
Aluno do 7º ano do Ensino Fundamental, 14 anos, o mais velho de sete filhos, morador de Santa Catarina, Cariacica, e dono de um sonho, ser um estilista famoso. Assim era o estudante Rafael Barbosa de Melo, morto a pedradas e pancadas, no início da manhã deste sábado (13), no bairro onde residia com a família.
Para a mãe de Rafael, a morte do rapaz pode ter sido motivada por homofobia. “Muitas pessoas implicavam com ele, caçoavam e o xingavam. Implicavam com o jeito dele andar, dele andar e por ele fazer roupas. Ele sofria muito, por isso meu filho era uma pessoa de poucos amigos e muito fechado. ”, descreve a mãe, a dona de casa Wanderléia Barbosa, 33 anos.
O corpo do rapaz foi encontrado por volta das 7h30 de sábado, por vizinhos. O rapaz havia saído de casa às 6h30 para tomar café na casa da avó que mora a algumas ruas de onde residia.
“Passava horas no quarto fazendo roupas para bonecas”, diz a mãe
Irmão mais velho de sete irmãs, o estudante Rafael era muito quieto. “Brigava muito com as irmãs, acho que pela diferença de idade. Era caseiro, passava horas no quarto fazendo roupas para bonecas. Mas eu preferia assim do que se ele ficasse na rua”, observou a mãe do estudante.
Segundo a mãe, a última vez que viu o filho foi no horário da novela, na sexta-feira. Rafael foi para o quarto dormir e, pela manhã, ela foi acordada pelo marido, padrasto do estudante, a avisando sobre a morte do filho.
“Ele não mexia com nada errado. Frequentava a igreja e o grupo de jovens. Ele gostava muito do grupo pois havia brincadeiras e leitura e interpretação da Bíblia”, detalha Wanderléia.
O local do crime é uma estrada de terra batida que Rafael e as irmãs usavam para ir para o colégio. O trajeto sempre preocupou a mãe do rapaz. “Por ser isolado e por tudo que ele passava, eu tinha medo que fizessem algo contra ele ali”, contou Wanderléia, apesar de sábado, o menino não ter aula.
Entrevista
Ainda tentando absorver a crueldade que tirou a vida do filho mais velho, a dona de casa Wanderléia Barbosa disse que acredita que o estudante tenha sido morto depois de ter respondido às ofensas. “Meu filho sofria bullying no colégio por gostar de fazer roupas, pelo jeito dele andar e de falar. No bairro, ouvia, sempre calado, piadinhas diariamente. Acho que dessa vez ele deve ter explodido e acabaram tirando a vida dele”, diz a mãe.
Como era o Rafael?
Era um rapaz quieto, com pouquíssimos amigos e muito fechado. Conversávamos muito, ele me contava as coisas que passava no colégio e na rua.
Que tipo de constrangimentos ele sofria?
Era xingado na rua, no colégio e sempre faziam piada dele. Mas meu filho nunca revidou, ouvia tudo calado.
A senhora tinha uma boa relação com ele?
Sim. Ele me contava tudo o que passava e eu sempre estive ao lado dele. Até na escola eu fui para conversar com os professores e pedia ‘meu filho, deixa esse povo pra lá’. Ele fingia que não estava ouvindo. Eu e minha família estávamos pensando em mudar desse bairro para que meu filho pudesse ter paz.
O que Rafael gostava de fazer nas horas livres?
Ele fazia roupas para bonecas, desenhava peças de roupas e fazia fotos dessas coisas. Dizia que queria ser estilista, que era o sonho dele. Não gostava de estudar, mas era muito dedicado a isso.
O que você acha que motivou o assassinato do Rafael?
Acredito que implicaram com ele mais uma vez, só que talvez meu filho tenha reagido respondendo ao bullying. Acho que Rafael explodiu e acabou morto desse jeito.
Transcrito da Gazeta Online