por Chico Alencar, deputado federal
Este é um texto que apenas supõe uma pequena ocorrência. Imagina com a gente:
Durante a Copa, um brasileiro faz uma provocação futebolística mais abusada para um turista.
O estrangeiro, de outra cultura, não gosta e parte pro tapa.
O brasileiro, malandro, dá-lhe duas pernadas e o turista fica bastante machucado.
Uma cena lamentável, mas lamentavelmente comum.
No grupo do turista, surgem dois POLICIAIS, ou três, ou mais, ou um monte deles.
Eles podem ser argentinos, iranianos, gregos, ingleses, bósnios, ganeses, suíços, dependendo do time que for jogar no dia.
(Os das fotos, em sentido horário, são nigerianos, russos, espanhóis e argelinos, todos de países classificados para a Copa.)
Eles “separam” a briga, de acordo com a cultura de atuação em seu país, que certamente varia.
Vamos supor que, por alguma razão, eles imobilizam – e dão uns sopapos também, pra não passar em branco… – APENAS no brasileiro.
Protegem o estrangeiro, o ajudam a procurar atendimento.
Não estão exatamente errados: estão em serviço e em alguns países a função policial de proteger a população é coisa muito séria.
Pois bem. Mas o brasileiro está então imobilizado e é “entregue” pelos policiais iranianos ou suíços aos policiais brasileiros.
Ou talvez a alguma tropa do Exército, que pode estar nas ruas com poder de polícia. (lembra? – http://on.fb.me/1k5b2yp)
Os policiais estrangeiros , em outras palavras, PRENDEM o brasileiro, por mais que isso não esteja previsto na portaria do Ministério da Justiça (leia até o fim para entender).
Pra história ficar ainda mais interessante, o brasileiro deu o azar de ser preto e – mas que azar! – pobre. Tá desempregado também.
Ele não vai ver o jogo do Brasil, nem pela TV. Vai em cana.
Se o delegado inventar, de repente encaixa uma tentativa de homicídio em flagrante.
Os cinco filhos do homem vão passar tempos de dificuldades.
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Esta é apenas uma historinha (assustadoramente) verossímil. Nos furtamos a entrar aqui em debates mais profundos sobre nossa Constituição, nossa legislação, nossas instituições e nossa SOBERANIA NACIONAL, por exemplo. Os comentários, no entanto, estão abertos.
A matéria do UOL fala que “de acordo com a portaria do governo, os policiais estrangeiros nas ruas irão trabalhar identificados como tais e terão uma autorização específica da PF para isso. Apesar disso, questionado pela reportagem, o Ministério da Justiça afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que os policiais estrangeiros não terão poder de polícia no Brasil e nem poderão andar armados.”
Hmm. Ok. Ainda assim, na prática, permanece a verossimilhança da história. Talvez um ou outro ponto possa ser questionado. Ou alguém a percebe muito fantasiosa?
Esta portaria do governo é mais uma das ações que, em nome da Copa, altera de maneira questionável e perigosa nossa ordem institucional.
