Nem o New York Time faria melhor

por Carlos Chagas

Tivesse a presidente Dilma Rousseff confirmado a visita aos Estados Unidos, em outubro, seria veementemente criticada por não reagir como devia em defesa da soberania nacional, dados os lamentáveis episódios da espionagem permanente praticada por aquele país contra o Brasil. Como cancelou, ou melhor, adiou sua ida a Washington, recebeu ontem outro tanto de violentas críticas por haver suspendido a viagem onde seria homenageada como uma das duas chefes de governo que anualmente se hospedam na Casa Branca.

Quer dizer: Dilma seria condenada por ter cachorro e por não ter cachorro, como na fábula popular. No reverso da medalha, o PT e as esquerdas a aplaudem pelo gesto de reação à impertinência dos gendarmes do planeta, aqueles que se julgam no direito de conduzir os destinos da Humanidade, até espionando seus aliados. Mas os setores conservadores, incluindo-se neles as oposições, botaram a boca no trombone como se tivéssemos, além de perder a oportunidade de tirar vantagem das relações com os americanos, interrompido uma via de relacionamento capaz de favorecer nossos interesses.

Desse labirinto, não há saída. Nem o Lula teria condições de estender um fio de Ariadne para fazer o Brasil entrar nas cavernas do Minotauro, acabar com ele e sair ileso.  Traduzindo: prejuízo teríamos e teremos nas duas hipóteses. Em especial porque os Estados Unidos não pedirão  desculpas por intrometer-se em nossas comunicações e em nossos segredos, e nem se comprometerão  em   interromper  a bisbilhotagem.

Tem sido assim desde que logo depois da Independência um tenente da Marinha americana subiu o rio Amazonas sem licença  do  Império, percebeu o potencial econômico da exploração e sugeriu a seu governo a importância de dividir o Brasil em  quatro ou cinco países, facilitando a exploração e o domínio de nosso território conforme seus interesses. Felizmente não deu certo, para eles, mas nem por isso se imagine que desistiram.

A definição de “nações” indígenas na Amazônia, do esbulho chamado “Raposa Serra do Sol”, em Roraima, até a ampla região da tribo dos Ianomani na fronteira com a Venezuela e a Guiana, demonstram o perigo que ainda sofre nossa soberania.

Montes de ONGs estrangeiras e até brasileiras transformaram esses territórios em enclaves internacionais onde a entrada de cidadãos brasileiros é proibida, em nome de uma trama que logo se transformará num conflito onde as Nações Unidas reconhecerão a independência de territórios governados por um bugre-presidente da República, com PHD na Holanda e ávido de celebrar acordos de cooperação econômica e militar com quem? Ora, com os Estados Unidos…

A defesa da soberania nacional passar por diversos caminhos. Um deles foi o adiamento da visita de Dilma aos nossos irmãos do Norte, mas mil outros terão de ser trilhados. Tome-se a Amazônia, por exemplo. Voltou a conversa de que ela não  pertence ao Brasil, mas “à Humanidade”, devendo ser administrada pelas comunidades internacionais, mero engodo para significar o predomínio da superpotência mundial. Jamais se supõe uma invasão armada, desnecessária por conta da prevalência econômica. Também, não resistiríamos quinze minutos, com ou sem os 36 caças que não podemos comprar. No máximo, transformaríamos nossos guerreiros em guerrilheiros,  mas sem a certeza de sucesso, porque desde o Vietmã que eles terão aprendido alguma coisa.

O confronto é cruel e inevitável, exceção para aquela forte parcela de brasileiros ávidos de aderir aos interesses externos em nome do enriquecimento fácil. Com os meios de comunicação à frente. Basta ver o que estão  publicando desde ontem, a respeito do adiamento da visita de Dilma aos Estados Unidos. Nem o New York Times faria melhor…

Como garantir o pré-sal

por Carlos Chagas

 

 

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Comprovada a espionagem dos Estados Unidos sobre o mundo, segue-se do geral para o particular. A Petrobras era, e continua sendo, objeto da arapongagem da agência Nacional de Informações americana, com ênfase para o pré-sal. Cada passo da empresa brasileira nos trabalhos de extração de petróleo em águas profundas é monitorado pelos gringos. Junte-se a essa cobiça a presença, já se vão dois anos, de uma nova frota da maior potência bélica do planeta singrando o Atlântico Cul.

Com porta-aviões, caças e bombardeiros de última geração, mísseis, submarinos nucleares e montes de destróiers e navios auxiliares. Claro que não é para vigiar as costas africanas. Qualquer tentativa deles se apoderarem da nova riqueza descoberta próximo do nosso litoral será sustentada por toda essa parafernália naval.

E nós, como defenderemos o que é nosso? A Marinha de Guerra nacional carece de meios. O submarino nuclear brasileiro levará vinte anos para ficar pronto, mesmo assim na dependência de tecnologia francesa. A Força Aérea voa com aeronaves na maior parte sucateadas. Fica difícil imaginar quinze minutos de resistência.

São Paulo está parando ou já parou

Carlos Chagas

 

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São Paulo foi a cidade que não podia parar. Pois está parando. Ou já parou. Não apenas no trânsito, mas em suas múltiplas atividades e serviços. Pior ainda: no inconsciente das pessoas, onde o dinamismo cedeu lugar à acomodação e até ao egoísmo.  A população paulistana imobilizou-se em seus automóveis e ônibus paralisados  por dezenas de quilômetros durante várias horas por dia, sem reagir nem protestar. Acomodou-se como se estivesse sofrendo  pragas divinas  diante das quais o remédio é conformar-se. O pior é que esse sentimento estendeu-se  para muito além das avenidas congestionadas. O cidadão considera natural chegar atrasado no emprego ou em casa, no fim do dia, sem fazer conta do prejuízo para o desempenho individual ou coletivo.

A alternativa seria oferecer horas de sono, lazer ou convívio familiar no altar da eficiência, superando os percalços pelo  sacrifício. Só que ninguém consegue. São todos humanos. A metástase   se iniciou: os garçons são lentos, os balconistas demoram no atendimento aos fregueses, os eletricistas, encanadores e toda a gama de prestadores de serviços não tem pressa. As empresas também não. Nem os médicos, os advogados e os entregadores de encomendas. Em vez de   desesperar-se,  submetem-se. Nem se exasperam quantos, por estar esperando,   poderiam exigir mais eficiência. É como se uma nuvem de inércia cobrisse a cidade. Melhor assim, é claro, do que submeter-se todos a um ataque coletivo de nervos.

O diabo está em que São Paulo perdeu seu dinamismo. Acabou inoculando a população o inchaço de gente, de carros, de falta de espaço, de obrigações proteladas e de oportunidades perdidas para a sobrevivência individual ou coletiva. A maioria acomoda-se enquanto, no reverso da medalha, cresce  o número  de carentes e de   miseráveis que continuamente demandam o antigo paraíso, ou nele permanecem, sem outras opções do  que recorrer à caridade   ou aderir à lei da selva.

Daí o aumento do número  de roubos, furtos, agressões, assassinatos e violência de toda espécie. Os crimes gerados pela necessidade de sobrevivência superam  aqueles causados pela distorção de personalidades, inclinações, tendências malévolas e falta de vontade para enfrentar e respeitar os princípios éticos da vida, superados pela necessidade de uns e o  mau exemplo de outros.

SUPERPOPULAÇÃO

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Há quem identifique nesse nó que envolve a maior cidade do país a lei basilar da física, de que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. A superpopulação   estaria na raiz do impasse que leva São Paulo a parar.  Não apenas excesso de gente, mas de automóveis,  ambições, desilusões e desespero.

Abrir novas avenidas, túneis e viadutos, sacrificando o indivíduo para atender a máquina,  será tão inócuo quanto multiplicar o assistencialismo ou aplicar em São Paulo o princípio da livre competição entre quantidades desiguais. A rebelião dos excluídos  sem alternativa  só fará aumentar as agruras do conjunto. Fechar as fronteiras da cidade não dá: equivalerá a estender a mesma intolerância a regiões sempre maiores, além do que,  nascem nas próprias comunidades sem futuro contingentes sempre maiores de desesperados e desiludidos.  Controlar a natalidade ou adotar o eufemismo de planejamento familiar despertará forças incontroláveis, pois os carentes, os menos favorecidos e os miseráveis continuarão  aumentando em progressão geométrica,  frente às soluções ditadas pela  aritmética.

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Anos atrás Hollywood investiu no absurdo, com o filme “Fuga de Nova York”, onde no futuro, de tão inviável, aquela metrópole foi cercada de muros imensos, vigiada do lado de fora por mísseis e metralhadoras, pois ninguém entrava e ninguém saía daquele território abandonado à própria sorte, sem lei nem autoridade. O diabo, nessa história  fantástica, foi quando o avião do presidente da República fez uma aterrissagem forçada no Central Park…

A verdade de São Paulo é frustrante quando se atenta que a locomotiva emperrou, os trilhos enferrujaram e os vagões continuam vazios, ou quase. São Paulo, que sempre solucionou o Brasil, agora pede socorro de um modo singular: que ninguém se aproxime para salvar a cidade onde não cabe mais ninguém, nem os salvadores.

É claro que as elites paulistanas que ainda conseguem sobreviver, em especial se utilizam helicópteros, protestam diante de diagnóstico tão sombrio. Estão à margem das agruras que envolvem as massas e a classe média. Mas sofrem cada vez mais, até nos Jardins. Seu destino é ser esmagadas mais ou menos como o bezerro apertado pelos anéis da sucuri. Boas intenções e fantasiosas formulações podem partir de minorias iludidas, tanto faz se de privilegiados  metalúrgicos ou de banqueiros indiferentes ao que se passa à sua volta. Ate de uns poucos políticos e sociólogos que a realidade ainda não atingiu. Serão todos inundados pela onda implacável.

Em suma, não dá mais para se comprimir num espaço limitado essa legião de iludidos.

 

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Lembrando o senador Luiz Carlos Prestes, o mais votado de todos os tempos

por Carlos Chagas
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Pena que os jornalões tenham dedicado pouco ou nenhum espaço à sessão de quarta-feira passada, no Senado, quando foi simbolicamente devolvido o mandato de senador a Luiz Carlos Prestes. Sua família, presente, teve na voz de sua viúva, D.Maria, o eco de uma reparação que já fazia tardar.

Prestes senador

Foi o senador mais votado do país, proporcionalmente, em todos os tempos. Eleito pelo Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em dezembro de 1945, meses depois de libertado após nove anos de prisão infame, encontrou forças para receber 150 mil votos e reorganizar o Partido Comunista, junto com 14 deputados federais eleitos em todo o país.

Curvou-se agora o Senado ao Cavaleiro da Esperança, depois de haver cassado seu mandato em nome do que de mais reacionário existia entre nós, o preconceito ideológico. Na mensagem em que sancionou a lei restabelecendo ainda que tardiamente o mandato de Prestes, a presidente Dilma reconheceu o erro do passado.

SOCIALISMO

Não é preciso concordar com todas as ideias do senador para reverenciá-lo por setenta anos de lutas e perseguições, sofrimento e afirmação de permanente confiança no socialismo. Foi na maior epopeia de resistência contra as oligarquias que ele passou a conhecer o Brasil. Era apenas um rebelde, junto com outros tenentes,apesar de ser capitão, que por 32 mil quilômetros e não 25 mil, mais 1.500 homens, percorreu o interior e tomou conhecimento da miséria que nos assolava. Tornou-se comunista durante aquela cavalgada, ainda que só anos mais tarde tomasse conhecimento da teoria marxista-leninista.

Negou-se a assumir o comando militar e político da Revolução de Trinta, ciente de tratar-se de um movimento burguês que apenas serviria para mudar os personagens da mesma farsa social. Exilado na União Soviética, retornou em 1935, iludido pelas falsas informações de estar o Brasil preparado para a revolução proletária.

Malograda a tentativa, preso, viu-se vítima de uma perseguição pessoal por parte de Filinto Muller, ex-tenente da coluna Prestes condenado à morte pelo próprio comandante, por haver-se apropriado de recursos do movimento rebelde. Fugiu o traidor, tornando-se depois chefe de polícia do governo implantado com a vitória dos revoltosos burgueses. Foi a hora da desforra contra seu antigo chefe, que manteve em condições piores do que as concedidas a animais em cativeiro, conforme Sobral Pinto, seu advogado.

Tropas da polícia especial de Filinto conduz Prestes preso
Tropas da polícia especial de Filinto conduz Prestes preso

Foi em 1945, com o fim da ditadura do Estado Novo e a democratização, que o povo do então Distrito Federal o conduziu ao Senado. Durou pouco o sonho de um país livre. As forças reacionárias cassaram o registro do Partido Comunista, em 1947,e o mandato de seus parlamentares, inclusive Prestes, em 1948.

CLANDESTINIDADE

De novo na clandestinidade,voltou à União Sovietica, de lá retornando em 1958, no governo Juscelino Kubitschek, quando suspensa a proibição de funcionamento do Partido Comunista. Participou da campanha do marechal Henrique Lott a presidente da República,em 1960, derrotado por Jânio Quadros. Integrou-se à luta de Leonel Brizola em favor da posse de João Goulart na presidência da República. Com seu partido, formou ao lado da campanha pela reformas de base, sendo surpreendido com o golpe militar de 1964, que o levou novamente à clandestinidade.

Na lista dos procurados, vivo ou morto, novo período de exílio, mas sem deixar de opinar e de participar, mesmo de longe, dos anos de chumbo do regime então instaurado. Com a anistia no início dos Anos Oitenta, retornou outra vez nos braços do povo, de novo reorganizando o Partido Comunista, como seu Secretário-Geral.

Já encanecido, entrado nos oitenta anos, mais uma armadilha da vida. Viu-se traído pelos companheiros que tinha amparado, destituído da direção do partido e em seguida expulso, por insistir na doutrina inflexível do socialismo. Não compactuou com anões. A natureza seguiu seu curso e apenas agora o Brasil lhe faz justiça.

prestes o velho

Tribuna da Imprensa jornal censurado. Virou blogue, sofreu apagão

tribuna prédio

 

Para fechar um jornal, basta as agências de publicidade determinarem um boicote. Isso sempre é feito a mando dos poderes ditatoriais. Aconteceu no Rio de Janeiro com o Correio da Manhã. Fui chefe de redação de 1967 a 1970 da sucursal no Recife/Nordeste. O boicote das agências de publicidade foi ordenado pela ditadura militar.

A ação terrorista pode ser realizada a mando de qualquer poder. Em uma democracia, a corrupção infiltrada no executivo, no legislativo, no judiciário, e/ou ditadura econômica.

Publica a Wikipédia: Em 26 de março de 1981, uma bomba explodiu na sede do jornal na Rua do Lavradio, 98, um ato creditado a defensores radicais da ditadura militar, com o objetivo de culpar os militantes da esquerda.

tribuna atentado bomba

Em 2011, a sede do jornal chegou a ter a sua falência decretada e seu acesso lacrado, em razão do pedido feito pelo desembargador Paulo César Salomão, pelo não pagamento de uma indenização por danos morais decorrente de uma ação que impetrara contra o jornal. Ele se sentira atingido por um artigo assinado pelo economista Romero da Costa Machado – que não pertencia aos quadros da Tribuna – publicado em 1994, sob o título ‘O crime ao amparo da lei’, no qual era chamado de ‘PC Salomão’.

O atual editor da Tribuna da Imprensa é Hélio Fernandes Filho.

A Tribuna da Imprensa tem como colaboradores os jornalistas Carlos Chagas, Argemiro Ferreira, Roberto Monteiro de Pinho e Sebastião Nery, dentre outros, e atualmente, somente é editado em versão via internet online, sem mais a versão impressa, que publica hoje:

Tribuna interrompe circulação

Blog da Tribuna sai do ar, com ‘problemas técnicos’ altamente suspeitos. É o mínimo que podemos informar.

  

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por Carlos Newton

 

O blog da Tribuna da Imprensa saiu do ar ontem (quarta-feira, 24 de abril), por volta das 11 horas da manhã, mas desde cedo já estava inacessível para ser editado. Ou seja, não podíamos inserir novas matérias, artigos ou charges, nem liberar os comentários.

Para entender o que aconteceu, é preciso saber como se monta um blog ou site. Primeiro, é preciso adquirir o “registro e o domínio” dos nomes com os quais se queira trabalhar. Depois, pagar a “hospedagem” a um servidor (o nosso é o UOL, excelente, pois em cinco anos jamais houve problemas, salvo no dia em que São Paulo sofreu um apagão de energia e todo mundo saiu do ar, inclusive a Folha de São Paulo).

Depois de adquirir registro/domínio, cria-se a estrutura do blog sobre uma “plataforma” já existente. No nosso caso, a plataforma foi o conhecido serviço norte-americano “WorldPress”. Depois, usa-se a hospedagem (servidor UOL) para colocar o site/blog no ar e ir alimentando de matérias, fotos e ilustrações, através do WorldPress.

CONEXÃO FALHANDO

Há 25 dias estávamos com “problemas técnicos”, mas os especialistas do UOL não conseguiam identificar. Supunha-se que fossem problemas de falta de renovação do domínio do nome heliofernandes.com.br, mas o próprio UOL tinha dúvidas, nossa conta aparecia sem pendências e só haveria renovação de domínio em junho. Mesmo assim, tentamos fazer a “renovação” desse domínio, mas a operação estranhamente não se completava. Houve comentaristas que também tentaram, sem sucesso. Tudo muito estranho.

O blog então começou a sair do ar e voltar. Os técnicos do UOL melhoravam a conexão, depois desconectava tudo de novo. Os comentaristas e leitores às vezes perdiam acesso. Mesmo assim mantivemos o blog e seguimos negociando apoio técnico do UOL, várias vezes ao dia, por internet e por telefone.

Até que, a atendente do UOL Daniela Couto, no último dia 19, garantiu que dia 22 tudo estaria normalizado. E isso aconteceu. Tudo certo, o blog decolou de vez. Mas a normalidade só durou dois dias.

AÇÃO DE HACKER?

Nesta quarta-feira, dia 24, desde cedo não havia como editar o blog. Ligamos para o UOL, o atendente Sidnei percorreu conosco os caminhos internos até que se surpreendeu ao verificar que nosso acesso ao WorldPress havia sido desativado. Ficou surpreso porque só quem poderia fazer isso seria eu, único detentor da senha.

O próprio funcionário do UOL aventou a possibilidade de interferência externa por hacker, como vários comentaristas já haviam sugerido. Ontem à noite, enquanto a seleção brasileira tentava jogar, conseguimos identificamos uma presença estranha em ações de “configuração” interna do nosso blog, sob o nome de jdimaree, que vem a ser uma empresa metalurgia norte-americana.

É tudo muito estranho e vamos investigar com mais calma. No momento, estamos lutando para refazer o blog sem perder o Banco de Dados, ou seja, o arquivo todo. É a segunda vez que isso acontece com a Tribuna da Imprensa. Todo o arquivo do jornal “sumiu” da internet, de uma hora para hora, cinco anos atrás. Ou seja, parece que o Helio Fernandes tem mania de ser censurado, não é mesmo?

O importante é que vamos em frente, pois graças a dois amigos (Antonio Caetano e Marcio Lordelo, especialistas em informática) o arquivo já está salvo, mas há problemas para inseri-lo no novo blog, que estamos criando do zero.

Como diz o Helio Fernandes, a gente não desiste nunca.

Helio Fernandes, a força de um nome que faz História
Helio Fernandes, a força de um nome que faz História

 

Carlos Chagas denuncia a conspiração golpista. Tem até pesquisa de que o brasileiro quer a ditadura de volta

Tenho procurado desvendar a trama. Que tem por trás a mesma Escola das Américas. O Brasil continua enviando alunos. Não entendo porque Dilma permite.

A conspiração visa derrubar os presidentes da Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina e Brasil.

A nova onda nazi-fascista começou em Honduras. Partiu da justiça, para empossar um milico. O golpe do Paraguai foi parlamentar.

Não concordo com a lista de Carlos Chagas. Mas “há qualquer coisa no ar, além dos aviões de carreira.”

VAMOS AOS FATOS

por Carlos Chagas

Seria bom não partir para a negativa absoluta por conta da nova disposição de muitas peças nesse xadrez do absurdo, porque o tabuleiro e as peças são as mesmas. Antes de rir e chamar de perturbado quem ouse fazer um raciocínio assim, seria bom atentar para os fatos.

Claro que não serão as Forças Armadas a prestar-se ao papel de algozes das instituições democráticas, mas aí estão as forças sindicais mancomunadas com as forças econômicas, dispostas, ambas, a sacrificar qualquer aparência de legalidade institucional em favor de seus interesses. Diante da proximidade de alterações fundamentais no modelo neoliberal e globalizante de ganhar dinheiro, quem duvida de que as classes privilegiadas deixariam de apoiar um golpe para trazer o Lula de volta, se está assentado na ilusão das massas?

Se Dilma e Aécio vierem a prometer, em suas campanhas, acabar com a farra da especulação financeira, com a malandragem das privatizações, os privilégios das elites e a predominância dos interesses internacionais sobre a soberania nacional, estarão abrindo o caminho para o Lula.

Caso anunciem a hipótese de limitar o lucro dos bancos, ou de suspender o pagamento da dívida interna para a realização de ampla auditoria, acontecerá o quê? Mais ainda, se apontarem como saída para extinguir a exclusão social que ainda atinge milhões de brasileiros o estabelecimento do imposto sobre grandes fortunas, ou a participação efetiva dos empregados no lucro das empresas, quem sabe até a taxação do capital estrangeiro especulativo e predador, hesitariam os prejudicados em golpear o processo democrático?

No fundo de tudo, é claro, surgirá alguém que, “em nome da prosperidade, das legítimas aspirações do povo, da paz política e social, da unidade nacional” se disponha a encarnar os privilégios de sempre. Esse alguém já existe. Terá encomendado aos seus companheiros de plantão pareceres a respeito da possibilidade de atropelar Dilma, eliminar Aécio e, por mais sutileza que possa haver em manobras modernas para a obtenção de velhos objetivos, sua motivação permanece a mesma: o poder. Pode vir por aí um outro golpe de 37, mesmo à avessas.

Desta vez, sabe-se também de onde provirá o gesto que mata. Quanto à palavra que salva…

Dois pesos e duas medidas

Carlos Chagas

Há alegria sempre que um réu é absolvido, presumindo-se ser inocente. O problema na absolvição de Duda Mendonça pelo Supremo Tribunal Federal é o reverso da medalha. A contradição. Porque se não foi considerado culpado por receber 10 milhões de reais do PT num paraíso fiscal, em conta por ele aberta, como punir Marcos Valério por haver enviado o dinheiro? O publicitário poderia até não saber da origem fajuta dos recursos, mesmo tornando-se difícil a presunção. Não prevaleceu a hipótese por falta de provas. Tudo bem, mas como justificar um pagamento lá fora por serviços prestados aqui dentro, a não ser pela intenção de sonegação fiscal? Impostos e multas só foram pagos depois de denunciada a operação.

 Julgamento contraditório

Numa palavra, dois pesos e duas medidas na decisão quase unânime da mais alta corte nacional de justiça, de absolver um e condenar outro. Marcos Valério já estava arcabuzado por muitas falcatruas. Mais uma, menos uma, tanto faz para o cálculo de sua longa pena de prisão a ser cumprida, mas a verdade é que Duda e sua sócia viram-se beneficiados.

Fica para o esquecimento perguntar de quem foi a proposta de remessa dos recursos para um paraíso fiscal. Pode ter sido de um ou de outro. Ou de ambos, o que parece mais provável.

(Transcrito da Tribuna da Imprensa)

O fim do modelo

por Carlos Chagas

Vale, por um dia, começar além da política nacional, arriscando um mergulho lá fora. O que continua a acontecer na Europa e nos Estados Unidos, onde multidões estão indo para as ruas, enfrentando a polícia e protestando contra mais uma malandragem das elites?

É preciso notar que o protesto vem das massas assalariadas, proletárias e da classe média, também com a participação dos excluídos, negros, árabes, turcos e demais minorias que buscaram no velho e no novo continente a saída para a fome, a miséria e a doença onde viviam, agora frustrados e segregados, humilhados e abandonados.

Não dá mais para dizer que essa monumental revolta é outra solerte manobra do comunismo ateu e malvado. O comunismo acabou. Saiu pelo ralo. A causa do que vai ocorrendo repousa precisamente no extremo oposto: trata-se do resultado do neoliberalismo. Da consequência de um pérfido modelo econômico e político que privilegia as elites e os ricos, países e pessoas, relegando os demais ao desespero e à barbárie. Porque sempre que se registra uma crise econômica nas nações neoliberais, a receita é a mesma: medidas de contenção anunciadas para reduzir salários, cortar gastos e investimentos sociais, demitir nas repartições e nas fábricas, aumentar impostos e taxas e entregar patrimônio público a grupos privilegiados, claro que com dinheiro público.

Fica evidente não se poder concordar com a violência. Jamais justificá-la. Mas explicá-la, é possível. Povos e nações largados ao embuste da livre concorrência, explorados pelos mais fortes, tiveram como primeira opção emigrar para os países ricos. Encontrar emprego, trabalho ou meio de sobrevivência. Invadiram a Europa como os Estados Unidos, onde o número de latino-americanos cresce a ponto de os candidatos a postos eletivos obrigarem-se a falar espanhol, sob pena de derrota nas urnas.

Preparem-se os neoliberais. Os protestos atingem agora as nações ricas. Depois, atingirão os ricos das nações pobres. Das ricas. O que fica impossível é empurrar por mais tempo com a barriga a divisão do planeta entre inferno e paraíso, entre cidadãos de primeira e de segunda classe. Segunda? Última classe, diria o bom senso.

Como refrear a multidão de jovens sem esperança, também de homens feitos e até de idosos, relegados à situação de trogloditas em pleno século XXI? Estabelecendo a ditadura, corolário mais do que certo do neoliberalismo em agonia? Ou aumentando as tenazes do modelo cruel de acumulação da riqueza em mãos dos ricos? Não vai dar, à medida em que a miséria se multiplica e a riqueza se acumula. Explodirá tudo.

Fica difícil não trazer esse raciocínio para o Brasil. Hoje, apesar da propaganda, 40 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo com a metade desse obsceno salário mínimo. Os bancos lucram bilhões a cada trimestre, enquanto cai o poder aquisitivo dos salários. Isso para quem consegue mantê-los, porque, apesar da publicidade oficial, o desemprego continua presente. São 15 milhões de desempregados em todo o país, ou seja, gente que já trabalhou com dignidade e hoje vive de biscates, ou, no reverso da medalha, jovens que todos os anos gostariam de entrar no mercado sem nunca ter trabalhado.

Alguns ingênuos imaginam que o bolsa-família e sucedâneos resolveram a questão, mas o assistencialismo só faz aumentar as diferenças de classe. É crueldade afirmar que a livre competição resolverá tudo, que um determinado cidadão era pobre e agora ficou rico. São exemplos da exceção, jamais justificando a regra de que, para cada um que obtém sucesso, milhões continuam na miséria.

Seria bom o governo Dilma olhar para a Europa. E os Estados Unidos. O rastilho pegou e não será a polícia que vai apagá-lo. Ainda que consiga, reacenderá maior e mais forte pouco depois. Por que não entre nós?

A globalização tem, pelo menos, esse mérito: informa em tempo real ao mundo que a saída deixada às massas encontra-se na rebelião. Os que nada tem a perder já eram maioria, só que agora estão adquirindo consciência, não só de suas perdas, mas da capacidade de recuperá-las através do grito de “basta”, “chega”, “não dá mais para continuar”.

Não devemos descrer da possibilidade de reconstrução. O passado não está aí para que o neguemos, senão para que o integremos. O passado é o nosso maior tesouro, na medida em que não nos dirá o que fazer, mas precisamente o contrário. O passado nos dirá sempre o que evitar.

Evitar, por exemplo, salvadores da pátria que de tempos em tempos aparecem como detentores das verdades absolutas, donos de todas a soluções e proprietários de todas as promessas.

Não vem que não tem

por Carlos Chagas

Ficou a União Européia pendurada no pincel, sem escada, depois que a presidente Dilma Rousseff, esta semana, em Bruxelas, declarou estar o Brasil pronto a colaborar com a entidade na tentativa de superação da crise econômica. E por razão muito simples: Dilma acentuou que o combate à crise não é incompatível com o crescimento das nações que sofrem com ela, muito menos com a criação de novos empregos.

Foi uma contestação – para ninguém botar defeito – à receita do FMI e da própria União Européia, de as crises econômicas exigem aumento de impostos, redução de salários, demissões em massa e cortes em investimentos sociais. Tudo isso resume-se à recessão, encomendada para levar as nações em dificuldades a endividarem-se cada vez mais junto ao sistema financeiro internacional, visando saldar suas dividas e pagando juros estratosféricos.

No Brasil, de Roberto Campos a Fernando Henrique, por diversas vezes adotamos essa fórmula, sem esquecer o próprio Delfim Neto nos idos de 1983, quando exaltava o crescimento mas assinava com o FMI cartas de intenção comprometendo-se a penalizar os salários e a interromper obras públicas.

Não foi por conta dos compromissos com a cúpula financeira internacional que vencemos a inflação de 200% ao ano. José Sarney chegou a decretar a moratória da dívida externa e a pressão das forças populares fez o resto. Se é verdade que o Lula manteve a política econômica do sociologo, também é certo que o figurino tornou-se pequeno para o modelo de crescimento.

Retomar a estratégia um dia aplicada por Juscelino Kubtschek torna-se necessidade absoluta, caso a crise atravesse o Atlantico e venha a bater em nossa porta. Mas já estão avisados, lá fora, da rejeição do modelo que assola a Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e até a França. Não vem que não tem.

Festival de ilusões

por Carlos Chagas

Nem só de turismo, ou de sua tragédia, vive a capital federal. Ontem, no Senado, pela falta de quorum, poucos ouviram o senador Roberto Requião denunciar que por conta do modelo econômico neoliberal, o país perdeu a capacidade de investir. Apesar da ilusão de que vivemos um momento feliz na economia, o risco é de logo cairmos no precipício.

Os bancos lucraram 160 bilhões. O governo dedica 200 bilhões para pagar juros. O resultado é que essas quantias, somadas, superam a renda obtida pelo total de nossas exportações, mesmo com o preço favorável do minério de ferro, do petróleo, da soja e de outros produtos. O Banco Central tornou-se responsável por essa distorção, dependente que é dos interesses do sistema financeiro. Se de um lado as políticas sociais estimulam o consumo, de outro ficamos reféns dos importadores de nossos produtos primários, que logo poderão reduzir seus preços. Tudo porque falta ao Brasil uma política industrial.

Requião elogiou o aumento do imposto de importação de automóveis estrangeiros, mas criticou o que chamou de lucro fantástico das montadoras sediadas em nosso território, a maior parte remetida para fora, sem limitações. O pré-sal ainda não existe e breve ficaremos pendurados no pincel, sem escada. Para ele, confunde-se a rama com a floresta.

A saída, para o senador pelo Paraná, reside na imediata queda dos juros, razão da farra dos bancos. Não dá para continuar remunerando assim o sistema financeiro, ficando o país sem recursos para investimentos concretos.