O presidente da Bolívia, Evo Morales, alertou, que está em marcha uma campanha contra os governos populares e progressistas da América do Sul, em uma entrevista publicada pelo jornal Página 12.
Nela, expressou sua preocupação pela “ofensiva contra os governos anti-imperialistas” que acontece através dos ataques de fundos abutres contra a Argentina, dos movimentos golpistas na Venezuela e das operações opositoras contra a presidenta brasileira, Dilma Rousseff.
Ele disse que agora não podem fazer golpes de Estado militares, tampouco conspirações com o império norte-americano, “mas sinto que há outras formas de agressão política, como as chantagens e os condicionamentos à Venezuela”.
Na Argentina, por exemplo, o litígio dos fundos abutres é uma agressão econômica, afirmou e advertiu que, “quando um governo anti-imperialista é sólido, querem destroçar pelo lado econômico”.
Diante dessa situação destacou que “o trabalho conjunto da região é importante. E quando não podem nem militar nem economicamente, fazem um golpe político como contra (Fernando) Lugo no Paraguai”.
Morales opinou que “a agressão a Dilma é política, um golpe através do Congresso. E muito também depende de nossos movimentos sociais, e claro, sinto que o império quer tirar o patrimônio político do Partido dos Trabalhadores. “Já não é só contra Dilma, também é contra Lula. Usam o tema da corrupção”, avaliou.
A uma pergunta sobre se os Estados Unidos estão por trás dessa ofensiva, afirmou: “é muito claro com a Venezuela. E os fundos abutres de onde vêm? Os fundos abutres têm suas estruturas econômicas para chantagear-nos nos Estados Unidos”.
Em suas declarações elogiou Luiz Inácio Lula da Silva, Néstor Kirchner e Hugo Chávez, por terem dignificado a América Latina. Comparou a Bolívia instável e a Bolívia de agora. Morales chegou à presidência em janeiro de 2006 e foi eleito pela terceira vez em outubro do ano passado. Em uma década, a extrema pobreza baixou de 38,3 por cento a 17,8 por cento.
Posse de Evo, primeiro governante índio depois de 500 anos de apartheid
O presidente Evo Morales conquistou, ontem, uma vitória eleitoral esmagadora para governar a Bolívia por um terceiro mandato consecutivo.
O importante aval conseguido por Morales nas urnas, com uma vitória acima de 60% dos votos, segundo os resultados provisórios, foi, em grande medida, uma reação à bonança econômica vivida pelo país, apontaram analistas à AFP.
Enquanto são aguardados os números oficiais, o governo espera alcançar a maioria absoluta no Congresso, o que permitiria avançar em reformas – como a da justiça – sem precisar da oposição.
“Garantir a continuidade do crescimento econômico é agora um dos maiores objetivos do governo, pois assim assegura-se a estabilidade social e política”, disse o analista Marcelo Silva, professor de ciência política da Universidad Mayor San Andrés.
A Bolívia, até pouco tempo referência em pobreza na América do Sul, tem um crescimento estimado para este ano que pode chegar a 6,5%, o maior na região, segundo o Ministério da Economia.
“O país precisa mudar sua base econômica para gerar um bem-estar sustentável”, considerou Gustavo Pedraza, consultor em política e economia.
“A Bolívia deve deixar de ser completamente dependente da extração de recursos naturais para buscar um sistema de produção com valor agregado que gere empregos de qualidade”, afirmou o analista.
Com 62% de sua população indígena e rural, na Bolívia 80% dos trabalhadores bolivianos são informais, comerciantes, agricultores e mineiros que não pagam impostos.
Há muitas demandas
“Há muitas demandas, e fazemos o possível para atendê-las… Nestes nove anos aprendemos que não pode faltar dinheiro, alimentos, água e energia para o povo”, disse Moralesnesta segunda-feira em uma coletiva de imprensa.
Morales, de 54 anos, conquistou uma ampla vantagem de quase 40 pontos sobre seu rival, o empresário Samuel Doria Medina, segundo pesquisas dos institutos Equipos Mori e Ipsos divulgadas pela tv local. Estima-se que Doria Medina teve pouco mais de 20% dos votos.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, foi um dos primeiros a felicitar o presidente boliviano, e disse que a reeleição de Morales foi uma “grande vitória para os povos da América do Sul”.
Os governos de Cuba, França, Argentina e El Salvador também saudaram o presidente boliviano pela vitória.
Vitória dedicada a Fidel e Chávez
O presidente, crítico incansável dos Estados Unidos, dedicou sua vitória “aos que lutam contra o imperialismo”. “É dedicada a Fidel Castro e a Hugo Chávez, que descanse em paz”, disse o governante.
No poder desde 2006, o primeiro presidente indígena da Bolívia conseguiu ampliar a base de apoio no país com uma vitória que se estendeu a oito dos nove departamentos, só perdendo em Beni.
O governo surpreendeu ao ganhar pela primeira vez em Santa Cruz (leste), motor econômico da Bolívia e onde inicialmente se concentrava a oposição mais dura a sua política indigenista, anti-americana e estatista.
Morales conseguiu um surpreendente apoio empresarial, setor favorecido pelo crescimento econômico e pelo bom desempenho dos negócios.
Com a vitória, Morales pode se transformar no presidente que ficou mais tempo no poder na Bolívia, país cujo povo sofria com o apartheid indígena e constantes golpes militares.
Parece óbvio: a oposição visa tomar o poder; o governo, manter.
Não existe um novo poder quando tudo continua como dantes no quartel de Abrantes, apenas uma troca de pessoas com o mesmo pensamento, o mesmo jeito de ser e de fazer as coisas.
Para saber o futuro de um governo, basta conhecer seus financiadores e marqueteiros. Ninguém financia uma campanha de graça. Se um marqueteiro, como Duda Mendonça, faz campanha para qualquer partido, significa que todos os partidos possuem a mesma ideologia. É o caso do banqueiro Antônio Lavareda.
Numa campanha contra o povo prende-se o líder dos sem terra, dos sem teto, dos sem nada, dos movimentos sociais e estudantis. Basta exemplificar com os recentes protestos de rua, que começaram em junho de 2013, e com a criminalização dos atuais rolezinhos.
Se os citados movimentos fossem realmente politizados votariam contra os governadores que mandaram os soldados estaduais usar armas letais contra o povo nas ruas.
E dos rolezinhos uma campanha de boicote aos shoppings da qual fizesse parte a classe média negra (e parda, que nega sua ascendência nas senzalas e aldeias indígenas) com alto poder de compra. E, principalmente, a classe média baixa, os prestamistas.
O bom propagandista político tem que conhecer bem a alma do povo, a história da propagação das filosofias e religiões, e as ciências encruzilhadas.
Nesta campanha presidencial, que meios deve usar um partido político que não possui tempo nas televisões e rádios, e nem espaço na imprensa?
Ou ainda: como evitar a prisão de um líder, de um agitador, de um propagandista?
Não existe uma única maneira válida para todas as campanhas. Mas este exemplo boliviano é inspirador.
La Paz
CUANDO EL GIGANTE SE DESPIERTA
En octubre de 2003, los vecinos de El Alto, a 5 km de La Paz, forzaron la caída del presidente boliviano Gonzalo Sánchez de Lozada.
El secreto de la fuerza de El Alto reside en su tejido social, sobre todo en su movimiento vecinal.
“Con el referente de octubre, muchos de los gobiernos que han venido después ya ven El Alto como un gigante que puede levantarse y derrumbar gobiernos”.
Los vecinos bloquearon las calles con autobuses, carrocerías viejas, piedras, maderas, incluso con gigantescos vagones de tren descarrilados.
Miles de mineros celebran la renuncia del presidente boliviano en el centro de La Paz (2003). / Fotografía: Jorge Sáenz (AP)
Casualidades de la historia, fue precisamente en El Alto (Bolivia) donde se instaló en 1781 el campamento de los indígenas sublevados contra la colonia, desde donde Tupaj Katari dirigió el asedio a La Paz. Desde el centro de la ciudad era posible ver, 400 metros más arriba, a los prisioneros españoles ahorcados en altísimas estructuras de madera.
Con la misma mezcla de temor y respeto han seguido alzando la vista los sucesivos ocupantes del Palacio Quemado, sede del Gobierno. El secreto de la fuerza de El Alto, hoy una ciudad de 1,2 millones de habitantes, reside en su tejido social, sobre todo en su movimiento vecinal. Cada zona, en ocasiones apenas una manzana, tiene un presidente elegido por una asamblea, que se reúne cada mes.
Cuando estalló la guerra del gas, en octubre de 2003, Mónica Apaza era secretaria de Juventudes de la Federación de Juntas Vecinales (Fejuve) de El Alto, la integrante más joven de toda la directiva. “Con el referente de octubre –dice– muchos de los gobiernos que han venido después ya ven El Alto como un gigante que puede levantarse y derrumbar gobiernos”.
Evo Morales. Dignidad de América Latina, por Lucas Nine
“El gas es nuestro”
El desencadenante de la revuelta que tumbaría a Sánchez de Lozada fue el plan del Gobierno de exportar gas a EE UU a través de Chile, dos países, según el imaginario popular, enemigos de los intereses bolivianos. Mientras la inmensa mayoría de la población no tenía cubiertas sus necesidades básicas, tres multinacionales, una de ellas la española Repsol, se quedarían con el 82% de los beneficios de la operación.
Aunque las comunidades aimaras del Altiplano llevaban casi un mes bloqueando caminos, el principal impulso para destituir a Sánchez de Lozada provino de un paro indefinido decidido por la Fejuve de El Alto. La organización convocó a todos los presidentes de zona, en representación de cerca de 600 juntas vecinales, a una asamblea general. El 8 de octubre El Alto inició una vez más el cerco a La Paz. La guerra del gas había empezado.
A los pocos días, los bloqueos habían dejado sin gasolina los 58 surtidores de La Paz y El Alto. El problema del abastecimiento empezaba a preocupar también a los vecinos. “Era el tercer día y nosotros no sabíamos cómo iba a hacer la gente para comer”, recuerda Mónica Apaza. No tardaron en encontrar una salida. “Hablamos en los mercados y las caseras [vendedoras] iban a vender a las cuatro de la mañana y hasta las seis y media, cuando cerraban los mercados… Y otra vez a la movilización, todo el día. Al día siguiente, igual: abrían los mercados por la madrugada y los cerraban para las movilizaciones”.
Las mujeres no sólo eran las encargadas de gestionar las despensas y las ollas comunes que se montaban en plena calle con la comida que aportaban los vecinos. También eran mayoritarias en las protestas, señala Apaza. Cuando los presidentes de zona no llamaban a la movilización, “eran las mujeres las que se organizaban y convocaban”.
América Latina de pie, Europa en caída, por Lucas Nine
“Vamos a meter bala”
“Si quieren diálogo sobre el gas, habrá diálogo sobre el gas; si quieren guerra por el gas, habrá guerra por el gas, y vamos a meter bala”, dijo Sánchez de Lozada el 11 de octubre. Ese mismo día, con munición de guerra, el Ejército y la Policía disparaban contra los vecinos que bloqueaban el paso de los camiones cisterna que salían de la planta de gas de Senkata, en El Alto. Las primeras muertes generalizaron la rebelión.
Miles de alteños rodearon el convoy militar, que fue obligado a refugiarse en un cuartel de la zona. Los choques entre las fuerzas militares y los manifestantes se extendieron por todo El Alto y los barrios más elevados de La Paz. Los tanques ametrallaban a los manifestantes por las laderas. Los helicópteros y los francotiradores disparaban sobre los civiles…
Las muertes alimentaban la revuelta. Era un ejército contra cientos de miles de personas desarmadas. Al igual que la tropa de Tupaj Katari, los vecinos tenían palos, piedras, hondas, algún cóctel molotov y algunos “cachorros” de dinamita. Bien colocada, la carga permitió derribar tres de los seis puentes elevados que atraviesan la principal entrada a El Alto.
Los vecinos bloquearon las calles con autobuses, carrocerías viejas, piedras, maderas, incluso con gigantescos vagones de tren descarrilados. En las principales avenidas, inmensas zanjas cavadas en el asfalto y en la tierra hacían imposible el tránsito. 77 muertes y 400 heridos por las balas de la Policía y el Ejército hicieron que la demanda del gas pasara a un segundo plano. La primera demanda ya era innegociable: la renuncia de Gonzalo Sánchez de Lozada.
“Nosotros somos la historia”
“Como un gigante que duerme en el momento en que lo despiertas, no descansa hasta que termina lo que ha empezado”, dice Mónica Apaza. Sánchez de Lozada hablaba de un proceso “sedicioso” financiado desde el exterior, encabezado por el entonces diputado Evo Morales y el líder campesino Felipe Quispe. Pero al cuarto día de movilizaciones ya ni la Fejuve dirigía a los manifestantes, señala Apaza.
“Después de las masacres, ya nos ha sobrepasado la misma base, la misma gente se empezó a organizar; ya no había una dirección”, prosigue Mónica, que se sumó como una más a los bloqueos. “Nuestra lucha ha sido desde abajo, no había alguien arriba.Éramos nosotros, todos nosotros movilizándonos”.
Recordar aquellos días sigue siendo doloroso para ella: “Me ha tocado llevar gente herida al hospital y que en mis manos se mueran muchas personas”. Las noticias y las imágenes de las masacres extendieron las protestas por todo el país. Los cocaleros, los indígenas del Altiplano, los mineros de Potosí y Oruro, dinamita en mano: todos se unían a los bloqueos y avanzaban hacia el Palacio Quemado.
El 16 de octubre, en una gigantesca manifestación, “todo El Alto bajó a La Paz”. Las huelgas de hambre se extendían a todos los rincones de Bolivia. La situación era insostenible para Sánchez de Lozada. La toma militar de El Alto había fracasado. El 17 de octubre de 2003,el presidente escapó en helicóptero. Después de unas breves escalas se instaló en Estados Unidos.
El profesor aimara Pablo Mamani llevaba tiempo viviendo en El Alto, pero confiesa que nunca había imaginado que sus habitantes fueran capaces de una resistencia semejante. “En esos momentos descubrimos que éramos sujetos históricos capaces de hacer más de lo que habíamos pensado. Y en ese momento descubrimos que la historia está aquí, que nosotros somos la historia, no ellos”.
Para Mónica Apaza, sin el levantamiento de octubre la historia del país hubiera sido muy distinta: “Las muertes, todo lo que hemos vivido, valió la pena. Estamos en un proceso que nunca se hubiera dado en Bolivia si no hubiera sido por esto”.
Brasília – Alguém do público gritou: “Traidor!”. Um grupinho o seguiu. Luiz Inácio Lula da Silva os olhava do cenário, sério, muito sério. E escutou de outro setor: “Lula guerreiro/ do povo brasileiro”. Então desprendeu o microfone de seu suporte e começou a caminhar rápido, quase como Mick Jagger. Foi um momento intenso do Fórum Mundial dos Direitos Humanos que aconteceu com milhares de pessoas e centenas de painéis, entre protestos e alegrias, com clima de controvérsia e debate.
Quando Lula fez sua intervenção no Fórum, na quinta-feira pela tarde, já apareciam com nitidez dois temas. Um, o papel das polícias dos estados, que na Argentina se chamam províncias. Outro, as reivindicações de povos originários por suas terras. Os protestos contra Lula partiram de um grupo do segundo setor. No Brasil ainda se fala de índios e não de povos originários, assim como se fala de negros e não de afro-brasileiros. Sem voltas.
Lula entrou de cabeça na discussão porque antes dele a presidenta Dilma Rousseff havia sido alvo de um protesto de uma parte do público pelos mesmos dois temas.
Dilma recebeu os gritos depois de entregar os prêmios aos direitos humanos. Um dos que recebeu o prêmio foi Julio Jacobo, um portenho de Flores Sur da Flacso-Brasil que investiga sobre segurança pública e os níveis altos de vitimização de pobres e negros.
Outra das premiadas foi Debora Maria da Silva, mãe de um jovem assassinado em 2006, durante um tiroteio cruzado entre duas instituições policiais. “Se temos uma polícia militarizada, a democracia é falsa”, afirmou com voz forte. “A bala acertou no coração do meu filho, mas não me livrou do compromisso de lutar por este país.” E encerrou assim: “Se comemora o fim da ditadura militar, mas se esqueceram de comunicar à polícia que a ditadura terminou”. A ditadura governou de 1964 a 1985, durante 21 anos ininterruptos.
Polícias
No Brasil, como na Argentina, cada estado tem sua polícia. Só que no Brasil a polícia de cada estado se chama Polícia Militar. O chefe depende do governador do estado, mas antes deve ser aprovado pelas Forças Armadas.
Os dois aspectos criam um duplo problema.
Por um lado, a referência original às forças armadas vertebra polícias não verticais, mas militarizadas nas quais nem sequer os próprios agentes têm forma de defender seus direitos como cidadãos.
Por outro lado, a forte dependência dos governadores faz que o governo nacional careça de instrumentos de mando e controle.
A estrutura política do Brasil acrescenta outro problema aos dois anteriores: muitos governadores pertencem ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro que, a rigor, é uma constelação de forças estaduais. O PMDB é o aliado de centro ou de centro-direita (depende do caso e do Estado) da coalisão de governo que, a nível nacional, é dirigida pelo Partido dos Trabalhadores de Lula e Dilma. Não apenas é um aliado a nível de governações. Também, ou sobretudo, no Congresso nacional.
Dilma, então, como Lula antes, não apenas tem um limite de jurisdição, mas político. O avanço sobre os governadores ou os estados é parte de uma equação onde, além da Constituição, há margens ditadas pela política. Nessa equação, diluir-se em aliados incômodos carrega o perigo de perder identidade e perder aliados sobre o risco de diluir as possibilidades de governar o processo de mudança que tirou da pobreza 40 milhões de brasileiros nos últimos dez anos.
“No Congresso nacional não podemos fazer o que queremos”, disse Lula. “Há algo que se chama correlação de forças. Há que negociar.”
O equilíbrio não impede movimentos como o que protagonizou no próprio Fórum a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes. “O mundo ainda discute a pena de morte, que não deveria existir mais”, disse. E se perguntou: “Não deveríamos reagir porque há uma pena de morte não declarada nos bairros periféricos de Brasil?”. A própria ministra disse:
“As democracias também precisam democratizar-se. O acesso à Justiça é fundamental em um país onde morrem proporcionalmente muito mais negros que brancos. Aproximadamente 82% mais. O racismo é parte da estrutura mais profunda de uma sociedade que foi escravista. A democracia racial não foi assumida e é uma marca profunda”.
Quando entrou uma bateria enquanto pronunciava seu discurso, a ministra olhou para eles e disse que “o Brasil acredita na democracia e no diálogo como princípio”.
Também lembrou que “no Brasil, as violações aos direitos humanos não passam despercebidas para nós, no Estado” e que “nas manifestações de junho aqui, houve uma presidenta que não reagiu com intolerância”.
Em junho, manifestantes que se concentraram primeiro em São Paulo e depois no Rio de Janeiro e nas principais cidades contra a precariedade do transporte público em alguns Estados, foram reprimidos com ferocidade. A presidenta disse que havia que escutar os protestos e os convocou a dialogar no Planalto, a casa de governo de Brasília.
Dilma chegou ao Fórum depois de ter viajado à África do Sul para os funerais de Nelson Mandela. Mencionou seu nome: “Mandela nos remete ao direito de resistência à opressão e também à capacidade de um líder de construir um país livre do racismo e da opressão”. Disse que com o projeto “Mais Médicos” o governo “leva atenção sanitária às periferias”, enquanto “enfrentamos a violência contra os jovens, sobretudo negros e pobres”.
Pablo Gentili, o secretário executivo do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais, a quem agradeceram Nunes e Lula, falou em nome dos organizadores do Fórum.
Em um dos trechos mencionou o assassinato de Kevin Molina, o menino de 9 anos que, em setembro, morreu assinado enquanto tratava de proteger-se na cozinha de sua casa em Villa Zavaleta durante um tiroteio. “Fechem os olhos e pensem que o menino que está embaixo da mesa, entre os tiros, é nosso filho”, pediu Gentili. “Tem angústia, medo. Não sentimos um vazio? A defesa dos direitos humanos pressupõe essa sensação de indignação. Se não estamos em condições de pensar que é nosso filho não estaremos em condições de desenvolver os direitos humanos. Mas da indignação há que fabricar reflexão e desenvolver estratégias e políticas públicas.”
Sem papeis
Quando Lula chegou ao Centro de Convenções, seus colaboradores já haviam lhe informado que poderia receber vaias ou gritos. Por isso subiu ao palco, olhou fixamente aos que o insultaram e disse que jogaria fora o discurso que trazia escrito. Na verdade, Lula fez isso muitas vezes. Quando era presidente, seguidamente começava lendo e depois improvisava. No Fórum mudou, pareceu decidir pelo gesto de lançar os papéis fora de forma ostensível. Fez, disse e depois de olhar aos que gritavam, gritou ele mesmo, com o microfone na mão:
“Se há algo que não me assusta é o protesto. Na década de 80 e de 90 ninguém protestou mais que eu, e os trabalhadores enfrentaram a polícia. Lutamos duramente pela democracia. Os governantes devem ter consciência de que a democracia permitiu que um índio chegasse à presidência da Bolívia, um negro à presidência dos Estados Unidos, um torneiro à presidência do Brasil e uma torturada pela ditadura à presidência deste país. Me orgulho de ter sido eleito presidente depois de três derrotas. Muitos queriam que desistisse, mas eu queria provar à elite brasileira que um torneiro mecânico sem diploma universitário podia ser presidente da república e fundar mais universidades que qualquer outro”.
Lula se meteu com a história. “Em 1550 o Peru já tinha sua primeira universidade. O Brasil, recém em 1930. Quase 400 anos depois. Hoje acontece que nunca tivemos tanta gente da periferia, tantos negros estudando neste país. Cerca de 50% dos alunos da Universidade Federal do ABC, que acaba de me conceder o doutorado Honoris Causa, são da periferia. Isso se chama direitos humanos. Dar ao pobre o direito de ser engenheiro, de ser diplomata, de discutir o mercado de trabalho em igualdade de condições. Quantos de vocês vieram de avião… Antes para estes fóruns só viajávamos em ônibus e dormíamos em colchões na rua.”
Narrou que, na primeira vez que viu Mandela, “entendi que as pessoas não estavam contentes de que todos houvessem saído da pobreza, porque isso não havia acontecido, mas porque o povo sentia que Mandela havia recuperado a dignidade dos negros”.
Em sua própria opinião, a melhor herança que deixou foram as conferências nacionais para debater temas. “Me diziam que não fosse à LGTB. Fui. Tratei com respeito e me trataram com respeito.”
“Se é pouco? Sim, claro, eu sei que é pouco. Mas também, se quiserem saber, como experimentei em minha própria vida, o que é buscar água em um balde, como é estar sem comer, como é levantar com bichos na cama, perguntem a mim.”
En octubre de 2003, los vecinos de El Alto, a 5 km de La Paz, forzaron la caída del presidente boliviano Gonzalo Sánchez de Lozada.
“Matam apenas a mim. Voltarei e serei milhões.” Tupaj Katari
Casualidades de la historia, fue precisamente en El Alto (Bolivia) donde se instaló en 1781 el campamento de los indígenas sublevados contra la colonia, desde donde Tupaj Katari dirigió el asedio a La Paz. Desde el centro de la ciudad era posible ver, 400 metros más arriba, a los prisioneros españoles ahorcados en altísimas estructuras de madera.
Con la misma mezcla de temor y respeto han seguido alzando la vista los sucesivos ocupantes del Palacio Quemado, sede del Gobierno. El secreto de la fuerza de El Alto, hoy una ciudad de 1,2 millones de habitantes, reside en su tejido social, sobre todo en su movimiento vecinal. Cada zona, en ocasiones apenas una manzana, tiene un presidente elegido por una asamblea, que se reúne cada mes.
Cuando estalló la guerra del gas, en octubre de 2003, Mónica Apaza era secretaria de Juventudes de la Federación de Juntas Vecinales (Fejuve) de El Alto, la integrante más joven de toda la directiva. “Con el referente de octubre –dice– muchos de los gobiernos que han venido después ya ven El Alto como un gigante que puede levantarse y derrumbar gobiernos”.
“El gas es nuestro”
El desencadenante de la revuelta que tumbaría a Sánchez de Lozada fue el plan del Gobierno de exportar gas a EE UU a través de Chile, dos países, según el imaginario popular, enemigos de los intereses bolivianos. Mientras la inmensa mayoría de la población no tenía cubiertas sus necesidades básicas, tres multinacionales, una de ellas la española Repsol, se quedarían con el 82% de los beneficios de la operación.
Aunque las comunidades aimaras del Altiplano llevaban casi un mes bloqueando caminos, el principal impulso para destituir a Sánchez de Lozada provino de un paro indefinido decidido por la Fejuve de El Alto. La organización convocó a todos los presidentes de zona, en representación de cerca de 600 juntas vecinales, a una asamblea general. El 8 de octubre El Alto inició una vez más el cerco a La Paz. La guerra del gas había empezado.
A los pocos días, los bloqueos habían dejado sin gasolina los 58 surtidores de La Paz y El Alto. El problema del abastecimiento empezaba a preocupar también a los vecinos. “Era el tercer día y nosotros no sabíamos cómo iba a hacer la gente para comer”, recuerda Mónica Apaza. No tardaron en encontrar una salida. “Hablamos en los mercados y las caseras [vendedoras] iban a vender a las cuatro de la mañana y hasta las seis y media, cuando cerraban los mercados… Y otra vez a la movilización, todo el día. Al día siguiente, igual: abrían los mercados por la madrugada y los cerraban para las movilizaciones”.
Las mujeres no sólo eran las encargadas de gestionar las despensas y las ollas comunes que se montaban en plena calle con la comida que aportaban los vecinos. También eran mayoritarias en las protestas, señala Apaza. Cuando los presidentes de zona no llamaban a la movilización, “eran las mujeres las que se organizaban y convocaban”.
“Vamos a meter bala”
“Si quieren diálogo sobre el gas, habrá diálogo sobre el gas; si quieren guerra por el gas, habrá guerra por el gas, y vamos a meter bala”, dijo Sánchez de Lozada el 11 de octubre. Ese mismo día, con munición de guerra, el Ejército y la Policía disparaban contra los vecinos que bloqueaban el paso de los camiones cisterna que salían de la planta de gas de Senkata, en El Alto. Las primeras muertes generalizaron la rebelión.
Miles de alteños rodearon el convoy militar, que fue obligado a refugiarse en un cuartel de la zona. Los choques entre las fuerzas militares y los manifestantes se extendieron por todo El Alto y los barrios más elevados de La Paz. Los tanques ametrallaban a los manifestantes por las laderas. Los helicópteros y los francotiradores disparaban sobre los civiles…
Las muertes alimentaban la revuelta. Era un ejército contra cientos de miles de personas desarmadas. Al igual que la tropa de Tupaj Katari, los vecinos tenían palos, piedras, hondas, algún cóctel molotov y algunos “cachorros” de dinamita. Bien colocada, la carga permitió derribar tres de los seis puentes elevados que atraviesan la principal entrada a El Alto.
Los vecinos bloquearon las calles con autobuses, carrocerías viejas, piedras, maderas, incluso con gigantescos vagones de tren descarrilados. En las principales avenidas, inmensas zanjas cavadas en el asfalto y en la tierra hacían imposible el tránsito. 77 muertes y 400 heridos por las balas de la Policía y el Ejército hicieron que la demanda del gas pasara a un segundo plano. La primera demanda ya era innegociable: la renuncia de Gonzalo Sánchez de Lozada.
“Nosotros somos la historia”
“Como un gigante que duerme en el momento en que lo despiertas, no descansa hasta que termina lo que ha empezado”, dice Mónica Apaza. Sánchez de Lozada hablaba de un proceso “sedicioso” financiado desde el exterior, encabezado por el entonces diputado Evo Morales y el líder campesino Felipe Quispe. Pero al cuarto día de movilizaciones ya ni la Fejuve dirigía a los manifestantes, señala Apaza.
“Después de las masacres, ya nos ha sobrepasado la misma base, la misma gente se empezó a organizar; ya no había una dirección”, prosigue Mónica, que se sumó como una más a los bloqueos. “Nuestra lucha ha sido desde abajo, no había alguien arriba.Éramos nosotros, todos nosotros movilizándonos”.
Recordar aquellos días sigue siendo doloroso para ella: “Me ha tocado llevar gente herida al hospital y que en mis manos se mueran muchas personas”. Las noticias y las imágenes de las masacres extendieron las protestas por todo el país. Los cocaleros, los indígenas del Altiplano, los mineros de Potosí y Oruro, dinamita en mano: todos se unían a los bloqueos y avanzaban hacia el Palacio Quemado.
El 16 de octubre, en una gigantesca manifestación, “todo El Alto bajó a La Paz”. Las huelgas de hambre se extendían a todos los rincones de Bolivia. La situación era insostenible para Sánchez de Lozada. La toma militar de El Alto había fracasado. El 17 de octubre de 2003,el presidente escapó en helicóptero. Después de unas breves escalas se instaló en Estados Unidos.
El profesor aimara Pablo Mamani llevaba tiempo viviendo en El Alto, pero confiesa que nunca había imaginado que sus habitantes fueran capaces de una resistencia semejante. “En esos momentos descubrimos que éramos sujetos históricos capaces de hacer más de lo que habíamos pensado. Y en ese momento descubrimos que la historia está aquí, que nosotros somos la historia, no ellos”.
Para Mónica Apaza, sin el levantamiento de octubre la historia del país hubiera sido muy distinta: “Las muertes, todo lo que hemos vivido, valió la pena. Estamos en un proceso que nunca se hubiera dado en Bolivia si no hubiera sido por esto”.
* Con la colaboración de Héctor Rojo Letón
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Com a Cordilheira dos Andes ao fundo, El Alto, a uma altitude de 4.ooo m, é uma cidade pertencente ao Departamento Autônomo de La PazLa Paz vista de El AltoLa Paz localiza-se no oeste do país, a 3 660 metros de altitude. Tem, aproximadamente, 2 087 597 habitantesPraça Murillo, centro histórico de La PazEl Alto foi o protagonista do massacre conhecido como a Guerra do Gás, em Outubro de 2003, na qual mais de 70 pessoas foram mortas pela repressão do governo ordenado pelo presidente Gonzalo Sanchez de Lozada e, finalmente, terminou com sua renúncia como o 17 de outubro do mesmo ano. Os principais movimentos sociais da cidade são os Fejuve (Federação de Comitês de Bairro) e CDR (Central Obrera Regional)
El Alto. Quando o Gigante acorda…
… desce para conquistar La Paz. Já pensou se o pessoal dos morros do Rio de Janeiro descesse em um mesmo dia e hora?…
Los muertos y heridos en la masacre de octubre, apenas asoman a mi mente y mi corazón, me duelen como hace diez años atrás, cuando me enteré, a través de los medios de comunicación, de la tragedia en la urbe alteñaque-al son del grito de combate: “¡El Alto de pie, nunca de rodillas!”- se desangró en defensa de la soberanía nacional.Al cumplirse una década de la denominada Guerra del Gas, y en mi condición de ciudadano con derecho a voz y voto, no dejó de reflexionar sobre las dramáticas consecuencias de aquellas jornadas que cambiaron el curso de la historia contemporánea de nuestro país y, al mismo tiempo, no dejó de condenar la bestialidad de las fuerzas represivas del gobierno de Gonzalo Sánchez de Lozada que, en octubre de 2003, provocaron un baño de sangre entre los manifestantes de la ciudad de El Alto.
A 31 años de la “recuperación de la democracia”, que estaba acuartelada por una de las dictaduras militares más sombrías de la historia nacional, se ingresó a una etapa de “gobiernos de consenso”, cuyas “democraduras” sirvieron no sólo para acallar la protesta popular con atropellos de lesa humanidad, sino también para masacrar a los acusados de “sediciosos y promotores de proyectos subversivos organizados y financiados desde el exterior”, aun sabiendo que no era posible una democracia formal en un país que se retorcía en medio de la pobreza, el analfabetismo y la desigualdad social.
A estas alturas del proceso de cambio, cuando todo parece demostrar que ha llegado el momento de transformar las caducas estructuras del sistema capitalista, nadie queda indiferente ante las convulsiones sociales que, en el llamado Octubre Negro, sacudieron los cimientos del Estado proimperialista, donde los sectores más empobrecidos, armados con piedras, palos, cólera e indignación, ganaron las calles para hacer escuchar su grito de protesta contra quienes detentaban el poder, rifando al país en pedacitos y al mejor postor.
Durante la Guerra del Gas, que en la ciudad de El Alto arrojó el saldo de decenas de muertos y centenas de heridos, el pueblo dio su ultimátum al gobierno: “Si el presidente no puede solucionar los problemas, lo mejor será que se vaya a su casa”. Es decir, los ciudadanos de oriente y occidente, conscientes de la imperiosa necesidad de salvar al país del caos y la anarquía, exigieron la renuncia del primer mandatario porque tenía las manos manchadas de sangre y porque perdió el control de los conflictos sociales.
El país requería de soluciones rápidas y concretas. Y, para lograr este objetivo, no bastó con que el vicepresidente asumiera la primera magistratura, intentando salvar la democracia burguesa, sino en que todas las autoridades de gobierno se pusieran la mano en el pecho e hicieran conciencia de que las protestas y los conflictos no se resolvían disparando las armas contra el pueblo, sino ofreciendo a los sectores más empobrecidos mejores condiciones de vida y de trabajo.
Está demostrado que no se puede controlar la rebelión de las masas cuando éstas no están dispuestas a vivir en la zozobra ni bajo la inestabilidad del aparato estatal. Por cuanto fue legítimo que los ciudadanos propusieran cambios, en procura de impedir la entrega del gas a consorcios extranjeros sin previa consulta al pueblo; tampoco fue casual que se hubiesen unido en torno a una Asamblea Constituyente, que exigía la modificación de la Ley de Hidrocarburos y del Código Tributario, y que se resguardaran los intereses de la nación y sus habitantes, oponiéndose a las injerencias del portavoz del gobierno norteamericano en los asuntos internos del Estado boliviano; más todavía, fue urgente rechazar las insinuaciones de las empresas transnacionales, interesadas en saquear las riquezas naturales en desmedro de quienes vivían sumidos en la miseria, la desocupación, la deserción escolar, la criminalidad y la corrupción institucionalizada.
Cabe preguntarse, aquí y ahora, para qué servía un gobierno que no representaba los intereses de las inmensas mayorías, un presidente que se aferraba al poder para defender los privilegios de los empresarios privados y la política expansionista del imperialismo, cuyo embajador encaramado en la sede de gobierno, asumiendo la misma arrogancia y supremacía de su jefe en la Casa Blanca, declaró a la prensa: “Estados Unidos no tolerará una interrupción del orden constitucional en Bolivia y no apoyará a ningún gobierno no democrático”, como dando a entender que el gobierno de Gonzalo Sánchez de Lozada era uno de los más democráticos de la historia republicana, y que la oposición, compuesta por los partidos políticos que rechazaban un sistema neoliberal de gobierno y las imposiciones arbitrarias del imperio, representaba un peligro para la democracia.
Los “campeones de la democracia”, que en otrora se denominaban “izquierdistas” y “revolucionarios”, respaldaron también la política represiva y neoliberal del gobierno, mientras sujetaban en la mano la Carta Democrática de los organismos internacionales que, teóricamente, condenaban el uso de la violencia que tendían a alterar el orden constitucional del país; cuando en realidad, el gobierno de Gonzalo Sánchez de Lozada, a espaldas de lo establecido en la Constitución Política del Estado, dio su beneplácito a las Fuerzas Armadas para reprimir al pueblo, violentando así los Derechos Humanos y pasándose por las narices las Cartas Magnas tanto de la ONU como de la OEA.
Ante semejante fechoría, es necesario preguntarse: ¿De qué tipo de democracia nos hablaban estos asesinos? Si el propio presidente de la nación no respetaba la institucionalidad democrática, como la única vía aceptable para resolver los conflictos sociales, y fue capaz de arremeter contra sus opositores, tildándolos de “subversivos” y “sediciosos”, hasta que se le fue la mano y ordenó meter bala contra una turba de mujeres, hombres y niños en la ciudad de El Alto.
Por todos es conocido que las agresiones físicas de las fuerzas represivas contra los manifestantes alteños fueron tan contundentes como las declaraciones del representante del Departamento de Estado, quien, en su afán de controlar la producción de coca y mantener en jaque a los críticos del régimen, aplicó una política coercitiva que, en lugar de apaciguar la furia encendida de los manifestantes, provocó una mayor protesta entre quienes estaban ya cansados de soportar los mandatos del imperialismo y del gobierno entreguista de Gonzalo Sánchez de Lozada, quien no hacía otra cosa que acrecentar la injusticia social, la crisis económica y la discriminación racial.
Los campesinos, mineros, fabriles, estudiantes, profesores, comerciantes y otros, tenían todo el derecho de velar por sus vidas e intereses, y de protestar contra los engaños y las falsas promesas de los señores del poder, quienes estaban más interesados en la repartija de pegas, que en resolver los problemas reales de los sectores empobrecidos por la política entreguista de los ministros y diputados neoliberales, cuya incapacidad de gobernar un país en crisis quedó al descubierto desde el instante en que asumieron el mando del poder con el apoyo de los partidos oficialistas que, durante y después de su campaña proselitista, prometieron demagógicamente un mejor destino para los bolivianos.
Las huelgas, bloqueos, barricadas y marchas de protesta, que tuvieron lugar en la ciudad de El Alto en octubre de 2003, reflejaron el descontento popular contra un gobierno que, al margen de haber sido incapaz de cumplir con el compromiso y los convenios firmados con los sectores en conflicto, tuvo la osadía de movilizar a las tropas del Ejército contra los movimientos progresistas, compuestos en su gran mayoría por los relocalizados de las minas, cansados de vivir en un país donde no se respetaban los Derechos Humanos y donde sobrevivían los resabios de la discriminación social y racial, y donde unos creían ser dueños de las riquezas naturales y dueños absolutos del poder.
Ya sabemos que los desposeídos no piden mucho y lo poco que piden es que se respeten sus costumbres y tradiciones, que se respeten sus fuentes de trabajo y el cultivo de la hoja de coca, que se mejore el sistema educativo y la asistencia médica, que se instale energía eléctrica y agua potable en las regiones rurales; reivindicaciones elementales que incomodaron a los amos del poder político y económico, entre los que se contaba Gonzalo Sánchez de Lozada, quien por entonces fungía como presidente constitucional de Bolivia.
Con todo, ser testigo de un pueblo que luchaba en defensa de los intereses nacionales, mientras su gobierno se esforzaba cada vez más por defender los intereses del imperialismo, duele en lo más hondo del alma, sobre todo, cuando los medios de comunicación informaban que los caídos bajo las balas fratricidas eran hermanos que, de un modo consciente o inconsciente, apostaron desde siempre por los ideales de la libertad y la justicia.
A diez años de la masacre de octubre en la ciudad de El Alto, donde las organizaciones sociales todavía se mantienen de pie, queda la lección de que las grandes transformaciones socioeconómicas de un país se logran gracias aal coraje y la conciencia de un pueblo dispuesto a combatir hasta las últimas consecuencias por conquistar la soberanía nacional, la defensa de los recursos naturales y la dignidad que se merecen todos en un Estado de derecho.
Vou transcrever trechos de pesquisa de Júlia Adão Bernardes – Modernização: A Lógica do Capital e o Direito dos Excluídos – para a louvação da irmã, irmãzinha Veva, Genoveva que, no Mato Grosso, fez crescer e multiplicar pessoas, enfrentando o apartheid indígena.
Introdução
Mato Grosso constitui um laboratório onde as experiências de ino- vações, vinculadas a mudanças no atual paradigma técnico-científico, indicam determinado rumo. Contudo, tais experiências não podem ser consideradas como um modelo acabado, porque isso significaria ignorar as especificidades históricas, econômicas, culturais e espaciais que não podem ser transplantadas para outra realidade.
O presente trabalho está voltado para a compreensão de algumas dessas experiências que resultam na constituição dos novos espaços pro- dutivos, buscando apreender as novas formas de organização da sociedade e as relações emergentes, onde vão se instituindo processos que envolvem a implantação e a articulação de atividades modernas, impulsionados pela dinâmica de reprodução do capital, significando novas possibilidades de uso do território no cerrado.
Trata da expansão da empresa capitalista na área de influência da BR- 158, de como se constituiu nos anos 70 uma nova fronteira da agricultura moderna na porção sul desse corredor de exportação e, na parte norte, de como se deu a implantação dos grandes projetos agropecuários, procuran- do identificar as contradições que essa expansão envolvia, assim como as distintas visões de modernidade e os valores subjacentes às mesmas.
Aborda, também, o movimento de disseminação recente da empresa capitalista na parte norte do eixo da BR-158, favorecida por uma nova logística de escoamento da produção na direção sul/norte, buscando analisar como o capital avança sempre associado à propriedade da terra, identificando as possibilidades e dificuldades dos pequenos produtores agrícolas, assentados, posseiros e trabalhadores rurais face ao novo pro- cesso de imposição de novos usos ao território usado.
Captar o fenômeno de expansão da agricultura moderna significa perceber a substituição de atividades menos rentáveis por outras mais lucrativas, a concentração e a centralização da terra e do capital e, conse- qüentemente, do poder, o agravamento da inviabilidade dos pequenos pro- dutores agrícolas sobreviventes na área, o aumento do trabalho temporário e da precarização do mesmo, os problemas de ordem ambiental, significa ver o território para a ação política, o que exige lê-lo como totalidade.
A irmã Genoveva na Amazônia
Progresso e atraso, moderno e tradicional
Comecemos com a exposição de três fatos importantes percebidos no trabalho de campo, no Vale do Araguaia, em julho de 2007. Em nos- sas incursões na BR-158 mato-grossense um dos aspectos que primeiro atraiu a atenção dos pesquisadores foi a diversidade de situações no que concerne ao uso do território e à organização dos grupos sociais, os quais apresentavam distintos níveis de complexidade, combinando processo histórico, exploração da terra e organização social de diferentes formas, em sua face visível.
Enquanto na parte sul domina o modelo sócio-econômico agroin- dustrial moderno, na porção norte esse estágio ainda não foi alcançado, predominando a pecuária extensiva e formas tradicionais de uso da terra. Foi exatamente nesta última que aconteceram as lutas populares no campo nos anos 70, no contexto da ditadura militar, lideradas pela igreja católica que atuava na linha da teologia da libertação, irradiados a partir da prelazia de São Félix do Araguaia, onde se destacava a figura do bispo Dom Pedro Casaldáliga. Tais movimentos eclodiram para apoiar os posseiros expulsos de suas terras devido à implantação de grandes projetos agropecuários na região. No processo de resistência, lideranças locais emergiram e novas foram forjadas nas lutas, deixando marcas que permanecem de distintas formas até os dias atuais. Este constituiu o primeiro aspecto marcante da pesquisa de campo.
Um segundo fato diz respeito à entrevista realizada no município de Santa Terezinha, na tribo Tapirapé, um povo do grupo tupi que vive às margens do rio Tapirapé, com uma Irmãzinha de Jesus, a qual, juntamente com outras duas Irmãzinhas, desde 1952 vive na região do Araguaia, junto desse grupo indígena. A irmã Genoveva nos contou que escolheram os Tapirapé porque na época estavam doentes e desnutridos, perdendo as terras, eram apenas cinquenta e se encontravam ameaçados de extinção face às incursões dos Kayapó. Permaneceram com eles não para catequizá- los, mas para ficar ao seu lado, simplesmente para mostrar-lhes que eles eram importantes, que tinham valor.
Nesses quase 50 anos de permanência, trataram de suas doenças, já que uma Irmãzinha era enfermeira, os Tapirapé recuperaram suas terras, a auto estima, muitos estudaram fora, e hoje são aproximadamente oito- centos. No livro “O renascer do Povo Tapirapé”, diário das Irmãzinhas de Jesus, Beozzo (2002, p.13) assinala que o que há de singular na ida das Irmãzinhas ao Tapirapé é “sua atitude de aprendizado e convivência”, é “a escolha dos meios pobres”, passando a morar como eles, aprendendo com as crianças e jovens o idioma e as formas de sobrevivência na mata.
Um terceiro fato relaciona-se à entrevista realizada com o colonizador da região, ao fim daquela viagem, o pastor luterano alemão Ênio Schwantes, um dos responsáveis pela expansão do agronegócio nos anos 80. Após relatos sobre como se deu o processo de colonização da área, o avanço da agricultura moderna, as dificuldades e os desafios, o pastor Schwantes finalizou, afirmando: “Aqui nós trouxemos o progresso, trouxemos asfalto, técnica, máquinas, soja, cidades modernas. Aquele lá em cima, o Pedro Casaldáliga, o que trouxe? Nada. Lá tudo continua no mesmo”. Essas são as três narrativas das quais fui testemunha. Leia mais
Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus e Pedro Casaldáliga
O papa Francisco se conhece esta história deve estar contente. Vale como exemplo para a caminhada pela Via Régia.
Morreu no início da tarde da terça-feira, 24 de setembro, no município de Confresa, Mato Grosso, a Irmã Genoveva. Há 60 anos vivendo junto ao povo Tapirapé, a missionária passou mal na aldeia Urubu Branco, local onde morava, logo após o almoço. Morreu enquanto era levada ao hospital. O enterro ocorreu na própria aldeia. Em agosto deste ano, Veva, como era conhecida, completou 90 anos.
Três irmãzinhas chegaram ao Brasil no dia 24 de junho de 1952, com o objetivo de morar junto com os Tapirapé, numa casa como a dos indígenas, passando a ter a mesma alimentação e o mesmo estilo de vida.
“Ir aos esquecidos, aos desprezados, pelos quais ninguém se interessa”, são as palavras da Irmãzinha Madalena, fundadora da Fraternidade. As Irmãs Genoveva, Clara e Denise, quando chegaram à aldeia Tapirapé, encontraram um povo com cerca de 50 pessoas, sobreviventes dos ataques de seus vizinhos Kayapó.
Escreve Leonardo Boff: No Araguaia, a irmãzinha de Jesus Genoveva, de origem francesa. Ela e suas companheiras viveram uma experiência que o antropólogo Darcy Ribeiro considerava uma das mais exemplares de toda a história da antropologia: o encontro e a convivência de alguém da cultura branca com a cultura indígena.
À sua chegada, a irmãzinha Genoveva ouviu do cacique Marcos: “Os tapirapés vão desaparecer. Os brancos vão acabar conosco. Terra vale, caça vale, peixe vale. Só índio não vale nada”.
Elas foram para junto deles e pediram hospedagem. Começaram a viver com eles o evangelho da fraternidade: na roça, na luta pela mandioca de cada dia, no aprendizado da língua e no incentivo a tudo o que era deles, inclusive a religião, num percurso solidário e sem retorno.
A autoestima deles voltou. Graças à mediação delas, conseguiram que mulheres carajás se casassem com homens tapirapés e, assim, garantissem a multiplicação do povo. De 47, passaram hoje a quase mil. Em 50 anos, elas não converteram sequer um membro da tribo. Mas conseguiram muito mais: fizeram-se parteiras de um povo, à luz daquele que entendeu sua missão de “trazer vida, e vida em abundância (Jesus)”.
Não é por aí que deverá seguir o cristianismo, se quiser ter futuro num mundo globalizado? O evangelho sem poder e a convivência terna e fraterna no estilo do papa Francisco.
Eis o testemunho de Antônio Canuto, que bem sabe da vida e obra da irmãzinha Genoveva:
Cheguei hoje às 6h00 da manhã em Goiânia, vindo lá da aldeia Urubu Branco, onde estive para os funerais de Irmãzinha Genoveva. Queria partilhar um pouquinho com vocês do que vi e vivi. Genoveva na manhã da terça-feira, 24 de setembro, estava bem disposta.
Tinha amassado barro para fazer não sei bem que conserto na casa. Almoçou tranquilamente com a irmãzinha Odile. Estavam descansando quando se queixou de dores no peito. Odile foi logo providenciar um carro para levá-la ao hospital de Confresa. No caminho a respiração foi ficando mais difícil. Morreu antes de chegar ao hospital. De volta à aldeia, consternação geral.
Genoveva, uma das irmãzinhas que viviam na aldeia, em Confresa, viu nascer quase 100% dos Apyãwa (é assim que se autodenominavam os Tapirapé. Assim voltam a se autodenomiar hoje, nestes 61 anos de vida partilhada. Os Apyãwa fizeram questão de sepultá-la, segundo seus costumes, como se mais uma Apyãwa tivesse morrido.
Os cantos fúnebres, ritmados com os passos se prolongaram por muito tempo, durante a noite e o dia seguinte. Muitas lamentações e choros se ouviam. A cova foi aberta com todo o cuidado pelos Apyãwa, acompanhada de cânticos rituais. A uma altura de uns 40 centímetro do chão foram colocadas duas travessas, uma em cada ponta da cova. Nestas travessas foi amarrada a rede que ficou na posição de uma rede estendida com quem está dormindo. Por sobre as travessas foram colocadas tábuas. Por sobre as tábuas é que foi colocada a terra. Toda a terra colocada foi peneirada pelas mulheres, como é a tradição.
No dia seguinte esta terra foi molhada e moldada de tal forma que fica firme e espessa como a de chão batido. Tudo acompanhado com cânticos rituais. Em sua rede em que todos os dias dormia, Genoveva continua o sono eterno entre aqueles que escolheu para ser seu povo. A notícia da morte se espalhou pela região, pelo Brasil e pelo mundo.
Agentes de Pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia, os atuais e alguns antigos, amigos e admiradores do trabalho das irmãzinhas foram chegando para a despedida. A vice-presidenta do CIMI, irmã Emilia, com os coordenadores do CIMI, de Cuiabá, chegaram depois de uma viagem de mais de 1.100 kms quando o corpo já estava na cova, ainda coberto só com as tábuas. Os Apyãwa as retiraram para que os que acabavam de chegar a vissem pela última vez em sua rede.
Os membros da equipe pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia, junto com os outros não indígenas, entre os cânticos rituais dos Apyãwa, foram entremeando cânticos e depoimentos da caminhada cristã de Irmãzinha Genoveva. Ao final, o cacique falou que os Apyãwa estão todos muito tristes com a morte da irmãzinha.
Falando em português e apyãwa, ressaltou o respeito como eles sempre foram tratados pelas irmãzinhas, durante estes sessenta anos de convivência. Lembrou de que os Apyãwa devem sua sobrevivência às irmãzinhas, pois quando elas chegaram, eles eram muito poucos e hoje chegam a quase mil pessoas. Plantada em território Apyãwa está Genoveva, um monumento de coerência, silêncio e humildade, de respeito e reconhecimento do diferente, gritando como com ações simples e pequenas é possível salvar a vida de todo um povo.
Era un viernes cuando transcurría el 12 de octubre de 1492. Los tainos (pueblo indígena de las Antillas) disfrutaban apacibles del transcurrir cotidiano de sus vidas en la isla de Guanahani (actual Bahamas). Allí llegaron unos barbudos desconocidos provenientes del mar. Acogimos con honores a nuestros huéspedes sin conocer sus intenciones. Pronto nos dimos cuenta que eran bárbaros cristianos embelesados por el metal. Pero ya era demasiado tarde. Nuestra desgracia había comenzado.
Los tainos, al igual que todos sus vecinos, fueron cazados y llevados como esclavos a La Española (actual Haití y República Dominicana) y a Cuba. Las tainas, al igual que sus vecinas, fueron violadas y obligadas a parir bastardos (antes de ser aniquiladas) porque los barbudos venían sin mujeres y sin hijos. Aquel pueblo fue diezmado por completo. Igual suerte corrieron centenares de pueblos aborígenes en esta nuestra Abya Yala.
Abya Yala estaba más allá del horizonte cultural y mental de la Europa de aquel entonces. Pero, lamentablemente en ese momento Europa transitaba de una economía feudal hacia una economía mercantil que buscaba respaldarse en el metal precioso, el oro. Ellos no tenía el oro, y el tradicional comercio que mantenían con el mundo oriental había sido bloqueado por el avance de los árabes hacia el norte. Por eso se lanzaron al mar desconocido en sentido contrario, creyendo que el planeta era redondo, buscando una ruta alterna para sus negocios con Oriente. Así fue como aparecieron en Abya Yala creyendo que era India. Y Cristóbal Colón murió con esa firme creencia.
Era tan luminosa la riqueza y la dignidad en nuestros abuelos y abuelas, que los heraldos europeos descubrieron en sí mismos su miseria y decadencia moral. Inventaron y ensayaron varios argumentos, incluso teológicos, para negar nuestra condición humana, y así apoderarse de nuestra riqueza y de nuestros cuerpos. Pero, ninguno de esos argumentos era racionalmente sostenible. Y, ante su limitación mental, y presos de su avaricia, nos hicieron una guerra sanguinaria jamás vista en la historia de la Madre Tierra.
Así nació la resistencia sin cuarteles más larga y fecunda que la humanidad jamás conoció. Diezmaron a decenas de millones de nuestros abuelos, pero jamás pudieron robarnos la dignidad, ni desaparecernos como pueblos. Nos bautizaron a la fuerza, pero no pudieron matar nuestras espiritualidades, ni a nuestras divinidades. Se llevaron consigo cientos de miles de Kg. de oro y millones de plata de nuestras tierras, pero viven en el empobrecimiento material financiero, igual o peor que antes. Nos educaron en la ilusión de la superioridad de la “civilización” occidental, pero las civilizaciones milenarias se revitalizan ante la decadencia de la unigénita civilización.
En estos últimos tiempos, el fenómeno Sur, más allá de las limitaciones políticas coyunturales actuales, es producto de este proceso de la resistencia fecunda y creativa de cientos de años. Mayas, lencas, cunas, chibchas, quechuas, aymaras, guaraníes, mapuches, y muchos otros pueblos dignos dinamizamos procesos de insubordinación contra hegemónica porque creemos en la vida y en la dignidad.
Somos pueblos diferentes, con dinámicas diferentes, pero compartimos las mismas derrotas e historias inconclusas de resistencia. Nos unen los mismos sueños de convivir en la Casa Grande, como hijos e hijas de la Pachamama sin fronteras. Sin que nadie se sienta superior, ni inferior. Libres de la perversión de la avaricia y del deseo de acumulación. Este luminoso sueño compartido es lo que celebramos este sábado, 12 de octubre, con un corazón agradecido y reverente para con nuestros ancestros/as.