anos.

A quinta marcha depois das eleições do segundo turno, para impedir a posse de Dilma Rousseff eleita, democraticamente, pelo voto direito.

É repugnante. O Brasil tem um município e cidade com o nome de Curionópolis, que homenageia o major Sebastião Curió, um assassino, um torturador, um ladrão, um traficante de minério.

 

Curionópolis fica no estado do Pará. Localiza-se na microrregião de Parauapebas e na mesorregião do Sudeste Paraense. O município tem 18.108 habitantes (2012) e 2 289 km² de área territorial.

Foi emancipado administrativamente em 1988. O município é notório por abrigar a Serra Pelada, que foi o local de operações do maior garimpo a céu aberto do mundo, durante a década de 1980. Um ouro que foi transportado de avião para vários países, principalmente o Uruguai.

Curió praticou todos os crimes que lhe deu na telha. Impunemente. Um deles. Foi condenado ao pagamento de R$ 1,1 milhão por improbidades administrativas ocorridas entre 2001 e 2004, durante sua penúltima gestão como prefeito do município. A decisão da Justiça Federal em Marabá foi publicada nesta quarta-feira, 25 de março, e suspende os direitos políticos de Curió por cinco anos.

A ação contra Curió e o então secretário de Finanças do município Wilson da Silva Marques foi ajuizada pelo Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA) em setembro de 2006. O juiz federal Carlos Henrique Haddad considerou que o ex-prefeito teve enriquecimento ilícito, fraudou licitações e feriu os princípios de honestidade e legalidade na administração pública. As acusações contra Marques foram rejeitadas pela Justiça.

Curió foi várias vezes prefeito. As irregularidades foram praticadas principalmente com verbas do Fundef. As fraudes vão desde a contratação de empresas fantasmas, uso de notas fiscais falsas, inexistência de processos licitatórios ou processos irregulares, entre outras. As investigações também detectaram que houve fraude na criação do conselho do Fundef, que provavelmente não chegou a funcionar durante o período pesquisado.

Em defesa dele, pode-se afirmar que, praticamente, todos os prefeitos desviam verbas federais e estaduais. Pobre país de prefeitos ladrões.

 

Quem é Walter Rabello?

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Apenas conhecido no Mato Grosso, Walter Rabello já foi denunciado pelas suas trapaças. Em maio deste ano, a imprensa publicou: A Secretaria Nacional de Defesa dos Direitos Humanos, órgão ligado à Presidência da República, enviou um ofício ao presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, desembargador Rubens de Oliveira, pedindo urgência no julgamento da ação penal que envolve o deputado estadual e apresentador de televisão Walter Rabello (PSD).

Ele é acusado pelo Ministério Público Estadual (MPE) de cometer crime de tráfico de influência e de pertencer a um grupo criminoso chefiado pelo empresário Julio Uemura.

No mês passado, o órgão solicitou ao presidente do TJ prioridade no andamento processual da ação penal, já que, segundo o órgão federal, existem testemunhas que estão sendo beneficiadas pelo Programa Nacional de Proteção a Testemunhas.

Relações com Uemura: “padrinho”

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Com uma relação estreita com o chefe da organização acusada de aplicar golpes e tinha o monopólio no setor de hortifrutigranjeiro em Mato Grosso, empresário Júlio Uemura, o deputado Rabelo afirmou que, caso vencesse a eleição para Prefeitura de Cuiabá, quando disputou em 2008, quem iria administrar a Capital seria o “padrinho” Uemura.

A revelação está contida na denúncia que os promotores Joelson Maciel e Célio Wilson, que atuavam no Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPE, encaminharam à Justiça, após a deflagração da “Operação Gafanhoto”.

O MPE colheu as declarações do parlamentar por meio de gravação telefônica autorizada pela Justiça. A conversa entre Rabello e Uemura e foi gravada um ano antes das eleições municipais, no dia 19 de outubro de 2007, às 11h15.

Rabello disputou as eleições para prefeito de Cuiabá e ficou em terceiro lugar. Informações extra-oficiais apontam Júlio Uemura como principal financiador da campanha do progressista ao Palácio Alencastro.

A denúncia oferecida pelo Gaeco e acatada pela Justiça aponta que Walter Rabello agia fazendo tráfico de influência, utilizando de sua influência política em benefício do grupo.

Conforme conversa telefônica, gravada no dia 28 de janeiro de 2009, às 19h13, o MPE considerou que ficou evidenciada a troca de favores em obtenção de uma série de vantagens, tais como patrocínios.

As gravações, conforme a denúncia, também revelam que Rabello pedia bênçãos ao “cabeça” da organização, com o tratamento de “chefe” e “padrinho”, revelando a estreita relação entre os dois denunciados pela Operação Gafanhoto.

“Conversas (…) relatam empréstimos concedidos por Júlio Uemura, como doação de cadeiras de rodas para seu programa”, revela trecho da denúncia do Gaeco. O programa “Olho Vivo na Cidade” era apresentado por Rabello na TV Cidade Verde, até então afiliada ao SBT, de onde ele foi demitido pelo dono da emissora, antes de oficializar sua campanha a prefeito de Cuiabá.

As investigações também mostram que, enquanto deputado estadual, Walter Rabello empregava em seu gabinete pessoas indicadas por Júlio Uemura, comprovando a existência de “troca de gentilezas” entre os denunciados.

“Walter Rabello, após solicitar o apoio financeiro de Júlio Uemura para realização de uma campanha beneficente (entrega de brinquedos no Natal), ressalta que colocará à disposição deste, uma vaga de assessor direto em seu gabinete”, relata denúncia, conforme conversa telefônica no dia 11 de dezembro de 2007.

 

Em São Paulo sem água, um bando de terroristas pede sangue

Passeata em Sampa. Imaginei que  para reclamar a falta de água.

E coisa rara, sem pancadaria da polícia e sem infiltrados e espionagem.

 

Viva a PM! Viva Bolsonaro! Viva Lobão!

 

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por Fábio Chap

Acabei de voltar de uma manifestação em que:

– 93% dos presentes gritavam: ‘Viva a PM! Viva a PM!’

– 52% dos presentes pediam a intervenção militar, ou seja, o retorno da ditadura militar no Brasil

– 97,8% dos presentes comemoraram quando foi dito no megafone que o congresso derrubou  a ‘medida bolivariana’ da Dilma que propunha participação popular na política brasileira

– Foi anunciado no carro de som que a ‘Fulana de Alguma Coisa’ tinha perdido seu cartão de crédito e poderia retirar no próprio caminhão. (Adoro manifestações em que eu posso recuperar meu cartão de crédito quando o perco.)

– 94% aplaudiu fervorosamente o Lobão quando ele subiu no carro de som

– 86% aplaudiu fervorosamente o filho de Bolsonaro, e ficou gritando: ‘Bolsonaro! Bolsonaro! Bolsonaro!’

– Discuti com uma mulher que cismou que eu era comunista quando eu disse que o Aécio bateu na esposa. Ela disse que eu preciso estudar mais e que se ele bateu na esposa, isso é problema particular deles, não nosso

– Uma menina bonita e bem vestida, por volta dos 20 anos, disse que o PT acabou  com a juventude dela

– Uma mulher começou a gritar ‘Dilma, Dilma, Dilma’ e ouviu de contra-argumento que ela era maconheira, sapatona e vagabunda. O homem que a xingou estava vestido de azul e deveria ter por volta de seus 60 anos.

Nesses rolês eu aprendo muito sobre o ÓDIO. E quanto mais eu vejo essas pessoas odiosas vomitarem suas verdades pequenas e particulares, mais eu desejo que elas descubram um pouco mais sobre o amor.

Quem sabe um dia.

 

Hidrante como enfeite

 

Boca de incêncio
Boca de incêncio

O governador Geraldo Alckmin mandou a polícia militar não reprimir a passeata. Ora, ora, era uma passeata favorável à polícia.

Estavam proibidos desta vez, o uso de bombas de efeito moral, balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo.

O governador aprovou apenas o uso de canhões de água contra os petistas, que não apareceram.

Os soldados estaduais testaram os hidrantes para ligar suas mangueiras. Não encontraram nenhum em funcionamento.

Alckmin ainda acredita que existe água em São Paulo.

E se acontecer um incêndio?

 

Os filhos da mídia foram protestar na Paulista

 

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por Paulo Nogueira

 

Os filhos da mídia foram neste sábado para as ruas protestar contra, bem, contra sei lá o quê.

Contra terem perdido nas urnas e, portanto, contra a democracia.

Disse “filhos”, mas poderia ter dito “vítimas”.

Porque em sua louca cavalgada antidemocrática eles foram intoxicados mentalmente pelo que a mídia deu nestas últimas semanas.

Eles pareciam saídos das páginas da Veja e dos comentários de gente como Jabor.

Pediam o impeachment de Dilma pelo caso Petrobras.

São os efeitos colaterais da capa criminosa que a Veja deu às vésperas das eleições.

Os manifestantes da Paulista tomaram aquilo como uma verdade indiscutível.

Isso mostra que é necessário aplicar uma punição exemplar à Veja. É uma tentativa de golpe branco fazer o que a revista fez – sem uma única prova – em cima de uma eleição tão disputada.

A Veja tem que enfrentar – rapidamente — as consequências do que fez. Ou vamos esperar que um lunático, inspirado pela revista, comece a matar petistas?

A mídia está também por trás do disparatado pedido de auditoria de votos feito pelo PSDB.

Os tucanos só fizeram isso por saberem que têm as costas quentes com a imprensa. Ou então se refreariam antes de atentar contra as instituições com um pedido tão esdrúxulo.

As dúvidas não resistem a um minuto de reflexão. Considere. O Datafolha deu, na véspera, 52% a 48% para Dilma. A diferença ficou nos decimais: 51,64% versus 48,36%.

A desconfiança nasce também, assinale-se, de trapaças do PSDB não devidamente cobradas pela mídia.

Aécio usou dados enganosos de uma pesquisa do instituto Veritás que lhe dava ampla vantagem em Minas, onde perdera no primeiro turno.

O dono do Veritás avisou que era um erro, ou crime, utilizar os números que Aécio brandiu publicamente, nos debates, contra Dilma. O estatístico também.

E mesmo assim Aécio não se deteve.

O que pensa um fanático antipetista quando vê uma coisa dessas? Num dia, numa pesquisa, seu candidato está ganhando amplamente em Minas. No dia seguinte, no mundo real, o candidato perde.

Farsa, é a conclusão.

E a frustração se converte em raiva depois que analistas afirmam que Aécio perdeu a presidência por causa dos votos que não teve em Minas.

Manifestações como a de hoje mostram como a sociedade está sendo agredida por uma mídia interessada apenas na manutenção de seus formidáveis privilégios.

Pensava-se que o ataque da mídia à democracia cessaria com as eleições.

Não cessou.

É hora de o Estado proteger a democracia, antes que seja tarde demais.

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Leia também: “Se eu fosse você, temeria pela sua integridade física”: nosso repórter na manifestação pelo impeachment em SP

 

Será que vai ter água?

 

Sergei Tunin
Sergei Tunin

Se o STF ergueu um muro entre a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Justiça, a ação dos jovens lança a ponte que haverá de torná-lo inútil

Quando um muro separa uma ponte une (…)

Você corta um verso, eu escrevo outro

Você me prende vivo, eu escapo morto

De repente olha eu de novo

Perturbando a paz, exigindo troco

Vamos por aí eu e meu cachorro

Olha um verso, olha o outro

Olha o velho, olha o moço chegando

Que medo você tem de nós, olha aí

(Pesadelo, de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro)

Aos poucos a sociedade vai rompendo o marasmo com que recebeu a agressão resultante da aliança entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e os torturadores e assassinos da ditadura militar.

Se as discussões sobre o projeto da Comissão Nacional da Verdade foram atalhadas pelo rolo compressor do governo, este viu logo em seguida que sua timidez diante dos criminosos somente lhes aumentava a audácia e o despudor. A exigência da presidenta Dilma e do Ministro Amorim de retirada do manifesto apócrifo da página dos Clubes Militares resultou na afrontosa divulgação do Manifesto dos Canalhas na página dos torturadores.

Entre a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos repudiando os crimes militares e a palavra do STF que os santifica ergueu-se o muro de proteção da ignomínia, com o qual a mais alta instância do Poder Judiciário brasileiro se pôs em favor dos torturadores, assassinos e sequestradores.

Entre a posição do Ministério Público Federal que denunciou o Major Curió pelos desaparecimentos forçados no Araguaia e a realização da Justiça alinharam-se a decisão de um Judiciário de primeira instância que não consegue honrar o compromisso com os direitos humanos e a perspectiva de nova manifestação do STF em favor dos torturadores na malfadada Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental, com que a OAB tentou ganhar para si um espaço no panteão da democracia.

Entre o Manifesto dos Canalhas e a vontade da sociedade em apoio à Memória, Verdade e Justiça esboçou-se um hiato de silêncio e dúvida.

E então a sociedade começou a fazer ouvir sua voz, pela voz da juventude, quando saíram às ruas em busca da oportunidade para demonstrar seu repúdio às violações de direitos humanos e à proteção dos violadores, e seu apoio à luta pela construção da memória, da verdade e da justiça.

Em diversos estados brasileiros os jovens foram às ruas e às portas atrás das quais se esconde a covardia para denunciar aos vizinhos e às consciências que ali se escondem criminosos. Já crentes, muitas vezes, de terem escapado ao julgamento da história, os “capitães Lisboa” de todos os recantos se ocultaram atrás das cortinas e devem ter gemido a dor de se verem encontrados quando já se julgavam ocultos para sempre.

Mas as ações dos jovens dizem mais do que avisar os torturadores e agentes dos desaparecimentos e homicídios de que sua hora se avizinha. Os jovens brasileiros disseram, com sua prática, que os esforços dos que apadrinham e acobertam os crimes do fascismo serão vãos.

A juventude brasileira mandou um recado ao Poder Judiciário e a sua instância maior de que mais do que suas decisões importam os direitos da Pátria e de seus filhos. A juventude popular deixou bem claro com suas ações e suas caminhadas que assumiu as bandeiras da geração que se sacrificou pela libertação nacional e a democracia, e já não aceita mais depô-las. Assim como os da geração pós 1964 ousaram afrontar a tirania militar a serviço do capital, a geração do segundo milênio anunciou sua ousadia para enfrentar a tirania judicial dos defensores do crime, do sequestro, dos homicídios e da tortura a serviço do mesmo capital.

As ações empreendidas pela juventude rebelde brasileira põem na berlinda os fascistas de ontem e os de hoje; o capital que sustentou a ditadura que os protegeu e o capital que protege os torturadores de ontem e de hoje. Na página da internet da empresa de vigilância do delegado Davi Santos Araújo, assassino do dirigente político Joaquim Alencar Seixas, estuprador de sua filha, ainda menor de idade naquela ocasião, e torturador de seu filho e sua esposa, exibiam-se orgulhosamente os logotipos de inúmeras empresas – Volkswagen, Santander, Anhanguera Educacional, Banco Itaú, Ford, Jac Motors e Banco Safra, entre outras – que contrataram os serviços das empresas do torturador. Tais empresas haverão de ser chamadas também, como as empresas que financiavam a tortura no passado, a dar contas de suas responsabilidades.

Se o STF ergueu um muro entre a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Justiça, a ação dos jovens lança a ponte que haverá de torná-lo inútil.

Editorial da edição 474 do Brasil de Fato

Vídeo Música de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós.

Interpretação de Eduardo Gudin, Paulo César Pinheiro e Márcia no show “O Importante é que a Nossa Emoção Sobreviva”.

Levante Popular da Juventude apresenta alguns torturadores

Estudante, entre neste Levante. Vídeo apresenta os excruciadores

270312_torturadoresleandrosilvaLíngua Ferina – Inspirada em mobilizações similares ocorridas no Chile e na Argentina, a juventude da Consulta Popular realizou nesta segunda-feira, 26 de março, ações de “escracho” em diversas cidades contra vários torturadores que atuaram durante o regime militar brasileiro.


Em sua página na internet, o Levante Popular da Juventude declara que “os manifestantes apoiam a Comissão da Verdade e exigem a apuração e a punição sobre os crimes cometidos pela ditadura militar.”No dia 21 de setembro do ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que cria a Comissão da Verdade para apurar os crimes cometidos no período entre 1946 e 1988. O projeto provocou inúmeras críticas de diversas entidades de Direitos Humanos, que ressaltam que a Comissão não terá independência do governo nem meios legais e materiais para investigar a fundo os crimes da ditadura.
As ações de escrachos constituem na denúncia de torturadores que continuam impunes até hoje em seus atuais locais de trabalho ou moradia.

Plebiscito para mudar o triste nome de Curionópolis, cidade pelada de suas riquezas

Lideranças políticas do sudeste do Pará querem mudar o nome da cidade de Curionópolis, desfazendo homenagem concedida pelo Estado, na década de 1980, ao coronel reformado do Exército Sebastião Rodrigues Curió, conhecido como major Curió. O município, a 800 km de Belém, foi criado em 1988 por lei estadual, a partir do desmembramento de Marabá.

No início do mês, o deputado estadual Fernando Coimbra (PSD) apresentou projeto de plebiscito para que a população local diga se quer alterar o nome da cidade para Serra Leste. O coronel Curió, à época major, combateu a guerrilha do Araguaia (1972-1975) nessa região. Ele foi denunciado neste mês pelo Ministério Público Federal, que o acusa do sequestro de militantes políticos de esquerda durante a guerrilha. A Justiça Federal de primeira instância já rejeitou a ação, mas a Procuradoria anunciou que irá recorrer.

Foi interventor militar na década de oitenta, e prefeito por dois mandatos (2000-2008). Na última eleição, Curió foi cassado sob acusação de compra de votos.

O Ministério Público paraense já havia notificado Prefeitura e Câmara Municipal de Curionópolis pedindo providências para a mudança do nome. Uma lei federal de 1977 proíbe atribuir nome de pessoa viva a bem público. Deputados da região dizem acreditar na aprovação do projeto com folga. “É imoral uma cidade ter o nome de pessoa com uma história de truculência e violência“, disse a deputada Bernadete ten Caten (PT), relatora do projeto em comissão da Casa. (Fonte: jornal Agora)

Acontece que o nome Serra Leste não é bem aceito. Que o povo escolha o nome.

O blog Zé Dudu, das regiões sul e sudeste do Pará, fez uma pesquisa, e informa que a população está dividida. Isso no voto aberto, apesar do mando do coronelismo político.

O projeto foi proposto às comissões e deve ir a plenário em, no máximo, 45 dias. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE/PA) fixou o prazo de 180 dias para a realização do plebiscito, a contar da data de publicação do Decreto Legislativo. Segundo avalia Coimbra, a mudança de nome poderia dar maior visibilidade ao município, tanto no cenário nacional, como no internacional. “Curionópolis tem uma das principais jazidas de ouro do Pará, com capacidade para produzir, inicialmente, 150 toneladas. Grande parte de suas riquezas fica na região de Serra Leste, onde a Vale implantou o projeto para explorar os minérios. É preciso considerar isso”.

A região de Curionópolis é originária do município de Marabá que surgiu de um aglomerado de pessoas que, no final da década de 1970, se estabeleceram no km 30 da rodovia PA-275, com a expectativa de trabalho na implantação do projeto Ferro Carajás, construção da estrada de ferro Carajás – Ponta da Madeira ou em busca de ouro, nas dezenas de pequenos garimpos que proliferam na região.

Com a ocorrência de ouro na Serra Pelada, no início dos anos 1980, Curionópolis consolidou-se como núcleo de apoio a essa atividade e como local de residência das mulheres e filhos de garimpeiros que, à época, eram impedidos de ingressar na Serra Pelada. Desenvolveram, assim, um comércio diversificado e um setor de serviços – hotéis, pensões, bares, lanchonetes, boates e outros – que consolidou Curionópolis como povoação, definitiva, mesmo depois que o ouro daquele garimpo escasseou. Leia os comentários. 

Projetos minerários

“Tudo que foi discutido e prometido para a Coomigasp está sendo cumprido”. A declaração foi feita pelo diretor da empresa Colossus, Darci Lindenmayer, ao destacar que o cronograma das obras na Nova Mina de Serra Pelada está dentro do prazo estabelecido na planta do projeto. Darci disse que a chegada da Colossus e de outras empresas de mineração à Curionópolis tem mudado a economia da região. “Não só o nosso projeto, como também os projetos da Vale e da Serra Leste, têm trazido desenvolvimento muito grande  à vila de Serra Pelada e para o município de Curionópolis”, frisou. O diretor da Colossus destacou ainda os benefícios que estão chegando na vila de Serra Pelada. “Só para se ter uma ideia, dos 700 funcionários do projeto, a maioria é residente na vila de Serra Pelada. E hoje já vemos melhorias na vila com a abertura de novos bares, restaurantes, lojas de confecção  e supermercados. Portanto, hoje, a vila de Serra Pelada tem uma fisionomia bem diferente da que ela tinha há dois anos atrás”, afirmou.

A empresa Colossus, de origem canadense, fez parceria com a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) para exploração mecanizada de ouro, platina e paládio no antigo garimpo. Serão investidos no projeto R$ 220 milhões. Novos equipamentos recém-chegados já estão em atividade: dois caminhões betoneiras tornados e um caminhão alfa 20 responsável pela projeção de concreto no teto do túnel no interior da mina. Além desses modernos equipamentos, o projeto acaba de receber um moinho de bolas, que é responsável pela diminuição do material proveniente da mina e pelo seu preparo para as próximas etapas de concentração.

Que piada: “abertura de novos bares, restaurantes…”

A vocação mineral do Pará esta cada vez mais consolidada e o município de Curionópolis é um dos mais importantes neste cenário. Informa a Prefeitura: O município vai receber além do Projeto Serra Leste, o Projeto Cristalino de exploração de cobre, e Serra Pelada para a lavra de ouro.

A reserva inicial da mina de Ferro Serra Leste é de 29 milhões de toneladas de minério de ferro, com estimativa de produção de 2 milhões de toneladas por ano. O minério de ferro granulado produzido atenderá o mercado das siderúrgicas de ferro gusa (componente do aço) em Marabá, Açailândia, Santa Inês e Rosário. O empreendimento possibilitará a criação de novos postos de trabalho arrecadação de impostos, já que no segundo ano de operação, Curionópolis passa a ganhar anualmente uma injeção de tributos entre royalties e impostos incrementando assim, a economia local e investimento em projetos sociais. Esses são alguns dos benefícios que a implantação da mina de Ferro Serra Leste vai trazer para o município de Curionópolis.

O projeto Cristalino será implantado na divisa entre as cidades de Canaã dos Carajás e Curionópolis, porém a mina onde será feita a extração de cobre, ficara no município de Curionópolis. Com investimentos na ordem de 1 bilhão de dólares, e com estimativa prevista para 24 anos de produção, o Projeto Cristalino é um empreendimento da Vale na exploração de cobre na região e vai suprir a demanda do mercado nacional tornando o Brasil auto – suficiente na produção e comercialização desse minério.

Pobre Curionópolis pobre, pra onde vai tua riqueza? As fotos mostram o atraso da cidade sempre roubada.

Serra Pelada

Por Thais Pacievitch

De maio a novembro de 1980 foram retirados aproximadamente 7 toneladas de ouro. No fim do ano de 1981, já haviam sido retiradas do garimpo mais de 10 toneladas de ouro. No fim de dois anos, o estreito riacho já havia se transformado em um buraco de 100 metros de profundidade, do tamanho do estádio do Maracanã.

Devido à grande concentração de pessoas e a falta de infraestrutura na região, em maio de 1980 foi enviado o interventor federal Sebastião Rodrigues de Moura, o “major Curió”. Foi ele o responsável pela organização dentro e nos arredores do garimpo.

As condições de trabalho eram extremamente precárias. Quanto maior a profundidade do garimpo, maior o perigo de acidentes com garimpeiros. Os desmoronamentos eram frequentes. As escadas improvisadas e danificadas; os perigosos barrancos que se formaram e a inalação de poeira rica em monóxido de ferro tiraram a vida de muitos garimpeiros.

Leia mais

Pelada Serra Pelada...
Pelada Serra Pelada...

Escreve Breno Castro Alves:

Estima-se que cerca de 120 mil pessoas viveram ali no auge do garimpo, de 82 a 86. A primeira pepita foi encontrada em dezembro de 79, por um vaqueiro da fazenda do velho Genésio, dono daquelas terras.

Em sua parte mais profunda, o lago de Serra Pelada possui 120 metros de profundidade. Acima d’água não difere muito de um lago comum, talvez exceto pela montanha recortada que se projeta morro acima. Abaixo da superfície, depositadas no solo envenenado de mercúrio, estão sobrepostas camadas de ouro, lama, sangue e ganância humana.

TSE proíbe pré-campanha eleitoral pelo Twitter. Curionópolis desobedece

Coronel Curió nomeia um munício e uma cidade
Coronel Curió nomeia um munício e uma cidade

Toda vez que é citado o nome de Curionópolis se promove o coronel Curió, chefe político do Pará.

É crime nomear um município com o nome de pessoa viva, idem uma cidade.

Os candidatos a cargos eletivos não podem usar o  Twitter para se autopromover ou pedir votos antes do período de propaganda permitido por lei. É o que definiu o Tribunal Superior Eleitoral.

Os ministros do TSE entenderam que o Twitter é um meio de difusão de massa e que, assim como ocorre no rádio e na TV, a propaganda só deve ser autorizada a partir do dia 6 de julho próximo.

Ninguém sabe se o coronel Curió pretende ser novamente prefeito. Sua possível candidatura depente da Justiça de Brasília.

Para onde vão os desaparecidos?

É conhecida a expressão popular: negro não morre, desaparece.

Nas escolas, o uso da palmatória. Sabatina. Também existia a brincadeira do ai. (Veja vídeo).

– Vamos brincar de ai?

– Como se brinca?

– A gente dá as mãos, e uma mão bate na outra. Quem falar ai, sai. Até ficar apenas um jogador, o vencedor.

Tinha outro jeito:

Perguntava-se:

– Você conhece a brincadeira do ai?

Se a respostas fosse: – não, se dava um beliscão.

Quando a vítima dizia ai, ouvia a resposta:

– Agora, você sabe.

Esta brincadeira do beliscão fez muito começo de namoro. O beliscão era suave, servia para criar um espaço de intimidade, e a garota fingia dor.

Nos porões da ditadura praticavam a brincadeira do ai. Com instrumentos usados contra os escravos nos antigos impérios, e outros inventados pela polícia das tiranias hodiernas.

No Brasil muitos levaram sumiço nesse jogo comandado pelos Ustra e os Curió.

Eles sabiam que estavam praticando um crime. Portanto, para esconder os mortos criaram os cemitérios clandestinos. Recentemente, um ex-goleiro do Flamengo fez o mesmo ou mandou. Muitos torcedores pediram a soltura do jogador que assassinou a amante grávida. Partes do cadáver foram jogadas para os cães. Cegos flamenguistas assinaram manifesto.

O secretário estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, anunciou em 2011, que quer dar fim à dor das famílias que tiveram parentes mortos de maneira cruel e enterrados em favelas da cidade. Beltrame lançou uma campanha de incentivo para moradores da região denunciarem a existência de cemitérios clandestinos e possíveis esconderijos de ossadas.

– Nós entendemos que precisamos buscar os restos mortais destas pessoas, como o Júlio Baptista, que desapareceu em 2009, para minimizar a dor das famílias que sofreram ou sofrem com isso, porque existem inquéritos abertos de acusações de homicídios, mas nós não temos o corpo para concluí-los.

Júlio Baptista é um agente de combate às endemias da Prefeitura do Rio (mata-mosquito) que está desaparecido desde o dia 9 de julho de 2009. A iniciativa da campanha teve início depois de a Secretaria de Segurança ter sido acionada pela família da vítima, morta por traficantes do local. De acordo com as investigações, ele teria sido confundido com um estuprador e morto pelo tribunal do tráfico que atuava na Nova Brasília. O corpo de Júlio nunca foi encontrado.

O Brasil todo pergunta:

– Onde estão os desaparecidos?

Eternamente vão ouvir esta música. Clique

A falta de coragem dos bandidos e dos seus defensores

por Gilmar Crestani

Os caras são tão covardes que mudam até a data da comemoração do golpe. Foi um verdadeiro primeiro de abril, mas os porcos só tomam banho de lama no dia seguinte. E foi golpe a mão armada, como fazem todo dia grupos marginais que assaltam. A diferença é que os militares assaltaram a democracia. Não contentes, estupraram-na e depois mataram e enterraram. Por mais que tentem esconder, as orelhas dos burros sempre acabam furando as máscaras. Se algo consegue ser pior do que isso são os civis que gozam, literalmente, com o pau dos outros. Já sabemos quem foram os executores, os militares. Quem se aproveitou para enriquecer, as famiglias Mesquita, Frias, Marinho e Sirotsky. E agora também sabemos quem tem prazer no sofrimento alheio e por isso continuam defendendo o indefensável.  São os que, tendo uma oportunidade, também prenderiam, estuprariam, torturariam, matariam e esconderiam o cadáver.

Brasil se isola e desmoraliza ao acobertar crimes da ditadura
Do Blog da Cidadania


Vem aumentando a pressão internacional para que o Brasil investigue e puna os crimes da ditadura militar. A Organização das Nações Unidas (ONU), ao lado da Anistia Internacional e do Tribunal Penal Internacional, pressionam o país para que puna militares que sequestraram, torturaram e assassinaram entre 1964 e 1985.

Na última quinta-feira, a Anistia Internacional denunciou que “O Brasil continua atrasado em comparação aos demais países da região em sua resposta às graves violações de direitos humanos cometidas no período militar”, o que constitui um eco do clima internacional em relação ao acobertamento institucional daqueles crimes.

ONU, Anistia Internacional, Comissão Interamericana de Direitos Humanos e TPI condenam o Supremo Tribunal Federal brasileiro por ter se manifestado contra ação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) iniciada em 2010 que questionava a Lei da Anistia, de 1979. A condenação informal do Brasil por leniência com os crimes de Estado durante a ditadura tem amplo apoio dos principais países-membros.

A ONU, por exemplo, considera que o Estado não pode praticar crimes imprescritíveis como seqüestro, tortura e assassinato, não importando que outros crimes possam ter sido cometidos pelos que resistiram ao regime militar, pois o Estado tem que se pautar pela lei, sendo negado que atue contra a lei sob pretexto de combater “crimes”.

Desenhando, para quem se nega a entender: o Estado não pode se igualar ao criminoso. Se um criminoso tortura, o Estado não pode torturá-lo. Até mesmo para aplicar pena de morte, onde ela existe, exige-se um julgamento e diversos outros ritos legais.

Outro fator que torna insuportável a Lei da Anistia que a ditadura brasileira aprovou em benefício próprio, a exemplo do que fizeram outras ditaduras da região, é que foram punidos os acusados pelos ditadores de terem cometido seqüestros, assaltos e assassinatos, seja com o exílio, com prisão, com torturas ou até com a morte.

Já os agentes do Estado que cometeram crimes, esses jamais responderam por nada. Não há um só caso de punição de membros da ditadura, ao passo que há centenas de casos de punições formais de membros da resistência àquele regime. A hoje presidente da República, Dilma Rousseff, é o exemplo mais conhecido, ao ter cumprido pena de prisão.

Houve leis de anistia na Argentina, no Chile ou no Uruguai, mas essas leis foram derrubadas justamente devido ao conceito mundialmente reconhecido de que o Estado não pode praticar seqüestros, torturas e assassinatos em hipótese alguma, nem sob a desculpa de combater insurreição.

Agora, após a Justiça do Pará ter rejeitado ação do Ministério Público Federal contra o coronel da reserva Sebastião Curió, acusado de sequestro e assassinato de cinco pessoas na década de 1970, o Superior Tribunal Federal, sob demanda da OAB, voltará a julgar a Lei da Anistia. O julgamento deve ser reaberto na semana que entra.

Coronel Curió, inúmeros crimes pós-guerrilha

por Luiz Carlos Antero

Fotos de Serra Pelada. Milhares e milhares de garimpeiros no trabalho desumano de desencantar o ouro que enriqueceu os piratas
Fotos de Serra Pelada. Milhares e milhares de garimpeiros no trabalho desumano de desencantar o ouro que enriqueceu os piratas

A story line de Curió… (ou, de modo mais factual, nos assassinatos cometidos para roubar direitos de concessão à lavra), ele poderia ser algemado, preso e submetido a um julgamento público por crimes que se sucederam à Guerrilha do Araguaia, e inoculam uma capenga “lei de anistia”. 

Entre esses crimes, está até mesmo a execução, em 1993, de um adolescente de 17 anos (hoje contaria 35 anos) que supostamente teria penetrado em sua chácara, em Brasília. No final de 2007, as Câmaras Criminais Reunidas do TJE decidiram adiar o seu julgamento pela acusação do homicídio doloso daquele jovem brasileiro, em denúncia formulada pelo Ministério Público do Distrito Federal, pois Curió “não foi localizado”, apesar de ter endereço e local de trabalho conhecido, na prefeitura de Curionópolis.

Pois, como parte de sua tarefa, ele ganhou uma cidade, de onde foi prefeito (e permaneceu ainda em 2008, resistindo à cassação que culminou um processo por abuso do poder econômico formulado pelo TSE). E persistiu semeando execuções. Depois de comandar as operações de extermínio no Araguaia, construiu um feudo econômico e político, exercendo até hoje forte influência na região conflagrada.

Curió fundou Curionópolis (PA), que se emancipou de Marabá em 1988, exercendo o primeiro mandato de prefeito após uma longa folha de serviços prestados ao regime numa região onde fez muitas vítimas entre os garimpeiros, mantendo-se indiferente a quaisquer sinais de mudança. Exemplo disso foi o assassinato de Antônio Clênio Cunha Lemos, então presidente do Singasp, em Curionópolis, na madrugada do dia 17 de novembro de 2002, com cinco tiros, dois dos quais na cabeça.

Dois anos antes…, Raimundo Benigno Moreira, que o sucederia no comando do Singasp, fora vítima de esfaqueamento em Serra Pelada.


Garimpo da morte

A execução coroou a disputa entre dois grupos rivais de garimpeiros pelo controle da Cooperativa, um dos quais ligado a Curió. Aconteceu às vésperas das eleições para escolha da nova diretoria da Coomigasp, acirrada pela presença de uma chapa de oposição ligada ao Singasp, liderado até então pelo assassinado Cunha Lemos.
Muitos garimpeiros chegavam à região para votar contra a permanência do grupo de Curió à frente da Cooperativa. Curió agiu para barrar a entrada dos garimpeiros no local do enterro, armar trincheiras nas margens da estrada e queimar uma ponte para travar a passagem de veículos. Antes de ser assassinado, Lemos denunciara que, caso algo ocorresse contra ele, o culpado seria o prefeito Sebastião Curió.

No dia 19 de novembro de 2002, numa reunião da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados (CDH), Lemos apresentaria uma lista com 41,2 mil garimpeiros que pediam reintegração à Cooperativa.

O então presidente da CDH, deputado federal Orlando Fantazzini, foi a Curionópolis acompanhado de agentes da Polícia Federal para elaborar um relatório sobre a situação e se encontrar com os garimpeiros e parlamentares da região.

No dia 20 de novembro de 2002, lideranças locais, representantes da OAB e da Igreja, se reuniram com o então governador do Pará, Almir Gabriel, e escolheram uma comissão que buscaria uma solução pacífica para o conflito.

Ouro para gringos

Em vão. Como afirmamos na 4ª edição da Revista do Araguaia, as evidências efetivamente apontam, de modo ainda mais consistente, para a razão fundamental de tanta violência que se abateu sobre a população araguaia nos anos da Guerrilha: a cobiça privada nacional e internacional sobre os minérios amazônicos.

Em julho de 2004, sob o título “Garimpeiros vendem parte de Serra Pelada para americanos”, a Folha de São Paulo (04/07/2004) noticiou que o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) considerou ilegal um contrato celebrado entre a Coomigasp e uma mineradora norte-americana, que envolveria a exploração de uma jazida de 180 toneladas de ouro e investimento de US$ 240 milhões.

O DNPM, autarquia subordinada ao Ministério das Minas e Energia, anunciou que o contrato não apresentava valor legal, pois a cooperativa não detinha ”nenhum direito” sobre o aproveitamento de bens minerais em Serra Pelada. A Coomigasp afirmou que seriam exploradas mais de 20 toneladas de ouro ocultas em uma montanha de entulho — atividade também vetada pelo DNPM.

Efetivamente, a Coomigasp, liderada por Curió, assinou contrato com a empresa norte-americana de lapidação de pedras preciosas Phoenix Gems no dia 5 de junho de 2004. O ato ocorreu na vila de Serra Pelada (a 150 km de Marabá) entre o representante da empresa, Brent Smith, e Josimar Elízio Barbosa, então presidente da Coomigasp, e ficou sob os cuidados do gabinete do prefeito de Curionópolis, fundador da cooperativa.

A Phoenix se comprometeu a entregar US$ 40 milhões aos garimpeiros, a título de empréstimo, até 31 de julho, e a doar US$ 200 milhões assim que a cooperativa obtivesse do DNPM a concessão dos direitos minerais na área. Sem o documento, poderia explorar apenas os rejeitos abandonados pelos garimpeiros — na avaliação de Curió, cerca de seis toneladas de ouro.

“Ferida aberta na selva”

De acordo com a FSP, o negócio reativou a disputa pelo espólio do maior garimpo já descoberto no Brasil. O presidente da Coomigasp disse que somente os associados estariam representados no acordo, inspirado na fórmula de Curió, que distribuiu terras aos “bate-paus” que o ajudaram no combate à Guerrilha. Cada um receberia R$ 45 mil em dinheiro, mais uma casa no valor de R$ 16 mil numa nova vila a ser construída.

Por causa dessa armação, o presidente do Sindicato, Benigno Moreira, ameaçara invadir Serra Pelada com 30 mil garimpeiros, recuando apenas diante do compromisso do governo federal de buscar uma solução. Elízio Barbosa já circulava então por Serra Pelada com três seguranças.

Muito mais que numa mera coincidência,

a história do garimpo de Serra Pelada começava em 1976, no ano seguinte à proclamação oficial do fim da Guerrilha do Araguaia,

quando um geólogo do DNPM encontrou amostras de ouro no sul do Pará (jornalista Ricardo Kotscho em ”Serra Pelada, uma ferida aberta na selva”). O sigilo foi quebrado em 1977, quando a CVRD, que tinha direitos sobre a jazida, anunciou a descoberta de ouro. Em 1979, o ministro de Minas e Energia da ditadura, Shigeaki Ueki, confirmou oficialmente a existência do ouro na Serra de Carajás. 

Em 1980, levas de migrantes se deslocaram para o Pará e invadiram o garimpo — pertencente a uma subsidiária da Vale, a Docegeo. Em 21 de maio desse ano, o governo federal promoveu uma intervenção na área, já ocupada por 30 mil garimpeiros, evidentemente comandada pelo então major Curió, o protagonista das intervenções consideradas “estratégicas” pelo regime militar.

Em 1981, após o esgotamento dos depósitos de ouro na superfície, a CVRD tentou reaver a posse da área, mas os interesses eleitorais da ditadura (sobre aqueles 80 mil garimpeiros) prorrogaram a exploração. O garimpo foi reaberto em 1982, Curió foi eleito deputado federal e apresentou um projeto de lei que permitia mais cinco anos de atividade.

Rastro de sangue

A violência prosseguiu, vitimando os que buscavam o ouro. Em 1987 os garimpeiros interditaram a ponte rodo-ferroviária sobre o rio Tocantins, exigindo que o governo rebaixasse a cava do garimpo. A PM do Pará — a mesma do massacre de 21 camponeses em Eldorado de Carajás (na mesma região de Curionópolis e Parauapebas) — desimpediu a ponte deixando, de acordo com a fonte oficial, três garimpeiros mortos, e, de acordo com os garimpeiros, mais de 60.

Em março de 1992, o governo brasileiro não renovou a autorização de lavra e o garimpo voltou a ser concessão da CVRD. Em 1996, os garimpeiros invadiram a mina, mas uma operação do Exército e da Polícia Federal, já no rumo da privatização da CVRD, pôs fim à obstrução de 171 dias nos acessos a Serra Pelada — fato que, em novas circunstâncias, se renova hoje na estrada de ferro de Carajás pela ação dos integrantes do Movimento dos Trabalhadores e Garimpeiros na Mineração (MTM).

Do início dos anos ‘80 aos dias atuais, Curió manipulou desde as origens um formigueiro humano que lembrava uma cena egípcia na construção das obras faraônicas. E ainda domina uma terra desolada pelas humilhações e assassinatos que tem como símbolo uma árvore amazônica que, por decreto municipal, nomeou “Pau da Mentira”.

E, por decreto, está presente com uma estátua em uniforme camuflado do Exército (do tempo da Guerrilha) na sede da cooperativa dos garimpeiros. Entretanto, nenhum decreto apagou seus crimes e a miséria contagiante que restou em torno da sua imagem — herança viva da ditadura e de seus sucedâneos no poder.

Grife tradicional

A arrogância de Curió se espelha na tradição da atrasada e truculenta elite brasileira, que, dos “pacificadores” Fernão Dias e Borba Gato aos requintados “humanóides” Filinto Müller e Sérgio Fleury (entre outros, Marco Maciel se refugia na esfera institucional dos caçadores da democracia e dos partidos políticos), escala seus quadros de modo racional para perseguir determinadas metas. E cuida bem deles.
Exemplarmente, Müller, desertor da Coluna Prestes e executor da extradição de Olga Benário como chefe de polícia do Estado Novo, teve uma trajetória que incluiu um encontro com Heinrich Himmler, chefe da polícia política nazista, a Gestapo, em visita oficial a Alemanha no final de 1937, em seguida à instalação da ditadura no Brasil.

Não obstante sua trajetória de crimes (e até por isso, pois, assim como Curió, também realizou prisões arbitrárias e utilizou-se da tortura no trato aos prisioneiros), ocupou cargos de destaque na República, inclusive como líder do governo JK, elegeu-se quatro vezes senador, presidiu nacionalmente a Arena, voltou a ser líder do governo no regime militar e, após ser escolhido presidente do Senado em 1973, faleceu num acidente aéreo em Paris e virou nome de Ala no Senado Federal.
Portanto, no que concerne (pelo menos) a elite, mesmo longe de ter o mesmo tratamento histórico de Müller, não será julgado ou abandonado, como não o foram os “cortadores de cabeça” de diversos tempos históricos. Afinal, o coronel Curió demonstra freqüente benevolência com a tropa, ainda que moralmente submetido aos guerrilheiros: “Eles conheciam a floresta e a tropa militar colecionava muitos erros, como movimentar 300 homens ao mesmo tempo, roupas inadequadas, combatentes não adestrados e falta de rádios de comunicação. Até homens da guarda palaciana, que nem sabiam o que era selva, estavam lá”, narrou à Tribuna da Imprensa (04/03/2004) em suas primeiras revelações após a determinação judicial (agora reiterada) que ordenou a abertura dos arquivos da Guerrilha do Araguaia*.

Que venha o livro do coronel.

*Após o histórico dia 30 de junho de 2003, quando a juíza da 1ª Vara Federal de Brasília, Solange Salgado da Silva Ramos de Vasconcelos, assinou a sentença (307/2003) que determinou a quebra do sigilo das informações militares de todas as operações referentes à Guerrilha do Araguaia, informando “onde estão sepultados os restos mortais dos familiares dos autores da ação, mortos na guerrilha do Araguaia, bem como para que proceda ao traslado das ossadas, o sepultamento destas em local a ser indicado pelos autores, fornecendo-lhes, ainda, as informações necessárias à lavratura das certidões de óbito”. A juíza determinou também a apresentação de “todas as informações relativas à totalidade das operações militares relacionadas à guerrilha, incluindo-se, entre outras, aquelas relativas aos enfrentamentos armados com os guerrilheiros, à captura e detenção dos civis com vida, ao recolhimento de corpos de guerrilheiros mortos, aos procedimentos de identificação dos guerrilheiros mortos quaisquer que sejam eles, incluindo-se as averiguações dos técnicos/peritos, médicos ou não, que desses procedimentos tenham participado, as informações relativas ao destino dado a esses corpos e todas as informações relativas à transferência de civis vivos ou mortos para quaisquer áreas”. E determinou “à ré que, sendo necessário, proceda à rigorosa investigação no prazo de 60 (sessenta) dias no âmbito das Forças Armadas, para construir quadro preciso e detalhado das operações realizadas na Guerrilha do Araguaia, devendo para tanto intimar a prestar depoimento todos os agentes militares ainda vivos que tenham participado de quaisquer das operações, independente dos cargos ocupados à época, informando a este juízo o resultado dessa investigação”. E completou: “Ultrapassado o prazo de 120 dias sem o cumprimento integral desta decisão, condeno a ré ao pagamento de multa diária que fixo em R$ 10.000,00 (dez mil reais)”.

Transcrevi trechos. Leia mais Coronel Curió saiu do armário? 

Coronel Curió aprova mudança do nome de Stalingrado para Volvogrado

Operários retiran a estátua de Stalin na Geórgia, sua terra natal
Operários retiran a estátua de Stalin na Geórgia, sua terra natal

Fundada em 1589 com a designação de Tsarítsin, por ter se originado de uma fortaleza às margens do rio Tsaritsa. Em 1995 passou a se chamar Stalingrado, por decisão do XIV Congresso do Partido Comunista da União Soviética, para homenagear o então secretário-geral do partido, Josef Stalin, por ter derrotado nesta cidade, em 1920, à frente das tropas do Exército Vermelho, o general Anton Ivanovitch Denikin, comandante do Exército Branco.

Em fevereiro de 1956, após o processo de desestalinização posto em prática no governo de Nikita Khruschov, passou a se chamar Volgogrado, por decisão do XX Congresso do Partido Comunista da URSS.

Uma decisão festejada pelos militares do golpe de 1964 no Brasil, entre eles, o coronel Curió. Que realizaram campanha contra o que denominavam de ouro de Moscou, isto é, o inventado financiamento dos movimentos esquerdistas pelo Partido Comunista da União Soviética.

A troca do nome Stalingrado foi fácil, que Stalin morreu em 1953.

A STALINGRADO DE CURIÓ

Acontecerá o mesmo, cedo ou tarde, com Corionópolis, cidade assim denominada para homenagear o coronel Curió, que foi prefeito do município várias vezes, e continua usando o nome Corionópolis como propaganda política antecipada, violando toda e qualquer decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Pará e do Tribunal Superior Eleitoral.

O nome foi uma imposição do próprio Curió, nos tempos de chumbo. Ele manda no município como se a ditadura de 64 continuasse vigorando.

Não rezou na cartilha dele, qualquer  curionopolitano ou curionopolense está condenado à morte. Aconteceu com o líder sindical Antonio Clenio.

O município tem 17.769 habitantes. E Curió pretende se candidatar, novamente este ano. Uma cidade com poucos eleitores fica fácil de encabrestar, de cercar a boiada, e controlar os votos de curral.

O COMEÇO DO FEUDO

O Coronel Sebastião Rodrigues de Moura foi para o Pará como agente infiltrado, com o nome falso de Marco Antonio Luchini, um engenheiro florestal dos quadros do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Isso lhe permitiu o conhecimento das mais ticas terras que depois seriam de sua propriedade. Não se conhece a versão certa para o apelido Curió, que ele incorporou ao nome de pia. 

 Narra Luiz Carlos Antero:

Na versão divulgada pelo coronel Curió, “a estratégia de longo prazo traçada pelos comandantes da guerrilha para sustentar o território independente que os comunistas pretendiam criar, eram as minas de ouro, diamante, cristais e o manganês do subsolo das serras da confluência entre Pará, Tocantins e Maranhão”.

 Como parte de sua tarefa, ele ganhou uma cidade, de onde foi prefeito (e permaneceu ainda em 2008, resistindo à cassação que culminou um processo por abuso do poder econômico formulado pelo TSE). E persistiu semeando execuções. Depois de comandar as operações de extermínio no Araguaia, construiu um feudo econômico e político, exercendo até hoje forte influência na região conflagrada.

Curió fundou Curionópolis (PA), que se emancipou de Marabá em 1988, exercendo o primeiro mandato de prefeito após uma longa folha de serviços prestados ao regime numa região onde fez muitas vítimas entre os garimpeiros, mantendo-se indiferente a quaisquer sinais de mudança. Exemplo disso foi o assassinato de Antônio Clênio Cunha Lemos, então presidente do Singasp, em Curionópolis, na madrugada do dia 17 de novembro de 2002, com cinco tiros, dois dos quais na cabeça.