por Rodrigo Pilha

“Menino! Passei a noite sem dormir e chorando preocupada com o que fizeram com você”.
Meu coração disparou e apertou quando escutei essas palavras espontâneas e sinceras de uma senhora de cabelos brancos que eu não conhecia, mas que testemunhou a violência que sofri dos policiais do Senado, dentro de um ônibus cheio de trabalhadores(as) que se dirigiam para a rodoviária do Plano Piloto.
Na noite da quinta-feira, ouvi essas palavras enquanto a senhora – com idade e carinho que poderiam ser da minha avó – me abraçava e me dava um beijo na bochecha vermelha de timidez e de surpresa, mas também de alegria por sentir o calor da solidariedade e da generosidade vindas de alguém que sabe o que é opressão e que, naquele ônibus do qual fui arrancado, se identificou comigo.
Enquanto a senhora falava e deixava meus olhos marejados, colegas dela, do setor de limpeza da Câmara, com o uniforme cinza que os caracteriza, se aproximavam e, com sorrisos largos, me passavam a sensação de receber um abraço enorme… de muitos braços e bem apertado…
Nos dias de hoje, dominados pela frieza pragmática e calculista, é até difícil imaginar uma cena como essa acontecer no mundo real. Pois eu tive a sorte e o privilégio de viver isso DOIS DIAS seguidos.
Na quarta-feira, menos de 24h após ter sido solto pela Guarda Pretoriana do Senado, fui abordado pelo Bruno Varão, um dos trabalhadores que estava no ônibus e que ME DEFENDEU dos policiais (“Peraí, não bate no cara, não!”). Bruno também trabalha na Câmara e, ao me ver no corredor, me cumprimentou e se disse arrependido de ter deixado me arrastarem do ônibus. Além disso, se dispôs a ser minha testemunha num eventual processo judicial.
Pra terminar esse texto que já está longo, tenho que dizer que estas pessoas humildes – invisíveis para a maior parte dos senadores, deputados e grande mídia – foram FUNDAMENTAIS para que eu não fosse espancado ali mesmo no ônibus pelos jagunços do Senado.
Trabalhadores salvando trabalhador!
“Minhas pernas são bastantes fortes
Como de todo trabalhador
Os meu braços são de aço
Como os de todo operário
Sou um trabalhador, sou sim!
Eu tenho uma alma que dseja e sonha”
(Mundo Livre S/A)