por Laerte Braga
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Fernando Henrique Cardoso não é um Narciso. Seria lhe atribuir uma característica de uma história que atravessa o tempo e permanece fundamental na percepção do ser humano. Seja pela sua dramaticidade, até mesmo um conteúdo pungente, objeto hoje de estudos na Psicanálise, na Psicologia. Se pensarmos bem, olharmos por todos os ângulos, há poesia em Narciso.
FHC é no máximo um desses “napoleões” malucos que lotavam os antigos hospícios. Em 2010 denunciei que estava em Foz do Iguaçu, num evento organizado por um ex-diretor da GLOBO, mas ainda ligado ao grupo noutra tarefa. Falou para investidores norte-americanos sobre a importância da eleição de José Serra e citou como pérolas da coroa tucana, a PETROBRAS. Negou o fato, declarou a um jornalista que “esse Laerte é um maluco” e minutos depois vários blogs e jornalistas do porte de Hilde Angel confirmaram o fato. Negado por ele que disse estar em São Paulo. Estava vendendo o Brasil e por obra e graça de duas companheiras com presença viva na luta popular, até fotos divulguei no dia seguinte. Ao término da sua palestra, sem gravata, passeou pelo hotel, tirou retratos e falou de si próprio como o grande homem do Brasil. Disse a uma pessoa que “eu fui o marco entre o passado getulista de paternalismo e atraso e o futuro de progresso e grandeza. Não me preocupa o juízo de hoje, pois a História me fará justiça”. Nesse passado incluía JK nesse fracasso, do qual se disse em 1994 o sucessor legítimo. Mal sabe ele que há uma diferença de estatura moral entre o “napoleão do hospício” e o construtor de Brasília. Para se ter uma idéia dessa diferença, em 1954, quando Getúlio se viu acuado pelos militares, JK o chamou a ir para Minas, governar de Minas e resistir em Minas.
FHC, em sua mitomania, sua vaidade extrema, ia esfaqueando pelas costas os “amigos” que não lhe beijassem a mão. E continua a fazê-lo. Foi o único presidente das Américas a apoiar o terceiro mandato de Fujimori, nem os EUA apoiaram, na perspectiva de comprar um para si. Como comprou o segundo. No final do governo indicou Gilmar Mendes para o STF. Era o advogado da União e até ACM advertiu-o que o mundo jurídico iria reagir, pois Gilmar não tinha e não tem estofo para o cargo, estava envolvido em operações suspeitas do governo e chamou-o de “desclassificado”.
Nomeou o ex-genro para presidente da PETROBRAS, seja para raspar o fundo do tacho, seja para limpar as pegadas da corrupção e acelerar o desmonte da empresa, facilitando sua venda a grupos estrangeiros.
Quando Ciro Gomes fala com seu estilo contundente e sem meias palavras, FHC não revida. Sabe que Ciro, a quem traiu, é capaz de provar tudo o que fala.
Ficou mordido em sua vaidade quando soube que ACM tinha cantado e tido êxito com uma senadora e tentou abordá-la. Nunca imaginou que pudesse ouvir um não. Ouviu. Chegou ao desplante do ridículo quando pediu à mulher do embaixador Flecha de Lima, que sabia chegada a ACM com quem tinha um filho, que o apresentasse num ambiente reservado à princesa Diana.
Quando do massacre de Eldorado do Carajás, logo que tomou conhecimento, declarou que “quem procura acha”. À noite, ao saber da repercussão internacional da barbárie, soltou uma nota dizendo-se indignado com o fato e que tomaria todas as providências.
Todos esses acontecimentos e muitos outros me vieram à memória ao ler declarações dele seja pedindo a renúncia de Dilma, seja arquitetando o golpe contra a presidente. E aí, sem qualquer exagero, já disse a muitos que na crise atual ele seria a solução. Imagina o País mergulhado numa crise e os brasileiros nas ruas gritando “queremos FHC”. É só um pulha e o País até hoje paga o preço da inconseqüência de seus dois mandatos.
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